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Por estas razões, iremos acompanhar as conseqüências destas mudanças com certa
apreensão. Seriam elas realmente salutares ao sistema de democracia em vigor, ou
estaríamos de forma bastante sutil cada vez mais fortalecendo as oligarquias presentes?
Repetindo novamente as palavras de Abreu Dallari no referido encontro: “no sistema
eleitoral e partidário continuamos a ter os mesmos problemas da ditadura, só que agora,
as regras são amoldadas para favorecer a maioria de quem já está no governo.”
A despeito desta crítica inicial, reconhecemos, porém, que a recente Lei traz alguns
dispositivos positivos. Iremos a seguir analisar pontualmente as mudanças ocorridas e
comentando as principais modificações, mas vale ressaltar que estaremos apenas
dando a primeira palavra sobre institutos novos que ainda não foram enfrentados pelos
tribunais e os grandes doutrinadores.
Responsabilidade :
A Lei 11.300/06 inicia alterando o art. 20 da Lei 9.504/97 que passa a estabelecer a
responsabilidade solidária do chamado tesoureiro de campanha, ou seja, a pessoa
designada pelo candidato para fazer a administração financeira de sua campanha. Se
existir esta pessoa, será, juntamente com o candidato, responsável pela veracidade das
informações financeiras e contábeis da campanha, devendo ambos assinar a respectiva
prestação de contas. Anteriormente, o único responsável era o candidato.
Utilização da conta de campanha:
Já nas eleições passadas era obrigatório para cada candidato possuir uma conta
específica para a movimentação dos recursos financeiros da campanha. A partir de
agora, é obrigatório que esta conta funcione como o único instrumento para a
movimentação financeira da campanha. O uso de recursos financeiros para pagamentos
de gastos eleitorais que não provenham desta conta específica implicará a
desaprovação da prestação de contas do partido ou candidato; comprovado abuso de
poder econômico, será cancelado o registro da candidatura ou cassado o diploma, se já
houver sido outorgado.
As Doações:
Outro tema importante tratado na minirreforma foi a questão das doações de campanha,
as quais tiveram destacada influência como foco da corrupção na política. Enquanto
ainda não temos um mecanismo eficiente de financiamento público para campanhas
eleitorais, permanecemos com este inseguro sistema de financiamento privado,
passando o legislador a regulá-lo cada vez com maior rigor e detalhamento.
A Lei 11.300/06 ainda acrescentou mais quatro incisos ao art. 24, que relaciona as
pessoas jurídicas impossibilitadas de doar a partidos e candidatos, incluindo quatro
novas hipóteses. Ficam impedidas, além das figuras já previstas, as entidades
beneficentes e religiosas, as entidades esportivas que recebam recursos públicos, as
organizações não-governamentais que recebam recursos públicos e as organizações da
sociedade civil de interesse público.
Não podemos deixar de observar que a nova Lei ao proibir o recebimento de recursos
das organizações não-governamentais não definiu precisamente o que seja
“organização não-governamental”, ficando uma “norma em aberto”, que precisará ser
analisada pelo juiz no caso concreto. Na verdade é um termo utilizado comumente pelas
entidades do terceiro setor que atuam paralelamente ao Estado prestando serviços
sociais, mas que tecnicamente, do ponto de vista legal, não existem juridicamente. O
que existe, e é claramente previsto pelo Código Civil, são as associações ou fundações,
nada mais. Organização não-governamental pode ser entendida então como qualquer
órgão não pertencente à organização do Estado. Neste caso, estarão incluídos inclusive
os próprios partidos políticos, que por sinal recebem recursos públicos (fundo partidário).
Por fim, vale citar outra falha do texto da Lei: organização da sociedade civil de interesse
público (OSCIP) não é pessoa jurídica, ou seja, não se trata de um ente personalizado.
É sim uma qualificação conferida a determinadas associações ou fundações, desde que
preencham certos requisitos e obtenham a aprovação do órgão competente. Melhor
seria se no dispositivo constasse “associações ou fundações que estiverem qualificadas
como organização da sociedade civil de interesse público”.
Ao artigo 23 da Lei 9.504/97, que trata das doações recebidas para a campanha, a Lei
11.300/06 incluiu um parágrafo § 5º, tratando de assunto diverso: a doação feita por
candidato. Este novo parágrafo, embora notadamente mal situado no texto da Lei, passa
a vedar uma atividade que realmente é nociva à lisura da disputa eleitoral. Trata-se das
“caridades eleitoreiras”, ou como melhor define o legislador “quaisquer doações em
dinheiro, bem como de troféus, prêmios, ajudas de qualquer espécie feitas por
candidato, entre o registro e a eleição, a pessoas físicas ou jurídicas”. O candidato que
comprovadamente realizar estas práticas responderá por abuso do poder econômico.
A Lei 11.300/06 criou mais uma exigência no que se refere à prestação de contas. Os
partidos políticos, as coligações e os candidatos passam a ser obrigados, durante a
campanha eleitoral, a divulgar, pela rede mundial de computadores (internet), nos dias 6
de agosto e 6 de setembro, relatório discriminando os recursos em dinheiro ou
estimáveis em dinheiro que tenham recebido para financiamento da campanha eleitoral,
e os gastos que realizarem, em sítio criado pela Justiça Eleitoral para esse fim, exigindo-
se a indicação dos nomes dos doadores e os respectivos valores doados somente na
prestação de contas final de que tratam os incisos III e IV do art. 29 desta Lei.
Como conseqüência das alterações realizadas pela Nova Lei, mudou-se a relação de
gastos eleitorais sujeitos a registro. O art. 26 da Lei 9.504/97 foi neste aspecto bastante
modificado, apresentando atualmente a seguinte redação:
De acordo com o novo art. 30-A da Lei 9.504/97, recém-incluído, qualquer partido
político ou coligação poderá representar à Justiça Eleitoral relatando fatos e indicando
provas e pedir a abertura de investigação judicial para apurar condutas em desacordo
com as normas relativas à arrecadação e gastos de recursos. Nesta apuração, aplicar-
se-á o procedimento previsto no art. 22 da Lei Complementar nº 64/90. Comprovados
captação ou gastos ilícitos de recursos, para fins eleitorais, será negado diploma ao
candidato, ou cassado, se já houver sido outorgado.
Pesquisas eleitorais:
O TSE rejeitou o novo dispositivo 35-A que proibia a divulgação das pesquisas desde os
quinze dias anteriores ao pleito. Foi considerado inconstitucional, pois viola direitos
constitucionais que asseguram a plena liberdade de informação.
Boca de Urna:
A boca de urna é uma das mais tradicionais práticas de propaganda utilizada nas
campanhas eleitorais. Esta atividade eleitoral de última hora, porém, não foi bem vista
pelo legislador. A nova redação imposta à Lei das Eleições veda expressamente a
arregimentação do eleitor ou a propaganda de boca de urna. Além disso, proíbe também
a divulgação de qualquer espécie de propaganda de partidos políticos ou de seus
candidatos, mediante publicações, cartazes, camisas, bonés, broches ou dísticos em
vestuário, prática esta que era chamada anteriormente de “boca de urna silenciosa” e
era aceita pela Justiça Eleitoral.
Distribuição de brindes:
Outdoors:
Fica também proibido o uso do outdoor em campanhas eleitorais. A Lei das Eleições
modificada veda expressamente a propaganda eleitoral mediante outdoors , sujeitando-
se a empresa responsável, os partidos, coligações e candidatos à imediata retirada da
propaganda irregular e ao pagamento de multa. O art. 42 da Lei 9.504/97 que regulava
minuciosamente o uso do outdoor foi revogado pela Lei 11.300/06. Continua permitida a
pintura em muros de propriedades particulares. E em relação aos painéis (ou placas)
colocados em propriedades particulares? O Tribunal Superior Eleitoral os permitiu,
desde que não ultrapassem o tamanho de 4 metros quadrados, ou seja, com a
proporção cinco vezes menor que o outdoor, que possui em média dimensão de 20
metros quadrados.
Propaganda na Imprensa:
Outra novidade da Lei 11.300/06 foi a mudança da data a partir da qual é vedado às
emissoras de rádio e televisão transmitir programa apresentado ou comentado por
candidato escolhido em convenção.
A Lei 11.300/06 inclui um § 10 ao art. 73 de Lei das Eleições dispondo que “no ano em
que se realizar eleição, fica proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou
benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública,
de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução
orçamentária no exercício anterior, casos em que o Ministério Público poderá promover
o acompanhamento de sua execução financeira e administrativa."
A leitura do dispositivo mostra que, salvo melhor juízo, o legislador procurou endurecer
de um lado e enfraquecer de outro, o que não deixa de ser incongruente, injusto e
contraditório, pois proporciona um verdadeiro incentivo ao “clientelismo oficial” ao
permitir que os governos pratiquem a distribuição de bens, valores ou benefícios em
anos eleitorais, mesmo que de caráter nitidamente assistencialista e com forte influência
no processo eleitoral. As únicas exigências são de que a distribuição seja classificada
como “programa social”, tenha o embasamento de uma lei e já esteja em execução
orçamentária no exercício anterior.
Esta prática aliás, a partir da possibilidade da reeleição dos chefes do poder executivo,
subitamente ganhou uma atenção especial dos governantes, constituindo-se muitas
vezes em “carro-chefe” das administrações públicas e é tratada com esmero pelos
marqueteiros de plantão. Estas atividades assistencialistas são sem dúvida ótimas para
os governantes, uma vez que tornam a população eternamente dependente dos
governos. Não é raro vermos atualmente certos governantes que, para esconder a
corrupção de seu governo, passam a corromper o povo.
Conclusões: