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Fernanda Marinela 1
DIREITO ADMINISTRATIVO
Site - www.marinela.ma.com.br
Roteiro de Aulas
Resumo dos Informativos
Livro – Manual
Celso Antônio Bandeira de Melo – Direito Administrativo – Malheiros
Livro – José dos Santos Carvalho Filho – Manual de Direito Administrativo – Lumen Juris
Tem algumas posições mais clássicas e tradicionais, divergentes da maioria da doutrina.
1) Introdução:
Direito – é o conjunto de normas impostas coativamente pelo Estado, que disciplinam a vida em
sociedade, permitindo a coexistência pacífica dos seres.
Para fins didáticos, o Direito foi dividido em Direito Interno e Direito Internacional. O Direito Interno
se preocupa com as relações dentro do território nacional. O Direito Internacional, por sua vez, estuda
relações externas com empresas estrangeiras, estados estrangeiros, etc.
Ainda para fins didáticos, o Direito foi dividido em ramo do direito público e ramo do direito
privado. O primeiro se preocupa com a atuação do estado na satisfação do interesse público. O direito
privado, por seu turno, estuda as relações privadas, com a satisfação do interesse privado.
O Direito Administrativo é ramo do direito Interno e ramo do direito público.
Norma de ordem pública é aquela norma imodificável, inafastável pela vontade das partes.
Pergunta de Concurso (Cespe) Norma de direito público é sinônimo de norma de ordem pública.
Verdadeiro ou falso?
R: Falso, pois nem toda norma de ordem pública (que não pode ser afastada pelas partes) é de direito
público. Portanto, elas não são termos sinônimos.
Ex. Regra de Licitação – É uma regra de direito público e também uma regra de ordem pública, pois não
pode ser afastada pela vontade das partes.
Ex. Regra de pgto de imposto de renda – É regra de ordem pública e de direito público.
ATENÇÃO! TODA REGRA DE DIREITO PÚBLICO É TAMBÉM DE ORDEM PÚBLICA. MAS NEM
TODAS AS REGRAS DE ORDEM PÚBLICA SÃO DE DIREITO PÚBLICO. EXISTEM NORMAS DE
DIREITO PRIVADO QUE TAMBÉM SÃO DE ORDEM PÚBLICA.
Ex. regra de capacidade civil – não pode ser afastada pela parte.
Ex. regra de impedimentos para o casamento – não pode ser afastada pelas partes.
2.1) Teorias para conceituar Direito Administrativo - Direito Administrativo em razão do objeto/
âmbito de atuação da disciplina:
I) Escola legalista (também conhecida como escola exegética/ empírica/ caótica) → Para esta escola, o
direito administrativo era apenas um estudo de leis – compilação e estudo de leis. Essa escola não
prosperou.
II) A ideia que prosperou é aquela no sentido de que o direito administrativo estuda além das leis,
princípios. Essa ideia é a utilizada até os dias de hoje. Após esse conceito, várias teorias surgiram
para conceituar direito administrativo, a partir da ideia de que Direito administrativo estuda leis e
princípios. Assim:
(a) Escola do serviço público → Para esta escola, o direito administrativo estuda o serviço
público. Na época desta escola, toda atividade do estado era chamada de serviço público
(inclusive, por exemplo, atividades comerciais, industriais, etc). Mas esse conceito, por ser
amplo demais, não prosperou.
(b) Escola Critério do Poder Executivo → (Já caiu em concurso) Para esta escola, o direito
administrativo estudava somente o poder executivo. Esta escola também não é mais
adotada, tendo em vista que o direito administrativo também estuda os poderes legislativo e
judiciário, desde que eles estejam no exercício de atividade administrativa.
(c) Critério das relações jurídicas → Essa escola dizia que o direito administrativo estudava
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 3
todas as relações jurídicas do Estado. Esse critério também não foi aceito no Brasil, pois é
um conceito amplo demais.
(d) Critério Teleológico (também cai em concurso) → Para essa escola, o direito administrativo é
um conjunto harmônico de princípios que regem as atividades do Estado na consecução dos
seus fins. Esse critério teleológico foi aceito no Brasil por Oswaldo Aranha Bandeira de Melo
(pai de Celso Antônio), mas foi dito insuficiente, pois o direito administrativo não é só um
conjunto de princípios.
(e) Critério Residual ou critério negativo → Segundo esta escola, o conceito de direito
administrativo é residual, após a exclusão das funções legislativa e judicial do Estado. Esse
critério foi aceito no Brasil, mas também foi tido por insuficiente, tendo em conta que nem
todo o resto das atividades do Estado (com exclusão das funções legislativa e jurisdicional)
é direito administrativo.
(f) Critério de distinção da atividade jurídica do Estado e da atividade social do Estado → Para
esta escola o direito administrativo não se preocupa com a atividade social do Estado,
como, p.ex., estudo de políticas públicas. O direito administrativo, segundo esta ideia,
estuda as questões jurídicas relacionadas à atividade do Estado. Esse critério foi aceito no
Brasil, mas também tido por insuficiente.
(g) Critério da Administração Pública → É o critério mais aceito no Brasil. Esse critério foi
inserido no Brasil por Hely Lopes Meirelles e é o mais adotado no Brasil. Para este autor:
Direito Administrativo é um conjunto harmônico de princípios e regras, que forma o
regime jurídico administrativo e que rege os agentes, os órgãos e as entidades no
exercício da atividade administrativa, tendente a realizar, de forma direta, concreta, e
imediata os fins desejados pelo Estado. Assim, realizar os fins de forma:
Direta = “atividade independente de provocação”. Com isso, afasta-se do conceito a
atividade indireta do estado, ou seja, aquela que depende de provocação: a função
jurisdicional do Estado.
Concreta = a atividade terá destinatários determinados, com efeitos concretos. Exclui-se,
assim, a função abstrata do Estado: a função legislativa.
Imediata, o que é diferente de forma mediata, que é a atividade social. A função imediata
diz respeito à atividade jurídica do Estado.
Atenção! Quem define os fins do Estado é o direito constitucional. O direito administrativo apenas
realiza esses fins.
Fonte do direito administrativo é aquilo que leva a uma norma de direito administrativo. São elas:
a) Lei em sentido amplo → Fala-se em lei enquanto toda e qualquer espécie normativa (CF, leis
ordinárias, LC, MP, etc). O ordenamento jurídico brasileiro está organizado numa estrutura
escalonada/hierarquizada de normas (normas inferiores e superiores). As normas inferiores devem ser
compatíveis com as normas superiores e todas devem ser compatíveis com a CF. O STF chamou esta
relação entre as normas de relação de compatibilidade vertical (normas inferiores devem ser
compatíveis com as normas superiores e todas devem ser compatíveis com a CF). Vale lembrar que os
atos administrativos estão na base da pirâmide (embaixo na hierarquia).
b) Doutrina → A doutrina é o resultado do trabalho dos estudiosos. O direito administrativo conta com
uma legislação fragmentada, sem um código, com muitos decretos, por exemplo. Cada norma possui
um contexto histórico diferente. E isso leva a uma enorme divergência doutrinária.
c) Jurisprudência → Muitas vezes, pelo fato de não haver um código administrativo e por haver muita
divergência doutrinária, é a jurisprudência quem decide as questões administrativas. Jurisprudência são
julgamentos reiterados de um tribunal, no mesmo sentido. Quando se consolida uma jurisprudência,
normalmente, o Tribunal edita uma súmula. Então, a súmula é uma jurisprudência consolidada. No
Brasil, existem dois tipos de súmula: a súmula que orienta e a súmula vinculante.
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Obs: Repercussão Geral – Quando o tribunal julga o mérito de uma repercussão geral é muito
importante. Nela, há um leading case e os demais casos são julgados no mesmo sentido.
d) Costumes → Também são fontes do direito administrativo. O costume é uma prática habitual, que se
acredita ser obrigatória. No Brasil, o direito consuetudinário (costumeiro) nem cria nem exime obrigação.
Ele serve apenas como fonte.
e) Princípios Gerais do Direito → São normas que estão no alicerce ou base da ciência jurídica. Esses
princípios podem estar expressos ou implícitos no nosso ordenamento.
Ex. “Ninguém pode causar dano a outrem”;
Ex. “No Brasil é vedado o enriquecimento sem causa”;
Ex. “Ninguém pode se beneficiar da própria torpeza”.
Praticado um ato administrativo, quem pode controlar ou rever esse ato? Existem dois
mecanismos de controle.
4.1) Sistema Contencioso administrativo (sistema francês): Esse sistema foi criado na França e, por
ele, os atos praticados pela administração serão controlados e revistos pela própria administração. Nos
países que adotam esse sistema, o poder judiciário irá julgar excepcionalmente. O judiciário irá atuar,
por exemplo, nas atividades públicas de caráter privado (a atividade é praticada pelo Estado, mas o
regime jurídico é o privado – ex. administração celebra um contrato de locação), nas ações ligadas ao
estado ou capacidade das pessoas, bem como nas atividades ligadas à repressão penal e à
propriedade privada. Mas,em regra, quem julga é a administração.
4.2) Sistema de Jurisdição Única (sistema inglês): Nesse sistema, quem decide é o poder judiciário.
Ex. Após um processo administrativo tributário, a parte insatisfeita pode levar o caso ao judiciário.
Atenção!! Aqui, a administração também decide. A questão é que a sua decisão pode ser revista
pelo poder judiciário.
O Brasil sempre teve o sistema de jurisdição única. Somente em 1977, a emenda constitucional nº
07 inseriu o contencioso administrativo no Brasil. Mas essa regra foi inoperante (“nunca saiu do papel”).
5.1) O Estado:
O Estado é a pessoa jurídica, tem personalidade jurídica, podendo ser sujeito de direitos e de
obrigações. Por isso, a responsabilidade civil é do Estado.
O Estado tem personalidade de direito público. Ao Estado Brasileiro não se aplica a teoria da
dupla personalidade. Ele só tem uma personalidade. Essa teoria era adotada pelo Estado brasileiro até
o antigo código civil (1916). Naquela época, o Estado poderia ter duas personalidades: ora aparecia
como personalidade de direito público e ora como pessoa com personalidade de direito privado. Mas,
com a revogação do Código Civil de 1916, o Estado brasileiro é somente pessoa jurídica de direito
público.
5.2) Governo:
O governo é elemento do Estado, assim como o território e o povo. Governo é comando e direção.
Para que o Estado seja independente, o governo deve ser soberano. Governo soberano é
independência na ordem internacional e supremacia na ordem interna.
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5.3) Administração:
Para a maioria dos autores, administração é máquina administrativa, aparelho estatal, instrumento
do Estado. Mas a doutrina estabelece, ainda, dois conceitos/enfoques diferentes para a administração,
quais sejam:
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AULA 02 – 07/02/12
Quantos e quais são os princípios que compõe o regime jurídico administrativo? Os autores
divergem muito sobre isso. Então, não há definição exata sobre quantos ou quais são os princípios do
regime administrativo.
No curso, serão estudados os princípios mais importantes. Posteriormente, outros princípios
poderão ser estudados.
Os princípios administrativos possuem uma correlação lógica, estando sempre interligados. Então,
não é incomum encontrar vários princípios que fundamentem uma mesma questão jurídica.
Regime jurídico é um conjunto harmônico de princípios e regras, que guardam entre si uma
correlação, interligação lógica, formando um sistema, uma unidade.
Obs: Teoria da ponderação de interesses: Falando do regime jurídico, é importante lembrar da teoria
da ponderação de interesses. Essa teoria traz 2 raciocínios importantes:
Quando se pensa em uma regra, a cada caso concreto há aplicação de uma regra. Nesse caso,
se se aplica a regra A, todas as demais regras demais estão excluídas. Pensa-se no plano de
validade. Se a norma A é válida, todas as outras são inválidas para o caso. Fala-se em uma auto-
exclusão das regras.
Para os princípios, não há exclusão. Todos os princípios podem ser aplicados ao mesmo tempo.
Mas, atenção! Embora todos os princípios sejam importantes e válidos, devem ser ponderados, ora
prevalecendo um princípio, ora prevalecendo outro, conforme o caso.
Ex. nomeação de servidor sem concurso público, em 1989. Tecnicamente, esse ato é ilegal, devendo
ser anulado, em razão do princípio da legalidade. Mas o entendimento que vem se consolidando
recentemente é o de que, em nome dos princípios da segurança jurídica e da boa-fé do servidor, devem
ser ponderados os interesses, estabilizando-se o ato de nomeação e não o anulando. Essa é uma
posição nova, que está ganhando força no Brasil.
Celso Antônio do Bandeira de Melo chama esses princípios de “pedras de toque do direito
administrativo”, pois compõem a base de todos os demais princípios de direito administrativo.
Conceito de Interesse Público – Representa o somatório dos interesses individuais dos seres
considerados como membros da sociedade, representando, assim, a vontade da maioria. Hoje a
doutrina subdivide o interesse público em primário e secundário.
Interesse Público Primário – vontade do povo.
Interesse Público Secundário – vontade do Estado enquanto pessoa jurídica.
O ideal é que o interesse público primário coincida com o secundário (“o Estado queira o que o
povo quer”). Mas, se não existir coincidência entre os interesses públicos, DEVE SEMPRE
PREVALECER O INTERESSE PÚBLICO PRIMÁRIO (INTERESSE DO POVO, enquanto membro da
sociedade).
Ex. carga tributária – o povo, enquanto membro da sociedade, quer uma carga tributária justa. O
Estado, enquanto pessoa jurídica, quer arrecadar cada vez mais. Então, deve prevalecer a vontade do
povo, com a carga tributária justa.
Obs: Corrente minoritária sobre a supremacia do interesse público – Há uma corrente minoritária que
defende a exclusão do princípio da supremacia. Para alguns autores, o princípio da supremacia justifica
o abuso e a arbitrariedade por parte do administrador público e que, por isso, ele deve ser abolido. A
maioria dos autores contesta essa ideia, alegando que o que deve ser feito é a aplicação correta desse
princípio, efetivamente.
O administrador não pode abrir mão ou dispor do interesse público, não tendo liberalidade face a
esse interesse, pois ele exerce a chamada “função pública”, isto é, exerce atividade em nome e no
interesse do povo. Se o administrador exerce atividade em nome do povo, ele não pode dispor desse
interesse. Estamos em uma república (res publica – coisa pública).
Ademais, há um princípio geral do direito que diz que o administrador de hoje não pode criar
entraves ou obstáculos para a futura administração.
Antes da edição da Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/00), o administrador praticava muitas
ilegalidades no governo. Essa lei surgiu para proteger a futura administração e o interesse público,
sendo esta uma proteção decorrente do princípio da indisponibilidade.
Ex. fraude no dever de concurso público → o concurso serve para que sejam selecionados os melhores
candidatos. Nesse caso, se não são selecionados os melhores candidatos, a administração sofrerá as
consequências no futuro. Isso é dispor do interesse público, o que é vedado. Mesmo caso é o da fraude
à licitação.
Art. 37, CF. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela EC nº 19, de 1998)
Princípio da Legalidade:
O nosso constituinte mencionou a legalidade em vários dispositivos, quais sejam: art.5º, II, CF;
art.37, caput, CF; art.84, IV, CF; art.150, CF.
Atenção! No controle dos atos administrativos, sempre que se pensar em legalidade como controle ou
controle de legalidade, está se falando em legalidade em sentido amplo, ou seja, confere-se se o ato é
compativel com a lei e com as regras e princípios constitucionais.
Princípio da Impessoalidade:
Impessoalidade significa que o administrador não pode buscar interesses pessoais. Ele precisa
agir com ausência de subjetividade. Além disso, quando se pensa em um ato praticado pelo
administrador, deve-se entender que o ato administrativo não é do agente, é do administrador, é
impessoal, é da entidade a que o agente pertence. O ato é da pessoa jurídica.
Existem dois exemplos expressos de exercício de impessoalidade na CF: Ex. Concurso público;
licitação. Atenção! Concurso como modalidade de licitação não preenche/ faz provimento de cargo.
Obs: O princípio da impessoalidade traduz a ideia de que o administrador tem que tratar a todos sem
discriminações, benéficas ou detrimentosas; nem favoritismos nem perseguições são toleradas;
simpatias ou animosidades pessoais, políticas ou ideológicas não podem interferir na atividade
administrativa. (Esse é o conceito de impessoalidade segundo Celso Antônio Bandeira de Melo. Celso
Antônio não fala nesse princípio como isonomia, embora esteja com ele relacionado).
Art. 2o, Lei 9.784/99 - A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade,
finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório,
segurança jurídica, interesse público e eficiência.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 10
Mas e se essa questão caísse na prova objetiva? Qual a posição que prevalece hoje?
É a da doutrina moderna: Finalidade – Legalidade.
Mas, concurso de técnico/analista, adota-se a doutrina tradicional: finalidade - impessoalidade.
Princípio da moralidade:
É importante ter em mente que boa administração também significa boa eficiência.
EMENTA ADC 12: ADC, AJUIZADA EM PROL DA RESOLUÇÃO Nº 07, de 18.10.05, DO CNJ. ATO
NORMATIVO QUE "DISCIPLINA O EXERCÍCIO DE CARGOS, EMPREGOS E FUNÇÕES POR PARENTES,
CÔNJUGES E COMPANHEIROS DE MAGISTRADOS E DE SERVIDORES INVESTIDOS EM CARGOS DE
DIREÇÃO E ASSESSORAMENTO, NO ÂMBITO DOS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO E DÁ OUTRAS
PROVIDÊNCIAS". PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. 1. Os condicionamentos impostos pela Resolução nº 07/05, do
CNJ, não atentam contra a liberdade de prover e desprover cargos em comissão e funções de confiança. As
restrições constantes do ato resolutivo são, no rigor dos termos, as mesmas já impostas pela Constituição de 1988,
dedutíveis dos republicanos princípios da impessoalidade, da eficiência, da igualdade e da moralidade. 2.
Improcedência das alegações de desrespeito ao princípio da separação dos Poderes e ao princípio federativo. O
CNJ não é órgão estranho ao Poder Judiciário (art. 92, CF) e não está a submeter esse Poder à autoridade de
nenhum dos outros dois. O Poder Judiciário tem uma singular compostura de âmbito nacional, perfeitamente
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 11
compatibilizada com o caráter estadualizado de uma parte dele. Ademais, o art. 125 da Lei Magna defere aos
Estados a competência de organizar a sua própria Justiça, mas não é menos certo que esse mesmo art. 125, caput,
junge essa organização aos princípios "estabelecidos" por ela, Carta Maior, neles incluídos os constantes do art. 37,
cabeça. 3. Ação julgada procedente para: a) emprestar interpretação conforme à Constituição para deduzir a função
de chefia do substantivo "direção" nos incisos II, III, IV, V do artigo 2° do ato normativo em foco; b) declarar a
constitucionalidade da Resolução nº 07/2005, do Conselho Nacional de Justiça.
O problema é que essas resoluções foram para o judiciário e para o MP. Mas a proibição não
atingiu o executivo nem o legislativo, de modo que o nepotismo continuou. Então, a partir da ADC nº 12,
o STF editou a súmula vinculante nº 13. Outro problema foi que só havia uma ação sobre nepotismo no
Supremo, de modo que a súmula vinculante não foi editada após reiteradas decisões.
O que a Súmula vinculante 13 proíbe:
Essa relação é qualquer cargo em comissão com qualquer cargo em comissão/ função gratificada.
Essas pessoas não podem ser parentes NA MESMA PESSOA JURÍDICA, ou seja, nem executivo, nem
legislativo e nem judiciário da MESMA PJ (União, Estados, Municípios).
3. Nepotismo cruzado – não se pode “trocar” os parentes, p.ex., entre estado e município.
Ocorre que, segundo o STF, os agentes políticos não estão sujeitos a essa proibição.
Obs: Na opinião pessoal de Marinela, a súmula vinculante disse muito, pois não era necessária a
proibição da função gratificada. A súmula disse pouco no que diz respeito ao contrato temporário, em
que não há concurso. Não disse, ainda, sobre os casos de contratação direta, com dispensa ou
inexigibilidade de licitação. A resolução do CNJ contempla as hipóteses de contratação temporária e da
contratação direta.
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AULA 03 – 08/02/12
Princípio da publicidade:
Outro exemplo: pessoa quer comprar uma empresa e busca informações sobre esta empresa.
Suponha-se que o órgão público negou as informações ao interessado. Nesse caso, é cabível o
remédio constitucional do mandado de segurança. Não é habeas data, pois este é remédio para obter
informações pessoais. Nesse caso, há direito líquido e certo de informação (o que faz caber o MS), mas
não são informações pessoais.
1º) Art.5º, X, CF – São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, sob
pena de ter que indenizar com dano moral e material decorrente da violação. Então, o administrador
não irá fazer publicidade quando violar a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas.
Art.5º, X, CF - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
2º) Art.5º, XXXIII, CF – Todos têm direito à informação, salvo quando colocar em risco a segurança da
sociedade e do Estado.
Art.5º, XXXIII, CF - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado;
Ex. Determinada região do país sofrerá um ataque terrorista. Uma pessoa decide ir até as forças
armadas para obter informações sobre esse ataque. O Estado pode negar essas informações para
proteger a segurança da sociedade e do Estado.
3º) Art.5º, LX, CF – Esse artigo fala a respeito dos atos processuais que correm em sigilo, na forma da
lei. Atenção! Isso também vale para atos processuais do processo administrativo.
Art.5º, LX, CF - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da
intimidade ou o interesse social o exigirem;
Ex. Suspeita-se que determinado médico cometeu um erro médico, vindo o paciente a falecer. O médico
sofre um processo ético disciplinar. Suponha-se que uma pessoa precisa fazer uma cirurgia;
obviamente, a pessoa nunca procurará esse médico que está sofrendo um processo ético. Por isso, na
maioria desses processos éticos disciplinares, o processo corre em sigilo, para não prejudicar a carreira
do médico. Ao final do processo ético, será dada a publicidade ao resultado dele.
Obs: Há divergência doutrinária no que diz respeito a essa lista. Para a maioria dos autores, as
exceções estão nos 3 incisos do art.5º. Mas, há uma corrente minoritária, defendida por Celso Antônio
Bandeira de Melo, no sentido de que somente é exceção ao princípio da publicidade o art.5º, XXXIII, CF
(questões de risco e segurança nacional).
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 14
Art.37, §1º, CF - A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter
caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens
que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.
Art. 11, Lei 8429/92 - Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade,
legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de
competência;
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer
em segredo;
IV - negar publicidade aos atos oficiais;
V - frustrar a licitude de concurso público;
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial,
teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.
- Orientação do STJ: Segundo o STJ, vale o bom-senso, de modo que não se pode adotar como regra
absoluta de improbidade a existência do nome do administrador relacionada à obra ou ato da
administração. O simples fato de constar o nome não significa improbidade. Para ter improbidade, deve
ter o caráter de promoção pessoal.
Ex. Placa escrito: obra nº …., contrato nº …., licitação nº ….., administrador ….., etc.... Isso não seria
promoção pessoal, pois o nome do administrador consta a título informativo.
O MP tem começado a atuar nessa seara, denunciando casos de improbidade administrativa. Mas
ainda estamos longe de chegar ao ideal.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 15
Princípio da eficiência:
Obs: Eficiência como princípio implícito - Mesmo até a alteração da EC nº 19, já existia para o Estado o
dever de eficiência. Esse era um princípio implícito na CF, mas era regra expressa na legislação
infraconstitucional. Ex. Lei 8.987/95 (Lei das Concessões e Permissões de Serviços Públicos – art.6º).
Art. 6º, Lei 8.987/95 - Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao
pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta lei, nas normas pertinentes e no
respectivo contrato.
§1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência,
segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.
Eficiência é agilidade, presteza, produtividade, economia do dinheiro público (gastar o menor valor
e não desperdiçar).
Esse princípio trouxe algumas alterações para o nosso ordenamento, juntamente com a Emenda
Constitucional nº 19. Em 1998, o constituinte, além de inserir no caput do artigo 37, da CF o princípio da
eficiência, alterou alguns dispositivos da CF, com o objetivo de tornar a eficiência uma realidade. Foram
as seguintes alterações:
Foram alterados os dispositivos relacionados à estabilidade do servidor público, como foi feito no
art.41, da CF, para tornar o servidor um servidor mais eficiente. A partir da EC nº 19, o servidor passou a
precisar de requisitos para adquirir estabilidade, notadamente, a avaliação de desempenho. Após
passar no concurso, o sujeito precisa ser nomeado (nomeação para cargo efetivo, pressupondo a prévia
aprovação em concurso) e exercer 3 anos de atividade (Obs: não falar “estágio probatório”, pois não é
isso que a CF diz). Além disso, o servidor precisará de avaliação especial de desempenho, com o
propósito de efetivar o princípio da eficiência. Atenção! Essa avaliação ainda não foi regulamentada, o
que leva, em muitos casos, a que o servidor adquira a estabilidade sem a avaliação de desempenho.
Em síntese, são requisitos para a aquisição da estabilidade no Brasil:
1. Nomeação para cargo efetivo, pressupondo a prévia aprovação em concurso;
2. Três anos de exercício;
3. Avaliação especial de desempenho.
A avaliação periódica já existia no Brasil antes da EC nº 19. Ocorre que ela era apenas formal,
não sendo apta a levar o servidor à perda do cargo.
Art. 169, CF - A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 16
§1º A concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, a criação de cargos, empregos e
funções ou alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão ou contratação de pessoal, a
qualquer título, pelos órgãos e entidades da administração direta ou indireta, inclusive fundações
instituídas e mantidas pelo poder público, só poderão ser feitas: (Renumerado do parágrafo único, pela
EC nº 19, de 1998)
I - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para atender às projeções de despesa de pessoal
e aos acréscimos dela decorrentes; (Incluído pela EC nº 19, de 1998)
II - se houver autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias, ressalvadas as empresas
públicas e as sociedades de economia mista. (Incluído pela EC nº 19/98)
Art. 19, LC 101/00 - Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com
pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os
percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:
I - União: 50% (cinqüenta por cento);
II - Estados: 60% (sessenta por cento);
III - Municípios: 60% (sessenta por cento).
Para racionalizar a máquina administrativa, foi necessário cortar/ reduzir os gastos com cargos em
comissão e funções de confiança. A CF determinou a redução de, pelo menos, 20% com cargos em
comissão e funções de confiança. Se isso não for suficiente, devem ser cortados os servidores não
estáveis (serão exonerados quantos forem necessários para atender os limites de gastos. A escolha é
de acordo com a desnecessidade do serviço). Em último caso, serão exonerados os servidores
estáveis.
Obs1: Atenção! Para atingir uma categoria subsequente, será necessário esgotar a categoria anterior.
Para se exonerar 1 servidor estável, devem ser exonerados TODOS os servidores não-estáveis.
Obs2: Atenção! Não falar que o servidor foi demitido, pois demissão é pena.
Obs3: Para evitar que o mecanismo da redução de despesas seja utilizado como vingança, o
constituinte determinou que o cargo deve ser extinto e só poderá ser criado com as mesmas funções 4
anos depois.
Obs4: Somente o servidor estável tem direito a indenização.
Para que um serviço público seja eficiente, ele deve ser eficiente quanto aos meios e quanto aos
resultados. Eficiente é gastar o menor valor possível, obtendo-se o melhor resultado possível.
Embora este princípio não esteja no art.37, caput, CF, ele também deve ser observado pela
administração pública.
Isonomia é tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual, na medida de suas
desigualdades.
O problema desse princípio está em preencher o conceito – quem são os iguais? Quem são os
desiguais? Qual a medida da sua desigualdade? Para se responder a essa pergunta, deve-se:
1) Pensar, em primeiro lugar, qual é o fator de discriminação.
2) Após, deve-se verificar se este fator está ou não compatível com o objetivo da norma. Se o fator
de exclusão está compatível com o objetivo da norma ele não viola a isonomia. Se o fator de
discriminação não estiver compatível com o objetivo da norma, ele viola a isonomia.
Ex1: determinado município decide fazer um concurso de salva-vidas. O edital diz que o deficiente físico
de cadeira de rodas não pode prestar o concurso. Essa regra não viola o princípio da isonomia, pois o
fator de discriminação está compatível com o objetivo da norma;
Ex2: Concurso de Polícia civil para função administrativa - O edital diz que o deficiente físico de cadeira
de rodas não pode prestar o concurso. Essa regra viola o princípio da isonomia, pois o fator de
discriminação não está compatível com o objetivo da norma – o deficiente de cadeira de rodas
consegue desempenhar função administrativa perfeitamente;
Ex3: polícia feminina faz concurso. Homens não podem prestar o concurso. Essa regra não viola o
princípio da isonomia, pois o fator de discriminação está compatível com o objetivo da norma;
Ex4: prova física de delegado – homem tem que fazer 10 barras; mulher tem que fazer 1 barra e
segurar por 10 segundos. Isso não viola a isonomia.
Atenção!! Limite de idade, atividade jurídica, altura, etc... Segundo o STJ e o STF, para que esses
requisitos de concurso público saiam no edital, eles precisam estar previstos na lei da carreira e, além
disso, devem ser compatíveis com a atribuição do cargo. Por fim, o requisito deve estar previsto no
edital.
Obs: Exame psicotécnico – Súmula 686, STF e jurisprudência do STJ: – O exame psicotécnico precisa
estar previsto na lei da carreira; deve ter parâmetros objetivos e deve dar direito a recurso. (Isto porque
esse exame é muito subjetivo).
Súm.686, STF - Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo
público.
No direito administrativo, esses dois princípios aparecem sempre juntos. Agir de forma razoável
significa agir de forma lógica, com coerência, congruência, conforme os padrões do homem médio.
Proíbem-se, aqui, os excessos e os despropósitos.
Embutido no princípio da razoabilidade encontra-se o princípio da proporcionalidade, que diz que
se deve agir de forma equilibrada, com equilíbrio entre os benefícios e os prejuízos obtidos, entre os
atos e as medidas inerentes a esses atos.
Ex. instalar um lixão de frente para o mar – não é razoável, lógico.
Ex. passeata que se transforma em vandalismo – poder público pode dissolver a passeata, mas não
pode matar os rebeldes. Isso não é proporcional, equilibrado.
Ex. servidor que praticou infração leve. A pena de demissão não é proporcional. A sanção deveria ser
leve também, como a advertência.
Razoabilidade e proporcionalidade são princípios implícitos na CF, mas expressos na norma
infraconstitucional, como se observa da lei 9.784/99, art. 2º.
Art. 2O,, Lei 9.784 - A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade,
finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório,
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 18
segurança jurídica, interesse público e eficiência.
1. O controle feito pelo judiciário pode atingir qualquer ato administrativo (vinculado, discricionário); mas,
esse controle só pode ser um controle de legalidade. Hoje, no Brasil, o controle de legalidade é
entendido como legalidade em sentido amplo, verificando a compatibilidade do ato com a CF (regras e
princípios constitucionais) e com a lei.
Ex. Se um ato viola a proporcionalidade, ele pode sofrer controle de legalidade pelo judiciário.
2. O poder judiciário não pode controlar o ato administrativo no que diz respeito ao seu mérito, ou seja,
sua liberdade, o juízo de valor feito pelo administrador.
Ex.: determinada administração precisa construir uma escola e um hospital, mas só possui recursos
para construir um dos dois, e decide construir o hospital. Atenção! O judiciário não pode rever esse ato,
pois isso é o mérito do ato administrativo.
Ex2: determinada administração precisa construir uma escola e um hospital. Mas só possui recursos
para construir um deles. E decide construir uma praça. Isso viola a razoabilidade e a proporcionalidade.
Então, o judiciário pode rever a decisão, fazendo um controle de princípio constitucional, um controle de
legalidade. Mas esse controle de legalidade vai atingir reflexamente o mérito do ato administrativo.
Nesse caso, o administrador não tem mais qualquer liberdade; ele tem a liberdade razoável, a liberdade
proporcional; há uma restrição à liberdade do administrador.
Obs: A ADPF 45 traz uma discussão de políticas públicas no Brasil. Isto porque durante muitos anos o
judiciário deixou de controlar diversas políticas públicas entendendo que isso era mérito do ato
administrativo. Contudo, no julgamento o STF mudou o seu entendimento. O julgado fala ainda da
reserva do possível e do mínimo existencial.
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LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 19
AULA 04 – 29/02/12
Na via administrativa, esses princípios são novos, surgindo a partir da CF/88. A maioria das
nulidades em processo administrativo está ligada à falta de contraditório e de ampla defesa.
O contraditório e a ampla defesa para o processo administrativo estão previstos na CF/88 – art.5º,
LV “Os processos administrativos e judiciais devem respeitar o contraditório e a ampla defesa”.
Contraditório é dar ciência à parte da existência do processo. Quando a parte é chamada para o
processo, está se estabelecendo a bilateralidade do processo administrativo. Num Estado Democrático
de Direito, ninguém pode ser processado e condenado sem ter direito de participar dessa construção
que é a decisão judicial.
Pela ampla defesa, deve-se dar a oportunidade da parte se defender, ainda que ela não exerça
efetivamente essa defesa. Deve-se abrir um prazo para a pessoa se defender. É importante notar,
ainda, que não basta dar prazo, devendo ser cumpridas algumas exigências para que a pessoa possa
exercitar a sua defesa (ex. dar acesso ao processo, produzir provas, etc).
Exigências/ desdobramentos/ condições para a ampla defesa:
(1) A defesa deve ser prévia ao julgamento. Para isso, é necessário um procedimento preestabelecido.
A pessoa só se pode valer de estratégias processuais se existir um procedimento já definido
anteriormente. É preciso conhecer as etapas e procedimentos do processo. A pessoa deve, também,
conhecer previamente as penalidades previstas para sancionar a parte.
(2) O sujeito, na elaboração do processo, deve ter direito/ acesso às informações do processo. A parte
interessada tem direito a cópias do processo, desde que pague por elas. A maioria dos processos
administrativos não pode ser retirada da repartição (não se pode fazer carga).
(3) O interessado deve ter direito a produção de provas. Direito de produzir provas é produzir a prova e
ter essa prova avaliada, podendo interferir no convencimento do julgador. A prova deve, repise-se,
ser avaliada/interferir no convencimento do julgador.
(4) Em processo administrativo, a defesa técnica (advogado) é obrigatória ou facultativa?
A presença do advogado, desde muito tempo, foi facultativa no processo administrativo. Essa
discussão foi feita especialmente para os processos disciplinares, tendo em vista que esses processos
são punitivos. Essa tese da defesa técnica não vale para os demais tipos de processo administrativo. A
lei 8.112/90 diz que a presença do advogado é facultativa no PAD. Com o decorrer dos anos, o STJ
construiu uma jurisprudência, no sentido de que o advogado auxilia a parte e contribui para a
regularidade do processo. Pensando nesse raciocínio, o STJ editou a súmula 343, que diz: “É
obrigatória a presença de advogado em todas as fases do PAD”.
Então, a partir dessa súmula, o advogado era obrigatório em todas as fases do PAD. Ocorre que,
a partir desse entendimento, surgiu um problema, pois muitos servidores haviam sido processados e
demitidos sem a presença de um advogado. Se o servidor foi demitido, e a presença do advogado, que
era obrigatória, não aconteceu, muitos entenderam que o processo era ilegal, de modo que o servidor
teria direito a reintegração, ou seja, retornar ao cargo de origem, com todas as remunerações do
período em que esteve afastado. E isso levou ao benefício daquele servidor que agiu erradamente e,
além disso, levou a um altíssimo custo para os cofres públicos, que deveriam indenizar todos os
servidores demitidos.
Diante dessa problemática, o STF analisou a questão e editou a súmula vinculante nº 05, que
retomou a ideia anterior, dizendo que a presença do advogado era facultativa (SV nº 05 - “A falta de
defesa técnica por advogado no PAD não ofende a CF”). Então, embora não tenha sido cancelada, a
súmula 343 do STJ foi superada.
Logo, hoje, a presença do advogado é FACULTATIVA.
(5) Direito de recurso – A pessoa, para se defender, deve ter direito ao recurso, levando a matéria a uma
nova análise, sendo esta mais uma garantia da ampla defesa.
Ex. Edital de concurso que diz “da fase x não cabe recurso” é um absurdo. Deve haver direito de
recurso.
A discussão dessa súmula adveio de um processo administrativo tributário. Ocorre que, hoje, a
previsão não é somente para o processo tributário, servindo para qualquer processo administrativo.
A discussão dizia respeito à cobrança de depósito prévio para recurso. Se fosse cobrado depósito
prévio para a parte recorrer, só poderia recorrer quem tivesse dinheiro, o que condicionaria o direito de
recurso a uma condição financeira e econômica da parte. Portanto, não se poderia exigir esse depósito
prévio, pois essa exigência era inconstitucional.
Nessa linha de raciocínio existem as súmulas 373, STJ e SV 21.
Súmula 373, STJ - É ilegítima a exigência de depósito prévio para admissibilidade de recurso
administrativo.
O que se decide hoje no STF a respeito de processo? Entende-se, hoje, que sempre que alguém
possa ser atingido ou prejudicado por uma tomada de decisão, esse interessado deve ser chamado a
participar do processo, com contraditório e ampla defesa.
Ao final do exercício financeiro, o TCU recebia a prestação de contas e verificava. Se
desconfiasse que determinado contrato/licitação tivesse sido fraudado, o TCU chamava o administrador
para prestar esclarecimentos. O administrador e o TCU discutiam um contrato que atingia uma empresa
determinada, e essa empresa ficava prejudicada/beneficiada por essa decisão, sem participar do
processo. Nessa ideia, a súmula vinculante nº 03.
Porque a súmula excetuou a apreciação da legalidade do ato de aposentadoria, reforma e
pensão? A súmula não disse que a pessoa não terá contraditório e ampla defesa. Ela disse que não
haverá contraditório e ampla defesa PERANTE O TCU. Mas o servidor terá contraditório e ampla defesa
perante a administração.
O ato administrativo de concessão inicial de reforma, aposentadoria ou pensão é um ato
administrativo complexo, ou seja, depende de duas manifestações de vontade que acontecem em
órgãos diferentes. Quando o servidor quer se aposentar, ele pede a aposentadoria para o seu órgão. A
administração se manifesta e encaminha o pedido para o Tribunal de Contas. O aperfeiçoamento da
aposentadoria depende das duas manifestações. Então, embora haja duas manifestações, há apenas
um ato administrativo. E esse ato administrativo conta com uma oportunidade de contraditório e de
ampla defesa, que ocorrerá perante a administração pública, e não perante o TCU.
A partir desse entendimento, surgia um problema. Quando o servidor pedia à administração a
aposentadoria, a administração analisava o pedido primeiro, de forma provisória, dependendo a perfeita
eficácia do ato da manifestação do TCU. Ocorre que, por muitas vezes, a administração aposentava o
servidor precariamente e, após anos, o TCU não confirmava o ato de aposentadoria, mandando o
servidor voltar ao exercício. Diante disso, havia uma injustiça muito grande para o servidor.
Portanto, o STF firmou o entendimento de que, a despeito da regra de que o servidor não exercer
contraditório e ampla defesa perante o TCU no processo administrativo de aposentação, se o TCU
demorar mais de 5 anos para analisar o pedido de concessão inicial de aposentadoria, reforma e
pensão, ele deverá dar contraditório e ampla defesa ao servidor, preservando-se assim, inclusive, a
segurança jurídica. O STF chamou esse entendimento de “Temperando a Vinculante nº 03”.
Esse princípio diz que o serviço público deve ser prestado de forma ininterrupta e contínua.
O problema é que os servidores públicos vivem em greve. Durante muitos anos, essas greves
foram ditas ilegais. A matéria foi discutida no STF durante muitos anos, em sede de Mandado de
Injunção, declarando-se a omissão legislativa ao Congresso. Mas nessas decisões, o STF entendia que
não havia como obrigar o legislador a legislar.
Ocorre que, com o passar dos anos, houve uma época em que categorias importantes de
servidores entraram em greve (ex. INSS, Polícia Federal). O Presidente Lula, na época, foi à imprensa e
disse que era necessário acabar com o direito de greve.
Nessa época, no STF, tramitavam 3 Mandados de Injunção (MI 670; MI 708 e MI 712). Nesses
casos, o STF mudou o seu posicionamento com relação ao Mandado de Injunção, entendendo que o MI
poderia, a partir daquele caso, ter efeitos concretos. Então, segundo o STF, o servidor público passou a
ter direito de greve, respeitando, contudo, a lei do trabalhador do setor privado. O STF admite a greve
dos servidores enquanto não for aprovada a lei de greve do servidor público, aplicando-se a lei do
trabalhador privado no que couber (Lei 7.783/89).
Esse mandado de injunção marcou a história do MI, passando a ter efeitos concretos, ao invés de
meramente declaratórios.
Outra questão é com relação dos efeitos do MI, é que ele sempre foi inter partis. Nesse caso, o
STF mudou também seu posicionamento, reconhecendo para esses MI o efeito erga omnes,
fundamentando que era para evitar um inchaço de ações.
Esse caso foi uma exceção, não significando que todos os MI do STF terão efeitos concretos e
erga omnes.
Então, hoje, o servidor tem sim direito de greve, com a aplicação da lei do trabalhador privado.
EMENTA MI 670: MANDADO DE INJUNÇÃO. GARANTIA FUNDAMENTAL (CF, ART. 5º, INCISO LXXI).
DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS (CF, ART. 37, INCISO VII). EVOLUÇÃO DO
TEMA NA JURISPRUDÊNCIA DO STF. DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DE COMPETÊNCIA
CONSTITUCIONAL PARA APRECIAÇÃO NO ÂMBITO DA JUSTIÇA FEDERAL E DA JUSTIÇA
ESTADUAL ATÉ A EDIÇÃO DA LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA PERTINENTE, NOS TERMOS DO ART. 37,
VII, DA CF. EM OBSERVÂNCIA AOS DITAMES DA SEGURANÇA JURÍDICA E À EVOLUÇÃO
JURISPRUDENCIAL NA INTERPRETAÇÃO DA OMISSÃO LEGISLATIVA SOBRE O DIREITO DE GREVE
DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS, FIXAÇÃO DO PRAZO DE 60 (SESSENTA) DIAS PARA QUE O
CONGRESSO NACIONAL LEGISLE SOBRE A MATÉRIA. MANDADO DE INJUNÇÃO DEFERIDO PARA
DETERMINAR A APLICAÇÃO DAS LEIS Nos 7.701/1988 E 7.783/1989. 1. SINAIS DE EVOLUÇÃO DA
GARANTIA FUNDAMENTAL DO MANDADO DE INJUNÇÃO NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL (STF).
Vide art.6º, §3º, Lei 8.987/95 (Lei de Concessão e Permissão de Serviços Públicos): “Não se
caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência (ex.
Situação das chuvas em minas gerais) ou após o prévio aviso, quando:
I – motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações;
II – por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.”
Atenção! No caso do usuário inadimplente, é possível o corte de serviço, mesmo se o serviço for
essencial? Sim. Na jurisprudência, existiam duas correntes. A corrente minoritária defendia a tese do
CDC, de que não se podia deixar o consumidor em situação vexatória (art.42 e 28, do CDC). De outro
lado, a posição maciçamente majoritária entende que pode-se sim cortar o serviço. Se a prestadora for
obrigada a prestar o serviço a todos os usuários, inclusive a todos os que não pagam, a empresa irá
quebrar e a coletividade será prejudicada. Então, em nome da coletividade o serviço poderá ser
cortado. Ademais, se a empresa for obrigada a prestar o serviço a quem não paga, ela irá quebrar,
comprometendo, também, a própria continuidade do serviço. É importante ver, ainda, que, pela
isonomia, quem paga e quem não paga devem ter tratamento desigual, pois eles estão em situações
desiguais.
Portanto, o corte é possível com os seguintes fundamentos: (1) supremacia do interesse público;
(2) continuidade do serviço público e (3) isonomia.
A jurisprudência admite algumas exceções em que o serviço é mantido, apesar da inadimplência.
Ex. Pessoa que não está pagando energia, mas está muito doente e precisa do serviço para manter
seus aparelhos; hospital com vários doentes não paga a conta.
Atenção! Se o usuário não pagador for o Estado, é possível cortar o serviço? Segundo a jurisprudência,
é possível sim o corte, salvo algumas situações: hospitais públicos, logradouros públicos, etc.
Essa presunção é relativa, pois é possível discutir esse ato administrativo (presunção iuris
tantum). A presunção relativa possui 2 consequências práticas:
(1) Aplicação imediata dos atos;
(2) Ônus da Prova – Normalmente esse ônus é do administrado. Ônus da prova – normalmente,
quem contesta o ato administrativo é o administrado. Então, normalmente o ônus da prova é
do administrado. A presunção é relativa, com o ônus da prova de quem alega.
Ex. legislador faz uma lei. A lei possui presunção de constitucionalidade. Mas essa constitucionalidade
pode ser discutida em juízo. Ocorre que, até que haja uma decisão em sentido contrário, a lei é
presumida constitucional e tem aplicação imediata.
Ex. A pessoa possui um estabelecimento comercial, e um fiscal da vigilância sanitária, por entender que
essa pessoa não respeita a legislação sanitária, fecha o estabelecimento. Até que a pessoa consiga
uma decisão em sentido contrário, vale a presunção do ato administrativo, de modo que o
estabelecimento ficará fechado.
Por esse princípio, a administração pública pode rever os seus próprios atos, quanto à
conveniência ou quanto à legalidade.
Quando a administração revê um ato porque ele é ilegal, ela ANULA o ato. Quando a
administração revê um ato porque ele é inconveniente, ela REVOGA o ato.
Maria Sylvia Zanella di Pietro diz que o princípio da autotutela traz, além do poder de revisão dos
atos, o dever de cuidado e zelo da administração com os seus próprios bens, direitos, patrimônios,
interesses (autotutela = tutela própria).
Esse princípio traz a ideia de que as pessoas jurídicas da administração pública, especialmente as
pessoas da administração indireta, estão vinculadas às finalidades para as quais foram criadas.
Os entes da administração direta são os entes políticos (U/E/M/DF) e criam as pessoas jurídicas
da administração indireta (autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações
públicas). Quando a administração direta cria um determinado ente da administração indireta, ela
também define a sua finalidade específica. E as pessoas criadas estão atreladas, vinculadas a essa
finalidade específica.
Atenção! É possível modificar essa finalidade? Se quem define essa finalidade é a lei, pode o
administrador modificar essa finalidade? Não. Somente se vier uma nova lei, pode haver a modificação.
Esse princípio surgiu inicialmente para as pessoas da administração indireta. Ocorre que, hoje,
esse princípio também já é aplicado para os órgãos da administração direta. Se se cria um órgão da
administração direta, ele deve respeitar a finalidade para a qual foi criada.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 24
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 25
ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO
Quando se fala da atividade administrativa, podemos entender que essa atividade é prestada de
diversas formas. Por vezes, o próprio Estado presta o serviço; por vezes, são particulares que prestam
o serviço.
1.1) Atividades prestadas pelo núcleo/ centro da administração (administração direta) → prestação
centralizada.
Prestação
Centralizada
Com o decorrer dos anos, para a eficiência dos serviços, muitos serviços foram retirados desse
núcleo e transferidos para outras pessoas jurídicas.
1.2) Atividades prestadas por outras pessoas (administração indireta e particulares) → prestação
descentralizada.
Prestação
Descentralizada
Administração Indireta
Prestação
Centralizada
Particulares
Prestação
Centralizada Particulares
Desconcentração Descentralização
É sempre na Sempre é uma nova pessoa.
mesma pessoa. Essa pessoa pode ser física ou jurídica.
Há hierarquia e Entre a administração direta e a indireta existe hierarquia? Não. Não existe
subordinação. hierarquia, mas existe controle. Então, sempre que se pensar em
descentralização, não há hierarquia nem subordinação. Somente controle,
fiscalização.
A delegação de serviço público é a transferência somente da EXECUÇÃO do serviço. Por não ser
tão drástica, ela pode ser feita:
a) Por lei → às pessoas jurídicas da administração indireta de direito privado (empresas públicas e
sociedades de economia mista).
b) Por contrato → aos particulares (ex. Concessionárias e permissionárias de serviços públicos –
transporte coletivo, telefonia).
c) Por ato administrativo unilateral → aos particulares (ex. Autorização de serviço – serviço de táxi,
despachante).
*Prestação desconcentrada A atividade é deslocada dentro da própria pessoa jurídica. Pode ocorrer na prestação
centralizada ou descentralizada.
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AULA 05 – 02/03/12
O Estado é uma pessoa jurídica. A pessoa jurídica é, por sua vez, uma ficção legal, uma criação
da lei. Ela manifesta a sua vontade através do agente; depende da pessoa física para manifestar a sua
vontade.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 27
Como se constitui e formaliza essa relação? Como o agente manifesta a vontade do Estado?
Foram desenvolvidas 3 teorias para explicar essa relação do Estado com seus agentes:
1ª Teoria – Teoria do Mandato – O estado celebra com o agente um “contrato de mandato”, seguindo a
mesma ideia de um contrato de mandato entre um advogado e o seu cliente. Ocorre que, no
contrato de mandato o cliente manifesta a vontade e o advogado também. Mas, como o
Estado vai celebrar esse contrato? Pois ele depende da pessoa física para manifestar a sua
vontade e celebrar esse contrato de mandato. Por isso, essa teoria não foi adotada no Brasil.
2ª Teoria – Teoria da Representação – Ela tratava a relação estado x agente como se fosse uma tutela e
curatela, em que se pressupõe a existência de um sujeito incapaz. Ocorre que, segundo essa
teoria, o Estado seria um sujeito incapaz. Se o Estado é um sujeito incapaz, essa teoria
também não pode ser aplicada.
3ª Teoria – Teoria do Órgão ou Teoria da Imputação – Essa teoria diz que a vontade do Estado e a
vontade do agente se confundem. Na verdade, quando o agente manifesta a vontade, é como
se o próprio Estado estivesse se manifestando. A vontade do Estado é a própria vontade do
agente e a vontade do agente é a vontade do Estado. É importante notar que a vontade do
Estado manifesta a vontade do agente através de uma imputação legal, pois a lei determina
isso. O agente manifesta a vontade do Estado por imputação/ previsão legal. O agente faz o
que o a lei atribui ao Estado. É a lei que dá ao agente essas responsabilidades e atribuições.
3) Órgão Público:
Art. 1o, Lei 9.784/99 - Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo administrativo no âmbito da
Administração Federal direta e indireta, visando, em especial, à proteção dos direitos dos administrados
e ao melhor cumprimento dos fins da Administração.
§ 1o Os preceitos desta Lei também se aplicam aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da
União, quando no desempenho de função administrativa.
§ 2o Para os fins desta Lei, consideram-se:
I - órgão - a unidade de atuação integrante da estrutura da Administração direta e da estrutura da
Administração indireta;
II - entidade - a unidade de atuação dotada de personalidade jurídica;
III - autoridade - o servidor ou agente público dotado de poder de decisão.
3.1.a) Ausência de Personalidade jurídica – O órgão público não pode ser sujeito de direitos nem de
obrigações. Se o órgão público não possui personalidade, quem responde pelos seus atos? É a pessoa
jurídica à qual ele pertence.
Pergunta de Concurso: Num caso em que há duas crianças em uma escola pública municipal na
hora do intervalo e uma machuca a outra, a vítima quer indenização. Quem vai pagar a indenização?
Quando a criança está na escola, o dever de vigilância dos pais se transfere para a escola. Mas como
escola é órgão público, ela não responde. A Prefeitura também é órgão público, não respondendo. A
responsabilidade, então, é do Município.
Pergunta de Concurso: Órgão público pode celebrar contrato? Em regra não. O órgão público licita,
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executa e faz gestão dos contratos. Mas a parte do contrato é a pessoa jurídica. Então, o município X,
com a gestão do órgão Y, celebra o contrato administrativo. Nesse caso, é importante notar que quem
assina o contrato é o dirigente do órgão. Isto só é possível porque a lei pode transferir/ delegar para o
dirigente do órgão a atribuição de assinar o contrato. Mas isso não afasta a ideia de que o órgão não é
parte.
Art. 37, §8º, CF - A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da
administração direta e indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus
administradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para o
órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre: (Incluído pela EC nº 19, de 1998)
I - o prazo de duração do contrato;
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos, obrigações e responsabilidade dos
dirigentes;
III - a remuneração do pessoal.
Esse artigo foi inserido na nossa CF pela EC nº 19 e fala do contrato de gestão. Ele diz que o
contrato de gestão é aquele celebrado: (1) – entre entes da administração; (2) – entre órgãos; (3) –
entre administradores.
A doutrina diz que esse inciso II é inconstitucional, pois órgão não tem personalidade jurídica, não
podendo ser parte no contrato de gestão.
Com relação à possibilidade de os administradores celebrarem contrato de gestão, a doutrina diz
que se duas pessoas físicas celebram contratos como pessoas físicas, isso não é contrato
administrativo, pois o contrato administrativo tem que ter a presença do Estado.
No concurso, se a prova copiar o artigo de lei, dizer que é verdadeiro. Mas, se a alternativa só
falar “órgão público pode celebrar contrato”, deve-se dizer que é falso.
QUANDO O CONCURSO FALAR EM CONTRATO DE GESTÃO, ELE PROVAVELMENTE
ESTARÁ FALANDO DO ART.37, §8º, CF.
Obs2: Órgão e CNPJ - Se órgão público não tem personalidade, porque ele tem CNPJ? O CNPJ e o
CPF foram criados pela Receita Federal, para controlar fluxo de dinheiro. Então, a Receita Federal
atribui um CNPJ para o órgão público que tem recurso orçamentário, mesmo que ele não tenha
personalidade. Ademais, embora o órgão público não pague imposto de renda, ele paga proventos aos
funcionários, que, por seu turno, auferem renda. Isso facilita a tributação dos funcionários.
Obs3: Órgão público, que não tem personalidade jurídica, pode ser parte em ação judicial? Sim. A
jurisprudência diz que órgão público, apesar de não ter personalidade jurídica, em alguns casos, pode
sim figurar em juízo, assim como a massa falida, o espólio, o nascituro, etc. A ideia é que o órgão
público vá a juízo em busca de prerrogativas funcionais. A jurisprudência diz, ainda, que normalmente, o
órgão público atua como sujeito ativo.
Ex. A Câmara Municipal recebe o duodécimo, que é uma verba para a manutenção das suas despesas.
Quem repassa o duodécimo é o prefeito. A Câmara pode ajuizar um MS para pedir o repasse da verba.
3.1.b) Órgão público, ao ir a juízo, pode ter seus próprios procuradores? Pode. Nem sempre o
órgão terá procuradores próprios. Isso vai depender da organização administrativa do órgão. Então, o
óegão pode ter representação própria, mas nem sempre terá.
II.a – órgão simples – é o órgão que não tem ramificações/ desdobramentos. Ex. Gabinete;
II.b – órgão composto – é o órgão que possui ramificação/ desdobramento. Ex. Postos de saúde,
hospitais frente à Secretaria de saúde; escolas perante a delegacia de ensino.
III) Classificação conforme a atuação funcional (análise dos agentes que compõem esse órgão):
III.a – Órgão singular ou unipessoal – é composto por um agente. Aqui, a tomada de decisão é feita
por um só agente. A tomada de decisão é individual.
Ex. Presidência, prefeitura, juízo monocrático.
III.b – Órgão colegiado – é composto por vários agentes. A tomada de decisão é feita de forma
coletiva.
Ex. Casas legislativas e tribunais.
Obs: MP e TCU → alguns autores defendem que eles são órgãos independentes. Para os
administrativistas, a posição que prevalece é a de que eles são órgãos autônomos. Não se está
discutindo a independência funcional do MP. Fala-se da estrutura administrativa, na atividade de
administrar. Mas há muita divergência sobre isso na doutrina. O judiciário não discute muito isso.
4) Administração Indireta:
Art.37, XIX, CF - somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de
empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste
último caso, definir as áreas de sua atuação; (Redação pela EC nº 19/98)
Por este artigo: Lei específica cria autarquia E lei específica autoriza a criação de empresa
pública, sociedade de economia mista ou fundação. Mas, nos dois casos, é necessária lei parar criar
entes da administração indireta (sem a lei que cria ou autoriza a criação, não se pode criar ente da
administração indireta).
Essa lei é uma lei ordinária específica, ou seja, que cuida só do assunto da criação/ autorização
de criação. E essa lei é para cada pessoa jurídica.
Atenção! Tudo aquilo que o legislador faz o administrador não pode derrubar. Então, existe o
paralelismo de formas, ou seja, da mesma forma que se criou por lei, é a lei quem deve extinguir. Do
mesmo modo, se a lei autoriza a criação, a lei deve autorizar a extinção.
Obs: Fundação e Lei Complementar – Conforme o artigo da CF, lei complementar vai definir as
possíveis finalidades da fundação (“neste último caso”). A lei complementar irá restringir essas
finalidades, para coibir os abusos.
Para autorizar a criação da fundação, será necessária uma lei ordinária. Na verdade, a lei
complementar só vai listar as possíveis finalidades. Mas, para criar a fundação, será necessária uma lei
ordinária.
Obs: De qual fundação o Constituinte está falando? Fundação Pública de direito público ou fundação
pública de direito privado? O constituinte estava falando de fundação pública de direito privado (vide
explicação sobre fundações). As fundações públicas de direito público estão dentro do gênero
autarquia. Então, não se pode criar uma fundação pública de direito privado sem autorização legislativa.
As pessoas jurídicas da administração indireta não possuem fins lucrativos. Isso significa dizer
que elas não são criadas com o objetivo de lucro, embora o lucro seja possível.
A autarquia e a fundação prestam serviço público. Já a empresa pública e a sociedade de
economia mista podem ter duas finalidades: (1) prestadoras de serviços públicos; (2) exploradoras da
atividade econômica. Mesmo no caso das entidades exploradoras de atividades econômicas, a
finalidade não é de lucro, mas sim, intervir na atividade econômica para preservar o interesse coletivo
ou a segurança nacional.
Art. 173, CF - Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade
econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou
a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.
Ex. Suponha-se que no Brasil, a fabricação de canetas é uma atividade extremamente lucrativa. A
administração poderia criar uma empresa de fabricar canetas só porque dá lucro? Não. Mas, se for um
caso de preservação de segurança nacional ou de perseguição de interesse coletivo, será possível essa
criação.
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4ª CARACTERÍSTICA – FINALIDADES ESPECÍFICAS:
Cada pessoa jurídica da administração indireta possui a sua finalidade específica. As pessoas da
administração estão PRESAS a essas finalidades, que são definidas pela lei de criação. Isso é
determinado pelo princípio da especialidade.
5ª CARACTERÍSTICA – CONTROLE:
FUNDAÇÕES
1) Conceito:
2) Espécies:
2.1) Fundação Privada - Se o fundador da fundação é um particular, essa é uma fundação privada.
Ex. Fundação Ayrton Senna, Fundação Xuxa Meneghel. São estudadas no direito civil.
2.2) Fundação Pública - Se o fundador for o Poder Público. Quando o poder público vai constituir a
fundação pública, ele pode dar a ela dois regimes diferentes: regime de direito público ou regime de
direito privado. Isto conforme doutrina e jurisprudência majoritária.
2.2.1) A fundação pública de direito público é uma espécie do gênero autarquia. Por isso é
chamada de “autarquia fundacional” ou de “fundação autárquica”. Então, todas as regras da
autarquia servem para essa fundação. A lei CRIA essa fundação.
1. Hely Lopes Meirelles entendia que a fundação pública é só de direito privado. Até a CF de 1988
só existia fundação pública de direito privado. Hely Lopes faleceu em 1990, então, não deu
tempo de ele mudar o seu posicionamento.
2. Celso Antônio Bandeira de Melo, por seu turno, diz que toda fundação pública é de direito público.
3. Mas, para o resto da doutrina (Carvalhinho, Maria Sylvia) e o STF entendem que podem existir os
dois tipos.
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AULA 06 – 15/03/12
AUTARQUIAS
1) Conceito:
Autarquia é pessoa jurídica de direito público que presta atividade típica do Estado. Na realidade,
a autarquia é prestadora de serviços públicos, desenvolvendo atividades típicas do Estado (ela não
pode desempenhar qualquer atividade, mas somente atividades típicas do Estado).
Por ser pessoa jurídica de direito público, o regime jurídico da autarquia é muito semelhante ao da
administração direta.
As autarquias possuem as 5 características gerais das pessoas da administração indireta vistas
anteriormente (personalidade jurídica própria, receita e patrimônio próprios, autonomia técnica,
administrativa e financeira, criação e extinção por lei, ausência de finalidade lucrativa, finalidades
específicas, sujeita a controle).
2.1) Atos:
Os atos praticados pelas autarquias são atos administrativos, gozando do regime específico
desses atos. Então, os atos das autarquias gozam de autoexecutoriedade, imperatividade e de
presunção de legitimidade.
2.2) Contratos:
Os contratos celebrados pelas autarquias são contratos administrativos. Por isso, a autarquia está
sujeita à licitação (Lei 8.666/93).
Cuidado! Os contratos administrativos possuem cláusulas exorbitantes, isto é, cláusulas que
exorbitam o comum dos contratos (rescisão unilateral, sanção, fiscalização – art.58, Lei 8.666/93). Isso
também é aplicável às autarquias.
A autarquia está sujeita à responsabilidade civil do Estado. O art.37, §6º, CF fala em pessoa
jurídica de direito público, de modo, então, que a autarquia está sujeita a ele, respondendo pelos atos
que seus agentes nessa qualidade causarem a terceiros.
Aqui, incide a Teoria Objetiva, pela qual a responsabilidade independe da prova da culpa
(bastando a conduta, dano e nexo de causalidade).
Excepcionalmente, a jurisprudência admite a aplicação da teoria subjetiva da responsabilidade,
em caso de omissão. Mas isso será estudado mais adiante.
Obs: Ultimamente, a jurisprudência vem afastando a teoria subjetiva mesmo em caso de omissão
administrativa. Mas a jurisprudência ainda não mudou.
Ex. motorista da autarquia, dirigindo em seu trabalho, atropela uma pessoa. A vítima quer receber
indenização. Mas a autarquia não tem dinheiro para pagar. Nesse caso, pode-se chamar a
Administração Direta à responsabilidade? Se a autarquia presta serviço público (atividade do Estado),
essa atividade delegada pelo Estado não pode ser afastada da sua responsabilidade.
Então, mesmo decidindo descentralizar esse serviço, o Estado continua sendo responsável por
ele.
Mas, como a autarquia possui personalidade própria, o Estado vai responder em segundo plano.
O Estado responde de forma subsidiária à autarquia. Então, primeiramente, quem deve arcar com a
indenização é a autarquia. Em segundo plano, o Estado pode ser chamado à responsabilidade.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 36
Pergunta de Concurso: O Estado responde objetivamente por ato de autarquias. (Verdadeira)
A responsabilidade do Estado possui dois parâmetros. Quanto ao elemento culpa, o Estado tem
responsabilidade objetiva (em regra). A responsabilidade não é subjetiva. Já, no que diz respeito ao
elemento de preferência, o Estado, em regra, tem responsabilidade subsidiária (não é solidária). Mas,
nada impede que a responsabilidade possa ser objetiva e subsidiária.
Estes bens são bens de pessoa pública. Então, eles são tratados como bens públicos. O bem
público possui um regime próprio, com as seguintes peculiaridades:
1. Os Bens públicos são, em regra, inalienáveis, o que significa que não se pode alienar de qualquer
modo. Essa inalienabilidade não é absoluta, ou seja, são relativamente inalienáveis, de modo que, em
algumas circunstâncias é possível alienar os bens.
Se eles são inalienáveis de forma relativa, alguns autores dizem que eles são alienáveis de forma
condicionada. As condições para alienação estão previstas no art.17, da Lei 8.666/93.
Art. 17, Lei 8.666/93 - A alienação de bens da Administração Pública, subordinada à existência de
interesse público devidamente justificado, será precedida de avaliação e obedecerá às seguintes
normas: (...)
2. Os bens públicos são, também, impenhoráveis, ou seja, não podem ser objeto de penhora, nem
arresto, tampouco sequestro.
Penhora é a restrição de patrimônio, que ocorre em uma execução (a penhora garante o
cumprimento da obrigação).
Arresto e sequestro são cautelares típicas, que servem para proteger uma futura penhora. Elas
valem para o caso em que o credor possui um crédito para receber, mas o título ainda não é exequível
(pois ele ainda não venceu) e o devedor está acabando com o seu patrimônio. Então, o credor se vale
dessas medidas preventivas para proteger o seu patrimônio e a futura execução.
A cautelar de arresto serve para bens indeterminados, enquanto a cautelar de sequestro serve
para bens determinados.
Se o bem público não pode ser penhorado, não há utilidade em se fazer cautelar de arresto ou
sequestro para proteger a penhora. Então, essas cautelares ficam prejudicadas.
3. Os bens públicos não podem sofrer oneração, ou seja, não podem ser objeto de direito real de
garantia. Bem público não pode ser objeto de penhor, hipoteca, ou anticrese.
Penhor é direito real de garantia, que não se confunde com hipoteca. O penhor ou a hipoteca não
acontecem em ação judicial. Enquanto a penhora acontece em juízo, o penhor acontece fora da ação
judicial.
O penhor é direito real de garantia sobre bens móveis (ex. Penhor de joias da CEF). Já a hipoteca
é direito real de garantia sobre bens imóveis. A anticrese, por seu turno, é um direito real de garantia em
que o credor explora o patrimônio do devedor e, com o produto da exploração, salda-se a dívida. É um
instituto em desuso no Brasil.
4. Os bens públicos são imprescritíveis, ou seja, não podem ser objeto de prescrição aquisitiva
(usucapião).
Autarquia paga seus débitos judiciais por meio do regime de precatórios, previsto no art.100, da
CF. O regime de precatórios é uma fila para pagamentos, que se constitui de acordo com a ordem
cronológica de apresentação dos precatórios. O problema é que, normalmente, o Estado não tem
dinheiro para pagar e a CF diz que se não há disponibilidade orçamentária, não há necessidade de se
pagar.
Cada autarquia tem sua fila própria de precatórios (cada pessoa jurídica possui a sua fila).
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 37
2.6) Prescrição:
A prescrição nas ações contra as autarquias é de 5 anos (é a regra geral, do Dec. 20.910/32).
Art. 1º, Decreto 20.910/32 - As Dividas Passivas Da União, Dos Estados E Dos Municípios, Bem Assim
Todo E Qualquer Direito Ou Ação Contra A Fazenda Federal, Estadual Ou Municipal, Seja Qual For A
Sua Natureza, Prescrevem Em Cinco Anos Contados Da Data Do Ato Ou Fato Do Qual Se Originarem.
Obs: Existia divergência doutrinária sobre o prazo prescricional em caso de reparação civil (alguns
falavam em 3 anos e outros falavam em 5 anos). A posição que prevalece hoje na jurisprudência é que
o prazo continua sendo de 5 anos, mesmo em caso de reparação civil. (STF e STJ).
As autarquias estão sujeitas à contabilidade pública (Lei 4.320/64) e à LRF (LC 101/00).
A autarquia possui tratamento de Fazenda Pública no Processo, tendo prazo dilatado e direito a
reexame necessário.
No que diz respeito ao prazo, o art.188, do CPC diz que a autarquia tem prazo em quádruplo na
contestação e prazo em dobro no recurso. Atenção! O Cespe adora fazer a inversão desse prazo.
Art. 188, CPC - Computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer quando a
parte for a Fazenda Pública ou o Ministério Público.
Com relação ao reexame necessário, o art.475, do CPC diz que, independentemente de recurso
voluntário (recurso das partes), o processos é levado ao Tribunal.
Art. 475, CPC - Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal, a sentença: (Redação dada pela Lei nº 10.352, de 2001)
I – proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e as respectivas autarquias e
fundações de direito público.
O art.150, VI, “a”, CF traz a imunidade recíproca, estabelecendo que um ente não pode instituir
imposto para outro ente político. A imunidade recíproca é somente para os IMPOSTOS (ou seja, pode-
se cobrar normalmente taxas e contribuições).
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 38
Segundo o art.150, §2º, CF, a imunidade recíproca é estendida às autarquias. Mas, ATENÇÃO!! A
imunidade recíproca só se aplica às autarquias no que diz respeito às suas finalidades específicas.
Então, em alguns casos, a autarquia pode pagar imposto sim.
Art. 150, CF - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(..)
VI - instituir impostos sobre:
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
(...)
§ 2º - A vedação do inciso VI, "a", é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo
Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades
essenciais ou às delas decorrentes.
Se a autarquia é pessoa jurídica de direito público, quem trabalha nessa autarquia é servidor
público. Tudo o que se estuda para servidor público serve para os servidores da autarquia.
O servidor público no Brasil, hoje, está sujeito a regime jurídico único. Isso foi decidido na ADIn
2.135. Então, só é possível um regime: ou todos serão estatutários ou todos celetistas na autarquia.
3) Exemplos de autarquia:
Autarquia territorial nada mais é do que um território. Hoje, não há territórios no Brasil. Mas eles
podem vir a existir, caso sejam criados. Mas, quando havia território no Brasil, era necessário que ele
tivesse uma natureza jurídica. Precisava, também, que tivesse um regime público (o que ocorre com os
entes políticos e com as autarquias). Porém, o território não é ente político, nem poderia ter a autonomia
de ente político. Então, ficou estabelecido que o território era uma autarquia.
O problema é que a autarquia é uma entidade administrativa que presta serviço público, não tendo
a ver com o território (que se parece mais com um ente político).
Esse assunto ganhará mais cuidado quando for criado um território no Brasil.
Eles surgiram no Brasil com natureza de autarquia. São as autarquias profissionais. Em 1998, a
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 39
Lei 9.649/98 deu aos conselhos de classe natureza jurídica de direito privado.
Ocorre que o conselho de classe exerce poder de polícia (fiscaliza atividades profissionais, cassa
carteiras, etc). Então, começou-se a questionar sobre exercício de poder de polícia por um particular.
A matéria foi levada ao STF, na ADI 1717. O STF entendeu que, pelo fato de o conselho de classe
exercer poder de polícia, ele não poderia ser uma pessoa privada (também em nome da segurança
jurídica).
Então, o STF declarou a lei 9.694/98 inconstitucional, restabelecendo a natureza jurídica de
autarquia dos Conselhos de Classe.
Atenção! O conselho de classe tem natureza de autarquia. Então, a sua anuidade é uma
contribuição parafiscal (é tributo). Não paga, a contribuição pode ser executada (execução fiscal). Por
conseguinte, as contas dos conselhos de classe são públicas (seguem procedimentos financeiros
públicos), sendo sujeitas à fiscalização do Tribunal de Contas.
Exemplos: CREA, CRM, CRO.
Em regra, o conselho de classe está sujeito a concurso público.
Obs: OAB → Na verdade, a OAB é uma história à parte com relação aos conselhos de classe.
A OAB, por previsão do seu estatuto, não tem anuidade com natureza de tributo (STF e STJ já
confirmaram a legalidade dessa previsão). Então, o não pagamento dessa anuidade não gera execução
fiscal, mas somente execução comum (execução contra devedor solvente). A contabilidade da OAB
também não é pública, não se submetendo a regime público nem fiscalização / controle pelo tribunal de
contas.
Pelo Estatuto da OAB, o quadro de pessoal da OAB é celetista.
Contudo, o PGR entendeu que o quadro de pessoal até poderia ser celetista, mas que seu
ingresso deveria ser por concurso público. Por isso, ajuizou a ADIN 3.026, com o objetivo de o STF dar
uma interpretação conforme do art.79, do EOAB (para reconhecer a exigência de concurso público).
Ocorre que o STF, ao invés de decidir no sentido pedido pelo PGR, disse que não procedia a
alegação de que a OAB se sujeitaria aos ditames impostos à administração pública direta/indireta.
Segundo o STF, a OAB não é uma entidade da adm. indireta. É um serviço público independente,
CATEGORIA ÍMPAR nas personalidades jurídicas existentes. Então, não está sujeita à controle da
administração, nem é vinculada a qualquer das suas partes. As características da OAB são autonomia e
independência. A OAB não está voltada exclusivamente a finalidades corporativas, mas sim tem função
institucional. E, por fim, a OAB não precisa fazer concurso público.
EMENTA ADI 3.026: ADI. § 1º DO ARTIGO 79 DA LEI N. 8.906, 2ª PARTE. "SERVIDORES" DA ORDEM
DOS ADVOGADOS DO BRASIL. PRECEITO QUE POSSIBILITA A OPÇÃO PELO REGIME CELESTISTA.
COMPENSAÇÃO PELA ESCOLHA DO REGIME JURÍDICO NO MOMENTO DA APOSENTADORIA.
INDENIZAÇÃO. IMPOSIÇÃO DOS DITAMES INERENTES À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E
INDIRETA. CONCURSO PÚBLICO (ART. 37, II DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL). INEXIGÊNCIA DE
CONCURSO PÚBLICO PARA A ADMISSÃO DOS CONTRATADOS PELA OAB. AUTARQUIAS ESPECIAIS
E AGÊNCIAS. CARÁTER JURÍDICO DA OAB. ENTIDADE PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO
INDEPENDENTE. CATEGORIA ÍMPAR NO ELENCO DAS PERSONALIDADES JURÍDICAS EXISTENTES
NO DIREITO BRASILEIRO. AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA DA ENTIDADE. PRINCÍPIO DA
MORALIDADE. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 37, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. NÃO
OCORRÊNCIA. 1. A Lei n. 8.906, artigo 79, § 1º, possibilitou aos "servidores" da OAB, cujo regime outrora era
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 40
estatutário, a opção pelo regime celetista. Compensação pela escolha: indenização a ser paga à época da
aposentadoria. 2. Não procede a alegação de que a OAB sujeita-se aos ditames impostos à Administração Pública
Direta e Indireta. 3. A OAB não é uma entidade da Administração Indireta da União. A Ordem é um serviço público
independente, categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro. 4. A OAB não
está incluída na categoria na qual se inserem essas que se tem referido como "autarquias especiais" para pretender-
se afirmar equivocada independência das hoje chamadas "agências". 5. Por não consubstanciar uma entidade da
Administração Indireta, a OAB não está sujeita a controle da Administração, nem a qualquer das suas partes está
vinculada. Essa não-vinculação é formal e materialmente necessária. 6. A OAB ocupa-se de atividades atinentes aos
advogados, que exercem função constitucionalmente privilegiada, na medida em que são indispensáveis à
administração da Justiça [artigo 133 da CB/88]. É entidade cuja finalidade é afeita a atribuições, interesses e
seleção de advogados. Não há ordem de relação ou dependência entre a OAB e qualquer órgão público. 7. A Ordem
dos Advogados do Brasil, cujas características são autonomia e independência, não pode ser tida como congênere
dos demais órgãos de fiscalização profissional. A OAB não está voltada exclusivamente a finalidades corporativas.
Possui finalidade institucional. 8. Embora decorra de determinação legal, o regime estatutário imposto aos
empregados da OAB não é compatível com a entidade, que é autônoma e independente. 9. Improcede o pedido do
requerente no sentido de que se dê interpretação conforme o artigo 37, inciso II, da Constituição do Brasil ao caput
do artigo 79 da Lei n. 8.906, que determina a aplicação do regime trabalhista aos servidores da OAB. 10. Incabível
a exigência de concurso público para admissão dos contratados sob o regime trabalhista pela OAB. 11. Princípio da
moralidade. Ética da legalidade e moralidade. Confinamento do princípio da moralidade ao âmbito da ética da
legalidade, que não pode ser ultrapassada, sob pena de dissolução do próprio sistema. Desvio de poder ou de
finalidade. 12. Julgo improcedente o pedido.
Ao se referir à OAB como “pessoa jurídica ímpar”, o STF não esclareceu se o regime é público ou
privado. Então, a decisão do STF não esclarece o regime jurídico da OAB, levando a inúmeros
problemas.
Na prática, hoje, a OAB tem regras dos dois regimes, percebendo-se que ela não tem as
obrigações de pessoa pública, embora goze dos benefícios dessas pessoas.
Foram ajuizados pelos demais conselhos de classe dois Mandados de Segurança no STF – um
que a liminar foi concedida (dizendo que não precisa fazer concurso) e outro com liminar negando
(dizendo que não tem que fazer concurso). De qualquer modo, prevalece que os conselhos de classe
têm que fazer concurso. Mas a OAB fica fora dessa exigência.
Em síntese, o regime jurídico da OAB possui as seguintes características: sua anuidade não é tributária,
não cabe execução fiscal de suas anuidades, o TC não controle, a contabilidade não é pública, não
precisa fazer concurso público; possui finalidade institucional, mas continua tendo privilégios de pessoa
pública.
O termo “autarquia especial” foi utilizado inicialmente para falar de universidades públicas.
O que é tratamento especial nas universidades públicas? Para as universidades, a especialidade
vinha das seguintes características: escolha dos dirigentes (reitor, que é feita por eleição*), e ela tem
mais liberdade/ mais autonomia, no que diz respeito à grade curricular e à distribuição pedagógica das
disciplinas.
* Como é feita a escolha dos dirigentes da administração indireta? Normalmente, o chefe do executivo é
quem nomeia o dirigente da indireta. Mas, se a entidade da administração indireta for uma universidade
pública, o reitor é escolhido por eleição. Então, o regime é especial (é diferente do padrão normal).
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 41
Além das universidades públicas, existem as agências reguladoras como autarquias de regime
especial.
A partir de 1995, o governo brasileiro instituiu a ideia de que precisava enxugar a máquina pública.
Para isso, surgiu a Política Nacional das Privatizações ou Desestatizações e foram privatizadas
atividades antes prestadas pelo Estado. Algumas empresas foram vendidas e alguns serviços foram
transferidos para a iniciativa privada.
Então, foi necessário estabelecer uma forma de controle dessas atividades que agora seriam
prestadas pelo setor privado. Assim, foram criadas as agências reguladoras.
A ideia de controle pelo Estado não é novidade, pois o Estado já fazia o controle, embora
pessoalmente (por si próprio). A novidade foi o nome “agência”, que foi copiado do modelo norte-
americano e trazido para o Brasil. A ideia de copiar o nome americano buscou dar credibilidade ao
sistema brasileiro.
O regime jurídico (regras gerais) das autarquias vale para as agências reguladoras. Mas existem
algumas regras específicas, quais sejam:
1. Função Desenvolvida pela agência – Ela tem a função de normatizar, regular, controlar, fiscalizar
diversas atividades. Mas, ATENÇÃO! A função normativa da agência reguladora é COMPLEMENTAR À
LEI. Ela define normas técnicas complementares à lei. Em razão desta função diferenciada a doutrina
defende que ela possui mais liberdade e autonomia que as demais autarquias. Mas, cuidado!! A agência
reguladora não legisla!!!
2. Nomeação ou investidura especial dos dirigentes – Isso diz respeito à nomeação, que depende da
prévia aprovação do Senado Federal. O Senado vai aprovar e o presidente nomeia. Então, o presidente
não nomeia de forma totalmente livre como na regra geral. Esse tipo de investidura é chamado de
“investidura especial”.
3. O dirigente possui mandato de prazo fixo – O presidente não nomeia de forma livre (depende da
prévia aprovação do Senado) e, além disso, o dirigente da agência também não é exonerado pelo
Presidente de forma livre. O dirigente tem mandato fixo, conforme a lei de cada agência estabeleça.
Existe um projeto de lei para que esse prazo seja unificado em 4 anos (não coincidentes com o
mandato do Presidente da República – o dirigente ficaria um ano depois do fim do mandato do
presidente). Sendo o mandato de prazo fixo, o dirigente da agência só vai sair antes do prazo se houver
condenação ou renúncia.
Ex. episódio da ANAC (a dirigente renunciou).
Atenção! Encerrado o mandato, há um prazo de quarentena, em que o dirigente da agência
reguladora fica afastado da iniciativa privada naquele ramo de atividade. A quarentena é por um prazo
de 4 meses, salvo no caso de algumas agências, em que o prazo é de 12 meses. Mas, a pessoa
continua recebendo normalmente. Isso é porque o dirigente da agência possui muitas informações
privilegiadas, que não podem vazar para o setor privado.
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AULA 07 – 16/03/12
4. Regime jurídico: Em regra, o regime jurídico da agência reguladora é o mesmo das autarquias. Mas
duas regras merecem atenção especial. São elas:
4-a. Licitação:
Todo o problema começou na lei 9.986/00 (Norma Geral das Agências Reguladoras), que disse
que o pessoal das agências seria de contrato temporário, com regime celetista.
Essa regra foi levada ao STF, na ADI 2.310. O STF julgou, em sede de cautelar, que esses
trabalhadores não poderiam ser temporários, pois as agências implicavam numa necessidade
permanente de funcionários, de modo que o contrato também deveria ser permanente. O STF disse,
ainda, que o regime não poderia ser celetista. Deveria haver cargo, com regime estatutário. Quando a
atividade demanda uma grande qualificação e preparo, que não possa ser substituída com facilidade, a
ideia é que o regime seja de cargos, pois o cargo é mais seguro, conferindo uma maior estabilidade ao
trabalhador.
A partir disso, quando essa ação ainda estava tramitando, o Presidente da República editou uma
MP (MP 155/03, convertida na Lei 10.871/04), alterando a lei 9.986/00 e criando muitos cargos (quase 5
mil cargos foram criados). Quando essa lei foi aprovada, a ADI 2.310 foi extinta sem julgamento de
mérito, por perda de objeto.
Ocorre que, quando essa ADI foi extinta, aqueles contratos temporários que o STF tinha proibido
foram prorrogados, apesar de o STF já ter declarado a sua inconstitucionalidade. E durante todos esses
anos, esses contratos temporários estão sendo prorrogados, tem-se editado MPs e feito novas
prorrogações. Vários cargos foram criados e concursos realizados, mas esse número é insuficiente.
CUIDADO!! Qual deve ser o regime de pessoal da agência reguladora? O regime deve ser o
regime estatutário, com cargo público.
Controlando e fiscalizando serviços públicos – ANATEL, ANEEL, ANVISA, ANS, ANTT, ANTAQ,
ANAC.
Controlando o monopólio do Petróleo – ANP;
Controlando e fiscalizando bem público – ANA (Agência Nacional das Águas);
Controlando o fomento – ANCINE (Agência nacional do Cinema – foi criada por MP e até hoje não foi
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 43
convertida em lei).
CUIDADO!! Nem tudo que tem nome de “agência” é agência reguladora. E tem uma agência que não
tem nome “agência”. Para saber especificamente, deve-se olhar a lei que regula a entidade. Exemplos:
É AGÊNCIA REGULADORA:
CVM – Comissão de Valores Mobiliários. Apesar do nome, ELA É AGÊNCIA REGULADORA!
Na administração pública, as agências executivas foram criadas pela Lei 9.649/98, nada mais
sendo do que uma velha autarquia/fundação pública que estão ineficientes ou sucateadas.
A agência executiva é uma autarquia que busca uma eficiência, elaborando um plano estratégico
de reestruturação, modernização. Ela solicita à administração direta receita e liberdade para ser mais
eficiente e, então, celebra com a administração direta um contrato de gestão, ganhando mais
autonomia, mais liberdade e recurso público, com propósito de ser mais eficiente.
O problema do contrato de gestão é que ele dá mais autonomia e liberdade a quem já tinha a
obrigação de ser mais eficiente. Então, acaba-se premiando um ente incompetente. Outro problema é
que o contrato de gestão dá mais liberdade à autarquia do que a lei (o que é um absurdo).
Por essas razões, as agências executivas são muito criticadas pela doutrina.
LEMBRAR! O contrato de gestão e o status de agência executiva são temporários, somente
valendo enquanto o contrato de gestão estiver em andamento. Resolvido o contrato de gestão, a
agência executiva volta a ser autarquia. A desqualificação de uma agência executiva como tal será
efetivada via Decreto, não levando à extinção da pessoa jurídica, mas somente despindo do qualitativo
de agência executiva.
Ex. de agência executiva: INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 44
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 45
EMPRESAS ESTATAIS
As empresas públicas e sociedades de economia mista são empresas estatais, ou seja, aquelas
nas quais o estado participa.
Mas, atenção! Nem toda empresa estatal é sociedade de economia mista ou empresa pública.
São as empresas estatais as que seguem um regime próprio, que serão empresa pública ou sociedade
de economia mista.
1) Empresa Pública:
É pessoa jurídica de direito privado (o nome empresa pública está ligada ao capital público), que
segue um regime jurídico híbrido ou misto, ou seja, com parte de regras privadas e parte de regras de
direito público. Possui um capital EXCLUSIVAMENTE PÚBLICO, que pode ser de mais de um ente
público (adm. direta ou indireta).
A empresa pública pode ter duas finalidades: ser prestadora de serviço público ou ser exploradora
de atividades econômicas.
Pode ser constituída de qualquer modalidade empresarial (S/A, sociedade limitada, etc).
A sociedade de economia mista também é pessoa jurídica de direito privado, com regime jurídico
misto ou híbrido.
Ela possui capital misto, ou seja, público e privado. Mas, apesar de o capital ser misto, o comando
da sociedade de economia mista está nas mãos do poder público: a maioria do capital que dá direito a
voto na sociedade deve pertencer ao poder público.
A sociedade de economia mista também possui duas finalidades, podendo ser prestadora de
serviços públicos ou exploradora de atividades econômicas.
A sociedade de economia mista só pode ser constituída sob forma de S/A.
3) Competência para julgamento das ações das empresas públicas e das sociedades de
economia mista:
As ações que julgam empresa pública federal são da competência da justiça federal (art.109, I,
CF). Por seu turno, as ações que julgam as sociedades de economia mista federal são de competência
da Justiça Estadual.
Essa diferença decorre do art.109, CF, que estabelece a competência da justiça federal,
mencionando as empresas públicas federais. Mas a sociedade de economia mista federal não está no
art.109, CF, o que permite a conclusão de que a competência, nesse caso, é da justiça estadual.
Mas, CUIDADO! Se nesta ação em que a sociedade de economia mista é parte, a União tiver
interesse, o processo será processado e julgado na justiça federal. Nessa ideia, duas súmulas
importantes devem ser estudadas:
Súmula 517, STF - As sociedades de economia mista só tem foro na justiça federal, quando a união
intervém como assistente ou opoente.
Súmula 556, STF - É competente a justiça comum para julgar as causas em que é parte sociedade de
economia mista.
Mas essa diferença, no que diz respeito à competência, só ocorrerá para as empresas federais.
Se a empresa pública ou sociedade de economia mista forem estaduais ou municipais, a competência
será da justiça comum estadual.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 46
Elas podem prestar serviço público ou explorar atividades econômicas. Por conta disso, elas
possuem regime jurídico misto.
Mas, é importante diferenciar que: Se a EP ou SEM presta serviço público, haverá, com relação ao
seu regime jurídico, relevância para as regras de direito público; Se a EP ou SEM explora atividades
econômicas, haverá relevância maior para as regras de direito privado.
Obs: art.173, CF - Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade
econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou
a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.
A segurança nacional e o interesse coletivo são razões de interesse público. Então, o Estado só
intervirá na atividade econômica através da EP ou SEM se for em razão de interesse público
(segurança nacional e interesse coletivo).
Pergunta de Concurso: “A empresa pública, na sua atividade fim, não precisa licitar”. (V)
Em regra, a empresa pública e a sociedade de economia mista têm que licitar. O art.37, XXI, CF
diz que as EP e SEM que prestam serviços públicos devem licitar, assim como o art.1º, da Lei 8.666/93.
art. 37, XXI, CF - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e
alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de
condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento,
mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências
de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.
Art. 1º, Lei 8.666/93 - Esta Lei estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos
pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei, além dos órgãos da administração direta, os
fundos especiais, as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de
economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito
Federal e Municípios.
Com relação às exploradoras de atividades econômicas, o art.173, da CF, no seu §1º, III, CF diz
que as EP/SEM poderão ter estatuto próprio, previsto em lei específica. Ocorre que essa lei específica
ainda não foi editada. Assim, essas entidades seguem a regra geral, do art.1º, da Lei 8.666/93, que
exige a licitação.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 47
Art.173, §1º, CF - A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia
mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de
bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: (Redação pela EC 19/98)
(...)
III - licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os princípios da
administração pública;
Na prática, essas empresas quase não licitam. Por obedecerem à Lei 8.666/93, elas se valem de
muitos casos de dispensa e inexigibilidade de licitação.
Ex. de dispensa de licitação – art.24, p.ú., I e II, Lei 8.666/93. Em regra, a dispensa para obras e
serviços de engenharia é para contratos de até R$15.000,00; para serviços alheios ao de engenharia é
para contratos de até R$8.000,00. Mas, atenção! A empresa pública e a sociedade de economia mista
possuem uma dispensa de licitação especial, em valor de 20% do convite. Ou seja, para obras e
serviços de engenharia, a dispensa é de até R$30.000,00; para serviços alheios ao de engenharia é de
até R$16.000,00. (Para elas, o limite é dobrado).
Ex. de inexigibilidade de licitação – art.25, Lei 8.666/93. O rol desse artigo é exemplificativo. Segundo
ele, em caso de inviabilidade de competição, haverá inexigibilidade de licitação. A competição será
inviável quando prejudicar o interesse público, como, por exemplo, empresa pública ou sociedade de
economia mista prestadora de serviço público, em que a licitação prejudicar o interesse público. Então,
essa competição será inviável. Se e EP/SEM exploram atividades econômicas, deverão ser
preservadas a segurança nacional e o interesse coletivo. Então, a licitação não pode prejudicar esses
interesses, podendo este, também, ser caso de inexigibilidade de licitação.
Então, a licitação será inexigível quando ela prejudicar a atividade-fim da empresa, caso em que a
competição será inviável (porque prejudica o interesse público).
A EP/SEM estão sujeitas ao art.37, §6º, CF? Essa análise deve ser feita conforme a finalidade da
entidade:
Art.37, §6º, CF - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços
públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
Empresa Pública Sociedade de Economia Mista exploradoras de atividades econômicas – aqui será
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 48
aplicado o direito civil, com a regra da responsabilidade subjetiva. Então, nesse caso, o Estado
(adm.direta) não responde (nem subsidiária, nem solidária, nem de nenhum modo), conforme entende
maioria da doutrina.
Esses bens seguem o regime dos bens públicos? Em regra, os bens dessas entidades são
privados (podem ser onerados, penhorados, alienados).
Mas, cuidado! A doutrina majoritária diz que esses bens são privados, salvo se estiverem
DIRETAMENTE afetados à prestação de serviços públicos. O fundamento é o princípio da continuidade
do serviço público (aqueles bens que, se retirados do serviço, comprometerão a própria existência e
prestação do serviço). Por isso, só seriam bens públicos aqueles que estivessem DIRETAMENTE
afetados ao serviço público.
Ela tem natureza de empresa pública, mas presta um serviço postal com exclusividade. Em razão
disso, ela ganhou tratamento de Fazenda Pública, muito semelhante ao tratamento das autarquias. Essa
exclusividade da ECT foi reconhecida pelo STF, na ADPF nº 46.
Por ter tratamento de Fazenda Pública, a ECT possui um regime diferenciado, o que significa que
OS BENS DA ECT SÃO PÚBLICOS e, portanto, impenhoráveis, não importando se esses bens estejam
ou não ligados ao serviço (atividade fim) da empresa.
ATENÇÃO!! Além disso, os débitos judiciais da ECT estão sujeitos ao regime de precatórios. (mesmo
ela sendo empresa pública).
As ECTs possuem, também, imunidade tributária recíproca.
E a dispensa dos seus empregados deve ser motivada (diferentemente das demais empresas
públicas).
2. A atividade econômica em sentido amplo é gênero que compreende duas espécies, o serviço público e a
atividade econômica em sentido estrito. Monopólio é de atividade econômica em sentido estrito, empreendida por
agentes econômicos privados. A exclusividade da prestação dos serviços públicos é expressão de uma situação de
privilégio. Monopólio e privilégio são distintos entre si; não se os deve confundir no âmbito da linguagem jurídica,
qual ocorre no vocabulário vulgar. 3. A CF confere à União, em caráter exclusivo, a exploração do serviço postal e
o correio aéreo nacional [artigo 20, inciso X]. 4. O serviço postal é prestado pela Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos - ECT, empresa pública, entidade da Administração Indireta da União, criada pelo decreto-lei n. 509, de
10 de março de 1.969. 5. É imprescindível distinguirmos o regime de privilégio, que diz com a prestação dos
serviços públicos, do regime de monopólio sob o qual, algumas vezes, a exploração de atividade econômica em
sentido estrito é empreendida pelo Estado. 6. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos deve atuar em regime
de exclusividade na prestação dos serviços que lhe incumbem em situação de privilégio, o privilégio postal. 7. Os
regimes jurídicos sob os quais em regra são prestados os serviços públicos importam em que essa atividade seja
desenvolvida sob privilégio, inclusive, em regra, o da exclusividade. 8. Argüição de descumprimento de preceito
fundamental julgada improcedente por maioria. O Tribunal deu interpretação conforme à Constituição ao artigo 42
da Lei n. 6.538 para restringir a sua aplicação às atividades postais descritas no artigo 9º desse ato normativo.
Obs: Exclusividade x Monopólio: Segundo o STF, “monopólio” é para atividade econômica, enquanto
“exclusividade” é para serviço público.
Se elas prestarem serviços de forma exclusiva, com EXCLUSIVIDADE, elas ganham, segundo o
STF, imunidade tributária recíproca (ou seja, imunidade para os impostos).
Se a EP/SEM presta serviço público, mas não de forma exclusiva, deve ser observado o art.150,
§3º, CF, que diz que se essa pessoa presta serviço e repassa o encargo do tributo ao usuário, ela não
tem privilégio tributário.
Art. 150, CF - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(…)
VI - instituir impostos sobre:
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
(…)
§ 3º - As vedações do inciso VI, "a", e do parágrafo anterior não se aplicam ao patrimônio, à renda e
aos serviços, relacionados com exploração de atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a
empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo
usuário, nem exonera o promitente comprador da obrigação de pagar imposto relativamente ao bem
imóvel.
Segundo o art.173, §2º, CF, a entidade não tem privilégios não extensíveis à iniciativa privada
(então, ela tem os privilégios extensíveis). Ou seja, se a iniciativa privada tiver o privilégio, a entidade
também terá.
Art.173, §2º, CF - As empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão gozar de
privilégios fiscais não extensivos às do setor privado.
Esse pessoal não é servidor público. Ele é chamado de “servidor de ente governamental de direito
privado”. O pessoal dessas empresas é “empregado”, sujeito ao regime celetista.
Contudo, embora não seja servidor público, esse pessoal terá tratamento de servidor em algumas
circunstâncias (tratamento equiparado).
Hipóteses em que o pessoal das Empresas Público e Soc. de Ec. Mista se equipara aos
servidores públicos:
(1) Para fins de concurso público;
(2) Para fins de regime de acumulação – No Brasil, em regra, não é possível acumular cargos públicos.
Excepcionalmente, a CF autoriza. Então, esses empregados também são englobados na proibição,
sendo permitidos somente nas hipóteses previstas na CF.
(3) Sujeitos ao teto remuneratório, salvo quando não receberem dinheiro para custeio (Quando a
administração direta não repassa dinheiro para a sua manutenção, isto é, quando empresa vive na
sua própria receita, não precisando de dinheiro advindo da administração direta para a sua
manutenção, não precisa respeitar o teto de remuneração).
(4) Os seus empregados se equiparam para fins penais.
(5) Seus funcionários estão sujeitos à improbidade administrativa (Lei 8.429/92).
(6) Seus empregados estão sujeitos a remédios constitucionais (MS, HD, MI).
CUIDADO!! Hipóteses em que o pessoal das Empresas Público e Soc. de Ec. Mista são SÃO
DIFERENTES dos servidores públicos:
Segundo a Súmula 390, TST, os empregados das empresas públicas e das sociedades de
economia mista não têm a estabilidade do art.41, da CF.
Consequentemente, o TST editou uma OJ-247, dizendo que se esse empregado não tem a
estabilidade do art.41, CF, eles podem sofrer dispensa IMOTIVADA.
Cuidado!!! A OJ-247 traz uma RESSALVA, mencionando o caso da ECT.
No que diz respeito à ECT, o STF declarou a matéria de repercussão geral, mas ainda não julgou
o mérito. Vale a pena olhar esse julgamento (RE 589.998).
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 51
EMENTA RE 589.998: DIREITO DO TRABALHO. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E
TELÉGRAFOS - ECT. DISPENSA IMOTIVADA DE SEUS EMPREGADOS. IMPOSSIBILIDADE. ITEM II DA
ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL 247 DA SBDI-1 DO TST. AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÕES
SUFICIENTES PARA A RECUSA DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. O Tribunal, por ausência de
manifestações suficientes para a recusa do RE (art. 324, parágrafo único, do RISTF), reputou existente a
repercussão geral da questão constitucional suscitada.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 52
Eles estão dentro da administração, previstos na Lei 11.107/05. Eles se constituem com a reunião
de entes políticos para uma finalidade comum, que celebram um contrato de consórcio. Deste contrato
de consórcio, nasce uma nova pessoa jurídica, que é chamada de “associação”, que pode ser de direito
público ou de direito privado.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 53
ENTES DE COOPERAÇÃO
1) Introdução:
Esses entes compõem o terceiro Setor. São organizações não governamentais, entes que
cooperam com o Estado, ou também chamados de paraestatais.
Os entes de cooperação são pessoas jurídicas de direito privado que, de alguma maneira,
desenvolvem atividade de interesse público. Esses entes são os serviços sociais autônomos, as
organizações de sociedade civil de interesse público, as organizações sociais.
Esses são os entes do Sistema “S” (Sesp, Sebrae, Senai, Senac). Esse sistema serve para
fomentar, incentivar e apoiar as diversas categorias profissionais.
O sistema “S” não presta serviço público propriamente dito, embora desenvolva uma atividade de
interesse público.
O Serviço Social Autônomo tem uma característica importante no que diz respeito à sua
remuneração: ele pode receber dotação orçamentária, e, ainda, pode ser beneficiário da
parafiscalidade.
Art. 1º, Lei 8.666/93 - Esta Lei estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos
pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos
Poderes da União, Estados, do DF Federal e dos Municípios.
Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei, além dos órgãos da adm.direta, os fundos
especiais, as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia
mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela U, E, M, DF.
Mas, atenção!! Apesar de estar sujeito à lei de licitação, o SSA está sujeito a um procedimento
simplificado de licitação.
Os empregados desses entes são privados.
Esses entes não gozam de privilégios tributários, tampouco processuais.
Cuidado! Para celebrar um termo de parceria, a pessoa jurídica deve existir naquele ramo de atividade
há, pelo menos, 1 ano. No termo de parceria, não há a interferência na administração nem na gestão de
administradores públicos (há recurso público, mas não há verba orçamentária – então, não há
administração do poder público).
4) Organização Social:
As organizações sociais foram definidas pela lei 9.637/98. Elas nascem da extinção de estruturas
da administração pública.
A administração pública extingue um órgão “x” e transfere para esse órgão “x” as suas atividades
para uma OS, pessoa jurídica de direito privado.
Essa transferência ocorre por meio de contrato de gestão, em que são transferidos, além das
atividades, recursos orçamentários, servidores públicos e a utilização de bens públicos.
A organização social, para celebrar contrato de gestão, não precisa ter o requisito da
preexistência. Ela NASCE DO CONTRATO DE GESTÃO. Segundo a doutrina, essa seria uma “entidade
fantasma”, que nasce do contrato de gestão.
A OS é gerida por um conselho de administração, composto por particulares e administradores
públicos.
Além disso, a organização social tem dispensa de licitação, conforme art.24, XXIV, da Lei
8.666/93, no que diz respeito aos contratos decorrentes do contrato de gestão.
EMENTA ADI 1.923: MEDIDA CAUTELAR EM ADI N. 9.637, DE 15 DE MAIO DE 1.998. QUALIFICAÇÃO
DE ENTIDADES COMO ORGANIZAÇÕES SOCIAIS. INCISO XXIV DO ARTIGO 24 DA LEI N. 8.666/93,
COM A REDAÇÃO CONFERIDA PELA LEI N. 9.648, DE 27 DE MAIO DE 1.998. DISPENSA DE
LICITAÇÃO. ALEGAÇÃO DE AFRONTA AO DISPOSTO NOS ARTIGOS 5º; 22; 23; 37; 40; 49; 70; 71; 74, § 1º
E 2º; 129; 169, § 1º; 175, CAPUT; 194; 196; 197; 199, § 1º; 205; 206; 208, § 1º E 2º; 211, § 1º; 213; 215, CAPUT;
216; 218, §§ 1º, 2º, 3º E 5º; 225, § 1º, E 209. INDEFERIMENTO DA MEDIDA CAUTELAR EM RAZÃO DE
DESCARACTERIZAÇÃO DO PERICULUM IN MORA. 1. Organizações Sociais --- pessoas jurídicas de direito
privado, sem fins lucrativos, direcionadas ao exercício de atividades referentes a ensino, pesquisa científica,
desenvolvimento tecnológico, proteção e preservação do meio ambiente, cultura e saúde.
ENTIDADE DE APOIO
São fundações ou associações privadas que funcionam dentro das universidades públicas e
hospitais públicos, cooperando com as universidades e hospitais.
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LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 55
AULA 08 – 29/03/12
PODERES DA ADMINISTRAÇÃO
1) Introdução:
Poder-Dever
Poderes da Administração são faculdades/liberalidades do administrador ou deveres/ obrigação?
O poder é de exercício obrigatório. Não há faculdade, mas sim uma obrigação, um dever de agir por
parte do administrador. Estando presente o interesse público, o administrador tem o dever, a obrigação
de agir.
Celso Antônio Bandeira de Melo entende que o mais importante dessa expressão “poder-dever” é
o dever da Administração. Então, Celso Antônio fala que é um “dever-poder”.
Irrenunciável
Se o exercício do poder é obrigatório, pode a Administração renunciar o exercício do poder? Não.
Se se trata de um dever, o poder-dever é irrenunciável.
O administrador público exerce a chamada “função pública”, ou seja, exerce uma atividade em
nome e no interesse do povo, não podendo, também por isso, renunciar ou abrir mão do poder-dever.
Ademais, não se pode abrir mão dos poderes-deveres, pois vige para a Administração o princípio da
indisponibilidade do interesse público.
Nessa mesma linha de raciocínio, há um princípio geral do direito que diz que o administrador de
hoje não pode criar entraves ou obstáculos para a futura administração. Então, por isso, o administrador
de hoje não pode abrir mão de seus poderes-deveres, pois senão comprometeria a administração
futura.
Atenção! Quando se fala que o poder-dever é irrenunciável, isso não significa que em todo caso
deverá haver condenação do administrado. Absolvição não significa renúncia do poder administrativo. A
absolvição não compromete a ferramenta administrativa. A decisão da administração não está
relacionada com renúncia da ferramenta administrativa.
Cabe responsabilização:
No exercício do poder, se houve exagero e desrespeito dos limites por parte das autoridades,
cabe responsabilização da autoridade. Essa responsabilização pode acontecer em caso de ação ou de
omissão.
Ex. a autoridade não conteve a passeata.
Se a autoridade abusa e ultrapassa os limites da lei, ela pratica o chamado “abuso de poder”. O
abuso de poder possui duas categorias ou conceitos diferentes. Existe o abuso de poder caracterizado
no “excesso de poder”. Há, ainda, o abuso de poder na forma do “desvio de finalidade”.
O excesso de poder ocorre quando a autoridade ultrapassa os limites de sua competência. Ex.
delegado tem em suas mãos uma ordem de prisão. Mas, ao executar a prisão, o delegado agride o
preso. O delegado ultrapassou os limites de sua competência de prisão.
Ex. Blitz da polícia. A polícia pode fazer a blitz, mas não pode bater no motorista, nem submetê-lo a
constrangimento.
O excesso de poder não se confunde com o desvio de finalidade, que também é chamado por
alguns autores de desvio de poder. Desvio de finalidade é o vício ideológico ou vício subjetivo, é um
defeito na vontade. Trata-se de um vício na cabeça do administrador.
Ex. delegado possui um mandado de prisão e espera a hora do casamento da pessoa para prender o
agente. Outro exemplo é o da prisão no momento da posse no concurso.
O problema do desvio de finalidade é que ela está no plano ideológico. Então, ele tem um
conjunto probatório bastante dificultado.
Quanto ao grau de liberdade, existe o poder vinculado e o poder discricionário. Essa classificação
foi definida por Hely Lopes Meirelles.
Os doutrinadores modernos criticam essa classificação, dizendo que, na verdade, o que é
vinculado ou discricionário não é o poder, mas o ato administrativo praticado no exercício do poder. Eles
dizem, ainda, que um poder nem é plenamente vinculado, nem totalmente discricionário. Em cada poder
há elementos discricionários e vinculados.
Mas essa classificação ainda é adotada em provas.
Vinculado é aquele que não tem liberdade nem juízo de valor. Não há conveniência e
oportunidade. Preenchidos os requisitos legais, a autoridade é obrigada a praticar o ato.
Ex. de ato vinculado: tirar carteira de habilitação – licença para dirigir. Licença para construir casa.
Discricionário, por sua vez, é o ato com liberdade, com juízo de valor e com conveniência e
oportunidade. Mas, cuidado! Essa liberdade e juízo de valor são sempre nos limites da lei. Se o ato é
praticado fora dos limites da lei, ele é ilegal, arbitrário e deve ser retirado do ordenamento jurídico.
Ex. colocação de mesas de bar em uma calçada. Na permissão de uso de bem público, há um ato
discricionário, com análise de conveniência e oportunidade. Outro exemplo é a autorização de uso.
4) Poder Hierárquico:
5) Poder Disciplinar:
Obs: Magistrados e membros do MP estão sujeitos a poder disciplinar? Sim. Se eles praticarem
infração funcional, serão sim investigados e penalizados. O problema é que quem exercitava o poder
disciplinar na carreira da magistratura eram as corregedorias. Mas, com a criação do CNJ, este órgão
começou a entrar nessa seara. A situação foi levada ao STF, que, julgando a ADI 4638 (cuja decisão
ainda não foi publicada), entendeu que a competência para exercer o poder disciplinar aqui é
concorrente (Decisão por 6x5).
6) Poder Regulamentar:
Maria Sylvia fala em poder “normativo”, mas a maioria da doutrina fala em poder regulamentar.
O poder regulamentar é a ferramenta que permite que o administrador normatize discipline, e
regulamente, definindo normas complementares à lei, e buscando a sua fiel execução.
Ex. normas que regulamentam as substâncias proibidas, cujo comércio caracteriza tráfico ilícito de
entorpecentes.
A norma é complementar à lei e viabiliza a sua perfeita execução.
Ex. O administrador tem o dever de administrar. Uma das modalidades de licitação, hoje, é o pregão,
que está previsto na lei 10.520/02. A lei diz que o pregão é modalidade de licitação para aquisição de
bens e serviços comuns. O que são bens e serviços comuns? Para definir e listar quais são os bens e
serviços comuns haverá a prática de poder regulamentar, buscando a perfeita execução da lei do
pregão.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 58
Ex. de poder regulamentar – regulamento, portarias, regimentos, resoluções, deliberações, instruções
normativas.
6.1) O regulamento:
Obs: Qual a diferença entre decreto e regulamento? Alguns falam em decreto, outros em regulamento,
e outros dizem decreto regulamentar. A diferença é que, num determinado documento normatizador, na
forma há um decreto, no conteúdo, há um regulamento. O ideal é que se utilize a expressão “decreto
regulamentar”.
O problema de se utilizar simplesmente a palavra “decreto” é que, no Brasil, há decretos
regulamentares (que têm, no seu conteúdo, regulamento) e decretos que não são regulamentares (ex.
nomeação de servidores em alguns entes públicos – não possuem qualquer regulamento no seu
conteúdo).
Quanto à segurança do ato, qual ato é mais seguro? A lei ou o decreto? Qual a diferença entre a
lei e o decreto regulamentar? No Brasil, quem faz a lei é o Congresso Nacional, em que há uma ampla
representatividade. O decreto regulamentar, por sua vez, é de competência do Chefe do Executivo.
Então, quanto a quem faz, a lei possui maior representatividade. Além disso, uma lei depende de um
processo legislativo solene e rigoroso. Um decreto regulamentar, ao seu turno, é feito pelo Presidente
da República, em gabinete de portas fechadas, sem solenidade ou procedimento rigoroso. Então, no
que diz respeito à segurança, a lei é mais segura.
No direito comprado, existem dois tipos de regulamento: o regulamento executivo e o regulamento
autônomo.
O regulamento executivo é aquele complementar à previsão legal, buscando a sua fiel execução
(da lei). Então, ele depende de lei anterior, que é o seu fundamento de validade.
Ex. a CF diz que a administração pública tem que fazer licitação. Para executar essa tarefa, a lei de
licitações diz como se deve licitar. Para aplicar perfeitamente a lei, é necessário um regulamento
executivo, que complemente a previsão legal, buscando a sua fiel execução. No Brasil, a regra é a do
regulamento executivo, que decorre do artigo 84, IV, CF.
Por outro lado, o decreto regulamentar autônomo não é lei, mas exerce o papel da lei, ocupando o
lugar da lei. Ele tem seu fundamento de validade direto na Constituição Federal, e não depende de lei
anterior. Da norma constitucional vamos direto ao regulamento autônomo.
Segundo a maioria da doutrina, da jurisprudência e o STF, no Brasil, a partir da Emenda
Constitucional 32/2001 (alterou o art. 84, VI CF) é possível decreto regulamentar autônomo. Mas, isso
não pode ser regra. É possível, então, em casos excepcionais, quando houver autorização expressa da
CF. A hipótese mais aceita (entendimento da maioria) é que o decreto autônomo só é possível no caso
do art.84, VI, da CF. Esse dispositivo diz que:
Alguns autores dizem que há regulamento autônomo só nos casos da letra “a”. Mas, para a
maioria, as duas hipóteses são de decreto autônomo.
Porém, essa possibilidade de decreto autônomo é exceção e não regra, ou seja, somente
podendo existir quando estiver expressamente autorizada pela Constituição Federal.
Ex. como se cria cargo no Brasil? O cargo é criado por lei. Por paralelismo de formas, a extinção
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 59
também é por meio de lei. Mas a Constituição autorizou que se o cargo estiver vago, ele pode ser
extinto por decreto. Veja-se bem: este decreto está ocupando o lugar da lei, assumindo o papel da lei e
isso foi permitido pela Constituição. Portanto, é uma hipótese de decreto regulamentar autônomo
autorizado.
Alguns autores discutem o caso do artigo 225, CF (Criação das APAs – área de preservação
ambiental), se seria caso ou não de regulamento autônomo. Muitos autores dizem que, nessa hipótese,
o regulamento também é autônomo. Mas essa situação ainda é muito divergente. Então, no concurso, é
melhor dar o exemplo do decreto regulamentar autônomo é o do art.84, VI, CF.
Para uma minoria da doutrina (Hely Lopes Meireles) o regulamento autônomo era possível em
qualquer caso, sendo inerente à função administrativa. Celso Antônio, por outro lado, diz que o decreto
autônomo não pode nunca ser editado! Segundo ele, esse decreto é um perigo para o Brasil.
7) Poder de Polícia:
Poder de polícia é instrumento através do qual o administrador pode restringir, limitar e frear a
atuação do particular, em nome do interesse público.
No exercício do poder de polícia o administrador vai compatibilizar interesses (interesse público x
interesse privado), em busca do bem-estar social.
a) O exercício do poder de polícia atinge dois direitos – direito à liberdade e direito à propriedade.
Ex. na avenida X deve-se trafegar com velocidade max.de 200km/h.
Ex. Prédio à beira mar só pode ter até 8 andares.
O poder de polícia atinge a liberdade e a propriedade, mas ele não retira o direito! Ele vai definir a
forma/ maneira em que o particular pode exercitar esse direito. Se o poder de polícia não retira o direito,
o Estado, no exercício do poder de polícia, não tem que indenizar o particular, salvo se houver abuso no
exercício desse poder.
b) Não atinge nem age sobre a pessoa do particular, mas sim sobre os interesses, direitos e bens deste.
d) O poder de polícia pode editar atos normativos. Quando o poder público define regras sobre
comercialização de medicamentos, bebidas alcoólicas, regras sobre pesca, caça, regras sobre
divertimentos públicos, o poder público está praticando atos normativos.
Ex. filmes para maiores de 16 anos.
Atos normativos também são poder de polícia, que, por seu turno, pode também se concretiza
através de atos normativos. Assim, ato normativo é exercício de poder de polícia e, ao mesmo tempo,
ato de poder regulamentar.
e) O poder de polícia pode punir. Aliás, o poder de polícia também pode ser praticado através de atos
punitivos.
Ex. apreensão de uma mercadoria, fechamento de estabelecimento comercial, aplicação de multas.
f) Pelo exercício do poder de polícia é possível a cobrança de uma taxa, chamada de “taxa de polícia”.
Conforme artigo 78 e seguintes do CTN, é cobrada a taxa de polícia.
Art. 77, CTN - As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios,
no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de
polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao
contribuinte ou posto à sua disposição.
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Parágrafo único. A taxa não pode ter base de cálculo ou fato gerador idênticos aos que correspondam
a imposto nem ser calculada em função do capital das empresas.
Art. 78, CTN - Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou
disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato, em razão de
interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção
e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do
Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou
coletivos.
Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo
órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de
atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.
Art. 80, CTN - Para efeito de instituição e cobrança de taxas, consideram-se compreendidas no âmbito
das atribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, aquelas que, segundo a
Constituição Federal, as Constituições dos Estados, as Leis Orgânicas do Distrito Federal e dos
Municípios e a legislação com elas compatível, competem a cada uma dessas pessoas de direito
público.
Obs: Como se faz para saber se determinada situação é ou não poder de polícia? Quando se fala em
poder de polícia, este poder tem fundamento numa chamada “supremacia geral”. Supremacia geral é a
atuação do poder público que independe de vínculo jurídico anterior. A supremacia geral é diferente de
supremacia especial, pois esta é a atuação do poder público que depende de vínculo anterior. Se há
supremacia especial, isto não é poder de polícia. Exemplos para se distinguir a supremacia geral da
especial:
Ex1. Suponha-se que um aluno matriculado em uma escola pública picha as paredes da escola. O
diretor chama o aluno, aplica a pena de suspensão para ele e este fica em casa por três dias. Esse é
um caso de supremacia especial, pois o aluno estava matriculado na escola e tinha vínculo anterior.
Portanto, não é poder de polícia. Essa pena é exercício de supremacia especial, decorrendo do vínculo
anterior, ou seja, da sua matrícula da escola.
Ex2. O Estado contrata uma empresa privada para prestar serviço de merenda escolar. Ocorre que, de
um tempo pra cá, a empresa está prestando um mau serviço. O Estado aplica uma pena a esta
empresa e encerra o contrato. Isso é exemplo de supremacia especial. A penalidade decorre do
contrato.
Ex3. servidor público pratica infração funcional. Foi processado e demitido do serviço público. Isso
também é supremacia especial, pois havia um vínculo anterior (a pessoa era servidora).
Ex4. pessoa resolve fazer uma viagem e comprou muitas coisas. Ao voltar ao Brasil, por não recolher
tributos na alfândega, o sujeito é multado. Não havia vínculo de anterior, de modo que há supremacia
geral, com exercício do poder de polícia.
Ex5. fiscal aparece no supermercado e confere a embalagem dos produtos com a quantidade nos
pacotes (controle de pesos e medidas). Por verificar divergência entre a quantidade demonstrada no
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pacote a a quantidade real, é aplicada uma multa ao dono do supermercado. Isso é poder de polícia,
pois não havia vínculo anterior, havendo supremacia geral.
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AULA 09 – 13/04/12
Essa matéria já foi discutida em sede de análise sobre os conselhos de classe. Na ADI 1.717, o
STF decidiu que o conselho de classe exerce poder de polícia e que o poder de polícia nas mãos do
particular compromete a segurança jurídica.
Então, o STF entendeu que o poder de polícia não poderia ser delegado, transferido ao particular
(em nome da segurança jurídica).
Ex. máfia dos radares, em que algumas empresas ganhavam comissão pelo nº de multas aplicadas.
Esse é um exemplo de perigo do poder de polícia dado aos particulares.
Mas, cuidado se o concurso falar em “atos materiais” ou “atos instrumentais” ou “atos
preparatórios” de polícia! O ato material de execução do poder de polícia pode ser transferido ao
particular, pois, na realidade, eles não são o exercício do poder de polícia propriamente dito.
Ex. A empresa bate a foto do carro, mas a administração aplica a multa.
Ex. Estado determina uma demolição de uma obra porque ela está com risco de cair, e contrata um
particular para fazer a demolição. A determinação de demolição é o exercício do poder de polícia, mas a
demolição em si é só ato material, que pode ser delegado ao particular.
2.a – Exigibilidade é o poder que tem o Estado de decidir sem o judiciário. A exigibilidade está
presente em todo ato administrativo. Trata-se de um meio de coerção indireto.
Ex. Adm. decide em embarga a obra; decide e apreende a mercadoria; decide e aplica a multa.
Mas esse ponto é divergente, pois nem todos adotam essa subdivisão.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 62
Atenção!! Se a exigibilidade todo ato tem, mas a executoriedade nem todo ato tem, todo ato
goza de autoexecutoriedade? Não. Se a autoexecutoriedade tem 2 requisitos e um deles nem
sempre aparece, nem sempre há autoexecutoriedade.
Ex. sanção pecuniária. O Estado aplica e, se quiser cobrar, tem que passar pelo judiciário.
A polícia administrativa diz respeito ao exercício do poder de polícia, podendo ser exercida por
diversos órgãos da administração, conforme regras de competência.
A polícia judiciária, por sua vez, diz respeito à contenção do crime e à aplicação da lei penal. Ela
possui corporação própria e órgão especializado para isso.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 63
ATOS ADMINISTRATIVOS
Fato é um acontecimento do mundo em que nós vivemos. Ex. nascimento, morte, chuva.
Quando este acontecimento produz efeitos no mundo jurídico trazendo consequências na orbita
jurídica, ele configura um fato jurídico.
Se o fato jurídico produz efeitos na órbita do direito administrativo ele é um fato administrativo.
Ex. um servidor público falece e seu cargo fica vago. Deve ser feito novo concurso para prover o cargo
em vacância.
O fato é diferente do ato administrativo. O ato é uma manifestação de vontade. Essa vontade
pode produzir ou não efeitos no mundo jurídico. Ex. compra de um carro, casamento. Se esse ato de
manifestação de vontade produz efeitos no mundo jurídico, ele é um ato jurídico. E, se a manifestação
de vontade produzir efeitos no âmbito do direito administrativo, haverá um ato administrativo.
Ato da administração é um ato praticado pela administração, que pode praticá-lo em dois regimes
diferentes. Há um conjunto de atos praticados pela administração.
Atos da
Administração Atos em regime público
ou ATOS
Atos em regime
ADMINISTRATIVOS
privado
Existem atos do regime público que estão dentro da administração e atos do regime público que
estão fora da administração pública. Existem, ainda, atos administrativos que seguem o regime público,
mas que não foram praticados pela administração.
Então, temos:
1) Só atos da administração, quem fez foi a administração e seguem o regime privado.
2) Atos da administração que são atos administrativos, que seguem o regime público.
3) Só atos administrativos, que foram praticados fora da administração (ex. ato praticado por
concessionária, permissionária). Seguem o regime público.
Ato administrativo é uma (1) manifestação de vontade do Estado ou de quem o represente (seus
representante ou quem lhe faça as vezes). Essa manifestação de vontade (2) vai criar, modificar ou
extinguir direitos, protegendo sempre o interesse público.
O ato administrativo é (3) sujeito ao regime jurídico de direito público, mas é (4) complementar e
inferior à lei, estando (5) sujeito a controle pelo poder judiciário.
Hely Lopes Meirelles dizia que esse é o conceito de ato administrativo em sentido amplo. Mas, o
conceito de ato administrativo em sentido estrito é diferente. O ato em sentido estrito possui duas
características a mais: além de ser de direito público, complementar e inferior à lei e sujeito a controle
judicial, ele é concreto e unilateral.
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ATOS ADMINISTRATIVOS
Celso Antônio Bandeira de Melo Maioria da Doutrina
Exteriorização da vontade Forma
Elementos
Conteúdo (é a decisão) Objeto
Sujeito competente é aquele que está no exercício de uma função pública. É o chamado agente
público, ou seja, todo aquele que exerce função pública, seja de forma temporária ou permanente, com
ou sem remuneração.
O agente público precisa ser a autoridade competente para praticar o ato administrativo. Este
aspecto da competência merece algumas observações. Como saber se o agente é ou não autoridade
competente? A fonte da competência normalmente é a lei. Algumas competências, excepcionalmente,
estão previstas na CF. Mas, via de regra, a competência está prevista na lei.
Ex. a lei diz que o prefeito é a autoridade competente para cuidar dos bens municipais. Essa
competência é de exercício obrigatório ou facultativo? Competência administrativa é obrigação; é de
exercício obrigatório.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 65
Características da competência administrativa:
a) É de exercício obrigatório – o administrador não possui liberdade nesse sentido, tendo um poder-
dever.
b) É irrenunciável. O administrador não pode renunciar à regra de competência.
c) É imodificável pelo administrador. Se quem determinou a competência foi a CF ou uma lei, o
administrador não pode alterar essa competência; só a lei pode modificar.
d) Não admite transação – não se pode fazer acordo, transação, venda, etc.
e) É imprescritível. A competência administrativa não prescreve com o decurso do tempo.
Ex. determinada autoridade é competente para aplicar determinada sanção funcional. Mas, durante 10
anos, não houve nenhuma infração, e o administrador não puniu ninguém. O fato de o administrador
passar 10 anos sem aplicar sanção funcional não retira a sua competência. Ela não prescreve pelo
decurso do tempo.
f) É improrrogável – A competência administrativa não admite prorrogação. Mesmo que ninguém
conteste a incompetência, esta não se prorroga. Se a lei confere a competência, não cabe prorrogação.
A legalidade para o direito público diz que o administrador só pode fazer o que a lei determina.
DA COMPETÊNCIA
Art. 11, Lei 9.784/99 - A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi
atribuída como própria, salvo os casos de delegação e avocação legalmente admitidos.
Art. 12, Lei 9.784/99 - Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal,
delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam
hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica,
social, econômica, jurídica ou territorial.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de competência dos órgãos
colegiados aos respectivos presidentes.
Art. 14, Lei 9.784/99 - O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio oficial.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 66
§ 1o O ato de delegação especificará as matérias e poderes transferidos, os limites da atuação do
delegado, a duração e os objetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva de
exercício da atribuição delegada.
§ 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela autoridade delegante.
§ 3o As decisões adotadas por delegação devem mencionar explicitamente esta qualidade e considerar-
se-ão editadas pelo delegado.
Art. 15, Lei 9.784/99 - Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente
justificados, a avocação temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior.
4.2) Forma:
Art. 60, Lei 8.666/93 - Os contratos e seus aditamentos serão lavrados nas repartições interessadas, as
quais manterão arquivo cronológico dos seus autógrafos e registro sistemático do seu extrato, salvo os
relativos a direitos reais sobre imóveis, que se formalizam por instrumento lavrado em cartório de notas,
de tudo juntando-se cópia no processo que lhe deu origem.
Parágrafo único. É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com a Administração, salvo o de
pequenas compras de pronto pagamento, assim entendidas aquelas de valor não superior a 5% (cinco
por cento) do limite estabelecido no art. 23, inciso II, alínea "a" desta Lei, feitas em regime de
adiantamento.
Para os atos administrativos, no que diz respeito à forma, aplica-se o princípio da solenidade.
Obs: Se o ato tem defeito ou vício de forma, esse defeito compromete a validade do ato. O vício de
forma pode ocorrer em 3 situações diferentes: (1) Vício de forma que é mera irregularidade; (2) Vício de
forma que torna o ato anulável e (3) Vício de forma que torna o ato nulo.
A mera irregularidade não compromete o ato, que continua válido (ex. a administração determina
que o ato deva ser assinado de caneta azul; o administrador assinou de caneta verde – geralmente é
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 67
defeito de padronização/ uniformização).
O vício de forma que é sanável, por seu turno, torna o ato anulável, com possibilidade de correção
(convalidação). Ex. tinha que publicar no ato oficial e não houve a publicação, mas ainda é possível a
publicação.
Mas, existem alguns efeitos de forma que não são sanáveis. Nesse caso, o ato é nulo.
Obs: Todo ato administrativo é praticado dentro de um processo. Os atos administrativos são guardados
no processo administrativo. Não existe ato solto. O ato administrativo é resultado de um processo
administrativo, que é condição de forma do ato.
Hoje, doutrina e jurisprudência entendem que é muito importante a existência do processo
administrativo como condição da forma do ato administrativo prévio. É no processo administrativo que
se fundamenta a decisão. Ele é instrumento de fundamentação e legitimação da conduta.
Mas, atenção! Esse processo tem que ser conforme o modelo constitucional, com contraditório e
ampla defesa. O modelo constitucional está no art.5º, LV, da CF.
Obs: A forma do ato administrativo também exige motivação. A motivação é a correlação lógica entre os
elementos do ato e a previsão legal. É a fundamentação, a justificativa, o raciocínio lógico. A motivação
é diferente de motivo; ela é mais do que o motivo. A motivação é o raciocínio, a coerência lógica que
leva à prática do ato.
A motivação é obrigatória ou facultativa? Para a maioria da doutrina, a motivação é obrigatória (há
divergência – José dos Santos Carvalho Filho diz que a motivação é facultativa). Para a maioria, ela é
obrigatória e deve acontecer antes, ou no máximo durante, a prática do ato. Não existe motivação
superveniente. A motivação posterior não supre o vício do ato. Tem que ocorrer antes ou durante a
prática do ato.
4.3) Motivo:
Motivo, nada mais é do que o fato e fundamento jurídico que levam à prática do ato.
Ex. determinado grupo de servidores resolveu realizar uma passeata. Mas eles estão causando muita
confusão por onde passam. O poder público decide dissolver a passeata. Então, o motivo é o tumulto.
Ex. fábrica que está poluindo muito. O poder público resolve fechar a Fábrica. O motivo é a poluição
causada pela fábrica.
Ex. servidor que pratica infração é punido. O motivo da punição é a infração disciplinar.
O motivo é aquilo que leva à prática do ato. Ele deve ser legal. É necessária a legalidade do
motivo. O motivo, para ser legal, tem que preencher 3 exigências:
(1) O motivo tem que ser verdadeiro (esse requisito é chamado pela doutrina de materialidade).
Ex. Administração exonera cargo em comissão sem dar motivos. Nesse caso, ela não precisa motivar.
Mas, se a administração exonera alguém motivando que era para cortar gastos, no dia seguinte ela não
pode contratar ninguém para trabalhar no mesmo cargo, pois isso significaria que a exoneração não era
para cortar gastos e, portanto, o motivo era falso.
(2) Além disso, o motivo declarado tem que ser compatível com o motivo previsto na lei.
Ex. O legislador diz que a pena de demissão é aplicada para infração grave e a pena de advertência
vale para infração leve. Então, não se pode demitir um servidor porque ele praticou uma infração leve.
O motivo declarado nesse caso não é compatível com o motivo previsto na lei.
(3) Por fim, a terceira exigência para a legalidade do motivo é que o motivo do ato tem que ser
compatível com o resultado do ato.
Ex. administração concedeu porte de arma a três pessoas. Suponha-se que A é uma pessoa que se
envolveu em uma briga. O poder público pode retirar o porte de arma de A, motivando que ele se
envolveu em briga. A briga de A é motivo para retirar o porte de arma de A. Mas, é possível retirar o
porte de B ou C alegando a briga de A? Não. A briga de A não é compatível com o resultado de retirar o
porte de arma de B ou C. Para se retirar o porte de B ou de C, a briga tem que ser de B ou C. O motivo
declarado tem que ser compatível com o resultado.
Obs: Teoria dos motivos determinantes: Essa teoria vincula o administrador ao motivo declarado, o que
significa dizer que se ele declarou/ apresentou o motivo, ele vai ter que cumprir. Isso vai acontecer
inclusive no caso de exoneração ad nutum (que acontece nos cargos em comissão – cargo de
confiança, que não precisa de motivo para exoneração). O administrador não precisa de motivo na
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 69
exoneração ad nutum, mas, se ele apresentar motivo, ele tem que obedecê-lo.
Obs: Tredestinação – é uma exceção aos motivos determinantes. Pela tredestinação, admite-se uma
mudança de motivação, desde que seja atendido o interesse público. Ela existe na desapropriação e
exige a manutenção do interesse público.
Ex. alega-se que haverá uma desapropriação para construir uma escola. Depois muda-se o motivo,
alegando que é para construir um hospital. Se houver mudança da motivação nesse caso, não tem
problema, desde que seja mantido o interesse público.
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AULA 10 – 04/05/12
A teoria dos motivos determinantes vincula a autoridade ao motivo declarado, que deve ser
cumprido. Para que a autoridade cumpra o motivo, ela necessita que o motivo seja legal. Se o motivo
declarado for falso ele é ilegal e a autoridade não tem como cumpri-lo.
Ex. a partir de o momento que um edital de concurso público estabelece um número de vagas, o
administrador fica vinculado ao motivo declarado, ou seja, o candidato aprovado dentro do número de
vagas previstas no edital tem direito subjetivo à nomeação.
4.4) Objeto:
(...)
4.5) Finalidade:
A finalidade deve ser uma razão de interesse público. É o bem da vida que se quer proteger.
Se o administrador pratica um ato administrativo buscando uma finalidade que não é de interesse
público, ele está praticando um “desvio de finalidade” (que é um vício ideológico, subjetivo do ato; é
defeito na vontade do ato).
Se o administrador pratica um ato com vontade viciada, o vício deste ato está em qual elemento?
O vício é no elemento da finalidade. Mas o desvio de finalidade não representa também um defeito no
motivo do ato? Muitas vezes, o administrador, quando persegue o interesse pessoal, ele mente o motivo
do ato, esconde o motivo verdadeiro do ato. Nesse caso, essa vontade está viciada. Assim, na maioria
dos casos, o desvio na finalidade é desvio na finalidade do ato e também no motivo do ato.
Essa é uma classificação de acordo com o grau de liberdade dos atos administrativos.
O ato vinculado é aquele em que o administrador não tem liberdade, nem juízo de valor, tampouco
conveniência e oportunidade. Preenchidos os requisitos legais, o administrador é obrigado a praticar o
ato. Não há conveniência nem oportunidade. Não há opção. Alguns doutrinadores chamam os atos
vinculados de atos “regrados”.
Já o ato discricionário é aquele em que o administrador possui liberdade, podendo fazer juízo de
valor. Há um juízo de conveniência e oportunidade, de modo que o administrador possui opções e
alternativas para escolher. Mas essas opções e alternativas são sempre aquelas previstas em lei. Se o
ato administrativo é praticado fora dos limites da lei, não há discricionariedade, mas sim arbitrariedade.
E o ato arbitrário é ilegal.
Como identificar se o ato é vinculado ou discricionário? Se a lei conferiu uma lista de requisitos
par o ato, o ato é vinculado.
Ex. concessão de aposentadoria do servidor; licença para construir; licença para dirigir.
Já no ato discricionário, há a liberdade, que pode aparecer na lei de diversas maneiras; há opções
para o administrador.
Ex. art.62, da Lei 8.666/93;
Art. 62, Lei 8.666/93 - O instrumento de contrato é obrigatório nos casos de concorrência e de tomada
de preços, bem como nas dispensas e inexigibilidades cujos preços estejam compreendidos nos limites
destas duas modalidades de licitação, e facultativo nos demais em que a Administração puder substituí-
lo por outros instrumentos hábeis, tais como carta-contrato, nota de empenho de despesa, autorização
de compra ou ordem de execução de serviço.
Ex. a lei estabelece uma competência; mas não diz a forma que o ato deve ser praticado. Então, há
liberdade para o administrador atuar (se a lei não diz a maneira, o ato é discricionário).
Ex. de ato discricionário: permissão de uso de bem público; autorização.
Ex. Ato vinculado de concessão de aposentadoria a um servidor do sexo masculino, que tem 60 anos
de idade e 35 anos de contribuição. Se ele pedir aposentadoria, ele tem direito à aposentadoria. Esses
requisitos são o motivo do ato. Sobre eles, o administrador não tem liberdade ou opção de escolha.
Deferir o pedido é o objeto do ato. Se os requisitos estão preenchidos, o administrador não possui
liberdade, tendo que deferir o pedido.
Ex. Ato discricionário de permissão de uso de bem público (colocação de mesas de bar em calçada;
abertura de banca de revista). O poder público pode analisar o caso e entender que aquela é uma rua
muito perigosa e que quem ali estiver assentado correrá risco de vida. Nesse caso, ele vai indeferir o
pedido. Mas, o poder público tem a liberdade para entender que aquela rua é tranquila, podendo neste
caso deferir o pedido. Observe que, para avaliar se a rua é tranquila ou perigosa, o administrador teve
liberdade. E essa análise se a rua é tranquila ou perigosa é o motivo do ato, que é discricionário nesse
caso. Agora, decidir a questão é o objeto do ato. O administrador também teve liberdade sobre este
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 71
ponto, caso em que o objeto também é discricionário.
Assim, se o ato é vinculado, os seus elementos são vinculados. Mas, se o ato é discricionário, ele
tem elementos vinculados e discricionários.
A discricionariedade (LIBERDADE) do ato discricionário é o chamado de mérito do ato
administrativo.
Obs1) Celso Antônio Bandeira de Melo tem uma posição importante sobre a forma e sobre a finalidade
do ato. Segundo ele, excepcionalmente, a forma e a finalidade, embora sejam vinculadas em regra,
podem, excepcionalmente, quando a lei assim determinar, serem elementos discricionários.
Ex. art.62, Lei 8.666/93. A lei diz que a regra sobre a forma é um instrumento de contrato. Mas,
excepcionalmente, admite-se carta-contrato, nota de empenho, autorização de compra ou ordem de
execução de serviço. Então, a forma pode ser discricionária se a lei assim previr.
O mérito é a liberdade, o juízo de valor. O mérito está no motivo e no objeto do ato discricionário.
Mas, atenção! Mérito não é objeto, nem motivo. O mérito é a liberdade.
O poder judiciário pode rever ato administrativo? Sim. O judiciário pode rever qualquer ato
administrativo, desde que esse controle seja um controle de legalidade. Mas o poder JUDICIÁRIO NÃO
PODE REVER O MÉRITO DO ATO ADMINISTRATIVO.
A dúvida é: O poder judiciário pode rever o motivo e o objeto do ato discricionário? Sim. Como
motivo e objeto não são sinônimos de mérito, é possível ao judiciário rever o motivo e o objeto no que
tange à sua legalidade.
Ex. se o motivo for falso, é possível rever esse motivo no ato discricionário sim!
6.2) Autoexecutoriedade:
Imperatividade significa que os atos são impositivos, coercitivos, obrigatórios. Mas, atenção! Nem
todo ato possui imperatividade. Esse atributo está presente especialmente nos atos que estabelecem
uma obrigação (se houver obrigação, haverá imperatividade).
Ex. atestado, certidão. Esses atos não possuem imperatividade.
6.4) Tipicidade:
Esse atributo é tratado por Maria Sylvia, que é chamado de tipicidade. Por esse atributo, cada ato
administrativo tem a sua aplicação determinada. Não se pode utilizar o ato para outra aplicação.
Ex. demissão é para punir infração grave.
Ex. Advertência é para punir infração leve.
Ex. Remoção é para deslocamento por necessidade do serviço.
a) Atos Gerais Atos aplicáveis à coletividade como um todo (erga omnes). Geralmente são abstratos
e impessoais. Esses atos, normalmente, prevalecem sobre os atos individuais.
Ex. regulamentos, instruções normativas.
b) Atos Individuais (especiais) São os atos que possuem destinatário certo e determinado.
O ato que tem 1 destinatário certo é chamado de ato individual singular.
Ex. concedo licença ao José.
O ato que tem vários destinatários determinados é chamado de ato
plúrimo. Ex. Tombamento de todas as casas do bairro X. São vários
destinatários, mas estes são determinados, pois se sabe quem são os
exatos donos de cada casa do bairro X.
a) Atos internos São aqueles que produzem efeitos dentro da administração. Normalmente estão
ligados à operacionalização da atividade administrativa.
Ex. servidores tem que trabalhar de uniforme azul.
b) Atos externos produzem efeitos dentro e fora da administração.
Ex. horário de funcionamento dos órgãos públicos.
a) Atos Simples é o ato que se torna perfeito e acabado com apenas uma manifestação de vontade.
b) Ato composto é o ato que se aperfeiçoa com duas manifestações de vontade. Essas duas
manifestações de vontade acontecem DENTRO DE UM MESMO órgão, sendo que
a primeira manifestação de vontade é principal, e a segunda é secundária
(confirma, ratifica).
Ex. atos que dependem do visto, ratificação do chefe.
c) Ato complexo é o ato que se aperfeiçoa com duas manifestações de vontade, EM ÓRGÃOS
DIFERENTES, e em patamar de igualdade.
Ex. concessão de aposentadoria; nomeação de dirigente de agência reguladora.
Um ato administrativo é perfeito quando percorre toda a sua trajetória, cumprindo o seu ciclo de
formação.
Ex. nomeação de dirigente de agência reguladora: necessita de aprovação do Senado e Nomeação
pelo Presidente. O ato só estará perfeito quanto houverem as duas manifestações de vontade.
O ato administrativo é válido quando ele cumpre todos os requisitos.
O ato será, ainda, eficaz, quando ele estiver pronto para produzir efeitos.
Não há possibilidade de um ato administrativo não ser perfeito.
Combinando esses aspectos, concluímos que o ato administrativo pode ser:
- perfeito, válido e eficaz;
- perfeito, inválido e eficaz;
- perfeito, válido e ineficaz;
- perfeito, inválido e ineficaz;
Exemplos:
- Ato perfeito, inválido e eficaz Isso é possível no Brasil. O ato é perfeito (completou seu ciclo de
formação), mas foi produzido com um vício, em que pese produzir todos os seus efeitos até a
declaração de invalidade. Então, até a declaração de invalidade, o ato produz efeitos como se fosse
válido.
- Ato perfeito, válido e ineficaz É possível. O ato é perfeito porque completou o seu ciclo de formação,
é válido, pois preencheu os requisitos legais, mas não possui eficácia.
Ex. art.61, p.ú., da Lei 8.666/93. A publicação do contrato é condição de eficácia desse ato.
Art.61, parágrafo único, Lei 8.666/93 - A publicação resumida do instrumento de contrato ou de seus
aditamentos na imprensa oficial, que é condição indispensável para sua eficácia, será providenciada
pela Administração até o quinto dia útil do mês seguinte ao de sua assinatura, para ocorrer no prazo de
vinte dias daquela data, qualquer que seja o seu valor, ainda que sem ônus, ressalvado o disposto no
art. 26 desta Lei.
- Ato perfeito, inválido e ineficaz A administração pública celebra um contrato administrativo em que
houve fraude na licitação, sendo, por essa razão, inválido. Além disso, o ato não foi publicado. Esse
contrato é, então, inválido e ineficaz.
Os atos administrativos podem produzir dois efeitos diferentes: efeitos típicos e efeitos atípicos.
Os efeitos típicos são os efeitos principais, esperados e desejados.
Já os efeitos atípicos são os feitos secundários, indesejados, inesperados. Eles se subdividem em
efeitos atípicos reflexos ou efeitos atípicos preliminares.
Os efeitos atípicos reflexos são os efeitos que atingem terceiros estranhos à prática do ato.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 74
Ex. suponha-se que o Estado desapropria o imóvel do José. O efeito esperado desse ato é a aquisição
do imóvel de José pelo Estado. Mas o problema é que, há muitos anos, havia um contrato de locação
entre José e Maria. Então, Maria terá que sair do imóvel. Logo, este ato atinge Maria, sendo este o
efeito secundário do ato. A retirada de Maria do imóvel é um efeito (secundário) atípico reflexo do ato.
O efeito atípico preliminar, por seu turno, ocorre nos atos administrativos que dependem de duas
manifestações de vontade. Esse efeito se configura como o dever da segunda autoridade se manifestar,
quando a primeira já o fez. É um efeito secundário que vem antes do aperfeiçoamento do ato.
Ex. nomeação de dirigente de agência reguladora. O Senado aprova e o presidente nomeia. Esse ato
só estará perfeito quando houver as duas manifestações de vontade. Quando o Senado se manifesta,
surge para a segunda autoridade o dever de manifestação. E esse dever de manifestação ocorreu antes
do aperfeiçoamento. O efeito típico principal é a nomeação de dirigente. Mas, antes desse efeito
principal houve um efeito secundário, que é um dever preliminar do presidente se manifestar. Logo,
esse efeito de manifestação é um efeito atípico preliminar. Esse efeito atípico preliminar foi denominado
por Celso Antônio Bandeira de Melo de efeito atípico prodrômico.
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AULA 11 – 18/05/12
9.1) Hipóteses:
c) Renúncia do titular.
Ex. titular não quer mais a licença para construir; não quer mais gozar férias.
Súmula 346, STF - A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.
Súmula 473, STF - A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que
os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de
conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os
casos, a apreciação judicial.
O prazo para a administração para controlar e rever os seus próprios atos é de 5 anos,
quando eles produzirem efeitos favoráveis para o administrado, conforme art.54, da Lei 9.784/99.
Art. 54, Lei 9.784/99 - O direito da Administração de anular os atos administrativos de que
decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que
foram praticados, salvo comprovada má-fé.
A anulação, em regra, produz efeitos ex tunc, atingindo o ato ilegal desde o seu nascedouro
(RESPONDER ISSO EM PROVA OBJETIVA).
Mas, atenção! Sobre esse ponto, há divergência!!! Segundo Celso Antônio Bandeira de
Melo, em algumas circunstâncias, pode a anulação produzir efeitos ex nunc (divergência
doutrinária em que a posição de CABM é minoritária). Para ele, se a anulação for benéfica para o
administrado, ela terá efeitos ex tunc; mas, se for prejudicial ao administrado, ela terá efeitos ex
nunc.
Assim, se há um ato administrativo ilegal (ato 1), um segundo ato administrativo (ato 2) deve
ser feito, anulando o ato 1. Via de regra, conforme doutrina majoritária, esse ato 2 deveria retirar o
ato 1 desde o seu nascedouro, com efeitos ex tunc. Mas, segundo Celso Antônio, essa questão
deve ser repensada.
Ex. Celso Antônio cita o exemplo de um servidor que pede uma gratificação à Administração,
sendo o pedido deferido (ato 1). Mas, meses depois, descobriu-se que o ato de deferimento da
gratificação foi um ato ilegal, sendo necessária a sua anulação. Ocorre que essa anulação do ato
1 é um ato restritivo de direito (ou seja, restringe um direito do administrado, retirando o
deferimento). Se esse ato de anulação tivesse efeito ex nunc a pessoa só teria que deixar de
receber a gratificação. Mas, se o ato tivesse efeito ex tunc, a pessoa teria que deixar de receber a
gratificação e, ainda, devolver tudo o que recebeu anteriormente. Então, para Celso Antônio, se
essa anulação é restritiva de direitos, ela deve produzir apenas efeitos ex nunc (no exemplo, a
pessoa não teria que devolver o dinheiro da gratificação).
Ex2. Suponha-se um ato administrativo (ato 1) pelo qual a Administração indeferiu uma
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gratificação ao administrado, sendo, posteriormente, verificado que a gratificação era devida e que
o ato de indeferimento era um ato ilegal. Em razão disso, um segundo ato administrativo (ato 2)
deve ser feito, anulando o ato 1, conferindo ao administrado o direito à gratificação. Esse ato 2 é
um ato ampliativo de direito (amplia um direito do administrado). Se esse ato de anulação tivesse
efeitos ex nunc, o administrado só passaria a ganhar a gratificação dali pra frente. Mas, se o ato
tivesse efeito ex tunc, a pessoa passaria a ganhar a gratificação dali pra frente e, ainda, receberia
todos os valores retroativos – relativos às gratificações que a pessoa deveria ter percebido, mas
não teve. Então, para Celso Antônio, se essa anulação é ampliativa de direitos, ela deve produzir
efeitos ex tunc (no exemplo, a pessoa passaria e receber a gratificação e ainda receberia os
valores retroativos).
Muita atenção!!!! Ao analisar se o ato é restritivo ou ampliativo, DEVE-SE ATENTAR PARA QUAL
ATO ESTÁ SENDO ANALISADO!!!! Nos exemplos, vejamos que os sentidos podem variar:
Ex.1 – primeiro ato (ato ilegal) é ampliativo e o segundo (ato de anulação) restritivo;
Ex.2 – primeiro ato (ato ilegal) é restritivo e o segundo (ato de anulação) ampliativo;
ENTÃO, PARA RESOLVER A QUESTÃO, É IMPORTANTE ANALISAR O EFEITO DA
ANULAÇÃO PARA O ADMINISTRATO: SE É BENÉFICA (caso em que retroage) OU MALÉFICA
(caso em que não retroage).
Obs: O poder judiciário só pode revogar os seus atos administrativos (no exercício de função
administrativa atípica). O Poder judiciário não pode revogar atos administrativos em sede de
controle judicial.
A revogação produz efeitos ex nunc (antes o ato era conveniente; hoje não é mais). A
revogação dos atos administrativos também é uma aplicação do princípio da autotutela da
administração.
A revogação não é sujeita a prazo; não tem limite temporal. O ato administrativo pode ser
revogado a qualquer tempo.
Mas, cuidado! A revogação possui limite material, que é chamado “limite de conteúdo”.
Ex. O rol desses atos com limite material é exemplificativo. Mas, de um modo geral, não se
revogam:
Atos que produziram direitos adquiridos;
Não se revogam Atos vinculados;
Atos que já exauriram seus efeitos;
Atos que a lei estabelece ou declara irrevogáveis;
Atos enunciativos, ou seja, atos que não tem conteúdo decisório (certidão, atestado,
parecer, etc);
Se o ato administrativo preenche todos os requisitos, ele é um ato válido. Mas, se o ato possui
algum defeito (falta algum requisito ou exigência), ele será um ato viciado.
Quais os vícios existentes nos atos administrativos? Existem os vícios sanáveis e os vícios
insanáveis. Se o vício é sanável, o ato é anulável, passível de convalidação.
Convalidação de ato administrativo é a correção do vício do ato. Se o ato possui um vício sanável
é dever do administrador convalidar o ato. Mas, atenção!!! A convalidação só é possível quando o vício
for dos elementos competência ou forma. Na convalidação, conserta-se um ato que continua sendo o
primeiro ato, mas agora correto.
Obs: Atenção!!! A convalidação é diferente da chamada “conversão” (ou “sanatória”) do ato, pela qual
o ato administrativo que não preenche os requisitos legais é convertido em outro ato, cujos requisitos
estão presentes. Ou seja, a conversão é a transformação de um ato administrativo mais rigoroso,
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solene e exigente – mas para o qual os requisitos não foram preenchidos – em um ato mais simples,
para o qual os requisitos foram atendidos.
Ex. A concessão de serviço público é um ato solene, que depende de autorização legislativa. Já a
permissão de serviço público é um ato mais simples, precário, que dispensa autorização legislativa. É
possível que uma concessão de serviço público sem permissão legislativa possa ser convertida em uma
permissão, que é um ato mais simples, para o qual os requisitos estão preenchidos.
Por outro lado, se o vício é insanável, ou ato é nulo, e não pode ser convalidado. O ato nulo
precisa ser anulado.
A anulação é um dever de cumprir a legalidade. No entanto, hoje, deve ser observado que o
princípio e dever de legalidade não é absoluto. Existem outros princípios que também devem ser
observados, como, por exemplo, segurança jurídica e boa-fé das partes.
Então, quando a anulação causar mais prejuízos do que a manutenção do ato – lesando outros
princípios do ordenamento – o ato deve ser mantido. Manter o ato é chamado de “estabilização dos
efeitos do ato administrativo”.
Hoje, a jurisprudência do STJ diz que após 5 anos da prática do ato, retirar o ato ilegal viola a
segurança jurídica, conforme lei 9.784/99.
Art. 54, Lei 9.784/99 - O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram
efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram
praticados, salvo comprovada má-fé.
§ 1o No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do
primeiro pagamento.
§ 2o Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que
importe impugnação à validade do ato.
A ideia dos 5 anos traz uma ideia de parâmetro objetivo. Isso é pacífico no STJ.
>>> Ler artigo de Jacinto Arruda – Estabilização dos efeitos do ato – Jacinto Arruda (Site da
Marinela)
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LICITAÇÕES
1) Conceito:
A licitação serve para que (1) possa ser escolhida a melhor proposta – não necessariamente a
proposta mais barata (ex. melhor técnica, melhor preço, melhor técnica e preço).
Além disso, a licitação tem como objetivo o (2) exercício do princípio da impessoalidade, dando-se
a todos o direito de participar.
A licitação também visa a observar o princípio da (3) isonomia.
Ademais, busca-se o (4) desenvolvimento nacional sustentável. Essa hipótese foi inserida pela Lei
12.349/10, que diz que a licitação deve ser utilizada como o poder de compra do Estado, para o
desenvolvimento nacional. O Decreto nº 7.746, de 05 de Junho de 2012 regulamenta essa questão,
para estabelecer critérios, práticas e diretrizes para a promoção do desenvolvimento nacional
sustentável nas contratações realizadas pela administração pública federal.
Art. 3o, Lei 8.666/93 - A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da
isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do
desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os
princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da
probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que
lhes são correlatos. (Redação dada pela Lei nº 12.349, de 2010)
A competência para legislar sobre licitações é privativa da União, mas no que tange às normas
gerais de licitações e contratos.
É importante distinguir que quando a União legisla em normas gerias, esta lei será de âmbito
nacional, ou seja, terá aplicação para todo território nacional, em todos os entes da federação. Por outro
lado, quando a União legisla em âmbito federal, a lei só serve para ela, União.
Assim, as leis 8.666/93, 10.520/02 (Lei do Pregão), 8.987/95 (Lei da Permissão e Concessão
de Serviços Públicos) e 11.079/00 (Lei das Parcerias Público Privadas) são normas gerais, a
partir da União legislando para todo o âmbito nacional.
Em outro vértice, no que tange às normas específicas, podem legislar os Estados Membros, o
Distrito Federal e os Municípios podem legislar. Mas, tais leis serão de âmbito do respectivo ente
federativo (só terão validade para o ente que as criaram).
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Pergunta de Concurso: Polêmica: A Lei 8.666/93 traz apenas normas gerais ou, em alguns
dispositivos, o legislador foi além da norma geral, trazendo normas específicas?
R: A ADI 927 discutiu exatamente se a Lei 8.666/93 é uma norma geral: a discussão atingiu
especificamente algumas alíneas do art. 17 da Lei 8.666/93, que trata de alienação de bens públicos.
Nessa ação, o Supremo decidiu que o artigo 17 da lei é constitucional, sofrendo interpretação conforme
a Constituição: em alguns de seus incisos o artigo 17 seria constitucional desde que interpretado como
norma específica. Assim, se a União legislou de forma específica no art. 17 da lei 8.666/93, este
dispositivo só tem aplicação no âmbito federal (só servindo para a União). Dessa forma, o artigo 17, da
Lei 8.666/93 NÃO foi declarado norma inconstitucional.
Art. 1º, parágrafo único, Lei 8.666/93: Subordinam-se ao regime desta Lei, além dos órgãos da
administração direta, os fundos especiais, as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas,
as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União,
Estados, Distrito Federal e Municípios.
Obs: No que diz respeito às empresas públicas e sociedades de economia mista, vale lembrar
que elas podem ser: (a) prestadoras de serviços públicos, estando sujeitas às norma gerais da Lei
8.666/93; (b) exploradoras de atividade econômica, quando poderão, através de lei específica, cf.
art.173, §1º, III, CF, ter estatuto próprio para licitações e contratos (até o momento, tal estatuto
não foi aprovado, sendo que, então, atualmente, elas seguem a norma gral – Lei 8.666/93).
Art. 173, §1º, CF - A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de
economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou
comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre:
(...)
III - licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os princípios da
administração pública; (Incluído pela EC nº 19, de 1998)
4. Entes controlados pelo pode público (direta ou indiretamente): São os entes do “Sistema S”
– Serviços Sociais Autônomos. O TCU entende que estes entes estão sujeitos a um procedimento
simplificado de licitação.
Obs: As “OS” tem dispensa de licitação nos contratos decorrentes de gestão, em virtude do
disposto no art. 24, inciso XXIV, da Lei 8.666/93.
Art. 24, Lei 8.666/93. É dispensável a licitação: Vide Lei nº 12.188, de 2.010 Vigência
(...)
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XXIV - para a celebração de contratos de prestação de serviços com as organizações sociais,
qualificadas no âmbito das respectivas esferas de governo, para atividades contempladas no contrato
de gestão. (Incluído pela Lei nº 9.648, de 1998)
O instrumento convocatório nada mais é do que o edital. O edital é a “lei” da licitação: tudo que for
importante e interessar para a licitação devem estar previsto no edital. O administrador não pode exigir
nem mais nem menos do que está previsto no edital.
O edital deve definir de forma clara e precisa qual será o critério de julgamento (ex. melhor
proposta, melhor técnica, melhore preço e técnica, etc.).
Obs: Tipos de licitação: Os tipos de licitação têm relação com o critério de julgamento: menor preço,
melhor técnica, melhor técnica e preço.
Art. 45, Lei 8.666/93 - O julgamento das propostas será objetivo, devendo a Comissão de licitação ou o
responsável pelo convite realizá-lo em conformidade com os tipos de licitação, os critérios previamente
estabelecidos no ato convocatório e de acordo com os fatores exclusivamente nele referidos, de
maneira a possibilitar sua aferição pelos licitantes e pelos órgãos de controle.
Quando o administrador for escolher a proposta (aplicação do critério de julgamento), ele não
pode considerar circunstâncias estranhas às previstas no edital.
Ex. Licitação do tipo “melhor preço” para aquisição de taças – o edital prevê que ganha a licitação
aquele que apresentar o menor preço. Mesmo que um licitante apresente um produto melhor, uma
condição mais favorável de pagamento, se o seu preço for maior que o apresentado por outro licitante
(ainda que a diferença entre os preços seja de R$ 0,01), ganhará a licitação aquele que apresentou o
menor preço.
As propostas são sigilosas até o momento de sua abertura em sessão pública. Fraudar o sigilo de
proposta significa crime na licitação e improbidade administrativa.
Atenção! A modalidade de licitação que representa exceção à regra do sigilo de proposta é o
leilão (os lances são verbais).
6) Modalidades de Licitação:
Art. 21, Lei 8.666/93 - Os avisos contendo os resumos dos editais das concorrências, das tomadas de
preços, dos concursos e dos leilões, embora realizados no local da repartição interessada, deverão ser
publicados com antecedência, no mínimo, por uma vez (...).
6.1) Concorrência:
(a) Valor – A concorrência é utilizada em razão de valor alto: acima de R$1.500.000,00 para obras de
engenharia e acima de R$ 650.000,00 para outros serviços que não os de engenharia.
(b) Qualidade do objeto – A concorrência é escolhida pelo parâmetro objeto nas seguintes hipóteses:
b.2) Quando o objeto for concessão de direito real de uso de bem público e concessão de serviço
público.
Exceção: se o serviço estiver na política ou programa nacional de desestatização, a modalidade
de licitação será o leilão (exemplo: aeroportos).
Obs: Sobre os prazos das modalidades de licitação, o artigo 21 reúne todos os prazos:
Art.21, §2o, Lei 8.666/93 - O prazo mínimo até o recebimento das propostas ou da realização do evento
será:
I - quarenta e cinco dias para:
a) concurso;
b) concorrência, quando o contrato a ser celebrado contemplar o regime de empreitada integral ou
quando a licitação for do tipo "melhor técnica" ou "técnica e preço";
II - trinta dias para:
a) concorrência, nos casos não especificados na alínea "b" do inciso anterior;
b) tomada de preços, quando a licitação for do tipo "melhor técnica" ou "técnica e preço";
III - quinze dias para a tomada de preços, nos casos não especificados na alínea "b" do inciso
anterior, ou leilão;
IV - cinco dias úteis para convite.
§3o Os prazos estabelecidos no parágrafo anterior serão contados a partir da última publicação do edital
resumido ou da expedição do convite, ou ainda da efetiva disponibilidade do edital ou do convite e
respectivos anexos, prevalecendo a data que ocorrer mais tarde.
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AULA 12 – 31/05/12
A tomada de preços é a modalidade de licitação prevista no art.22, II, da Lei 8.666/93. Ela é
utilizada para valores intermediários, entre a concorrência e o convite.
A tomada de preços é necessária em razão do valor: o parâmetro é o valor.
É utilizada em razão de valor médio: entre R$150.000,00 e R$1.500.000,00 para obras e serviços
de engenharia e entre R$80.000,00 a R$650.000,00 para obras e serviços de outra natureza.
Na tomada de preços, participam os licitantes cadastrados. A administração já faz um
cadastramento prévio; uma espécie de habilitação prévia dos licitantes, de modo que, no momento da
licitação, não é mais necessária habilitação. O licitante já cadastrado, para participar da licitação, não
precisa apresentar todos os documentos novamente. Ele só precisa trazer o certificado de registro
cadastral, que substitui todos os documentos da licitação. A ideia disso é agilizar o procedimento.
Também poderão participar da tomada de preço aqueles licitantes que, embora não cadastrados,
preencherem os requisitos para o cadastramento até o terceiro dia anterior à data marcada para a
entrega dos envelopes. Nesse caso, o licitante deve provar que preenche os requisitos, mediante a
apresentação de um requerimento, junto ao qual devem vir todos os documentos necessários para a
comprovação dos requisitos (dentro do prazo do 3º dia anterior à entrega dos envelopes).
O ideal é que a administração decida o quanto antes o requerimento do licitante não cadastrado,
para que ele saiba se irá participar ou não do certame.
Na tomada de preços o prazo de intervalo mínimo será de 30 dias (seja pelo critério técnica ou
técnica e preço). Se a licitação for somente do tipo preço, o prazo será de 15 dias. A lei não mencionou
se são dias úteis. Então, entende-se que são dias corridos.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 84
30 dias corridos (úteis e não úteis) Tipo técnica ou técnica + preço
15 dias corridos (úteis e não úteis) Tipo preço
Pergunta de Concurso: A modalidade licitatória da tomada de preços fica entre o mínimo do convite e
o máximo da concorrência. (Falso). É o contrário: A modalidade tomada de preços fica entre o máximo
do convite e o mínimo da concorrência.
6.3) Convite:
O parâmetro é valor. O convite é utilizado para valores pequenos – entre R$0,00 a R$150.000,00
para obras e serviços de engenharia e R$0,00 a R$80.000,00 para outras obras e serviços.
Quem participa do convite são os licitantes convidados. Podem ser convidados os cadastrados ou
não cadastrados, desde que respeitado o número mínimo de 3 convidados. Quando se exige o convite
“a um número mínimo de 3”, deve-se entender que se, eventualmente, houver no mercado uma
restrição quanto aos licitantes (ex. não há no mercado três licitantes que fazem o serviço, ou se o
convite é feito a três licitantes, mas só aparecem dois), pode-se justificar, fundamentar e prosseguir a
licitação com número de licitantes inferior a três. Mas a justificação é imprescindível.
Também podem participar do convite os licitantes já cadastrados, que manifestarem seu interesse
em participar da licitação com 24 horas de antecedência da entrega dos envelopes.
Atenção! O prazo de 24 horas não é para se cadastrar, mas sim para o licitante já cadastrado.
O licitante não cadastrado e não convidado pode participar do convite? A doutrina diz que os não
cadastrados e não convidados poderiam se cadastrar até o 3º dia anterior à data marcada para a
entrega dos envelopes, utilizando, por analogia, a regra da tomada de preços. Então, nesse caso, o não
cadastrado que quiser participar da licitação deve se cadastrar até o 3º dia anterior à data de entrega
dos envelopes e, ao passar a ser cadastrado, manifestar seu interesse em até 24 horas da licitação.
Então, segundo a doutrina, nesse momento ele poderia participar do certame. Mas isso é o que a
DOUTRINA entende.
Nessa modalidade de licitação, o instrumento convocatório é a carta-convite, que não vai ao Diário
Oficial. Ela é encaminhada aos convidados e é fixada no átrio da repartição, local central de ampla
circulação, em que um interessado na licitação possa ter acesso ao convite e possa saber se está em
trâmite alguma licitação nessa.
O intervalo mínimo do convite é de 5 dias úteis (é o primeiro prazo em dias úteis em que falou!).
Para o direito administrativo, é dia útil o dia em que a administração pública funciona, independente de
ser feriado ou não.
Ex. É ponto facultativo, mas ninguém foi trabalhar – não é dia útil.
Ex. É feriado, mas a repartição abriu – é dia útil.
Ex. Morreu um servidor em dia comum, mas a repartição não abriu – não é dia útil.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 85
A comissão julgadora é prevista no art.51 da Lei. Em regra, ela é composta por 3 servidores. Mas,
no caso do convite, a lei abre uma exceção, estabelecendo que se a repartição é pequena e a seleção
de três servidores puder colocar em risco a continuidade do serviço, é possível fazer a licitação com
apenas um servidor na comissão julgadora.
Art. 51, Lei 8.666/93 - A habilitação preliminar, a inscrição em registro cadastral, a sua
alteração ou cancelamento, e as propostas serão processadas e julgadas por comissão
permanente ou especial de, no mínimo, 3 (três) membros, sendo pelo menos 2 (dois) deles
servidores qualificados pertencentes aos quadros permanentes dos órgãos da Administração
responsáveis pela licitação.
§1º No caso de convite, a Comissão de licitação, excepcionalmente, nas pequenas unidades
administrativas e em face da exigüidade de pessoal disponível, poderá ser substituída por
servidor formalmente designado pela autoridade competente.
* Dispensa de Licitação p/ Empresas Públicas, Sociedades de Economia Mista, Agências Executivas (autarquias e fundações públicas assim
qualificadas) e Consórcios Públicos.
** Esses valores poderão ser dobrados se o contrato envolver Consórcios Públicos formados por até três entes da Federação, ou triplicados,
se o Consórcio envolver número maior de entes.
Obs1: Pode-se utilizar uma licitação mais rigorosa para um contrato cujo valor corresponderia a uma
modalidade de licitação menos rigorosa. Ex. Um contrato de valor de R$120.000,00, para o qual poderia
ser utilizado o convite, pode ser submetido a uma licitação de tomada de preços ou mesmo
concorrência. Isso é possível. Mas, Atenção!! O contrário jamais é possível!!! Não cabe substituir utilizar
uma modalidade menos rigorosa de licitação para um contrato para o qual a lei exige modalidade mais
rigorosa. Isso está no art.23, §4º, da Lei de Licitações:
Art.23, §4º, Lei 8.666/93 - Nos casos em que couber convite, a Administração poderá utilizar a
tomada de preços e, em qualquer caso, a concorrência.
Obs2: Se o valor for de 10% do convite, ou seja, até R$8 mil, haverá dispensa de licitação (art.24, I e II,
Lei 8.666/93).
Obs3: Esse valor dessa dispensa de licitação será dobrado – ou seja, será de 20% – no caso do art.24,
parágrafo único da Lei 8.666/93. Esse limite serve para as empresas públicas, sociedades de economia
mista, para as agências executivas (autarquias e fundações qualificadas como agências executivas) e
para os consórcios públicos da Lei 11.107/05.
Art.24, parágrafo único, Lei 8.666/93 - Os percentuais referidos nos incisos I e II do caput deste
artigo serão 20% (vinte por cento) para compras, obras e serviços contratados por consórcios
públicos, sociedade de economia mista, empresa pública e por autarquia ou fundação
qualificadas, na forma da lei, como Agências Executivas. (Redação dada pela Lei nº 11.107, de 2005)
Obs4: art.23, §8º, da Lei 8.666/93 – Esses valores de licitação (concorrência, tomada de preços,
convite) serão dobrados ou triplicados no caso de consórcio público da lei 11.107. Se o consórcio for de
até 3 entes, os valores das modalidades de licitação serão dobrados. Se o consórcio for de mais de 3
entes, os valores das modalidades de licitação serão triplicados.
Art.23, §8º, Lei 8.666/93 - No caso de consórcios públicos, aplicar-se-á o dobro dos valores
mencionados no caput deste artigo quando formado por até 3 (três) entes da Federação, e o
triplo, quando formado por maior número. (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)
6.5) Leilão:
O leilão é modalidade de licitação que serve para alienação. O parâmetro aqui é o objeto.
Podem ser alienados através de leilão os bens:
Art. 19, Lei 8.666/93 - Os bens imóveis da Administração Pública, cuja aquisição haja derivado
de procedimentos judiciais ou de dação em pagamento, poderão ser alienados por ato da
autoridade competente, observadas as seguintes regras:
I - avaliação dos bens alienáveis;
II - comprovação da necessidade ou utilidade da alienação;
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 87
III - adoção do procedimento licitatório, sob a modalidade de concorrência ou leilão.
Art.22, § 5º, Lei 8.666/93 - Leilão é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados
para a venda de bens móveis inservíveis para a administração ou de produtos legalmente
apreendidos ou penhorados, ou para a alienação de bens imóveis prevista no art. 19, a quem
oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliação.
6.6) Concurso:
O concurso da lei 8.666/93 serve para a escolha de trabalho técnico, artístico ou científico. Mas a
contrapartida será um prêmio ou remuneração (ex. viagem, carro, dinheiro, etc).
Obs: O Concurso Público (que não é modalidade de licitação) é diferente, pois tem como finalidade o
provimento de cargo público, e não escolha de trabalho técnico, artístico ou científico. Essa matéria já
foi decidida pelo STJ.
6.7) Pregão:
A primeira regulamentação do pregão no Brasil foi com a lei 9.472/97, que instituiu a ANATEL e
passou a prever o leilão como modalidade de licitação para as agências reguladoras, assim como a
consulta. Depois disso, o pregão passou a ser regido pela MP 2.026/2000, em que tal modalidade
passou a ser uma modalidade de licitação própria da União. Em 2002, pela lei 10.520, o pregão passou
a ser utilizado para todos os entes federativos. Hoje, o pregão é regulado pela lei 10.520/02.
O pregão é utilizado para bens e serviços comuns. Bem e serviço comum é aquele que pode ser
conceituado no edital com expressão usual de mercado, independente do valor. Por isso, o tipo de
licitação será o preço.
Ex. de bem comum – não precisa ser simples ou barato, mas deve ser comprado no mercado de forma
fácil (ex. copo de água mineral 200 ml; aparelho de TV LCD 50 polegadas).
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Ex. de bem que não é comum – para construir um viaduto, serão necessárias colunas com diâmetro “x”,
com extensão “y”, peso “z” – Esse não é um bem comum, pois é necessária qualificação/formação
especial para se comprar esses bens.
O pregão é escolhido pelo tipo preço e tem como intervalo mínimo 8 dias uteis (é o segundo
prazo em dias úteis).
Trata-se de modalidade licitatória realizada pelo pregoeiro, que é assistido por uma equipe de
apoio.
O procedimento do pregão é diferente das demais modalidades: seu procedimento é invertido.
O pregão pode ser de duas formas:
a) Pregão presencial; ou,
b) Pregão eletrônico, que acontece virtualmente numa sala de bate-papo. O participante recebe uma
chave (senha) para participar do pregão. Para o âmbito federal, preferencialmente, adota-se o pregão
eletrônico.
7) A Contratação Direta:
>>> Contratação direta é onde há mais fraude na administração. Isso é importante para concurso de MP e
procuradoria!!! Atenção para a improbidade administrativa!!!
Obs: O fracionamento de despesa é proibido pelo art.23, §5º, da Lei 8.666/93: o que pode ser
contratado por inteiro não pode ser fracionado para se obter uma dispensa de licitação, por exemplo.
Isso é improbidade administrativa, com fraude ao dever de licitar.
Art. 23, §5o, Lei 8.666/93 - É vedada a utilização da modalidade "convite" ou "tomada de
preços", conforme o caso, para parcelas de uma mesma obra ou serviço, ou ainda para obras
e Obs: Fraude
serviços dana Licitação
mesma – Fracionamento
natureza de Despesa:
e no mesmo local que possam ser realizadas conjunta e
concomitantemente, sempre que o somatório de seus valores caracterizar o caso de "tomada
As modalidades de licitação podem ser escolhidas em razão do valor do objeto (concorrência,
de preços" ou "concorrência", respectivamente, nos termos deste artigo, exceto para as
tomada de preços e convite) ou em razão da qualidade do objeto (leilão, pregão e concurso – não
parcelas de natureza
interessando específica
nesse caso, o valor doque possam ser executadas por pessoas ou empresas de
contrato).
especialidade
Existem duas exceções a essas regras:da obra ou serviço.
diversa daquela do executor
A concorrência pode ser escolhida, excepcionalmente, em razão da qualidade do objeto, nos
casos da concorrência para os imóveis e a concorrência para as licitações internacionais. Nesses
dois casos, é obrigatória a concorrência.
No caso do leilão, também há uma exceção, em que a escolha do leilão não é feita pela qualidade
do objeto, mas sim pelo valor. É o caso do art.17, §6º, da Lei 8.666/93 (“Para a venda de bens
móveis avaliados, isolada ou globalmente, em quantia não superior ao limite previsto no art. 23,
inciso II, alínea "b" desta Lei, a Administração poderá permitir o leilão”).
Nele, o administrador divide o valor da licitação para contratar de forma direta ou para contratar por
uma modalidade mais simples de licitação (como, por exemplo, o convite).
Se existem parcelas de uma mesma obra ou serviço ou se há obras ou serviços de mesma
natureza que devem ser prestados no mesmo local (seja ao mesmo tempo ou não), isso deve ser
contratado por inteiro, não se podendo dividir a contratação para alterar a modalidade de licitação
prevista em lei.
Ex. O administrador precisa alugar 10 carros durante o ano. Ao invés de fazer um único contrato
para abarcar toda a sua necessidade (dos 10 carros), ele fraciona esses contratos, alugando um
carro de cada vez para que haja dispensa de licitação. Isso não pode ocorrer.
Alguns poderiam dizer que é possível que o administrador não saiba quantos carros ele vai
precisar, nem de quais serviços, tampouco quando esses produtos e serviços serão necessários.
Mas, nesse ponto, vale observar que o administrador tem o dever de planejar a sua administração,
atendendo ao princípio da anualidade orçamentária. Ou seja, o administrador tem que fazer o seu
planejamento para todo o exercício financeiro (12 meses). Assim, feito o planejamento, o
administrador deve atender àquilo que está previsto para o exercício financeiro e realizar a
modalidade correta de licitação.
Pode ser que em algum caso o administrador não queira gastar todo o dinheiro previsto para
aquele contrato relativo ao exercício financeiro de uma vez só. A saída que o administrador tem,
nessa situação, é fazer a contratação da sua necessidade imediata (no exemplo, alugar só um
carro), mas utilizando a modalidade licitatória que abarque a totalidade necessária para a
contratação (necessidade para o exercício financeiro). O administrador pode contratar parcelado e
licitar parcelado, desde que utilize a modalidade licitatória que abarque a totalidade da obra ou
serviço (no exemplo, o administrador fará 10 contratações de um carro, mas utilizando 10
concorrências). Agindo assim, não haverá fraude.
Art.23, §1o, Lei 8.666/93 - As obras, serviços e compras efetuadas pela Administração serão
divididas em tantas parcelas quantas se comprovarem técnica e economicamente viáveis,
procedendo-se à licitação com vistas ao melhor aproveitamento dos recursos disponíveis no
mercado e à ampliação da competitividade sem perda da economia de escala.
O objeto parcelado é interessante quando se fala de serviços que têm parcelas técnicas que
devem ser prestadas com especialidade própria.
Ex. Construção de uma rodovia em que é necessário fazer, primeiro, uma terraplanagem do local.
Existem empresas especializadas em terraplanagem e empresas especializadas na construção de
rodovias. Nesse caso, o objeto da obra é divisível, sendo necessária especialidade própria de cada
serviço – terraplanagem e construção da rodovia.
Então, o parcelamento depende de habilidade técnica e econômica e deve ser vantajoso para
a Administração. É claro que o parcelamento pode ter alguns benefícios, como, por exemplo, ele
pode melhorar a competição entre empresas especializadas. Além disso, ele permite a participação
de empresas de pequeno porte (estas poderão participar com relação a uma especialidade,
enquanto se fosse a obra toda, não poderiam participar). Com isso, atingem-se melhores preços
para a contratação.
O parcelamento do objeto não implica em várias licitações: é possível fazer uma licitação
parcelada: são feitas várias licitações e contratos dentro de um só procedimento. Nesse caso, a
habilitação dessas empresas deve observar o parcelamento do objeto (cada empresa se habilita
para a contratação do seu objeto).
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 90
Art. 25, Lei 8.666/93 - É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição, em
especial:
I - para aquisição de materiais, equipamentos, ou gêneros que só possam ser fornecidos por
produtor, empresa ou representante comercial exclusivo, vedada a preferência de marca,
devendo a comprovação de exclusividade ser feita através de atestado fornecido pelo órgão de
registro do comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o serviço, pelo
Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, ainda, pelas entidades equivalentes;
II - para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta Lei, de natureza
singular, com profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade
para serviços de publicidade e divulgação;
III - para contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou através de
empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública.
§ 1o Considera-se de notória especialização o profissional ou empresa cujo conceito no campo
de sua especialidade, decorrente de desempenho anterior, estudos, experiências, publicações,
organização, aparelhamento, equipe técnica, ou de outros requisitos relacionados com suas
atividades, permita inferir que o seu trabalho é essencial e indiscutivelmente o mais adequado
à plena satisfação do objeto do contrato.
§ 2o Na hipótese deste artigo e em qualquer dos casos de dispensa, se comprovado
superfaturamento, respondem solidariamente pelo dano causado à Fazenda Pública o
fornecedor ou o prestador de serviços e o agente público responsável, sem prejuízo de outras
sanções legais cabíveis.
1ª) Singularidade em caráter absoluto Quando só existe 1 objeto; a fábrica só faz um. O bem é
singular em seu caráter absoluto. Ex. feira do automóvel que apresenta um carro conceito.
2ª) Singularidade em caráter pessoal Ex. pintura, escultura, etc.
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3ª) Singularidade do objeto que participou desse evento Esse bem é singular porque
participou de um evento externo. Ex. Capacete que Ayrton Senna usou na corrida mais importante
da sua vida. A fábrica produziu vários capacetes iguais. Mas o objeto se torna singular porque
participou de um evento externo.
No que diz respeito ao serviço singular, devem estar presentes os seguintes requisitos para que a
singularidade do serviço leve à inexigibilidade de licitação:
1ª) Para que a licitação seja inexigível, o serviço deve estar na lista do art.13, da Lei 8.666/93.
Art. 13, Lei 8.666/93 - Para os fins desta Lei, consideram-se serviços técnicos profissionais especializados
os trabalhos relativos a:
I - estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou executivos;
II - pareceres, perícias e avaliações em geral;
III - assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou tributárias;
IV - fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;
V - patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;
VI - treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;
VII - restauração de obras de arte e bens de valor histórico.
§ 1o Ressalvados os casos de inexigibilidade de licitação, os contratos para a prestação de serviços
técnicos profissionais especializados deverão, preferencialmente, ser celebrados mediante a realização de
concurso, com estipulação prévia de prêmio ou remuneração.
§ 2o Aos serviços técnicos previstos neste artigo aplica-se, no que couber, o disposto no art. 111 desta Lei.
§ 3o A empresa de prestação de serviços técnicos especializados que apresente relação de integrantes de
seu corpo técnico em procedimento licitatório ou como elemento de justificação de dispensa ou
inexigibilidade de licitação, ficará obrigada a garantir que os referidos integrantes realizem pessoal e
diretamente os serviços objeto do contrato.
2ª) Ademais, a singularidade deve ser importante para a administração. Deve haver uma
singularidade relevante para o Estado.
Ex. Contratação de um advogado para resolver questões trabalhistas. Isso é um assunto
corriqueiro, que não exige um serviço singular.
Ex. Contratação de um advogado para resolver um problema com boicote da carne brasileira no
mercado externo. Nesse caso, será necessário um serviço singular e único, dada a complexidade
da questão.
3ª) Ainda, deve haver notória especialização. O mercado deve reconhecer que determinada
pessoa é boa naquele assunto. Se o mercado reconhece mais de um, quem decide, ao final, é o
administrador. Em serviço singular é inevitável a subjetividade na tomada de decisão.
Ex. para a análise da singularidade do serviço: Município contrata um advogado para resolver suas
questões diárias com inexigibilidade de licitação. Isso é possível? A primeira questão é que o procurador
do município deveria preencher um cargo público, mediante concurso público. Em segundo lugar, não
há singularidade que leve à inexigibilidade: não é necessário o serviço diferencial (qualquer advogado
resolve o problema). Ademais, não há notória especialização. Logo, a contratação foi irregular.
2) Pressuposto jurídico – A licitação deve proteger o interesse público. Se sua realização puder
prejudicar o interesse público, haverá inexigibilidade de licitação, pela falta de pressuposto jurídico. Se a
licitação prejudica o que deveria proteger, ela será inexigível.
Pergunta de Concurso: A empresa pública, na sua atividade-fim, não precisa licitar. Explique.
R: A empresa pública e a sociedade de economia mista podem prestar serviço público ou explorar
atividade econômica. Se a EP/SEM prestadora de serviço público fizer licitação que prejudica o
interesse público, deve haver inexigibilidade de licitação. A EP/SEM só pode prestar atividade
econômica por razão de segurança nacional ou interesse coletivo. E, nesse caso, ela também atuará
protegendo o interesse público. Por isso, se a licitação prejudicar a atividade-fim dessas empresas, ela
estará prejudicando o interesse público. Se a licitação prejudicar interesse público, faltará pressuposto
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jurídico (pressuposto jurídico significa que a licitação deve proteger o interesse público), o que levará,
por conseguinte, à inexigibilidade da licitação.
A licitação não tem um fim em si mesmo. Ela é um meio para a perseguição do fim.
3) Pressuposto Fático: Deve haver interesse de mercado para que haja licitação. O mercado deve
desejar o bem. Se não houver interesse de mercado falta pressuposto fático e a competição é inviável.
Atenção! A contratação direta depende de um processo, devendo ser bem fundamentada. Para
legitimar, fundamentar e justificar essa contratação, a lei prevê no seu art.26, Lei 8.666/93, um processo
de justificação. Esse processo é muito importante, pois nele o administrador demonstra que não houve
fraude, com as provas da desnecessidade da licitação.
Art. 26, Lei 8.666/93 - As dispensas previstas nos §§ 2o e 4o do art. 17 e no inciso III e
seguintes do art. 24, as situações de inexigibilidade referidas no art. 25, necessariamente
justificadas, e o retardamento previsto no final do parágrafo único do art. 8 o desta Lei deverão
ser comunicados, dentro de 3 (três) dias, à autoridade superior, para ratificação e publicação
na imprensa oficial, no prazo de 5 (cinco) dias, como condição para a eficácia dos atos.
(Redação dada pela Lei nº 11.107, de 2005)
Parágrafo único. O processo de dispensa, de inexigibilidade ou de retardamento, previsto neste
artigo, será instruído, no que couber, com os seguintes elementos:
I - caracterização da situação emergencial ou calamitosa que justifique a dispensa, quando for
o caso;
II - razão da escolha do fornecedor ou executante;
III - justificativa do preço.
IV - documento de aprovação dos projetos de pesquisa aos quais os bens serão alocados.
8) Procedimento de Licitação:
O primeiro passo do processo de licitação com a fase interna. O processo licitatório começa com
a fase interna, em que é formalizado o processo. Essa fase é composta pelos seguintes subatos:
Obs: Se, num contrato de obra pública, por exemplo, fala-se que a obra não está sendo continuada
porque acabaram os recursos, existem três possibilidades de fraude: ou o administrador desviou o
dinheiro destinado para a obra, ou deixou de arrecadar a verba que seria destinada a essa obra. Há,
ainda, uma fraude pior ainda: o administrador mente na lei orçamentária, prevendo um orçamento que
sabia que não iria entrar (ele faz um contrato com base num dinheiro que ele sabe que não vai existir).
Ex. prefeito que inventou uma execução fiscal para criar crédito orçamentário e celebrar contrato com
este crédito que nunca existiu (diversas execuções em nome de Odarongi da Silva). Isso é falsidade
ideológica; é mentir no orçamento; caracteriza fraude e improbidade administrativa.
Passa-se, então, à fase externa da licitação, que começa com a publicação do edital, que tem os
requisitos no art.21, da Lei 8.666/93.
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AULA 13 – 11/06/12
Publicação do Edital.
A publicação deve atender aos requisitos do art.21, Lei 8.666/93. Haverá publicação do edital por
duas vezes no Diário Oficial e uma vez em jornal de grande circulação.
Art. 21, Lei 8.666/93 - Os avisos contendo os resumos dos editais das concorrências, das
tomadas de preços, dos concursos e dos leilões, embora realizados no local da repartição
interessada, deverão ser publicados com antecedência, no mínimo, por uma vez: (Redação
dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
I - no Diário Oficial da União, quando se tratar de licitação feita por órgão ou entidade da
Administração Pública Federal e, ainda, quando se tratar de obras financiadas parcial ou
totalmente com recursos federais ou garantidas por instituições federais; (Redação dada pela
Lei nº 8.883, de 1994)
II - no Diário Oficial do Estado, ou do Distrito Federal quando se tratar, respectivamente, de
licitação feita por órgão ou entidade da Administração Pública Estadual ou Municipal, ou do
Distrito Federal; (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
III - em jornal diário de grande circulação no Estado e também, se houver, em jornal de
circulação no Município ou na região onde será realizada a obra, prestado o serviço, fornecido,
alienado ou alugado o bem, podendo ainda a Administração, conforme o vulto da licitação,
utilizar-se de outros meios de divulgação para ampliar a área de competição. (Redação dada
pela Lei nº 8.883, de 1994)
§ 1o O aviso publicado conterá a indicação do local em que os interessados poderão ler e obter
o texto integral do edital e todas as informações sobre a licitação.
Impugnação ao edital.
O licitante interessado pode apresentar impugnação ao edital, desde que atendidos os requisitos
no art.41, da Lei 8.666/93. Qualquer cidadão – ou seja, pessoa que está no gozo dos seus direitos
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políticos – pode impugnar o edital. Então, não é qualquer pessoa que pode fazer a impugnação; é
qualquer cidadão!
O prazo para impugnação é até o 5º dia útil anterior à data marcada para a entrega dos
envelopes. A Comissão de Licitação tem 3 dias úteis para fazer o julgamento da impugnação.
Art. 41, Lei 8.666/93 - A Administração não pode descumprir as normas e condições do edital,
ao qual se acha estritamente vinculada.
§ 1o Qualquer cidadão é parte legítima para impugnar edital de licitação por irregularidade na
aplicação desta Lei, devendo protocolar o pedido até 5 (cinco) dias úteis antes da data fixada
para a abertura dos envelopes de habilitação, devendo a Administração julgar e responder à
impugnação em até 3 (três) dias úteis, sem prejuízo da faculdade prevista no § 1 o do art. 113.
O potencial licitante (aquele que tem interesse em participar da licitação) também pode
impugnar o edital. Nesse caso, o potencial licitante tem até o 2º dia útil anterior ao da entrega
dos envelopes para fazer a impugnação.
O licitante que não impugna o edital não pode, depois, contestá-lo, em nenhuma das
fases do certame (nem mesmo através de recurso). Finda-se a possibilidade de ele questionar
administrativamente o edital. Ele decairá do direito de impugnar. O direito de impugnar o edital
compreende uma impugnação geral, de modo que, neste momento, o licitante deve arguir tudo
que entende cabível.
Pode até ser que o licitante, depois, entre em juízo para impugnar esse edital, mas não
será na via administrativa. Cuidado! No caso em que há impugnação judicial ao edital, a
comissão de licitação não tem prazo para julgar a impugnação. Mas, o ideal é que a Comissão
decida o quanto antes, pois se houver alguma falha no edital, quanto mais cedo for sanado o
vício melhor.
Art. 41, §2o Decairá do direito de impugnar os termos do edital de licitação perante a
administração o licitante que não o fizer até o segundo dia útil que anteceder a abertura dos
envelopes de habilitação em concorrência, a abertura dos envelopes com as propostas em
convite, tomada de preços ou concurso, ou a realização de leilão, as falhas ou irregularidades
que viciariam esse edital, hipótese em que tal comunicação não terá efeito de recurso.
(Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
A impugnação não tem natureza de recurso administrativo e, por conseguinte, não tem
efeito suspensivo. Então, apresentada a impugnação, o processo continua.
Art. 41, §3o A impugnação feita tempestivamente pelo licitante não o impedirá de participar do
processo licitatório até o trânsito em julgado da decisão a ela pertinente.
Art. 41, §4o A inabilitação do licitante importa preclusão do seu direito de participar das fases
subseqüentes.
Art. 21, §4º, Lei 8.666/93 - Qualquer modificação no edital exige divulgação pela mesma forma
que se deu o texto original, reabrindo-se o prazo inicialmente estabelecido, exceto quando,
inquestionável-mente, a alteração não afetar a formulação das propostas.
Toda alteração deve ocorrer através de aditamento, que deve, em seguida, ser publicado
(publicação somente da parte aditada). A publicação do aditamento segue as mesmas regras da
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publicação do edital. Publica-se duas vezes no diário oficial e uma vez em jornal de grande circulação.
Se a alteração do edital criar uma obrigação nova ou retirar uma obrigação do contrato,
deve-se reabrir o prazo de intervalo mínimo do edital. Isto porque, pode ser que alguma
empresa que antes não poderia participar da licitação, agora, com a alteração do edital, possa.
Ou pode ser que alguma empresa precise providenciar algum documento ou obrigação que
antes não era exigida (e precisará de um prazo para isso).
Art. 43, §2o, Lei 8.666/93 - Todos os documentos e propostas serão rubricados pelos licitantes
presentes e pela Comissão.
Diante da possibilidade da confusão que isso poderia gerar (ex. se existem 100 licitantes
presentes, todos teriam que assinar todos os envelopes), a jurisprudência entende que podem ser
escolhidos 3 licitantes para assinar os envelopes.
Art. 27, Lei 8.666/93 - Para a habilitação nas licitações exigir-se-á dos interessados,
exclusivamente, documentação relativa a:
I - habilitação jurídica;
II - qualificação técnica;
III - qualificação econômico-financeira;
IV – regularidade fiscal e trabalhista; (Redação dada pela Lei nº 12.440, de 2011)
V – cumprimento do disposto no inciso XXXIII do art. 7o da CF.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 96
Os artigos 28 a 31 trazem a lista de documentos que comprovam a qualificação técnica, a
habilitação jurídica, as regularidades fiscal e trabalhista, e a ausência de trabalho de menores.
Esses artigos não precisam ser decorados (a mera leitura é suficiente).
Verificados os documentos dos licitantes, se todos eles forem inabilitados, será utilizada a
diligência do art.48, §3º, da Lei 8.666/93: suspender-se-á a licitação e conferir-se-á um prazo
para que os licitantes complementem os documentos apresentados.
Art. 48, §3º, Lei 8.666/93 - Quando todos os licitantes forem inabilitados ou todas as propostas
forem desclassificadas, a administração poderá fixar aos licitantes o prazo de oito dias úteis
para a apresentação de nova documentação ou de outras propostas escoimadas das causas
referidas neste artigo, facultada, no caso de convite, a redução deste prazo para três dias úteis.
Art. 109, Lei 8.666/93 - Dos atos da Administração decorrentes da aplicação desta Lei cabem:
I - recurso, no prazo de 5 dias úteis a contar da intimação do ato ou da lavratura da ata, nos
casos de habilitação ou inabilitação do licitante;
(...)
§6º Em se tratando de licitações efetuadas na modalidade de "carta convite" os prazos
estabelecidos nos incisos I e II e no parágrafo 3º deste artigo serão de dois dias úteis.
O recurso da habilitação deve ser apresentado no prazo de 5 dias úteis, salvo no caso do
convite, em que o prazo é de 2 dias úteis. Esse recurso terá efeito suspensivo, fugindo à regra
dos recursos na licitação.
Art. 3º, §2º, Lei 8.666/93 - Em igualdade de condições, como critério de desempate, será
assegurada preferência, sucessivamente, aos bens e serviços:
I - (Revogado pela Lei nº 12.349, de 2010)
II - produzidos no País;
III - produzidos ou prestados por empresas brasileiras.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 97
IV - produzidos ou prestados por empresas que invistam em pesquisa e no desenvolvimento de
tecnologia no País. (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005)
Se o empate persistir, será feito um sorteio, conforme art. 45, §2º, da Lei. O procedimento
de sorteio deve ser escrito e detalhado em ata (ex. par ou ímpar, cara ou coroa, etc).
Art. 45, §2o, Lei 8.666/93 - No caso de empate entre duas ou mais propostas, e após
obedecido o disposto no § 2 o do art. 3o desta Lei, a classificação se fará, obrigatoriamente, por
sorteio, em ato público, para o qual todos os licitantes serão convocados, vedado qualquer
outro processo.
Nova classificação.
Essa segunda classificação consiste somente em colocar os licitantes em ordem de
classificação (ex. 1º colocado, 2º colocado, 3º colocado e assim sucessivamente).
Atenção! Se todos os licitantes forem desclassificados, deve-se novamente tentar a
diligência do art.48, §3º, Lei (suspensão da licitação, com concessão de prazo para os licitantes
corrigirem suas propostas. O prazo aqui também é de 8 dias para concorrência e tomada de
preços e 3 dias para o convite).
Se todos os licitantes continuarem desclassificados, haverá licitação fracassada, caso em
que a Administração poderá proceder à contratação direta!!! Trata-se de hipótese de dispensa
de licitação, prevista no art. 24, da Lei 8.666/93.
Obs: Licitação fracassada é diferente de licitação deserta!!! Embora as duas hipóteses levem à
dispensa de licitação, seus conceitos não se confundem!
Recurso.
Julgada a habilitação, abre-se prazo para recurso, nos termos do art.109, da Lei. Esse
recurso tem prazo de 5 dias úteis, no caso de concorrência ou tomada de preços, e prazo de 2
dias úteis para o convite. Esse recurso também tem efeito suspensivo.
Homologação da Licitação.
Homologação é a verificação de regularidade do processo licitatório. Se houver alguma
ilegalidade, a licitação será anulada.
Quem faz a homologação da licitação é a autoridade superior (chefe), que nomeou a
comissão julgadora da licitação e deu início ao processo, autorizando a deflagração do
certame.
É o chefe que irá conferir se tudo está correto.
Adjudicação.
A adjudicação é o resultado oficial da licitação. Declara-se o vencedor.
É importante destacar que o vencedor não tem direito adquirido de assinar o contrato. Ele
tem mera expectativa de direito. Se o Estado quiser contratar, terá que fazê-lo com o licitante
vencedor. Mas não há direito subjetivo à contratação (a Administração não está obrigada a
assinar o contrato). A garantia do licitante vencedor é a certeza de que ele não será preterido.
Se, por outro lado, chamado a assinar o contrato, o licitante vencedor está obrigado a
assinar. O licitante vencedor está vinculado à sua proposta e, como tal, se ele não quiser de
modo algum assinar o contrato, será penalizado.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 98
Fala-se, aqui, das penalidades do art.87, da Lei 8.666/93:
Art. 87, Lei 8.666/93 - Pela inexecução total ou parcial do contrato a Administração poderá,
garantida a prévia defesa, aplicar ao contratado as seguintes sanções:
I - advertência;
II - multa, na forma prevista no instrumento convocatório ou no contrato;
III - suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de contratar com a
Administração, por prazo não superior a 2 (dois) anos;
IV - declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração Pública enquanto
perdurarem os motivos determinantes da punição ou até que seja promovida a reabilitação
perante a própria autoridade que aplicou a penalidade, que será concedida sempre que o
contratado ressarcir a Administração pelos prejuízos resultantes e após decorrido o prazo da
sanção aplicada com base no inciso anterior.
Art. 64, §3o, Lei 8.666/93 - Decorridos 60 (sessenta) dias da data da entrega das propostas,
sem convocação para a contratação, ficam os licitantes liberados dos compromissos
assumidos.
Se o primeiro colocado é chamado a assinar o contrato, mas não quiser assinar, ser-lhe-á
aplicada penalidade administrativa e será chamado a contratar o segundo colocado (ou os
seguintes).
Mas é importante observar que, nesse caso, os demais colocados serão chamados na
proposta feita pelo primeiro colocado. Ressalta-se, ainda, que, nesta hipótese, os demais
colocados não são obrigados a celebrar o contrato cobrindo a proposta do primeiro colocado
na licitação.
No caso dos licitantes seguintes não quiserem contratar, deverá ser feita nova licitação.
O procedimento do pregão é invertido. Ele tem algumas peculiaridades, mas a sua base é
a mesma.
Ele segue as seguintes fases:
Formalização do processo.
Publicação do edital.
Recebimento dos envelopes.
Aqui, são 2 envelopes: um com a proposta e outro com as documentações do licitante.
A partir desse momento, haverá a inversão do procedimento.
Aqui, primeiramente, são verificadas as propostas para, depois, serem analisados os
documentos. Só serão analisados os documentos da proposta vencedora. Isso conferirá maior
celeridade ao certame. Então, haverá classificação e julgamento das propostas antes da
habilitação.
Classificação e julgamento das propostas.
Essa etapa se subdivide em duas:
(1) Propostas escritas:
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Primeiramente, serão feitas as propostas escritas, ou seja, aquelas que vieram nos
envelopes. Nas propostas escritas, serão selecionadas: a melhor proposta e todas as demais
propostas que não excedam a 10% da melhor proposta.
Ex. Suponha-se que num pregão existem as seguintes propostas:
A = R$1,00; E = R$1,09;
B = R$1,01; F = R$1,15;
C = R$1,05; G = R$1,20;
D = R$1,08;
Serão escolhidas: a melhor proposta (A); e todas as propostas que não excedam a 10%
da melhor proposta (B, C, D, E).
Obs: Se não houver pelo menos três licitantes entre os que excedam 10% da melhor proposta,
esquece-se essa regra e escolhe-se a melhor proposta mais três outras melhores propostas.
Ex. Suponha-se que num pregão existem as seguintes propostas:
A = R$1,00; E = R$1,45;
B = R$1,01; F = R$1,15;
C = R$1,18; G = R$1,20;
D = R$1,40;
Só o licitante B possui proposta que excede em 10% da melhor proposta. Serão
escolhidas, então, a melhor proposta (A) e as outras três melhores propostas (B, F, C).
Habilitação.
Só serão analisados os documentos de habilitação da proposta vencedora.
Do julgamento da habilitação, abre-se a oportunidade de recurso.
O recurso deve ser apresentado na hora. As razões, contudo, podem ser apresentadas
em 3 dias.
Adjudicação.
A autoridade superior, neste momento, homologa e adjudica o objeto de uma vez só.
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CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
1) Conceito:
b) Contrato Formal – O contrato administrativo possui diversas formalidades previstas pela lei
(ex. tem que ser por escrito, deve ser publicado, etc).
f) Contrato por adesão – No contrato por adesão, uma das partes possui o monopólio da
situação. Não há discussão ou debate das cláusulas contratuais. No contrato administrativo,
o edital tem como parte anexa a minuta do contrato. Se o licitante quiser contratar, ele tem
que aceitar o edital e o contrato.
Art.60, p.ú., Lei 8.666/93 - É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com a Administração,
salvo o de pequenas compras de pronto pagamento, assim entendidas aquelas de valor não
superior a 5% (cinco por cento) do limite estabelecido no art. 23, inciso II, alínea "a" desta Lei,
feitas em regime de adiantamento.
Art. 61, Parágrafo único, Lei 8.666/03 - A publicação resumida do instrumento de contrato ou
de seus aditamentos na imprensa oficial, que é condição indispensável para sua eficácia, será
providenciada pela Administração até o quinto dia útil do mês seguinte ao de sua assinatura,
para ocorrer no prazo de vinte dias daquela data, qualquer que seja o seu valor, ainda que sem
ônus, ressalvado o disposto no art. 26 desta Lei.
d) Instrumento de Contrato (**Cai muito em concurso**) – O artigo 62, da Lei 8.666/93 diz que
o instrumento de contrato (aquele que estabelece as regras que detalham a relação
contratual) será obrigatório em algumas circunstâncias e facultativo em outras.
O instrumento de contrato será obrigatório quando o valor do contrato for correspondente
à licitação de concorrência ou tomada de preços. Então, o que interessa é o valor, mesmo
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que a licitação seja dispensável ou inexigível. Se o valor do contrato corresponde à
concorrência ou à tomada de preços, será necessário o instrumento de contrato.
Por outro lado, o instrumento de contrato será facultativo quando o valor do contrato for
correspondente à modalidade convite, desde que seja possível realizá-lo de outra maneira.
Nesse ponto, há, então, dois requisitos: valor do convite e possibilidade de fazer a
formalização do contrato de outra maneira (como, p.ex., através de atos administrativos
simples, e não por meio do instrumento de contrato, que é um instrumento mais complexo).
Ex. A lei autoriza que o contrato, nesse caso, seja feito por carta-contrato, nota de empenho
ou ordem de serviço.
Art. 55, Lei 8.666/93 - São cláusulas necessárias em todo contrato as que estabeleçam:
I - o objeto e seus elementos característicos;
II - o regime de execução ou a forma de fornecimento;
III - o preço e as condições de pagamento, os critérios, data-base e periodicidade do
reajustamento de preços, os critérios de atualização monetária entre a data do adimplemento
das obrigações e a do efetivo pagamento;
IV - os prazos de início de etapas de execução, de conclusão, de entrega, de observação e de
recebimento definitivo, conforme o caso;
V - o crédito pelo qual correrá a despesa, com a indicação da classificação funcional
programática e da categoria econômica;
VI - as garantias oferecidas para assegurar sua plena execução, quando exigidas;
VII - os direitos e as responsabilidades das partes, as penalidades cabíveis e os valores das
multas;
VIII - os casos de rescisão;
IX - o reconhecimento dos direitos da Administração, em caso de rescisão administrativa
prevista no art. 77 desta Lei;
X - as condições de importação, a data e a taxa de câmbio para conversão, quando for o caso;
XI - a vinculação ao edital de licitação ou ao termo que a dispensou ou a inexigiu, ao convite e
à proposta do licitante vencedor;
XII - a legislação aplicável à execução do contrato e especialmente aos casos omissos;
XIII - a obrigação do contratado de manter, durante toda a execução do contrato, em
compatibilidade com as obrigações por ele assumidas, todas as condições de habilitação e
qualificação exigidas na licitação.
Com relação a essas cláusulas, não é necessário decorar todas. Duas muito importantes
são: garantias e prazo de duração do contrato.
Com relação à forma de prestação da garantia, esta é uma escolha do contratado. Mas
a lei traz algumas alternativas: caução em dinheiro (depósito em dinheiro), títulos da dívida
pública (TDP), fiança bancária (garantia fidejussória prestada por um banco), seguro-
garantia (são aquelas situações em que se faz um contrato de seguro do contrato, para que,
se a empresa não cumprir o contrato, a seguradora cumpre).
A garantia tem um percentual estabelecido pela lei. Ou seja, será de até 5% do valor do
contrato (Não é 5%! É até 5%!!).
Excepcionalmente, essa garantia poderá chegar a até 10%, se o contrato for de alta
complexidade, com altos riscos financeiros para o Estado ou contrato de grande vulto. (Não
é 10%! É até 10%!!).
§2o A garantia a que se refere o caput deste artigo não excederá a cinco por cento do valor
do contrato e terá seu valor atualizado nas mesmas condições daquele, ressalvado o
previsto no parágrafo 3o deste artigo.
§3o Para obras, serviços e fornecimentos de grande vulto envolvendo alta complexidade
técnica e riscos financeiros consideráveis, demonstrados através de parecer tecnicamente
aprovado pela autoridade competente, o limite de garantia previsto no parágrafo anterior
poderá ser elevado para até dez por cento do valor do contrato.
§4o A garantia prestada pelo contratado será liberada ou restituída após a execução do
contrato e, quando em dinheiro, atualizada monetariamente.
§5o Nos casos de contratos que importem na entrega de bens pela Administração, dos quais
o contratado ficará depositário, ao valor da garantia deverá ser acrescido o valor desses
bens.
Esse prazo determinado deve ser o prazo do crédito orçamentário (prazo da lei
orçamentária prevista pelo exercício financeiro – 12 meses).
Mas, a própria lei 8.666/93, em seu próprio artigo 57, possui algumas exceções, em
que o contrato poderá ter o prazo maior do que o crédito orçamentário. São as seguintes
hipóteses:
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(1) Se o objeto do contrato administrativo estiver previsto no plano plurianual, a
duração do contrato poderá ser até 4 anos.
Obs: No PPA se definem as ações de governo durante 4 anos. Com base no PPA, a
LDO divide o que será feito em cada um desses 4 anos. Depois, faz-se a LOA, com
a previsão de recursos de cada ano.
(2) Nos contratos de prestação contínua (ex. serviços gerais, que se repetem
todos os dias), pelo fato de quanto maior ser o prazo melhor ser o preço, a
contratação poderá ser de até 60 meses (5 anos). Mas isto, desde que a condição
de desconto pelo maior prazo esteja presente. Este contrato, em caso de
excepcional interesse público, poderá ter mais uma prorrogação de 12 meses.
(3) Os contratos de aluguel de equipamentos e programas de informática podem
atingir até 48 meses.
(4) Exceção inserida pela Lei 12.349/10 – Essa lei diz que alguns contratos
podem durar até 120 meses (10 anos). Esses contratos são alguns contratos que
estão previstos no art.24, da Lei (contratos estes em que há dispensa de licitação).
São contratos como, por exemplo, contratos de forças armadas.
Ex. Art. 24, IX, XIX, XXVIII, XXXI.
Art. 57, Lei 8.666/93 - A duração dos contratos regidos por esta Lei ficará adstrita à
vigência dos respectivos créditos orçamentários, exceto quanto aos relativos:
I - aos projetos cujos produtos estejam contemplados nas metas estabelecidas no
Plano Plurianual, os quais poderão ser prorrogados se houver interesse da
Administração e desde que isso tenha sido previsto no ato convocatório;
II - à prestação de serviços a serem executados de forma contínua, que poderão ter
a sua duração prorrogada por iguais e sucessivos períodos com vistas à obtenção
de preços e condições mais vantajosas para a administração, limitada a sessenta
meses;
IV - ao aluguel de equipamentos e à utilização de programas de informática,
podendo a duração estender-se pelo prazo de até 48 (quarenta e oito) meses após o
início da vigência do contrato.
V - às hipóteses previstas nos incisos IX, XIX, XXVIII e XXXI do art. 24, cujos
contratos poderão ter vigência por até 120 (cento e vinte) meses, caso haja
interesse da administração. (Incluído pela Lei nº 12.349, de 2010)
(5) Fora do art.57, Lei 8.666/93 e da própria Lei de Licitações, existem dois
contratos que podem ter prazo maior de um ano. Tratam-se dos contratos de
concessão e permissão de serviços públicos, em que o prazo de duração do
contrato dependerá da lei específica do serviço (pode variar de 5 até 35 anos de
concessão/ permissão).
(6) Não estando prevista na Lei 8.666/93, esta exceção decorre de uma
interpretação da Lei de Responsabilidade Fiscal. Esta hipótese se dá no caso em
que o Estado não tem que pagar pelo contrato – contrato sem desembolso pela
administração –, quando o contrato, embora deva ter prazo determinado, não
precisará respeitar o prazo de 1 ano do credito orçamentário.
Ex. Estado conferiu a um particular a utilização de um bem público (ex. concessão
de uso de uma cantina de universidade). É feito um contrato de concessão de uso
de bem público. Nesse contrato, o Estado não paga, mas recebe. Então, se não há
desembolso do Estado, ele não precisa se amarrar com a lei orçamentária.
Art. 57, §1o, Lei 8.666/93 - Os prazos de início de etapas de execução, de conclusão e de
entrega admitem prorrogação, mantidas as demais cláusulas do contrato e assegurada a
manutenção de seu equilíbrio econômico-financeiro, desde que ocorra algum dos seguintes
motivos, devidamente autuados em processo:
I - alteração do projeto ou especificações, pela Administração;
II - superveniência de fato excepcional ou imprevisível, estranho à vontade das partes, que
altere fundamentalmente as condições de execução do contrato;
III - interrupção da execução do contrato ou diminuição do ritmo de trabalho por ordem e no
interesse da Administração;
IV - aumento das quantidades inicialmente previstas no contrato, nos limites permitidos por
esta Lei;
V - impedimento de execução do contrato por fato ou ato de terceiro reconhecido pela
Administração em documento contemporâneo à sua ocorrência;
VI - omissão ou atraso de providências a cargo da Administração, inclusive quanto aos
pagamentos previstos de que resulte, diretamente, impedimento ou retardamento na
execução do contrato, sem prejuízo das sanções legais aplicáveis aos responsáveis.
§2o Toda prorrogação de prazo deverá ser justificada por escrito e previamente autorizada
pela autoridade competente para celebrar o contrato.
Art. 58, Lei 8.666/93 - O regime jurídico dos contratos administrativos instituído por esta Lei
confere à Administração, em relação a eles, a prerrogativa de:
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I - modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades de interesse público,
respeitados os direitos do contratado;
II - rescindi-los, unilateralmente, nos casos especificados no inciso I do art. 79 desta Lei;
III - fiscalizar-lhes a execução;
IV - aplicar sanções motivadas pela inexecução total ou parcial do ajuste;
V - nos casos de serviços essenciais, ocupar provisoriamente bens móveis, imóveis, pessoal e
serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da necessidade de acautelar apuração
administrativa de faltas contratuais pelo contratado, bem como na hipótese de rescisão do
contrato administrativo.
§ 1o As cláusulas econômico-financeiras e monetárias dos contratos administrativos não
poderão ser alteradas sem prévia concordância do contratado.
§ 2o Na hipótese do inciso I deste artigo, as cláusulas econômico-financeiras do contrato
deverão ser revistas para que se mantenha o equilíbrio contratual.
a) Fiscalização do contrato pela Administração – A administração, aqui, não só pode, mas deve
fiscalizar o contrato, conforme art.67, da Lei. Inclusive, a administração pode fazer intervenção
na empresa.
Art. 67, Lei 8.666/93 - A execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada por um
representante da Administração especialmente designado, permitida a contratação de terceiros
para assisti-lo e subsidiá-lo de informações pertinentes a essa atribuição.
§1º O representante da Administração anotará em registro próprio todas as ocorrências
relacionadas com a execução do contrato, determinando o que for necessário à regularização
das faltas ou defeitos observados.
§2º As decisões e providências que ultrapassarem a competência do representante deverão
ser solicitadas a seus superiores em tempo hábil para a adoção das medidas convenientes.
Advertência;
Multa – Conforme previsão contratual;
Suspensão de contratar com o poder público – Pelo prazo máximo de até 2 anos – pena
está que só se aplica para o ente que aplicou a penalidade administrativa;
Declaração de inidoneidade – Penalidade que impede a empresa de contratar com todo e
qualquer ente da administração, salvo quando essa empresa for reabilitada, após o prazo
de até 2 anos e mediante indenização de prejuízos.
Art. 87, Lei 8.666/93 - Pela inexecução total ou parcial do contrato a Administração poderá,
garantida a prévia defesa, aplicar ao contratado as seguintes sanções:
I - advertência;
II - multa, na forma prevista no instrumento convocatório ou no contrato;
III - suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de contratar com a
Administração, por prazo não superior a 2 (dois) anos;
IV - declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração Pública enquanto
perdurarem os motivos determinantes da punição ou até que seja promovida a reabilitação
perante a própria autoridade que aplicou a penalidade, que será concedida sempre que o
contratado ressarcir a Administração pelos prejuízos resultantes e após decorrido o prazo da
sanção aplicada com base no inciso anterior.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 107
§1º Se a multa aplicada for superior ao valor da garantia prestada, além da perda desta,
responderá o contratado pela sua diferença, que será descontada dos pagamentos
eventualmente devidos pela Administração ou cobrada judicialmente.
§2º As sanções previstas nos incisos I, III e IV deste artigo poderão ser aplicadas juntamente
com a do inciso II, facultada a defesa prévia do interessado, no respectivo processo, no prazo
de 5 (cinco) dias úteis.
§3º A sanção estabelecida no inciso IV deste artigo é de competência exclusiva do Ministro de
Estado, do Secretário Estadual ou Municipal, conforme o caso, facultada a defesa do
interessado no respectivo processo, no prazo de 10 (dez) dias da abertura de vista, podendo a
reabilitação ser requerida após 2 (dois) anos de sua aplicação. (Vide art 109 inciso III)
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AULA 14 – 22/06/12
Art. 65, Lei 8.666/93 - Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados, com as
devidas justificativas, nos seguintes casos:
I - unilateralmente pela Administração:
a) quando houver modificação do projeto ou das especificações, para melhor adequação
técnica aos seus objetivos;
b) quando necessária a modificação do valor contratual em decorrência de acréscimo ou
diminuição quantitativa de seu objeto, nos limites permitidos por esta Lei;
II - por acordo das partes:
a) quando conveniente a substituição da garantia de execução;
b) quando necessária a modificação do regime de execução da obra ou serviço, bem como
do modo de fornecimento, em face de verificação técnica da inaplicabilidade dos termos
contratuais originários;
c) quando necessária a modificação da forma de pagamento, por imposição de
circunstâncias supervenientes, mantido o valor inicial atualizado, vedada a antecipação do
pagamento, com relação ao cronograma financeiro fixado, sem a correspondente
contraprestação de fornecimento de bens ou execução de obra ou serviço;
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 108
d) para restabelecer a relação que as partes pactuaram inicialmente entre os encargos do
contratado e a retribuição da administração para a justa remuneração da obra, serviço ou
fornecimento, objetivando a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro inicial do
contrato, na hipótese de sobrevirem fatos imprevisíveis, ou previsíveis porém de
conseqüências incalculáveis, retardadores ou impeditivos da execução do ajustado, ou,
ainda, em caso de força maior, caso fortuito ou fato do príncipe, configurando álea
econômica extraordinária e extracontratual. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
§ 1o O contratado fica obrigado a aceitar, nas mesmas condições contratuais, os acréscimos
ou supressões que se fizerem nas obras, serviços ou compras, até 25% (vinte e cinco por
cento) do valor inicial atualizado do contrato, e, no caso particular de reforma de edifício ou
de equipamento, até o limite de 50% (cinqüenta por cento) para os seus acréscimos.
§ 2o Nenhum acréscimo ou supressão poderá exceder os limites estabelecidos no parágrafo
anterior, salvo: (Redação dada pela Lei nº 9.648, de 1998)
I - (VETADO) (Incluído pela Lei nº 9.648, de 1998)
II - as supressões resultantes de acordo celebrado entre os contratantes. (Incluído pela Lei nº
9.648/98)
§ 3o Se no contrato não houverem sido contemplados preços unitários para obras ou
serviços, esses serão fixados mediante acordo entre as partes, respeitados os limites
estabelecidos no § 1o deste artigo.
§ 4o No caso de supressão de obras, bens ou serviços, se o contratado já houver adquirido
os materiais e posto no local dos trabalhos, estes deverão ser pagos pela Administração
pelos custos de aquisição regularmente comprovados e monetariamente corrigidos,
podendo caber indenização por outros danos eventualmente decorrentes da supressão,
desde que regularmente comprovados.
§ 5o Quaisquer tributos ou encargos legais criados, alterados ou extintos, bem como a
superveniência de disposições legais, quando ocorridas após a data da apresentação da
proposta, de comprovada repercussão nos preços contratados, implicarão a revisão destes
para mais ou para menos, conforme o caso.
§ 6o Em havendo alteração unilateral do contrato que aumente os encargos do contratado, a
Administração deverá restabelecer, por aditamento, o equilíbrio econômico-financeiro inicial.
§ 7o (VETADO)
§ 8o A variação do valor contratual para fazer face ao reajuste de preços previsto no próprio
contrato, as atualizações, compensações ou penalizações financeiras decorrentes das
condições de pagamento nele previstas, bem como o empenho de dotações orçamentárias
suplementares até o limite do seu valor corrigido, não caracterizam alteração do mesmo,
podendo ser registrados por simples apostila, dispensando a celebração de aditamento.
a) Conclusão do Objeto;
b) Advento do termo contratual (venceu o prazo);
c) Rescisão administrativa: Essa rescisão é feita pela administração de forma unilateral e
caracteriza cláusula exorbitante, podendo ocorrer por duas razões: interesse público (caso em
que a Administração terá que indenizar a contratada) e descumprimento de cláusula contratual
por parte do contratado (hipótese em que a empresa indeniza a Administração Pública).
d) Rescisão consensual (amigável) – Essa rescisão decorre de acordo entre a administração e
o contratado.
e) Rescisão judicial – Ocorre nas hipóteses em que o contratado não quer mais cumprir o
contrato. Por não poder rescindir unilateralmente o contrato, se não mais quiser o negócio, terá
de buscar a via judicial.
f) Rescisão de pleno direito – Ocorre por circunstâncias estranhas à vontade das partes.
Ex. falecimento, incapacidade civil, etc.
g) Anulação – Ocorre porque houve a prática de um ato ilegal.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 111
SERVIÇOS PÚBLICOS
Não existe uma lista de serviços públicos. O serviço público muda de acordo com o
contexto social e com o momento histórico vivido pela sociedade.
Ex. Há 150 anos, havia o serviço de bonde; energia elétrica e telefonia móvel não eram
serviços públicos.
O serviço público representa uma necessidade da coletividade em geral. Só será serviço
público aquilo que é necessidade coletiva.
Ex. Serviço de rádio amador no Brasil. Trata-se de um pequeno grupo de pessoas que utiliza
esse serviço. Logo, o Estado não irá assumi-lo como serviço público.
Serviço público é uma necessidade ou utilidade material, prestada com o objetivo de
satisfazer a coletividade em geral. O Estado o assume como dever, ou seja, como sua
obrigação. O Estado pode prestar o serviço com a sua própria máquina (com sua estrutura) ou
contratar alguém para fazer isso. Assim, a prestação pode ser feita de forma direta ou indireta:
Se o Estado presta o serviço diretamente, o regime jurídico será totalmente público. Mas, se o
Estado presta o serviço de forma indireta, o regime jurídico será parcialmente público.
A doutrina é bastante divergente no que diz respeito a esse ponto. A doutrina majoritária
utiliza como base o art. 6º, da Lei 8.987/95 para definir quais são os princípios que regem os
serviços públicos.
adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas
pertinentes e no respectivo contrato.
§ 1 Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência,
o
Obs: Sobre esse ponto, direito de greve, direito de corte do serviço público em caso de
inadimplemento – vide início do caderno;
Vide art.6º, §3º, Lei 8.987/95 (Lei de Concessão e Permissão de Serviços Públicos): “Não se caracteriza como
descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência (ex. Situação das chuvas em minas
gerais) ou após o prévio aviso, quando:
I – motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações;
II – por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.”
Atenção! No caso do usuário inadimplente, é possível o corte de serviço, mesmo se o serviço for essencial? Sim.
Na jurisprudência, existiam duas correntes. A corrente minoritária defendia a tese do CDC, de que não se podia
deixar o consumidor em situação vexatória (art.42 e 28, do CDC). De outro lado, a posição maciçamente
majoritária entende que pode-se sim cortar o serviço. Se a prestadora for obrigada a prestar o serviço a todos os
usuários, inclusive a todos os que não pagam, a empresa irá quebrar e a coletividade será prejudicada. Então, em
nome da coletividade o serviço poderá ser cortado. Ademais, se a empresa for obrigada a prestar o serviço a
quem não paga, ela irá quebrar, comprometendo, também, a própria continuidade do serviço. É importante ver,
ainda, que, pela isonomia, quem paga e quem não paga devem ter tratamento desigual, pois eles estão em
situações desiguais.
Portanto, o corte é possível com os seguintes fundamentos: (1) supremacia do interesse público; (2)
continuidade do serviço público e (3) isonomia.
A jurisprudência admite algumas exceções em que o serviço é mantido, apesar da inadimplência. Ex.
Pessoa que não está pagando energia, mas está muito doente e precisa do serviço para manter seus aparelhos;
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 113
hospital com vários doentes não paga a conta.
Atenção! Se o usuário não pagador for o Estado, é possível cortar o serviço? Segundo a jurisprudência, é
possível sim o corte, salvo algumas situações: hospitais públicos, logradouros públicos, etc.
a) Serviços Próprios ou propriamente ditos: São os serviços essenciais, que não admitem
delegação.
Ex. segurança pública.
b) Serviços Impróprios ou utilidade pública: São os serviços não essenciais, que admitem
delegação. Ex. Telefonia, transporte coletivo.
Essa classificação ficou prejudicada, pois Hely Lopes faleceu antes da reforma do Estado.
À sua época, os serviços que hoje são considerados essenciais (ex. telefonia, transporte) não o
eram. Ademais, alguns serviços que não eram considerados essenciais (mas hoje o são), hoje
já foram delegados. Então, essa classificação não é mais compatível com o atual contexto.
Para o concurso, deve-se guardar somente o conceito de serviço próprio e impróprio.
a) Serviços Gerais: É aquele prestado à coletividade em geral, serviço indivisível, de modo que
não se pode medir ou calcular o quanto cada um utiliza desse serviço. Esse serviço deve ser
mantido pela receita geral do Estado (receita esta que advém, basicamente, da arrecadação
dos impostos).
Ex. segurança pública.
b.1) Serviços Compulsórios: São aqueles serviços mais importantes, ditos essenciais.
Com relação a esse serviço, o contribuinte paga somente pelo fato de ele estar à
disposição, já que não pode ser recusado pelo particular. Esse serviço é mantido através
da taxa mínima. Mas, paga-se por aquilo que se utiliza efetivamente (ex. Saneamento
básico). Alguns entes públicos, contudo, não colocam esse serviço à disposição do
administrado, o que é um absurdo!
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 114
Muitas vezes o Estado cobra uma taxa que não pode cobrar, instituindo taxas
inconstitucionais.
Ex.1: Taxa de iluminação pública (TIP). O problema da taxa de iluminação pública é que
era impossível calcular o quanto cada um utilizava pela iluminação pública. Por isso, a TIP
foi declarada inconstitucional. Então, o Estado criou a contribuição de iluminação pública
(CIP), o que não resolveu o problema do contribuinte, pois a contribuição também é
tributo vinculado e que também é inconstitucional. Até hoje não foi declarada a
inconstitucionalidade da contribuição de iluminação pública.
Ex.2: A “taxa do buraco” é cobrada pelos buracos tapados da cidade. Ela vem junto com
os carnês de IPVA. Mas não é possível calcular o quanto cada um utiliza do buraco
tapado. Essa taxa também é inconstitucional.
Ex.3: Taxa dos Bombeiros é outro exemplo de taxa inconstitucional. Não é possível medir
e calcular o quanto é utilizado do serviço de bombeiro.
O Estado cria tributos de bagatela, pois, para o contribuinte, é mais fácil pagar do
que contestar esses tributos. Mas, o Estado arrecada muito com esses diversos
“pequenos” tributos.
b.2) Serviços Facultativos: São aqueles serviços que podem ser recusados pelo
particular. A pessoa paga se efetivamente utilizar. Os serviços facultativos são pagos/
remunerados mediante tarifas. A tarifa/preço público não é tributo! Então, aqui não
incidem os princípios tributários (não precisa ter legalidade, anterioridade).
Serviço Público que o Estado presta com exclusividade: O Estado tem a obrigação de
prestar esse serviço, e vai fazê-lo com exclusividade.
Ex. Correio Postal (ECT, art. 21, X, CF – ADPF 46);
Serviço Público que o Estado presta sem exclusividade: O Estado tem a obrigação de
prestar o serviço, mas sem exclusividade. Aqui, tanto o Estado quanto o particular são titulares
do serviço (ex. saúde e ensino no Brasil). Quem transferiu a titularidade desse serviço ao
particular foi a própria Constituição. Mas, cuidado! O fato de o serviço ser prestado por um
particular não retira a condição de serviço público, o que significa dizer que é cabível sua
discussão em sede de Mandado de Segurança. Ex. Cabe MS em face de um dirigente de
entidade de ensino, de saúde. Essas pessoas são autoridades para fim de impetração de
mandado se segurança, pois prestam serviço público.
Serviço Público que o Estado presta e deve transferir: O Estado tem a obrigação de
promover esse serviço e de transferi-lo/ outorga-lo. Não pode haver exclusividade na prestação
desse serviço.
Ex. rádio e TV (art. 223, CF).
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 115
Art. 223, CF - Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão e
autorização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observado o princípio
da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal.
Serviço Público que o Estado presta e pode transferir: O Estado tem a obrigação de
promover esse serviço, e pode prestá-lo de forma direta ou indireta (pode ou não transferir).
Aqui, ocorre a delegação de serviço público.
Ex. Serviços de telefonia, transporte coletivo.
Art. 175, CF - Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de
concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter
especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade,
fiscalização e rescisão da concessão ou permissão;
II - os direitos dos usuários;
III - política tarifária;
IV - a obrigação de manter serviço adequado.
Obs: Esses termos também são utilizados para a utilização de bens públicos. Deve-se prestar
atenção se o concurso está falando de serviço público ou de bem público.
O governo federal enviou ao Congresso Nacional um projeto de lei que tratava das PPPs.
Quando o CN recebeu esse projeto, eles precisaram definir a natureza jurídica das parcerias
público-privadas. Foi decidido que elas seriam uma espécie de concessão de serviço público.
Perguntou-se como ficariam as concessões na modalidade que já existia. Então, dividiu-se a
concessão em comum e especial.
O Brasil vivencia um problema de investimento. Por isso, o Estado teve a ideia de pedir
dinheiro ao investidor privado, para que este financiasse a obra do Estado. Posteriormente, o
Estado pagaria ao investidor em suaves prestações. Ademais, nesta época, existia uma lenda
de que o prestador de serviço privado é melhor do que o público. O parceiro privado, então,
financia o Estado.
Assim, a PPP tem dois objetivos básicos: (1) buscar o investimento privado para o
financiamento de objetivos do Estado; (2) Buscar a eficiência e iniciativa do setor privado.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 118
O problema é que o investidor privado não confia no administrador público e, por isso, não
vai empregar o seu dinheiro num investimento estatal.
A PPP é um contrato administrativo. Então, apesar do nome, a PPP não é uma parceria.
Existem duas modalidades de PPP:
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AULA 15 – 03/07/12
1ª) Financiamento privado. O parceiro privado vai financiar o negócio com seus próprios
recursos e o Estado o pagará em suaves prestações.
2ª) Compartilhamento dos riscos. Se o negócio der errado, o Estado dividirá os prejuízos
com o parceiro privado.
Ex. Projeto da ferrovia Madeira-mamoré. Foi desastroso construir a ferrovia. Quando a obra foi
concluída, a política da borracha já havia acabado. Se um projeto como esse fosse feito em
regime de parceria, o Estado compartilharia os riscos com o empreendedor privado.
Para evitar esse compartilhamento dos riscos, o projeto deve ser muito bem escolhido,
senão o Estado arcará com muitos prejuízos.
3ª) Pluralidade compensatória, ou seja, o pagamento poderá ser feito por diversas formas,
não necessariamente tudo em dinheiro.
A primeira forma de pagamento é a ordem bancária, com depósito do dinheiro no banco.
Além disso, o pagamento também pode ser feito através da cessão de créditos não tributários
(ex. particular deve uma indenização ao poder público e, diante disso, recebe um abatimento
na dívida). Também é possível que se transfiram bens públicos (ex. Estado transfere bem
público para o parceiro utilizar, sem que o particular tenha que pagar aluguel). É possível,
ainda, que se pague esse financiamento com a outorga de direitos. No Brasil, há uma regra a
respeito das construções verticais. Cada andar é chamado de “solo criado”. Existe um limite
para a construção, calculado de acordo com a área base que se pode construir. Mas, se o
particular pagar, ele pode construir acima do limite de andares permitido. Esse pagamento se
chama “outorga onerosa”. Assim, pode o Estado pagar o financiamento da PPP através da
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concessão de outorga onerosa, para que o particular construa solos criados acima do limite
para a construção.
São possíveis, ainda, outros meios de pagamento.
A pluralidade compensatória é benéfica para o Estado, pois não é necessário que ele
desembolse todo o dinheiro para o pagamento de uma só vez. O problema da pluralidade
compensatória é que a fiscalização desse pagamento se torna dificultada.
(1) Quanto ao valor – A PPP não pode ter valor inferior a R$20 milhões de reais. Ou seja,
a PPP é voltada para as grandes empresas.
(2) Quanto ao prazo – A PPP não pode ter prazo inferior a 5 anos nem superior a 35 anos.
Por isso, novamente, o projeto deve ser bem escolhido.
(3) Quando ao objeto – Em PPP não pode haver objeto simples, nem objeto único. Na
verdade, devem estar presentes pelo menos 2 dos elementos obra, serviço ou fornecimento.
Quando se faz o contrato de PPP, surge uma nova pessoa jurídica, que irá controlar e
administrar a PPP. Essa pessoa jurídica chama-se “sociedade de propósitos específicos”,
que cuidará da gestão e fiscalização da PPP. Trata-se de uma sociedade privada, constituída
pelos envolvidos nessa parceria.
Art. 2o, Lei 8.987/95 - Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se:
IV - permissão de serviço público: a delegação, a título precário, mediante licitação, da
prestação de serviços públicos, feita pelo poder concedente à pessoa física ou jurídica que
demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco.
Art. 40, Lei 8.987/95 - A permissão de serviço público será formalizada mediante contrato de
adesão, que observará os termos desta Lei, das demais normas pertinentes e do edital de
licitação, inclusive quanto à precariedade e à revogabilidade unilateral do contrato pelo poder
concedente.
Parágrafo único. Aplica-se às permissões o disposto nesta Lei.
5.2.1) Formalização:
A autorização de serviço público é muito criticada (diz-se que ela é simples demais). Mas,
a maioria dos autores, no fim das contas, a admite, inclusive porque a constituição se refere,
em muitos casos, à autorização. Mas, a mesma doutrina diz que a autorização de serviço é
excepcional.
A autorização de serviço no Brasil é possível quando se tratar de pequenos serviços, ou
situações urgentes.
Ex. Serviço de táxi, despachante.
A autorização de serviço público é um ato administrativo unilateral (a administração
realiza sozinha), discricionário (de acordo com a conveniência e a oportunidade) e precário (a
administração pode retomar o serviço a qualquer tempo, sem indenização).
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1) Conceito:
Agente público é todo aquele que exerce função pública, seja de forma temporária ou de
forma permanente, com ou sem remuneração. Esse é o conceito mais amplo encontrado na
doutrina.
Ex. Mesário de eleição.
São aqueles que representam a vontade do Estado, que estão no comando/ direção de
cada um dos poderes.
São eles: Chefes do Executivo e os respectivos vices, auxiliares imediatos do executivo
(ministros de estado, secretários do Estado, secretários municipais), membros do legislativo
(senadores, deputados federais, deputados estaduais, vereadores), magistrados* e membros
do MP*, Ministros e Conselheiros dos Tribunais de Contas.
*Parte da doutrina entende que eles não são agentes políticos porque a sua “escolha” é por
concurso, e não de forma política. Mas o STF, desde 2002, reconhece os magistrados e
membros do MP como agentes políticos, tendo em vista a força da sua vontade e não pela
escolha política.
Dica: Se o trabalhador tem os seus direitos previstos em uma lei, ele se submete ao regime
legal ou regime jurídico administrativo, ou regime estatutário. Esse sujeito será titular de cargo
público, que, por sua vez, só está presente em pessoa jurídica de direito público. Por outro
lado, se os direitos do trabalhador estão previstos em um contrato de trabalho, ele estará
sujeito a um regime contratual, ou regime trabalhista, ou celetista. Então, esse sujeito será
titular de um emprego público, que pode estar presente em pessoa jurídica de direito público e
em pessoa jurídica de direito privado.
Agente político é titular de cargo público, com regime legal, estatutário, previsto não
necessariamente na Lei 8.112/90. Pode ser, por exemplo, na Constituição (Presidente da
República), estatuto do congressista (parlamentares), LOMAN (magistrados), LOMP (MP).
São os servidores que trabalham no Estado, que podem atuar na administração direta ou
indireta. Note-se que não foi utilizada a expressão “servidor público”, mas a expressão
“servidor estatal”.
Os servidores estatais podem ser divididos em duas categorias:
a) Servidor público – atua em pessoa jurídica de direito público (administração direta/
autarquias/ fundações públicas);
b) Servidor de ente governamental de direito privado – atua em pessoa jurídica de direito
privado.
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a) Servidor público – Atua em pessoa jurídica de direito público (Adm. Direta/ Autarquias/
Fundações públicas):
Servidor público, hoje, pode ser titular de cargo. Este era o antigamente denominado
“funcionário público”. Então, o “servidor público titular de cargo” (antigo “funcionário público”)
segue o regime estatutário.
Mas, se o servidor público é titular de emprego, seguindo o regime celetista, ele é
chamado de “servidor público titular de emprego” ou “empregado público”.
Segundo o TST, por não terem estabilidade, a dispensa desses empregados será
imotivada, sem necessidade de justificativa (OJ 247, do TST). Cuidado! A OJ 247 traz uma
exceção: relacionada à ECT (que teve reconhecida na ADPF 46 a sua exclusividade no serviço
postal, o que lhe dá tratamento de Fazenda Pública, devendo ter dispensa motivada).
Essa matéria foi levada ao STF, e terá repercussão geral reconhecida. Tema 131, RE
589.998. Ainda não há julgamento de mérito.
Particular em colaboração é aquele que não perde a qualidade de particular, mas que, em
um dado momento, colabora com o Estado. Eles se dividem em (rol exemplificativo):
Art. 236, CF - Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por
delegação do Poder Público.
(...)
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 125
§ 3º - O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de provas e
títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de
provimento ou de remoção, por mais de seis meses.
e) Particular que pratica ato oficial: Serviço de saúde e serviço de ensino no Brasil. Eles
prestam serviço. Por isso, é possível ajuizar MS contra reitor de universidade privada, ou
contra diretor de hospital privado.
3) Acessibilidade:
Art. 37, IX, CF - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para
atender a necessidade temporária de excepcional interesse público;
Art. 198, CF - As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes
diretrizes (...).
§ 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial profissional nacional, as
diretrizes para os Planos de Carreira e a regulamentação das atividades de agente comunitário
de saúde e agente de combate às endemias, competindo à União, nos termos da lei, prestar
assistência financeira complementar aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, para o
cumprimento do referido piso salarial.
O prazo de validade do concurso público no Brasil, hoje, é de até 2 anos, prorrogável, por
uma única vez, por igual período (ex. 6 meses + 6 meses; 1 ano + 1 ano; 2 anos + 2 anos). A
prorrogação deve estar prevista no edital. Se não houver essa previsão, não pode haver
prorrogação. A prorrogação tem que acontecer enquanto o concurso ainda é válido. Trata-se de
uma decisão discricionária do administrador.
O STF disse que o administrador pode revogar a prorrogação do concurso. Contudo,
conforme atos administrativos, a revogação não pode acontecer se o ato já produziu direito
adquirido. Então, é possível a prorrogação desde que o prazo da prorrogação ainda não tenha
começado a fluir (pois, nesse caso, os candidatos já têm direito adquirido a essa prorrogação).
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AULA 16 – 05/07/12
Pergunta de Concurso: É possível realizar novo concurso se ainda estiver válido o concurso
anterior? É possível sim a realização de nova prova, desde que observada a ordem de
classificação do concurso anterior.
Ex. Suponha-se que foi realizado o concurso 1, com prazo de validade de 2 anos, realizado em
2010. Em 2012, a administração pode decidir pela prorrogação desse concurso. Em 2014,
finda-se o prazo de validade desse concurso. Mas, meses antes de vencer o prazo, a
administração realiza novo concurso. Nesse caso, é possível a realização de novo concurso, a
partir da EC 19/98. Mas, cuidado! Primeiro, devem ser nomeados os candidatos aprovados no
concurso 1. Após, poderão ser nomeados os candidatos do concurso 2. Vencido o prazo do
concurso 1, não mais serão nomeados aprovados nesse concurso. Se isso não for observado,
haverá preterição na nomeação, o que é proibido.
Súmula 15, STF - Dentro do prazo de validade do concurso, o candidato aprovado tem o direito
à nomeação, quando o cargo for preenchido sem observância da classificação.
Cuidado! O STF faz uma ressalva, dizendo que esse direito não é absoluto. Segundo o
STF, se existir uma mudança de contexto ou situação nova, que justifique, por razões de
interesse público, uma não nomeação, o aprovado não será nomeado.
Ex. Concurso para carimbador, com 10 vagas. No meio do concurso, criaram uma máquina que
faz o carimbo. Nesse caso, não será necessário nomear os 10 aprovados.
Súmula 685, STF – É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor
investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo
que não integra a carreira na qual anteriormente investido.
Súmula 266, STJ - O diploma ou habilitação legal para o exercício do cargo deve ser exigido
na posse e não na inscrição para o concurso público.
Súmula 377, STJ – O portador de visão monocular tem direito de concorrer, em concurso
público, às vagas reservadas aos deficientes.
Quais as exigências podem aparecer no edital do concurso? Para que os requisitos sejam
previstos no edital do concurso, eles devem estar previstos na Lei da Carreira. Ademais, para
se prever um requisito no edital, é preciso que a exigência seja compatível com a natureza das
atribuições a serem desenvolvidas. Ademais, a exigência deve estar expressa no edital
(mesmo se for uma atribuição da carreira, deve haver previsão no edital).
Súmula 683, STF - O limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em
face do art. 7º, XXX, da CF, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do
cargo a ser preenchido.
Essa questão foi levada ao STF e recentemente foi julgada em sede de repercussão
geral. A discussão foi relacionada ao limite de idade para as forças armadas. O limite de idade
das forças armadas não estava previsto na lei da carreira. O STF disse que essa previsão não
pode vir em decreto-lei, regulamento, regimento, etc.. (RE 600.885)
Súmula 686, STF – Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato
a cargo público.
Quando se fala de estabilidade, a previsão está no art. 41, da CF, também modificado
pela EC 19/98.
Para que o servidor adquira estabilidade, a pessoa deve passar no concurso, ser
nomeado para cargo efetivo, passar por três anos de exercício e ser aprovado na avaliação
especial de desempenho.
Art. 41, CF - São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para
cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público. (Redação dada pela EC nº 19, de 1998)
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa;
III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei
complementar, assegurada ampla defesa.
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor estável, será ele reintegrado, e o
eventual ocupante da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a
indenização, aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade com remuneração
proporcional ao tempo de serviço.
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o servidor estável ficará em
disponibilidade, com remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado
aproveitamento em outro cargo.
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obrigatória a avaliação especial de
desempenho por comissão instituída para essa finalidade.
O servidor nomeado para emprego público tem direito à estabilidade? Essa questão é
muito polêmica.
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 130
Em sua redação original, a CF/88 previa que o candidato, para ter estabilidade, precisava
ser aprovado no concurso e ter 2 anos de exercício. Não se falava em cargo ou emprego.
Então se o servidor fosse titular de cargo público ou emprego público, ele tinha direito a
estabilidade. Nesse contexto, o TST publicou a súmula 390, que diz que o sujeito empregado
de pessoa jurídica de direito público (empregado público) possuía estabilidade. Contudo, ainda
por essa súmula, o sujeito empregado de pessoa jurídica de direito privado não possuía
estabilidade.
Em 1998, a Emenda Constitucional nº19 alterou o art. 41, da CF, dizendo que, a partir
dali, servidor público, para adquirir estabilidade, precisaria de cargo efetivo, aprovação em
concurso público, três anos de exercício e avaliação de desempenho. Então, hoje, o
empregado público não possui direito a estabilidade. Então, o empregado público, pela EC 19,
perdeu a estabilidade.
Hoje, essa é a orientação do TST e, também, do STF.
Para adquirir estabilidade, o servidor precisa ter três anos de exercício e ser aprovado na
avaliação de desempenho. Até hoje essa matéria da avaliação de desempenho não foi
regulamentada. Os servidores não estão sendo avaliados. Então, o servidor adquire
estabilidade, mesmo sem ter sido submetido a esta avaliação.
Como o servidor público perde a estabilidade? O art. 41, CF também traz as regras para a
perda da estabilidade. Pode haver perda da estabilidade através de um processo
administrativo, com contraditório e ampla defesa. Pode ser, também, em caso de processo
judicial com trânsito em julgado. Pode, ainda, haver perda da estabilidade através de uma
avaliação periódica, avaliação esta que também depende de regulamentação.
Contudo, há uma hipótese em que o servidor poderá perder o cargo prevista no art. 169,
da CF – caso de racionalização da máquina administrativa. A administração só pode gastar
com folha de pagamento até o limite previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal. Se a
administração não estiver conseguindo cumprir seu orçamento, primeiramente, serão
dispensados os cargos em comissão e as funções de confiança (20%). Após, cortam-se os
servidores não estáveis. Após, serão exonerados os servidores estáveis. Essa sequência deve
ser respeitada. Nessa hipótese, o servidor é exonerado e indenizado.
5) Estágio Probatório:
A posição que prevalece hoje é que o estágio probatório tem o prazo de 3 anos.
O texto original de 1988 dizia que eram necessários 2 anos de exercício e aprovação em
concurso público. Nem o texto original nem o atual falavam/fala em estágio probatório. Fala-se
apenas em exercício.
Regulamentando essa matéria e tendo como base o texto original de 1988, a lei 8.112/90
no seu art. 20, utilizou a expressão “estágio probatório”, prevendo o prazo de 24 meses.
Com a EC 19/98, o servidor passou a ter necessidade de 3 anos de exercício para
adquirir estabilidade. Por isso, questiona-se se o art. 20, da Lei 8.112/90, foi ou não
recepcionado pela CF/88, com o novo texto constitucional.
2ª Corrente) Mas, se se entende que esses institutos são dependentes, deve-se entender,
também, que eles devem ter o mesmo prazo. E, então, o art. 20, da Lei 8.112/90 não é
materialmente compatível com a CF e não foi recepcionado pela nova regra constitucional.
Logo, o prazo do estágio probatório só pode ser de três anos. Nesta linha de raciocínio,
entendem a AGU, com parecer vinculante para todo o executivo federal. Também neste
sentido, entendem o STJ (desde 2009), algumas decisões do STF e o CNJ (que tem o pedido
de providências 822, em que se reconhece o tempo de 3 anos).
No concurso, deve-se responder 3 anos!!!
6) Sistema de Remuneração:
6.1) Modalidades:
b) Subsídio: parcela única. Tudo que o servidor recebe é pago de uma vez, em parcela única.
No subsídio há a soma da parcela fixa com a parcela variável, tornando-se uma parcela
única. A palavra subsídio vem do latim subsidium e significa “ajuda de sobrevivência”, nome
este que é muito criticado. Recebem subsídio:
A remuneração no Brasil é fixada por meio de Lei. A iniciativa do projeto de lei é do “dono
do bolso”, ou seja, daquele que vai arcar com essa despesa.
Excepcionalmente, a remuneração é fixada pelo Congresso Nacional, por meio de
Decreto Legislativo, que dispensa deliberação executiva e não tem sanção nem veto
presidencial. Trata-se da fixação da remuneração do Presidente da República, de seu vice, dos
Ministros, Senadores e Deputados Federais.
Ainda em sede de exceção, a Câmara Municipal, via decreto legislativo, fixa a
remuneração dos seus vereadores.
Na União - Vale o teto geral. Ninguém pode receber mais que ministro do STF;
Nos Estados - Ninguém pode receber mais que
- No âmbito do Poder Executivo - teto do governador.
- No âmbito do Poder Legislativo - teto do deputado estadual.
- No âmbito do Poder Judiciário - teto dos desembargadores do TJ. Membros do MP
(promotores de justiça, procuradores de justiça), procuradores e defensores também
observam o teto dos desembargadores. Mas, Cuidado! Os demais cargos do quadro
administrativo desses órgãos têm como teto o do governador.
A remuneração do desembargador não pode ser superior a 90,25% da remuneração de
ministro do STF (é o limite máximo enquanto desembargador).
Art. 37, CF - A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
(...)
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver
compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI.
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 34, de 2001)
XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e funções e abrange autarquias,
fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias, e
sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público;
9) Contratação Temporária:
Se na justiça comum ficar reconhecido que o vínculo é válido, serão dados ao servidor os
direitos previstos na lei do temporário.
Se na justiça comum ficar reconhecido que o vínculo não é válido, poderão ser
reconhecidos os direitos trabalhistas na própria justiça comum.
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A CF, em seu texto original, dispunha que o servidor público, para se aposentar, bastava
preencher um único requisito: tempo de serviço. Não havia preocupação com idade, com
tempo de contribuição, etc.
Essa preocupação só começou a surgir a partir da EC nº 20.
Art. 40, §10, CF - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem de tempo de
contribuição fictício. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)
O regime contributivo adotado foi o regime de repartição simples, que determina que
todos contribuem para a mesma conta e todos recebem da mesma conta.
Em outros países, cada servidor tem a sua conta. Mas não é o que ocorre no Brasil.
A EC 20/98 estabeleceu uma série de novos requisitos para a aposentadoria do servidor,
prevendo modalidades diversas de aposentadoria. Vale ressaltar que esses requisitos
continuam os mesmos até hoje. As Emendas seguintes não alteraram essas regras e
condições.
São modalidades de aposentadoria do servidor:
Art.40, §1º, CF - Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata este artigo
serão aposentados, calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos §§
3º e 17: (Redação dada pela EC nº 41, 19.12.2003)
I - por invalidez permanente, sendo os proventos proporcionais ao tempo de contribuição,
exceto se decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave,
contagiosa ou incurável, na forma da lei; (Redação dada pela EC nº 41, 19.12.2003)
b) Aposentadoria Compulsória:
c) Aposentadoria Voluntária:
Essa aposentadoria exige, como requisitos básicos 10 anos de serviço público e 5 anos
no cargo em que está pretendendo a aposentadoria.
No caso dessa aposentadoria, o servidor pode aposentar-se com proventos integrais e
com proventos proporcionais.
III - voluntariamente, desde que cumprido tempo mínimo de 10 anos de efetivo exercício no
serviço público e 5 anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria, observadas as
seguintes condições: (Redação pela EC nº 20, de 15/12/98)
a) 60 anos de idade e 35 de contribuição, se homem, e 55 anos de idade e 30 de contribuição,
se mulher; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)
LFG – Intensivo I - Direito Administrativo - Profª. Fernanda Marinela 140
b) 65 anos de idade, se homem, e 60 anos de idade, se mulher, com proventos proporcionais
ao tempo de contribuição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)
Requisitos Básicos
10 anos de serviço público
5 anos no cargo em que está pretendendo a aposentadoria
*Nesse caso, com relação ao requisito da contribuição, vale destacar que o tempo de
contribuição será o que determinará a aposentadoria maior ou menor do servidor. Por isso, a
aposentadoria é por tempo de contribuição.
d) Aposentadoria Especial**:
Essa aposentadoria especial do professor terá como requisito que o professor seja
exclusivo de magistério, ou seja, que tenha sido professor a vida toda.
Obs: Logo que a EC 20/98 surgiu, foram muito comuns os casos de professores que
assumiam a Diretoria da escola por um determinado tempo. Quando a Emenda surgiu e exigiu
a exclusividade do magistério, muitos professores estavam perdendo o direito à aposentadoria
especial, em razão de em algum período da vida terem sido diretores, ainda que
temporariamente. Isso acabava gerando muitas injustiças, pois os professores não eram
avisados disso antes de exercerem o cargo de direção da escola. O servidor só era avisado
depois, quando já havia perdido o direito à aposentadoria especial. Essa questão foi objeto de
controle de constitucionalidade, e, hoje, a exclusividade de magistério se refere ao professor
que exerce atividades dentro da escola, ainda que seja, por exemplo, coordenador, diretor, etc.
(nesse caso ele não perde o direito à exclusividade). Essa questão foi regulamentada pela Lei
11.301/06 e objeto da ADI 3.772. Esse entendimento foi mais justo.
Art. 40, §5º, CF - Os requisitos de idade e de tempo de contribuição serão reduzidos em cinco
anos, em relação ao disposto no § 1º, III, "a", para o professor que comprove exclusivamente
tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino
fundamental e médio. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)
Proventos Integrais
Homens Mulheres
55 anos de idade 50 anos de idade
30 anos de 25 anos de contribuição
contribuição
+ Exclusividade de magistério
+ Ensino Infantil, Fundamental ou Médio
**Obs: A aposentadoria especial foi modificada pela EC 47, com a introdução de mais uma
modalidade de aposentadoria especial: além da aposentadoria especial do professor,
haveria outras hipóteses de aposentadorias especiais. Seria especial, também, a
aposentadoria dos portadores de deficiência física. Ademais, ganharam direito à aposentadoria
especial os servidores que exercem atividade de risco e, ainda, os servidores que exerçam
atividades em condições especiais, que prejudiquem a sua saúde ou integridade física. Mas
essas aposentadorias ainda dependem de regulamentação (por Lei Complementar).
Art. 40, CF - Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de
previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente
público(cotização dos entes), dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados
critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)
(2) Outra mudança importante trazida pela emenda 41/03 foi a cotização dos entes. No
setor privado, o empregador paga uma parcela e o empregado paga outra para o regime de
previdência. Antes dessa Emenda, no Estado, isso não acontecia. Somente o servidor
contribuía: o Estado não tinha sua parcela de Contribuição. A EC 41 mudou isso, instituindo a
cotização dos entes, que passaram a contribuir com uma parcela desse regime. Os entes
públicos passaram a ser patrocinadores do Regime de Previdência (art.40, caput, CF).
(4) A quarta mudança trazida pela EC 41/03 também alterou muito o cenário do RPPS,
revogando o princípio da paridade. O princípio da paridade dizia que se o servidor da ativa
tivesse um aumento, o aposentado também teria. Em seu lugar, foi inserido o princípio da
preservação do valor real, que busca conservar o poder de compra do servidor (atualização
do poder aquisitivo do valor da aposentadoria), conforme art. 40, §8º, CF.
Art. 40, §8º, CF - É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter
permanente, o valor real, conforme critérios estabelecidos em lei. (Redação pela EC nº 41,
19.12.2003)
Obs: O teto do INSS segue esse principio. Mas, se se analisar na prática os reajustes do valor
do teto do RGPS e os reajustes do valor do salário mínimo, verifica-se que o valor do teto do
RGPS vem cada vez mais sendo desvalorizado, e tem perdido o seu valor de compra.
Inicialmente, quando da EC 41/03, o teto o RGPS correspondia a 10 salários mínimos. Hoje,
esse valor corresponde a, aproximadamente, 6,30 salários mínimos, o que demonstra uma
altíssima desvalorização e desatualização dos valores de aposentadoria do RGPS em relação
aos reajustes do salário mínimo.
(5) A quinta mudança trazida pela EC 41 foi o teto de proventos. O teto de proventos
estabeleceu que o servidor público receberia o mesmo teto do INSS, que é de R$3.916,16. O
cuidado é que a aplicação desse teto estava condicionada à criação de um Regime
Complementar de Previdência.
Hoje, esse teto já possui Regime Complementar, que foi estabelecido pela Lei 12.618/12,
que regulamentou a criação do Regime Complementar (publicada em 02 de maio de 2012).
Obs: O Regime Complementar já existia na CF desde o texto trazido pela EC 20/98. Nessa
época, esse regime (originariamente) dependia de uma lei complementar. Contudo, a partir da
Emenda 41, o Regime Complementar passou a precisar somente de lei ordinária. Isso foi
fundamental para a instituição do Regime Complementar.
(6) A Emenda 41/03 trouxe, também, a contribuição dos inativos, pela qual os
aposentados passaram a ter que contribuir. Nos art. 40, §18 e art. 149, §1º, da CF, isso vem
estabelecido. O inativo, para contribuir, terá como base de cálculo toda remuneração que
ultrapassar o teto do RGPS.
Art. 40, §21, CF. A contribuição prevista no § 18 deste artigo incidirá apenas sobre as parcelas
de proventos de aposentadoria e de pensão que superem o dobro do limite máximo
estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201
desta Constituição, quando o beneficiário, na forma da lei, for portador de doença
incapacitante. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)
A alíquota da contribuição dos inativos é de, no mínimo, 11%. Já existem estados hoje,
com alíquota de 17%.
A contribuição dos inativos atingiu todos os aposentados, inclusive os que se
aposentaram anteriormente à Emenda.
Isso é importante porque muitos alegaram que já eram aposentados quando do advento
da EC 41/03. Não havia que se falar em direito adquirido, pois NÃO HÁ DIREITO ADQUIRIDO
A REGIME LEGAL (ESTATUTÁRIO).
Outra importância disso é que quando a EC 41 foi introduzida, ela estabelecia regras
diferentes sobre contribuição dos inativos para os aposentados anteriores e posteriores à
emenda. Contudo, essas regras foram igualadas e, hoje, os aposentados contribuem da
mesma forma (sejam eles aposentados antes ou depois da EC 41/03).
Essa situação foi levada ao STF, sendo objeto da ADI 3.105. O STF declarou a
constitucionalidade da contribuição dos inativos.
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EMENTA ADI 3.105: 1. Inconstitucionalidade. Seguridade social. Servidor público. Vencimentos.
Proventos de aposentadoria e pensões. Sujeição à incidência de contribuição previdenciária. Ofensa a
direito adquirido no ato de aposentadoria. Não ocorrência. Contribuição social. Exigência patrimonial de
natureza tributária. Inexistência de norma de imunidade tributária absoluta. Emenda Constitucional
nº41/2003 (art. 4º, caput). Regra não retroativa. Incidência sobre fatos geradores ocorridos depois do
início de sua vigência. Precedentes da Corte. Inteligência dos arts. 5º, XXXVI, 146, III, 149, 150, I e III,
194, 195, caput, II e § 6º, da CF, e art. 4º,caput, da EC nº 41/2003. No ordenamento jurídico vigente, não
há norma, expressa nem sistemática, que atribua à condição jurídico-subjetiva da aposentadoria de
servidor público o efeito de lhe gerar direito subjetivo como poder de subtrair ad aeternum a percepção
dos respectivos proventos e pensões à incidência de lei tributária que, anterior ou ulterior, os submeta à
incidência de contribuição previdencial. Noutras palavras, não há, em nosso ordenamento, nenhuma
norma jurídica válida que, como efeito específico do fato jurídico da aposentadoria, lhe imunize os
proventos e as pensões, de modo absoluto, à tributação de ordem constitucional, qualquer que seja a
modalidade do tributo eleito, donde não haver, a respeito, direito adquirido com o aposentamento. 2.
Inconstitucionalidade. Ação direta. Seguridade social. Servidor público. Vencimentos. Proventos de
aposentadoria e pensões. Sujeição à incidência de contribuição previdenciária, por força de Emenda
Constitucional. Ofensa a outros direitos e garantias individuais. Não ocorrência. Contribuição social.
Exigência patrimonial de natureza tributária. Inexistência de norma de imunidade tributária absoluta.
Regra não retroativa. Instrumento de atuação do Estado na área da previdência social. Obediência aos
princípios da solidariedade e do equilíbrio financeiro e atuarial, bem como aos objetivos constitucionais
de universalidade, equidade na forma de participação no custeio e diversidade da base de financiamento.
Ação julgada improcedente em relação ao art. 4º,caput, da EC nº 41/2003. Votos vencidos. Aplicação dos
arts. 149, caput, 150, I e III, 194, 195, caput, II e § 6º, e 201, caput, da CF. Não é inconstitucional o art.
4º, caput, da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003, que instituiu contribuição
previdenciária sobre os proventos de aposentadoria e as pensões dos servidores públicos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações. 3.
Inconstitucionalidade. Ação direta. Emenda Constitucional (EC nº 41/2003, art. 4º, § únic, I e II).
Servidor público. Vencimentos. Proventos de aposentadoria e pensões. Sujeição à incidência de
contribuição previdenciária. Bases de cálculo diferenciadas. Arbitrariedade. Tratamento discriminatório
entre servidores e pensionistas da União, de um lado, e servidores e pensionistas dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, de outro. Ofensa ao princípio constitucional da isonomia tributária, que é
particularização do princípio fundamental da igualdade. Ação julgada procedente para declarar
inconstitucionais as expressões "cinquenta por cento do" e "sessenta por cento do", constante do art. 4º, §
único, I e II, da EC nº 41/2003. Aplicação dos arts. 145, § 1º, e 150, II, cc. art. 5º, caput e § 1º, e 60, § 4º,
IV, da CF, com restabelecimento do caráter geral da regra do art. 40, § 18. São inconstitucionais as
expressões "cinqüenta por cento do" e "sessenta por cento do", constantes do § único, incisos I e II, do art.
4º da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003, e tal pronúncia restabelece o caráter
geral da regra do art. 40, § 18, da Constituição da República, com a redação dada por essa mesma
Emenda.
Art. 40, §19, CF - O servidor de que trata este artigo que tenha completado as exigências para
aposentadoria voluntária estabelecidas no § 1º, III, a, e que opte por permanecer em atividade
fará jus a um abono de permanência equivalente ao valor da sua contribuição previdenciária
até completar as exigências para aposentadoria compulsória contidas no § 1º, II. (Incluído pela EC
nº 41, 19.12.2003)
Art. 40, §4º, CF - É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão
de aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos
definidos em leis complementares, os casos de servidores: (Redação dada pela EC nº 47, de 2005)
I - portadores de deficiência;
II - que exerçam atividades de risco;
III - cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física.
Essa matéria depende de lei complementar e ainda não foi regulamentada. Os servidores
que desenvolvem atividades em condições especiais discutiram essa questão e levaram a
matéria ao STF. O STF analisou essa questão, discutindo essa matéria em sede de mandado
de injunção (MI 721 e MI 758).
Enquanto a matéria não for regulamentada, o STF decidiu aplicar para esses servidores a
Lei do setor privado (Lei 8.213/91 – aposentadoria especial do RGPS), mais especificamente o
art. 57, §1º, da Lei 8.213/91.
A próxima mudança veio com a EC 70/12. Essa Emenda veio para corrigir uma falha que
havia passado na Emenda nº 41/03. Os servidores, até a emenda 41/03, tinham direito à
integralidade. A emenda 41/03 retirou a integralidade, mas na regra de transição deu direito a
alguns servidores a manter a integralidade.
Contudo, as regras de transição da EC 41/03 não se preocuparam com o aposentado por
invalidez. Então, a EC 70/12 inseriu um novo artigo (art. 6º-A e parágrafo único) na Emenda
Constitucional 41/03. Para se encontrar a Ementa 70/12, deve-se analisar o art. 6º-A da EC 41.
Art. 6º-A, EC 41/03 - O servidor da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
incluídas suas autarquias e fundações, que tenha ingressado no serviço público até a data de
publicação desta Emenda Constitucional e que tenha se aposentado ou venha a se aposentar
por invalidez permanente, com fundamento no inciso I do § 1º do art. 40 da CF, tem direito a
proventos de aposentadoria calculados com base na remuneração do cargo efetivo em que se
der a aposentadoria, na forma da lei, não sendo aplicáveis as disposições constantes dos §§
3º, 8º e 17 do art. 40 da CF. (Incluído pela EC nº 70, de 2012)
Parágrafo único. Aplica-se ao valor dos proventos de aposentadorias concedidas com base no
caput o disposto no art. 7º desta Emenda Constitucional, observando-se igual critério de
revisão às pensões derivadas dos proventos desses servidores. (Incluído pela EC nº 70, de 2012)
Essa Emenda 70/12 assegura aos servidores que ingressaram no serviço público até o
dia 31/12/2003 o direito de se aposentar por invalidez com proventos integrais (com garantias
de integralidade e paridade).
(1) Art. 8º, EC 20/98 – FOI REVOGADA E NÃO EXISTE MAIS. Serve para os servidores
que entraram antes da EC 20/98 (16/12/98).
(2) Art. 2º, EC 41/03 – Serve para os servidores que entraram antes da EC 20/98
(16/12/98).
Essa regra de transição é pior do que a regra nova.
Para que o servidor se aposentar por essa regra, terá que observar os seguintes
requisitos (para o servidor se aposentar por essa regra):
‐ Idade de 53 anos para os homens e 48 anos para as mulheres;
‐ Contribuição de 35 anos para os homens e 30 anos para as mulheres;
‐ Pedágio de 20% do que faltava na data da Emenda Constitucional nº 20/98.
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‐ Esse servidor não tem direito à integralidade, nem à paridade (Isso é um absurdo,
pois a Emenda 20/98 não tratou desses temas, e a transição estabelecida em 2003
retira esses direitos).
‐ Redutor constitucional: Esse servidor terá um redutor na sua remuneração. Ele
poderia se aposentar aos 53 anos de idade (homens) e 48 anos (mulheres).
Contudo, cada ano que o servidor se aposenta antes dos 60 anos para os homens e
55 anos para as mulheres (cada ano que o servidor se antecipa na aposentação),
ele terá um desconto na sua remuneração. Então, por exemplo, um servidor que se
aposenta com 53 anos, tem 7 anos de antecipação na sua aposentadoria. Se esse
servidor se aposentar até 2005, esse desconto é de 3,5% por ano que é antecipado.
Se ele se aposentar a partir de 2006, esse desconto é de 5%.
A Emenda Constitucional 47/05 mudou essa regra de transição, pois ela era
péssima!!
(3) Art. 3º, da EC 47/05 – Essa transição serve também para os servidores que entraram
para o serviço público antes do dia 16/12/98. Por essa regra, esse servidor tem direito à
integralidade, paridade.
O cálculo se dá da seguinte forma: Cada ano que se ultrapassa no limite da
contribuição (35 anos de contribuição para homens e 30 anos de contribuição para
mulheres), pode-se descontar um ano na idade (contando-se a idade de 60 anos de idade
para os homens e 55 anos para as mulheres). Esse artigo é bom.
Então, por exemplo: O homem que contribui 37 anos pode se aposentar com 58
anos. Essa é a regra mais benéfica para o servidor e deve ser optada.
(4) Art. 6º, da EC 41/03 – Essa transição serve para aqueles que entraram no serviço
público antes da EC 41, de 31/12/03. Essa regra de transição estabelece integralidade e
paridade, desde que o trabalhador tenha 20 anos de serviço público, 10 anos na carreira
e 5 anos no cargo.
Ademais, o servidor homem precisará de 60 anos de idade e 35 anos de
contribuição e a mulher precisará de 55 anos de idade e 30 anos de contribuição.
Com relação a essa regra de transição, o servidor que mudou de cargo pode
aproveitar o tempo no cargo anterior e garantir a continuidade? Isso é possível, desde que
não tenha interrupção. Então, é possível que se tenha integralidade e paridade mesmo
com mudança de cargo, mas desde que não haja interrupção. Essa mudança de cargo
deve ser sem interrupção.
Por esse regime, o servidor irá contribuir 11% sobre o teto ao RPPS e ele contribuirá para
o Regime Complementar o que quiser contribuir a mais.
Então, o servidor terá duas contribuições: até 11% do teto do RPPS (que é igual ao do
RGPS, ou seja, hoje é de R$3.916,00) e poderá contribuir para o Regime Complementar com
outros valores para ganhar mais do que o teto quando se aposentar.
Cuidado! A contribuição para o regime complementar não tem limites!
No Regime Complementar, o Estado terá duas contribuições: contribuição do servidor
(que pagará o quanto quiser para o regime complementar) e contribuição do ente público (que
terá que contribuir para o regime complementar). Vale ressaltar, contudo, que para o ente
público haverá um limite: contribuirá igual ao servidor, ate o limite de 8,5%.
Então, por exemplo:
Se o Servidor Contribuir... O Estado Contribuirá....
6% 6%
8% 8%
10% 8,5%
20% 8,5%
Vale ressaltar, ainda, que a base de cálculo da contribuição para o Regime de Previdência
complementar será a parcela que EXCEDER ao teto do RGPS.
Os servidores que já estão no serviço público antes da criação do regime podem optar
pelo Regime Complementar. O benefício que esses servidores teriam é que eles seriam
liberados da Contribuição dos inativos.
Em outras palavras, o servidor que contribui até o teto do RGPS, vai ganhar o teto. A
contribuição dos inativos é sobre o que exceder o teto. Se ele ganha o teto ele não contribui
com a contribuição dos inativos. Agora, o servidor que quer contribuir para acima do teto,
quando ele se aposentar, ele terá contribuição dos inativos, pois ganhará acima do teto (e
sobre o valor que exceder ao teto, incidirá a contribuição dos inativos). Se o servidor fizer a
opção pelo regime complementar, ele não terá contribuição dos inativos: a opção dada pelo
regime complementar dará ao servidor o direito de não contribuir após a aposentadoria.
Com relação a essa regra do Regime Complementar, o servidor que já está no serviço
público antes da instituição do regime, mas mudou de cargo após essa instituição, pode
aproveitar para não se submeter ao teto do RGPS? Isso é possível, desde que não tenha
interrupção. Então, é possível que se mude de cargo após a criação do regime complementar,
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mas desde que não haja interrupção. Essa mudança de cargo deve ser sem interrupção
(solução de continuidade).
Por fim, o Regime Complementar será mantido por uma fundação, que está na
Administração Indireta. Trata-se de uma Fundação Pública de Direto Privado. O seu regime de
pessoal é de emprego, mas com concurso. Essa fundação terá como gestão o Conselho
Deliberativo, Conselho Fiscal e Diretoria Executiva. Esses cargos (conselho deliberativo,
conselho fiscal e diretoria executiva) serão preenchidos por representantes dos três poderes e
servidores de cargos efetivos eleitos pelos pares.
Art. 40, §20, CF - Fica vedada a existência de mais de um regime próprio de previdência social
para os servidores titulares de cargos efetivos, e de mais de uma unidade gestora do
respectivo regime em cada ente estatal, ressalvado o disposto no art. 142, § 3º, X. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)
Art.40, §12, CF - Além do disposto neste artigo, o regime de previdência dos servidores
públicos titulares de cargo efetivo observará, no que couber, os requisitos e critérios fixados
para o regime geral de previdência social. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)
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