0 évaluation0% ont trouvé ce document utile (0 vote)
25 vues5 pages
A recuperação do varejo dos Estados Unidos passa pelo controle dos custos e estoques; desenvolvimento de novos formatos de loja orientados a valor; investimento pesado em marcas próprias; e foco na distribuição dos produtos. Por Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da GS&MD - Gouvêa de Souza
A recuperação do varejo dos Estados Unidos passa pelo controle dos custos e estoques; desenvolvimento de novos formatos de loja orientados a valor; investimento pesado em marcas próprias; e foco na distribuição dos produtos. Por Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da GS&MD - Gouvêa de Souza
Droits d'auteur :
Attribution Non-Commercial (BY-NC)
Formats disponibles
Téléchargez comme DOC, PDF, TXT ou lisez en ligne sur Scribd
A recuperação do varejo dos Estados Unidos passa pelo controle dos custos e estoques; desenvolvimento de novos formatos de loja orientados a valor; investimento pesado em marcas próprias; e foco na distribuição dos produtos. Por Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da GS&MD - Gouvêa de Souza
Droits d'auteur :
Attribution Non-Commercial (BY-NC)
Formats disponibles
Téléchargez comme DOC, PDF, TXT ou lisez en ligne sur Scribd
* Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza
O maior mercado varejista do mundo vive um momento de profundas e estruturais
transformações, cujos impactos se espalharão pelo mercado global, afetando também o varejo brasileiro. Vamos complementar os assuntos já tratados no artigo publicado no Mercado & Consumo na sexta-feira, dia 17/09, que focou o momento do mercado varejista dos Estados Unidos com base no que foi visto, ouvido e discutido na 17ª Conferência Anual do Varejo Global promovida pela Goldman Sachs, em Nova York. Sempre é importante lembrar que na lista dos 100 maiores varejistas mundiais por faturamento em 2009, elaborada pela Goldman Sachs, os Estados Unidos têm 39 empresas relacionadas, cujo faturamento consolidado representa 46% do total desse grupo. Seguem-se Alemanha e França, com seis empresas cada uma e 12,8% e 10,4%, respectivamente, de participação; o Japão, com 12 empresas e 7,6% de participação; e o Reino Unido, com dez grupos e 7,5% do faturamento global. Na lista, o Brasil conta com uma empresa, o Grupo Pão de Açúcar, ainda com dados que não incluem a fusão com as Casas Bahia. É interessante notar que em 2000 as varejistas americanas incluídas na lista das 100 maiores representavam 50% das vendas desse grupo, percentual que chegou a 52% em 2003 e depois começou a cair até chegar aos atuais 46%, com perspectivas de uma maior redução ainda nos próximos anos, já que a recuperação econômica na Europa e em outras regiões acontece mais rapidamente do que nos Estados Unidos. Se for considerada a lista das maiores empresas pelo critério de capitalização, a queda é ainda mais significativa: em 2001 o valor de mercado das empresas americanas de varejo listadas entre as 100 maiores no mundo representava 63,5% do total, tendo chegado a 69,1% em 2004. Em 2009 estava apenas em 51,9%, como reflexo do cenário econômico e financeiro local, mercado de atuação predominante dos maiores conglomerados do setor. A visão das 56 empresas atuantes no setor que expuseram seu desempenho recente e perspectivas, em sua maioria representada por seus CEOs, traduz de forma objetiva o que está acontecendo e o que pode acontecer no maior varejo do mundo e seu impacto em outros mercados. Além dos aspectos já mencionados na última sexta-feira, alguns tópicos chamaram a atenção por significar mudanças estruturais, com potencial de transformação estratégica. Redução de estoques: nunca antes, nesses eventos que temos acompanhado nos últimos anos, foi dada tanta atenção à preocupação em trabalhar com estoques mais ajustados à demanda, com uso de ferramentas de tecnologia e mudanças no sortimento, como forma de redução do capital de giro investido. Tradicionalmente o mercado norte-americano, por conta de taxas de juros muito baixas, primava mais pela oferta de ampla variedade de produtos e profundidade nos estoques no varejo, dentro da premissa de que não se poderiam perder vendas. A recente crise econômica e financeira provocou uma mudança nessa estratégia e poucas foram as empresas que não enfatizaram esse aspecto em suas apresentações. Em parte, essa estratégia foi favorecida pela ampliação das alternativas de atendimento dos consumidores através da internet, em ambiente digital ou mesmo em quiosques dentro dos pontos de vendas; Melhoria de rentabilidade: talvez o aspecto mais relevante de todos que foram observados, diz respeito à crescente preocupação com a melhoria das margens operacionais, mesmo que com possibilidade de perda de vendas e participação de mercado. Isso sinaliza uma transformação radical na forma de pensar e agir do varejo local, que, mesmo em períodos de demanda estimulada, como ocorreu até 2007, vinha disputando participação de mercado, ainda que com perda de rentabilidade. A crise recente parece ter trazido mais “juízo” para os operadores locais que passaram dar muito mais atenção a esse quesito e se tornaram mais cautelosos na sua opção por participação ou rentabilidade; O varejo de valor dita as regras: mesmo em tempos de bonança, o varejo de valor vinha crescendo mais do que o convencional. Foram dois períodos na história recente, um antecedendo o estouro da bolha da internet; e outro também antecedido pela explosão da bolha imobiliária. Os formatos e marcas focados em valor, incluindo lojas de descontos, supercenters, lojas de preços fixos e clubes de compras, foram os grandes beneficiados pelo comportamento cada vez mais pragmático dos consumidores, que, a despeito da euforia consumista e com maior volume de informações e alternativas de compra, migraram para as alternativas orientadas para valor. Com isso, empresas e marcas voltadas a valor cresceram muito mais que a média do varejo. Nos períodos recessivos esse comportamento se acirrou ainda mais, favorecendo o crescimento de empresas genuína e estruturalmente orientadas para essa estratégia e acelerando a perda de participação de outras; Marcas Próprias como um caminho natural: se a missão é melhorar a rentabilidade e reduzir estoques, a estratégia de aumento de participação das vendas das marcas próprias se torna um caminho natural. E o varejo norte americano deixou isso claro que adotou essa opção, como é visto em corporações como JC Penney, Dick’s, Kohl’s, Costco, Walmart e Target; Integrar para não entregar: outra estratégia que tem sido utilizada para enfrentar os tempos mais difíceis e não entregar mercado para a concorrência tem sido a integração de negócios, visando criar novas sinergias e buscar diferenciação que possa proporcionar melhoria na rentabilidade operacional. Exemplos percebidos dessa abordagem podem ser citados na Target, com linhas de produtos Jeep e Eddie Bauer, seguida pela JC Penney e sua linha exclusiva American Living, criada pela Ralph Lauren e agora anunciando operações com a marca espanhola Mango e linhas exclusivas da Liz Claiborne. Da mesma forma como a Sears está desenvolvendo um projeto com a French Connection. As dificuldades parecem alimentar um comportamento mais aberto e estratégico das empresas buscando caminhos conjuntos para solucionar problemas comuns; Quem tem distribuição quer marca e quem tem marca quer distribuição: da mesma forma como em busca de diferenciação e melhores margens os varejistas ampliam a participação das marcas próprias, as empresas detentoras de marcas querem ampliar seus canais exclusivos de distribuição. Por conta disso, a Adidas já opera mais de 2.200 pontos de vendas exclusivos das marcas Reebok e Adidas. A Aeropostale opera mais de 950 lojas. A Guess opera diretamente mais de 150 lojas, de um total de mais do que 450, sendo as demais franqueadas. O grupo Jones de vestuário, que tem entre suas marcas Nive West, Anne Klein e Gloria Vanderbilt, entre outras, tem mais de 20% do seu faturamento vindo de lojas exclusivas. E o grupo Phillips-Van Heusen, fabricante ou licenciado de marcas como Calvin Klein, Arrow, Van Heusen, IZOD, Timberland e Nautica, entre outras, e que recentemente adquiriu a Tommy Hilfinger, também opera sua rede exclusiva de lojas, como forma de se aproximar do consumidor e construir a reputação de suas marcas. Isso tudo para falar apenas de uma pequena amostra de empresas que encontramos no evento; O mercado global não é opção, tornou-se imposição: por muitos anos os varejistas norte-americanos, com honrosas e necessárias exceções, puderam se dar ao luxo de privilegiar sua expansão no seu próprio mercado, que mais conheciam, que mais crescia e que, portanto, apresentava o menor nível de risco. Mais isso tudo mudou. A crise recente e a perspectiva de uma recuperação lenta e cautelosa estão obrigando as empresas a pensar e agir de forma global. No primeiro momento, todo o foco é a melhoria do desempenho e resultado no seu próprio mercado, lição que aparentemente está sendo concluída, com atenção adicional à redução de custos, melhoria de rentabilidade e otimização dos estoques. A próxima etapa envolverá a aceleração da expansão internacional em busca de mercados com maior potencial imediato de crescimento. A América Latina, em particular o Brasil, e mais a Ásia e o Oriente, serão mercados-alvo naturalmente pretendidos. De tudo que pudemos observar no evento, dois aspectos chamaram a atenção pela ausência de ênfase ou relevância. O primeiro diz respeito à pouca importância atribuída aos aspectos ligados aos Recursos Humanos. Foi absoluta exceção quem mencionou ações específicas com foco na melhoria da qualificação, desenvolvimento e atenção com as pessoas das organizações, repetindo uma miopia que já se observou anteriormente e que tende a privilegiar investimentos em tecnologia, processos, lojas, sistemas e tudo o mais possível, antes de pensar em pessoas. A segunda ausência notada foi com respeito às questões envolvendo Sustentabilidade. Ainda que nas lojas muita atenção seja dada ao tema, refletindo uma crescente preocupação com o assunto, no âmbito da análise do desempenho e perspectivas muito pouco foi mencionado. Talvez refletindo um momento particular da economia e dos negócios, em que a ênfase é dada a tudo que signifique um potencial de melhoria de desempenho e, portanto, de valorização da empresa no curto prazo. E a Sustentabilidade deveria esperar momentos de melhor desempenho e menores desafios para crescer na lista de prioridades.