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CARLOS LOPES
A nova (nova?) moda, no círculo que gira em torno do Planalto, é dizer que
nada disso existe – assim como não existe recessão e desemprego no país.
Há poucos dias, um satélite planaltino disse em algum lugar que “não podemos
abrir mão da engenharia brasileira”. Como se a engenharia brasileira fosse um
monopólio da Odebrecht e assemelhadas. Como se não existissem inúmeras empresas
de engenharia no Brasil que são sufocadas, abafadas, excluídas de grandes obras –
exatamente por esse cartel que assaltou a Petrobras. Como se a própria Petrobras não
fosse um dos principais – talvez o principal – repositório da engenharia nacional.
Realmente, não podemos abrir mão de nossa engenharia – mas, para isso, só
existe um meio: acabar com o banditismo monopolista de empresas que degeneraram,
mais ainda sob os favores do governo Dilma, em redutos mais financeiros que
produtivos, amealhando bilhões com a parasitagem e roubo ao patrimônio coletivo,
ao patrimônio nacional, ao patrimônio do povo brasileiro.
C.L.
Pedro Barusco anotou em sua planilha que houve, efetivamente, nesse caso,
pagamentos de vantagens indevidas, na ordem de 1%, à Diretoria de Serviços,
comandada por Renato Duque, em decorrência do contrato firmado pelo Consórcio
OCCH com a Petrobras.
Neste sentido, observe-se que Rogério Araújo foi indicado pelo colaborador
Pedro Barusco como responsável pelas tratativas de efetivação do pagamento de
vantagens indevidas em nome do Grupo Odebrecht. Ademais, na própria tabela de
propinas de Pedro Barusco consta Rogério Araújo como responsável pelo pagamento
da propina referente à contratação do Consórcio OCCH.
Esta segunda parte de nossa série sobre os crimes do Clube do Bilhão contra a
Petrobras, refere-se à lavagem de dinheiro – mas não à lavagem em geral, que
merecerá uma abordagem à parte.
Mas, além da tecnologia da lavagem – aliás, das mais grosseiras – existe algo
que chama a atenção: para obter dois aditivos em valor total de pouco mais de R$ 70
milhões (R$ 70.168.128), a Odebrecht, Camargo Corrêa e Hochtief subornaram um
gerente local da Petrobras no Espírito Santo por R$ 3 milhões. Só aí já são mais de
4% do total dos aditivos.
Mas, que poder tinha um gerente local para decidir sobre aditivos de uma obra,
como a do Centro Administrativo em Vitória, que custou mais de meio bilhão de
reais?
Além disso, a Odebrecht e suas parceiras de quadrilha tinham canal direto com a
diretoria de serviços (Renato Duque e seu gerente-executivo, Pedro Barusco) e, de
resto, também com o PT e o governo.
Para que precisariam subornar um gerente local por mais de 4% do valor dos
aditivos que queriam?
Pareceu-nos, no início, lógico que esse suborno não fosse apenas para o gerente
local.
A possibilidade é grande.
Ou será que o ritmo das obras estava tão artificialmente lento (até para provocar
os aditivos) que o cartel necessitava de um subornado na gerência local, para evitar o
risco de reclamações incômodas?
Não sabemos. É possível que as investigações esclareçam. Mas do que não resta
dúvida são as ilegalidades perpetradas por esses aprendizes de monopolistas.
No entanto, optamos por não alterá-la, pela simples razão de que a denúncia é
tão abundante no relato de crimes – é preciso ser muito cínico para dizer que isso não
existe ou que é “perseguição política” – que podemos, perfeitamente, não ter
entendido alguma coisa inteiramente.
Na dúvida, ainda que esta seja pequena, preferimos reproduzir a tabela sem
alterá-la, uma vez que o leitor tem plenas condições de compreender o problema – e
fazer as correções devidas, assim como perceber que trabalho tão intenso,
inevitavelmente, pode ter lá os seus problemas de detalhe.
C.L.
[Declarações de Eduardo Leite: “... Paulo Augusto Santos Silva, embora tenha
assumido o cargo de Diretor de Operações [da Camargo Corrêa] apenas em 2012,
como o contrato entre o Consórcio OCCH e a Petrobras ainda estava em execução,
Paulo obteve informações por meio de Dalton Avancini, diretor anterior, ou pelo
próprio Consórcio OCCH, e relatou ao depoente que o Gerente Local da Petrobras
na obra referida, Celso Araripe, por intermédio desses dois contratos, obteve
vantagem indevida consistente nos valores que constam em cada um dos contratos,
isto é, um total R$ 3 milhões de reais” – v. Termo de Colaboração no 14]
[Declarações de Dalton Avancini: “... diz ter sido reportado no ano de 2010,
pelo representante da Camargo junto ao consórcio, de nome Paulo Augusto, de que
um funcionário da Petrobras de nome Celso Araripe teria dito que a aprovação de
alguns aditivos poderia ser acelerada mediante o pagamento de propinas; essa
situação era de conhecimento das empresas que compunham o consórcio, Odebrecht
e Hotchief; considerando que o contrato estava em sua fase final e os aditivos eram
necessários, autorizou Paulo Augusto dos Santos Silva a levar a frente essa
negociação, cabendo a ele tratar com as demais empreiteiras do consórcio;
posteriormente Paulo Augusto lhe disse que o pagamento da propina a Celso Araripe
teria sido implementado mediante um contrato de serviços junto às empresas EIP
Serviços de Engenharia e Sul Brasil Construções, não sabendo informar o valor
desses contratos, cuja cópia será fornecida pelo declarante” – v. Termo de
Colaboração no 03.]
Muito embora Celso Araripe e Eduardo Freitas Filho tenham negado referido
repasse de valores, a quebra do sigilo bancário da Sul Brasil/Freitas Filho demonstrou
que foram realizados depósitos periódicos através das contas bancárias de Eduardo
Freitas Filho e da Sul Brasil Construções/Freitas Filho Construções em favor do
funcionário da Petrobras.
Diante de tal quadro, Marcelo Odebrecht, Márcio Faria e Rogério Araújo, Paulo
Boghossian, Eduardo Freitas Filho e Celso Araripe, agindo em conluio e com unidade
de desígnios, firmaram contrato e aditivo ideologicamente falso entre o Consórcio
OCCH e a empresa Sul Brasil Construção/Freitas Filho Construção para em seguida
realizar, entre 20/12/2010 e 04/10/2013, 8 (oito) transferências com aparência de
regularidade entre as contas destas pessoas jurídicas, dissimulando a origem,
disposição, movimentação e propriedade de R$ 3.576.439,13 provenientes direta e
indiretamente dos crimes de organização criminosa, formação de cartel, contra a
administração pública, fraude à licitação contra a Petrobras e outros, violando o
disposto no art. 1o da Lei incorrendo, assim, na prática do crime de lavagem de
capitais por 8 (oito) vezes, em concurso material.
3. O golpe da Braskem/Odebrecht na Petrobras
Esta terceira parte das denúncias do Ministério Público Federal contra o “Cartel
do Bilhão” é sobre um dos fatos mais repugnantes – para quem se sente brasileiro –
de todo esse rosário de imundícies.
Quanto a Braskem, nem lembramos, ainda, que, desde 2003, ela recebeu R$ 3,6
bilhões em financiamentos do BNDES (operações diretas, indiretas e financiamento à
exportação). Talvez mais, pois esse é o total obtido numa consulta rápida às
operações do BNDES.
C.L.
De acordo com o que foi revelado por Paulo Roberto Costa, os valores relativos
à propina paga foram divididos, sendo 60% destinados ao Partido Progressista (PP),
20% destinados ao pagamento de despesas operacionais (como a emissão de notas
fiscais e outros documentos fraudados que embasariam a transação e ainda o
pagamento de mensageiros), sendo os 20% restantes rateados entre Paulo Roberto
Costa (70%) e José Janene e Alberto Youssef (30%). Com o falecimento de José
Janene, Alberto Youssef passou a receber tal montante integralmente.
Nesse proceder, por orientação de Paulo Roberto Costa foi elaborado o DIP –
Documento Interno da Petrobras AB-MC no 110/2009 de forma a contemplar em
larga medida a proposta e os interesses da Braskem, o qual foi por ele submetido à
reunião de Diretoria da Petrobras no dia 12/03/2009, ocasião em que foi aprovado
com ressalvas.
Nos dias que se seguiram o DIP AB-MC 110/2009 foi alterado, até que
finalmente atendesse os anseios da Braskem e de Marcelo Odebrecht e Alexandrino
Alencar, permitindo a compra de nafta por preço muito abaixo daquele praticado
internacionalmente – e que vinha servindo de padrão para os contratos da Estatal já
firmados em território brasileiro.
O mesmo se diga da ata da reunião, que somente foi lavrada quando aprovada a
renovação contratual nos moldes pretendidos pela Braskem, Marcelo Odebrecht e
Alexandrino Alencar.
Muito embora não tenha sido apresentado à Comissão Interna (CIA) qualquer
justificativa ou embasamento técnico para os ajustes posteriores feitos no DIP AB-
MC, os depoimentos prestados por Francisco Pais e José Raimundo Brandão Pereira
apontam no sentido de que a alteração na aprovação do DIP AB-MC 110/2009 foi
determinada por Paulo Roberto Costa, que teria obtido a chancela de tal decisão na
reunião seguinte do colegiado de Diretoria.
Esta alteração da decisão do colegiado, capitaneada por Paulo Roberto Costa em
prol dos interesses da Braskem, não foi registrada formalmente na ata da Diretoria
respectiva, mas ficou registrada não apenas nos e-mails citados acima, trocados entre
funcionário da Petrobras e empregado da Braskem, como também em documento
formal encaminhado por José Raimundo Brandão Pereira ao Diretor Paulo Roberto
Costa no dia 27/03/2009, na qual se apresenta como “alternativa para a continuidade
das negociações”.
Insta salientar que foi ventilada como justificativa para a celebração do contrato
a negociação de contrapartidas econômico-financeiras, que envolveriam o
fornecimento/compra de outros insumos entre a Petrobras e a Braskem, sendo que
tais negociações jamais evoluíram de forma satisfatória.
Que motivo teria alguém – ou uma empresa, que, afinal, é apenas uma
organização de pessoas – para lavar dinheiro?
C.L.
Esse valor era, então, entregue em espécie aos beneficiários da propina, que
passavam a deter a disponibilidade dos valores, dissociada de sua origem espúria.
Ângulo afirmou, ainda, que entre os anos de 2007 e 2013 compareceu à sede da
Braskem a fim de levar os números de contas a serem realizados os depósitos, assim
como para retirar os swifts com Alexandrino Alencar para que fossem entregues a
Alberto Youssef.
Este, por sua vez, retirava, a mando de Alberto Youssef, os swifts, que nada mais
são do que documentos de transferências internacionais, com Alexandrino Alencar na
sede da Braskem em um primeiro momento, e, posteriormente, no prédio da própria
Odebrecht.
A análise dos documentos (sobretudo dos swifts) entregues por Rafael Ângulo e
dos dados neles constantes é reveladora da complexidade das operações realizadas
em favor do grupo Odebrecht e de suas empresas coligadas, sediadas no território
nacional e fora dele.
Veja-se, nesse sentido, que algumas das contas utilizadas por Alexandrino
Alencar para viabilizar a lavagem dos valores repassados a título de pagamento em
favor de Alberto Youssef estavam em nome das offshores Trident Inter Trading Ltd.,
Intercorp Logistic e Klienfeld Services Ltda., sendo que esta última também foi
identificada como recebedora de recursos de empresas do Grupo Odebrecht, a partir
das contas em nome das offshores Smith & Nash Enginnering Company Inc., Golac
Projects And Construction Corp, Sherkson International S.A., nas quais a Construtora
Norberto Odebrecht figura como beneficiária econômica.
Depois destes aportes, a conta Klienfeld Services Ltda. repassou os valores para
as contas dos então funcionários da Petrobras, Paulo Roberto Costa, Renato Duque e
Pedro Barusco, que estavam abertas em nome das offshores Quinus Services S.A.,
Milzart Overseas Holdings Inc., Pexo Corporation.
É preciso ser muito tolo – ou dotado de muita má-fé – para não enxergar, ou
fingir não enxergar, o tamanho do atentado ao país.
C.L.
(i) com a inclusão de cláusula contratual pela qual a Petrobras deveria ressarcir
o Consórcio CONPAR em virtude de paralisação por chuvas;
Não obstante isso, por meio do DIP Engenharia nº 571/2007, remetido por
Pedro José Barusco Filho, Alan Kardec e Venina Velosa da Fonseca aos Diretores de
Abastecimento, Paulo Roberto Costa, e Serviços da Petrobras, Renato Duque, foi
encaminhado o resultado da negociação direta e solicitada a autorização para a
assinatura do contrato com o Consórcio CONPAR no valor de R$ 1.821.012.130,93.
Assim sendo, o valor final ofertado pelo Consórcio CONPAR e aceito pela
companhia encontrava-se 23,2% acima da estimativa da Petrobras, 3,2% acima do
limite de +20%.
Tanto Paulo Roberto Costa quanto Alberto Youssef admitiram que o pagamento
de tais valores indevidos ocorria em todos os contratos e aditivos celebrados pelas
empresas integrantes do cartel com a Petrobras sob o comando da Diretoria de
Abastecimento.
[Nota MPF: “... esses contratos todos que envolviam as empresas do cartel,
acho que não houve nenhum que não tivesse pagamento indevido. Agora, por
exemplo, nesses consórcios aí, meu contato maior era com a UTC e a ODEBRECHT,
não era com a OAS” (Interrogatório de Paulo Roberto Costa – ANEXO 66).]
Pedro Barusco, por sua vez, agindo em nome próprio e como representante de
Renato Duque, acertou a forma de pagamento diretamente com Rogério Araújo.
Já Cesar Rocha, diretor da Odebrecht, era o responsável por acertar com Alberto
Youssef a forma pela qual seriam os pagamentos efetivamente realizados ao operador,
objetivando a posterior distribuição dos valores para Paulo Roberto Costa e membros
do Partido Progressista (PP).
Hoje, publicamos uma pequena parte dos crimes do cartel do bilhão contra essa
refinaria – portanto, contra a Petrobras e o Brasil.
2) Para Paulo Roberto Costa e o esquema do PP: R$ 46 milhões, 757 mil, 500
reais e 86 centavos.
Portanto, somando os dois contratos, eles foram assinados por um valor a mais
do que a estimativa inicial da Petrobras entre R$ 712,6 milhões e R$ 865 milhões,
dependendo da estimativa inicial de referência.
É possível que nem toda a margem acima seja sobrepreço, mas é claro que a
maior parte é – se não fosse, para que pagar R$ 140,2 milhões (no mínimo) em
propinas?
Será que o cartel queria contribuir para o gosto estético do Sr. Renato Duque (e
ele, comprando falsificações, desperdiçou a oportunidade)?
Ou será que essas empresas tiraram as propinas do seu lucro normal – isto é,
sem sobrepreço, portanto, diminuindo o seu lucro?
Além disso, as estimativas foram dos engenheiros da Petrobras, que não são
malucos nem vivem em Marte. Pelo contrário, sempre foram profissionais da mais
alta qualificação.
Avisamos ao leitor que não está incluído, nas quantias, nenhum aditivo. Como
vimos na edição anterior, no caso das obras na REPAR eles foram quase +30% do
preço pelo qual fora assinado o contrato.
Para encerrar, todo mundo sabe que a essência do monopólio privado (e não
existe outra razão para formar um cartel, exceto estabelecer um monopólio privado)
é, exatamente, o sobrepreço.
C.L.
“Juiz Federal Sérgio Moro: Depois consta aqui contrato na RNEST, Refinaria
Abreu e Lima, CONEST, integrado pela empreiteira OAS.
Youssef: Este contrato, sim, eu tratei.
(...)
Houve, em nós, alguma dúvida sobre a publicação dessa parte da denúncia dos
assaltantes da Petrobras, referente ao Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro
(COMPERJ), porque o procedimento do Cartel do Bilhão no caso Pipe Rack é muito
parecido com o usado nas obras da Refinaria Abreu e Lima, que publicamos em nossa
anterior edição.
As aspas que colocamos em “empreiteiras” vão por conta de que essas empresas
agem cada vez mais como empresas financeiras – a rigor, monopólios financeiros – e
cada vez menos como empreiteiras no sentido em que se entende no Brasil, o de
construtoras.
Uma síntese do que significa o “modelo EPC” está em documento dos próprios
engenheiros da empresa, através de sua entidade, a Associação dos Engenheiros da
Petrobras (AEPET):
Também por aqui se vê a ilusão – nem falemos nos que estão, simplesmente, de
má-fé – de pretender que a defesa da engenharia nacional seja a impunidade do Cartel
do Bilhão.
Na primeira vez que ouvimos falar nas “empresas EPC”, já têm alguns anos, o
termo era dito numa curiosa forma genitiva: “as empresas EPC do Duque”.
Devíamos ter prestado mais atenção no que isso significava. “Duque” era (e
ainda é) Renato Duque, então diretor de Serviços – ao qual estava subordinada a
gerência-executiva de Engenharia, ocupada por Pedro Barusco –, responsável pela
aplicação em larga escala desse “modelo” dentro da Petrobras, e hoje recolhido à
Penitenciária de Pinhais, no Paraná.
Hoje, é possível responder a essa questão sem recorrer a nenhuma teoria: para
roubar.
No caso, essa tentativa não prosperou – mas a sordidez do Cartel do Bilhão não
foi menor por causa disso. Simplesmente, inventou-se uma dispensa de licitação.
Mas, nesse caso, a dispensa de licitação, além de ilegal, só tinha como motivo
eliminar possíveis concorrentes – além de facilitar a consequente distribuição de
propinas aos esquemas do PT, PMDB e PP.
C.L.
Nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ), a
Construtora Norberto Odebrecht S.A. venceu certames relacionados a duas obras.
Não houve licitação na contratação desta obra, com fundamento no item 2.3,
alínea “k”, do Decreto no 2.745/1998 – que trata da inviabilidade de competição por
alteração de programação e iminência da contratação.
Juiz Federal Sérgio Moro: Qual foi o problema que deu nessa contratação?
Youssef: Na verdade, o senhor Júlio Camargo foi mais ativo nessas reuniões, o
Márcio Faria, da Odebrecht, também, se eu não me engano uma vez o doutor
Ricardo participou.
Youssef: Ricardo Pessoa, mas acredito que tenha sido uma vez só.]
Júlio Camargo declarou que efetivamente Paulo Roberto Costa e Renato Duque
haviam acordado com os representantes das empresas componentes do consórcio o
pagamento de vantagens indevidas.
[Nota do HP: O leitor pode estranhar, com razão, tal procedimento. Como é a
terceira vez, nesta série, que aparece citado o Decreto no 2745/98 e a segunda vez que
aparece o item 2.1 e sua alínea “e”, reproduzimos aqui o seu texto: “2.1 A licitação
poderá ser dispensada nas seguintes hipóteses: … e) quando as propostas de
licitação anterior tiverem consignado preços manifestamente superiores aos
praticados no mercado, ou incompatíveis com os fixados pelos órgãos estatais
incumbidos do controle oficial de preços”. Este decreto, específico para as licitações
da Petrobras, foi assinado por Fernando Henrique e o então ministro das Minas e
Energia, Raimundo Brito.]
[Do Interrogatório de Alberto Youssef: “Bom, a Galvão, ela, não sei por qual
motivo, andou se desentendendo com as outras empresas e começou a furar,
mergulhando nos preços, inclusive dando preço abaixo pra que pudesse ganhar a
licitação. E aí eu fui procurado pelo Márcio Faria, da Odebrecht, pra que
intercedesse perante a Galvão, no caso o Erton, porque haveria uma licitação que
era no COMPERJ, do Pipe Rack, aonde eu interferi com o Erton, e o Erton acabou
apresentando a proposta mais alta ou não apresentando e o consórcio vencedor foi o
consórcio Odebrecht, Mendes Júnior e UTC”.]
“Juiz Federal Sérgio Moro: (…) O senhor até mencionou esse contrato
anteriormente, salvo engano, Pipe Rack, houve aqui pagamento de propina?
Youssef: Houve.
Youssef: Participei.
Juiz Moro: Com quem foi negociado esse caso?
(…)
Youssef: Sim.
(…)
Com exceção do Sr. Antonio Palocci, que adquiriu um apartamento por R$ 6,6
milhões (e um escritório por R$ 821 mil) devido a sua extraordinária competência
como consultor universal – aumentou em 125 vezes o faturamento de sua empresa de
consultoria entre 2006 e 2010 (cf. HP 25/05/2011) – não lembramos de ninguém
demitido por algum indício real.
Essas obras foram contratadas em 2002 – ou seja, ainda antes do governo Lula –
pelo valor de R$84.737.023,48 (84 milhões, 737 mil, 23 reais e 48 centavos). Com
aditivos de R$ 19.755.301,87 (19 milhões, 755 mil, 301 reais e 87 centavos), esse
valor foi elevado para R$ 104.492.325,35 (104 milhões, 492 mil, 325 reais e 35
centavos), um aumento de +23% no preço.
O que há de ilegal, diz o TCU, é que “tais mudanças não podem trazer reflexo
nos quantitativos, nas especificações técnicas ou no dimensionamento dos serviços
contratados, o que exigiria necessariamente a prévia celebração de aditamento
contratual” (cf. AC-2053-33/15-P, 19/8/2015).
O detalhe final é que essa obra nunca funcionou. Segundo o DNOCS, por falta
de água. O TCU estranha o planejamento de uma obra de irrigação que nunca
funcionou por falta d’água. Porém, apesar do relatório e da decisão do TCU, ninguém
foi responsabilizado.
Voltemos à Petrobras.
C.L.
g) adiantamento de pagamentos;
8. Merece registro o fato de que também ocorreram fatos novos, tais como a
celebração do 14o termo aditivo, com revisão de preços a impactar o cálculo
do efetivo montante a ser ressarcido aos cofres da Petrobras.
10. Ao fim, sobrevindo o último termo aditivo ao contrato, mais uma análise
foi empreendida (maio de 2012). Analisando o impacto desse último aditivo
e os pagamentos ocorridos até o final do contrato, houve uma redução no
valor do superfaturamento em relação à instrução anterior, passando a ser de
R$ 69.597.561,76.
12. Com efeito, o termo aditivo que formalizou os acréscimos só foi lavrado
em março de 2010, não obstante terem sido realizados e medidos os serviços,
antes dessa formalização.
13. Também cito a situação dos drenos de areia, cuja exorbitância do preço
originalmente contratado foi ressaltado em meu voto condutor da primeira
medida cautelar, com diferença maior na ordem de 459,86%, teve seus
quantitativos aumentados enormemente, comparativamente ao que foi
executado e o previsto no orçamento. Estavam previstos inicialmente a
realização de 27.000 m3, mas já haviam sido realizados 299.758 m3 desse
serviço.
18. Aproveito esse ponto para afastar a argumentação trazida pelo Consórcio
Abreu e Lima, no sentido de que o superfaturamento remanescente a ser
considerado seria o resultado dessa diferença, no importe de R$
19.787.834,53, valor que, se comparado ao montante executado no contrato,
representaria percentual sem significância suficiente para se concluir pela
ocorrência de superfaturamento.
27. Por último, com relação às ditas reduções de velocidade [dos caminhões
dentro da obra], não vejo que tal argumento tenha força para alterar o
conteúdo da proposta sugerida pela Secob e pelo Ministério Público. Eis
alguns motivos:
“De acordo com o que informou o Sr. Paulo José da Silva um dos sócios da W.
Líder”, relata o juiz Frigieri, “esta foi instituída para executar serviços na Biocom de
Angola e, embora figurasse como empregadora formal/aparente, não tinha poder de
mando sobre seus contratados, que estavam subordinados por força contratual aos 3
ou 4 empregados da Planusi, tendo, assim, a única função de contratar e fornecer mão
de obra para montagem do sistema de tratamento de caldo e fabricação de açúcar da
Biocom, com previsão contratual expressa de que a W. Líder, fornecendo mão de
obra, aceitaria a condição de que a Planusi seria responsável pela coordenação e
orientação na execução dos serviços, bem como responsável pela representação da
Biocom, podendo a Biocom, por intermédio da Planusi, exigir a contratação de mais
empregados se houvesse atraso na conclusão dos serviços”, registra a sentença.
O que foi revelado é que a Odebrecht ofereceu mão de obra a Biocom através
das empresas que contratou.
Ao que o juiz rebate que “se insere no risco econômico da atividade e no risco
da atividade econômica da empresa tomar medidas eficientes para que o ambiente de
repouso, preparação e consumo das refeições seja asseado e descontaminado,
inclusive como medida preventiva de doenças”.
“As fotos juntadas pela defesa, todas tiradas no mesmo dia, 16 de junho de 2014
(período da Copa do Mundo de Futebol no Brasil), além de não refletirem as reais
condições do início dos trabalhos, como já se disse, retratam, aparentemente,
trabalhadores do setor administrativo, que talvez não se alimentassem no mesmo
horário ou até no mesmo local dos trabalhadores da obra, que normalmente usam
uniforme tipo macacão que, na maioria das vezes está sujo, podendo ser visualizado
nas fotos que os obreiros usavam roupas sociais limpas. Cogitei tratar-se, o momento
captado pelas fotos, o do horário de jantar, mas percebi a angulação solar e me
convenci de que se tratava da metade do dia, parecendo-me, ainda, que o ambiente foi
montado para que a fotos fossem feitas.
O mais cruel é que os trabalhadores não podiam voltar para o Brasil, pois seus
passaportes foram confiscados ao chegar a Angola.
“... não há prova de que os trabalhadores que se ativaram em Angola com vistos
ordinários, receberam ou tiveram liberados em algum momento, mesmo
posteriormente, seus vistos de trabalho, havendo total silêncio da defesa quanto a esse
fato, evidenciando que uma coletividade de obreiros se ativou de forma irregular em
país estrangeiro, como se depreende, inclusive, do depoimento do sócio da Planusi,
ao afirmar que o trabalhador não obtinha visto de trabalho e quando vencia o prazo de
validade do visto ordinário, tinha que retornar ao Brasil para obter novo visto,
ordinário.
“Há, assim, dúvidas que permanecem sem respostas: sendo a Biocom uma obra
que o Governo Angolano considerava de interesse público, como várias vezes
ressaltou a contestação, sem contar o bom relacionamento dos representantes do
Grupo Odebrecht com os dirigentes daquele país, por quê o órgão responsável não
agilizou a concessão dos vistos de trabalho aos profissionais brasileiros
especializados, cujos serviços se destinavam a colaborar na execução de uma obra de
interesse público, que auxiliaria na reconstrução do país destruído por uma Guerra
Civil?
“Essas indagações, até aqui sem respostas plausíveis, somadas aos fatos acima
comprovados, nos levam a aceitar a conclusão de que a única razão que emerge das
condutas acima descritas era a de que era proposital a manutenção de trabalhadores
brasileiros em território estrangeiro em situação precária quanto a vistos,
circunstância que, por certo, proporcionava maior poder sobre esta fonte de trabalho,
parecendo haver interesse da Biocom/Odebrecht ter permanentemente à disposição
mão de obra especializada cativa, completamente dominada, com pouca ou nenhuma
capacidade de resistência, eis que mantidos de forma ilegal em país estrangeiro”.
10. O PT na Petrobras: Vaccari, Duque & alguns outros (I)
Até o atual escândalo, não havia pai ou mãe de família brasileiros (isto é, fora os
que renegam a sua Pátria, pois existem) que não mostrasse a Petrobras aos filhos
como exemplo da nossa capacidade, como a prova de que o Brasil pode ter um
grande destino, e, dentro disso, como a prova da honradez do povo brasileiro, da
honestidade da coletividade brasileira, em suma, como demonstração de honra da
verdadeira Nação.
Mas, ao invés de nos estendermos sobre sua ideologia, melhor será citar alguns
fatos que a demonstram.
“... indagado pelo Delegado de Polícia Federal sobre quanto João Vaccari
Neto recebeu em nome do Partido dos Trabalhadores (PT), por conta dos
aproximadamente 90 (noventa) contratos firmados com a Petrobras, ao longo dos
anos de 2003 a 2013, afirma que, considerando o valor que o declarante recebeu a
título de propina, que foi de aproximadamente US$ 50 milhões de dólares, estima
que foi pago o valor aproximado de US$ 150 a 200 milhões de dólares ao Partido
dos Trabalhadores (PT), com a participação de João Vaccari Neto” (Termo de
Colaboração no 3 de Pedro Barusco, 21/11/2014, pp. 6 e 7).
Barusco é altamente categorizado para esse tipo de estimativa: era ele quem
recolhia a propina que, depois, Renato Duque dividia com Vaccari. Às vezes, ele
próprio participava da divisão com Vaccari.
Se, nas contas de um gerente, havia US$ 97 milhões, que foram devolvidos à
Petrobras, não parece nada absurda a estimativa de que o PT, através de Vaccari,
embolsou de US$ 150 milhões a US$ 200 milhões. Por essa estimativa, o PT, entre
2003 e 2013, levou apenas três ou quatro vezes os US$ 50 milhões que Barusco
confessa que recebeu no mesmo período – fora as aplicações que lhe multiplicaram o
capital roubado do povo brasileiro, isto é, da Petrobras.
Parece até, por incrível que pareça, quando comparada ao que levou Barusco,
uma quantia modesta para quem estava bancando politicamente o assalto.
E pensar que houve época em que Juca Chaves atazanava Ademar de Barros
com a música “Caixinha, obrigado” (“A situação do Brasil vai muito mal/ Qualquer
ladrão é patente nacional/ Um policial, quase sempre, é uma ilusão/ E a condução é
artigo racionado./ Porém, ladrão, isso tem pra todo o lado!/ Caixinha, obrigado!”).
Mas, variante da última “teoria”, ainda houve aqueles que se queixaram de uma
terrível injustiça: se os tucanos roubaram, por que os petistas não podem roubar?
Pretender que o assalto à Petrobras é uma atividade tão “de esquerda” que
merece até pirulitos de apoio em manifestações, pedindo a soltura do Sr. Vaccari –
supostamente “preso político” – é uma infâmia semelhante àquela que tentou associar
“socialismo” com uma repugnante gororoba racista na Alemanha.
[A propósito, Barusco diz que o total era US$ 98 milhões, mas que gastou US$
1 milhão em viagens e tratamentos médicos (cf. TC no 2, 20/11/2014, pp. 2 e 3).]
Por que Barusco era tão importante para o esquema do PT, isto é, para Duque,
colocado na diretoria de Serviços da Petrobras por obra do PT?
Se o objetivo era roubar, por que arrumar uma aporrinhação – isto é, um sujeito
honesto, e logo na gerência de Engenharia?
Segundo, porque Duque, amigo de Barusco desde 1995, conhecia o ladrão certo
para ocupar o cargo – e por isso o convidou.
“... afirma ter trabalhado para Duque como uma espécie de contador,
recebendo grande parte da propina para si e para Renato Duque no exterior, em
contas mantidas em bancos suíços, como as contas Rhea Comercial, Pexo
Corporation, Canyon View Assets, Daydream e Backspin, Doletech;
“... Renato Duque era desorganizado com as questões que envolviam o
recebimento das propinas, de maneira que deixava o declarante controlar aquilo que
era devido pelas empresas a título de propina;
“... com uma frequência quinzenal, Renato Duque pedia ao declarante dinheiro
em espécie, normalmente em ‘pacotes de R$ 50.000,00’; esses pagamentos em
espécie para Duque eram feitos com dinheiro que o declarante guardava em casa
por conta também de propinas recebidas” (TC no 2, cit., p. 3).
Nem por isso era menos ladrão. Em outra conta no mesmo banco (n o 5134285,
em nome de outra empresa-fantasma, a Pamore Assets Inc), Duque agasalhou o
equivalente em euros a US$ 2.543.643,65 (dois milhões, 543 mil, 643 dólares e 65
cents).
E, mais, ainda nessa conta: “entre junho e agosto de 2013, 5 entradas de títulos
para um montante global aproximado de 2.799.859, valor equivalente em euros; em
maio de 2014, 13 entradas de títulos para um montante global aproximado de
4.121.547, valor equivalente em euros” (cf. relatório do Service d’Information et de
Contrôle sur les Circuits Financiers (SICCFIN) do Principado de Mônaco, pp. 4 a 7).
Essas são apenas duas contas de Duque – que receberam depósitos de outras 26
contas, abertas em 23 bancos diferentes, localizados em 13 cidades e em sete países.
Não apenas porque, dos US$ 98 milhões que ele depositou em contas secretas,
somente US$ 1,4 milhão correspondiam ao período que vai de 1997 – quando
recebeu, da empresa holandesa SBM, a primeira propina – até março de 2003 (cf. TC
no 7, p. 2).
Antes que alguém diga que estamos subestimando o roubo da época dos
tucanos, esclarecemos que US$ 1,4 milhão é um roubo desses que nem o lendário
Raffles foi capaz.
Mas isso não altera o fato de que isso é 1,43% do roubo de Barusco. O resto –
isto é, 98,57% – foram no esquema do PT.
Tal não se deu porque os tucanos fossem mais honestos, mas pela quase
completa estagnação da Petrobras no governo Fernando Henrique (como disse
Barusco: “em 2003 a [gerência de] Engenharia realizava por ano em torno de US$ 3
bilhões de dólares e, quando o declarante saiu da companhia em 2011, estava-se
investindo US$ 3 bilhões de dólares por mês, sendo que a propina era proporcional”
– cf. TC no 2, p. 4).
Resta dizer que, para completar, tornaram proprietário da Sete Brasil, também à
custa da Petrobras, o Sr. André Esteves, dono de um banco de segundo andar, o BTG
Pactual, que, sob o favoritismo do PT, é hoje o quarto banco privado do país em lucro
líquido.
Barusco não diz (ou, provavelmente, não sabe) quanto Vaccari e o PT receberam
dos estaleiros Atlântico Sul, Enseada do Paraguasu e Rio Grande – ou seja, da
Odebrecht, Camargo Correa, Queiroz Galvão, OAS, UTC e Engevix.
“... com relação ao contrato da Engevix dos cascos replicantes, gerou um ‘valor
de contribuição’ discutida com João Vaccari no valor total de 14 milhões de reais que
foram entregues ao longo de novembro de 2009 até maio de 2011; foram feitos
pagamentos na ordem de R$ 10.000.000,00 em espécie entregues em montantes
diversos, sempre na sede do Partido dos Trabalhadores em São Paulo;
“... recorda também de duas ocasiões em que houve entregas para um portador
de nome Márcia, no Rio de Janeiro; houve indicação de João Vaccari que os
pagamentos fossem feitos para a pessoa de Márcia;
“... os valores entregues a João Vaccari eram ressarcidos à JAMP por meio de
contratos realizados entre a empresa e a Engevix Engenharia, que, descontados os
impostos, alcançam exatamente o valor entregue a João Vaccari;
“... esclarece que embora o contrato dos cascos tenha sido assinado em 2010, no
ano de 2009 em que se iniciaram os pagamentos já havia ocorrido o procedimento
licitatório;
“... no caso das doações eram sempre para o Diretório Nacional do Partido dos
Trabalhadores; não houve qualquer ato de João Vaccari para a realização do contrato,
mas sim uma ‘contribuição’ da empresa Engevix ao Partido dos Trabalhadores em
razão da obra auferida junto à Petrobras;
“... as comunicações com Vaccari eram sempre por telefone, diretamente com
ele ou com a secretária Angela;
“... com relação à menção ao contrato com o FUNCEF esclarece que a situação
especifica da prestação entre JAMP e Engevix foi utilizada no escopo do contrato,
mas apenas para a ‘cobertura’ dos valores pagos que seriam destinados ao Partido dos
Trabalhadores;
“... não houve qualquer prestação de serviços a Engevix pela JAMP nesses
contratos mencionados no presente termo; esses pagamentos não eram discutidos
com Renato Duque e Pedro Barusco” (Termos de Colaboração no 20 e 21 de Milton
Pascowitch, 17/06/2015).
Paulo Roberto Costa: Bom, dentro da Petrobras, quando ele foi indicado, corria
pelos corredores lá que ele tinha sido indicado na época pelo ministro José Dirceu.
2) Interrogatório de Barusco:
“Juiz Moro: O senhor sabe me dizer se o senhor Renato Duque assumiu esse
cargo de diretor também em decorrência de alguma influência política?
Pedro Barusco: Era também comentário. Que teria sido o PT, mais
especificamente o senhor José Dirceu, mas ele nunca comentou isso comigo, nunca
falou nada disso comigo, né?”
Embora fosse voz corrente a indicação de Duque por Dirceu – e nunca existiu
nem dúvida sobre isso – forçoso é reconhecer que, até aqui, ainda estamos no terreno
do que se ouviu – e, não necessariamente, o que se ouviu corresponde ao que é
verdadeiro. Além disso, Dirceu não pode ser responsabilizado pelos malfeitos de
Duque, exceto se participou deles.
Milton Pascowitch: “... certa feita Fernando Moura cobrou de Renato Duque o
fato de que este não estava contribuindo na medida correta com a sua indicação
para Diretor da Petrobras, acusando-o de retenções ou desvios de valores que
deveriam ir para Fernando Moura e não o eram; então Renato Duque disse a
Fernando que este estava autorizado a receber qualquer valor que entendesse, que
teria como crédito junto a Júlio Camargo; este encontro ocorreu na casa do
declarante no Rio de Janeiro, em um final de tarde.
Fernando Moura é Fernando Antônio Guimarães Hourneaux de Moura, ligado
ao PT – e, sem contestação, a Dirceu – desde a época que se encerrou com o
escândalo do Land Rover para Sílvio Pereira.
Nos processos oriundos da Lava Jato, é algo chocante como Moura não parece
ter inibições em usar contas de familiares para receber propinas, envolvendo seu
filho, suas duas filhas, um sobrinho e seu irmão gêmeo, o cirurgião plástico Olavo
Hourneaux de Moura Filho.
“... Fernando deu a entender que achava que Renato Duque estava em conluio
com Júlio Camargo para reter os valores das comissões da área de materiais e de
serviços compartilhados;
“... este acontecimento fez com que se estabelecesse uma nova condição, isto é,
a empresa Hope, e uma outra empresa chamada Personal Services, igualmente da
área de serviços compartilhados, deveriam passar a fazer os pagamentos das
comissões ao declarante, e não mais a Júlio Camargo;
“... esta nova orientação foi passada às empresas por Fernando Moura, que
devem ter confirmado com Renato Duque;
“... a Hope entregava uma planilha com o valor faturado, e sobre este valor
pagava três por cento sobre o montante líquido recebido (menos impostos e
encargos), que resultava aproximadamente em uma comissão de 1,5 por cento do
valor bruto (...); quanto a Personal, havia um acordo de pagamentos de valores fixos
mensais, apurados contrato a contrato;
“... tais recursos geraram uma média de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais)
mensais, alcançando R$ 700.000,00 a R$ 800.000,00 ou mais baixos, em razão do
faturamento da Hope;
“... havia solicitações esporádicas de recursos por parte de José Dirceu, que
então eram cobertas com contratos de consultoria com a JD, como contratos firmados
pela Engevix, que também firmou contrato de consultoria com a JAMP;
“... Gerson Almada [sócio da Engevix] sabia que José Dirceu auxiliava nas
obras da Engevix com a Petrobras, e por isso não se recusou a firmar os contratos de
consultoria com a JD, como forma de contrapartida pelo auxílio, não vinculados a
nenhum contrato específico com a Petrobras;
“... havia inclusive uma planilha de valores pagos e valores faturados, que foi
apreendida por ocasião do cumprimento do mandado de busca e apreensão na JAMP;
“... os valores repassados pela Hope e pela Personal não estavam atrelados a
nenhum contrato de consultoria, e eram entregues em espécie” (TC n o 17 e 18,
18/06/2015).
DF: Na época da obra foi informada por Milton Pascowitch que o imóvel
pertencia à empresa TGS Consultoria e seria utilizada por José Dirceu, o ex-ministro
da Casa Civil do governo Lula.
DF: O valor total dos serviços foi de R$ 1.814.546,19 (um milhão, oitocentos e
quatorze mil, quinhentos e quarenta e seis reais e dezenove centavos). Este valor se
refere à obra por completo, incluindo a parte civil, mobiliário, paisagismo, enxoval,
utensílios de cozinha, sistema de segurança, dentre outros que estão relacionados
como DOC 03 e DOC 04 da petição que ora apresenta à Polícia Federal neste
momento.
DF: O valor de R$1.300.000,00 (um milhão e trezentos mil reais) foi pago
através de vários depósitos na conta corrente pessoal da depoente, conforme
extratos relacionados como DOC 05 da petição citada acima. O restante foi pago em
dinheiro, ao longo de toda a obra, até perfazer o total de R$ 1.814.546,19 (um
milhão, oitocentos e quatorze mil, quinhentos e quarenta e seis reais e dezenove
centavos).
DF: Não conhece José Dirceu de Oliveira e Silva. Só o viu pessoalmente por
alguns minutos quando José Dirceu se aproximou da casa que estava em obra, mas
não ingressou no terreno. Ressalva que José Dirceu morava na casa ao lado da casa
que estava em reforma.
DF: Nenhum.
DF: Nenhum.
DF: Nenhum.
DF: Não conhece ninguém da TGS, mas foi informada por Milton Pascowitch
que esta empresa seria proprietária do imóvel em reforma.
DF: Nenhum.
DF: Conhece José Adolfo Pascowitch, pelo apelido de Zeca, irmão de Milton
Pascowitch. Não frequenta a casa de José Adolfo e o conhece apenas de reuniões
que ocorreram no escritório da JAMP, para tratar da reforma da casa em questão.
PF: A que título se deu a doação recebida por José Adolfo Pascowitch,
declarada em seu IRPF, no valor de R$ 1.300.000,00?
“Dada a palavra à depoente, foi dito que: ‘eu sempre convivi com Milton
Pascowitch, sempre o considerei uma pessoa com recurso e com origem em uma
família abastada. Jamais poderia imaginar que ele estivesse envolvido em qualquer
prática de crimes’;
Antes que nos acusem de algo que não fizemos (nos últimos tempos, o besteirol,
que corre principalmente na Internet, se tornou uma erupção, ainda que de curto
alcance), aqui não está dito que o PT (ou o PP ou o PMDB) levaram a totalidade
desse dinheiro. Uma parte, evidentemente, ficou com os operadores e funcionários
corrompidos.
Também não está aqui dito que todo o PT (ou todo o PMDB ou todo o PP) se
beneficiou desse dinheiro. Não é possível confundir, por exemplo, o Sr. Eduardo
Cunha com o senador Requião, apesar de ambos pertencerem ao mesmo partido.
Distinções semelhantes devem ocorrer no PP e no PT – apesar de, nesse último caso,
por ser a presidente deste partido, é mais difícil distinguir quem não foi beneficiado
pela propina. Mesmo assim, não são prudentes – e nem devem corresponder à
realidade – generalizações, sem a admissão de possíveis e prováveis exceções.
Esses gastos subiram de R$ 678.481.566,99 (678 milhões, 481 mil, 566 reais e
99 centavos) em 2002 para R$ 4.557.310.095,92 (quatro bilhões, 557 milhões, 310
mil, 95 reais e 92 centavos) em 2014 (cf. TSE, Repositório de Dados Eleitorais,
Prestação de Contas, 2002-2014).
Que o PSDB seja o partido preferido de quem tem dinheiro, no país e fora dele,
não é propriamente uma novidade.
Mas, então, como o PT conseguiu aumentar seus gastos mais que o PSDB?
Então, o problema é: como foi possível essa loucura nos gastos eleitorais?
Mas, antes disso, como existem elementos que argumentam (?) que o aumento
dos gastos eleitorais é muito natural, pois as candidaturas se tornaram mais
“competitivas”, ou que isso se deu pelo número “excessivo” de partidos – e existe até
quem argumente (?) que não existe relação entre gastos eleitorais e sucesso na eleição
–, vejamos outro lado da mesma loucura: os gastos eleitorais nas candidaturas a
deputado federal.
Vejamos um trecho do trabalho que citamos:
“A análise dos dados para as eleições de deputado federal demonstra uma forte
relação entre gastos [declarados] e sucesso eleitoral. Comparando a média de gastos
dos eleitos com a dos não eleitos, observa-se que aquela foi em média 12 vezes
maior. Considerando que o número de candidatos é muito grande, e que existem
candidatos que praticamente não fazem campanha, o que rebaixa os gastos da média
dos não eleitos, fizemos o cálculo da média de gastos dos candidatos ‘competitivos’,
ou seja, dos não eleitos mais próximos da eleição. Ainda assim, a relação [entre gasto
eleitoral e sucesso na eleição] continua forte: os eleitos gastaram na média nacional o
dobro dos não eleitos ‘competitivos’. Em vários estados, os eleitos gastaram o
quádruplo ou mais que seus adversários competitivos (PE: 7,2x; AC: 5,9x; SE: 5,2x:
PI: 4,7x; RN: 4,1x; GO: 4,0x). Dos 513 eleitos para a Câmara, 369 estão entre os que
mais gastaram no seu estado” (cf. Ana Luiza Backes e Luiz Cláudio Pires dos Santos,
“Gastos em campanhas eleitorais no Brasil”, Cadernos Aslegis, no 46, maio/agosto
2012, p. 58).
Estamos de pleno acordo com o autor desse trabalho quando, depois de apontar
que essa lista “considera apenas o CNPJ do doador”, diz: “Se as doações fossem
agregadas por grupos empresariais, a concentração observada seria ainda maior,
pois vários grupos dispersam suas doações por mais de um CNPJ” (cf. Wagner
Pralon Mancuso, “A reforma política e o financiamento das campanhas eleitorais”, in
Reforma Política Democrática – temas, atores e desafios, Fundação Perseu Abramo,
2015, p. 91/92).
Os autores apontam que, na atual Câmara, “os eleitos gastaram 11 vezes mais
que os não eleitos” (cf. Márlon Reis e Luiz Flávio Gomes, “Quem são os eleitores?
10 empresas financiaram 70% dos deputados”, JusBrasil, agosto/2015).
A partir daí, os autores concluem: “Não existem de fato eleições livres no Brasil
e não é difícil compreender onde está o centro do problema. Se um candidato não
dispõe de recursos significativos para promover a sua campanha e outro está
abastecido por milhões (os eleitos gastaram 11 vezes mais que os não eleitos), já se
sabe de antemão quem vencerá. (...) Em circunstâncias assim, para ser eleito é mais
conveniente encontrar meios de conquistar o beneplácito de poderosos financiadores
que perder tempo tentando convencer os eleitores da validade dos seus propósitos
políticos.”
Qualquer reforma política séria terá que começar pela limitação do abuso do
poder econômico ou será uma palhaçada. No entanto, em 13 anos de poder, o PT nem
mesmo tocou no artigo 17-A da lei eleitoral de Fernando Henrique (Lei n o 9504/97)
que, a rigor, estabelece que os gastos são ilimitados.
Por quê?
Não espanta que um candidato a ideólogo tucano (os ideólogos verdadeiros nem
moram no Brasil) escreveu, sobre a eleição de Dilma: “Do ponto de vista das regras
de funcionamento da democracia, não há problemas. Estelionato faz parte do jogo.
(...) João Santana, em entrevista ao jornalista Luiz Maklouf Carvalho no livro ‘João
Santana – Um Marqueteiro no Poder’, da editora Record, afirma que não é possível
traçar linha clara entre manipulação e informação política. De fato, é difícil haver
critérios objetivos que permitam essa distinção” (Samuel Pessoa, “A conta do
estelionato”, FSP, 29/03/2015).
Embora seja impossível deixar de notar a podridão moral a que leva a opção
preferencial pelo dinheiro, evitaremos a tentação de uma abordagem filosófica do
problema.
“Gerson Almada declarou que por diversas vezes Milton Pascowitch levou-lhe
demandas de pagamentos a serem efetuados ao Partido dos Trabalhadores – PT, as
quais não eram vinculadas a um contrato específico da empresa com a Petrobras,
sendo tratadas diretamente pelo operador financeiro com Vaccari:
Almada: Não, não quero arriscar números. O senhor me desculpe, faz algum
tempo. Então... mas posso trazer ao juízo.
Almada: Sim.
MPF: Certo.
Alguma coisa deve ter ocorrido nesse sentido, mas o problema nem mesmo está
em que é difícil explicar um aumento – somadas as despesas declaradas à Justiça
Eleitoral de todos os candidatos do PT nas eleições – de +997,31% nos gastos
eleitorais entre 2002 e 2014, para uma inflação acumulada de 158,22% (cf. TSE,
Repositório de Dados Eleitorais, Prestação de Contas, 2002-2014).
Esse artigo foi encarado, com muita razão, como uma licença para gastar até o
infinito – e, na prática, foi o que se viu. A questão se resume a que, num sistema de
gastos ilimitados, com as exceções de praxe, ganha quem gastar mais.
Muito ilustrativo de como o PT procurou resolver o problema por essa via, são
os depoimentos dos empresários Gerson Almada e Ricardo Pessoa.
“... conheceu João Vaccari Neto por meio de José de Filippi Júnior, tesoureiro
da campanha do PT em 2006 para Presidente; Vaccari captou valores com o
declarante para o PT antes de 2010;
“... a partir do final de 2007, início de 2008, toda vez que a UTC ganhava um
contrato na área de Serviços – que era a grande maioria dos contratos da Petrobras –
Renato Duque [diretor de Serviços da Petrobras] pedia para que o declarante
procurasse João Vaccari para fazer ‘contribuições’, o que Vaccari chamava de
‘entendimentos políticos’, mas que em verdade era propina; Barusco usava o termo
‘participações’; nenhum deles usava a expressão ‘propina’;
“... havia reuniões periódicas em que Vaccari já sabia o valor do contrato que o
declarante havia ganhado e conversavam sobre os ‘entendimentos políticos’;
“... a Diretoria de Serviços cobrava 1% do valor dos contratos, sendo certo que
deste percentual metade era para Barusco/Duque e metade para João Vaccari;
“... por vezes o declarante deixava alguns saldos para pagar perto da campanha,
para que aquilo fosse transformado em ‘doações’ para campanha, pois o
declarante já sabia que nesta época cresciam sempre as solicitações de pagamentos
por parte do PT;
“... a contribuição para o partido (PT) se iniciou antes das contribuições para
os funcionários da Petrobras”.
“... depois de um certo tempo, por volta de 2008, as pessoas físicas, funcionários
da Petrobras, da Diretoria de Serviços passaram a cobrar valores para eles também;
tais pessoas eram Renato Duque e Pedro Barusco, que era gerente de Engenharia na
Diretoria de Serviços” (cf. TC no 19).
Mas existe algo mais óbvio ainda: um esquema desse tipo seria inviável sem a
existência de funcionários corruptos – ou, mais precisamente, corrompidos.
Vejamos, então, uma descrição do mecanismo que drenava propinas para o PT:
“... a maioria dos pagamentos feitos para o PT era por meio de doações oficiais,
mas por vezes João Vaccari pediu valores em espécie, por fora; não sabe por qual
motivo Vaccari pedia valores por fora;
“... Vaccari dizia que tais contribuições por fora também eram destinadas para o
PT, embora o declarante não tenha como ter certeza;
“... o declarante não dizia a Vaccari que havia ganhado a obra; tal informação
era repassada a Vaccari por intermédio de Duque; Vaccari já ia conversar com o
declarante tendo detalhes da obra, do valor e tendo conhecimento de que o declarante
havia ganhado o contrato;
“... com Vaccari a conversa era muito ‘elegante’, pois não cobrava
incisivamente e tratava do tema de forma bastante polida;
“... com Duque o tema era tratado de forma muito ‘sutil’, mencionando apenas
uma frase, tal como ‘Você falou com Vaccari?’, por exemplo; isto já era suficiente
para o declarante entender a mensagem de Duque;
“... Barusco chegou a dizer ao declarante: “Você ganhou tem que pagar”;
“... cerca de 60% a 70% das obras da UTC eram com o sistema Petrobras
(Petrobras, BR Distribuidora, subsidiárias etc.) e por isto o declarante acabou tendo
proximidade com Barusco e Duque, embora com o último em menor grau; sobre os
contatos com Duque, afirma que se encontra com ele com certa frequência;
“... na Petrobras, Duque evitava tratar dos temas relacionados à propina, embora
o tema possa ter surgido em algumas oportunidades; também jantava com Duque
com alguma frequência; conforme dito havia contribuições na Diretoria de Serviços
para pessoas físicas (Barusco/Duque) e para o PT;
“... os valores pagos para Vaccari eram por meio de doações oficiais e também
por meio de entrega de valores em espécie, fora da contabilidade;
“... esclarece que o dinheiro era levado na UTC em São Paulo em espécie por
algum funcionário de Youssef na sexta feira e o declarante entregava os valores em
espécie no sábado para Vaccari;
“.. a parte que era doações oficiais constava da contabilidade da UTC; o que era
doações não oficiais, isto não constava na contabilidade da UTC;
“... o dinheiro por fora pago para Vaccari era chamado por ele por ‘pixuleco’;
“... este dinheiro do caixa dois ficava em poder de Alberto Youssef, como um
‘banco’;
“... porém, Vaccari tinha uma memória “prodigiosa” e não levava nenhuma
anotação, rasgando todas as anotações em pedaços bastante pequenos;
“... sabia que Vaccari picava os documentos porque ele jogava os papéis, bem
pequenos, no cinzeiro, e o declarante, que era fumante, acabava não utilizando mais
aquele cinzeiro;
“... o declarante manteve uma contabilidade disto, que ora é juntada em anexo;
“... a planilha que ora apresenta, intitulada ‘JVN – PT’, corresponde a esta
contabilidade do dinheiro em espécie, paralela, que possuía com João Vaccari e tudo
relacionado com a Petrobras; ‘JVN’ significa João Vaccari Neto;
“... o dinheiro levado por Youssef era enviado sempre próximo ao pagamento
para Vaccari, pois o declarante não queria que o dinheiro ficasse no cofre por mais de
um dia, por questões de segurança;
“... todas as contribuições ao PT por meio de João Vaccari, feitas por fora,
estão registradas nesta tabela, sendo que o valor total pago foi de R$ 3.921.000,00,
entre os anos de 2008 e 2013;
“... também apresenta uma outra tabela, em anexo, que retrata as doações
oficiais feitas ao PT, no valor total de R$ 16.600.000,00 (dezesseis milhões e
seiscentos mil reais);
“... havia também doações para o PT que não estavam relacionadas à Petrobras;
como regra, as doações oficiais feitas a pedido de Vaccari eram direcionadas para os
Diretórios do PT, por indicação do próprio Vaccari, e não para políticos específicos;
“... pode afirmar que todas as doações oficiais feitas fora do período de
campanha ao PT se referem ao pagamento de propinas ligada a Petrobras;
“... todos estes valores constantes da tabela apresentada são propinas pagas,
relacionadas a contratos com a Diretoria de Serviços, ao PT, por intermédio de
Vaccari; todos estes valores foram tratados, sem dúvida, com Vaccari;
“... a única Diretoria a que Vaccari possuía relação era a Diretoria de Serviços;
o declarante nunca teve relação com a Diretoria Internacional;
“... quem poderia ainda testemunhar sobre as visitas de Vaccari aos sábados era
também a copeira Maria de Fátima Falcão, que conhecia João Vaccari;
“... o declarante é que preferia que tais encontros fossem aos sábados, pois
assim evitava de ter que ir à sede do Diretório Nacional do PT, no centro da cidade;
“... todas as vezes em que Vaccari foi buscar dinheiro em espécie, havia prévio
aviso, seja em reunião anterior ou por meio de mensagem, em que Vaccari
mencionava que buscaria o ‘pixuleco’;
“... nem todas as vezes em que Vaccari esteve na UTC foi para buscar dinheiro
em espécie; Vaccari também foi à sede da UTC para ‘acertar’ a contabilidade ou,
ainda, para tratar de novos negócios; na agenda do declarante há diversos
apontamentos sobre tais reuniões com Vaccari;
“... na grande maioria das vezes, por cerca de 80%, em que se encontrou com
Vaccari foi para tratar de ‘contribuições’ para o PT;
“... encontrou com Vaccari em outros locais, como por exemplo o Hotel
Windsor ou no Sofitel, no Rio;
“... nesse caso do Hotel Sofitel, por exemplo, Vaccari comentou que o
declarante havia ganhado uma obra e que iriam tratar do ‘entendimento político’ na
próxima reunião de sábado, na UTC;
“... mesmo tendo se reunido várias vezes com Vaccari, nunca este último
mencionou o destino dos valores, a não ser na época das doações eleitorais oficiais,
em que Vaccari indicava o destino, se Diretório Regional, Nacional etc; porém,
ficava claro para o declarante que o dinheiro entregue para Vaccari era destinado ao
PT;
“... o relacionamento de Vaccari era com Renato Duque e não com Barusco; já
viu Renato Duque e Vaccari juntos em algum jantar e sabe que eles se encontravam
com frequência no Rio de Janeiro; isto era dito ao declarante tanto por Vaccari
quanto por Duque;
“... João Vaccari era quem distribuía a forma como eram feitas as doações
oficiais; as decisões de distribuição dos valores oficiais eram sempre de João
Vaccari;
Mas há algo nesses causídicos do roubo que faz lembrar o dito por Vieira, em
1655, diante do então rei de Portugal, D. João IV, sobre o estado de coisas no império
colonial português: “o roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza” (Antonio
Vieira, “Sermão do Bom Ladrão”).
No entanto, a única reforma política de que não falam, porque não querem, é a
de estabelecer um limite razoável para os gastos eleitorais. O país vive, desde Collor,
uma situação miserável de exclusão eleitoral – exclusão cada vez maior do povo entre
os eleitos.
Porém, mesmo depois de uma ruptura nesse processo – com a eleição de Lula
em 2003 – prefere-se manter o status quo e até piorá-lo, em termos de abuso do poder
financeiro nas campanhas eleitorais. É como se a cúpula do PT tivesse chegado à
conclusão de que, uma vez no governo, estava em condições de conservar o poder
nos termos dos tucanos.
Assim foi. Portanto, a ladainha sobre uma miraculosa “reforma política” que
passa ao largo do essencial, equivale a mudar nada – exceto em desfavor de
candidatos e partidos populares – para que se continue afundando no mesmo charco.
É uma pobre ideia da espécie humana, mas que define o que são os seus
adeptos, afirmar que todas as empresas são corruptoras e todos os partidos e
funcionários públicos são corruptos. Até porque não é verdade que todos os seres
humanos (pois as empresas e os partidos são organizações de seres humanos) são
corruptos ou corruptíveis. Quem assim acha, é porque assim se sente.
Há 360 anos, o padre Vieira já ironizava essa teologia da ladroagem: “Pôs Deus
a Adão no Paraíso, com jurisdição e poder sobre todos os viventes, e com senhorio
absoluto de todas as coisas criadas, excepta somente uma árvore. Faltavam-lhe
poucas letras a Adão para ladrão, e ao fruto para furto não lhe faltava nenhuma.
Enfim, ele e sua mulher – que muitas vezes são as terceiras – aquela só coisa que
havia no mundo que não fosse sua, essa roubaram. Já temos a Adão eleito, já o
temos com ofício, já o temos ladrão”.
Por quê?
Quanto ao seu caráter nacional, nem é preciso fazer algum paralelo com um
monopólio privado de outra área – por exemplo, a Ambev – para perceber a situação
de vulnerabilidade do país. Nos últimos quatro anos, o setor de bebidas emparelhou
com as montadoras automobilísticas – e, inclusive, em alguns momentos, as superou
– em remessas de lucros para o exterior.
É óbvio que os monopólios privados internos não são páreo para os monopólios
privados externos, os monopólios imperialistas, já consolidados há longa data.
Mas, se esse modelo foi imposto nos países imperialistas pelos monopólios –
que já são financeiros por sua própria natureza econômica, o que tem como
consequência a espoliação da população por seu parasitismo, pilhagem e
entrelaçamento com outras empresas – é ridículo que se pretenda, aqui no Brasil, que
essa aberração é o que existe de mais moderno, apenas porque predomina nos países
imperialistas, como se o servilismo fosse medida de “modernidade”.
Até porque a própria Petrobras havia superado esse modelo nada menos que 40
anos antes (v. Carta da Associação dos Engenheiros da Petrobras [AEPET] à
presidente da Petrobras, 18/02/2014, cit. HP 26/08/2015).
“Para se ter uma ideia da rapidez com que se construía uma refinaria e seus
oleodutos na época, com a Petrobras como integradora, em condições muito mais
difíceis, com os mercados de bens e serviços em desenvolvimento no país, basta citar
o caso da REPLAN [Paulínia], nossa maior refinaria em capacidade de
processamento de petróleo (415 mil barris/dia), responsável por 20% do refino do
petróleo no Brasil e 80% do petróleo nacional. Sua construção começou em julho de
1969, tendo sido inaugurada em 12 de maio de 1972, processando 126 mil
barris/dia, parcela significativa do refino do país na época. Não bastasse ter sido
construída em menos de 1000 dias, entrou em operação em 2 de fevereiro de 1972,
três meses antes da inauguração”.
Essas refinarias foram construídas por empreiteiras privadas – mas não sob o
“modelo EPC”, e, sim, sob a direção e fiscalização dos engenheiros da Petrobras.
A comparação da AEPET é, justamente, com a RNEST (Abreu e Lima),
principal projeto de refinaria desde 2003 (ou quase o único, pois a construção das
refinarias do Maranhão e do Ceará foi suspensa e a primeira refinaria do Comperj
ainda não entrou em operação):
Como não deve ter escapado ao leitor, a REPLAN tem quase duas vezes a
capacidade de refino da Refinaria Abreu e Lima (RNEST), quando esta for,
finalmente, finalizada (para o leitor exigente, que são quase todos: este “finalmente
finalizada” é proposital).
Menos compreensível é que ele seja imposto a Petrobras por alguém que foi
nomeado pelo governo para dirigi-la – com a anuência da então presidente do
Conselho de Administração da empresa, Dilma Vana Rousseff.
“... em 2009 foi criada a UTC Óleo e Gás, que produz petróleo em campos
maduros [campos terrestres já explorados pela Petrobras];
“... abriu uma sucursal da UTC e uma sucursal da Constran no Peru, as quais
nunca chegaram a ter contratos naquele país, encontrando-se atualmente fechadas”.
“... o termo ‘contribuições políticas’ era utilizado pelo deputado José Janene,
mas, na verdade, tais contribuições eram propina;
“... por volta de 2006 ou 2007, José Janene chamou o declarante até sua
residência e informou que o Partido Progressista - PP tinha uma diretoria na
Petrobras, referindo-se a Paulo Roberto Costa e à Diretoria de Abastecimento, e que a
partir daquele momento o declarante teria que pagar um percentual em cima de cada
contrato com aquela diretoria;
“... Janene disse ao declarante que esses valores iriam para todos os membros do
partido;
“... foi apresentado a Alberto Youssef na casa de José Janene; Youssef foi
apresentado ao declarante como um empresário chamado de ‘Primo’; Paulo Roberto
Costa posteriormente avisou para o declarante que, a partir dali, quem iria ‘operar’ os
pagamentos dos percentuais destinados ao PP seria Alberto Youssef;
“... mais ou menos a partir de 2007 ou 2008, também foi solicitado pagar
propina nos contratos da Diretoria de Serviços;
“... na área de serviços quem solicitava os pagamentos era Pedro Barusco, a
mando de Renato Duque, indicado pelo Partido dos Trabalhadores – PT;
“... os pagamentos eram feitos com base nos valores dos contratos;
“... o esquema funcionava dessa forma para qualquer empreiteira, e não somente
para a UTC”.
15. O PT contra a Petrobras: Vaccari, Duque & outros (VI)
O Sr. Rui Falcão, presidente do PT, afirmou, em nota oficial, que a condenação
do Sr. João Vaccari Neto a 15 anos de cadeia, em um dos processos a que responde o
ex-tesoureiro do seu partido pelo roubo a Petrobras, foi “sem provas”, “injusta” e que
“baseou-se exclusivamente em delações premiadas, sem qualquer prova material”.
Ou será que essas pessoas fizeram uma assembleia para combinar os seus
depoimentos? Com que interesse? Pois a continuidade do estado de coisas – o
esquema contra a Petrobras – somente lhes beneficiaria.
Mas não é verdade que só existem, nos processos da Operação Lava Jato,
provas testemunhais (depoimentos também são provas – por isso, o presidente do PT
afirma, ao mesmo tempo, que a condenação de Vaccari foi “sem provas” e que
“baseou-se exclusivamente em delações premiadas, sem qualquer prova material”,
desmentindo, portanto, sua própria declaração anterior, ao admitir implicitamente a
existência de provas, embora não “materiais” – e toda essa ginástica numa nota de
poucas linhas).
Pois bem, uma das provas materiais é a tabela que resumimos abaixo,
apreendida com o presidente da UTC, Ricardo Pessoa, com valores entregues a
“JVN”, isto é, João Vaccari Neto. Tem a agravante de que os recursos que constam
dela não foram declarados pelo PT, seja como contribuições ao partido ou como
contribuições eleitorais. Eis a tabela:
É verdade que uma parte ponderável do esquema foi revelado por confissões, a
maioria sob o estímulo da redução de pena em troca de informações. Mas, se não
houvesse provas materiais, por que esses elementos confessariam?
Também não existem dúvidas sobre os vínculos de Moura com o PT. Como ele
mesmo diz, em seu primeiro depoimento:
“... é amigo de José Dirceu de longa data; sempre participou das campanhas do
Partido dos Trabalhadores; sua participação consistia na organização de eventos
para arrecadação de fundos para as campanhas e em agregar pessoas da sua
convivência para participar das campanhas eleitorais; participou das eleições de
1986, ocasião em que apoiou a candidatura de José Dirceu a Deputado Estadual e
em 1990 quando o mesmo foi candidato a Deputado Federal; no ano de 1995
participou da campanha do José Dirceu para Presidente do Partido dos
Trabalhadores, cargo para o qual ele foi reeleito em 1997 e 2001; nas eleições de
2002, de igual forma, participou da campanha, em especial, para a campanha de
José Dirceu e consequentemente do então candidato Luís Inácio Lula da Silva; nas
eleições de 2002 organizou alguns almoços e jantares de apoio ao candidato a
Deputado Federal José Dirceu, sempre com o objetivo de agregar simpatizantes e
doadores de recursos para a campanha” (cf. Termo de Colaboração no 01 de
Fernando Antonio Guimarães Hourneaux de Moura, 28/08/2015).
Nada, portanto, objetável ou que possa merecer alguma restrição moral ou legal.
“... então o declarante foi ao escritório de Júlio Camargo, que ficava na Avenida
Joaquim Floriano [São Paulo], e o encontrou pessoalmente;
“... o declarante recebeu das próprias mãos de Júlio Camargo algo em torno de
R$ 350.000,00 (trezentos e cinquenta mil reais) em uma sacola;
“... nesse mesmo ano, Sílvio Pereira pediu novamente que o declarante fosse
retirar um dinheiro no escritório da Camargo Corrêa, na Avenida Juscelino
Kubitschek [São Paulo];
“... ao chegar lá, o declarante foi recebido por João Auler, que lhe entregou a
quantia de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais);
“... esse fato pode ser comprovado pelo registro que deve se encontrar na
portaria do escritório;
“... em seguida, o declarante entregou essa quantia a Sílvio Pereira, que lhe
disse que os valores seriam para pagar despesas da campanha de 2004”.
Apesar de ser claro no depoimento que esse dinheiro era em troca de obras na
Petrobras, não é seguro que, nessa época, o esquema de propinas do cartel já
estivesse, por assim dizer, institucionalizado – ou seja, já tivesse se transformado
numa instituição que alguns consideram muito normal (aliás, segundo o próprio
depoimento de Moura).
No entanto, existe algo nesse testemunho que indica que, se o esquema não
estava “institucionalizado”, as coisas já se encaminhavam nessa direção. Trata-se da
descrição que Moura faz das funções que assumiu, logo após as eleições de 2002, de
ajudar Sílvio Pereira a selecionar pessoas para preencher cargos de confiança:
“... o declarante recebeu o pedido de Licínio [de Oliveira Machado] para indicar
Renato Duque para a Diretoria de Serviços da Petrobras” (cf. TC no 1).
“... logo no início de 2003 Licínio pediu que o declarante apresentasse Renato
Duque para Sílvio Pereira, porque Duque tinha a pretensão de assumir a Diretoria de
Serviços da Petrobras;
“... primeiro Licínio trouxe o currículo do Renato Duque e teceu elogios sobre
a competência e capacidade técnica do mesmo para o cargo;
“... o declarante consultou Sílvio Pereira para saber se o nome de Duque era
compatível com o cargo;
Alguns estranharão, e têm todos os motivos, que esse fosse o método de seleção
(um deles, ao menos) utilizado pelo PT no preenchimento de cargos como o de
diretor de Serviços da Petrobras. Ninguém se lembrou de consultar alguma entidade –
por exemplo, a Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), cujos membros,
em sua maioria, apoiaram, nas eleições, o novo presidente?
Ou, o que é a mesma pergunta sob outra forma: qual era o critério do Sr. Sílvio
Pereira? O que entendia ele da indústria do petróleo ou da Petrobras?
“... os percentuais de tais contratos que eram repassados para o esquema eram
iguais aos demais contratos, algo em torno de 3% (três por cento) do valor do
contrato;
“... o declarante pode comprovar pelos extratos de conta corrente da Lelian Inc
que a cada três meses ele recebia uma transferência de US$ 30.000 (trinta mil
dólares) de Licínio”.
Por aqui vemos a ausência de provas materiais arguida pelo presidente do PT,
Rui Falcão.
Certamente, ele somente se referiu ao Sr. Vaccari. Mesmo assim, não é verdade.
Mas é algo anormal que ele não se refira ao conjunto das provas que implicam o seu
partido.
“... o declarante tem conhecimento que esse arranjo entre a Etesco e Renato
Duque permitiu que a Etesco fechasse diversos contratos milionários com a
Petrobras;
“... a Etesco chegou a fazer uma parceria com a OAS e a Toyo para a operação
de navios-sonda de perfuração em um negócio que também envolveu a Sete Brasil;
“... além dos negócios que a Etesco efetivamente realizou com a Petrobras,
foram diversos os casos nos quais a empresa ‘ganhava’ o contrato e, em seguida,
negociava com outra empresa de grande porte a cessão do contrato”.
Ou seja, até uma empresa como a Etesco, que não era das maiores, tornou-se
uma atravessadora do dinheiro da Petrobras, uma empresa quase – ou mais – de
caráter financeiro que produtivo.
“... tanto Renato Duque quanto Licínio e seus irmãos Ricardo e Sérgio ficaram
milionários com os negócios entabulados na Diretoria de Serviços da Petrobras;
“... nesse almoço, Renato Duque tratou com o declarante sobre diversos
assuntos, mas a conversa foi voltada para falar sobre ajudas ao Partido dos
Trabalhadores;
Sim, leitor, esta é uma pergunta quase retórica, diante do que se sabe depois do
início da Operação Lava Jato. Vejamos as dimensões, em dinheiro, desses contratos.
E, mais adiante:
“... também havia US$ 14 milhões de dólares em propinas a serem pagas pelo
representante da Kepell Fels, Zwi Zcorniky, referente à construção de plataformas de
perfuração mantidas entre a Kepell Fels e a Petrobras, sendo que o declarante
ajustou com Renato Duque e este recebeu US$ 12 milhões de dólares de Zwi,
possivelmente no Banco Delta, na Suíça, e o declarante recebeu US$ 2 milhões de
dólares no referido banco” (idem, p. 6).
O “agente político” seria o deputado Eduardo Cunha. Este “seria” é apenas para
respeitar o tempo de verbo (“pertenceria”) usado pelo juiz. A maioria da imprensa
utilizou expressões mais assertivas – ou seja, sem cautelas condicionais.
“... no que toca ao navio Titanium Explorer, a negociação foi feita entre a
Petrobras e uma empresa estrangeira representada pelo declarante, a empresa Vantage
Drilling Corp. (Vantage);
“... o declarante foi abordado pelo Sr. Raul Schmidt, que lhe informou que o
negócio só prosseguiria com a diretoria da Petrobras Internacional se houvesse
pagamento de propinas, não sendo possível a finalização da negociação sem tais
pagamentos, esclarecendo que estava envolvido o novo diretor, Jorge Zelada, em
substituição a [Nestor] Cerveró”.
Raul Schmidt é sócio de Jorge Zelada em uma empresa com sede na Suíça, a
TVP Solar, supostamente dedicada à energia solar – segundo suspeita a PF, seria uma
empresa de fachada para lavar dinheiro.
“... Raul Schmidt apresentou, como intermediário do diretor Jorge Zelada, o Sr.
João Augusto Henriques, que seria a pessoa que daria as instruções para o
recebimento das propinas;
“... foi explicada a dificuldade para fazer tais pagamentos, ou seja, as comissões
do declarante já estavam acordadas e assinadas via contrato com seu cliente e havia
as dificuldades relativas ao compliance da Vantage (FCPA), mas para contornar tais
dificuldades foi apresentada a ideia de procurar a empresa proprietária do navio-
sonda, a Taiwan Maritime Transportation Co. Ltd (TMT)”.
“... a TMT iria afretar um navio de perfuração para a Vantage, que por sua vez
iria operar para a Petrobras, ou seja o navio não pertencia a Vantage e sim a TMT;
“... era necessário tratar do assunto diretamente com o acionista controlador, Sr.
Nobu Su, mas o declarante, apesar de tê-lo conhecido em uma ocasião, não tinha os
contatos dele;
“... o declarante procurou o Sr. Paul Bragg, CEO da empresa Vantage Drilling,
para discutir a questão, quando informou que diretores da Petrobras estavam criando
dificuldades e que precisava estar pessoalmente com Nobu Su;
“... Paul Bragg se recusou a saber de detalhes, mas agendou a reunião com o Sr.
Nobu Su em Nova York, mais precisamente no Hotel Four Seasons;
“... nesta reunião ficou acordado que o pagamento da propina seria realizada
diretamente pela empresa TMT, que também é acionista da empresa Vantage;
“... depois disto, Nobu Su viajou para o Rio de Janeiro, tendo se hospedado no
Hotel Copacabana Palace, quando foi apresentado pelo declarante e se reuniu
pessoalmente com o Sr. João Augusto Henriques para discutir como seria realizado
efetivamente o pagamento das propinas;
“... o valor total da remuneração com a Oresta foi de US$ 15.500.000,00 [quinze
milhões e quinhentos mil dólares], a título de comissão;
“... o declarante ouviu João Augusto Henriques dizer que outro contrato, no
mesmo valor, foi efetuado para o pagamento das propinas, sendo que o declarante
acredita que seja a mesma fonte pagadora e os mesmos bancos que efetivaram os
pagamentos, por indicação de João Augusto Henriques, a título de propina;
“... o valor total efetivamente recebido foi de US$ 10.841.826,99 (dez milhões,
841 mil, 826 dólares e 99 cents) e o saldo remanescente não foi recebido, por conta
de dificuldades financeiras do grupo TMT, que ao que se sabe teria entrado em
concordata no ano de 2009;
“... o declarante recebeu sua parte por meio da sociedade Oresta, em duas
parcelas com datas distintas, no período de fevereiro/2009 a setembro de 2009,
através de créditos efetuados em conta mantida junto ao Banco UBS em Zurich (n o
267-858306.01G);
“... os pagamentos efetuados pela Oresta ao Sr. Raul Schmidt foram realizados
para a empresa Polar Capital Investment Ltd., cujo beneficiário final acredita ser o
próprio Raul Schmidt, da seguinte forma:
Quando, logo após a vitória de Lula, o PT, em dezembro de 2002, votou a favor,
no Congresso, de estender o fórum privilegiado a ex-governantes, causou
perplexidade.
Era óbvio a quem essa lei beneficiava: durante oito anos, o fórum privilegiado
servira para agasalhar os responsáveis pelas falcatruas no governo Fernando
Henrique. Mas nada impedia, se não fosse aprovado esse escárnio em forma de lei, a
investigação e processo de Fernando Henrique & outros, após deixarem os seus
cargos.
Muitos – o autor deste texto, por exemplo – encararam esse absurdo como
consequência da ilusão de que, fazendo um aceno aos tucanos, estes se comportariam
de forma semelhante com o PT.
Porém, havia mais que isso, nessa decisão de proteger Fernando Henrique et
caterva, embora, é provável que na época isso tenha permanecido inconsciente ou
confuso – exceto naqueles membros do PT que, no limite, pregavam até a fusão, sem
mais delongas nem arrodeios, com o PSDB.
Não pretendemos aqui traçar o curso que levou ao estado atual do PT, porque
não é esse o nosso objetivo nesta série. Para maior clareza, destacamos que estamos
longe de achar que o PT de 2002 – ou de 2010 – era o mesmo PT de hoje. Apenas,
apontamos alguns antecedentes, que na época eram elementos secundários, para
melhor compreensão do que houve. Esses antecedentes são aparentados com aquelas
“franjas” que, segundo Machado, o diabo se compraz em puxar: “Todas as virtudes
cuja capa de veludo acabava em franja de algodão, uma vez puxadas pela franja,
deitavam a capa às urtigas e vinham alistar-se na igreja nova”, isto é, na igreja do
diabo.
Evidentemente, isso tem uma conexão direta com a passagem do governo Dilma
para o campo da reação, isto é, da mais devastadora política pró-imperialista desde
Campos Salles e Fernando Henrique. Em suma, o PT acabou por disputar, com o
PSDB, a láurea de quem melhor representava politicamente os interesses
imperialistas dentro do Brasil. Daí, seu giro para o neoliberalismo mais histérico.
Por enquanto, nesta questão, fiquemos por aqui.
Como frisa o juiz Sérgio Moro, já existe um processo na Justiça estadual do Rio
de Janeiro, em que o superfaturamento nessa contratação é calculado em US$ 344
milhões (trezentos e quarenta e quatro milhões de dólares) – este é o valor que a
Petrobras, após auditoria, considerou que era não justificado.
“a) Foi utilizada extensa planilha, com cerca de nove mil itens;
“d) Seleção de empresas que não atuam ou não tinham especialização em SMS;
Além disso, essa renegociação somente foi realizada em janeiro de 2013, mais
de dois anos após a assinatura do contrato.
Melhor é citar um fato: em janeiro de 2013, essa redução no preço era tardia,
também, porque, como está na própria auditoria da Petrobras, “até julho de 2012, o
desembolso contratual atingiu US$ 220 milhões, dos quais US$ 162 milhões (74%)
gastos em mobilização e supervisão e apenas US$ 58 milhões (26%) com serviços”.
Além disso, “os preços unitários do contrato da CNO são superiores aos dos
mercados locais (Argentina – média de +95%; Chile – mínimo de +14% a um
máximo de +598%)”.
3) compra de 50% no bloco 2714A, na Namíbia, da inglesa Chariot Oil & Gas;
Parece inacreditável que a Diretoria Internacional, cujo titular era indicado pela
cúpula do PMDB, tenha realizado um negócio desse porte, passando por cima da área
técnica da Petrobras. Mas assim foi:
Três meses depois, o contrato para a construção do navio-sonda foi assinado por
US$ 586.000.000,00 (586 milhões de dólares) – cf. Drillship Construction and Sale
Contract, 14/07/2006).
Outros três meses depois, em 07/01/2007, o preço aumentou outra vez, para
US$ 597.371.906,00 (597 milhões, 371 mil e 906 dólares).
10) Nas contas de Zelada no Julius Baer Bank, em Mônaco, entre o mês de
julho e agosto de 2014, houve 48 entradas de títulos, no valor global de EUR
7.558.496 (sete milhões, 558 mil e 496 euros). Zelada estava tentando fazer a mesma
coisa que Renato Duque, e no mesmo banco (um deles): transferir valores da Suíça,
onde a Justiça brasileira já conseguira entrar em acordo com as autoridades locais,
para outros países.
17. Roubo e desinvestimento: Dilma e Collor na Petrobras
A Petrobras sempre foi o principal alvo, desde as múmias que tentavam impedir
que ela existisse – e, logo depois, queriam destruí-la no nascedouro –, de todos os
entreguistas, traidores do país e meretrizes a serviço de Washington e Wall Street.
Rogério Araújo (18:04 h): Como sabemos, foram indicadas algumas pessoas da
Cia [Petrobras] como testemunhas para processo PR [Paulo Roberto Costa]. Uma
delas, Wilson Guilherme (GEX Abast), foi abordado por MGF [Maria das Graças
Foster] na seguinte linha: “pense bem antes de ir e se definir em que quadrilha vc
pertence!”.
Marcelo Odebrecht (18:06 h): Não sei se entendi bem a mensagem dela.
Rogério Araújo (18:14 h): Se for da quadrilha do PR, depor favorável a ele.
Marcelo Odebrecht (18:15 h): Ou seja, ela quer detonar o PR? Não apenas não
ajudar mas atacar? Acha que não tem refluxo?
Rogério Araújo (18:21 h): Também detonar Duque (será testemunha), Cerveró
e Gabrielli. Não sei se tem alinhamento com PR…
Marcelo Odebrecht (18:24 h): Seria bom se tivéssemos certeza desta postura
dela, pois seria mais um ponto de minha conversa amanhã. Isto é suicídio, só vai
prejudicar governo e empresa.
Por exemplo, note-se este e-mail do presidente da Odebrecht Oil and Gas,
Roberto Prisco Paraíso Ramos, ao chefe do grupo, Marcelo Odebrecht, com cópia a
Márcio Faria da Silva, Rogério Araújo e ao diretor-superintendente da Odebrecht
Engenharia Industrial, Fernando Barbosa:
Porém, há outra coisa interessante, sobretudo para quem acha que defender a
Odebrecht – portanto, o roubo da Odebrecht – é defender, supostamente, a
“engenharia nacional”: o desembaraço da Odebrecht na relação com as
multinacionais.
Antes que se diga que estamos defendendo que as empresas nacionais não
tenham relação alguma com as multinacionais, esclarecemos que esse não é o nosso
ponto de vista. O que é característico aqui é a desinibição, por exemplo, nessa
mensagem de Rogério Araújo para Marcelo Odebrecht – e como o esquema EPC (v.
HP 26/08/2015) se prestava não apenas ao assalto contra a Petrobras, mas, também,
ao contubérnio entre monopólios internos e monopólios multinacionais – o que, no
caso, é apenas a outra face da moeda. A mensagem é a seguinte:
“(2) A modelagem definida pela Pb [Petrobras] eh a seguinte: vai ser feita uma
licitação a âmbito da Petrobras para a escolha do Epcista (parceria entre Empresa
+Turbineiro) que participará com a Pb/G&E no Leilão.
“(3) Nos já estamos em parceria com exclusividade, com a Alsthon [sic]. Ainda
estão no processo, na condição de turbineiros, a Siemens e ABB.
A outra questão, levantada pela troca de mensagens com a qual iniciamos este
artigo, diz respeito à atitude da senhora Maria das Graças Foster, uma incapacidade
colocada à testa da Petrobras por Dilma, com resultados desastrosos.
A senhora Foster jamais foi uma privilegiada quanto ao horizonte mental – sua
credencial para chegar à presidência da Petrobras (como, aliás, a todos os cargos que
ocupou a partir de 2003) era a proximidade com Dilma, e nada mais. Embora, é
bastante possível que ela tenha acreditado na Fortune, a revista dos monopólios
norte-americanos, que, com olho no pré-sal, a escolheu “mulher mais poderosa do
mundo fora dos EUA”.
Pode ser – é o mais provável – que a senhora Foster não tenha percebido o que
falou, ou seja, que tenha cometido um lapso, um “ato falho”. Mas o que caracteriza o
ato falho é, precisamente, revelar o que a pessoa não quer revelar nem para si mesma.
Porque ela sabia quais eram essas quadrilhas – inclusive quem as acobertava.
Basta fazer a pergunta acima sob outra forma: durante os sete anos em que,
antes de ser presidente da empresa, ocupou cargos dentro do Grupo Petrobras (2005-
2012), mais os dois anos (2003-2005) como secretária de Petróleo, Gás Natural e
Combustíveis Renováveis da então ministra Dilma Rousseff – e sendo casada com
um empresário, o Sr. Colin Vaughan Foster, que era fornecedor da Petrobras – ela não
percebeu nada?
Quanto a sua excitação para detonar a diretoria anterior – a mesma na qual foi
diretora de Gás e Energia –, ela aparece logo no dia de sua posse na presidência, em
2012, pelo pior lado possível: o chaleiramento da mídia, sobretudo norte-americana, e
da especulação com papéis da Petrobras em Nova Iorque. Em suma, ela atacou o que
houve de melhor na diretoria anterior com o objetivo de tornar-se, supostamente, a
mais querida da Fortune e outras porcarias semelhantes.
Ela não estava interessada nos problemas reais. Tanto isso é verdade que, ao
falar do custo da Refinaria Abreu e Lima, que passou de US$ 2,3 bilhões em
setembro de 2005 para US$ 20,1 bilhões em junho de 2012 (ou seja, nove vezes o
custo inicialmente previsto), com três anos de atraso no “primeiro trem” (a primeira
parte da refinaria; o atraso em relação ao conjunto da refinaria é, evidentemente,
maior), a senhora Foster jogou a responsabilidade sobre a diretoria anterior, mas
omitiu as causas reais dos problemas – os sobrepreços e superfaturamento do cartel
continuaram impunes na sua gestão.
Já em 2014, é outra coisa que aparece. Sua ação, diz Odebrecht, “é suicídio”.
A explicação parece ser que, ao que tudo indica, a senhora Foster foi movida
pelo ressentimento em relação ao ex-ministro José Dirceu, que, em 2004, havia, em
documento da Casa Civil (Nota Técnica n o 23/2004), alertado a então ministra Dilma
Rousseff para os negócios com a Petrobras do marido de sua favorita. Nesta nota,
Dirceu diz que considera “prudente” (sic) a ministra tomar conhecimento das
denúncias.
O mesmo Bernardi Filho é dono de outra empresa, a Oil & Gás Service, em
sociedade com Alexandre Santos de Oliveira – que, por outra coincidência, é genro
de Irani Carlos Varella, antecessor de Duque na diretoria de Serviços da Petrobras,
ex-diretor da Petrobras Uruguai, e, depois, assessor especial da senhora Foster,
quando presidenta da Petrobras.
“... João Bernardi ofereceu vantagem indevida a Renato Duque para favorecer a
Saipem S.A. na celebração do contrato da obra de instalação do gasoduto submarino
de interligação dos campos de Lula e Cernambi” (cf. Ação Penal no 5014721-
44.2015.404.7000).
“... João Bernardi afirmou à Polícia que tinha acabado de sacar tal quantia do
Citibank (...). O trajeto percorrido por João Bernardi deixa claro que ele se dirigia à
sede da Petrobras para entregar a vantagem prometida a Renato de Souza Duque”.
O mais interessante é que o assalto parece ter tocado o alarme na Saipem, até
então agindo com uma tranquilidade espantosa nas aposições de margens de preço
que fez nas negociações com a diretoria de Serviços da Petrobras – sem que esta
fizesse o que lhe competia: desclassificar a empresa.
A rigor, monopólios privados não concorrem, isto é, não competem com seus
produtos no mercado; o que eles fazem é quebrar a concorrência devido ao seu maior
poder financeiro.
Tanto isso é verdade que nos EUA, a terra dos monopólios privados e cartéis,
Franklin D. Roosevelt e outros governantes conseguiram, ao menos, limitá-los. Se
mais não foi feito nesse terreno, deve-se às sentenças a favor de monopólios e cartéis,
emitidas pela Corte Suprema ou sob a égide desta.
Aliás, até 1979 as ações do governo dos EUA contra cartéis e monopólios eram
mais de 400 ao ano, sem contar ações de governos estaduais. É pouco, considerando a
camisa de força monopolista que constrange a economia norte-americana desde o fim
do século XIX. Mas esses processos decresceram a partir de 1980, quando Reagan
entrou na Casa Branca, e, principalmente, depois que Clinton, logo no início de seu
primeiro mandato, substituiu a legislação anticartel dos EUA por uma lei de leniência
para empresas integrantes de cartéis – nos últimos 10 anos, a média de processos
baixou para 150 ao ano (cf. U.S. Department of Justice, Antitrust Division, Workload
Statistics, 1970-2014).
Somente em quinto lugar nas multas, e, mesmo assim, porque era a terceira
empresa do cartel dos eletrodos de grafite – um componente essencial para a indústria
do aço – aparece uma empresa norte-americana, a UCAR International, hoje,
GrafTech International (cf. Eduardo Athayde de Souza Moreira e Rodrigo Peñaloza,
Programas de Leniência, Corrupção e o Papel da Corregedoria da Autoridade
Antitruste, UnB, 2004).
A sexta maior multa, também foi para um monopólio norte-americano. Mas esse
foi um dos maiores escândalos empresariais – ou, a bem dizer, monopolistas – da
história: a formação, pela Archer Daniels Midland (ADM), pela japonesa Ajinomoto,
e mais oito empresas menores, do “cartel da lisina e do ácido cítrico”, história
relatada no filme The Informant!, de Steven Soderbergh, com Matt Damon.
Foi um escândalo tão escandaloso (desculpem, leitores, mas foi inevitável), que
a multa de US$ 100 milhões, a que a ADM foi condenada, quase parece irrisória. Até
porque essa multa corresponde a 1/6 do faturamento anual do cartel somente com a
lisina – um aminoácido indispensável nas rações para galináceos e suínos. Mas é
verdade que a soma de todas as multas desse caso (foram multadas 10 empresas, com
sede em sete países diferentes, e 11 executivos) atingiu, nos EUA, US$ 225 milhões.
Morgan: Preferiria.
Morgan: Sim.
(cf. Testimony of J. P. Morgan before the Bank and Currency Committee of the
House of Representatives, December 18 and 19, 1912, p. 25.)
Mas somente é possível considerar essa praga como o ápice da modernidade por
submissão a esses monopólios. Essa ideologia, totalmente falsa, é a racionalização de
uma submissão real, verdadeira – ou, o que é a mesma coisa, a suposta justificativa
da covardia diante desses monopólios.
O resultado é a restrição cada vez maior da democracia. Porque nada pode haver
de mais antagônico à democracia dos que os cartéis e monopólios privados. No
limite, sua consequência última é o fascismo. Pode-se dizer que os cartéis, os
monopólios, excretam fascismo, assim como foi possível dizer, no passado, diante do
feudalismo, que o capitalismo concorrencial criava democracia.
Mas, nos EUA, nenhum partido, ao beneficiar-se com as sobras que lhe
destinam os monopólios, oficialmente ou sob a forma de propina para os seus
integrantes, pretendeu estar realizando um projeto “de esquerda”.
Pelo menos isso – embora essa seja a forma mais rasteira de moralidade.
Até aí, se fosse para ler alguma coisa sobre a máfia, seria melhor – ou mais
agradável – recorrer a algum dos milhares de best-sellers norte-americanos sobre o
assunto.
Essa é a situação a que nos levou a política de comprar apoio, instituída pelo
dilmismo, para (supostamente) se perpetuar no poder – sem algo que se possa chamar
de compromisso político, vale dizer, de um projeto para o país.
Evidentemente, com isso, o país foi entregue ao que existe de pior em todos os
partidos governistas – inclusive, e sobretudo, ao que há de pior no PT.
Sobre isso, resta observar que não é à toa que Dilma substituiu os
“trabalhadores” que estão no nome de seu próprio partido pela “classe média” – uma
classe média de fantasia, não aquela que realmente existe – como suposto ideal.
Naturalmente, essa substituição também nada tem a ver com alguma “classe média”
verdadeira. É apenas um apelido para o lumpen, a base do fascismo, sempre
manipulado pelo que há de mais reacionário, de mais retrógrado, de mais opressor, de
mais monopolista.
Essa tomada das instituições pelo lumpen é uma consequência direta da política
seguida pelo PT no governo – convenhamos que Cunha na Câmara, Renan reinando
no Senado, ou Kátia Abreu como ala esquerda do Ministério, é algo inédito, pela
mediocridade, na História do país. Nem Collor conseguiu juntar tantas nulidades, ao
mesmo tempo, em tantos lugares.
É verdade, mas, por que isso tornaria menos graves os crimes contra a Petrobras
cometidos ao abrigo dos governos posteriores?
Mas resta provar que o esquema daquela época tinha as mesmas características
do esquema de hoje. Até gostaríamos que fosse assim, mas, infelizmente, as provas
ainda não apareceram. Como o PT está no governo e o PSDB está fora do governo,
não deveria ser difícil obter tais provas.
“... entre 2006 e 2007 os valores foram pagos normalmente por Júlio Camargo;
“... o valor devido por Júlio Camargo neste momento (ou seja, em 2008), para o
depoente, referente às duas sondas (Petrobras 10000 e Vitória 10000) era de
aproximadamente US$ 16 milhões de dólares;
“... do valor total de US$ 35 milhões de dólares que Júlio Camargo deveria
repassar (US$ 15 milhões em relação a Petrobras 10000 e US$ 20 milhões da Vitória
10000), ele havia pago aproximadamente US$ 19 milhões de dólares entre os anos
de 2006 e princípio de 2008”.
“... a partir daí esteve mais algumas vezes com Eduardo Cunha, inclusive no
escritório dele no Rio de Janeiro; o escritório de Eduardo Cunha ficava no Edifício
De Paoli, na Avenida Nilo Peçanha, ocupando um conjunto de aproximadamente três
salas;
“... então voltou a ter outra conversa com Eduardo Cunha, em 2010, no
escritório dele no Rio de Janeiro, oportunidade em que o depoente explicou tudo o
que tinha ocorrido na contratação das duas sondas;
“... disse a Eduardo Cunha que esta dívida girava em tomo de US$ 16 milhões
de dólares na época;
“... disse a Eduardo Cunha inclusive que teve pagamentos para políticos do
PMDB por intermédio de Jorge Luz, referente à primeira sonda;
“... fez menção ao nome dos políticos Renan Calheiros e Jader Barbalho,
como destinatários de parte dos valores referentes à primeira sonda;
“... o depoente disse a Eduardo Cunha que, caso lograsse obter o pagamento,
repassaria 20% para a campanha dele;
“... Eduardo Cunha deu o de acordo e autorizou o depoente a usar o nome dele
para cobrar os valores devidos de Júlio Camargo;
“... marcou, então, uma segunda reunião com Júlio Camargo, ainda em 2010, no
escritório dele, na Rua da Assembleia;
“... disse a Júlio Camargo que se não desse uma resolução rápida à questão o
depoente iria trazer o Eduardo Cunha para conversar com ele;
“... Júlio Camargo disse que iria tentar resolver e retomar as conversas com a
Samsung, buscando ajuda da Mitsui nas cobranças e, em seguida, daria uma posição,
mas ele buscou ganhar tempo e enrolar, como era natural dele;
“... houve uma segunda reunião com Júlio Camargo, ainda em 2010, na qual ele
disse que a Mitsui estava conversando com a Samsung, buscando ajudá-lo no
pagamento, e que havia possibilidade de melhor êxito;
“... nesta reunião o depoente explicou a Eduardo Cunha que tinha feito duas
reuniões com Júlio Camargo, assim como alguns contatos telefônicos, mas que Júlio
Camargo ainda estava buscando ganhar tempo, ‘empurrando com a barriga’;
“... como estava no auge da campanha eleitoral, Eduardo Cunha disse que
naquele momento não tinha como gastar tempo com aquilo, mas que iria pensar em
algo e voltaria a falar com o depoente oportunamente;
“... depois disso só voltou a falar com Eduardo Cunha após as eleições,
oportunidade em que esteve no escritório dele para parabenizá-lo pela reeleição, mas
acabaram não tratando deste assunto, apenas de amenidades;
“... nesta reunião, o depoente perguntou se não poderia ser retomado o assunto
de Júlio Camargo e o que Eduardo Cunha poderia fazer;
“... então o depoente propôs a Eduardo Cunha que, do valor que deveria
receber na época, iria repassar 50% do que recebesse de Júlio Camargo para
Eduardo Cunha;
“... Eduardo Cunha disse ao depoente que iria pensar em algo que tivesse um
resultado mais efetivo e voltaria a falar com o depoente”.
“... um tempo depois, por volta de abril de 2011, Eduardo Cunha mandou uma
mensagem, pedindo para o depoente se encontrar com ele no escritório do Rio de
Janeiro de Eduardo Cunha;
“... nesta reunião Eduardo Cunha disse ao depoente que havia tomado a
decisão de fazer um requerimento na Comissão de Fiscalização da Câmara, pedindo
explicações sobre os negócios de Júlio Camargo;
“... então Eduardo Cunha pediu ao depoente explicações mais detalhadas sobre
os negócios de Júlio Camargo junto a Petrobras;
“... o depoente afirmou que o negócio das sondas era algo pontual de Júlio
Camargo e que ele não era um representante exclusivo da Samsung;
“... Eduardo Cunha disse ao depoente que faria alguns outros levantamentos de
informações e comunicaria sobre os próximos passos;
“... um tempo depois, que não sabe especificar, Eduardo Cunha disse ao
depoente que iria preparar um requerimento junto à Comissão de Fiscalização da
Câmara, pedindo informações sobre a atuação de Júlio Camargo como lobista da
Mitsui e da Toyo junto a Petrobras;
“... neste requerimento, Eduardo Cunha disse que pediria informações não
apenas sobre a atuação de Júlio Camargo como lobista destas empresas, mas também
sobre os contratos destas empresas junto a Petrobras;
“... o depoente pediu para Eduardo Cunha lhe dar um tempo, pois iria tentar
obter uma última ação junto ao Júlio Camargo para obter o pagamento dos valores,
fazendo menção a tais requerimentos que iriam ser feitos; Eduardo Cunha
concordou com isto;
“... cerca de uma semana depois, o depoente teve contato com Júlio Camargo
pessoalmente no escritório dele, na Rua da Assembleia, e explicou toda a situação;
“... disse a Júlio Camargo que estava ‘vindo como amigo’ e que Eduardo
Cunha havia chegado ao limite e não estava mais disposto a dar mais tempo ao
depoente;
“... disse a Júlio Camargo que, se não tivesse uma posição dentro de uma
semana, de que Júlio iria pagar, o depoente iria lavar as suas mãos e a questão seria
resolvida pelo pessoal como eles achassem melhor;
“... o depoente disse então que havia três anos que Júlio Camargo estava lhe
pedindo mais tempo e que não havia mais como ajudá-lo e nem ficar como
interlocutor nesta confusão;
“... então comunicou a Eduardo Cunha que não tinha obtido sucesso e ele
disse que iria seguir em frente com a estratégia dos requerimentos;
“... nesta oportunidade Paulo Roberto disse que queria comunicar ao depoente
que havia chegado a Petrobras um requerimento, vindo do Ministério de Minas e
Energia, pedindo informações a Petrobras sobre os contratos que a Mitsui e Toyo
tinham junto à empresa e a atuação do Júlio Camargo como lobista dessas empresas;
“... o depoente esclarece que, conforme já dito em outro termo, Paulo Roberto
Costa deveria receber um milhão de dólares em razão do primeiro navio-sonda;
inclusive, antes de falar com Eduardo Cunha, o depoente já havia feito uma similar
proposta para Paulo Roberto Costa, no sentido de que, caso este último lograsse obter
os dezesseis milhões de dólares devidos por Júlio Camargo, o depoente daria a Paulo
não apenas a quantia de um milhão de dólares, mas cinco milhões;
“... disse a Paulo Roberto Costa que a responsabilidade pelos requerimentos era
de Eduardo Cunha e o depoente já tinha um acerto com Eduardo Cunha;
“... Paulo Roberto Costa afirmou que já tinha informado pessoalmente a Júlio
Camargo sobre os requerimentos e que Júlio Camargo estava muito assustado nesta
conversa;
“... Paulo Roberto tentou inclusive aumentar a participação dele, afirmando que
estaria ajudando, mas o depoente disse que não teria condições de prometer nada
além do que havia acertado;
“... quando tivesse maiores detalhes o depoente poderia conversar com Paulo
Roberto novamente sobre o tema”.
“... alguns dias depois o depoente foi procurado por Júlio Camargo e estiveram
pessoalmente em uma reunião no escritório dele;
“... Júlio Camargo disse ao depoente que teve uma conversa com o ministro
Edison Lobão;
“... Lobão informou a Júlio Camargo, segundo este último, que iria tentar se
inteirar sobre o tema e depois lhe daria uma posição;
“... Júlio disse ao depoente que Edison Lobão lhe havia orientado a procurar o
depoente, porque Júlio Camargo tinha uma pendência com o depoente;
“... pelo relato de Júlio Camargo, Edison Lobão teria dito que a questão deveria
ser solucionada diretamente com o depoente;
“... em seguida falou com Eduardo Cunha, que aceitou realizar a reunião;
“... o depoente é quem estava conduzindo o seu veículo, que era uma Land
Rover; referido veículo estava em nome da sua empresa, da Hawk Eyes ou Techinis;
“... os três subiram em uma porta lateral e o depoente abriu a sala; apenas
participou da reunião o depoente, Júlio Camargo e Eduardo Cunha;
“... Júlio Camargo, então, fez todas as suas explicações, afirmando que não tinha
pago porque não tinha recebido da Samsung, mas que queria resolver a situação, pois
não queria ficar mal perante Eduardo Cunha;
“... na reunião, ficou claro a Júlio Camargo que metade do valor devido fosse
para Eduardo Cunha; inclusive, Júlio Camargo inicialmente queria pagar apenas a
parte de Eduardo Cunha, deixando para pagar posteriormente o valor de Fernando
Soares;
“... Júlio Camargo inicialmente queria pagar tudo por meio de emissão de notas
fiscais por intermédio das empresas do depoente e que ficasse encarregado de
repassar os valores para Eduardo Cunha, o que não foi aceito pelo depoente, pois o
depoente não tinha como receber isto pessoalmente e repassar a Eduardo Cunha;
“... depois de uma negociação demorada, o valor devido ao depoente seria pago
através das empresas do depoente e o valor referente aos pagamentos de Eduardo
Cunha seria feito em espécie;
“... Júlio Camargo disse que iria arrumar uma forma de entregar os valores em
espécie para o depoente, para que repassasse a Eduardo Cunha;
“... após o final da reunião, o depoente levou Eduardo Cunha para a casa
dele.”
“... teve um encontro com Júlio Camargo no escritório dele, no Rio de Janeiro,
umas duas semanas depois, no qual ele disse que o depoente iria ser procurado por
[Alberto] Youssef, que se encarregaria de fazer os pagamentos em espécie que
corresponderiam aos valores repassados a Eduardo Cunha;
“.. nesta reunião Júlio Camargo já deu as datas e os valores das notas fiscais das
empresas do depoente para um primeiro pagamento que Júlio faria ao depoente;
“... Júlio Camargo deu, inclusive, o e-mail de uma pessoa para quem deveria
enviar as notas fiscais;
“... Youssef veio e disse ao depoente que recebeu instruções de Júlio Camargo
para repassar ao depoente valores em torno de sete milhões de reais;
“... Youssef disse que ainda estava operacionalizando isto, pois estava
aguardando a realização de transferências de Júlio Camargo;
“... neste momento Youssef não especificou como seriam tais operações, mas
um pouco depois ele disse ao depoente que se tratavam de transferências
internacionais, feitas por Júlio para alguma empresa relacionada a Youssef, mas não
mencionou o nome das empresas envolvidas;
“... Youssef disse ao depoente que, assim que estivessem formalizados tais
pagamentos, entraria em contato com o depoente para a entrega dos valores;
“... aproximadamente duas ou três semanas depois, Youssef marcou uma ida
dele ao escritório do depoente; Youssef esteve no escritório do depoente juntamente
com Jayme, a quem Youssef chamava de Careca;
“... imediatamente o depoente fez contato com Eduardo Cunha por mensagem,
avisando que havia um valor disponível, e perguntou a ele onde poderia entregar o
valor;
“... Eduardo Cunha disse ao depoente para procurar, no escritório dele, na Nilo
Peçanha, uma pessoa de nome Altair;
“... esta entrega ocorreu por volta de outubro de 2011; após isto, houve quatro
ou cinco entregas; acredita que estas entregas ocorreram até abril ou maio;
“... no entanto, questionado ao depoente acerca do documento intitulado
“Transcareca” – elaborado e apreendido em poder de Alberto Youssef para
documentar as entregas feitas por Jayme Careca – sobre uma entrega ocorrida no dia
15 de junho de 2012, no valor de R$ 1.132.250,00, tendo como destinatário
“Baiano”, o depoente acredita que realmente a pessoa de “Baiano” mencionada seja o
depoente e que faça referência à última entrega feita por Jayme;
“... chegou a enviar uma mensagem para Eduardo Cunha questionando se ele
queria que o depoente entregasse o valor na residência dele, tendo em vista que,
assim como o depoente, Eduardo Cunha vive na Barra; Eduardo Cunha não quis
que o depoente levasse o valor na residência dele, pedindo que procurasse e
entregasse o valor a Altair na segunda-feira seguinte;
“... o depoente acredita que não tenha mais tais mensagens trocadas com
Eduardo Cunha, até mesmo porque trocava seus celulares regulamente e com a
deflagração da operação Lava Jato se desfez de muita coisa;
“... o depoente tinha um aparelho celular específico que utiliza apenas para falar
com determinadas pessoas, dentre elas Eduardo Cunha, sobre temas de valores
ilícitos, que não gostava de falar nos outros aparelhos que utilizava regularmente;
“... no ano de 2012, que era mais uma vez ano eleitoral, Eduardo Cunha
passou a pressionar o depoente para cobrar Júlio Camargo;
“... tais cobranças foram feitas em reuniões pessoais com Eduardo Cunha;
“... nesta época Júlio Camargo já havia pago em torno de quatro milhões de
reais, que era o valor recebido de Youssef;
“... então, o depoente passou a cobrar Júlio Camargo, não apenas os valores
devidos a si, mas também valores para Eduardo Cunha;
“... Júlio Camargo começou a dizer que estava tendo dificuldade para
disponibilizar dinheiro em espécie para pagar Eduardo Cunha;
“... então, o depoente sugeriu que Júlio Camargo fizesse uma doação oficial para
Eduardo Cunha ou para o PMDB;
“... Júlio Camargo disse que não tinha como fazer a doação, em razão dos
limites de faturamento/doação impostos pela legislação eleitoral;
“... o depoente informou isto a Eduardo Cunha e então Eduardo Cunha pediu
ao depoente para questionar se Júlio Camargo poderia, então, fazer uma doação para
uma igreja;
“... o depoente então levou a questão para Júlio Camargo, que disse que dessa
forma seria possível, mas que não poderiam ser valores muito altos, pois seria difícil
justificar uma doação de um valor alto sem ser um frequentador da Igreja;
“... o depoente conversou com Eduardo Cunha, este último sugeriu que Júlio
Camargo fizesse duas doações, no total de R$ 250.000,00, cada uma no valor de R$
125.000,00;
“... Eduardo Cunha passou os dados para a doação e a pessoa de contato com
quem Júlio Camargo deveria conversar e que emitiria os recibos das doações;
“... ao se fazer o encontro de contas com Júlio Camargo, havia uma divergência:
enquanto Júlio dizia que restava a pagar a Eduardo Cunha cerca de R$ 400 mil,
Eduardo Cunha, pelas contas dele, dizia que era R$ 1,2 milhão;
“... estas cobranças continuaram até 2014, sem que Júlio Camargo quitasse os
valores;
“... inclusive, em 2014, houve uma conversa entre Júlio Camargo e Eduardo
Cunha sobre esta divergência, em uma reunião pessoal ocorrida em São Paulo;
ambos comentaram com o depoente sobre tal reunião;
“. após esta reunião com Eduardo Cunha, Júlio Camargo procurou o depoente,
entre junho e julho de 2014, querendo relatar o que havia ocorrido na conversa com
Eduardo Cunha;
“... Júlio disse que Eduardo Cunha e ele tinham acertado que, para resolver a
pendência, o valor faltante para este último seria de um milhão de reais;
“... Júlio Camargo pediu ao depoente que assumisse metade desta dívida com
Eduardo Cunha, ou seja, R$ 500.000,00, sob o argumento de que estaria sem
recursos;
“... a proposta de Júlio Camargo era de que o depoente pagasse metade do valor
devido a Eduardo Cunha e que Júlio pagaria o valor ao depoente quando recebesse
[da Samsung]; o depoente não concordou com a proposta, mas, para evitar problemas
com Eduardo Cunha e o prolongamento das cobranças deste último, disse a Júlio
que ele ficasse responsável por pagar R$ 700 mil e o depoente se encarregaria de
pagar os R$ 300 mil reais faltantes para Eduardo Cunha diretamente;
“... o depoente questionou como Júlio Camargo faria tais pagamentos para
Eduardo Cunha, oportunidade em que ele respondeu que já tinha acertado com
Eduardo Cunha que R$ 500 mil ele já havia se comprometido a pagar em horas de
voo;
“... Júlio Camargo tinha um avião que ficava sob responsabilidade de uma
companhia de táxi aéreo, e que Júlio Camargo daria um crédito para Eduardo
Cunha usar junto a tal companhia, da forma como preferisse, no valor de R$ 500 mil
reais e que poderia ser utilizado à medida que ele precisasse;
“... os R$ 200 mil restantes seriam entregues por Júlio Camargo diretamente
para Eduardo Cunha;
“... o depoente conversou com Eduardo Cunha, dizendo que iria ficar
responsável pelos R$ 300 mil reais faltantes; porém, não chegou a pagar tais valores e
tampouco houve cobrança por parte de Eduardo Cunha, que, inclusive, estava
ficando pouco no Brasil nesta época, pois estava planejando mudança para o exterior,
indo muito para os Estados Unidos, e também porque estava com problemas com
uma empresa espanhola que representava e, por isto, ficava muito na Espanha;
“... do total de dez milhões de dólares que Júlio Camargo devia ao depoente e a
Eduardo Cunha, acredita que o depoente recebeu em torno de quatro milhões de
reais, por meio de suas empresas, e Eduardo Cunha cerca de cinco milhões de
reais; as cobranças se estenderam de 2011 até 2014, ano em que ainda havia um
milhão de reais da parte devida a Eduardo Cunha;
“... questionado se Eduardo Cunha sabia que os valores devidos por Júlio
Camargo eram referentes às sondas da Petrobras, respondeu que sim;
“... o nome de Paulo Roberto Costa foi citado, na presença de Eduardo Cunha
em outra ocasião, na reunião feita em setembro de 2011, em que participou o
depoente, Eduardo Cunha e Júlio Camargo;
“... Eduardo Cunha sabia que o depoente tinha negócios na Petrobras em razão
da relação que o depoente possuía com Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró;
“... já havia comentado com Eduardo Cunha sobre a ‘queda de braço’ com o
PMDB em relação à tentativa de manutenção de Nestor Cerveró na Diretoria
Internacional e sua substituição por Jorge Zelada;
“... o depoente disse a Eduardo Cunha que não havia sido uma boa decisão
retirar Nestor Cerveró da Diretoria Internacional, oportunidade em que Eduardo
Cunha comentou com o depoente que se tratava de uma decisão do PMDB de Minas
Gerais;
“... pelas conversas que teve com Eduardo Cunha acredita que tenha ficado
claro para este que o depoente e Nestor Cerveró eram próximos, até mesmo porque o
depoente comentou com Cunha que havia tentado manter Cerveró no cargo;
“... questionado qual e-mail Eduardo Cunha utilizou, o depoente afirma que
chamava a atenção que o endereço de e-mail consistia na expressão ‘sacocheio@,
sendo algum provedor que não se recorda com certeza qual era; que acredita que
fosse sacocheio@hotmail.com, sacocheio@yahoo.com.fr ou sacocheio@yahoo.fr.
Realmente, por que a Petrobras necessita da Sete Brasil, uma empresa em que é
amplamente minoritária, para construir sondas e navios-sonda? Para nada. Não é uma
necessidade. Trata-se de uma política de privatização, uma política deliberada de
impedir a Petrobras de crescer, e, como é evidente agora, reduzir o seu tamanho e a
sua capacidade de puxar o crescimento do país.
O plano de Duque, Barusco e outros ladrões, que conceberam a Sete Brasil, era
usar o dinheiro da Petrobras, do FGTS e do BNDES para construir sondas, e, depois,
alugá-las – ou seja, embolsar mais dinheiro da Petrobras. A propina, embora
acessória, era parte inseparável desse “plano”.
Essas sondas seriam operadas por empresas como a Ocean Rig, com sede na
Grécia, que aparece no depoimento de Soares, ou a Transocean, com sede na Suíça.
“... em uma das conversas que teve com o pessoal da OSX, foi informado sobre
uma tomada de preços para construção de navios-sonda que a Sete Brasil iria fazer
para posterior arrendamento à Petrobras; tratava-se de algo em torno de vinte navios
para exploração de petróleo na área do pré-sal”.
A rigor, eram 29 sondas. A Sete Brasil fora criada pelos Srs. Renato Duque,
indicado pelo PT para a Diretoria de Serviços da Petrobras, e Pedro Barusco, gerente
de Engenharia, depois vice-presidente da Sete Brasil. É a principal das “empresas
EPC”, conhecidas como “empresas EPC do Duque”, intermediárias financeiras entre
a Petrobras e os fornecedores (v. HP 26/08/2015).
“... o pessoal da OSX disse ao depoente que considerava muito estranha a forma
como tinha sido conduzida essa tomada de preços, porque a OSX seria o maior
estaleiro em construção no Brasil, tinha condições de ter apresentado preços muito
bons, mas, mesmo assim, a Sete Brasil/Petrobras teria deixado a OSX fora da
licitação, permanecendo no certame outras empresas que não teriam nem projetos de
construção de estaleiros;
“... questionado sobre quem seria o ‘pessoal da OSX’ com quem o depoente
conversava sobre o assunto, respondeu que se tratava do presidente da OSX na época,
de nome Luís Carneiro, e do diretor da OSX, de nome Bellot, o qual veio
posteriormente a assumir a presidência da empresa; Luís Carneiro e [Carlos Eduardo
Sardenberg] Bellot foram anteriormente funcionários da Petrobras;
“... tem quase certeza de que a licitação para contratação de empresa para
construção dos navios-sonda tratados no caso foi conduzida pela Petrobras,
especificamente pela Diretoria de Serviços, na época ocupada por Renato Duque;
“... a Sete Brasil é uma empresa criada pela Petrobras para exploração de
petróleo no pré-sal, de acordo com a política de redução de ativos no balanço da
estatal e de reativação da indústria naval no Brasil;
“... então procurou José Carlos Bumlai; o presidente da Sete Brasil na época
era João Carlos Ferraz, o qual, de acordo com comentários do mercado, era um ex-
funcionário da Petrobras que havia sido indicado para o cargo por Antonio Palocci;
em razão da relação entre Antonio Palocci e Bumlai, o depoente procurou este
último”.
Em março deste ano, João Carlos Ferraz confessou que recebeu, de propina,
dois milhões de dólares (mais precisamente: US$ 1.985.834,55) dos estaleiros
contratados pela Sete Brasil, isto é, do Cartel do Bilhão, entre maio e dezembro de
2013.
“... Bumlai não sabia se João Carlos Ferraz era realmente indicação de
Antonio Palocci; posteriormente, Bumlai procurou o depoente;
“... Bumlai disse que confirmou que João Carlos Ferraz era indicação de
Antonio Palocci e afirmou que tinha como trabalhar no assunto;
“... o depoente conversou com o pessoal da OSX e disse que teria como ajudá-
los a conseguir o contrato dos navios-sonda da Sete Brasil;
“... até então o depoente não sabia quem seriam essas pessoas;
“... alguns dias depois, Bumlai telefonou para o depoente e pediu que solicitasse
que o presidente da OSX, Luís Carneiro, telefonasse para João Carlos Ferraz para
marcar uma reunião; segundo Bumlai, João Carlos Ferraz já estaria sabendo do
assunto a ser tratado;
“... Luís Carneiro entrou em contato com João Carlos Ferraz e marcou uma
reunião na OSX; essa reunião ocorreu no primeiro semestre de 2011;
“... João Carlos Ferraz disse que, nos contratos objeto da tomada de preços
que já tinha sido concluída, sem a participação da OSX, ele não tinha mais como
mexer;
“... no entanto, João Carlos Ferraz disse que a Sete Brasil tinha a
possibilidade de contratar a construção de mais dois navios-sonda”.
Neste depoimento, Soares não se refere ao que custou obter essa nova posição
de Ferraz – mas é difícil achar que este faria tal coisa apenas para contemplar a
amizade de Bumlai com Palocci.
“... o depoente indicou para o pessoal da OSX a empresa Ocean Rig para
operação dos navios-sonda; disse que iria conversar com o representante da Ocean
Rig, que era Hamylton Padilha;
“... levou Hamylton Padilha para uma reunião com o pessoal da OSX; nessa
reunião, Hamylton Padilha disse que havia interesse da Ocean Rig no negócio; depois
foi feita uma outra reunião com o depoente, o pessoal da OSX, João Carlos Ferraz e
Hamylton Padilha; essas primeiras reuniões ocorreram na OSX; depois ocorreram
reuniões na Sete Brasil;
“... João Carlos Ferraz passou também a ter reuniões com o pessoal da OSX e
da Petrobras;
“... todo o desenrolar das negociações era repassado pelo depoente para Bumlai;
“... Bumlai, diante disso, ficou de acertar uma reunião entre João Carlos
Ferraz e o ex-Presidente Lula;
“... essa reunião foi efetivamente realizada em São Paulo, no final do primeiro
semestre de 2011;
“... antes dessa reunião, o depoente se encontrou com João Carlos Ferraz e
Bumlai;
“... Bumlai orientou João Carlos Ferraz sobre o que falar a Lula;
“... depois João Carlos Ferraz e Bumlai foram para a reunião com Lula;
“... o depoente ficou sabendo alguns dias depois do resultado; passou na Sete
Brasil e conversou sobre o assunto com João Carlos Ferraz;
“... João Carlos Ferraz disse ao depoente que a reunião com Bumlai e Lula
tinha sido muito boa, que Ferraz teria feito uma boa exposição ao ex-Presidente sobre
a Sete Brasil, sobre a importância da empresa para a indústria naval brasileira e sobre
as dificuldades enfrentadas para colocar os projetos pra frente; disse que Lula foi
bastante amável com ele e teria assumido o compromisso de ajudar a dar mais
velocidade nos assuntos da Sete Brasil, para viabilizar uma consolidação mais rápida
da indústria naval brasileira;
“... o depoente respondeu afirmando que achava isso difícil, porque não tinham
contrato assinado, não havia nem sequer definição de valores dessa comissão, e as
negociações ainda estavam em curso; nesse contexto, o depoente não se sentia à
vontade para solicitar um adiantamento à OSX;
“... nessa reunião Bumlai afirmou que precisava do dinheiro porque estava
sendo pressionado para resolver um problema;
“... o depoente perguntou detalhes sobre a situação, para ver se poderia ajudar
Bumlai;
“... Bumlai disse que estava sendo cobrado por uma nora do ex-Presidente Lula
para pagar uma dívida ou uma parcela de um imóvel;
“... Bumlai não deu detalhes sobre esse imóvel; o depoente perguntou: ‘Mas
você está sendo pressionado?’; Bumlai disse que tinha ficado de resolver esse
problema;
“... o depoente perguntou o valor dessa dívida ou parcela; Bumlai disse que
estava precisando de R$ 3 milhões e perguntou se o depoente poderia ajudar;
“... o depoente respondeu que naquele momento não tinha como dar uma
resposta, mas que iria verificar e dar uma definição em seguida;
“... depois, por algumas vezes, Bumlai cobrou uma resposta do depoente;
“... uma empresa representada pelo depoente, que lhe devia um valor, fez um
pagamento a São Fernando, mediante a emissão de uma nota fiscal fictícia pela São
Fernando;
“... acredita que a empresa que efetuou o pagamento seja uma das empresas
contratadas para a construção do estaleiro da OSX ou da LLX, outra empresa de Eike
Batista; o valor devido ao depoente pela empresa responsável pelo pagamento
decorria de alguma comissão;
“... o valor pago não foi o valor exato de R$ 2 milhões de reais, tendo sido
provavelmente uma quantia um pouco menor;