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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0024.10.116363-2/002 Númeração 1163632-


Relator: Des.(a) Hilda Teixeira da Costa
Relator do Acordão: Des.(a) Hilda Teixeira da Costa
Data do Julgamento: 19/08/2014
Data da Publicação: 02/09/2014

EMENTA: REEXAME NECESSÁRIO/APELAÇÃO CÍVEL - CONCURSO -


POLÍCIA MILITAR - CURSO TÉCNICO EM SEGURANÇA PÚBLICA -
EXAME PSICOLÓGICO - PREVISÃO LEGAL E EDITALÍCIA - VALIDADE -
CONTRAINDICAÇÃO DO CANDIDATO - LAUDO PERICIAL JUDICIAL -
APTIDÃO MENTAL E PSÍQUICA DO CANDITADO - NULIDADE DO ATO
ADMINISTRATIVO - SENTENÇA CONFIRMADA.

- A realização de exame psicológico de caráter eliminatório em concurso da


Polícia Militar, previsto em lei e no edital, não ofende os princípios legais que
regem a Administração Pública, sendo, inclusive, necessária a sua realização
para aferição do equilíbrio psíquico e intelectual do candidato, que é
essencial ao exercício da atividade profissional do Policial Militar.

- Contudo, concluindo o laudo pericial, realizado em juízo, pela aptidão


mental e psíquica do candidato para o desempenho das funções do cargo de
policial, o ato de sua exclusão ofende o princípio da razoabilidade, impondo-
se, assim, o reconhecimento de sua nulidade.

AP CÍVEL/REEX NECESSÁRIO Nº 1.0024.10.116363-2/002 - COMARCA


DE BELO HORIZONTE - REMETENTE.: JD 7 V FAZ COMARCA BELO
HORIZONTE - APELANTE(S): ESTADO DE MINAS GERAIS -
APELADO(A)(S): THIAGO LUCAS DA SILVA NEVES

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 2ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata

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dos julgamentos, em CONFIRMAR A SENTENÇA, NO REEXAME


NECESSÁRIO, PREJUDICADO O RECURSO VOLUNTÁRIO.

DESA. HILDA MARIA PÔRTO DE PAULA TEIXEIRA DA COSTA

RELATORA.

DESA. HILDA MARIA PÔRTO DE PAULA TEIXEIRA DA COSTA


(RELATORA)

VOTO

Trata-se de ação declaratória de nulidade de ato administrativo,


com pedido de antecipação dos efeitos da tutela, ajuizada por Thiago Lucas
da Silva Neves, em face do Estado de Minas Gerais, alegando, em síntese,
que, apesar de ter sido aprovado em todas as fases do concurso para
participar do Curso Técnico em Segurança Pública da Polícia Militar de
Minas Gerais, regido pelo Edital DRH/CRS nº 07/2009, foi excluído do
certame por ter sido contraindicado nos testes psicológicos.

O autor sustentou que os exames psicológicos são subjetivos e


aplicados unilateral e liminarmente, sendo indispensável que possam ser
contestados e reversíveis.

Defendeu que o recurso administrativo, previsto em lei e


disponibilizado aos candidatos, não passa de mera formalidade sem
qualquer efetividade, já que seu indeferimento sequer é fundamentado.

Juntou documentos de fls. 23-35.

Indeferida a antecipação de tutela, decisão que foi confirmada por


este e. Tribunal em recurso de agravo de instrumento (fls. 58-62), o requerido
foi citado e apresentou contestação às fls. 68-84, aduzindo, em síntese, a
existência de previsão legal do exame

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psicológico para ingresso na Polícia Militar, sendo este requisito para


ingresso no Curso Técnico de Segurança Pública e que o autor não logrou
êxito na referida etapa do certame.

Foi produzida prova pericial, tendo sido o laudo técnico acostado às


fls. 142-153.

Às fls. 161-163, o d. Julgador singular, Carlos Donizetti Ferreira da


Silva, julgou procedente o pedido e anulou o ato administrativo que importou
na exclusão do requerente do concurso em questão, determinando a
inclusão do autor no próximo curso de formação para o cargo de Técnico em
Segurança Pública, com as mesmas prerrogativas e direitos dos demais
candidatos e, inclusive, assegurando-lhe nomeação e posse, caso o único
óbice seja o objeto da presente demanda.

Por fim, condenou o réu ao pagamento dos honorários


advocatícios, arbitrados em R$ 1.200,00, nos termos do art. 20, § 4º, do
CPC, deixando de condená-lo ao pagamento das custas processuais, em
razão da isenção legal. Remeteu-se o feito ao reexame necessário.

Embargos de declaração do autor às fls. 164-165, rejeitados pela


decisão de fl. 186.

O Estado de Minas Gerais apelou pelas razões de fls. 167-185,


ratificadas à fl. 187, afirmando, em síntese a legalidade do exame
psicológico, bem como sua objetividade, impessoalidade e recorribilidade.

Defendeu a legalidade do caráter eliminatório do exame, além de


não terem sido observados quaisquer erros ou vícios formais em sua
aplicação.

Esclareceu que a equipe envolvida no concurso e na aplicação do


teste PMK submeteu-se previamente a nivelamento técnico, recebendo apoio
e supervisão de profissionais reconhecidos,

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sendo que o deferimento do pedido inicial atribui tratamento diferenciado ao


autor, em relação aos demais candidatos.

Por fim, pugnou pela redução do valor fixado a título de verba


honorária e pelo provimento do recurso.

Contrarrazões do autor às fls. 190-197, pugnando pelo recebimento


do recurso apenas no efeito devolutivo e pela manutenção da r. sentença.

É o relatório.

Conheço da remessa necessária e do recurso voluntário, pois


presentes os pressupostos de admissibilidade.

Inicialmente, registro que o recurso foi corretamente recebido no


duplo efeito, por não ser o caso uma das hipóteses descritas nos incisos do
art. 520 do CPC.

Analisando, detidamente, o feito, verifico que a sentença não está a


merecer qualquer reparo.

A questão posta em debate cinge-se em verificar a possibilidade de


anulação do ato administrativo que excluiu o autor do concurso público para
seleção de candidatos ao Curso Técnico em Segurança Pública, regido pelo
Edital DRH/CRS nº 07/2009, da Polícia Militar, por haver sido contraindicado
no exame psicológico.

Inicialmente, cumpre esclarecer que a formulação do Edital dos


concursos é ato discricionário da Administração, cabendo ao Poder Judiciário
examinar, apenas, a sua legalidade e legitimidade.

O art. 37, incisos I e II, da Constituição Federal, dispõe que:

"Art. 37. (...)

I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos

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brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como


aos estrangeiros, na forma da lei;

II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação


prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com
a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei,
ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração;"

Desta forma, tem-se que a Constituição Federal, em que pese


impor a necessidade de realização de concurso público para o ingresso nas
carreiras da Administração Pública, o faz sem afastar a possibilidade de
utilização de critérios de admissão relacionados à aptidão física e mental dos
candidatos, de acordo com a natureza e a complexidade da função a ser
desempenhada quando do exercício do cargo efetivo, e desde que tais
requisitos estejam previstos em lei, conforme prescrito em seu artigo 39, §3º,
que, nestes termos, prescreve:

"Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios


instituirão conselho de política de administração e remuneração de pessoal,
integrado por servidores designados pelos respectivos Poderes.

(...)

§3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no


art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX,
podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão, quando a
natureza do cargo o exigir."

Também a Lei Orgânica da Polícia Militar do Estado de Minas


Gerais (Lei 5.301/69 - na redação então vigente quando da publicação do
Edital em comento - DRH/CRS nº 07/2009, de 05 de maio de 2009), impõe a
obrigatoriedade do exame psicológico para o ingresso no Curso Técnico em
Segurança Pública da Polícia Militar de Minas Gerais:

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"Estatuto da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais (Lei nº 5.301/69:

(...)

Art. 5º O ingresso nas instituições militares estaduais dar-se-á por meio


de concurso público, de provas ou de provas e títulos, no posto ou graduação
inicial dos quadros previstos no §1º do art. 13 desta Lei, observados os
seguintes requisitos:

(...)

IX - ter sanidade física e mental;

(...)

§ 8º O requisito de sanidade física e mental previsto no inciso IX será


comprovado por meio de exames médicos, odontológicos e complementares,
a critério da Junta Militar de Saúde e da comissão de avaliadores. (...)"

Veja-se também, acerca do tema em voga, o que foi determinado


pela Lei Estadual nº 14.445/2002, que fixa o efetivo da Polícia Militar do
Estado de Minas Gerais (PMMG):

"Art. 6°. A avaliação psicológica é requisito obrigatório para a admissão e


para a mudança de quadro na PMMG.

§1° O edital de concurso para ingresso ou mudança de quadro na PMMG


incluirá a avaliação psicológica como etapa seletiva de caráter eliminatório,
observadas as normas da instituição.

§2° A avaliação psicológica de que trata este artigo será realizada por
psicólogo ou comissão de psicólogos, com base nas exigências

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funcionais e comportamentais do cargo a ser ocupado, e compreenderá, no


mínimo:

I - teste de personalidade;

II - teste de inteligência;

III - dinâmica de grupo, prova situacional ou anamnese psicológica.

§3° Do resultado da avaliação psicológica caberá recurso para junta


examinadora, observados os prazos e procedimentos previstos no edital do
concurso.

§4° Da junta examinadora a que se refere o §3° deste artigo, não poderá
participar nenhum membro da comissão de psicólogos prevista no §2°.

§5° Os laudos de avaliação psicológica serão guardados, em caráter


confidencial, pela unidade executora do concurso, sob a responsabilidade da
seção de psicologia, pelo período de cinco anos.

Art. 7°. A condição de aptidão e de sanidade física, prevista no art. 5° da


Lei n° 5.301, de 16 de outubro de 1969, será comprovada perante comissão
de avaliadores, por meio de teste de capacitação física.

Parágrafo único - O teste de aptidão e de sanidade física consistirá em


provas, todas de caráter eliminatório e classificatório, que verificarão, no
mínimo, a resistência aeróbica, a agilidade e a força muscular dos membros
superiores e inferiores e do abdômen, de acordo com os padrões de
condicionamento físico exigidos para o exercício das funções atribuídas ao
cargo."

Nestes termos, tendo em vista a expressa previsão legal, é

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legítimo o requisito de prévia indicação em exame psicológico para o acesso


ao cargo, consignado no edital, pois a Constituição Federal não veda a
criação desse pressuposto, estando a legislação pertinente à espécie
elencada no corpo do edital (item 5.24.2, à fl. 97).

Dessa forma, a Lei Estadual 14.445/2002 apenas regulamenta de


forma objetiva o critério de ingresso imposto pelo próprio Estatuto da Polícia
Militar do Estado de Minas Gerais (Lei 5.301/69) com amparo nos artigos 37,
I, 42, parágrafo 1º e 142, parágrafo 3º, inciso X, da CRFB/88.

Ademais, é indiscutível a necessidade do exame psicológico em


concursos para as atividades policiais, que exigem equilíbrio emocional e
temperamento adequado à função que será exercida.

E, neste diapasão, a Administração Pública é livre na adoção de


critérios específicos para a seleção de candidatos a cargo público, diante do
interesse social relevante que envolve a matéria. Logo, constando do Edital
os requisitos para o processo seletivo, estes devem ser observados, sob
pena de desclassificação.

Verifica-se que o laudo psicológico, realizado quando da realização


do certame, considerou o autor "contraindicado" para o ingresso no curso e
exercício da função policial, no seguinte item: 6 - Dificuldade acentuada para
estabelecer contatos (fl. 28).

Desta forma, as conclusões do teste em comento contraindicaram o


recorrente para o cargo, conforme conclusão dos avaliadores do certame.

Contudo, verifica-se que foi produzido laudo pericial, realizado em


juízo, o qual concluiu pela aptidão mental e psíquica do candidato, para o
desempenho das funções do cargo de policial.

O laudo, realizado sob o crivo do contraditório, apresentou-se


favorável ao autor, tendo a i. Perita afirmado que:

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"(...) o autor demonstra comportamento de desenvolvimento maduro,


apresenta um potencial biopsicológico para processar informações que pode
ser ativado num cenário cultural para solucionar problemas, tem capacidade
de se adaptar às circunstâncias, capacidade de julgamento, autocrítica,
compreensão e raciocínio. (...) Neste momento, diante da análise dos testes,
o autor apresenta perfil compatível com a carreira de policial militar e não
apresenta características consideradas contra-indicadoras para o cargo
pleiteado". (fl. 151-152).

Ainda que o julgador não esteja adstrito às conclusões do laudo


pericial, não se pode olvidar que o fim precípuo da realização do teste
psicológico é atestar ou não a capacidade psíquica do candidato para a
garantia do fiel desempenho das atividades de segurança pública.

E não se pode olvidar que, da avaliação judicial a que se submeteu


o requerente, efetivada com respeito ao contraditório e à ampla defesa, nada
se detectou em relação à eventual incapacidade do candidato que pudesse
inviabilizar o desempenho das atribuições próprias de um Policial Militar.

E, nesse sentido, atestando o laudo pericial judicial a inexistência


de qualquer contraindicação do autor para o exercício das atividades
inerentes à categoria funcional por ele almejada, mormente considerando-se
a ausência de provas contundentes a infirmá-lo, considero que o autor não
pode ser excluído do certame, estando apto a participar do curso de técnico
em segurança pública. Assim, o ato de sua exclusão ofende o princípio da
razoabilidade, impondo-se, assim, o reconhecimento de sua nulidade.

Nesse sentido:

"ADMINISTRATIVO - EMBARGOS INFRINGENTES - AÇÃO


ANULATÓRIA - CONCURSO PÚBLICO - POLÍCIA MILITAR DO ESTADO
DE MINAS GERAIS - TESTE PSICOLÓGICO - ELIMINAÇÃO - APTIDÃO
ATESTADA EM PERÍCIA JUDICIAL - PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE

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AFASTADA - ATO ADMINISTRATIVO ANULADO - EMBARGOS


INFRINGENTES ACOLHIDOS, POR MAIORIA. O resultado de teste
psicológico, realizado no âmbito de concurso público para o ingresso nos
quadros da Polícia Militar de Minas Gerais, pode ser desconstituído por
conclusão alcançada em perícia judicial, realizada à luz do contraditório e da
ampla defesa, que denota a completa aptidão do candidato." (EMBARGOS
INFRINGENTES Nº 1.0024.08.941775-2/003, Relator Des. Corrêa Júnior, j.
02/04/2013).

"REMESSA OFICIAL. AÇÃO ANULATÓRIA. CONCURSO PÚBLICO.


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS. EXAME
PSICOLÓGICO ELIMINATÓRIO. PREVISÃO EM LEI LOCAL E NO EDITAL.
ELIMINAÇÃO DE CANDIDATO. PERÍCIA JUDICIAL FAVORÁVEL.
PRETENSÃO ACOLHIDA. SENTENÇA CONFIRMADA. 1. A exigência de
aprovação em exame psicológico, prevista em edital e em lei local, é válida
como condição para ingresso na Policial Militar do Estado de Minas Gerais.
2. Assim, em princípio, a exclusão de candidato por falta de aprovação no
referido exame é regular. 3. Todavia, comprovado o erro em perícia judicial
produzida sob o crivo do contraditório, revela-se inválido o ato administrativo
de exclusão do candidato. 4. Remessa oficial conhecida. 5. Sentença que
acolheu a pretensão inicial confirmada em reexame necessário." (Reexame
Necessário Cv nº 1.0024.09.486983-1/002, Relator Des. Caetano Levi Lopes,
j. 06/11/2012).

Com tais considerações, o entendimento ora esposado não implica


qualquer violação ao disposto nos artigos 5º, caput e incisos I e II, e 37, I e II,
todos da Constituição Federal, tampouco ao art. 5º da Lei Estadual nº
5.301/69.

Por derradeiro, em relação aos honorários advocatícios arbitrados,


entendo terem sido fixados em observância aos critérios elencados no art.
20, §§ 3º e 4º, do CPC, sobretudo considerada a natureza da causa, o
trabalho realizado pelo advogado e seu grau de zelo, não merecendo
reforma.

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Em face do exposto, confirmo a r. sentença, no reexame


necessário, julgando prejudicado o recurso voluntário.

Sem custas recursais.

DES. AFRÂNIO VILELA (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. MARCELO RODRIGUES - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "CONFIRMARAM A SENTENÇA, NO REEXAME


NECESSÁRIO, PREJUDICADO O RECURSO VOLUNTÁRIO."

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