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Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011 1
Maria Fernanda Vieira Martins
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Ao se tornar figura central da administração reinol, Sebastião José de Carvalho e Melo, marquês de Pombal,
nomeado secretário de estado de Dom José I (1750), procurou empreender uma série de reformas de modo a
reverter a situação de crise que vivia o reino português, situação que, em linhas gerais, era atribuída à
preponderância dos interesses ingleses no Brasil, particularmente no que se referia ao destino dos recursos
provenientes da colônia, que auferiam escassos lucros a Portugal. Kenneth Maxwell. A política.
Condicionalismos da Independência do Brasil. In: SILVA, Maria Beatriz Nizza da (coord.). O Império luso-
brasileiro, 1750-1822. Lisboa: Editorial Estampa, 1986. pp.335-395, p.337. Ver também Kenneth Maxwell. The
generation of the 1790’s and the idea of luso-brazilian empire. In: ALDEN, Dauril (ed.) Colonial roots of
modern Brazil: papers of the Newberry Library Conference. Berkeley; Los Angeles: University of California
Press, 1973.
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RUSSEL-WOOD, A. J. R.. Centros e periferias no mundo luso-brasileiro, 1500-1808. Rev. bras. Hist. [online].
1998, vol.18, n.36, pp. 187-250. Ver também Mafalda Soares da Cunha e Nuno Gonçalo F. Monteiro,
“Governadores e capitães-mores do império atlântico português nos séculos XVII e XVIII”, in CUNHA,
Mafalda Soares da, MONTEIRO, Nuno Gonçalo F. e CARDIM, Pedro (orgs.). Optima Pars: Elites Ibero-
Americanas do Antigo Regime, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2005, p. 22.
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Famílias, poderes locais e redes de poder: estratégias e ascensão política das elites colônias no Rio de Janeiro (1750-1808)
como a constituição de novas capitanias nas fronteiras. Paralelamente, seria ainda efetivada a
mudança da capital colonial, até então localizada na Bahia, para a cidade do Rio de Janeiro
em 1763, medida que visava, principalmente, o controle quanto ao acesso à região das minas
e a proteção das fronteiras setentrionais, constantemente ameaçadas pelos interesses espanhóis
e de seus colonos na América3.
As reformas pombalinas na colônia atingiram diretamente as bases e redes de poder
local, promovendo a progressiva especialização e ampliação dos cargos e a extensão do
controle sobre as capitanias. Ao dinamizar a administração colonial, a política pombalina
possibilitou, indireta e progressivamente, a ascensão de diversos setores da economia e
governança, que transformavam suas estratégias e projetos políticos em função das novas
diretrizes e perspectivas que então se criavam. Ao atingirem principalmente o equilíbrio de
poder entre agentes da Coroa e potentados locais, essas transformações tiveram ainda
conseqüências diretas sobre as práticas políticas de negociação e intermediação, que também
precisaram se adequar aos novos tempos.
No que se refere aos estudantes do Rio de Janeiro, se na primeira metade do século
XVIII pode-se observar a predominância de uma formação ligada à carreira eclesiástica e à
medicina, o quadro começaria a transformar-se a partir da década de 1750, quando bacharéis
fluminenses começam a retornar ao Brasil para a ocupação de cargos ligados à administração.
Um bom exemplo dessas estratégias seria o comportamento do Tenente-mestre de campo
Bernardo da Silva Ferrão. Nascido na freguesia de Pernes, arcebispado de Lisboa, em 1688,
ingressou na carreira militar em 1708, tendo sido promovido a oficial e transferido primeiro
para Recife (PE), como ajudante de ordens do governador D. Lourenço de Almeida e, mais
tarde, em 1719, para o Rio de Janeiro. Em 1736, após ser designado para vigiar o contrabando
do ouro às beiras do Rio Paraibuna, transferiu-se para Vila Rica (atual Ouro Preto, Minas
Gerais), onde serviu ao Governador Gomes Freire de Andrade e onde recebeu quatro cartas de
sesmarias.
Cavaleiro do Hábito de Cristo, Bernardo da Silva Ferrão casou-se no Rio de Janeiro,
em 1727, com Francisca de Seixas da Fonseca, filha de um rico negociante da cidade,
Francisco de Seixas da Fonseca, que diretamente se beneficiava com esta aliança, em sua
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MAXWELL, Kenneth. A política. Condicionalismos da Independência do Brasil. In: SILVA, Maria Beatriz
Nizza da (coord.). O Império luso-brasileiro, 1750-1822. Lisboa: Editorial Estampa, 1986. pp. 335-395, p.339.
BETHENCOURT, Francisco e CHAUDHURI, Kirti (Dir.). História da expansão portuguesa. Navarra: Círculo
de Leitores, 1998. 4v. v. 3 - O Brasil na balança do Império (1687-1808), p.35-6.
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busca de ascensão social 4. Bernardo Ferrão enviou seus três filhos, todos nascidos no Rio de
Janeiro, à universidade de Coimbra: Matheus Antonio da Silva Ferrão, formado em 1756, que
seguiria a carreira eclesiástica; Francisco Roberto da Silva Ferrão, formado em 1752, que
seria desembargador da Relação do Porto; e Bernardo Manoel da Silva Ferrão, formado
também em 1756, inicialmente advogado em Vila Rica, tesoureiro da Intendência, deputado e
escrivão da Junta da Fazenda da Capitania de Minas Gerais, escrivão da Receita da
Intendência de Vila Rica, em 1791, e escrivão da Receita e Despesa da Casa de Fundição, em
São João Del Rei (MG).
Dentre as filhas, Joana Rosa Marcelina de Seixas, casou-se com o sargento-mor de
Sabará Manoel da Rocha Brandão, e Maria Dorothea Joaquina de Seixas com o capitão
Balthazar João Mayrink, casamento que uniria a família aos Manso da Costa Reis e Sayão, de
Ouro Preto, linhagens de importantes políticos e magistrados no II Reinado.
Exemplo semelhante é o do capitão-mor do Rio de Janeiro Manuel Pereira Ramos de
Lemos Faria, senhor dos engenhos de Marapicu, Cabuçu, Itaúna, do Gama e outros, e casado,
em 1721, com Helena de Andrada Souto-Maior, da tradicional família fluminense dos
Azeredo Coutinho. O Capitão-mor também enviou seus três filhos à universidade de Coimbra,
dois dos quais se tornariam eminentes jurisconsultos no reino: Francisco de Lemos de Faria
Pereira, formado em 1754, reitor do colégio das Ordens militares, lente na Universidade, juiz
geral das ordens militares, desembargador dos agravos da Casa da Suplicação e, em 1765,
também membro extraordinário do tribunal do Santo Oficio e deputado da Mesa Censória; e
João Pereira Ramos de Azeredo Coutinho, desembargador do Paço, Procurador da Coroa,
deputado ordinário da Real Mesa Censória e professor do curso de Direito da Universidade de
Coimbra.
As mesmas estratégias seguiriam, entre diversos outros proprietários e oficiais, Luís
Fortes de Bustamante e Sá, capitão-mor do termo da Vila de São João Del Rei; Pedro Dias
Paes Leme, guarda-mor geral das Minas, cargo no qual o sucederia seu filho, o bacharel
Roque Luis de Macedo Leme; João Carneiro da Silva, antigo morgado de Santo Antônio do
Capivari e Quissamã e contratador de diamantes da Coroa no Tijuco; Manuel Freire Ribeiro,
senhor de engenho em Campo Grande, cujo filho, Jose Antonio Ribeiro, seria desembargador,
juiz e ouvidor da Alfândega do Rio de Janeiro (1801-1811) e provedor da Fazenda Real; o
mestre de campo Fernando José Mascarenhas Castelo Branco; o senhor de engenhos
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Sobre as estratégias desse negociante, ver SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá de. A produção política da
economia: formas não-mercantis de acumulação e transmissão de riqueza numa sociedade colonial (Rio de
Janeiro, 1650-1750) Topoi, v. 4, n. 7, jul.-dez. 2003, pp. 276-312, p. 302-3.
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Famílias, poderes locais e redes de poder: estratégias e ascensão política das elites colônias no Rio de Janeiro (1750-1808)
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João Fragoso, Fidalgos e parentes de pretos: notas sobre a nobreza principal da terra do Rio de Janeiro. In:
FRAGOSO, João; SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá de; ALMEIDA, Carla. (Org.). Conquistadores e
negociantes: histórias de elites no Antigo Regime nos Trópicos. América lusa, séculos XVI a XVIII. 1 ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, v. 1, pp. 33-120
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filhos); Domingos Rebelo Leite (dois filhos); Feliciano Gomes Neves (dois filhos, um dos
quais ouvidor no Serro Frio); João Alves Carneiro (dois filhos); Simão de Freitas Guimarães
(dois filhos), entre diversos outros. Assim, na medida em que avançava a especialização de
cargos e funções, fazia-se necessário o desenvolvimento de novas estratégias para garantir a
manutenção do status quo e as vias de acesso às instâncias decisórias.
No que se refere aos cargos ocupados por seus descendentes e familiares ao longo do
período joanino, há inúmeros exemplos. Apenas na família do comerciante Brás Carneiro
Leão, destacam-se o filho José Fernando Carneiro Leão, conde de Vila Nova de São José,
nomeado diretor do Banco do Brasil, e os genros, o mineiro Manoel Jacinto Nogueira da
Gama, futuro marquês de Baependi, que se tornou funcionário do Real Erário e do Conselho
da Fazenda; Paulo Fernandes Viana, também filho de outro negociante fluminense, Lourenço
Fernandes Viana, nomeado para o cargo de intendente geral de Polícia; o baiano Luiz José de
Carvalho e Melo, mais tarde visconde da Cachoeira, nomeado desembargador da Casa da
Suplicação do Rio de Janeiro. Baependi e Cachoeira tornar-se-iam ainda importantes nomes
da política imperial, como ministros e conselheiros de Estado.
Outros antigos estudantes que igualmente ocupariam importantes posições na nova
estrutura institucional da Corte foram o já citado Francisco Lopes de Sousa de Faria Lemos,
genro do negociante e vereador coronel Antonio Gomes Barroso; Claudio José Pereira da
Costa, português, desembargador da Relação na Corte, casado com a filha de Manoel Velho
da Silva, comerciante e vereador do senado da Câmara do Rio de Janeiro; José Joaquim
Carneiro de Campos, futuro marquês de Caravelas, filho do negociante baiano José Carneiro
de Campos, nomeado oficial maior da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros; o
fluminense Mariano José Pereira da Fonseca, futuro visconde e marquês de Maricá, filho do
negociante português radicado no Rio de Janeiro Domingos Pereira da Fonseca e genro do
negociante mineiro capitão Julião Martins da Costa, e que se tornou deputado da Junta do
Comércio e tesoureiro da Real Fábrica de Pólvora; o baiano José Egidio Álvares de Almeida,
mais tarde barão, visconde e marquês de Santo Amaro, filho de José Álvares Pinto de
Almeida, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real e capitão-mor das Ordenanças da Bahia, que
passava a integrar o conselho da Fazenda, no Rio de Janeiro. Também entre estes, quase todos
tiveram inserção na alta cúpula da política imperial, a partir do I Reinado.
Por outro lado, deve-se ainda considerar que as representações no senado da Câmara
ou mesmo a ascensão para cargos políticos e jurídicos na Corte já se faziam mediante
intrincadas redes que relacionavam proprietários de terras, comerciantes, oficiais régios e
poderes locais. Um exemplo seriam as trajetórias e alianças desenvolvidas pelos irmãos João
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