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PlanMob

CADERNO DE
REFERÊNCIA PARA
ELABORAÇÃO DE PLANO
DE MOBILIDADE URBANA
EXPEDIENTE

REPÚBLICA FEDERATIVA Equipe Técnica


DO BRASIL Nívea Oppermann Peixoto
Lara Schmitt Caccia
Presidenta da República Daniela Facchini
Dilma Vana Rousseff Fernanda Boscaini

MINISTÉRIO DAS CIDADES IEMA - Instituto de Energia


e Meio Ambiente
Ministro das Cidades
Gilberto Kassab Presidente
André Luis Ferreira
Equipe Técnica
Secretário Executivo
Renato Boareto
Elton Santa Fé Zacarias
Kamyla Borges da Cunha
Ademilsom Zamboni
Secretário Nacional de Transporte e
da Mobilidade Urbana
ITDP - Instituto de Políticas de
Dario Rais Lopes
Transporte e Desenvolvimento
Diretora
Equipe Técnica
Clarisse Linke
Marco Antonio Vivas Motta (Diretor)
Equipe Técnica
Martha Martorelli (coordenação e elaboração)
Pedro Henrique Campello Torres
Aguiar Gonzaga Vieira da Costa (elaboração)
Bernardo Serra
Gláucia Maia de Oliveira (elaboração)
Paula Coelho da Nóbrega (elaboração)
© 2015 Ministério das Cidades
Instituições Parceiras Todos os direitos reservados. É permitida a re-
EMBARQ Brasil produção parcial ou total desta obra, desde que
citadas a fonte e as entidades parceiras e que
Presidente
não seja para a venda ou qualquer fim comercial.
Luis Antonio Lindau
A responsabilidade pelos direitos autorais de
textos e de imagens desta obra é do Ministério
das Cidades.
Distribuição gratuita.
SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO 11

2. INTRODUÇÃO 15
2.1. O Estatuto da Cidade 16
2.2. O Ministério das Cidades 17
2.2.1 Estrutura do Ministério das Cidades 18
2.3 A Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana 19
2.3.1 A Política Nacional de Mobilidade Urbana 19
2.3.2 Investimentos em Mobilidade Urbana – Programas e Ações da SEMOB 21
2.4 Programa de Aceleração do Crescimento – PAC 22
2.4.1 Primeira Etapa – PAC 1 22
2.4.2 Copa do Mundo 2014 22
2.4.3 Segunda Etapa – PAC 2 23

3. A POLÍTICA NACIONAL DE
MOBILIDADE URBANA – LEI N. 12.587/2012 25
3.1 Orientações para a Mobilidade Urbana 26
3.2 Política Tarifária e Regulação do Transporte Público 27
3.3 Direito dos Usuários 28
3.4 Atribuições dos Entes Federativos 29
3.5 Gestão dos Sistemas de Mobilidade Urbana 29
3.6 Planos de Mobilidade Urbana 30

4. COMPONENTES DO SISTEMA DE
MOBILIDADE URBANA 33
4.1 Características e Papel dos Diferentes Modos de Transporte 34
4.1.1 Modos não Motorizados 34
4.1.2 Modo Motorizado Privado 42
4.1.3 Modo Motorizado Coletivo 43
4.2 Serviços de Transporte Público 61
4.2.1 Serviços de Transporte Coletivo 61
4.2.2 Serviço de Transporte Escolar 63
4.2.3 Serviço de Mototáxi e Motofrete 63
4.2.4 Serviço de Táxis 64
4.2.5 Bicicleta Pública 65
4.3 O Papel do Sistema Viário no Planejamento da Mobilidade Urbana 68
4.3.1 Sistema Viário 68
4.3.2 Gestão do Sistema Viário 69
4.3.3 Planejamento e Projeto da Circulação 71
4.3.4 Instrumentos de Gestão de Demanda por Viagens 79

5. MOBILIDADE URBANA E MEIO AMBIENTE 89


5.1 Mobilidade Urbana, Qualidade Ambiental e Mudanças Climáticas 90
5.2 Mobilidade Urbana e Desenvolvimento Urbano Sustentável 92
5.2.1 Redução da Necessidade de Viagens Motorizadas 94
5.2.2 Mudança de Viagens para Modos de Transporte 95
Público Coletivo e para os não Motorizados
5.2.3 Inovações Tecnológicas nos Veículos 95
5.3 Planos de Mobilidade Urbana como Instrumentos 96
de Melhoria Ambiental
5.4 Licenciamento Ambiental na Mobilidade Urbana 98

6. PLANEJAMENTO DA MOBILIDADE URBANA 101


6.1 O Planejamento Urbano 102
6.2 Compatibilidade do Plano de Mobilidade Urbana 103
com os demais Planos Municipais
6.2.1 Compatibilidade do Plano de Mobilidade Urbana 103
com o Plano Diretor
6.2.2 A Lei da Mobilidade Urbana e outros Planos Municipais 106
6.2.3 Análise da Integração do Plano de Mobilidade Urbana 107
com os demais Planos Municipais
6.3 Fatores Condicionantes da Mobilidade Urbana 107
6.3.1 Diferenças Regionais e Culturais 107
6.3.2 Porte das Cidades 108
6.3.3 Perfil da Mobilidade 108
6.3.4 Organização Institucional 113
6.3.5 Processo de Urbanização e Mobilidade Urbana 115
6.3.6 Aspectos Socioeconômicos 123
6.3.7 Consumos e Impactos da Mobilidade Urbana 126
6.4 Desenvolvimento Urbano Orientado ao Transporte 132
Público e Não Motorizado – TOD
6.4.1 O Caso de Curitiba 135
6.4.2 O Caso de Belo Horizonte 136
6.5 Instrumentos de Gestão Urbana Para o Planejamento Integrado 137
do Uso do Solo e da Mobilidade Urbana
6.5.1 As Operações Urbanas Consorciadas (OUC) 137
e a Outorga Onerosa do Direito de Construir (OODC).
6.5.2 Parcelamento, Edificação ou Utilização 139
Compulsórios do Solo Urbano

7. ESTRUTURA E CONTEÚDO DO
PLANO DE MOBILIDADE URBANA 143
7.1 Introdução 144
7.2 Diagnóstico da Mobilidade Urbana 145
7.2.1 Dados Primários 146
7.2.2 Dados Secundários 155
7.2.3 Definição de Indicadores para Diagnósticos 156
7.3 Prognóstico: Estudos de Projeção da Demanda e 157
Análise de Alternativas
7.3.1 Modelagem e Projeção da Demanda 157
7.3.2 Análise de Alternativas/Cenários 158
7.4 Objetivos, Metas e Ações Estratégicas 159
(Conteúdos Mínimos)
7.4.1 O Estabelecimento de Objetivos e Metas 160
7.4.2. Ações estratégicas para a Solução dos Problemas 164
e Alcance das Metas
7.5 Programa de Investimentos, Monitoramento e Revisão 182
do Plano de Mobilidade Urbana
7.5.1 Programa de Investimentos e Identificação de Fontes de Financiamento 182
7.5.2 Monitoramento, Avaliação e Revisão do Plano de Mobilidade Urbana 183

8. PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO
PLANO DE MOBILIDADE URBANA 187
8.1 Participação Social 188
8.1.1 Mapeamento dos Atores Sociais 190
8.1.2 Conselho, Audiência e Consultas Públicas 192
8.2 Etapas para construção do Plano de Mobilidade Urbana 195
8.2.1 Definição da Metodologia 197
8.2.2 Passo a Passo 197
8.3 Termo de Referência para a Elaboração do Plano 209
de Mobilidade Urbana
8.3.1 Estabelecimento de Conteúdos 209
8.3.2 Estabelecimento de Cronogramas 211
8.3.3 Definição de Recursos 211
8.3.4 Estabelecimento de Acompanhamento e Gestão dos Trabalhos 211
8.3.5 Estabelecimento de Condições Quando Contratada a Elaboração 212
do Plano de Mobilidade Urbana
8.3.6 Sugestões de Roteiros 212
8.4 Instituição do Plano de Mobilidade Urbana 226

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 229


1 Apresentação

8
Mensagem do Ministro
das Cidades

A mobilidade urbana é um tema amplo, que vai além do debate sobre transporte urbano e abrange
questões de desenvolvimento urbano, como o uso e a ocupação do solo. A saúde e a qualidade de
vida das pessoas estão intimamente ligadas às suas condições de locomoção cotidiana.
Por isso a importância de se buscar modelos de cidades sustentáveis.

Têm sido implementados por todo o País projetos e obras, com o objetivo de dotar as cidades de
infraestrutura de transporte coletivo urbano, especialmente aqueles de grande capacidade: BRT
– Bus Rapid Transit, faixas exclusivas para ônibus, trens e metrôs, monotrilhos, aeromóvel, modos
hidroviários etc. Em atendimento à Política Nacional de Mobilidade Urbana, regulamentada pela
Lei n. 12.587/2012, paralelamente, vêm sendo executadas intervenções no espaço urbano, como
calçadas e ciclovias, priorizando os modos não motorizados de transporte.

A melhoria da mobilidade nas cidades é um enorme desafio aos governantes e uma reivindicação da
sociedade. Em junho de 2013, milhares de pessoas foram às ruas demandar dos governantes a presta-
ção de serviços de transporte público coletivo com qualidade, conforto, pontualidade e preço justo.

Face às reivindicações, foram revogados reajustes tarifários em grandes cidades, concedidos bene-
fícios tributários, dentre outras medidas. Além disso, a discussão da mobilidade urbana entrou na
pauta da sociedade definitivamente, favorecendo as ações institucionais do governo federal, já em
execução, para a capacitação dos municípios, a elaboração do Sistema Nacional de Informações de
Mobilidade Urbana e outras, em cumprimento à Política Nacional de Mobilidade Urbana.

Assim, o Ministério das Cidades, por meio da Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade
Urbana, oferece à sociedade brasileira o Caderno de Referência para Elaboração de Plano de
Mobilidade Urbana, PlanMob, fundamental para o Estado brasileiro, pois, além de instrumentalizar
os municípios para que atendam a exigência de elaboração de seus Planos, fornece subsídios para
o planejamento da mobilidade urbana em todo o País.

Gilberto Kassab
Ministro das Cidades
1 Apresentação

10

10| 10
Apresentação 1

APRESENTAÇÃO

01

11
1 Apresentação

O objetivo do Caderno de Referência PlanMob O capítulo 2 pretende contextualizar institucio-


é orientar municípios e estados para a constru- nalmente o Ministério das Cidades e a Secretaria
ção de Planos de Mobilidade Urbana, muni- Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana,
cipais e regionais, elaborado pelas equipes que detêm a atribuição federal sobre o tema.
técnicas de governo e por profissionais contra-
tados para tal fim. No capítulo 3, buscou-se dar um panorama da
Política Nacional de Mobilidade Urbana, que
O público-alvo deste caderno constitui-se traz as orientações para a gestão da mobilidade
de técnicos e gestores públicos que atuam urbana em todo o país
diretamente com as questões de mobilidade
urbana nas administrações municipais ou es- O capítulo 4 explicita os meios de transporte, as
taduais, bem como de lideranças políticas e de redes, as respectivas infraestruturas e a forma
movimentos sociais que atuam nas questões com que interagem com o espaço urbano.
urbanas.
O meio ambiente e os aspectos de sustentabili-
Os conteúdos do caderno abrangem aspectos dade ambiental são tratados no capítulo 5.
diversos da mobilidade urbana que devem ser
considerados por todos os municípios do País. O capítulo 6 traz diretrizes para o planejamento
A ideia foi contemplar todos os temas necessá- da mobilidade urbana, com todos os aspectos
rios para a elaboração de Planos de Mobilidade que o envolvem e os instrumentos disponíveis.
Urbana.
No capítulo 7, encontram-se os conteúdos míni-
Importante ressaltar que o material será apro- mos necessários para a elaboração dos planos,
veitado em função do porte do município e com as pesquisas prévias, o diagnóstico e as
de sua respectiva complexidade. Por exemplo, avaliações necessárias.
municípios que não possuem redes de transpor-
te público manterão mais o foco nos modos não Por fim, o capítulo 8 descreve a metodologia
motorizados e nos serviços pontuais de trans- proposta e o “passo a passo” para a elaboração
porte urbano, se for o caso. do Plano de Mobilidade Urbana.

A estrutura deste Caderno de Referência foi A equipe técnica da Secretaria Nacional de


planejada de forma a fornecer conceitos e fun- Transporte e da Mobilidade Urbana visou trazer
damentos gerais sobre mobilidade urbana nos conteúdo técnico, de forma didática e funcio-
capítulos 2 a 6, reservando para os capítulos 7 e nal, para que este Caderno de Referência con-
8 as informações referentes aos procedimentos tribua, não só para a elaboração dos Planos de
de elaboração, com metodologia e detalhamen- Mobilidade Urbana, mas também para agregar
to do processo. conhecimento e criar novos paradigmas sobre
o tema.

12
Apresentação 1

13
1 Apresentação

14
Apresentação 1

02

INTRODUÇÃO
15
2 Introdução

A partir da década de 1950, o padrão de deslo- As soluções aplicadas eram imediatistas, com
camentos da população brasileira passou por enfoque de curto prazo, e visavam resolver
uma transformação, resultado do crescimento problemas pontuais e de forma segmentada.
acelerado observado nos grandes centros urba- A aplicação de recursos em transporte público
nos em decorrência do processo de industriali- coletivo e em infraestrutura para o transporte
zação do País. Em um curto período de tempo, não motorizado foi retomada recentemente,
o Brasil deixou de ser rural para tornar-se tendo em vista a crise de mobilidade instalada
predominantemente urbano. em grande parte das cidades brasileiras.

Segundo o censo do IBGE de 2010, mais de O modelo de transporte individualista gera


80% da população brasileira vive em cida- diversas externalidades negativas. Os aciden-
des. A Organização das Nações Unidas – ONU tes de trânsito são responsáveis pela morte
prevê ainda que em 2030 a população urbana de 43 mil pessoas por ano, segundo dados do
brasileira passará para 91%. A taxa de urba- Ministério da Saúde, sendo os motociclistas
nização brasileira é superior à de países mais as principais vítimas. O aumento dos tempos
desenvolvidos. No mundo, este valor recente- de viagem também é interferência negativa,
mente ultrapassou os 50%, segundo o World principalmente nos grandes centros urbanos.
Factbook 2010 (CIA, 2010). Os demais países Segundo dados da Pesquisa Nacional por
integrantes do bloco “BRICS” também possuem Amostra de Domicílios – Pnad, nos últimos vin-
percentual de urbanização inferior ao do Brasil. te anos o tempo de viagem dos trabalhadores
A Rússia possui 73% de sua população em subiu 12%. Estudos do Instituto de Pesquisas
áreas urbanas, a África do Sul, 61%, a China, Econômicas Aplicadas – IPEA indicam que os
47%, e a Índia, apenas 30%. deslocamentos casa-trabalho demoram em
média 42,8 minutos na cidade de São Paulo.
O modelo de desenvolvimento urbano brasi- As poluições atmosférica e sonora também
leiro não induz o crescimento com equidade são consideradas perniciosas aos sistemas de
e sustentabilidade. Os locais de trabalho e mobilidade. Investir na eficiência dos sistemas
lazer se concentram nas zonas mais centrais de transporte coletivo permite a redução de
enquanto a maior parte da população resi- emissão de poluentes, ruídos e de impactos
de em áreas distantes. Além disso, há uma ambientais.
valorização maior dos terrenos em áreas
mais desenvolvidas, o que obriga a popu- Portanto, para alcançar a mobilidade urbana
lação pobre a ocupar áreas cada vez mais sustentável, minimizar os fatores externos
distantes, desprovidas de infraestrutura. prejudiciais e tornar as cidades socialmente in-
clusivas, são necessárias mudanças estruturais,
A dispersão territorial das cidades faz com que de longo prazo, com planejamento e com vistas
a quantidade e a distância dos deslocamentos ao sistema como um todo, envolvendo todos
diários sejam elevadas, o que torna a popula- os segmentos da sociedade e todas as esferas
ção altamente dependente dos sistemas de de governo. É preciso adotar uma política que
transporte. Os ônibus urbanos são os respon- oriente e coordene esforços, planos, ações e
sáveis pela maior parte das viagens, mas, sem investimentos, para garantir à sociedade bra-
infraestrutura adequada e prioridade nas vias, sileira o direito à cidade, com equidade social,
dentre outros fatores, ficam sujeitos aos con- maior eficiência administrativa, ampliação da
gestionamentos. A falta de qualidade do trans- cidadania e sustentabilidade ambiental.
porte público coletivo, por sua vez, faz crescer
a migração dos usuários para o transporte 2.1. O Estatuto da Cidade
individual motorizado (automóveis e motos).
Estatuto da Cidade é a denominação oficial da
Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, que regu-
Ademais, durante anos os investimentos em
lamenta o capítulo “Política Urbana” da Cons-
mobilidade urbana privilegiaram o transporte
tituição Federal, detalhando e desenvolvendo
individual, com obras de ampliação do sistema
os artigos 182 e 183. Seu objetivo é garantir o
viário, construção de pontes, túneis e viadutos.
direito à cidade como um dos direitos funda-

16
Introdução 2

mentais das pessoas, para que todos tenham devem elaborar um plano de transporte urbano
acesso às oportunidades que a vida urbana integrado, compatível com o Plano Diretor ou
oferece. É uma lei que representa a consoli- nele inserido. Como veremos adiante, a Lei n.
dação de conquistas reivindicadas há mais de 12.587/2012 amplia não apenas o universo de
três décadas por diversos setores da socieda- cidades que devem elaborar Planos, mas o
de, notadamente os movimentos sociais. enfoque do Plano em si.

O Estatuto da Cidade é uma lei inovadora e es- 2.2. O Ministério das Cidades
tabelece que a política urbana deve ser objeto
A criação do Ministério das Cidades – MCi-
de um planejamento extensivo, envolvendo
dades em 2003 trouxe de volta à agenda do go-
planos de ordenamento do território integra-
verno federal a discussão sobre a política urba-
dos entre si, nas escalas nacional, estaduais,
na e o destino das cidades. A última proposta
regionais, metropolitanas, municipais e inter-
de política urbana implementada pelo governo
municipais. Especificamente no âmbito muni-
federal se deu no regime militar (1964-1985).
cipal, detalha que o planejamento municipal
Com a crise fiscal que atingiu o País em 1980 e
deve envolver o planejamento urbano, ambien-
a falência do Sistema Financeiro da Habitação
tal, orçamentário, setorial e o planejamento do
e do Sistema Financeiro do Saneamento, a po-
desenvolvimento econômico e social, especi-
lítica urbana e as políticas setoriais formuladas
ficando também que a gestão orçamentária
e implementadas pelo Regime Militar entram
deve ser feita de forma participativa, aberta a
em colapso. Desde 1986 a política urbana este-
todos os cidadãos.
ve dispersa no âmbito do governo federal.

O Plano Diretor é o principal instrumento


instituído pelo Estatuto da Cidade, reunindo Nas atribuições solidárias entre governo
os demais instrumentos e estabelecendo como federal, governos estaduais e governos munici-
cada porção do território municipal cumpre sua pais como o financiamento da habitação e da
função social. É uma lei municipal que deve infraestrutura urbana, o MCidades está dese-
ser revista pelo menos a cada dez anos e deve nhando novas políticas e novos sistemas que
expressar a construção de um pacto social, viabilizem o investimento coerente e integrado
econômico e territorial para o desenvolvimento – público e privado – de modo a racionalizar
urbano do município. os recursos de acordo com as prioridades e
necessidades previstas em planos, indicadores
O Estatuto da Cidade define quais cidades são de desempenho e posturas (nacionais/gerais e
obrigadas a elaborar o Plano Diretor, que não locais/específicas) definidos de forma demo-
deve tratar somente da área urbana, mas da crática. Espera-se, assim, eliminar os constan-
totalidade do território municipal, englobando tes desperdícios de recursos decorrentes da
as áreas rurais, as florestas, as comunidades descontinuidade de projetos, desarticulação
tradicionais, as áreas de preservação ambien- entre ações simultâneas e sucessivas, falta de
tal, os recursos hídricos, enfim, toda a área integração intermunicipal, falta de controle
do município. Certamente, os Planos Direto- social e público, e desconhecimento das ques-
res diferem de um município para outro, em tões ambientais.
função de diversos fatores, tais como: da região
em que o município se insere, do bioma, da Outro aspecto fundamental de sua criação está
extensão do território e da área urbanizada, da na busca da definição de uma Política Nacional
aglomeração urbana da qual eventualmente o de Desenvolvimento Urbano em consonância
município faça parte, do tamanho da popula- com os demais entes federativos, demais pode-
ção, dos padrões de urbanização, dos aspectos res do Estado, além da participação da socie-
econômicos, dentre outros. dade visando à coordenação e à integração dos
investimentos e ações nas cidades do Brasil,
Entretanto, o Estatuto da Cidade não dispõe dirigidos à diminuição da desigualdade social e
sobre mobilidade urbana. Estabelece apenas à sustentabilidade ambiental.
que as cidades com mais de 500 mil habitantes

17
2 Introdução

Cabe ao governo federal, por meio do implementar políticas setoriais de saneamento


Ministério das Cidades, definir as diretrizes ambiental além de promover, em articulação
gerais da Política Nacional de Desenvolvimento com as demais esferas de governo, com o setor
Urbano, entretanto cabem ao município (ou privado e organizações não governamentais,
aos gestores metropolitanos, definidos por lei ações e programas de saneamento ambiental,
estadual) o planejamento e a gestão urbanos e envolvendo os quatro componentes do sanea-
metropolitanos. É nas cidades que os objetivos mento básico.
de participação cidadã e de garantia do direito
à cidade para todos podem ser concretizados. É atribuição da Secretaria Nacional de Acessi-
bilidade e Programas Urbanos – SNAPU a tarefa
O Ministério das Cidades atua no fortaleci- de estimular e apoiar os municípios na constru-
mento dessas competências, não apenas por ção de políticas urbanas baseadas em proces-
meio de apoio financeiro, mas principalmente sos de planejamento e gestão participativa
oferecendo a capacitação técnica de quadros que contribuam para a organização do espaço
da administração pública municipal e estadual, urbano. Assim como a ampliação do acesso à
além de agentes sociais locais. terra legalizada e urbanizada, e a redução dos
riscos e impactos ambientais, com o objetivo
2.2.1. Estrutura do Ministério das de superar o quadro de exclusão territorial das
Cidades cidades brasileiras.
O Ministério das Cidades é composto por uma
A Secretaria Nacional do Transporte e da
Secretaria Executiva e quatro secretarias nacio-
Mobilidade Urbana – SeMob tem a missão
nais finalísticas que tratam dos principais proble-
de promover a mobilidade urbana, de forma
mas sociais que afetam as populações urbanas:
segura, socialmente inclusiva e com equidade
habitação, urbanização, saneamento ambiental,
no uso do espaço público, contribuindo para a
regularização fundiária, acessibilidade, gestão
construção de cidades sustentáveis.
de riscos e transporte e mobilidade urbana. Sua
estrutura regimental foi aprovada por meio do
O Ministério das Cidades congrega, atualmente,
Decreto n. 4.665, de 3 de abril de 2003.
todas as políticas públicas de trânsito, transpor-
te urbano e mobilidade urbana. Órgãos que se
A Secretaria Nacional de Habitação – SNH é
encontravam dispersos em outros ministérios,
responsável por acompanhar e avaliar, além
como o Denatran, no Ministério da Justiça, e
de formular e propor, os instrumentos para a
empresas públicas, como a CBTU e a Trensurb,
implementação da Política Nacional de Habi-
no Ministério dos Transportes, hoje compõem a
tação, em articulação com as demais políticas
estrutura do Ministério das Cidades.
públicas e instituições voltadas ao desenvolvi-
mento urbano, com o objetivo de promover a
O Conselho das Cidades – ConCidades é um
universalização do acesso à moradia.
órgão colegiado de natureza deliberativa e con-
sultiva, integrante da estrutura do Ministério das
A Secretaria Nacional de Saneamento Ambien-
Cidades, e tem por finalidade estudar e propor
tal – SNSA é o órgão coordenador da execução
diretrizes para a formulação e a implementação
da Política Federal de Saneamento Básico e
da Política Nacional de Desenvolvimento Urba-
gestora dos principais recursos destinados ao
no, bem como acompanhar a sua execução.
saneamento, sendo responsável por formular e

18
Introdução 2

Figura 1 – Organograma do Ministério das Cidades.

MINISTÉRIO DAS
CIDADES

Conselho Curador de
Fundo de Desenv. Social

Conselho das Cidades


Gabinete Secretaria Executiva

SPOA - Subsecretaria de
Planejamento, Orçamento
Consultoria e Administração
Jurídica

DENATRAN - Departamento CONTRAN - Conselho


Nacional de Trânsito Nacional de Trânsito

CBTU - Companhia TRENSURB - Empresa de Trens


Brasileira de Trens Urbanos Urbanos de Porto Alegre S.A.

SNH - Secretaria SNSA - Secretaria SEMOB - Secretaria SNAPU - Secretaria


Nacional de Habilitação Nacional de Saneamento Nacional de Transporte Nacional de Acessibilidade
Ambiental da Mobilidade Urbana e Programas Urbanos

DICT - Departamento de
Desenvolvimento Institucional DARIN - Departamento de DECIS - Departamento de DEAP - Departamento de
e Cooperação Técnica Articulação Institucional Cidadania e Inclusão Social Políticas de Acessibilidade
e Planejamento Urbano

DHAB - Departamento de DAGES - Departamento de DEMOB - Departamento de


Produção Habitacional Água e Esgoto Mobilidade Urbana DAFUPR - Departamento de
Assuntos Fundiários Urbanos
e Prevenção de Riscos
DUAP - Departamento de DDCOT - Departamento de DEREG - Departamento de
Urbanização e Assentamentos Desenvolvimento e Regulação e Gestão
Precários Cooperação Técnica DAGMT - Departamento de
Apoio à Gestão Municipal
e Territorial

LEGENDA:
Subordinação
Órgãos Colegiados

Fonte: www.cidades.gov.br.

2.3. A Secretaria Nacional de soas às cidades, respeitando os princípios de


Transporte e da Mobilidade Urbana desenvolvimento sustentável das cidades, nas
dimensões socioeconômicas e ambientais.
A Secretaria Nacional de Transporte e da
Mobilidade Urbana – SeMob foi instituída no
Nesse sentido, a Presidência da República
Ministério das Cidades com a finalidade de
sancionou a Lei n. 12.587, em 3 de janeiro de
formular e implementar a Política Nacional
2012, que estabelece as diretrizes da Política
de Mobilidade Urbana Sustentável, entendida
Nacional de Mobilidade Urbana após 17 anos
como “a reunião das políticas de transporte
de tramitação no Congresso Nacional. O projeto
e de circulação, e integrada com a política de
de lei foi amplamente discutido com diferentes
desenvolvimento urbano, com a finalidade de
esferas da Administração Pública e diversas
proporcionar o acesso amplo e democrático ao
entidades do setor.
espaço urbano, priorizando os modos de trans-
porte coletivo e os não motorizados, de forma
2.3.1. A Política Nacional de
segura, socialmente inclusiva e sustentável”.
Mobilidade Urbana
O Ministério das Cidades e a SeMob, em parti- A formulação da Política Nacional de Mobilidade
cular, têm a missão de criar políticas públicas Urbana foi fundamentada no artigo 21, inciso
transversais que garantam o acesso das pes- XX, que estabelece como competência privativa

19
2 Introdução

da União instituir diretrizes para o desenvolvi- tratava da prestação de serviços de transporte


mento urbano, e no artigo 182 da Constituição rodoviário coletivo de passageiros sobre o
Federal – CF de 1988. O artigo 182 dispõe que a regime de concessão ou permissão, e o PL n.
política urbana é responsabilidade do município 2.234/1999, que tratava do sistema integrado
e deve garantir as funções sociais da cidade e de transporte coletivo urbano.
o desenvolvimento dos cidadãos. A inclusão de
um capítulo específico sobre política urbana Os três PLs seguiram tramitando nas comis-
(arts. 182 e 183 da CF) foi resultado do Movimen- sões da Câmara dos Deputados, até que em
to Nacional pela Reforma Urbana, ocorrido na 2003 foi instituída uma comissão especial para
década de 1980. apreciar e dar parecer ao PL n. 694/1995. Neste
período, foi criado o Ministério das Cidades e,
Em 2001, foi aprovado o Estatuto da Cida- com a participação do Conselho das Cidades,
de, que estabelece as diretrizes gerais e os discutiu-se uma proposta de projeto de lei para
instrumentos da política urbana. Entretanto, a mobilidade urbana para que houvesse uma
como o Estatuto da Cidade não dispõe sobre a abordagem mais abrangente e completa do
mobilidade urbana, tornou-se necessário que o tema. Esta proposição foi enviada ao Congres-
Executivo propusesse a edição de um normati- so Nacional pelo Executivo em 2007 por meio
vo autônomo, para ampliar o conceito além dos do PL n. 1.687/2007. A formulação do projeto de
transportes urbanos. lei pelo Ministério das Cidades envolveu diver-
sas discussões com atores-chave do governo
A Política Nacional de Mobilidade Urbana é um e da sociedade civil ligados ao setor. Esse PL,
dos eixos estruturadores da Política Nacional por tratar de tema similar, foi então apensado
de Desenvolvimento Urbano, que deve ser ao PL n. 694/1995, e a partir daí as proposições
entendida como um conjunto de princípios, tramitaram sob o número do PL n. 1.687/2007.
diretrizes e normas que norteiam a ação do
Poder Público e da sociedade em geral, na Com as modificações trazidas pela Comissão
produção e na gestão das cidades. A Política Especial da Câmara, instituída para discutir a
Nacional de Desenvolvimento Urbano deve proposição, o PL seguiu para o Senado Fede-
estar inserida num projeto nacional de desen- ral sob a denominação de PLC n. 166/2010. A
volvimento econômico e social, integrando por matéria foi apreciada pelo Senado Federal no
meio de sua transversalidade as políticas se- início de 2010 e aprovada em dezembro de
toriais. Políticas territoriais, participação social 2011 sem alterações de mérito.
e destinação de recursos financeiros são de
vital importância para combater as disfunções Foram, portanto, 17 anos de tramitação com
urbanas, externalidades negativas e desigual- significativas alterações na construção de uma
dades territorial e social existentes no País. norma federal para tratar do tema, sendo em-
blemática a alteração do termo inicial de dire-
Histórico da criação da Lei n. 12.587/2012 trizes nacionais do “transporte coletivo urbano”
para diretrizes mais abrangentes referentes à
Como visto anteriormente, a Constituição “Política Nacional de Mobilidade Urbana”.
Federal de 1988 definiu como uma das com-
petências da União instituir diretrizes para o A aprovação da Lei consiste, portanto, em
desenvolvimento urbano, incluindo os trans- um importante marco na gestão das políticas
portes urbanos. públicas nas cidades brasileiras. Desde então,
os municípios possuem segurança jurídica para
O primeiro projeto de lei relativo ao tema foi tomar medidas ou adotar instrumentos de prio-
o PL n. 694/1995, proposto pelo deputado rização aos modos não motorizados e coletivos
Alberto Goldman. Entretanto, este dispunha de transporte em detrimento ao individual. A Lei
apenas sobre as diretrizes para o transporte n. 12.587/2012 possibilita ainda que eventuais
coletivo. Ainda na década de 1990, foram apen- ações e investimentos das Prefeituras possam
sados ao PL n. 694/1995 o PL n. 1.974/1996, que ser contestados, caso eles venham a contrariar
as diretrizes fixadas na Lei.

20
Introdução 2

Os dispositivos da Lei tornam implícita a ao sistema, além de aumentar a velocidade


necessidade de um Pacto Nacional pela Mo- comercial, promovendo, assim, acréscimo na
bilidade Urbana, envolvendo todas as esferas eficiência com redução de custos.
de governo, a sociedade civil e as entidades
públicas e privadas do setor. O público-alvo do Programa é constituído pelos
estados, municípios e o Distrito Federal, órgãos
2.3.2. Investimentos em mobilidade públicos gestores e as respectivas concessio-
urbana – Programas e ações da nárias ou permissionárias do transporte públi-
SeMob co coletivo urbano, bem como as Sociedades
de Propósitos Específicos – SPEs.
Atualmente, as fontes de recursos para os
programas de mobilidade urbana da Secretaria
Ações financiáveis pelo Programa
Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana
Pró-Transporte
são, basicamente, duas:
- implantação, ampliação, modernização e/
s3FDVSTPT0OFSPTPT Fundo de Garantia por ou adequação da infraestrutura dos siste-
Tempo de Serviço – FGTS, por meio do mas de transporte público coletivo urbano,
Programa Pró-Transporte; incluindo-se obras civis, equipamentos,
s3FDVSTPT/ËP0OFSPTPT Orçamento Geral investimentos em tecnologia, sinalização e/
da União – OGU, por meio do Programa 2048 ou aquisição de veículos, barcas e afins;
– Mobilidade Urbana e Trânsito, do Ministério
das Cidades. - ações voltadas à inclusão social, à mobilidade
urbana, à acessibilidade e à salubridade;
a) Programa de Infraestrutura de Transporte
e da Mobilidade Urbana – Pró-Transporte - obras e serviços complementares e equipa-
mentos especiais destinados à acessibilidade,
O Programa de Infraestrutura de Transporte e à utilização e à mobilidade de idosos, pessoas
da Mobilidade Urbana – Pró-Transporte utiliza com deficiências ou restrição de mobilidade,
recursos do Fundo de Garantia por Tempo de voltados à prevenção de acidentes.
Serviço – FGTS, aprovado pela Resolução do
Conselho Curador CCFGTS n. 567, de 25 de b) Transferências voluntárias
junho de 2008, e regulamentado pela Instrução
O acesso a recursos de transferências vo-
Normativa n. 41, de 24 de outubro de 2012.
luntárias do OGU dos programas e ações do
MCidades ocorre por processo de seleção
O Programa é fundamental para investimentos,
ou por emenda parlamentar. Os manuais de
principalmente em transporte público, pois
instruções para apresentação de propostas dos
este passa por reconhecida crise em todo o
programas e ações do MCidades – OGU são
País. Perda de demanda, nível tarifário elevado,
disponibilizados no site do MCidades.
dificuldades institucionais, baixa qualidade,
queda da velocidade comercial devido aos con-
O encaminhamento de propostas é feito exclu-
gestionamentos e queda nas taxas de mobili-
sivamente pela internet, por meio do Sistema
dade urbana com redução real do número de
de Gestão de Convênios do governo federal
viagens realizadas pela população das cidades
– SICONV, não cabendo o envio de projetos e
são os principais fatores que interferem na
documentos ao MCidades por meio físico.
eficiência do sistema e nos custos. É a princi-
pal fonte de recursos onerosos do Programa de
O proponente deve acessar o SICONV, cadas-
Aceleração do Crescimento – PAC na área de
trar e enviar as propostas com base nos pro-
mobilidade urbana.
gramas disponibilizados no referido sistema.
O objetivo do provimento de investimentos por
Havendo recursos, as Secretarias Nacionais
meio do Programa é o incremento do conforto
analisam o enquadramento, aprovam as pro-
e da segurança nos terminais e pontos de pa-
postas no SICONV e informam a Subsecretaria
rada, melhoria de acessibilidade dos usuários
de Planejamento, Orçamento e Administração

21
2 Introdução

– SPOA/SE/MCidades para providências de - medidas em centros históricos;


empenho das propostas. - medidas em vias de tráfego intenso.

Os recursos para mobilidade urbana atualmen- 2.4. Programa de Aceleração do


te são disponibilizados pelo Programa 2048 – Crescimento – PAC
Mobilidade Urbana e Trânsito, que está contido
2.4.1. Primeira Etapa – PAC 1
no Programa de Planejamento Urbano (Infra-
estrutura Urbana) do Ministério das Cidades. O Em março de 2007, foi criado o Programa
objetivo é promover a articulação das políticas de Aceleração do Crescimento – PAC. Essa
de transporte, trânsito e acessibilidade univer- iniciativa consiste em um conjunto de medi-
sal a fim de proporcionar a qualificação do Sis- das destinadas a incentivar o investimento
tema de Mobilidade Urbana de nossas cidades privado, aumentar o investimento público em
por meio do acesso amplo e democrático ao infraestrutura e remover obstáculos (burocrá-
espaço de forma segura, socialmente inclusiva ticos, administrativos, normativos, jurídicos e
e sustentável. legislativos) ao crescimento.

O Programa 2048 financia diversas ações, As medidas do PAC foram organizadas em


tais como: cinco blocos:
1) Investimentos em Infraestrutura;
Apoio a Projetos de Sistemas de Transporte 2) Estímulo ao Crédito e ao Financiamento;
Coletivo Urbano: 3) Melhora do Ambiente de Investimento;
- corredores estruturais de transporte; 4) Desoneração e Aperfeiçoamento do Sistema
- qualificação das vias de transporte coletivo Tributário;
em área central; 5) Medidas Fiscais de Longo Prazo.
- terminais de transporte coletivo urbano;
- abrigos; Os Investimentos em Infraestrutura foram
- equipamentos urbanos complementares; distribuídos em três eixos:
- projetos. i) logística;
ii) energia;
Apoio à Elaboração de Projetos de Sistemas iii) infraestrutura social e urbana.
Integrados de Transporte Coletivo Urbano:
- Plano de Mobilidade Urbana; Nesse contexto, as ações do Ministério das
- projeto de engenharia de sistemas de mobili- Cidades estavam abarcadas no eixo “Infraes-
dade urbana. trutura Social e Urbana” nas ações referentes
às áreas Saneamento, Habitação, Metrôs e
Apoio a Projetos de Sistemas de Circulação Recursos Hídricos (Macrodrenagem).
Não Motorizados:
- ciclovias; 2.4.2. Copa do Mundo 2014
- minimização dos conflitos intermodais; Em outubro de 2007, a FIFA ratificou o Brasil
- passeios públicos; como país-sede da Copa do Mundo de 2014. Em
- projetos. 2009, houve o anúncio da seleção das 12 cida-
des-sede do campeonato mundial e a assinatu-
Apoio à Implantação de Medidas de Mode- ra de termo de compromisso com o objetivo de
ração de Tráfego: zelar pela observância de todas as obrigações e
- medidas junto a polos geradores de viagens; dos prazos inerentes à organização.
- medidas junto a equipamentos públicos;
- medidas em centros comerciais; Após a seleção das cidades-sede, em maio de
- medidas em áreas residenciais de 2009, o governo federal tomou a iniciativa de
baixa renda; convocar os entes públicos participantes do

22
Introdução 2

referido evento para debater sobre os diversos Transmissão de Energia Elétrica, Combustíveis
tipos de projetos, em especial os relacionados Renováveis, Petróleo e Gás Natural, Geologia e
à infraestrutura de mobilidade urbana. Mineração e Revitalização da Indústria Naval).

Este foi o primeiro processo seletivo de grande Ações de Mobilidade Urbana e Pavimenta-
vulto na área de mobilidade urbana, que não ção e Qualificação de Vias Urbanas no PAC 2
havia sido incluída na primeira etapa do PAC. A
partir de então, o tema foi incorporado definiti- Os Programas Estratégicos e as Ações de
vamente à pauta de investimentos do governo Mobilidade Urbana, integrados com as demais
federal, passando a compor um dos eixos da políticas urbanas, trabalham para mudar a
segunda etapa do PAC. Hoje a mobilidade atuação do governo federal, transformando-o
urbana é uma das prioridades de investimento num aliado dos estados e municípios, para
em todas as esferas de governo. assim desenvolver e implementar a Política
Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável.
A diretriz adotada foi a seleção de propostas
para implantação de sistemas de transporte Essa política tem, entre seus objetivos, princí-
público coletivo eficientes, seguros, ágeis e pios e diretrizes: a prioridade nos modos coleti-
com equilíbrio financeiro, que pudessem aten- vos e não motorizados de transporte; a integra-
der não somente às demandas provenientes da ção com a política de desenvolvimento urbano;
realização do evento, mas que também pudes- e a melhoria na acessibilidade e na mobilidade
sem mitigar problemas maiores de mobilidade urbana, por meio das seguintes ações:
urbana do município, tornando-se um legado
importante para a população após a Copa do Mobilidade urbana: ações para a melhoria da
Mundo 2014. infraestrutura do transporte público coletivo,
por meio da requalificação e implantação de
2.4.3. Segunda Etapa – PAC 2 sistemas estruturantes de transporte público
coletivo com ampliação de capacidade, termi-
Com o advento do PAC 2, a partir de 2011, o
nais de integração e equipamentos que visam
programa passou a ser estruturado em seis
à integração, controle e modernização dos sis-
eixos:
temas. Exemplos práticos desses sistemas são
1) Cidade Melhor (Saneamento, Prevenção em os corredores de ônibus, o BRT, o Veículo Leve
Áreas de Risco, Pavimentação, Mobilidade sobre Pneus – VLP, o Veículo Leve sobre Trilhos
Urbana, Cidades Digitais, PAC Cidades Históri- – VLT e os sistemas metroferroviários. Além dos
cas, Infraestrutura Turística, Equipamentos de sistemas de transporte estruturantes, engloba
Esporte de Alto Rendimento e Equipamentos ações para a elaboração e a implantação de
Metroviários); sistemas de transporte não motorizados, como
2) Comunidade Cidadã (Unidade Básica de passeios com acessibilidade
Saúde, Unidade de Pronto Atendimento, Cre- e ciclovias.
ches e Pré-escolas, Quadras Esportivas nas
Escolas, Centro de Artes e Esportes Unificados Pavimentação e qualificação de vias
e Centro de Iniciação ao Esporte); urbanas: realizar intervenções de pavimen-
3) Minha Casa Minha Vida (Minha Casa Minha tação e qualificação de vias, que contemplem
Vida, Urbanização de Assentamentos Precários preferencialmente o transporte público urbano,
e Financiamento Habitacional – SBPE); por meio da implantação de pavimentação
4) Água e Luz para Todos (Luz para Todos, nova em vias existentes, incluindo a infraestru-
Água em Áreas Urbanas e Recursos Hídricos); tura necessária para sua plena funcionalida-
5) Transportes (Rodovias, Ferrovias, Portos, de, tal como: sistema de drenagem de águas
Hidrovias, Aeroportos e Equipamentos para pluviais, redes de abastecimento de água e
Estradas Vicinais); coleta de esgoto, passeios com acessibilidade,
6) Energia (Geração de Energia Elétrica, sistemas cicloviários, medidas de moderação
de tráfego, sinalização viária e elementos que
promovam a acessibilidade universal.

23
3 A Política Nacional de Mobilidade Urbana – Lei n. 12.587/2012

24
A Política Nacional de Mobilidade Urbana – Lei n. 12.587/2012 3

A POLÍTICA
NACIONAL DE
MOBILIDADE
URBANA – LEI
N. 12.587/2012

03
25
3 A Política Nacional de Mobilidade Urbana – Lei n. 12.587/2012

O objetivo deste capítulo é apresentar as O Ministério das Cidades, a partir de 2003,


definições, os princípios, as diretrizes e os ob- criou orientações para o deslocamento de pes-
jetivos da Lei n. 12.587/2012, que estabelece a soas e cargas e passou a tratar os transportes
Política Nacional de Mobilidade Urbana, desta- urbanos como parte de um Sistema de Mobili-
cando as inovações e implicações trazidas pela dade Urbana, mais completo e mais voltado ao
sua promulgação. desenvolvimento urbano sustentável.

3.1. Orientações para a Mobilidade A Política Nacional de Mobilidade Urbana –


Urbana PNMU, instituída pela Lei n. 12.587/2012, depois
de 24 anos da promulgação da Constituição
A Constituição Federal de 1988, no inciso XX do
Federal, cumpre o papel de orientar, instituir
artigo 21, prevê que a União deve instituir dire-
diretrizes para a legislação local e regulamentar
trizes para o desenvolvimento urbano, inclusive
a política de mobilidade urbana da Secretaria
habitação, saneamento básico e transportes
Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana.
urbanos. Estes, naquela época, resumiam a
questão dos deslocamentos das pessoas.
Também conhecida com a Lei da Mobilidade
Urbana, traz consigo a constatação do fim de
No artigo 30, a Carta Magna atribui a compe-
um modelo que demonstrou ser insuficiente
tência de legislar sobre assuntos de interesse
para tratar da necessidade de deslocamento,
local, aos municípios, além de organizar e pres-
que apresenta cada vez mais complexidade e
tar, diretamente ou sob regime de concessão
grande impacto no planejamento urbano.
ou permissão, os serviços públicos de interesse
local, incluído o de transporte coletivo, que tem
A mobilidade nas cidades é fator preponderan-
caráter essencial.
te na qualidade de vida dos cidadãos. O mode-
lo de circulação de pessoas e cargas dentro do
O artigo 182 da Constituição Federal, por sua
território urbano interfere no desenvolvimento
vez, menciona que a política de desenvolvimen-
econômico do País, pois dele dependem a lo-
to urbano deve ser executada pelo Poder Públi-
gística de distribuição de produtos, a saúde e a
co municipal, a partir das diretrizes gerais fixa-
produtividade de sua população, dentre outros.
das em lei, e tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade
e garantir o bem-estar de seus habitantes.

Figura 2 – Pedestres circulam pelas ruas do Rio de Janeiro/RJ.

Fonte: Cyclophonica.

26
A Política Nacional de Mobilidade Urbana – Lei n. 12.587/2012 3

As proposições da PNMU orientam no senti- considerando usuários do transporte público,


do de fomentar o planejamento urbano, sem mas toda a sociedade, beneficiários diretos e in-
perder de vista que todos os atores são fun- diretos do transporte público, cidadãos que não
damentais ao processo e beneficiários de uma se utilizam deste tipo de transporte, pedestres,
cidade mais humana e acessível aos cidadãos, ciclistas e usuários de veículo privado, individual
indistintamente. e coletivo, cada qual impactando e sofrendo
impacto do sistema de diferentes formas.
Todas as esferas do Poder Público têm hoje
como grande desafio integrar as políticas Outra medida imprescindível para garantir
urbanas que por décadas foram tratadas de a equidade é garantir o acesso de todos os
forma setorizada e segmentada. A qualidade cidadãos ao Sistema de Mobilidade Urbana,
do deslocamento depende de que o sistema em particular dos que possuem mobilidade
urbano tenha seus elementos urbanos inte- reduzida. Esse direito abrange tanto os que
grados e planejados de forma a minimizar os se utilizam de transporte público quanto os
deslocamentos, otimizando tempo e espaço a que se locomovem nos passeios, calçadas e
fim de promover a economicidade e um padrão travessias. Medidas muito simples, se adotadas
de vida urbano satisfatório. pelo Poder Público municipal, reduziriam os
acidentes e promoveriam a maior utilização da
É marcante na PNMU o resgate do uso do solo cidade por sua população.
urbano por meio da mobilidade urbana susten-
tável, ou seja, ambiental, econômica e social- A participação social é imprescindível em todo
mente sustentável. Assim, a Lei da Mobilidade o processo. Não há diagnóstico que demonstre
Urbana privilegia o transporte não motorizado mais claramente a realidade do que aquele
em detrimento do motorizado e o público co- feito pelos setores da sociedade envolvidos
letivo em detrimento do individual motorizado diretamente. A PNMU prevê a participação da
(art. 6, II). sociedade no planejamento. Reitera a necessi-
dade de transparência, inclusive no cálculo da
O cidadão, ao se locomover a pé ou por meio planilha tarifária, além de descrever o direito
de bicicleta, interage muito mais com o espaço dos usuários do transporte público como forma
urbano, além de colaborar para redução da de induzir o cumprimento das premissas legais
emissão de gases na atmosfera e serem estes pelos prestadores de serviço.
os meios mais baratos de locomoção, pois re-
presentam menor custo para os usuários, para Os objetivos da PNMU visam definir um
o meio ambiente e para a sociedade. panorama para todo o País. Para tanto, é
fundamental que governos das três esferas,
Da mesma forma, a utilização de transporte entidades públicas, privadas e não gover-
público coletivo reduz a ocupação do espaço namentais, além de toda a sociedade civil,
das vias com muito mais pessoas transporta- compartilhem a responsabilidade de uma
das em relação à área pública utilizada do que mudança comportamental, naquilo que
se fossem transportadas por veículos motoriza- couber a cada um, no sentido de reduzir as
dos individuais. Também neste caso, o primeiro desigualdades sociais, promover a acessibi-
reduz emissões de gases na atmosfera com lidade e qualificar as condições urbanas de
custos individual e coletivo menores. mobilidade e de ocupação do espaço público.

A PNMU traz, reiteradamente, previsões de 3.2. Política tarifária e regulação do


equidade, participação social e qualidade transporte público
dos serviços.
Uma das grandes inovações da PNMU em rela-
ção ao transporte público é ter como foco prin-
Para discutir a utilização isonômica do Sistema
cipal os usuários. A Lei n. 12.587/2012 promove
de Mobilidade Urbana pelos cidadãos, é neces-
uma discussão legítima e necessária, até então
sário que sejam revistas as políticas de custeio
não tratada de forma eficaz, que é a real distri-
para compensar as isenções tarifárias, não só
buição dos ônus gerados aos usuários pagantes

27
3 A Política Nacional de Mobilidade Urbana – Lei n. 12.587/2012

pelos benefícios de redução ou gratuidade de rirem diretamente no dia a dia dos cidadãos,
tarifa para alguns grupos, benefícios esses legal- requerem ainda maior atenção por parte do
mente instituídos. Poder Público para garantir tal participação.

A previsão de direitos explícitos aos usuários A PNMU dedicou o artigo 14 para descrever os
(art. 14) permite que a população questione o direitos dos usuários do Sistema de Mobilidade
Poder Público, até judicialmente, caso não seja Urbana, em particular aos usuários do transpor-
observado o direito a informações diversas te público. A grande vantagem de explicitar tais
sobre o serviço. A sociedade civil pode e deve direitos em lei é a possibilidade de que qualquer
ter maior participação na gestão e no planeja- cidadão que não tenha seu direito legal obser-
mento dos serviços, de acordo com o artigo 15, vado pode recorrer ao Ministério Público para
na medida em que há previsão de canal para a sanar a respectiva lesão cometida. Isso garante
manifestação do cidadão. que os direitos saiam da esfera abstrata e, efe-
tivamente, o usuário passe a ter um canal para
Com relação às regras de operação dos serviços ser ouvido e respeitado.
de transporte público, ressalta-se o dispositi-
vo que prevê que os critérios para a licitação A Lei menciona como direito receber o serviço
de serviços passem a ser baseados na tarifa adequado. Embora seja relativamente vago o
pública. No formato anterior, o operador era conceito de “adequação”, este pode ter como
definido pelos custos operacionais. Ora, fixados parâmetro os padrões preestabelecidos de
estes custos, se houvesse redução do número qualidade e quantidade dos serviços oferta-
de usuários pagantes, consequentemente ha- dos, descritos no inciso III do parágrafo único
veria a necessidade de aumento tarifário para a do mesmo artigo. Caso haja dificuldade de
manutenção do equilíbrio financeiro do Sistema interpretação, ainda, quanto a receber ou não o
de Mobilidade Urbana. Uma vez fixada a tarifa, serviço apropriado, com qualidade mínima, em
o operador deve manter a atratividade para os condições de segurança etc., o questionamento
usuários, sob pena de ter reduzida a receita ao Poder Público no mínimo levantará a discus-
total, caso haja evasão de passageiros. A PNMU são sobre parâmetros de adequação.
fomenta, desta forma, a eficiência na operação.
A PNMU também prevê como direito do usuário
Importante mencionar que com a vigência da participar do planejamento, da fiscalização e
lei o Poder Público deve divulgar sua planilha da avaliação da política local de mobilidade
orçamentária para acompanhamento pela urbana, de ter acesso às informações necessá-
população. Outra importante previsão legal rias à utilização do sistema de forma gratuita e
determina que as receitas extratarifárias, ou acessível, bem como de usufruir de ambiente
seja, as que não são oriundas do pagamento de seguro e acessível. Além disso, os usuários
tarifa pelos usuários, devem ser investidas no devem ser claramente informados sobre suas
Sistema. Com a PNMU, os operadores passam a prerrogativas e responsabilidades, direitos e
ter liberdade para dar descontos aos usuários, obrigações dos operadores e dos padrões pre-
o que pode resultar, por exemplo, numa tarifa estabelecidos de qualidade e quantidade dos
menor para os usuários em horários de ocio- serviços ofertados, assim como os meios para
sidade, fazendo com que o Sistema possa ser reclamações e respectivos prazos de resposta.
mais rentável e estimule a circulação em horá-
rios menos concorridos, por significar eventual Importante para que a PNMU seja efetivamente
economia para o usuário, o que reduziria a implementada é a observância de toda a Lei n.
sobrecarga nos horários de pico. 12.587/2012 simultaneamente. Por exemplo, de
nada adianta haver determinação de critérios
3.3. Direito dos usuários específicos para a escolha de operadores do
serviço de transporte público, se não houver
As políticas públicas atuais trazem a participa-
transparência na licitação e nas planilhas
ção social como pressuposto do planejamento
orçamentárias, e mesmo se estas não forem
legítimo para a atuação do Poder Público. As
acompanhadas pela população. A PNMU só
políticas urbanas, em particular, por interfe-

28
A Política Nacional de Mobilidade Urbana – Lei n. 12.587/2012 3

será cumprida em sua plenitude se cada seg- Para o Estado, a Lei atribui a obrigatoriedade
mento cumprir o que lhe cabe, ressaltando-se a de prestar os serviços de transporte público
participação da sociedade no acompanhamen- coletivo intermunicipais de caráter urbano,
to de todo o processo. diretamente ou por delegação; propor política
tributária específica de incentivos à implanta-
3.4. Atribuições dos entes federativos ção da PNMU; e garantir apoio e promover inte-
gração dos serviços nas áreas que ultrapassem
A Constituição Federal de 1988, o Estatuto
os limites de um município.
da Cidade e a Lei n. 10.257 de 2001, de forma
ainda bem sucinta, mencionam as atribuições
Os municípios, por sua vez, devem planejar,
para as questões de transporte urbano, sem
executar e avaliar a política de mobilidade
especificar a atuação dos entes federados.
urbana, promover a regulamentação adequada,
Houve uma demora na regulamentação do
prestar os serviços de transporte público cole-
setor, e isso trouxe até uma dificuldade na
tivo urbano (caráter essencial) além de capaci-
disseminação da abordagem do conceito de
tar pessoas e desenvolver instituições vincula-
mobilidade urbana como fator inerente ao
das à política de mobilidade urbana local.
planejamento urbano. Antes a questão da mo-
bilidade urbana era legalmente tratada apenas
3.5. Gestão dos Sistemas de
sob o ponto de vista do transporte urbano.
Mobilidade Urbana
A Lei da Mobilidade Urbana explicita as atri- O artigo 23 traz sugestões de como gerir a de-
buições legais de cada esfera do Poder Público manda por mobilidade urbana. A previsão traz
(arts. 16 a 18). uma lista exemplificativa de como as legislações
local e regional podem deslocar os usuários do
À União cabe, além de apoiar projetos de in- sistema de mobilidade, reduzir a circulação em
fraestrutura do Sistema de Mobilidade Urbana, determinadas regiões da cidade, priorizar es-
garantir que os requisitos de enquadramento paços para a ocupação da população, favorecer
e seleção de propostas atendam a PNMU, o uso de bicicletas, promover deslocamentos
com fomento, principalmente, ao transporte exclusivos de pedestres, controlar emissões de
público coletivo de grande e média capacida- gases em locais críticos, enfim, usar do poder de
des, que contemplem os deslocamentos não polícia para determinar a forma de utilização do
motorizados, a ocupação adequada do solo espaço urbano, de modo a garantir a qualidade
e que assistam à população não só em suas de vida de seus cidadãos, com vistas à redução
necessidades de locomoção, mas que também de congestionamento.
contemplem o planejamento local da mobilida-
de urbana, cujo principal instrumento é o Plano Os instrumentos previstos na Lei não esgotam
de Mobilidade Urbana. as possibilidades. A legislação municipal pode
adotar medidas restritivas além das descritas
A Lei prevê que a União ofereça assistência para a gestão da demanda. Um exemplo bem
técnica e financeira, capacitação e formação conhecido, já aplicado no Brasil, não descrito
de pessoal e disponibilização de informações na Lei da Mobilidade Urbana, é o rodízio de au-
nacionais aos municípios. Importante que o tomóveis instituído ainda na década de 1990,
Sistema Nacional de Informações a ser instituí- em São Paulo, o que provoca a retirada de 20%
do deve ser retroalimentado por todos os entes dos automóveis por dia, nos horários de pico
federados, de forma a garantir veracidade e (das 7 às 10h e das 17 às 20h), no denominado
efetividade aos dados sistematizados. centro expandido, que inclui ampla área das
regiões mais congestionadas da cidade.
A União deve, ainda, apoiar e estimular as ações
coordenadas e integradas entre municípios e A gestão da demanda deve ser parte integrante
estados, considerando a importância da integra- do planejamento da mobilidade urbana. Ambos
ção das políticas de mobilidade urbana locais e os temas serão tratados de forma mais apro-
regionais como forma de garantir viagens com fundada nos capítulos posteriores. Importante
equidade, modicidade tarifária e qualidade. mencionar que a PNMU dá diretrizes ao plane-

29
3 A Política Nacional de Mobilidade Urbana – Lei n. 12.587/2012

jamento da mobilidade urbana, mencionando cidade histórica, estará obrigado à elaboração


no artigo 21 o que o planejamento, a gestão do Plano de Mobilidade Urbana.
e a avaliação devem contemplar, e lista as
atribuições mínimas dos órgãos responsáveis Outra questão importante de ser ressaltada
pelo planejamento e a gestão do Sistema de é a importância de que cada município tenha
Mobilidade Urbana, no artigo 22. seu Plano de Mobilidade Urbana, ainda que
este faça parte de uma Região Metropolitana
A principal ferramenta para a execução do cujo Plano tenha sido elaborado. A justifica-
planejamento da mobilidade urbana, e dele de- tiva é que o Plano de Mobilidade Urbana de
corrente, é o Plano de Mobilidade Urbana, daí a uma região contempla questões pelas quais
importância do dispositivo (art. 24) que amplia os municípios se integram, raramente tendo o
o rol de municípios que devem elaborar seus condão de tratar todas as especificidades de
respectivos Planos. cada um deles.

3.6. Planos de Mobilidade Urbana A Lei, ainda em seu artigo 24, estabelece
conteúdos a serem contemplados no Plano
O artigo 24 da Lei n. 12.587/2012 determina que
de Mobilidade Urbana, num rol não exaustivo.
os municípios acima de 20 mil habitantes e os
No entanto, para que o Plano possa atender
demais obrigados por lei elaborem seus Planos
o planejamento proposto para determinado
de Mobilidade Urbana, como requisito para que
município, este Caderno de Referência pro-
acessem recursos federais para investimento
põe uma lista mais extensa de conteúdos
no setor.
fundamentais para a efetividade do Plano de
Mobilidade Urbana.
Na prática, os municípios obrigados por lei são
os mesmos aos quais se determina que façam
Outra observação fundamental para a compre-
os Planos Diretores e totalizam 3.065 muni-
ensão deste documento, ora publicado, é o fato
cípios atualmente, segundo dados do IBGE
de que as orientações constantes são gerais e
(2012). O art. 41 do Estatuto da Cidade elenca
devem ser aproveitadas considerando as carac-
as cidades obrigadas à elaboração do Plano
terísticas de cada município, que é único dentre
Diretor, tais como: municípios com mais de 20
o universo de mais de 5 mil cidades brasileiras.
mil habitantes, integrantes de regiões metro-
Além disso, as diretrizes para a elaboração do
politanas e aglomerações urbana, integrantes
Plano Municipal de Mobilidade Urbana são as
de áreas de especial interesse turístico, inseri-
mesmas para a elaboração de Planos Regionais
dos na área de influência de empreendimentos
de Mobilidade Urbana. Da mesma forma que a
significativo impacto ambiental, entre outros.
utilização das informações deve ser avaliada de
acordo com as especificidades do município em
Note-se que a determinação imposta aos
questão, devem também ser utilizadas para o
“demais obrigados”, conforme palavra da Lei,
Plano de uma determinada região, naquilo que
independe da faixa populacional. Se um muni-
couber. É importante que se tenha em mente
cípio de 5 mil habitantes, por exemplo, for uma
que todo Plano de Mobilidade Urbana é único,
seja ele municipal ou regional.

30
A Política Nacional de Mobilidade Urbana – Lei n. 12.587/2012 3

31
1 Apresentação

32
Apresentação 1

COMPONENTES
DO SISTEMA DE
MOBILIDADE
URBANA

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4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

Este capítulo apresenta os componentes do que garante os deslocamentos de pessoas e


Sistema de Mobilidade Urbana e traz as prin- cargas no território do município.
cipais características e os tipos de transportes
não motorizados e motorizados, além de tratar Conforme mostra o resultado gráfico do
dos serviços de transporte público, da gestão levantamento da ANTP de 2012, 93,3% dos
do sistema viário e dos instrumentos de gestão deslocamentos no Brasil foram realizados a pé
de demanda por viagens que auxiliam na tarefa (36,8%), por transporte coletivo (29,1%) e por
de planejamento da mobilidade urbana. automóveis (27,4%). Comparando a distribuição
de modos, estes resultados sugerem que 40%
De acordo com o art. 3º da Lei n. 12.587/2012, dos deslocamentos foram realizados através de
o Sistema Nacional de Mobilidade Urbana é o modos não motorizados (modo a pé e de bici-
conjunto organizado e coordenado dos modos cleta) e 60% por modos motorizados (Transpor-
de transporte, de serviços e de infraestruturas te Coletivo, Automóveis e Moto).

Figura 3 – Distribuição dos deslocamentos por modo de transporte.

A pé
36%
Ôn. Met.
5%

Bici TC
4% 29%
Ôn. Mun. Trilho
Moto 20% 4%
4%

Auto
27%

Fonte: ANTP (12/2012).

A elaboração do Plano de Mobilidade Urbana Cada um tem características próprias e induz


supõe a análise dos meios de deslocamen- necessidades de infraestruturas específicas.
tos que ocorrem dentro ou têm impactos na
circulação dentro do município assim como a 4.1.1. Modos não motorizados
necessidade de infraestrutura associada aos
De acordo com o IBGE (2013), o Brasil possui
diversos meios no intuito de identificar e pla-
5.570 municípios. Em muitas cidades, sobretu-
nejar a implementação de ações de melhoria
do as com até 60 mil habitantes, não há linhas
do Sistema de Mobilidade Urbana local. Para
de ônibus municipais, e o transporte a propul-
cumprir esta função, é essencial que sejam
são humana, a pé ou bicicleta, é o principal
consideradas as características dos modos de
meio de locomoção.
transporte e a infraestrutura que permitem os
deslocamentos de pessoas e cargas nos muni-
A Lei n. 12.587/2012 garante a prioridade do
cípios, assim como os meios de gestão destes
transporte não motorizado sobre o transporte
deslocamentos.
individual motorizado, independentemente do
tamanho das cidades. Essa obrigatoriedade,
4.1. Características e papel dos
para estar adequada à Lei Federal, deve ser
diferentes modos de transporte
materializada nos Planos de Mobilidade Urbana.
Os modos de transporte são divididos em
modos não motorizados e motorizados.

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Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

Para se planejar com foco no pedestre e no ciclista, é fundamental o entendimento


de alguns conceitos, definidos no Código de Trânsito Brasileiro (CTB):

Via: superfície por onde transitam veículos, pessoas e animais, compreendendo a pista, a
calçada, o acostamento, a ilha e o canteiro central;

Logradouro público: espaço livre destinado pela municipalidade à circulação, parada


ou estacionamento de veículos, ou à circulação de pessoas, tais como, calçadas, parques,
áreas de lazer, calçadões;

Calçada: parte do sistema viário, normalmente segregada e em nível diferente, não des-
tinada à circulação de veículos e reservada exclusivamente ao trânsito de pedestres e,
quando possível, à implantação de mobiliário urbano, sinalização, vegetação e outros fins;

Passeio: parte da calçada destinada à circulação exclusiva das pessoas. Se esta área for
na pista de rolamento, obrigatoriamente deverá estar separada por pintura ou elemento
físico separador, livre de interferências;

Pedestre: que anda ou está a pé;

Pessoa com mobilidade reduzida: aquela que, temporária ou permanentemente, tem


limitada sua capacidade de relacionar-se com o meio e de utilizá-lo. Entende-se por
pessoa com mobilidade reduzida, a pessoa com deficiência, idosa, obesa, gestante, entre
outros (ABNT NBR 9050:2004).

a) Pedestres Como em cidades menores de 60 mil, nas


quais sequer existem serviços municipais de
Todos nós nos deslocamos diariamente através
ônibus, esse deslocamento não motorizado é
de nosso próprio esforço, isto é, sem o uso
ainda maior, o número nacional incluindo essas
do sistema motorizado, utilizando o sistema
cidades seria ainda maior. Segundo a pesquisa,
viário disponível (passeios, calçadas, calçadões,
entre cidades de 60 a 100 mil habitantes o per-
passarelas, ciclovias etc.), podendo ser este um
centual passa de 40,2% para 50% das viagens.
deslocamento desde a origem até o destino, ou
complemento de outros meios de transporte,
No entanto, apesar de este se constituir em
de forma a acessar o ponto de ônibus ou che-
um dos mais importantes e preponderantes
gar até o local de estacionamento do veículo.
modos de locomoção diários, muitas vezes
estes deslocamentos são negligenciados pelos
É importante salientar que se considera como
tomadores de decisão e técnicos envolvidos
usuários do “modo a pé” todas as pessoas que
no planejamento de sistemas de transportes.
podem se deslocar pelas áreas cuja prioridade
A inclusão destes deslocamentos no cerne do
ou exclusividade é do pedestre, incluindo os
planejamento urbano e no planejamento dos
usuários de cadeiras de rodas.
transportes, bem como na gestão da mobilida-
de urbana, respeitando as suas características
Pesquisa realizada pela Associação Nacional de
e necessidades particulares, além de reparar o
Transportes Públicos (ANTP), em 2012, expõe
erro de desconsiderar essa expressiva parcela
que as viagens a pé e em bicicleta (40,2%)
das viagens urbanas, significa também con-
correspondem ao maior número de descola-
tribuir para o processo de inclusão social de
mentos realizado em municípios brasileiros
parte da população brasileira que se desloca,
com população superior a 60 mil habitantes.
prioritariamente, por modos não motorizados.

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4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

Consequentemente, é necessário projetar, pla- No planejamento dos deslocamentos e nos


nejar e manter os locais destinados ao tráfego investimentos em infraestrutura urbana para a
das pessoas, sejam elas pedestres, cadeirantes, circulação das pessoas deve ser dada espe-
idosos, gestantes ou pessoas com deficiências: cial atenção às necessidades daquelas que
o passeio público, as faixas de travessia, cal- apresentam alguma dificuldade de locomoção,
çadões, passarelas, rampas de acesso e outros visando ampliar a mobilidade e a qualidade de
elementos construídos para o seu deslocamen- vida, sobretudo das pessoas com deficiência,
to, maximizando as suas condições de seguran- idosos, crianças, grávidas, entre outras.
ça, conectividade e conforto. A qualidade deste
modo de deslocamento inclui a continuidade Estatísticas de acidentes no trânsito e pes-
dos trajetos, a atratividade dos percursos e a quisas indicam a segurança como um grave
conveniência, um atributo sutil que envolve problema para os pedestres. Para resolver esse
vários fatores: a distância a ser percorrida, a problema, é necessária a melhoria da infraes-
inclinação da via, as condições das calçadas, a trutura urbana, com construção, pavimentação
retidão da rota, sombras e abrigos, mobiliário e conservação das calçadas e das rotas para
urbano como bancos e apoios e qualquer outro pedestres e a redução dos conflitos com os
fator que facilite a caminhada (FRUIN, 1971). vários tipos de veículos, incluindo as bicicle-
tas. A condição do piso também é relevante;
Figura 4 – Rua de pedestres na região devem ser eliminadas barreiras arquitetônicas,
central de Florianópolis/SC. buracos, desníveis no piso e evitado o uso de
materiais inadequados e escorregadios.
A melhoria das condições da iluminação públi-
ca contribui para reduzir o risco de acidentes –
principalmente atropelamentos – e para maior
segurança pessoal.

Normalmente, os municípios possuem legis-


lações específicas que determinam diretrizes
para a construção e a manutenção das calça-
das, cuja competência é, em geral, dos proprie-
tários dos terrenos lindeiros. Isso, entretanto,
não elimina a responsabilidade do Poder Públi-
co na determinação dos padrões construtivos
e, principalmente, na fiscalização.

Na legislação ou em sua regulamentação, a


Prefeitura pode definir declividades míni-
mas e máximas para o passeio; declividade
Fonte: Silvia A. Wittmann. transversal necessária ao escoamento pluvial;
localização de equipamentos urbanos (árvores,
postes, sinalização, telefones públicos, lixeiras)
O artigo 68 do CTB representou um avanço ou privados (bancas de jornal, vasos, floreiras,
nessa área ao assegurar o direito das pessoas canteiros, bancos, mesas); especificações para
na utilização dos passeios e responsabilizar o eventuais degraus e rampas; parâmetros para
Poder Público municipal por garantir a circu- rebaixamento de guias de acesso a garagens e
lação de pedestres nos locais onde não haja nas travessias para acesso de cadeiras de ro-
possibilidade de construção de espaço especí- das; sinalização de solo; sinalização horizontal;
fico para estes. A utilização deste espaço para o tipo de pavimento; e outros.
outros fins pode ser autorizada pela autoridade
competente, desde que não seja prejudicial ao Além do tratamento adequado das calçadas,
fluxo de deslocamento das pessoas (pedestres o planejamento da circulação geral da cidade
e cadeirantes). precisa contemplar a prioridade aos pedestres,

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Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

principalmente nas situações de conflito com ruas sem saída e de bolsões residenciais que
os veículos motorizados. A adoção de uma po- limitem o fluxo dos meios motorizados, mas
lítica de mobilidade para a construção de uma que mantenham ruas e vielas com acesso aos
cidade sustentável começa no processo de pedestres e às bicicletas. Nos locais onde os
planejamento e de construção de uma infraes- veículos não são impedidos ou restringidos de
trutura viária inclusiva, em que o pedestre tem circular, pode haver restrições das manobras e
prioridade sobre veículos motorizados. da velocidade de circulação com a implantação
de faixas de pedestres elevadas, executadas na
As medidas de engenharia podem incluir tam- mesma altura que o passeio, de modo que os
bém soluções pontuais de desenho do siste- motoristas percebam que esta área é de uso
ma viário, conhecidas como moderadoras de prioritário de pessoas e não de veículos.
tráfego. As medidas moderadoras de tráfego
pretendem induzir os motoristas a um compor- Também na operação do sistema viário, a
tamento mais prudente, principalmente pela prioridade ao pedestre deve estar presente na
redução da velocidade. Podem ser citados os programação semafórica com tempos específi-
seguintes instrumentos para esse fim: a imple- cos para as travessias ou por atuação (botoei-
mentação de equipamentos de redução de ve- ra), na fiscalização do estacionamento irregular,
locidade (lombadas); o estreitamento da pista; principalmente sobre as calçadas e na adoção
o aumento da largura das calçadas; o desenho de equipamentos eletrônicos de controle de
de ruas com traçado sinuoso; e a criação de velocidade e obediência aos semáforos.

Segundo o Guia Prático Para a Construção de Calçadas (ABPC), a calçada ideal


considera os seguintes requisitos:

sBDFTTJCJMJEBEFEFWFBTTFHVSBSBDPNQMFUBNPCJMJEBEFEPTVTVÆSJPT
sMBSHVSBBEFRVBEBEFWFBUFOEFSBTEJNFOTÚFTNÑOJNBTOBGBJYBMJWSF
sGMVJEF[PTQFEFTUSFTEFWFNDPOTFHVJSBOEBSBWFMPDJEBEFDPOTUBOUF
sDPOUJOVJEBEFQJTPMJTPFBOUJEFSSBQBOUF NFTNPRVBOEPNPMIBEP RVBTFIPSJ[POUBM 
com declividade transversal para escoamento de águas pluviais de não mais de 3%.
Não devem existir obstáculos dentro do espaço livre ocupado pelos pedestres;
sTFHVSBOÌBOËPPGFSFDFBPTQFEFTUSFTOFOIVNQFSJHPEFRVFEBPVUSPQFÌP
sFTQBÌPEFTPDJBMJ[BÌËPEFWFPGFSFDFSFTQBÌPTEFFODPOUSPFOUSFBTQFTTPBTQBSBB
interação social na área pública;
sEFTFOIPEBQBJTBHFNEFWFQSPQJDJBSDMJNBTBHSBEÆWFJTRVFDPOUSJCVBNQBSBPDPO
forto visual do usuário.

Os deslocamentos efetuados a pé apresen- estímulo à mudança de atitudes da população


tam características próprias por possuírem em relação ao uso do automóvel particular,
motivos e comportamentos distintos da- sobretudo se for acompanhado de campanhas
queles observados nas viagens motorizadas, de esclarecimento sobre os efeitos negati-
logo, a incorporação do pedestre ao planeja- vos e as desvantagens econômicas, sociais
mento da circulação tende a exigir estudos e ambientais do modelo de predomínio do
adicionais e específicos, mas seguindo eta- transporte individual, criando maiores possi-
pas semelhantes às utilizadas em qualquer bilidades para uma reorganização da estru-
processo de planejamento convencional. tura urbana fundada no transporte coletivo
e nos meios não motorizados, sobretudo
Por fim, o adequado tratamento da circulação nas cidades de médio porte que ainda não
a pé pode se tornar um forte elemento de consolidaram seu modelo de circulação.

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4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

Figura 5 – Exemplo de calçada com acessibilidade em Toledo/PR.

Fonte: Programa de Aceleração do Crescimento.

Projetos que transformaram vias em áreas priação do espaço público pelos moradores.
de pedestres existem em diversos países, Em Buenos Aires, há exemplos como a Calle
como México, Argentina, França, Estados Florida ou Pasaje Enrique Santos Discépolo.
Unidos, entre outros. Estas iniciativas aju- Na Cidade do México, o Paseo Madero
dam a revitalização do entorno e a apro- transformou a região central da cidade.

Figura 6 – Avenida pedestrianizada em Buenos Aires.

Fonte: ITDP/Fabrício Di Dio.

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Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

Figura 7 – Paseo Madero, Cidade do México.

Fonte: Gerardo Galíndez.

Nos Estados Unidos, a cidade de Nova Iorque Exemplos no Brasil, tais como as calçadas
passou por uma verdadeira transformação com pedestrianizadas de Curitiba, São Paulo, Porto
o emprego do projeto de “Plazas”, que fechou Alegre, entre outros, são importantes modelos
inúmeras ruas, possibilitando a ocupação des- que podem ser replicados em demais cidades,
ses espaços por pedestres, com ganhos signi- trazendo mais vida e um ambiente ativo e se-
ficativos não somente na retomada do espaço guro, sobretudo em áreas centrais da cidade.
público, mas também ganhos econômicos para
o comércio e o serviço, e redução dos acidentes
de trânsito nas áreas de abrangência.

Figura 8 – Calçadão da XV de Novembro em Curitiba/PR.

Fonte: Mariana Gil/EMBARQ Brasil.

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4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

b) Bicicleta urbano. Uma política que pretenda a ampliação


Segundo dados de 2009 da Associação Brasi- do uso da bicicleta exige duas preocupações
leira de Fabricantes de Motocicletas, Ciclomo- básicas dos administradores públicos e dos
tores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abra- planejadores: a segurança física dos seus
ciclo), o Brasil é o terceiro produtor mundial usuários no trânsito e a proteção dos veículos
de bicicletas, com 4,2% da produção mundial, contra furto ou roubo.
atrás apenas da China, líder absoluta com
66,7%, e da Índia, com 8,3%. A Abraciclo calcu- A SeMob editou o Caderno de Referência para
la que haja no País uma frota de 60 milhões de a elaboração de Plano de Mobilidade por
bicicletas e uma média em torno de 5 milhões Bicicleta nas Cidades que reúne informações
de novas bicicletas produzidas anualmente. necessárias para o estímulo ao uso da bicicleta
e contém subsídios para os municípios implan-
A bicicleta é o veículo mais utilizado nos pe- tarem um plano cicloviário integrado aos demais
quenos centros do País (cidades com menos de modos de transporte (disponível no site do
60 mil habitantes), onde o transporte coletivo Ministério das Cidades: www.cidades.gov.br).
praticamente não existe e as taxas de mo-
torização ainda são baixas. Ao contrário, nas A integração entre a malha cicloviária da
cidades médias e grandes, com raras exceções, cidade e desta com o sistema de transporte
o uso do transporte cicloviário está bem abaixo coletivo, seja ela segregada ou compartilhada,
de seu potencial, tendo sua prática dissemina- é fundamental para a promoção da bicicle-
da em apenas dois segmentos bem distintos ta no município. Para isso é preciso oferecer
da população: a classe de renda média alta e segurança aos ciclistas e equipamentos para
as classes de renda muito baixas. Estes últimos estacionar as bicicletas em áreas próximas de
são os grandes usuários da bicicleta no Brasil, trens, BRTs, metrôs e outros modos.
fazendo uso regular deste veículo como um
modo de transporte. Uma medida recomendada para o planejamen-
to e a integração do uso da bicicleta de forma
A bicicleta é um dos meios de transporte mais segura é a redução do limite das velocidades
eficientes já inventados: a tecnologia mais apro- nas vias. Algumas cidades têm experimenta-
priada para distâncias curtas, com baixíssimo do as Zonas 30, com o limite ideal para uma
custo operacional. Uma pessoa pedalando viaja melhor convivência entre moradores, ciclistas,
duas vezes mais rápido, carrega quatro vezes carros, ônibus, entre outros modos.
mais carga e cobre três vezes a distância per-
corrida por uma pessoa caminhando. A bicicleta Figura 9 – Exemplo de sinalização com Zona
não emite poluentes e contribui para fazer da 30 no Rio de Janeiro/RJ.
cidade um espaço livre de congestionamentos.

Do ponto de vista urbanístico, o uso da bici-


cleta nas cidades reduz o nível de ruído no
sistema viário; propicia maior equidade na
apropriação do espaço urbano destinado à
circulação; libera mais espaço público para o
lazer; contribui para a composição de ambien-
tes mais agradáveis, saudáveis e limpos; contri-
bui para a redução dos custos urbanos devido
à redução dos sistemas viários destinados aos
veículos motorizados; e aumenta a qualidade
de vida dos habitantes, na medida em que gera
um padrão de tráfego mais calmo e benefícios
à saúde de seus usuários.

Junto com os deslocamentos a pé, a bicicleta


é o modo de transporte mais frágil do cenário Fonte: Blog da CCE-CETRio.
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Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

Segundo a EMBARQ Brasil, são benefícios da condutor, fazendo mudanças de pequeno porte,
bicicleta para a saúde: atuando na coleta de lixo reciclável ou qualquer
outro tipo de serviço.
sSFEVÌËPOPSJTDPEFEFTFOWPMWFSEPFOÌBT
cardíacas coronárias; Poucos municípios praticam políticas especí-
sSFEVÌËPOPSJTDPEFEFTFOWPMWFSEJBCFUF ficas para este tipo de transporte, apesar da
adulta; previsão legal e da incidência de problemas no
sSFEVÌËPOPSJTDPEFTFUPSOBSPCFTP trânsito que colocam em risco seus ocupantes
sSFEVÌËPOPSJTDPEFEFTFOWPMWFSIJQFSUFOTËP e os demais usuários do sistema viário.
sSFEVÌËPEBPTUFPQPSPTF
sBMÑWJPEPTTJOUPNBTEFEFQSFTTËPFBOTJFEBEF Frente a essa realidade, a regulamentação
sQSFWFOÌËPEFRVFEBTOBUFSDFJSBJEBEF do uso e da circulação dos veículos de tração
sFTUÑNVMPBPTNÜTDVMPTEBTWÍSUFCSBTEPSTBJT animal e a sua inclusão no planejamento da
(costas), coxas e glúteos; mobilidade urbana devem ser preocupações
sFTUÑNVMPBPTJTUFNBJNVOJUÆSJPFBVNFOUPEF das autoridades públicas. Isso envolve medi-
glóbulos brancos; das dirigidas aos veículos, aos condutores, às
sEJNJOVJÌËPEPNBVDPMFTUFSPMFEBPCFTJEBEF normas de circulação e aos cuidados com os
sUFSBQJBQBSBEFQSFTTËP FTUSFTTF WJPMÎODJB  animais e com a saúde pública.
déficit de atenção e ansiedade.
A regulamentação do veículo começa pela sua
Estimular o uso da bicicleta na cidade é ainda identificação, ou seja, um emplacamento que
uma forma de melhorar a saúde e a qualidade deverá ser feito e controlado pela Prefeitura.
de vida da população, combatendo o sedenta- Também devem ser estabelecidos itens de
rismo, a obesidade e doenças cardíacas. Cida- segurança que serão obrigatórios para a circu-
des como Sorocaba, no estado de São Paulo, lação, como faixas refletoras, espelhos laterais,
investiram na malha cicloviária de sua cidade, iluminação noturna e outros.
não apenas pelo quesito transporte, mas como
um incentivo à melhora da saúde da população Em relação ao condutor, o município deve emitir
e da qualidade de vida de seus habitantes. uma autorização de circulação, que só deve
ser concedida após um treinamento e uma
c) Carroças e veículos com tração animal capacitação mínimos que informem sobre as
normas estabelecidas para os veículos e para
O artigo 52 do CTB estabelece que os veículos
sua circulação, as demais exigências da lei e as
de tração animal devem ser identificados e
respectivas punições.
estão sujeitos às mesmas normas de circulação
e conduta dos veículos automotores, entretan-
As autorizações não devem ser fornecidas para
to é comum que eles circulem pelas cidades
cidadãos menores de 18 anos, apesar de ser
de modo informal, sem nenhuma fiscalização
comum a condução de carroças e similares por
ou controle, quando não em desrespeito às
crianças ou pessoas sem nenhum conhecimen-
normas de trânsito.
to de normas de circulação.

O número de carroças, charretes e similares em


Quanto à circulação, a regulamentação pode
circulação tem crescido, indicando que estes
abranger a definição ou restrição das vias em
veículos não podem ser negligenciados no
que os veículos de tração animal podem circular
planejamento da mobilidade urbana. Utilizados
e estacionar e estabelecer restrições de horários,
em pequenas cidades como um meio alternati-
se for o caso. Para coleta de entulho e outros
vo de locomoção, os veículos de tração animal
resíduos sólidos, é fundamental a definição das
aparecem nos grandes centros urbanos como
áreas autorizadas para seu despejo, evitando
parte da estratégia de sobrevivência de setores
que sejam levados para terrenos baldios, mar-
excluídos da população; nestes casos, o uso de
gens de rios, acostamento de estradas e outros
carroças costuma estar associado ao traba-
locais inadequados.
lho desempenhado pelo seu proprietário ou

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4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

A Prefeitura também pode realizar um cadastro maiores investimentos nas infraestruturas para
dos animais, para controle de suas condições a sua movimentação. Em um fenômeno cha-
de saúde e da localização de seu proprietário mado de demanda induzida, quanto mais vias
– hoje isso pode até ser realizado eletronica- se constroem, mais carros são colocados em
mente, mediante a implantação de um chip nos circulação, em geral em volume superior à ca-
animais. Eles precisam estar em boas condi- pacidade da infraestrutura construída, aumen-
ções de saúde, com as vacinas atualizadas e tando, em vez de diminuir, os problemas de
ter um lugar adequado para ficarem durante congestionamentos, poluição, perda de tempo
o dia e para descansarem à noite. É comum etc. No fim das contas, o automóvel desperdi-
encontrar estes animais deixados em várzeas, ça mais tempo do que economiza e cria mais
margens de rios ou até em praças públicas, distâncias do que supera (GORZ, 1973).
podendo constituir um risco ao tráfego de veí-
culos e aos pedestres que circulam na região. O automóvel é responsável por parte signi-
Para regulamentação e fiscalização destes ficativa da poluição sonora e atmosférica de
aspectos, é importante a atuação conjunta do nossas cidades, ocupa muito espaço público
órgão responsável pela circulação com as áreas no sistema viário, potencializa acidentes de
da administração municipal responsáveis pela trânsito que são uma das principais causas de
saúde pública e pelo controle de zoonoses. mortes no País e em muitas cidades, e o seu
uso responde por grandes congestionamentos
A regulamentação deste tipo de transporte nas grandes cidades e metrópoles.
deve estar associada a programas de inclusão
social e de geração de emprego e renda que Elevado a símbolo de modernidade no sécu-
estimulem os carroceiros a deixarem a informa- lo XX, liberdade e qualidade na circulação, o
lidade. Os objetivos e a proposta de regula- transporte individual produziu uma verdadeira
mentação devem ser discutidos previamente cultura do automóvel que legitimou a des-
com os interessados, abordando os perigos a tinação de enormes recursos públicos para
que estão sujeitos, as condições de vida dos investimentos em ampliação do sistema viário,
animais e os problemas ambientais que a na busca de paliativos para um problema sem
atividade pode causar. A sua implantação deve solução: garantir fluidez para um modelo de
ainda ser complementada por uma intensa mobilidade insustentável em médio prazo.
campanha de educação e conscientização
seguida de uma fiscalização rigorosa. Independente dos dados e do fato de que este
modelo é absolutamente insustentável sob
4.1.2. Modo motorizado privado todos os pontos de vista, muitas de nossas
cidades continuam sendo construídas para
a) Automóvel
acomodar seus veículos em detrimento a outro
O planejamento da maioria das cidades bra- tipo de planejamento e desenvolvimento dos
sileiras foi orientado pelo e para o transporte espaços públicos.
motorizado e individual. Hoje, tudo indica que
esse modelo se esgotou. Não há recursos e, Hoje, prefeitos e gestores públicos devem
se houvesse, não haveria espaço físico para buscar o rompimento dessa lógica e investir no
alimentar a contínua massificação do uso do desenvolvimento de cidades que valorizem as
automóvel implementada a partir da virada pessoas que nela habitam, incentivando o uso
do século XIX. O crescimento horizontal das de modos de transporte coletivos e de modos
cidades foi, por um lado, viabilizado pela de transporte não motorizados, viabilizando a
disponibilidade desse novo meio de circulação, integração entre os diversos modos e possibili-
mas, por outro lado, tornou a sociedade dele tando aos cidadãos que façam escolhas em re-
dependente. Os veículos motorizados permiti- lação aos seus deslocamentos, de forma que o
ram a ampliação das aglomerações urbanas e a automóvel particular não seja entendido como
multiplicação das distâncias; isso implica maio- a única alternativa possível de transporte.
res deslocamentos, que exigem mais veículos e

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Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

A Lei n. 12.587/2012 objetiva inverter esse gerais de redução de conflitos de comporta-


paradigma carrocentrista, priorizando o modo mentos mais seguros na circulação.
não motorizado e o transporte público no
planejamento do sistema de mobilidade das Especificamente quanto à segurança do con-
cidades, este integrado com o planejamento dutor, há muitas questões importantes, pouco
de uso do solo. difundidas e não regulamentadas. Por exemplo,
muitos motociclistas desconhecem os limites
b) Motos de proteção dos capacetes, que perdem a ca-
Segundo a Abraciclo (2009), 40% dos novos pacidade de absorver choque após uma queda;
outros desprezam a utilização de roupas de
usuários de moto fazem essa opção para subs-
proteção, como jaquetas, luvas e botas, que
tituir o transporte público, enquanto 10% op-
não têm uso obrigatório; poucos sabem que
tam pela substituição do automóvel individual.
acidentes com cerol podem ser facilmente evi-
tados com uso de uma antena protetora.
Este crescimento se deve a um conjunto de
fatores:
4.1.3. Modo motorizado coletivo
sBTNPUPDJDMFUBTTËPSFMBUJWBNFOUFCBSBUBTFN a) Ônibus
comparação com outros veículos motorizados, O atual sistema de transporte público urbano
e a sua compra é facilitada com financiamen- por ônibus é responsável pelo deslocamento
tos de longo prazo; de 40 milhões de passageiros diariamente e
sDPOTPNFNQPVDPDPNCVTUÑWFMFBQSFTFOUBN atende 87% da demanda de transporte público
baixo custo de manutenção; coletivo. São realizados 7.938 bilhões de quilô-
sBUJOHFNCPNEFTFNQFOIPOPUSÇOTJUPDBEB metros mensais pela frota operante de 96.300
vez mais congestionado das grandes cidades veículos (NTU, 2012). O consumo estimado
em função da possibilidade de trafegar entre de óleo diesel pela frota operante é de 2.937
os veículos parados e da facilidade de estacio- bilhões de litros por ano, que representa 6,0%
namento. do total de óleo diesel consumidos no Brasil
(ANP, 2011).
Estas vantagens, aliadas à baixa qualidade e
ao custo dos serviços de transporte público, O transporte público por ônibus tem influên-
tornaram este tipo de transporte uma opção cia direta no desempenho de outros setores
atraente para setores da população que não econômicos, pois se relaciona diretamente com
têm recursos para a aquisição de automóveis, processos de produção e consumo de bens
em especial para os jovens. e serviços. Nas 2.020 cidades que possuem
sistema organizado de ônibus, estimam-se mais
Ainda pelos motivos de flexibilidade de de 537 mil empregos diretos, que trabalham em
circulação, as motos estão sendo cada vez mais de 1.800 empresas.
mais utilizadas para a realização de entre-
gas e de transporte de cargas pequenas Há uma grande variedade de modelos no
(documentos e mercadorias de pequeno mercado que, entretanto, podem ser agrupados
volume) por meio de serviços de motofre- em alguns tipos básicos: os ônibus convencio-
te, serviços realizados pelos motoboys. nais, os mais utilizados, com capacidade para
transportar 80 a 95 passageiros, com nível de
Além da regulamentação e da fiscalização, é conforto de 7 passageiros em pé por m2; os ôni-
fundamental o trabalho de conscientização da bus articulados, que comportam entre 125 e 160
sociedade quanto aos riscos das motocicletas passageiros, com o mesmo padrão de serviço.
no trânsito. Campanhas e programas de edu- Em uma faixa intermediária, há modelos que
cação dirigidas aos motociclistas, aos demais transportam em torno de 105 passageiros por
condutores e aos pedestres devem difundir carro. Em algumas cidades circulam modelos
normas de circulação específicas e princípios especiais, como ônibus biarticulados e trólebus.

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4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

Figura 10 – Sistema BRT em Curitiba/PR.

Fonte: Mariana Gil/EMBARQ Brasil.

Figura 11 – Trólebus no centro de São Paulo/SP.

Fonte: Jefferson F.

Recentemente, tem crescido a utilização de de linhas para locais de difícil acesso, onde, pe-
micro-ônibus, sobretudo em substituição a vans las condições do sistema viário (ruas estreitas,
ou em áreas com vias estreitas. Menores, mais curvas acentuadas, topografia muito irregular
versáteis e com custo operacional inferior ao ou pavimento de baixa qualidade), os ônibus
dos ônibus, estes veículos têm se apresenta- não conseguem entrar. Micro-ônibus também
do como uma alternativa para reduzir custos têm sido empregados na operação de serviços
operacionais, atuando em regiões de menor de- diferenciados, geralmente com tarifa superior
manda de passageiros, ou para estender a rede à dos ônibus, na tentativa de atrair usuários do

44
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

transporte individual para o sistema público; mobilidade da cidade. As viagens realizadas pe-
nestes casos, podem apresentar itens de con- los usuários das faixas exclusivas tornaram-se
forto e segurança adicionais (bancos individuais mais rápidas, houve a racionalização e melhor
e estofados, ar-condicionado, por exemplo) e aproveitamento da frota de ônibus e o aumento
não permitir o transporte de passageiros em pé, da produtividade do sistema impulsionado pelo
além de permitir uma relativa flexibilidade de crescimento da demanda (NTU, 2013).
itinerário ao longo do percurso.
Com intuito de racionalizar o sistema de ôni-
A capacidade de transporte dos sistemas de bus em trajetos específicos, muitas cidades do
transporte urbano depende do tipo de veículo Brasil criaram corredores ou faixas exclusivas
adotado (capacidade unitária do veículo) e da que favorecem as linhas de ônibus em uma de-
frequência de viagens realizadas. Portanto, a terminada via. Segundo a Rio Ônibus – Empre-
especificação do tipo de veículo a ser utilizado sa de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro, este
em uma determinada situação depende da é um serviço de ônibus rápido com racionaliza-
combinação de uma série de fatores: o nú- ção das linhas, ganho de tempo para o usuário
mero de passageiros a serem transportados, do serviço de transporte público em até 40%,
os intervalos pretendidos entre viagens e as com aumento da velocidade de 13 km/h para
características do sistema viário, de modo que 24 km/h.
o atendimento aos usuários seja feito da forma
mais racional possível, atendendo as suas No caso do Rio de Janeiro, nas faixas à direita
expectativas de conforto, segurança e rapidez, da via em que circulam os ônibus está proibida
com a máxima produtividade e agredindo o a circulação de automóveis individuais e táxis
mínimo possível o meio ambiente, utilizando sem passageiros a menos que estejam fazen-
preferencialmente o mais eficiente combustível do o cruzamento à direita para ingresso em
à disposição. outra via. As faixas do BRS no Rio de Janeiro/RJ
funcionam de segunda a sexta de 6h às 21h e
a.2) Corredores de ônibus (BRS) aos sábados 6h às 14h. Mas estas faixas podem
No sentido de priorizar o transporte coleti- prever outros horários de funcionamento ou
vo, outro tipo de intervenção que vem sendo até ter restrição permanente durante as 24
adotado são as faixas exclusivas para ônibus, horas do dia.
que se convencionou chamar de BRS (Bus
Rapid Service). O BRS foi implantado com o Outras cidades como Joinville, Belo Horizonte,
objetivo de racionalizar o sistema de transpor- Fortaleza, Manaus, Niterói e Aracaju, recente-
te público e, consequentemente, aumentar a mente, estão implementando sistemas de BRS.
velocidade das viagens do transporte coletivo Outras, como São Paulo, Criciúma, Juiz de Fora,
e reduzir o tempo de viagem para os usuários. Campinas, por exemplo, possuem corredores
A prioridade ao transporte coletivo no sistema com faixas segregadas para os ônibus. Em São
viário é garantida por meio de um conjunto de Paulo, há muitos anos já se utilizam faixas com
atributos, principalmente sinalização vertical prioridade para ônibus nas principais vias.
e horizontal, comunicação com os usuários e
fiscalização preferencialmente com a utilização O sistema de corredores parece ser uma solu-
de câmeras de monitoramento. ção intermediária em cidades, ou em locais de
determinada cidade onde não existe demanda
A implantação dos sistemas BRS na cidade do para um BRT. São ideais, também, para áreas
Rio de Janeiro/RJ é a demonstração de uma já ocupadas das cidades em que para se fazer
iniciativa de projeto sem um alto nível de inter- um corredor do padrão de BRT seria preciso um
venção, que produz resultados positivos para a processo de desapropriação e reconfiguração
espacial do território.

45
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

Características do sistema de corredores exclusivos para ônibus:

sTJOBMJ[BÌËPEFQSJPSJEBEFOPTJTUFNBWJÆSJPBPUSBOTQPSUFDPMFUJWP
sBVNFOUPEBWFMPDJEBEFPQFSBDJPOBMEPT×OJCVT
sNBJPSGMVJEF[OBDJSDVMBÌËPWJÆSJBQBSB×OJCVT
sSBDJPOBMJ[BÌËPEBPQFSBÌËPDPNBPUJNJ[BÌËPEBGSPUB BSFEVÌËPEFWJBHFOTFP 
aumento da ocupação média dos ônibus;
sSFEV[JSPDPOTVNPEFDPNCVTUÑWFJTFBTFNJTTÚFTEFQPMVFOUFT
sEJTQPOJCJMJ[BSJOGPSNBÌËPBPTVTVÆSJPT NPOJUPSBNFOUPFSFFEVDBÌËP
sJNQBDUBSQPTJUJWBNFOUFOBNPCJMJEBEFEBDJEBEF

a.3) BRT Figura 12 – O BRT TransOeste, no


Rio de Janeiro/RJ.
O BRT (Bus Rapid Transit) é um sistema de trans-
porte de ônibus que proporciona mobilidade
urbana rápida, confortável e com custo eficiente
através da provisão de infraestrutura segregada
com prioridade de passagem, operação rápida
e frequente, além de excelência em marketing e
serviço do usuário (Manual de BRT, 2008).

O sistema nasceu no Brasil, embora não com


essa sigla, a partir da experiência dos corredores
de ônibus de Curitiba e Goiânia ainda na década
de 1970. Os corredores foram se aprimorando,
sobretudo com a experiência na Colômbia com
o Transmilênio e no México com o Metrobus. Fonte: Mariana Gil/EMBARQ Brasil.

Figura 13 – BRT TransOeste, no Rio de Janeiro/RJ.

Fonte: Stefano Aguiar/Instituto de Políticas de Transportes e Desenvolvimento (ITDP).

46
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

O BRT é definido como uma seção de uma transporte motorizado do mundo, Av. 9 de Julho
via ou vias contíguas, servidas por uma ou em Buenos Aires, na Argentina, ganhou em 2013
múltiplas linhas de ônibus, que tenha faixas um sistema de BRT priorizando o transporte
segregadas de ônibus numa extensão mínima público coletivo em detrimento do automóvel
de 3 km. A avenida com mais faixas para o individual. Veja exemplos de antes e depois:

Figura 14 – Avenida 9 de Julho em Buenos Aires.

Fonte: Prefeitura de Buenos Aires.

Figura 15 – Av. 9 de Julho em Buenos Aires com sistema de BRT.

Fonte: Prefeitura de Buenos Aires.

47
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

Requisitos mínimos para um corredor de BRT:

sJOGSBFTUSVUVSBTFHSFHBEBDPNQSJPSJEBEFEFQBTTBHFN
sDPCSBOÌBEBUBSJGBGPSBEP×OJCVT
sUSBUBNFOUPEBTJOUFSTFÌÚFT
sFNCBSRVFQPSQMBUBGPSNBFNOÑWFM

Um bom projeto de BRT tem como vantagens ros e intervalos reduzidos (até 100 segundos),
a possibilidade de oferecer um serviço de qua- pode prover alta capacidade de transporte (da
lidade com precisão da frequência dos ônibus, ordem de 60 mil passageiros/hora/sentido)
ser construído mais rápido e mais barato do com regularidade, uma vez que opera em via to-
que outros sistemas de alta capacidade. O cus- talmente segregada, e em ótimas condições de
to médio de um BRT (que pode ser alterado de segurança, em função dos sistemas de controle
acordo com a topografia da cidade e necessida- e sinalização adotados.
de de remoções ao longo do caminho) é de cer-
ca de US$ 15-20 milhões por km, enquanto seus Contudo, a sua construção demanda elevados
ônibus em média custam de US$ 300 a US$ 400 investimentos iniciais, que o tornam inacessí-
mil por unidade. Muito abaixo, por exemplo, vel para a maioria dos municípios brasileiros,
do metrô, em que se gasta em média (também mesmo para aqueles que possuem corredores
variando de acordo com as características das de transporte com volumes de demanda que,
cidades) US$ 80-US$ 110 milhões por km e cada em tese, justificariam a adoção desta tecnologia.
composição variando de US$ 2-2,5 milhões. Os sistemas metroviários também apresentam
custos de operação e manutenção elevados, se
b) Metrôs comparados aos ônibus, frente aos quais a recei-
Em todo o mundo o metrô é considerado como ta tarifária, principal fonte de recursos dos siste-
uma solução eficiente para o transporte de mas de transporte público, pode ser insuficiente,
massa nas grandes metrópoles. É um modo de exigindo aporte de recursos públicos na forma
transporte que apresenta algumas característi- de subsídios. Por este motivo, só devem ser
cas relevantes: construídos em situações de elevada demanda.

sQPTTJCJMJUBBQSPNPÌËPEFVNBJOUFSNPEB- Os metrôs alcançam sucesso na atração dos


lidade expressiva mediante integrações com usuários do transporte individual, pois aten-
sistemas de ônibus, BRT, transportes não dem a praticamente todos os quesitos de
motorizados, automóveis e táxis; qualidade, eficiência, rapidez, regularidade,
sWBMFTFEFOPWPTFTQBÌPTVSCBOPT BÍSFPF conforto e segurança.
subterrâneo, não sobrecarregando a infraestru-
tura viária; Nem toda cidade, no entanto, necessita de um
sDBVTBCBJYBWJCSBÌËP FNJTTÚFTFSVÑEPTOB sistema de metrô. Para isso é importante um
superfície, reduzindo a poluição ambiental; estudo de demanda que exponha a viabilidade
sQFSNJUFUSBOTQPSUBSHSBOEFTDPOUJOHFOUFTEF da obra. Recomenda-se uma mínima demanda
usuários, com alta velocidade. de 60 mil passageiros/hora/sentido para a
Uma linha de metrô, podendo utilizar comboios construção do metrô.
de carros com capacidade para 2 mil passagei-

48
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

Algumas características do metrô são:

sTFSJOUFJSBNFOUFTFHSFHBEP QPEFOEPTFSFNTVQFSGÑDJF FNFMFWBEPPVTVCUFSSÇOFP


sQPEFSTFSTPCSFUSJMIPTPVQOFVT TFNQSFDPNUSBÌËPFBMJNFOUBÌËPFMÍUSJDBQBSBUJSBS
proveito da maior capacidade de aceleração/desaceleração;
sQPTTVJSFTQBÌBNFOUPFOUSFFTUBÌÚFTEFDFSDBEFN
sBQSFTFOUBSWJBCJMJEBEFFNÆSFBTBEFOTBEBT DPNEFNBOEBTBDJNBEFNJM  
passageiros/hora/sentido.

c) Monotrilho Por outro lado, as principais críticas à dissemi-


nação de seu uso referem-se à existência de
O monotrilho é um sistema de transporte em
poucos fabricantes que dispõem de tecnologias
via elevada, em que a estrutura de sustenta-
singulares, que vinculam o material rodante e
ção é o próprio trilho-guia. Este sistema utiliza
infraestrutura, criando a dependência tecnoló-
material rodante mais leve, por isso a estrutura
gica do fornecedor, às dúvidas sobre evacuação
física do sistema é mais delgada, reduzindo
de passageiros em caso de pane, assim com a
custos de construção e de desapropriação.
complexidade de mudança de via, já que impli-
ca mover a própria estrutura de sustentação.

Figura 16 – Composição do Monotrilho em São Paulo/SP.

Fonte: Governo do Estado de São Paulo.

49
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

d) Sistemas estruturais com veículos leves Os VLTs aparecem com diversas tecnologias,
sobre trilhos – VLT desde simples bondes modernizados como em
Os VLTs (veículos leves sobre trilhos) têm sido São Francisco nos Estados Unidos ou Toronto
adotados em diversos países pela combinação no Canadá, até sistemas com características
de suas características: atendimento e níveis muito próximas às dos trens, como no caso de
de demanda variados (baixo, médio ou eleva- Monterrey e Guadalajara no México. São estas
do), custo de implantação menor do que os sis- condições, para o material rodante e para a via,
temas de alta capacidade como metrô ou trem, que determinam a velocidade operacional, a
capacidade de integração ao meio urbano e capacidade de oferta e o custo de implantação.
baixo impacto ambiental.

Figura 17 – VLT de Berlim tem rede de 190 km.

Fonte: Ian Fisher.

Figura 18 – VLT em Bruxelas com rede de 140 km.

Fonte: Ian Fisher.

50
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

Figura 19 – VLT de Paris na região de Île-de-France.

Fonte: Ian Fisher.

Com relação aos VLTs em vias segregadas, cabe atendidas nos países europeus, no Canadá ou
destacar os sistemas em operação no México. nos Estados Unidos. No México o sistema é
A cidade de Guadalajara começou a operar conhecido como “tren ligero” e não opera em
uma linha de VLT em 1989, ampliando sua tráfego misto. Depois de Guadalajara, sistemas
linha em 1994, bem acima das demandas semelhantes foram implantados na Cidade do
México e em Monterrey.

Figura 20 – Tren Ligero de Guadalajara.

Fonte: Alejandro Castro.

51
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

Figura 21 – VLT ou Tren Ligero da Cidade do México.

Fonte: Omar Bárcena.

Figura 22 – VLT ou Tren Ligero de Guadalajara.

Fonte: Alejandro Castro.

52
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

A implantação de sistemas estruturais com entre estações, número de viagens realiza-


veículos leves exige investimentos iniciais ex- das por ano e passageiros transportados por
pressivos em infraestrutura urbana, ainda que quilômetro). O Grupo I inclui três empresas
muito inferiores aos exigidos pelos sistemas de com características tipicamente metroviárias:
metrô mas ainda superiores, por exemplo, ao Metrô Rio de Janeiro, Metrô São Paulo e Metrô
do BRT. O Estado, nas três esferas de governo, Brasília; o Grupo II inclui outros três serviços
tem papel fundamental a desempenhar na que deles se aproximam: Belo Horizonte, Recife
captação de recursos, seja diretamente, por (sistema eletrificado) e Porto Alegre. Os dois
meio de recursos orçamentários, ou criando outros grupos (Grupo III: CPTM e Supervia e
condições de captação de recursos na inicia- Grupo IV: Fortaleza, Flumitrens, João Pessoa,
tiva privada por meio de concessões, parceria Maceió, Natal, Recife – Diesel, Salvador e Teresi-
público x privada, operações urbanas e outros na) não podem ser considerados como metrôs
instrumentos de financiamento. (MACHADO, SILVA & outros, 1999).

VLTs são bondes contemporâneos, de média ca- Muitas das ferrovias urbanas, mesmo as linhas
pacidade, que facilmente podem compartilhar que mantêm operação, apresentam graves pro-
as vias com os demais veículos, além de outras blemas com ocupação de áreas operacionais
características muito favoráveis como possuir por favelas, criando situações de risco para
tração elétrica, em sua maioria, ser amplamente os moradores e de redução de desempenho
utilizado em malhas e com baixo ruído, poucas operacional devido à redução da velocidade
trepidações etc operacional e à maior incidência de acidentes.

e) Trens urbanos, regionais e de subúrbio Destacam-se algumas características do trem


Os serviços de trens urbanos de passageiros urbano:
surgiram no Brasil junto com a expansão do sTFHSFHBÌËPDPNQMFUBOBTÆSFBTDFOUSBJTF
transporte ferroviário. Hoje a CBTU – Compa- parcialmente nas regiões menos adensadas;
nhia de Trens Urbanos, empresa do governo sGVODJPOBNFOUPHFSBMNFOUFFNTVQFSGÑDJF
federal, opera os trens de subúrbio em ligações sFTQBÌBNFOUPFOUSFFTUBÌÚFTEFDFSDBEF
metropolitanas ou regionais em Fortaleza, Sal- 1.000/1.500 m;
vador, Recife, João Pessoa, Maceió, Teresina e sVUJMJ[BÌËPEFFRVJQBNFOUPEFUSBÌËPFMÍUSJDB
Natal, aos quais devem ser somadas São Paulo, ou diesel-elétrica;
operados pelo governo do estado por meio da sCPBWFMPDJEBEFNÍEJB
Companhia Paulista de Trens Metropolitanos sWJBCJMJ[BTFDPNBMUBTEFNBOEBTFNFYUFO-
(CPTM), e Rio de Janeiro, onde o serviço está sões maiores de subúrbio e periferias metropo-
a cargo da empresa concessionária Super- litanas;
via. Nas regiões metropolitanas de Fortaleza, sBTTJNDPNPPNFUS× PUSFNÍFDPOPNJDB-
Recife e Belo Horizonte a operação está a cargo mente viável no longo prazo.
respectivamente de Metrofor, Metrorec e Metrô
BH, e em Porto Alegre, de uma empresa pública f) Sistemas hidroviários
federal (Trensurb). Os sistemas urbanos de transporte hidrovi-
ário de passageiros no Brasil estão restritos
A distinção entre serviços metroviários e aos aglomerados urbanos localizados na orla
ferroviários não é precisa. Um trabalho elabo- marítima, na orla de rio e na Bacia Amazônica
rado pela Comissão Metroferroviária da ANTP em linhas urbanas e interestaduais, onde de-
classificou os operadores brasileiros em quatro sempenha um importante papel na mobilidade
grupos de acordo com cinco indicadores de regional da população. Os que mais se desta-
desempenho (intervalos entre trens, passa- cam são os do Rio de Janeiro, Santos, Salvador,
geiros transportados por ano, distância média Aracaju, Amazonas, Vitória, São Luís e Belém.

53
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

Em algumas cidades brasileiras, é possível no transporte urbano apresenta mundialmente


incorporar o modo hidroviário como componen- uma tendência de crescimento, devido a três
te da mobilidade urbana, integrado aos demais fatores: dependência de certas regiões deste
modos de serviços terrestres. Algumas regiões modo de transporte, queda no nível de serviço
dependem exclusivamente desta modalida- das outras modalidades terrestres e ainda pela
de de transporte para atender seus usuários, evolução tecnológica do setor na produção de
geralmente pessoas de baixa renda. O uso de embarcações de alto desempenho.
barcas, balsas ou ferrys, como são conhecidos,

Figura 23 – O Ferry, como é conhecido o sistema no estado da Bahia.

Fonte: Raul Golinelli – Governo do Estado da Bahia.

54
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

Figura 24 – Barca: percurso Rio de Janeiro – Paquetá/RJ.

Fonte: Stefano Aguiar/ITDP.

De acordo com Livia Pereira e Alexandre Antunes de Andrade (2003), são caracterís-
ticas do modal hidroviário/integração com outros modais de transporte:

“Confiabilidade, conforto, capacidade e segurança. Ao contrário do transporte rodoviário,


não é tão suscetível a congestionamentos. Por outro lado, raramente permite acessibili-
dade porta a porta, característica esta que conota a necessidade de um eficiente sistema
alimentador/distribuidor”.

g) Teleférico como meio de transporte bondinho possui capacidade para dez pessoas
urbano em pé (CLARO, 2013).
O trajeto até o alto do morro, que antes du-
rava uma hora, agora dura 20 minutos com o Inspirado em modelos de sucesso que passa-
teleférico. É o primeiro sistema de transporte ram a usar o teleférico não apenas para lazer
de massa por cabos no Brasil com capacidade e turismo, mas como transporte equitativo,
para 3 mil passageiros por hora. Cada morador como, por exemplo, o teleférico de Medellín
terá direito a duas passagens gratuitas, diaria- na Colômbia, foi inaugurado em 2011 no
mente, e a tarifa unitária deverá custar 1 real. Rio de Janeiro o Teleférico do Complexo do
O teleférico, que tem seis estações e 152 cabi- Alemão. O sistema, integrado ao trem ur-
nes, é interligado ao sistema ferroviário. Cada bano, ajudou a diminuir o tempo de subida
para partes altas do conjunto de favelas.

55
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

Figura 25 – Composição do Teleférico no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro/RJ.

Fonte: Mariana Gil/EMBARQ Brasil.

Figura 26 – Entorno da Estação do Teleférico no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro/RJ.

Fonte: Mariana Gil/EMBARQ Brasil.

Em Londres, o Emirates Air Line utiliza o siste- h) Plano inclinado


ma de gôndolas urbanas para o transporte de Os funiculares ou planos inclinados são sis-
passageiros. No entanto, o sistema tem sido temas de transporte de veículos férreos que
mais utilizado em locais em que as topografias permitem vencer grandes diferenças de níveis
demandam uma solução para o transporte dos usando cabos de aço movidos por um motor.
passageiros em plano inclinado. Esse modo de transporte pode ser utilizado para
deslocamento de pessoas, cargas ou simultâneo
Um caso considerado como boa prática de pessoas e cargas em locais inclinados como
internacional é o teleférico de Medellín, na grandes rampas ou morros.
Colômbia. O sistema possui 9,5 km de exten-
são e faz integração com metrô e sistemas de
ônibus convencionais.

56
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

A extensão e a capacidade desses sistemas percorridos, número de pessoas e/ou peso


são medidas respectivamente em metros transportados, e variam conforme o tamanho
das cabines projetadas.

Figura 27 – Plano inclinado Morro Santa Figura 28 – Metrocable, em Medellín,


Marta no Rio de Janeiro/RJ. Colômbia.

Fonte: Mariana Gil/EMBARQ Brasil.

Figura 29 – Plano inclinado em


Montmartre, Paris.

Fonte: Mariana Gil/EMBARQ Brasil.

Fonte: Dennis Jarvis.

57
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

Figura 30 – Plano inclinado em Lisboa, Portugal.

Fonte: Mark Fischer.

i) Aeromóvel tura elevada e que se movimenta em rodas de


aço em trilhos convencionais. Ou seja, o ar é o
Foi inaugurada em 2013, na cidade de Porto propulsor do sistema.
Alegre, a primeira linha comercial de tecnologia
aeromóvel, veículos suspensos e movidos a ar, O projeto-piloto na capital do Rio Grande do
com projeto e tecnologia 100% desenvolvidos Sul foi colocado em operação em 1983, mas
no Brasil. O aeromóvel é um sistema do tipo não se estendeu. Em 1989, na capital da Indo-
APM (Automated People Mover) baseado em nésia, em Jakarta, foi inaugurada a primeira
conceitos mais próximos da tecnologia de avia- linha comercial do sistema.
ção do que da engenharia ferroviária.
Segundo a Trensurb:
Sua principal característica fundamenta-se na Desenvolvido pelo Grupo Coester, de
utilização da propulsão pneumática, com estru- São Leopoldo/RS, o aeromóvel é um meio de

58
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

transporte automatizado, em via elevada, que energética, por meio de um duto localizado
utiliza veículos leves, não motorizados, com dentro da via elevada.
estruturas de sustentação esbeltas. O vento empurra uma aleta (semelhante a uma
Sua propulsão é pneumática – o ar é soprado vela de barco) fixada por uma haste ao veículo,
por ventiladores industriais de alta eficiência que se movimenta sobre rodas de aço em trilhos.

Principais benefícios do aeromóvel, de acordo com a Empresa de Trens Urbanos:

Economia:
stecnologia de construção e operação 100% nacional;
sCBJYPDVTUPEFFOFSHJB

Segurança:
sWFÑDVMPTUPUBMNFOUFBVUPNBUJ[BEPT TFNDPOEVUPSFTBCPSEP
sTJTUFNBEFQSPQVMTËPBBSNPWJEPQPSWFOUJMBEPSFTFMÍUSJDPT

Conforto:
sTJTUFNBEFGSFJPQOFVNÆUJDPEFBMUBDPOGJBCJMJEBEF NBJTDPOGPSUPOPEFTMPDBNFOUP
sWFÑDVMPTTJMFODJPTPT TFNSVÑEPEFNPUPSFTFDPNEFTJHONPEFSOP
sBDFTTJCJMJEBEFVOJWFSTBM DPNFTQBÌPQBSBDBEFJSBOUFTFJEPTPT

Rapidez:
sFWJUBQFSEBEFUFNQPFNGJMBTFFOHBSSBGBNFOUPT

Meio Ambiente:
sUFDOPMPHJBMJNQB DPNNPUPSFTFMÍUSJDPTFTFNBFNJTTËPEFQPMVFOUFT
sFTUSVUVSBTFMFWBEBTFNFOPTFTQFTTBT DPNEFTJHONPEFSOPFTFNQPMVJÌËPWJTVBM
sNPUPSFTEJTQPTUPTFNDBTBTEFNÆRVJOBTBDVTUJDBNFOUFJTPMBEBT FWJUBOEPQPMVJÌËP 
sonora;
sQSPKFUPDPNUPUBMBUFOEJNFOUPÉTMFHJTMBÌÚFTBNCJFOUBJTWJHFOUFT

Figura 31 – Aeromóvel em Porto Alegre/RS.

Fonte: Programa de Aceleração do Crescimento (via Flickr).

59
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

Figura 32 – Aeromóvel em Porto Alegre/RS.

Fonte: Maria Fernanda Cavalcanti/EMBARQ Brasil.

Figura 33 – Aeromóvel em Porto Alegre/RS.

Fonte: Maria Fernanda Cavalcanti/EMBARQ Brasil.

60
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

4.2. Serviços de transporte público em um mesmo corredor, ora entre empresas


municipais e intermunicipais, ora entre ônibus e
Os modos de transporte explicitados compõem
vans, e até entre ônibus e metrôs. O resultado é
sistemas de serviço, segundo o formato da
que sistemas estruturais de alta capacidade de
operação a que se destinam e de acordo com
transporte, e com elevados custos de constru-
suas respectivas características.
ção e operação, são subaproveitados tanto em
termos de capacidade de transporte como em
4.2.1. Serviços de transporte coletivo
termos de reorganização física e operacional.
A Constituição Federal define o transporte
coletivo urbano como um serviço público Um dos grandes desafios do planejamento do
essencial que, como tal, deve ser provido transporte coletivo é a superação destas bar-
diretamente pelo Estado ou por particulares, reiras e a reorganização de todos os serviços
sob delegação do Poder Público responsável em operação no município, mesmo os admi-
(União, estados ou municípios). nistrados pelos governos estadual e federal,
quando for o caso, e em todas as suas moda-
O ônibus é o principal meio de transporte lidades. Para uma organização adequada dos
nas cidades brasileiras. Segundo o sistema serviços de transporte coletivo urbano, devem
de informações desenvolvido pela Associação ser observadas as seguintes diretrizes:
Nacional de Transportes Públicos (ANTP, 2011),
o modo representa 29,1% das viagens feitas 1. O serviço de transporte coletivo é parte fun-
em cidades brasileiras com mais de 60 mil ha- damental da estrutura de funcionamento das
bitantes, transportando, em média, 1 bilhão de cidades e essencial para a vida da população,
passageiros por mês (www.antp.org.br/sistinfo). e como tal precisa ser organizado e gerido pelo
Poder Público, não admitindo riscos de des-
Além deste modo predominante, algumas continuidade, devendo ser prestado de forma a
cidades contam com metrôs e ferrovias parti- oferecer melhor atendimento à população com
cipando do transporte coletivo de passageiros. conforto, fluidez e segurança.;
Recentemente, de forma legalizada ou clandes-
tina, surgiu, em muitas cidades, o transporte 2. O sistema de transporte coletivo deve ser or-
por vans, peruas e outros veículos de pequena ganizado na forma de uma única rede, com os
capacidade. diversos modos de transporte com integração
física, operacional e tarifária, independente-
Os serviços de transporte coletivo, independente mente de quem os opere, inclusive consideran-
dos tipos de veículos utilizados, devem ser orga- do os serviços sob gestão de outros níveis de
nizados como uma rede única, complementar e governo (estadual e federal).;
integrada. Porém, não é o que acontece na quase
totalidade das cidades brasileiras. Muitas nem 3. O serviço de transporte coletivo deve ser pres-
mesmo organizam de forma unificada os seus tado de forma profissional e com uma adequada
sistemas de linhas municipais. Sem uma política organização dos processos de trabalho necessá-
tarifária integrada, cada linha é operada de forma rios: manutenção da frota, operação de tráfego,
praticamente isolada do restante do sistema, controle e administração, segundo condições
limitando as possibilidades de deslocamento mínimas estabelecidas na regulamentação.;
das pessoas, superpondo serviços desnecessa-
riamente e encarecendo a operação do sistema 4. O equilíbrio econômico-financeiro dos con-
como um todo. tratos não é um problema exclusivo dos ope-
radores, mas sim uma condição necessária à
A concepção isolada das linhas é ainda mais garantia de prestação de um serviço adequado.;
evidente quando se trata de sistemas diferen-
tes, cada um com um operador diferente. É 5. Uma adequada rede de transporte coletivo
comum a disputa pelo espaço físico nas ruas exige investimentos de curto/médio/longo
e pelos passageiros nos pontos entre serviços prazos em veículos, infraestrutura e estrutura
concorrentes, ora entre duas linhas municipais de operação.

61
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

Diversas cidades brasileiras implementa- A implementação do conceito estrutural/local


ram projetos de racionalização dos seus está associada à integração física e tarifária
sistemas de transporte coletivo baseados que, até pouco tempo, era limitada pela neces-
em uma maior integração entre as linhas. sidade de construção de terminais de integra-
Neste caso, normalmente as linhas de trans- ção fisicamente fechados.
porte são organizadas em dois subsiste-
mas: estrutural e alimentador, ou local. Com a disseminação da bilhetagem eletrônica,
as alternativas de integração se ampliaram. O
O subsistema estrutural organiza os desloca- problema, porém, continua a existir pela neces-
mentos ao longo dos principais corredores e sidade de cobertura dos custos operacionais
eixos de articulações entre origens e destinos exclusivamente pelas tarifas, pelas dificuldades
dentro do município ou região. É constituído de adoção de políticas tarifárias efetivamente
pelas ligações troncais, que tendem a ser mais integradas e de modelos de remuneração dos
estáveis do ponto de vista da rede e permitem operadores e até pela resistência dos usuários
a utilização de veículos de maior capacidade, em realizar transbordos (baldeações) para com-
inclusive modos metroferroviários. A concentra- pletar a sua viagem.
ção da demanda nestas linhas exige e ao mes-
mo tempo justifica investimentos significativos Este tipo de organização da rede oferece ainda
na infraestrutura urbana, tanto na implantação duas outras vantagens: primeiro, permite mais
de um sistema viário especializado (linhas de possibilidades de ajuste da oferta de viagens
metrô e corredores ou faixas exclusivas para às necessidades da demanda, pela implemen-
ônibus) como na construção de equipamentos tação de modelos operacionais mais flexíveis,
urbanos de apoio à operação (terminais, esta- usando veículos expressos, retornos opera-
ções de transferência ou pontos de parada com cionais e outros artifícios do planejamento
tratamento especial). operacional; segundo, o conceito de sistema de
transporte ganha materialidade aos olhos da
A operação do sistema estrutural em vias pre- população, oferecendo uma melhor legibilida-
ferenciais ou exclusivas permite maior controle de da rede para os usuários, os operadores e
e previsibilidade no desempenho das empresas para os órgãos gestores.
operadoras, livres da interferência do tráfego
geral. A construção da infraestrutura e a evo- A gestão pública dos serviços de transporte co-
lução tecnológica da frota, no limite passando letivo exige um adequado suporte institucional
da modalidade rodoviária para a ferroviária, constituído, em primeiro lugar, por um con-
podem ocorrer gradativamente, na medida em junto de normas que regulam a sua prestação,
que haja um crescimento da demanda. desde a forma e as condições da delegação de
sua exploração para operadores privados até
O subsistema estrutural é complementado por as condições mínimas estabelecidas para a
subsistemas locais, constituídos de linhas que, oferta dos serviços aos usuários. Estas normas
integradas ao sistema estrutural, atendem geralmente são definidas por leis, decretos,
a todo o território, com maior flexibilidade e portarias, contratos e outros instrumentos que
capilaridade, permitindo a adequação do servi- constituem o seu marco regulatório.
ço ao crescimento espacial da cidade (novas
ocupações). A sua natureza, mais dispersa Outro ponto importante da base institucional
espacialmente, distribui os passageiros por dos serviços de transporte coletivo de passa-
um número maior de linhas de menor deman- geiros é a regularidade das delegações ante as
da, possibilitando o uso de veículos de menor exigências da Lei n. 8.987, de 13 de fevereiro de
capacidade, inclusive micro-ônibus e até vans. 1995, que dispõe sobre o regime de concessão
e permissão da prestação de serviços públicos,

62
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

previstos no artigo 175 da Constituição Federal, durante a operação com crianças menores são
além da adequação da legislação municipal à outros exemplos de assuntos a serem tratados
Lei n. 12.587, de 2012. em legislações municipais.

4.2.2. Serviço de transporte escolar No caso de a Prefeitura prestar o serviço de


transporte de escolares diretamente, são neces-
O transporte escolar atende crianças da pré-
sários estudos para conhecimento da demanda,
-escola e do ensino fundamental e, em menor
otimização das rotas, compatibilização com os
frequência, do nível médio, nas suas viagens
serviços de transporte público e dimensiona-
de entrada e saída das escolas. É normalmente
mento dos veículos, para que seja possível aten-
entendido como um serviço público, regulado
der ao maior número de crianças com a melhor
pelas Prefeituras, porém também apresenta ca-
alocação possível de recursos públicos.
racterísticas de transporte por fretamento, uma
vez que as condições da sua prestação (princi-
O tratamento adequado dos pontos de parada
palmente o preço) são contratadas diretamente
próximos às escolas é outra atividade sob res-
entre o transportador e os pais ou responsáveis
ponsabilidade das administrações municipais
pelas crianças.
e deve ser encarado como parte importante da
política de mobilidade urbana local. Envolve
Em muitas cidades este tipo de serviço também
investimentos na configuração da malha viária,
é prestado diretamente pelas Prefeituras, ou
se possível adotando projetos de moderação
com frota própria ou através de terceiros contra-
de tráfego, na sinalização horizontal, vertical e
tados por elas, neste caso caracterizando mais
até semafórica, na operação do trânsito próxi-
claramente um serviço fretado.
mo às escolas e nos programas de educação
para o trânsito.
Para ambos os casos devem ser observadas as
determinações do CTB (capítulo XII) para a con-
4.2.3. Serviço de mototáxi e motofrete
dução de escolares. O CTB estabelece diversas
exigências para os veículos a serem utilizados Em várias cidades brasileiras, observa-se a
na condução coletiva de escolares: autorização ocorrência do serviço de transporte de pe-
do órgão ou entidade de trânsito estadual, ins- quenas cargas e encomendas conhecido
peção semestral, equipamentos e dispositivos como motofrete ou motosserviço e, espe-
de segurança e identificação visual específica. cialmente nas pequenas e médias cidades,
Há também um conjunto de previsões dirigido do serviço de transporte de passageiros,
aos condutores. conhecido como mototáxi. Como indicam
essas denominações, são serviços prestados
A norma federal é usualmente complemen- por meio de motocicletas. Segundo o IBGE,
tada por uma legislação local específica, com em sua Pesquisa de Informações Básicas
exigências adicionais como: definição das con- Municipais 2009, existe serviço de mototá-
dições de entrada e permanência no mercado, xis em 53,9% dos municípios brasileiros.
normas operacionais e de conduta, determina-
ção de penalidades e outras, sempre em conso- Este fato levou diversos governos locais a pro-
nância com a política de mobilidade urbana. mulgarem legislação específica, com o intuito
A legislação local determinará também se de regulamentar estas atividades. Os regula-
haverá ou não limite no número de licenças mentos implantados limitam a oferta, mediante
emitidas pela Prefeitura. a obrigatoriedade de permissão ou autorização,
fixam algumas regras específicas para circulação
A abertura do mercado para autônomos ou para e exigem itens de segurança para os veículos e
empresas, a limitação de uma idade máxima para os condutores e passageiros. Entretanto,
para os veículos, a exigência de um auxiliar

63
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

informa o IBGE na Munic 2009 que os serviços 4.2.4. Serviço de táxis


de mototáxis de 75,7% dos municípios em que
Os táxis constituem um serviço de utilidade
existem são informais.
pública de transporte individual de passagei-
ros. Normalmente, são regulamentados pelas
A questão enseja que, antes de tudo, seja feita
Prefeituras por meio de lei e decretos. O núme-
uma reflexão sobre a situação local que avalie
ro de operadores é sempre limitado e controla-
a necessidade e a conveniência da implantação
do pelo Poder Público, que delega a exploração
destes serviços, que considere os aspectos
do serviço para particulares, condutores autô-
legais, políticos, sociais, técnicos e, sobretudo,
nomos ou empresas, mediante autorização ou
aqueles relacionados aos impactos no sistema
permissão, raramente precedidas de licitação
de mobilidade e à segurança.
ou outro tipo de seleção pública.

A abordagem adequada desta questão passa,


As Prefeituras fixam as tarifas, ou melhor, os
inicialmente, pela distinção entre os serviços
critérios de composição delas, uma vez que
de transporte de encomendas e o de pessoas,
normalmente se usa uma combinação de fato-
ou seja, entre o motofrete e o mototáxi, tanto
res: a bandeirada, uma tarifa quilométrica (para
nos aspectos intrínsecos ao CTB como aqueles
os deslocamentos) e uma tarifa temporal (para
relacionados à natureza dos serviços. Enquanto
as horas paradas), variável ao longo do dia,
o primeiro – o motofrete – configura-se como
com valores um pouco mais caros para horários
atividade econômica, o segundo tem sido trata-
noturnos e fins de semana (bandeira 2).
do pelos municípios, pelo menos nas localida-
des onde foi regulamentado, como um serviço
Na maior parte dos casos, a tarifa final é medi-
de interesse público. Esta distinção conduzirá
da por um taxímetro, regulado com os parâme-
a posicionamentos também distintos sobre as
tros tarifários fixados pelo Poder Público, que é
duas atividades.
aferido periodicamente; em cidades pequenas
nem sempre é utilizado taxímetro, e os preços
Há que se firmar, neste momento, o enten-
das corridas são fixos ou definidos em função
dimento dos limites de atribuições de cada
da distância percorrida.
ente federado, principalmente em relação aos
serviços de mototáxi. A competência federal
As regras de acesso ao mercado (concessão
restringe-se à definição das condições do
de permissões, autorizações ou alvarás) e
veículo, do condutor e das regras gerais de cir-
transferência de direitos de operação são nor-
culação relacionadas à segurança, a que estes
malmente disciplinadas na legislação ou nos
veículos deverão obedecer, enquanto caberá
regulamentos municipais, que também podem
aos entes locais decidir sobre a conveniência
determinar condições para os veículos (tipo
de instituir o serviço e definir o regime jurídico
de carro, padronização visual ou idade máxi-
da sua prestação.
ma), para os condutores e para a prestação do
serviço, definindo direitos, obrigações e pena-
A regulamentação dos aspectos relacionados
lidades. A fiscalização dos serviços deve ser
à segurança dos condutores, passageiros e
realizada complementarmente pela autoridade
transeuntes, das regras gerais de circulação,
municipal, no que se refere à prestação do ser-
de defesa da saúde pública, de controle da
viço, e estadual, principalmente na aplicação
poluição sonora e ambiental, dentre outros,
das exigências contidas no Código de Trânsito
exigirá análise multidisciplinar envolvendo
Brasileiro para veículos e condutores.
vários organismos federais no âmbito de suas
respectivas competências, para que se chegue
Dentro de uma visão integrada da gestão
a um documento legal à altura dos desafios
da mobilidade urbana, cabe às Prefeituras a
que esta questão coloca.
organização dos serviços de táxis sob outros

64
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

dois importantes aspectos: a segmentação do pontos de estacionamento e sua dimensão (nú-


mercado e a distribuição espacial da oferta. mero de operadores), as normas para utilização
de meios de comunicação (rádio e telefone) e
No que se refere ao mercado, o Poder Público os horários de operação obrigatória também
pode criar diversos tipos de atendimentos, vi- são aspectos a serem definidos na regulamen-
sando atender públicos distintos: táxis comuns, tação municipal.
táxis especiais (com mais itens de conforto e
preço mais elevado), táxis-lotação, táxis para Esta mesma regulamentação deve estabele-
pessoas com deficiências físicas são apenas cer a possibilidade de delegação do serviço
alguns exemplos de situações existentes em para autônomos ou empresas e, em cada caso,
cidades brasileiras. Neste campo, os táxis vêm normas mínimas para as relações de traba-
sofrendo a concorrência de diversos serviços lho, incluindo a possibilidade de utilização de
de caráter privado para transporte de públicos empregados, prepostos ou motoristas auxilia-
específicos (executivos, idosos, atendimento a res. Do mesmo modo, devem ser previstas as
eventos etc.), em regime de fretamento. condições para seu encerramento (suspensão,
cassação, revogação etc.).
Faz parte também da definição do papel dos
táxis no transporte urbano a forma de distri- Os taxistas são, muitas vezes, o primeiro e o
buição espacial da oferta, adotando ou não principal contato dos visitantes com a cidade,
pontos fixos para estacionamento dos veícu- principalmente em cidades de vocação para o
los, com ou sem limite de vagas. A fixação dos turismo. Portanto, a Prefeitura pode estimular e
taxistas em pontos é a prática mais usual: a fomentar aos operadores ações de qualificação
Prefeitura determina a localização dos pontos profissional, permanentes ou eventuais, através
de estacionamento, fixa o número de vagas de cursos profissionalizantes, direção defen-
e a autorização para prestação do serviço é siva, noções de segurança, conhecimento da
vinculada àquele ponto; neste caso, o motoris- cidade, sua história e seu patrimônio natural,
ta é autorizado a explorar o serviço apenas em cultural ou arquitetônico, conhecimentos bási-
um único ponto, e nele, por sua vez, operam cos de línguas estrangeiras, entre outros.
apenas os carros autorizados.
Do mesmo modo, o Poder Público, apoiado por
Nas grandes cidades é comum também a ope- sindicatos de hotéis, restaurantes e similares,
ração em pontos livres, o que leva taxistas a por exemplo, pode produzir materiais de apoio
percorrerem as ruas em busca dos passageiros; ao trabalho dos taxistas, tais como guias e ma-
mas, mesmo nestas cidades, pontos fixos são pas contendo os principais pontos turísticos da
instalados nos locais de maior concentração cidade e da região, informações institucionais
de demanda (estações rodoviárias, aeroportos, e de serviços, informações sobre programação
shopping centers etc.). Em qualquer situação, cultural e de eventos.
na definição dos locais de estacionamento e
parada dos táxis, o Poder Público deve con- 4.2.5. Bicicleta pública
siderar as características da via, o fluxo de
Mais de 400 cidades ao redor do mundo pos-
veículos no local e as condições de segurança,
suem sistema de bicicletas públicas, e a tendên-
a conveniência ou não de instalação de infra-
cia é que também no Brasil esse número cresça
estrutura e de apoio (abrigos, bancos, telefone,
exponencialmente. Hoje os maiores sistemas
iluminação adequada) e a sua localização em
encontram-se na China, Guangzhou e Xangai;
relação aos demais pontos próximos.
em Paris, Londres e Washington D.C. No Brasil,
alguns exemplos de cidades em que o sistema
A definição dos tipos de serviço (comum, seleti-
funciona são: Rio de Janeiro, São Paulo, Soroca-
vo etc.) e dos respectivos modelos operacionais
ba, Belo Horizonte, Salvador, Brasília e Recife.
(com ou sem pontos fixos), a localização dos

65
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

Figura 34 – Sistema Vélib’ em Paris.

Fonte: Carlos Felipe Pardo/ITDP.

Principais características para o planejamento a bicicleta foi retirada e devolvida, além de


de um sistema eficiente de bicicletas públicas: identificar o usuário;
sBDPNQBOIBNFOUPFNUFNQPSFBMEBPDVQB-
sVNBEFOTBSFEFEFFTUBÌÚFTEJTUSJCVÑEBTQPS ção das estações por serviços móveis, como,
toda a área de cobertura, com um espaçamen- por exemplo, o GPRS (serviço de rádio de
to médio de 300 metros entre as estações; pacote geral);
sCJDJDMFUBTDPOGPSUÆWFJT QSÖQSJBTJODMVTJWF sJOGPSNBÌÚFTFNUFNQPSFBMQBSBPTVTVÆSJPT
para o transporte casa-trabalho, com peças por diversos canais, como internet, celulares e/
e tamanhos especialmente concebidos para ou terminais locais;
desencorajar o roubo e a revenda; sFTUSVUVSBTEFQSFÌPRVFJODFOUJWBNWJBHFOT
sTJTUFNBEFUSBWBNFOUPUPUBMNFOUFBVUP- curtas, ajudando a maximizar o número de
mático que permite aos usuários retirarem e viagens de bicicleta por dia.
devolverem suas bicicletas às estações;
sTJTUFNBEFSBTUSFBNFOUPTFNGJPoQPSFYFN- O gráfico a seguir expõe dados comparativos
plo, por meio de dispositivos de identificação entre as cidades com sistemas de bicicletas
de radiofrequência (RFID) – que localiza onde compartilhadas e a frota total dos sistemas de
acordo com o passar dos anos.

66
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

Figura 35 – Crescimento dos sistemas e da frota de bicicletas compartilhadas entre 2000 e 2010.

400

350 250,000

Frota total dos sistemas de bicicletas compartilhadas


Cidades com sistemas de bicicletas compartilhadas

300
200,000

250

150,000
200

150 100,000

100
50,000
50

0
00

06

08

09
04
02

05
03

07
01

10
Ano
20

20
20
20
20

20
20

20

20

20
20

Fonte: ITDP, 2014.

Figura 36 – Sistema de bicicletas compartilhadas em Guangzhou integrado ao BRT.

Fonte: Karl F. Jellstrom/ITDP.

67
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

4.3. O papel do sistema viário no seu espaço aéreo, que nem sempre convivem
planejamento da mobilidade urbana sem conflitos. O planejamento, a operação e a
manutenção das vias e dos serviços que se dão
O sistema viário sempre foi tratado pelos
nelas são fatores essenciais para a qualida-
planos de transporte convencionais, porém
de de vida nas cidades e para a eficiência da
raramente com um enfoque adequado ao
circulação urbana.
conceito de mobilidade urbana para a cons-
trução de uma cidade sustentável, que deve
O planejamento do sistema viário depende,
considerar as diferentes características das
em parte, das orientações e do controle sobre
viagens (distância, motivo, ritmos individuais),
a distribuição das atividades econômicas e
os diferentes tipos de vias (calçadas, ciclovias
sociais pela cidade, mas depende também da
e ruas) e a integração entre os diversos modos
construção e da organização das próprias vias.
de transporte. A consequência é que, ape-
sar dos enormes investimentos destinados à
a) Classificação funcional
expansão da infraestrutura viária, as condições
da circulação urbana nas cidades brasileiras só O primeiro princípio para a organização do sis-
têm se agravado. tema viário é a identificação do papel que cada
tipo de via desempenha na circulação urbana,
Isso não significa que o planejamento viário considerando os vários modos de transpor-
deva ser abandonado, muito menos que o te e não somente os veículos de transporte
conhecimento acumulado e as ferramentas motorizados. Em função disso, deve ser feita
desenvolvidas nesta longa prática não sejam a atribuição do tipo de tráfego (pedestres e
úteis; pelo contrário, a engenharia de trans- veículos) que as vias podem receber e em que
portes e de tráfego deve ser intensamente intensidade (volume) e, consequentemente,
utilizada na elaboração dos Planos de Mobili- das características físicas e operacionais que
dade Urbana, porém orientada pelos conceitos devem apresentar.
e abordagem presentes no PlanMob.
A primeira classificação viária a ser observada
Os Planos de Mobilidade Urbana devem tratar é a legal, determinada pelo Código de Trânsito
da circulação de pessoas e bens e não só dos Brasileiro (artigos 60 e 61). Nele as vias são divi-
veículos, priorizando o pedestre e o transporte didas em urbanas (vias de trânsito rápido, vias
coletivo e não só o automóvel e administrando arteriais, vias coletoras e vias locais) e rurais
todo o sistema viário e não apenas a pista de (rodovias e estradas). A classificação do Código
rolamento. O planejamento viário deve estar serve para definir as velocidades máximas per-
acompanhado e intimamente ligado ao pla- mitidas em cada tipo de via, exceto se o órgão
nejamento e às políticas urbanas, envolvendo ou a entidade de trânsito com circunscrição
os instrumentos de regulação urbanística, as sobre a via regulamentar velocidades superio-
preocupações ambientais e os princípios da res ou inferiores, por meio de sinalização.
acessibilidade universal.
A classificação viária pode ser utilizada na re-
4.3.1. Sistema viário gulamentação do uso e da ocupação do solo e
demais instrumentos de regulação urbanística:
O sistema viário é o espaço público por onde na legislação de controle de instalação de polos
as pessoas circulam, a pé ou com auxílio de geradores de tráfego, na especificação do tipo
algum veículo (motorizado ou não), articulando, de pavimento a ser utilizado, na determinação
no espaço, todas as atividades humanas intra de parâmetros mínimos recomendáveis para a
e interurbanas. Este espaço público abriga sua construção (raios de curva mínimos, declivi-
também todas as redes de distribuição dos dade) e nas propostas de diretrizes e ações es-
serviços urbanos (abastecimento de água, pecíficas para planejamento, projeto, operação,
energia elétrica, telefonia; coleta e esgota- manutenção e expansão do sistema viário. É im-
mento de águas pluviais, lixo, esgoto sanitário portante destacar a necessidade de aprofundar
etc.). Para atender a tantas funções, o sistema a discussão referente à classificação viária para
viário dispõe de uma série de equipamentos a correta abordagem das vias destinadas aos
instalados nas próprias vias, no subsolo ou no

68
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

pedestres e ciclistas, que neste caso podem ser Do mesmo modo, em muitas situações, as
calçadões, ciclofaixas ou ciclovias. interferências da circulação regional, em geral
de grande volume e realizada por veículos de
b) Hierarquização viária regional grande porte, são extremamente nocivas para
De forma complementar à classificação fun- a qualidade de vida, a segurança e a preser-
cional, as vias podem ser hierarquizadas de vação ambiental das cidades afetadas, e em
acordo com o papel que desempenham na uma dimensão impossível de ser absorvida
circulação regional, com objetivo de coordenar apenas pela administração municipal. O acesso
a intervenção dos diversos níveis de governo a um porto, a passagem de rodovias e ferrovias
no sistema viário. pelo perímetro urbano, a circulação de car-
gas pesadas e perigosas, o impacto das rotas
A administração do sistema viário é assunto de fuga de rodovias pedagiadas em vias de
de interesse local, sob responsabilidade das trânsito local, o alto custo de implantação e de
Prefeituras, exceto nas estradas e rodovias conservação da malha viária são apenas alguns
estaduais, a cargo dos estados, e federais, da problemas típicos desta situação. Além da
União. Porém, principalmente em regiões com necessária coordenação entre os municípios e
elevado grau de urbanização, como é o caso destes com o governo estadual e com a União,
das regiões metropolitanas, é necessária uma a dimensão dos problemas desta natureza
intervenção coordenada do Poder Público nas demandam recursos financeiros e técnicos de
três esferas, garantido o respeito à autonomia todas as instâncias governamentais.
municipal. Apesar de a jurisdição destas vias
permanecer com o município, elas apresentam 4.3.2. Gestão do sistema viário
uma utilização diferenciada das demais vias A gestão clássica, cujos parâmetros hoje são
que compõem a malha viária da cidade, de- considerados ultrapassados, considera que o
corrente de um elevado fluxo de passagem de conceito da fluidez aliado à segurança no siste-
característica metropolitana ou regional. ma viário são os fatores mais importantes para
medir a qualidade do serviço das cidades. Mas
Dois problemas devem ser analisados neste este tipo de gestão prioriza somente o trânsito
aspecto: o conflito dos interesses locais e me- de veículos motorizados, sobretudo os indi-
tropolitanos, e a necessidade de investimentos viduais, sobre o transporte coletivo, os meios
em sistemas de interesse regional frente à não motorizados de transporte e o desloca-
realidade orçamentária dos municípios. mento a pé.

Em áreas com elevado grau de conurbação, as A maior parte do sistema viário é aberta a qual-
necessidades de circulação de pessoas e mer- quer tipo de circulação, separadas apenas as
cadorias não podem ser restritas aos limites áreas de pedestres (calçadas) e de veículos (pis-
institucionais dos municípios. É necessário, ta) e subordinadas às normas gerais de circula-
portanto, um planejamento em escala mais ção e conduta fixadas no CTB. Porém, à medida
ampla, que oriente os investimentos e as ações que o volume ou a complexidade dos desloca-
operacionais dos diversos municípios integran- mentos aumenta, principalmente de veículos
tes da região, do governo estadual e, quando automotores, a oferta de espaço para circulação
for o caso, até do governo federal, com obje- pode se tornar insuficiente ou inadequada para
tivo de constituição de um sistema viário de aquela demanda, exigindo dos administradores
interesse regional, que consiga absorver esses públicos responsáveis pela via medidas restriti-
fluxos adequadamente e com mínimas exter- vas da liberdade total de sua utilização.
nalidades negativas. Estas intervenções podem
ser de projeto e implantação da infraestrutura, Inicialmente, podem ser adotadas medidas
de padronização da sinalização, principalmente operacionais que, ao organizar ou restringir a mo-
orientativa, e do mobiliário urbano, de provisão vimentação dos veículos, melhoram a capacidade
de infraestrutura complementar (sistemas de viária sem necessidade de ampliação física das
drenagem, iluminação, redes aéreas ou subter- ruas e avenidas, tais como: estabelecimento de
râneas etc.) e até de operação.

69
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

sentido único de tráfego, proibição de estacio- pública, com a implantação de estacionamen-


namento ao longo da via, controle semafórico de tos rotativos tarifados; a cobrança pelo direito
interseções etc. de circular, por meio de pedágios urbanos, não
é praticada no Brasil1.
Quando estas medidas se mostram insuficien-
tes, o que é uma situação bastante comum nas Outra medida mais incisiva de organizar a
grandes cidades brasileiras, o Poder Público circulação é a especialização do sistema viário
pode lançar mão de outros tipos de restrição, para determinada função. Alguns exemplos
mais amplas, que visam reduzir a demanda destinam-se a proporcionar a segurança do
de circulação em determinada via ou região pedestre ou a requalificação urbanística de
da cidade. Entre as muitas experiências que determinados espaços da cidade (construção
vêm sendo praticadas no Brasil, algumas criam de calçadões em áreas centrais); outros ainda
restrições temporais, como a proibição da visam aumentar a eficiência operacional de um
circulação de caminhões nos horários de pico determinado modo de transporte, em geral do
em áreas centrais, ou sazonais, como a proibi- transporte coletivo de passageiros (implan-
ção da circulação também de caminhões em tação de faixas, vias ou corredores exclusivos
rodovias de interesse turístico em períodos de para ônibus).
pico de demanda (feriados prolongados, por
exemplo); outras tentam reduzir a demanda de A prioridade ao transporte coletivo no uso do
maneira estrutural, como o rodízio de placas espaço viário tem duplo objetivo: aumentar a
autorizadas a circular no centro expandido da eficiência da circulação urbana e aumentar a
cidade de São Paulo a cada dia da semana. justiça e a equidade na apropriação da cidade
pela população. Considerando uma ocupação
Os exemplos acima tratam de limitações da média de um automóvel de 1,5 pessoa por
liberdade de circulação pela regulamenta- veículo, e a capacidade de um ônibus para
ção do uso das vias, mas podem também ser transporte de aproximadamente 75 lugares,
estabelecidas medidas de caráter pecuniário, com nível de serviço adequado, um ônibus
com a instituição de cobrança pelo direito do ocupa o espaço nas ruas de 50 carros e um
uso do espaço viário. Este tipo de intervenção usuário de automóvel consome 4,7 vezes mais
é tradicionalmente empregado em diversas espaço público para circular do que um usuário
cidades brasileiras para administrar a oferta de ônibus (VASCONCELLOS, 1998).
limitada de vagas de estacionamento em via

Figura 37 – Espaço público necessário para deslocamento de 60 pessoas.

Fonte: ITDP.
1
A instalação de pedágios em rodovias privatizadas, em regime de concessão, tem objetivo apenas de remune-
rar os investimentos realizados pelo empreendedor privado na concessão, não podendo ser considerada como
uma política de regulação da demanda.

70
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

4.3.3. Planejamento e projeto instalada e reduzir a necessidade de novos


da circulação investimentos.

O desenho da cidade é um plano de circulação,


Muitas vezes os administradores públicos
com traçados, dimensões das vias, regula-
são forçados a adotar soluções criativas, mais
mentações etc. Em alguns casos, este traçado
econômicas, com padrões construtivos ou de
foi mesmo projetado (Brasília, Goiânia, Belo
dimensionamento fora dos tradicionais, para
Horizonte, Palmas, apenas para citar alguns
oferecer soluções em situações concretas e
exemplos), na maioria foi socialmente cons-
particulares, principalmente no esforço de
truído, seguindo a dinâmica da urbanização,
inclusão social da enorme parcela da popula-
e, dentro dela, foi um reflexo, um produto de
ção que foi forçada a se instalar na cidade em
relações sociais.
situações indesejadas.

A determinação do sistema viário é produto de


Enquanto a legislação urbanística em geral in-
elementos objetivos, desde a topografia e ou-
terfere de modo indireto na mobilidade, alguns
tras barreiras naturais, até a disposição das ati-
dos seus instrumentos têm uma relação mais
vidades humanas no território. Levantamentos
imediata nas condições de circulação. É o caso
de campo, contagens de volume de tráfego, de
dos mecanismos de análise prévia para apro-
veículos ou de pessoas, pesquisas de origem
vação da instalação de empreendimentos de
e destino e outros métodos de levantamento
maior porte, públicos ou privados, que produ-
de dados orientam os traçados e fornecem
zem normalmente fortes impactos na infraes-
subsídios para o dimensionamento. Conceitos
trutura instalada e nas condições de habitabi-
de projeto e de segurança orientam as deci-
lidade das áreas vizinhas. O instrumento mais
sões dos projetistas, mesmo quando precisam
diretamente dirigido para esta finalidade é a
ser flexibilizados para se adequar a limitações
legislação de tratamento de polos geradores
orçamentárias ou a condicionantes sociais.
de tráfego (PGTs), empreendimentos de grande
porte que produzem um grande número de
Além dos aspectos funcionais, o desenho
viagens com impacto negativo em seu entorno
urbano pode conter outros atributos, estéti-
imediato, mas aqui também podem ser incluí-
cos, paisagísticos, ambientais, que fazem uma
dos os Estudos de Impacto de Vizinhança (EIV)
grande diferença de qualidade na vida das
e Estudos de Impacto Ambiental (EIA).
pessoas que moram ou simplesmente circulam
por aqueles espaços. É no desenho, e na sua
Vale mencionar aqui que os PGTs são vistos
materialização posterior, que são tomadas as
automaticamente como requisitos de esta-
decisões que determinam a escala dos espaços
cionamento, alargamento de via e criação de
públicos. Diante de condições adequadas, os
acessos exclusivos. Esse conceito atual deve
meios não motorizados podem ser ótima al-
ser revisado e adequado aos princípios da Lei
ternativa para viagens mais curtas, ampliando
n. 12.587/2012.
a escolha deste modo e minimizando a atual
dependência pelos modos motorizados. É no
Para todos eles, os municípios têm autono-
detalhamento da via, na sua arborização, no di-
mia para elaboração de leis específicas onde
mensionamento das pistas, das calçadas e dos
deverão estabelecer: as condições de aplica-
passeios que são estabelecidas as prioridades
ção das normas, os parâmetros quantitativos
de cada modo no uso do espaço urbano.
para as edificações e para o empreendimento,
as regras para o processo de licenciamento,
O planejamento da circulação é completamen-
exigências para a elaboração dos estudos de
te dependente das demais políticas urbanas,
impacto e parâmetros para proposição de me-
que interferem na localização das atividades
didas mitigadoras etc.
econômicas, moradias e equipamentos urba-
nos. É nesse momento que é possível alterar
a) Sinalização das vias
o perfil da demanda para deslocamentos na
cidade, interferir na escolha do modo, otimizar A sinalização deve informar sobre a forma ade-
o aproveitamento da infraestrutura urbana já quada de utilização das vias. Sua linguagem

71
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

deve ser direta e facilmente compreendida por sNBSDBTMPOHJUVEJOBJTTFQBSBNFPSEFOBNBT


todos os cidadãos usuários do sistema viário, correntes de tráfego e estabelecem regras de
independente de sua condição de condutor ultrapassagem;
de veículo ou pedestres, em qualquer parte do sNBSDBTUSBOTWFSTBJTPSEFOBNPTEFTMPDB-
território nacional. Por isso é estabelecida em mentos dos veículos e os harmonizam com
lei federal (Código de Trânsito Brasileiro). os de outros veículos ou pedestres, indicando
a necessidade de redução da velocidade e a
a.1) Sinalização vertical posição de parada;
A sinalização vertical utiliza placas, de diversos sNBSDBTEFDBOBMJ[BÌËPPSJFOUBNPTGMVYPTEF
tamanhos, instaladas em postes ou colunas tráfego na via;
ao lado das pistas ou sobre elas, transmitindo sNBSDBTEFEFMJNJUBÌËPFDPOUSPMFEFFTUBDJP-
mensagens de caráter permanente ou variável. namento e parada: delimitam as áreas onde é
De acordo com as suas funções, as placas são proibido ou regulamentado o estacionamento
agrupadas em: e a parada de veículos;
sJOTDSJÌÚFTOPQBWJNFOUPDPNQMFNFOUBNBT
sTJOBMJ[BÌËPEFSFHVMBNFOUBÌËPRVFJOGPS- orientações aos condutores quanto às condi-
ma aos usuários das condições, proibições, ções de operação da via com setas, símbolos e
restrições e obrigações no uso das vias; essas legendas.
informações são imperativas e o seu desrespei-
to caracteriza infração; a.3) Sinalização semafórica
sTJOBMJ[BÌËPEFBEWFSUÎODJBBMFSUBPTVTVÆSJPT A sinalização semafórica usa um sistema de
de condições potencialmente perigosas e sua luzes acionadas alternada ou intermitentemen-
natureza; te para regulamentação ou advertência aos
sTJOBMJ[BÌËPEFJOEJDBÌËPJEFOUJGJDBBTWJBT  condutores:
os destinos e os locais de interesse, orienta os
condutores quanto aos percursos, destinos, sTJOBMJ[BÌËPTFNBGÖSJDBEFSFHVMBNFOUBÌËP
distâncias e serviços auxiliares (hotéis, postos controla o tráfego em um cruzamento ou seção
de serviço, estacionamentos, serviço telefônico, de via, alternando o direito de passagem dos di-
e outros), podendo conter mensagens de cará- versos fluxos de veículos ou pedestres por meio
ter informativo ou educativo; suas informações de um código de cores: vermelha (indicação de
não constituem imposição. parada obrigatória), amarela (indicação de aten-
ção) e verde (permissão para passagem);
Entre os itens que integram a sinalização de sTJOBMJ[BÌËPTFNBGÖSJDBEFBEWFSUÎODJBBEWFS-
indicação, merece destaque o Plano de Orien- te os motoristas da existência de obstáculo ou
tação de Tráfego – POT, utilizado na indicação situação de perigo na via, indicando a necessi-
das principais vias, bairros e pontos de refe- dade de redução de velocidade.
rência da cidade, auxiliando os motoristas na
escolha das suas rotas. A preparação do POT a.4) Dispositivos e sinalização auxiliares
exige um bom planejamento e sua implantação São elementos utilizados para aumentar a visi-
é relativamente cara, por isso, muitas vezes, se bilidade da sinalização ou de obstáculos na via
vale do apoio de empresas privadas. que representem perigo potencial, alertando os
condutores para ter maior atenção:
a.2) Sinalização horizontal
A sinalização horizontal utiliza linhas, marca- sEJTQPTJUJWPTEFMJNJUBEPSFTFMFNFOUPTSFGMFUP-
ções, símbolos e legendas pintados ou apostos res ou que contenham unidades refletoras des-
sobre o pavimento das vias, combinando pa- tinados a melhorar a percepção dos conduto-
drões de traçado (linhas contínuas, tracejadas res quanto aos limites da pista ou à separação
ou seccionadas) e de cores: entre faixas de tráfego;
sEJTQPTJUJWPTEFDBOBMJ[BÌËPFMFNFOUPTRVF
substituem provisoriamente as guias para evi-

72
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

tar que os veículos transponham determinado O uso de equipamentos eletrônicos no apoio à


local ou faixa de tráfego; fiscalização tem sido um ponto polêmico na ges-
sEJTQPTJUJWPTEFTJOBMJ[BÌËPFBMFSUBFMFNFO- tão do trânsito; com elevada eficiência na detec-
tos colocados ou aplicados junto a obstáculos ção de infrações, tendem a produzir um elevado
ou ao longo de curvas horizontais para melho- número de autuações, acarretando críticas ao
rar a percepção dos condutores ante situações aparecimento de uma indústria de multas.
de perigo potencial;
sBMUFSBÌÚFTOBTDBSBDUFSÑTUJDBTEPQBWJNFOUP Por isso, é uma medida que deve ser precedi-
recursos de alteração nas condições normais da de diversos cuidados jurídicos, técnicos e
da pista de rolamento para estimular a redução administrativos. A escolha dos pontos onde
de velocidade; podem ser constituídos de serão instalados os equipamentos deve ser
pavimentos rugosos, pavimentos fresados ou feita com base em estudos técnicos, utilizan-
ondulações transversais à via (lombadas); do análise das condições de projeto das vias
sEJTQPTJUJWPTEFQSPUFÌËPDPOUÑOVBFMFNFOUPT e registros históricos de acidentes. A via deve
colocados de forma contínua e permanente estar devidamente sinalizada quanto aos limi-
ao longo da via para impedir que veículos ou tes regulamentares e quanto à existência de
pedestres transponham determinados locais; fiscalização eletrônica. A triagem dos registros
sEJTQPTJUJWPTEFVTPUFNQPSÆSJPFMFNFOUPT das ocorrências deve ser rigorosa e o direito
utilizados em situações especiais e temporá- de defesa garantido. Por fim, a destinação dos
rias para alertar os motoristas, bloquear ou recursos arrecadados com as multas geradas
canalizar o tráfego e proteger pedestres ou deve obedecer às restrições do Código de Trân-
trabalhadores (cones, cavaletes, tapumes etc.); sito Brasileiro.
sQBJOÍJTFMFUS×OJDPTEJTQPTJUJWPTFMFUS×OJDPT
de sinalização vertical que fornecem informa- As atividades operacionais também represen-
ções diversas aos condutores: advertência, tam um importante subsídio para projeto e
regulamentação de velocidade, orientação ou planejamento, incorporando a vivência prática
informações educativas. das equipes de campo na avaliação de proble-
mas e na proposta de soluções para eles. Para
Maiores informações podem ser obtidas no isso, é fundamental o monitoramento contínuo
Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito, das informações operacionais em centrais
editado pelo Denatran, disponível na página operacionais que acompanham as condições
eletrônica www.denatran.gov.br/publicações. de operação do sistema viário e da sinalização,
intervindo sobre eventuais problemas no me-
b) Operação e fiscalização nor tempo possível.
A dinâmica da circulação urbana exige um
acompanhamento cotidiano do trânsito O monitoramento sistemático possibilita tam-
para garantir a mobilidade das pessoas com bém acompanhar situações antes, durante e
segurança. Isso implica ações coordenadas após a implantação de alterações na circulação
de engenharia, educação e fiscalização para por meio da evolução de diversos indicadores
organização do tráfego em pontos estratégi- (acidentes, velocidade, infrações, reclamações
cos do sistema viário, acompanhamento de de usuários etc.), contribuindo para sua ava-
eventos especiais, remoção de interferências, liação e, se for o caso, fornecendo parâmetros
atendimento a emergências e acidentes e para a realização de ajustes de projeto.
punição ao desrespeito das regras e condutas
de circulação. c) Segurança viária
O Brasil apresenta elevados índices de aci-
Estas operações podem ser rotineiras ou even- dentes de trânsito. O número de vítimas fatais
tuais, programadas ou emergenciais, e podem decorrentes desses acidentes, no ano de 2012
se valer do apoio de diversas tecnologias de foi de 14.812, segundo o DATASUS - Ministério
comunicação (rádio, câmaras etc.) e de con- da Saúde. Calcula-se que isso represente per-
trole (radares, fotossensores, monitoramento das anuais de R$ 5,3 bilhões em custos diretos
eletrônico etc.).

73
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

(despesas médico-hospitalares, resgate às víti- gam a fórmulas mais específicas de atuação


mas, danos a veículos, sinalização, equipamen- em cada uma destas áreas: procedimentos
tos urbanos e propriedade de terceiros, aten- para estatística de acidentes e tratamento de
dimento policial, processos judiciais, custos locais críticos, projetos de engenharia utili-
previdenciários e perda efetiva de produção), zando conceitos de moderação de tráfego,
custos indiretos (perda potencial de produ- operação cotidiana, introdução de sistemas
ção e congestionamentos) e custos humanos eletrônicos de apoio à fiscalização, progra-
(sofrimento e perda de qualidade de vida) para mas de educação com diversos segmentos da
o conjunto das aglomerações urbanas brasilei- população são apenas alguns componentes de
ras, não considerados os acidentes rodoviários experiências exitosas na redução do que a área
(IPEA/ANTP, 2003). de saúde chama de mortes evitáveis.

Nas grandes cidades, o maior número de As ações de engenharia podem ser realizadas
vítimas são pedestres, que, além de serem o de forma reativa, através de intervenções na in-
elemento mais frágil no trânsito, sofrem em um fraestrutura de locais onde ocorrem acidentes,
ambiente urbano produzido para os automó- ou de forma proativa, pela avaliação da segu-
veis e por uma cultura de desrespeito às regras rança nas diversas fases da vida de um projeto
de circulação e impunidade nos crimes de até o acompanhamento das etapas de constru-
trânsito, muitos decorrentes de desrespeito à ção, manutenção e uso do ambiente viário.
sinalização e abuso da velocidade e do álcool.
Apesar de o principal fator contribuinte
Os acidentes podem ser a face mais visí- para acidentes ser o fator humano, ações de
vel da violência no trânsito, mas não são a engenharia de segurança viária também têm
única; a violação das áreas residenciais e
o potencial de induzir modificações no com-
de uso coletivo, com destruição do patrimô-
portamento dos usuários do sistema viário.
nio histórico e arquitetônico, a degradação
Ao adequar o ambiente viário a condições
ambiental e a exclusão social também são
mais seguras de circulação, pode-se induzir os
produtos do modelo de circulação vigen-
usuários a um comportamento mais seguro,
te na maioria das cidades brasileiras.
o que contribui para reduzir o erro humano e
assim diminuir a ocorrência de acidentes
Se o quadro é gravíssimo, as expectativas
(DIÓGENES et al., 2005). Um ambiente viário
podem ser otimistas: diversas cidades vêm
que prioriza a segurança viária possibilita a
desenvolvendo políticas para reversão deste
redução de mortes assim como a redução da
quadro, obtendo resultados animadores, prin-
gravidade dos acidentes.
cipalmente depois da vigência do Código de
Trânsito Brasileiro em 1998, por meio de pro-
As vias devem ser desenhadas para estimu-
gramas que têm recebido uma denominação
lar que condutores trafeguem na velocidade
genérica de paz no trânsito, combinando ações
adequada, pedestres se sintam seguros nas
de engenharia, educação, operação, fiscaliza-
travessias e ciclistas possam circular em se-
ção e de comunicação.
gurança. Bons projetos de engenharia podem,
inclusive, reduzir a necessidade de fiscalização.
As possibilidades de combinação destes ele-
Por exemplo: faixas estreitas contribuem para a
mentos são quase ilimitadas; começam pelo
moderação da velocidade praticada.
simples desempenho das atividades rotineiras
de gestão e administração do trânsito e che-

74
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

O ambiente viário deve estar preparado para, los motorizados circulam em alta velocidade
no caso de um acidente de trânsito, reduzir precisam contar com elementos físicos que os
a sua severidade. Nesse sentido e de acordo segreguem de pedestres e ciclistas.
com o limite de velocidade da via, é importante
remover ou proteger os obstáculos que possam É preciso estar atento a dois pontos fundamen-
agravar um acidente. tais na melhoria do espaço urbano: a compati-
bilidade entre a velocidade e a função da via; e
Um importante passo para a melhoria e a pro- o desenho viário para evitar conflitos entre os
moção da segurança no ambiente viário é a re- diferentes usuários. A boa prática para elaborar
dução de conflitos entre os diferentes usuários. projetos de ambiente viário seguros passa pela
Quando ocorre um acidente de trânsito, há realização de auditorias de segurança viária.
sempre o risco de lesões e até de morte dos
envolvidos. Esta vulnerabilidade está relacio- Pesquisas internacionais revelam uma relação
nada às diferenças em velocidade, de direção entre a taxa de gravidade dos acidentes e a
quando do impacto e nas massas dos envolvi- velocidade de circulação dos veículos (Federal
dos. Sempre que os veículos e demais usuários, Highway Administration, 1998; Road Accident
com grandes diferenças na massa, compar- Research Unit, 2003). A Figura 38 ilustra a pro-
tilharem o mesmo espaço viário, velocidades babilidade de o acidente se tornar fatal para
precisarão ser baixas para respeitar os mais pedestres de acordo com a velocidade pratica-
vulneráveis. Por exemplo, trecho onde veícu- da pelos veículos.

Figura 38 – Probabilidade de lesão fatal para um pedestre atropelado.

100%

80%

60%

40%

20%

0%
0 10 20 30 40 50 60 70

Velocidade de impacto (km/h)

Fonte: Global Road Safety Partnership, 2012.

75
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

No que diz respeito ao papel da engenharia incidência de acidentes, podem ser instaladas
no redesenho do espaço viário, existem alguns barreiras de proteção contra choques.
princípios que devem ser observados para
garantir a segurança de todos os usuários: Interseções: em geral, correspondem aos
pontos com maior número de conflitos entre
Condições da via: a via deve contar com os usuários do sistema viário. É preciso adotar
manutenção constante de modo a preservar o medidas que reduzam estes conflitos, seja pela
bom estado de todos os seus elementos. A si- restrição de movimentos de conversão ou pela
nalização precisa contemplar todos os usuários introdução de rotatórias. A Figura 39 apresenta
da via. Ela deve ser clara, consistente e infor- os movimentos conflitantes em interseções
mada com antecedência. A iluminação é essen- com quatro aproximações e em rotatórias.
cial para que os usuários visualizem a circula- Pode-se perceber que as rotatórias propiciam
ção e a sinalização. Em relação aos materiais menos conflitos entre movimentos, aumentan-
ou à pintura dos pavimentos, deve-se atentar do assim a segurança viária das interseções.
para que a superfície seja não escorregadia e Além das rotatórias, outras medidas podem
apresente um baixo grau de refletância, para ser utilizadas. Entre elas: regulação semafórica,
não ofuscar a visibilidade dos usuários. Reco- que precisa considerar os volumes de tráfego
menda-se remover objetos grandes da lateral de todos os usuários da via (inclusive pedes-
das vias, como, por exemplo: placas e postes tres); eliminação de movimentos de conversão
de modo a não ocultar pedestres, ciclistas ou à esquerda em vias de mão dupla e inclusão de
veículos que se aproximam. Em locais com alta laços de quadra; ilhas para facilitar a travessia
e propiciar um refúgio seguro para pedestres.

Figura 39 – Movimentos conflitantes em interseções de quatro aproximações


e em rotatórias.

Interseções de 4
Rotatórias
aproximações

32 pontos de 8 pontos de
conflito conflito

Fonte: Manual Ciclociudades, adaptado de FHWA e ITE, 1999.

76
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

Meio de quadra: muitas vezes pedestres po- destres, em vias onde circulam poucos veículos
dem cruzar a via no meio de quadra, em traves- com velocidade bastante reduzida.
sias reguladas ou não. Em geral, os motoristas
não esperam a travessia no meio de quadra e Pedestres: calçadas sempre bem niveladas,
podem não perceber um pedestre que even- sem bloqueios (lixo/entulhos, vendedores
tualmente cruze a via. Logo, é preciso garantir ambulantes etc.) e acessíveis para todos, prin-
que os pontos de travessia sejam bem ilumina- cipalmente pessoas com alguma restrição de
dos e que os pedestres não sejam encobertos mobilidade ou deficiência física. Em interse-
por veículos estacionados, o que dificulta ainda ções, o ideal é ter-se faixa de segurança em to-
mais a visibilidade. das as aproximações. Se o trânsito for intenso,
recomenda-se fase semafórica exclusiva para
Espaços compartilhados: além de aumentar a a travessia de pedestres (tanto em interseções
segurança viária, espaços compartilhados agre- quanto em meio de quadra). Semáforos de pe-
gam valor ao espaço público e transformam a destres com contagem regressiva do tempo em
cidade em um local mais agradável. Consistem, verde reduzem o risco de acidentes envolvendo
basicamente, em ruas em que os distintos gru- pedestres. É importante, sempre que possível,
pos de usuários circulam em um espaço que diminuir as distâncias de travessia dos pedes-
apresenta identidade única. Normalmente, não tres e, assim, reduzir a sua exposição ao risco.
há diferença de nível entre calçada e rua. Ideal Podem ser utilizadas ilhas na via ou avanços do
para centros urbanos com alto volume de pe- passeio nas interseções.

Figura 40 – Medidas para reduzir distâncias de travessias de pedestres.

Fonte: Duduta et al., 2012.

Ciclovias: devem ser preferencialmente inte- recionais. Caso sejam implementadas ciclovias
gradas a uma rede cicloviária. Em interseções, bidirecionais, estas devem ser bem projetadas
recomenda-se a implantação de linha de reten- e sinalizadas, pois pode haver conflitos, princi-
ção para ciclistas à frente da linha de retenção palmente, nas interseções.
do tráfego em geral, facilitando a visualização
dos ciclistas. Pode-se implementar o pré-verde, Para facilitar a conversão à esquerda de ciclis-
que consiste em um semáforo somente para os tas, podem ser introduzidos bike-boxes para
ciclistas, que abre alguns segundos antes do que os de ciclistas façam a conversão em duas
sinal verde para os veículos motorizados, fazen- etapas: o ciclista primeiramente atravessa a in-
do a arrancada dos ciclistas mais segura. Para tercessão retilineamente e espera no bike-box
maior segurança, as ciclovias devem ser unidi- da via transversal, até que o sinal deste sentido
abra e o ciclista possa completar a conversão.

77
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

Figura 41 – Escalonamento da conversão à esquerda para ciclistas.

Fonte: adaptado de Duduta et al., 2012.

Velocidade: o desenho da via pode ajudar a moderação de tráfego podem ser adotadas para
manter os veículos em velocidades compatíveis restringir a velocidade, entre elas: travessias ele-
com o esperado para a via. Diversas medidas de vadas, platôs, estreitamente de faixas e chicanas.

Figura 42 – Travessia elevada, Londrina/PR.

Fonte: Mariana Gil/EMBARQ Brasil.

78
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

Várias são as medidas que podem ser tomadas de transporte. Estas medidas são definidas pelo
para propiciar um ambiente viário mais seguro. “conjunto de estratégias destinadas a mudar
Estas são, em geral, interdisciplinares e vão o padrão de mobilidade das pessoas (como,
além de alterações físicas, podendo ter dimen- quando e para onde a pessoa se desloca) com
são administrativa, legal, educacional, entre ou- a finalidade de aumentar a eficiência dos
tras. Entre elas podem ser citadas: campanhas sistemas de transporte e alcançar objetivos
educacionais, leis e inspeções veiculares. Como específicos de política pública visando ao
cada medida apresenta alcance específico, elas desenvolvimento sustentável. As estratégias
devem ser utilizadas combinadas, de forma a de gerenciamento da mobilidade priorizam o
potencializar seus benefícios. movimento de pessoas e bens em relação ao de
veículos, isto é, meios eficientes de transporte
Os programas de educação merecem destaque como caminhar, usar a bicicleta ou o transporte
especial porque representam a possibilidade público, trabalhar em casa, compartilhar auto-
de promover alterações comportamentais nas móvel etc.” (MEDINA, ITDP México, et al., 2012).
gerações futuras, permitindo a redução pro-
porcional das ações punitivas, principalmente Na elaboração de planos sustentáveis de mobi-
quando recebem apoio decisivo dos meios de lidade urbana, alguns exemplos de instrumen-
comunicação em massa. tos de gestão devem ser levados em considera-
ção de acordo com a Lei n. 12.587/2012.
Além disso, deve ser aproveitado ao máximo
o potencial das ações educativas na difusão a) Restrição e controle de acesso e circula-
do conceito de mobilidade urbana, isto é, os ção de veículos motorizados
programas não podem se restringir à propaga- A Lei n. 12.587/2012 abre a possibilidade aos
ção de um comportamento seguro no trânsito entes federativos de restringir e controlar o
(que sem dúvida é um objetivo fundamental), acesso e a circulação, permanentes ou tem-
devendo ser orientados e complementados por porários, de veículos motorizados em locais e
uma visão mais abrangente de cidadania na horários predeterminados (item I do artigo 23).
circulação, valorização do pedestre e dos meios
de transporte coletivo, preservação do meio O uso de tal instrumento contribui para a
ambiente e inclusão social. criação de ambientes mais seguros e amigáveis
para a caminhada, facilita a acessibilidade do
A SeMob editou o caderno “Moderação de Trá- pedestre e a circulação de bicicletas em áreas
fego: medidas para a humanização da cidade” específicas da cidade. Quando bem planeja-
com referências para a implantação de medidas dos, os ambientes criados estimulam o uso da
de moderação do trânsito nas áreas escolares, via pública para atividades de lazer através de
centros históricos, rodovias que cruzam áreas caminhada ou uso de bicicletas e aumentam
urbanas, dentre outras (disponível na página a atratividade dos modos de transportes não
do Ministério das Cidades na internet www. motorizados. Além disso, esses espaços podem
cidades.gov.br). contribuir para a revitalização e a valorização
de áreas da cidade, favorecer o dinamismo
4.3.4. Instrumentos de gestão do comércio local, a segurança das pessoas
de demanda por viagens com redução das ocorrências de acidentes de
A promoção de mudanças no cenário de mobi- trânsito e a apropriação do espaço público pela
lidade das cidades brasileiras exige a implanta- população dos municípios.
ção de medidas de gerenciamento de demanda

79
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

Figura 43 – Aterro do Flamengo, Figura 44 – Juiz de Fora/MG.


Rio de Janeiro/RJ.

Fonte: Mariana Gil/EMBARQ Brasil.


Fonte: Transporte Ativo.

b) Restrição, controle e monitoramento de Outro instrumento previsto na Lei da Mobilida-


emissões atmosféricas para transportes de Urbana é o monitoramento e o controle das
motorizados emissões dos gases de efeito local e de efeito
A crescente circulação de veículos motorizados estufa dos modos de transporte motorizados,
provoca a emissão de gases poluentes e de facultando a restrição de acesso a determina-
efeitos estufa que impactam na qualidade do das vias em razão da criticidade dos índices
ar e podem causar danos à saúde humana. A de emissões de poluição (item VII do artigo 23).
Lei n. 12.587/2012 abre a possibilidade de uti- O artigo 104 do Código de Trânsito Brasileiro
lização de instrumentos de gestão específicos prevê que os veículos em circulação tenham
com potencial de enfrentar o desafio de reduzir suas condições de segurança, de controle de
esses impactos na qualidade do ar. emissão de gases poluentes e de ruído avalia-
das mediante inspeção, que será obrigatória,
O primeiro instrumento previsto é a adoção de na forma e na periodicidade estabelecidas pelo
padrões de emissão de poluentes para locais e Conselho Nacional de Trânsito – Contran para
horários determinados, podendo condicionar o os itens de segurança, e pelo Conselho Nacio-
acesso e a circulação aos espaços urbanos sob nal de Meio Ambiente – Conama para emissão
controle (item II do artigo 23). Algumas cidades de gases poluentes e ruído. No parágrafo 5
de países europeus como Portugal, Itália, deste artigo está prevista a aplicação de me-
Espanha, Alemanha, Holanda e República dida administrativa de retenção aos veículos
Tcheca estabeleceram Zonas de Emissão de reprovados na inspeção de segurança e na de
Reduzidas. Nessas cidades os veículos que emissão de gases poluentes e ruído.
provocam emissões atmosféricas acima de um
padrão estipulado na norma de emissões da Atualmente, a inspeção veicular é aplicada
Comunidade Europeia são proibidos de circular anualmente no estado do Rio de Janeiro e no
em determinadas zonas dos municípios, e os município de São Paulo. Outros dez estados
infratores estão sujeitos a multas. Na maior previram a aplicação da inspeção nos seus
parte desses municípios, as restrições de Planos de Controle de Poluição Veicular (PCPV)
acesso a esses locais são válidas 24 horas por exigido pela Resolução n. 418/2009 do Conama.
dia o ano inteiro. No entanto, a implementação
costuma ser progressiva com restrições em c) Políticas de estacionamento
horários específicos antes de ampliação dos Outro importante exemplo de instrumento
horários para o dia inteiro. de gestão é a política de estacionamento de
cada município que deve estar presente no

80
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

Plano Municipal de Mobilidade Urbana. A Lei de carência do sistema público podem ser
n. 12.587/2012 incentiva o estabelecimento de positivas e precisam ser planejadas de acordo
políticas de estacionamento, público e privado com as pesquisas sobre transportes disponíveis
com ou sem pagamento, como instrumento de em cada cidade.
gestão da mobilidade.
Todo deslocamento de carro começa e termina
É fundamental, dentro do Plano de Mobilidade em uma vaga, o que torna a legislação referen-
Urbana, desenvolver uma política de estaciona- te ao estacionamento uma forma de adminis-
mento que tenha como objetivo o desestímulo trar o congestionamento e melhorar a qualida-
do uso do automóvel individual e o estímulo ao de do ar. Os estacionamentos também podem
transporte coletivo. ceder espaço público nos centros urbanos
para ciclovias, faixas exclusivas para ônibus ou
Políticas de estacionamento que sirvam de melhorias na paisagem das ruas ou até ajudar
alimentadores de transporte coletivo em áreas a levantar fundos para essas iniciativas.

Figura 45 – Área Azul em Porto Alegre/RS.

Fonte: Luísa Schardong/EMBARQ Brasil.

É importante vincular o estacionamento ao menos conveniente. Como resultado dessas


transporte público e ao planejamento integra- políticas entre 2000 e 2005, a parcela de uso
do dos municípios. Cidades da Europa como do transporte público aumentou 7%, enquanto
Amsterdã, Paris, Zurique e Estrasburgo limitam a quantidade de carros no trânsito caiu 6%.
a área destinada a estacionamento nos novos
empreendimentos, com base na distância até Outra diretriz é cobrar preços racionais pelo
um ponto de ônibus, estação de trem ou metrô. estacionamento nas ruas. Em Paris, a oferta de
Zurique fez investimentos significativos em estacionamento nas ruas foi reduzida em mais
novas linhas de trem e ônibus e, ao mesmo de 9% desde 2003, e do estoque restante, 95%
tempo, tornou o estacionamento mais caro e é estacionamento pago. O resultado, juntamen-

81
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

te com outras melhorias da infraestrutura de As reestruturações do sistema de estacio-


transporte, foi uma redução de 13% na utilização namento ajudam a administrar o congestio-
de automóveis. namento e talvez sejam mais viáveis do que
a cobrança de uma taxa pelo uso do carro,
A maioria das cidades tradicionalmente exige como o pedágio urbano. Enquanto Londres,
um número mínimo de vagas a serem construí- Estocolmo e algumas outras cidades europeias
dos como parte dos novos empreendimentos, conseguiram implementar o pedágio urbano,
geralmente pelo menos uma por unidade resi- um número maior de cidades vem recorrendo à
dencial. Hoje algumas cidades, como Zurique e política de estacionamento.
Copenhague, inverteram essa diretriz e passam
a exigir quantidades máximas para a constru- d) Pedágio urbano
ção de vagas. De acordo com a literatura econômica, a
medida mais efetiva de desincentivo ao uso
Limites máximos de estacionamento foram do automóvel e correção das externalidades
definidos nos distritos comerciais de Zurique negativas seria aquela que levasse em conta
e Hamburgo para congelar a oferta existente, a imposição de uma taxa sobre o tráfego cor-
onde o acesso ao transporte público é mais respondente ao custo externo provocado pelo
fácil. Outra possibilidade é usar a receita tráfego do veículo em uma via congestionada.
excedente derivada das tarifas de estaciona- Ao internalizar a externalidade, o indivíduo to-
mento para dar apoio a outras necessidades maria suas decisões de uso das alternativas de
de mobilidade. Em Barcelona, 100% da receita transportes com base nos custos sociais que
excedente é destinada à operação do Bicing gera, e não apenas nos seus custos privados.
— o sistema público de bicicletas. Diversos Os recursos oriundos da nova taxa poderiam
bairros de Londres usam a receita proveniente ser utilizados para a melhoria nos meios cole-
do estacionamento para subsidiar passagens tivos de transporte. Dessa maneira, haveria a
para pessoas da terceira idade e pessoas com taxação dessa opção de transporte, compen-
necessidades especiais, que usam o transporte sando os custos excessivos que causa para a
público de graça. sociedade, favorecendo-se o modo que traz
mais benefícios sociais (IEMA, 2011).

Quadro 1 – Diferenças entre tipos de pedágios urbanos.

PEDÁGIO DE CORDA PEDÁGIO DE ZONA


PEDÁGIO DE EIXO
OU CORDÃO

Principal Financiamento de Controle do tráfego em Controle do tráfego em


finalidade infraestruturas uma área delimitada uma área delimitada

Uma única via expressa, Todas as vias no interior do Todas as vias no interior
Abrangência
ponte ou túnel cordão da zona delimitada

Passar pelo posto de Cruzar o perímetro do Entrar, circular ou


Fato gerador
coleta de via (praça de cordão de acesso à área estacionar no interior da
da cobrança
pedágio) restrita zona restrita

Formas de
Manual ou automática na Fiscalização eletrônica e Fiscalização eletrônica e
fiscalização e
praça de pedágio cobrança automática cobrança automática
cobrança

Período de Dias úteis, manhã e


Todos os dias (24h) Dias úteis, manhã e tarde
cobrança tarde

82
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

Quadro 1 – Diferenças entre tipos de pedágios urbanos (continuação).

PEDÁGIO DE CORDA PEDÁGIO DE ZONA


PEDÁGIO DE EIXO
OU CORDÃO

Flexibilidade Variável: maior nos horários


Tarifa fixa Pode ser fixa ou variável
da tarifa de pico

Eficácia na
Alta Baixa Baixa
arrecadação

Eficácia na
eliminação
Baixa Alta Alta
de congestio-
namentos

Exemplos Ponte Rio-Niterói Singapura Londres

Fonte: IEMA, 2011.

No estudo “Instrumentos de desestímulo ao com a implantação do LCC, tendo sido eleito


uso do transporte individual motorizado: Lições e reeleito com esse projeto como parte de sua
e recomendações” (IEMA, 2011), Santos e Fraser plataforma política;
(2006) destacam que o pedágio urbano de Lon- sBOÆMJTFEFDVTUPCFOFGÑDJP-POESFTBWBMJPV
dres é um sucesso econômico e político, mas ao longo de muitos anos as várias alternativas
algumas lições devem ser extraídas e levadas de precificação do tráfego e levou em conta
em conta no desenho desse tipo de solução: a análise de custo-benefício, sensibilidade e
elasticidade de cada uma delas;
sJOGPSNBSFPVWJSPQÜCMJDP)PVWFEVBTSPEB- sBWBMJBÌËPEPTFGFJUPTEJTUSJCVUJWPT0EFTFOIP
das de consultas públicas antes da implanta- do sistema deve considerar os ganhadores
ção do LCC que influenciaram suas principais e perdedores com sua implantação e prever
características – valor, forma de aplicação das eventuais compensações;
taxas, limites da zona taxada e período de sDPOTJEFSBÌËPEBTDBSBDUFSÑTUJDBTEPMPDBMEF
cobrança. Canais de comunicação com a popu- implantação. A depender da configuração es-
lação continuam permanentemente abertos. pacial e viária da cidade, esquemas como o de
Além disso, o sistema foi exaustivamente divul- Londres podem não ser a melhor solução;
gado em todos os meios de comunicação; sBGJYBÌËPEBUBYBOËPOFDFTTBSJBNFOUFQSFDJ-
sWPOUBEFQPMÑUJDB0QSFGFJUPEF-POESFT sa se basear no custo marginal.
sempre esteve determinado e comprometido

83
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

Quadro 2 – Efeitos de alguns instrumentos de gestão da demanda.

REDUÇÃO REDUÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO


POTENCIAL DE POTENCIAL DE SOCIAL DA
DANOS AMBIENTAIS CONGESTIONAMENTOS MEDIDA

Restrições ao
estaciona- Média* Média* Médio
mento

Rodízio de
Alta/baixa** Alta/baixa** Médio/baixo**
veículos

Taxa pela
intensidade Alta Média Alto
de uso

Taxa de
congestiona- Média Alta Alto
mentos

*Exceto medidas fiscais de restrição ao estabelecimento, que tendem a aumentar o tráfego de veículos.
**Curto/longo prazo.

Fonte: IEMA, 2011.

Os pedágios urbanos podem ser implantados tempo, uso de combustível e assim aumentar a
de acordo com a Lei n. 12.587/2012, e para eficiência de operação do transporte coletivo.
isso é preciso que a cidade planeje dentro de
seu Plano Municipal de Mobilidade Urbana as A convivência de modos motorizados e não
melhores etapas de sua execução observando motorizados nas mesmas vias de circulação tem
bons exemplos e experiências positivas das impacto na segurança dos usuários de trans-
cidades que já possuem o sistema. porte não motorizados ao aumentar os riscos de
ocorrência de acidentes que colocam em perigo
e) Vias exclusivas para transporte público a integridade física e a vida dessas pessoas. A
coletivo e transporte não motorizado implantação de vias exclusivas para a circulação
A convivência de veículos individuais, coleti- de meios transporte não motorizados contribui
vos e transporte não motorizado nas mesmas para a melhoria das condições de segurança do
faixas de circulação viária causa uma série de uso desses meios de transporte, tornando-os
efeitos negativos em termos na circulação e mais atrativos, permitindo estimular o uso de
segurança das pessoas. modos de transporte menos impactantes para o
meio ambiente e que tenham efeitos benéficos
O compartilhamento das vias por esses modos para a saúde de seus usuários.
de transporte afeta a velocidade de circulação
do transporte coletivo que em média contribui A Lei n. 12.587/2012 incentiva a dedicação de
para o deslocamento da mesma quantidade espaço exclusivo nas vias públicas para os ser-
de pessoas que 50 automóveis. Nesse caso, a viços de transporte público coletivo e modos
implantação de vias exclusivas para circulação de transporte não motorizados (item IV, art.
de transporte público coletivo permite aumen- 23). Quando bem planejadas, com integração
tar a atratividade desse modo de transporte ao com outros meios de transporte, sinalização
contribuir para o aumento da fluidez de circula- e comunicação adequada, essas medidas
ção do transporte público coletivo. Além disso, favorecem modos de transporte utilizados pela
essa medida contribui para gerar economia de maioria da população de forma mais segura e

84
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

eficiente ao mesmo tempo em que contribuem Conforme mencionado no capítulo 4, as vias


para restabelecer uma distribuição mais justa e segregadas para transporte público coletivo
equitativa da infraestrutura viária. podem tomar a forma de corredores, BRS e BRT.

Figura 46 – BRT TransOeste, no Rio de Janeiro/RJ.

Fonte: Stefano Aguiar/ITDP.

Os modos de transporte não motorizados e a implantação de vias para os modos não


abrangem principalmente o deslocamento de motorizados vinculadas aos eixos segregados
pedestres e ciclistas, cujas vias segregadas de transporte público coletivo, garantindo a
seriam as calçadas e as ciclovias/ciclofaixas segurança nos deslocamentos e possibilitan-
respectivamente. É importante o planejamento do o acesso direto às estações e terminais de
transporte público coletivo.

Figura 47 – Ciclovia na Av. Graça Aranha, no centro do Rio de Janeiro/RJ.

Fonte: Bernardo Serra/ITDP.

85
4 Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana

Figura 48 – Ciclofaixa foi adotada em Esses instrumentos já são utilizados em grandes


vias de menor intensidade no fluxo centros urbanos brasileiros, e sua implementa-
de automóveis. ção exige uma comunicação clara das regras e
fiscalização adequada para seu cumprimento.

g) Convênios para combater o transporte


ilegal de passageiros
O transporte ilegal de passageiros coloca em
risco a segurança física e jurídica dos usuários
e da população em geral. Nesse sentido, a Lei
n. 12.587/2012 prevê como instrumento de
gestão o estabelecimento de convênios para
combater essa atividade. O objetivo é estimular
Prefeituras, estados e demais atores envolvi-
dos a estabelecer convênios para regulação,
Fonte: Maria Luiza Brandão/Blog A Malu de Bicicleta.
fiscalização e desenvolvimento de soluções que
inibam o transporte ilegal de passageiros.
f) Controle da circulação de transporte
de carga h) Convênios para transporte coletivo
O transporte de carga é necessário no des- urbano internacional
locamento de mercadorias, alimentos e O estabelecimento de um transporte coletivo
utensílios que são utilizados e consumidos urbano internacional em cidades gêmeas en-
nas cidades. No entanto, no cenário atual de volve particularidades e desafios por extrapolar
crescimento populacional e de congestiona- os limites do território nacional e exigir articu-
mentos crescentes das cidades brasileiras, lações com autoridades públicas estrangeiras.
a circulação de carga torna-se mais um fator Para enfrentar essas peculiaridades, a Lei da
que compromete a fluidez dos deslocamentos. Mobilidade Urbana prevê o estabelecimento
Os veículos que transportam cargas costu- de convênio para o transporte coletivo urba-
mam ocupar grandes parcelas do espaço no internacional nas cidades definidas como
viário e ao mesmo tempo afetam a microa- cidades gêmeas nas regiões de fronteira do
cessibilidade de diversas áreas da cidade. Brasil com outros países, observado o art. 178
da Constituição Federal.
Para reduzir os impactos da circulação de
transporte de cargas no meio urbano, a Lei n.
Figura 49 – Ciclovia em São Paulo/SP.
12.587/2012 prevê o controle de uso e operação
da infraestrutura viária destinada à circulação e
à operação do transporte de carga, conceden-
do prioridades ou restrições. Este instrumento
permite estabelecer restrições ao transporte de
carga durante os horários mais comprometidos
com excesso de veículos, reduzir conflitos e
otimizar a eficiência do sistema viário. A adoção
de medidas de controles e restrições deste
tipo promove o abastecimento da cidade de
forma programada e possibilita a realização das
entregas com menor desgaste ao transportador. Fonte: Mariana Gil/EMBARQ Brasil.

86
Componentes do Sistema de Mobilidade Urbana 4

87
1 Apresentação

88
Apresentação 1

05

MOBILIDADE
URBANA E MEIO
AMBIENTE
89
5 Mobilidade Urbana e Meio Ambiente

O objetivo deste capítulo é explorar a inter-re- falhas no sistema de energia, ocorrência de


lação entre as condições de mobilidade e a doenças, dentre outras.
qualidade ambiental nas cidades, e, com isso,
destacar o papel dos Planos de Mobilidade A concepção de um sistema de mobilidade
Urbana como instrumentos de melhoria da resiliente considera a capacidade de se prepa-
qualidade do ambiente. rar, responder e se recuperar após um evento
extremo. Para tal, além de investimentos em
Entre as diversas inter-relações entre mobilida- atividades próprias de adaptação como modifi-
de e meio ambiente, cabe ressaltar a impor- cações da infraestrutura em função da proba-
tância de atentar aos efeitos das mudanças bilidade de ocorrência de eventos extremos, o
climáticas. Dependendo de cada local, estas desenvolvimento de um sistema de mobilidade
mudanças podem se traduzir por um aumento resiliente exige o fortalecimento dos sistemas,
do nível de precipitação, evolução no núme- para que estes ofereçam suporte à realização
ro de ocorrência de dias secos, aumento da dos deslocamentos, tais como distribuição de
temperatura média, evolução do nível do mar, energia, comunicação entre colaboradores e
formação de ondas de calor, aumento da inten- com usuários ou acesso a combustível.
sidade dos ventos ou de dias de frio intenso,
dentre outros. Também devem ser previstas redundâncias
que permitem o funcionamento do sistema
A evolução das condições climáticas pode em casos extremos, tais como rotas alterna-
prejudicar infraestruturas e diversos sistemas tivas em caso de enchente de algumas vias
que permitem os deslocamentos de pessoas e ou falha na estrutura de uma ponte, sistemas
cargas. Em casos de ocorrência de eventos cli- alternativos de fornecimento de energia ou de
máticos extremos, como, por exemplo, grandes comunicação. Vale ressaltar que tanto para a
tempestades, as condições climáticas podem adaptação como para a resiliência devem ser
até mesmo chegar a impossibilitar a realização consideradas as interdependências entre o
dos deslocamentos e paralisar o sistema de sistema de mobilidade e outros setores, tais
mobilidade local. A capacidade de adaptação como fornecimento de energia, combustível ou
às condições climáticas, que geram impactos telecomunicações, entre outros.
no sistema de mobilidade, exige planejamen-
to de infraestrutura e de operação em locais 5.1. Mobilidade Urbana, qualidade
onde a evolução dos níveis médios dos eventos ambiental e mudanças climáticas
climáticos justificam tais investimentos. A
A gestão da mobilidade urbana, centrada na
decisão de investimentos deve estar respalda-
melhoria da fluidez dos veículos, tem reforça-
da em estudos sobre a evolução das condições
do um comportamento vicioso de crescente
climáticas, seus riscos e impactos no sistema
demanda por mais espaço viário. Além disso,
de mobilidade, assim como na análise custo/
esse modelo de planejamento e gestão da
benefícios das intervenções identificadas como
mobilidade urbana (ou a sua falta) tem acarre-
necessárias para adaptação do sistema.
tado impactos socioambientais, podendo-se
destacar o aumento nas emissões de gases de
Além dos esforços para adaptação de infraes-
efeito estufa e da poluição atmosférica, sonora
trutura às condições médias do clima, vale des-
e visual, a degradação dos espaços de convi-
tacar a importância de pensar na resiliência do
vência urbana etc.
sistema de mobilidade. A resiliência pode ser
definida pela capacidade de voltar ao funciona-
Segundo o Inventário Nacional de Emissões
mento normal após um evento extremo. Neste
Atmosféricas por Veículos Automotores Ro-
conceito, o foco está na resposta a eventos
doviários (MMA, 2014), as emissões de gases
extremos que podem ser de ordem climática,
de efeito estufa no transporte de passageiros
mas também podem ser considerados outros
como um todo, e no individual motorizado em
tipos de ameaça tais como ataques terroristas,

90
Mobilidade Urbana e Meio Ambiente 5

particular, têm aumentado significativamente brasileiras associadas ao uso de energia e


nas últimas décadas, chegando a pouco mais quase se igualou às emissões associadas
de 100 MtCO2e, conforme ilustração abaixo, aos processos industriais, que atingiram
que trata do aumento de emissões de cada 84 MtCO2e no mesmo ano (OC, 2013).
fonte. Desse total, 60% vêm dos automóveis e
3% das motocicletas, contra 14% dos ônibus Dados obtidos a partir dos inventários de
urbanos de transporte coletivo. emissões de gases de efeito estufa de algumas
das capitais mais populosas do País reforçam
Só em 2013, o transporte individual moto- o predomínio do setor de transportes como a
rizado foi responsável por 80,2 MtCO2e, o principal fonte de emissões locais, conforme
que correspondeu a 18,2% das emissões detalha o Quadro 3.

Quadro 3 – Participação do subsetor de transportes nas emissões locais de gases de efeito


estufa em capitais brasileiras.

MUNICÍPIO FONTE RESULTADOS

O setor de energia respondeu por 76,14%


das emissões totais de gases de efeito
Inventário de Emissões de Gases
estufa do município em 2003. 78,54% das
de Efeito Estufa do Município de
emissões correspondentes ao setor de ener-
São Paulo São Paulo – publicado pela Secre-
gia tiveram como fonte o subsetor de trans-
taria do Verde e Meio Ambiente
portes. Só combustão da gasolina respondeu
em 2005.
por 35,2% e o diesel por 32,6% das emissões
do setor de energia.

Inventário e cenários de emissões O setor de energia respondeu por 73% das


dos gases de efeito estufa da emissões totais de gases de efeito estufa do
Rio de Janeiro cidade do Rio de Janeiro – município em 2005. 66% das emissões do se-
publicado pela Prefeitura do Rio tor de energia originaram-se do subsetor de
de Janeiro em 2011. transportes, em especial o rodoviário (80,1%).

Inventário Municipal de Emissões


O subsetor de transportes foi o responsável
de Gases de Efeito Estufa –
Belo Horizonte por 66% das emissões totais de gases de
publicado pela Prefeitura Munici-
efeito estufa do município em 2007.
pal de Belo Horizonte em 2009.

Fonte: baseado nos inventários de emissões de gases de efeito estufa oficiais (Prefeitura de Belo Horizonte, 2009;
Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo, 2005; Prefeitura do Rio de Janeiro, 2011).

Caso não haja mudanças nos sistemas de para a Mitigação e Adaptação da Mudança do
mobilidade urbana das cidades brasileiras, Clima (PSTM), elaborado pelos Ministérios dos
além do agravamento da crise já presente – Transportes e das Cidades (MT&MCID, 2013),
congestionamentos, aumento das vítimas do as emissões de CO2 associadas ao transporte
trânsito, aumento no tempo de deslocamentos, de passageiros atingirão 135,4 Mt em 2020, o
elevação dos custos operacionais do transporte que representa um crescimento de 51.6% em
público, exclusão social etc. –, é de se esperar relação ao ano-base 2010.
um crescimento acelerado das emissões de
gases de efeito estufa do setor de transportes, Além desses gases, o setor de transportes tam-
bem como da poluição atmosférica. bém tem se revelado como o principal vetor
da poluição atmosférica, uma vez que estes
Conforme projeções feitas pelo Plano Seto- emitem vários poluentes de efeito local como
rial de Transportes e da Mobilidade Urbana óxidos de nitrogênio (NOx), monóxido de car-

91
5 Mobilidade Urbana e Meio Ambiente

bono (CO), material particulado (MP), aldeídos 5.2. Mobilidade urbana e desenvolvi-
etc. – que se relacionam diretamente com os mento urbano sustentável
efeitos negativos à saúde humana.
As questões relativas aos transportes vêm sen-
do tratadas com destaque dentro das preocupa-
Este é o caso, por exemplo, das duas regiões
ções ambientais. Diversos tratados, convenções
metropolitanas mais populosas do País – Rio de
e declarações internacionais, tais como a Agen-
Janeiro (RMRJ) e São Paulo (RMSP). Segundo o
da 21, a Convenção-Quadro das Nações Unidas
Inea (2013), em 2004 os veículos automotores já
sobre Mudanças Climáticas, as Conferências das
respondiam por 77% das emissões de poluen-
Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos
tes atmosféricos na RMRJ. Já na RMSP, o Relató-
(UN-Habitat), dentre outros, vêm alertando a
rio de Qualidade do Ar da Cetesb (2013) aponta
necessidade de alteração dos padrões de com-
que os veículos são responsáveis por 97% das
portamento do setor, cobrando investimentos
emissões de CO, 77% de hidrocarbonetos (HC),
em tecnologias menos poluentes e sistemas de
80% de NOx, 37% de óxidos de enxofre (SOx) e
circulação que reduzam os impactos ambientais
40% de material particulado (MP).
associados à mobilidade urbana.

Dados sistematizados pelo IEMA, a partir de


Especificamente dentro da Agenda 21, foram
informações prestadas pelos órgãos estaduais
definidos objetivos fundamentais para o setor
de meio ambiente, mostram que as concen-
de transportes para a promoção do desen-
trações de alguns poluentes atmosféricos
volvimento urbano sustentável, por meio da
têm-se situado acima dos padrões nacionais
utilização de energias alternativas e renováveis,
de qualidade do ar e das recomendações da
redução dos níveis de emissão de poluição
Organização Mundial da Saúde (OMS). Este é o
atmosférica e sonora. O conceito de transporte
caso, por exemplo, do ozônio troposférico (O3)
ambientalmente sustentável foi então definido
e do material particulado (MP10) – poluentes
como “os transportes que não colocam em pe-
altamente perniciosos à saúde humana e que
rigo a saúde pública ou os ecossistemas, e têm
têm origem sobretudo nas emissões por carros,
necessidades consistentes com uma taxa de
motos, caminhões e ônibus.
utilização de recursos não renováveis inferior
à sua taxa de regeneração, e com um ritmo de
Segundo a Organização Mundial da Saúde
utilização dos recursos não renováveis inferior
(WHO, 2005), as altas concentrações de poluen-
ao ritmo de desenvolvimento de substitutos
tes na atmosfera situam-se entre as principais
renováveis” (CESUR, 1999).
causas de problemas respiratórios e cardio-
vasculares. No Brasil, estudos reforçam o papel
A introdução do conceito de sustentabilidade
da poluição do ar como vetor dos problemas
ao transporte só faz sentido quando se discute
de saúde pública, com maiores custos sobre
as cidades sob essa mesma ótica, mas, ainda
o sistema de saúde do País (OLMO et al., 2011;
assim, essa é uma abordagem com múltiplas
MIRANDA et al., 2012).
interpretações, e nem sempre otimistas.

Assim, sob a perspectiva ambiental, o desafio


O conceito de cidade sustentável, assim como
que se apresenta é a adoção de um conjunto de
o conceito de desenvolvimento sustentável,
medidas que, ao mesmo tempo em que viabili-
tem sido objeto de vários estudos e definições
zam o melhor desempenho ambiental do trans-
desde a elaboração do Relatório Brundtland
porte público, também promovem a transferên-
em 1987, mas ganhou destaque a partir da
cia modal do transporte individual motorizado
Conferência Mundial das Nações Unidas Sobre
para os modos não motorizados e coletivo. Isso
Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada
requer uma nova concepção de políticas para o
no Rio de Janeiro em 1992, na qual foi apro-
melhor deslocamento das pessoas.
vado o documento da Agenda 21, propondo
diretrizes de sustentabilidade para a gestão

92
Mobilidade Urbana e Meio Ambiente 5

do território. No entanto, existem correntes ao atual modelo de mobilidade, centrado no


para as quais, por definição, as cidades seriam automóvel, cujos efeitos negativos e os custos
insustentáveis, pois abrigam uma densidade de sua circulação são socializados. Esta prio-
de população demasiado alta para se auto- ridade na política não considera a divisão dos
manter. Isso induz ao questionamento sobre modos de transporte utilizados pela população.
quais seriam as implicações em termos do uso
do solo, do consumo energético, da poluição do Sattertwaite (2004) traz uma importante refle-
ar e das mudanças climáticas, de se vulgarizar xão sobre a sustentabilidade e suas definições
o uso do automóvel. imprecisas, ao comentar que a sustentabili-
dade social “...poderá ser considerada como
Segundo Martinelli, pode-se dizer que não há sendo a sustentação das sociedades atuais e
cidades sustentáveis, mas sim uma busca por suas estruturas sociais, quando a satisfação de
sua sustentabilidade. Nessa ótica, é necessá- necessidades humanas sem o esgotamento do
rio pensar as cidades dentro de um processo capital ambiental implica mudanças impor-
de progressiva implementação de critérios de tantes nas estruturas sociais existentes”. Esta
sustentabilidade, que exigem o reconhecimen- relação é importante para percebermos que a
to de valores, atitudes e princípios, tanto nas construção de cidades sustentáveis passa pela
esferas públicas como privadas e individuais mudança do padrão de consumo de espaço
da vida urbana. urbano para a circulação de veículos e do uso
de combustíveis fósseis, exigindo a reversão do
Já Davis (2006) afirma que as cidades são a atual modelo de mobilidade. A necessidade de
solução para a crise ambiental global, uma vez maior clareza na discussão sobre sustentabili-
que a densidade urbana pode traduzir-se em dade e sua relação com a mobilidade urbana é
maior eficiência do uso da terra, da energia e abordada por Vasconcellos (2007), onde ques-
dos recursos naturais, enquanto os espaços tiona o que deve ser sustentado e para quem,
públicos democráticos e as instituições cul- nos países em desenvolvimento.
turais também oferecem padrões de diversão
de qualidade superior ao consumo individua- Mesmo que os conceitos e formas de avaliação
lizado. Maricato destaca, na mesma obra, que sobre o desenvolvimento sustentável das cida-
Davis contribui para a tese da impossibilidade des sejam imprecisos e ainda requeiram muita
de se separar a sustentabilidade ambiental da discussão, sua aplicação à mobilidade urbana
condição de pobreza em massa. Pode-se avan- tem ganhado força, assumindo, como objetivo
çar nesta direção, mostrando-se a necessidade final, que todas as pessoas tenham acesso a
de se discutir também o padrão de consumo e bens e serviços de maneira eficiente, fazendo-o
apropriação das vantagens da cidade por parte da forma menos impactante possível ao meio
das pessoas de diferentes rendas. Ao usarem, ambiente (MIRANDA, 2010).
cada vez mais, o transporte individual, as pes-
soas de mais alta renda contribuem para piorar Agregar essa visão corresponde a adotar crité-
a qualidade de vida na cidade, através do rios antes desconsiderados no tratamento dado
maior consumo de espaço público para circular ao tema da mobilidade, focado quase exclusiva-
e estacionar veículos, consumo de combustí- mente na fluidez do tráfego de veículos e infra-
veis e ineficiência energética, além da poluição estrutura. Com a incorporação do nome sus-
atmosférica e sonora. tentável ao conceito de mobilidade, buscou-se
reforçar que outros valores deveriam ser levados
Atualmente, prevalece uma visão de que a em conta para seu planejamento, como: aspec-
cidade pode continuamente se expandir, resul- tos sociais, políticos, econômicos e ambientais;
tando em pressão sobre áreas de preservação, os modos não motorizados de transporte e a ca-
e desconsideram-se os custos de implantação pacidade de planejamento integrado da cidade,
da infraestrutura necessária para dar suporte conforme detalhado no Quadro 4.

93
5 Mobilidade Urbana e Meio Ambiente

Quadro 4 – Características da mobilidade urbana sustentável perante a abordagem


tradicional de gestão de transportes urbanos.

MOBILIDADE – VISÃO MOBILIDADE SUSTENTÁVEL –


ASPECTOS
TRADICIONAL VISÃO ATUAL

Deve assegurar, junto com o planejamento


Definição/Atribui- do uso do solo, o acesso a bens e serviços
Viabilizar o fluxo de veículos
ções de um siste- eficientemente a todos, com diversidade
motorizados.
ma de transporte modal e protegendo o meio ambiente e a
saúde humana.

Principalmente os modos moto- Todos os modos, com atenção especial aos


Modos considera-
rizados, vistos como melhores não motorizados. Cada modo cumpre uma
dos/priorizados
porque mais rápidos. função na cidade.

Indicadores Também: consumo de espaço viário, emis-


VKT, Volume/Capacidade.
comuns sões de poluentes (eficiência energética).

Benefícios ao con-
Maximizar viagens Maximizar possibilidade de escolha modal,
sumidor conside-
(motorizados). tendo em vista a eficiência energética.
rados

Indutor de uma ocupação do solo


dispersa, usos do solo separados, Pensamento integrado, indutor de
Consideração do
pensamento geralmente disso- adensamento populacional e compacidade,
uso do solo
ciado do planejamento de uso usos mistos.
do solo.

Diversificação da oferta modal e ampliação


Estratégias de me- Melhoria de vias e aumento da
de modos mais eficientes no uso do espaço
lhoria favorecidas oferta de estacionamento.
urbano.

Fonte: adaptado de Litman (2003), com dados de Miranda (2010).

De acordo com UN-HABITAT (2013), sob a localização dos estabelecimentos de traba-


perspectiva ambiental, a mobilidade urbana lho, estudo, lazer e de residência, bem como
sustentável aponta para três macroestratégias às dinâmicas sociais e econômicas que se
complementares de ação: estabelecem entre eles. Quanto mais espraiada
e desigual a cidade, maior a necessidade de
sSFEVÌËPEBOFDFTTJEBEFEFWJBHFOTNPUPSJ- provisão da infraestrutura viária e de transpor-
zadas; tes e, consequentemente, consumo energético,
sNVEBOÌBEFWJBHFOTQBSBPTNPEPTEFUSBOT- emissões e poluição.
porte público coletivo e os não motorizados;
sJOPWBÌÚFTUFDOPMÖHJDBTEPTWFÑDVMPTFVUJMJ[B- O enfrentamento dessa questão perpassa ne-
ção de combustíveis mais limpos (incorporação cessariamente pela integração entre o planeja-
de tecnologias de controle de emissões e de mento e o controle da ocupação do solo urbano
melhoria da eficiência energética). com o da mobilidade, o que inclui a descentra-
lização das atividades essenciais na cidade, do
5.2.1. Redução da necessidade de adensamento populacional e da promoção de
viagens motorizadas atividades de serviço, lazer ou estudo junto aos
eixos de transporte público coletivo.
O modo como as pessoas se deslocam nas
cidades está intrinsecamente relacionado à

94
Mobilidade Urbana e Meio Ambiente 5

5.2.2. Mudança de viagens para modos dentre os quais o atingimento de metas de


de transporte público coletivo e para os eficiência energética para veículos leves até
não motorizados 2017. Além disso, também têm sido propostos
incentivos para automóveis híbridos e elétricos.
A transferência modal tem sido colocada como
um dos principais mecanismos de melhoria
Essas várias iniciativas contribuem inegavel-
ambiental nos transportes urbanos, já que
mente para a redução das emissões de poluen-
prevê como diretrizes: (i) a implantação de
tes locais e de gases de efeito estufa lançados
infraestrutura, por meio de projetos destina-
pelos veículos e precisam ser mantidas. No
dos a ampliar a oferta e melhorar a qualidade
entanto, não se mostram suficientes para o
do transporte coletivo (metrô, BRT, faixas
enfrentamento da poluição atmosférica e das
exclusivas de ônibus, terminais de integração),
mudanças climáticas.
dos sistemas cicloviários e das calçadas e
condições de circulação dos pedestres; e (ii) a
Não se pode negar que as ações têm sido
adoção de instrumentos regulatórios e econô-
orientadas quase que exclusivamente para
micos que desestimulem o uso do transporte
os automóveis, enquanto os ônibus urbanos
individual motorizado.
continuam fortemente dependentes do óleo
diesel como fonte de energia. E caso os esfor-
Além da priorização do transporte público cole-
ços para promover combustíveis renováveis e,
tivo, a ampliação e a adequação da infraestrutu-
mais recentemente, eficiência energética não
ra para os modais não motorizados também se
alcancem os veículos para transporte público,
revelam uma alternativa ambientalmente mais
poderemos, num futuro próximo, estar diante
adequada. Por exemplo, a bicicleta destaca-se
de uma situação na qual uma eventual trans-
como uma opção não poluente e eficiente, prin-
ferência de passageiros do modal individual
cipalmente, nos deslocamentos de até 5 km,
(automóveis e motos) para o coletivo (ônibus)
mostrando-se bastante competitiva em relação
será acompanhada de aumento das emissões.
ao transporte individual motorizado. Para tanto,
Sob esta perspectiva, fazem-se necessários o
o planejamento da mobilidade urbana deve
desenho e a implantação de instrumentos de
passar a ver a bicicleta também como um mo-
política pública que incentivem a utilização de
dal de transporte, integrando-o ao transporte
outras fontes de energia para o transporte co-
público, por meio de um sistema que contem-
letivo – etanol, biodiesel, eletricidade, híbridos
ple uma rede de ciclovias, ciclofaixas, ciclorro-
etc. (BOARETO e FERREIRA, 2013).
tas, bicicletários e paraciclos (IEMA, 2010).

A adoção de padrões de eficiência energética e


5.2.3. Inovações tecnológicas nos
o desenvolvimento tecnológico dos veículos não
veículos
estão ao alcance da gestão municipal. O muni-
As iniciativas governamentais para solucionar cípio tem condições de promover a melhoria da
os principais problemas ambientais associados eficiência energética do sistema de transporte
ao transporte têm focado nas inovações tecno- coletivo por meio de sua priorização no sistema
lógicas para controle de emissões dos veículos. viário existente, aumentando sua velocidade
Desde a década de 1970, com a criação do Pro- operacional e diminuindo assim o consumo de
-Álcool, o País tem ofertado etanol – anidro e energia e a emissão de poluentes, que prejudi-
hidratado – para o uso em automóveis, e conta cam a qualidade do ar, e gases de efeito estufa,
com um Programa de Controle da Poluição do que promovem as mudanças climáticas.
Ar por Veículos Automotores – o Proconve.
Para citar um exemplo, a priorização dos
Mais recentemente, em 2012, o governo federal ônibus no sistema viário pela implantação de
estabeleceu o Programa de Incentivo à Inovação faixas exclusivas e corredores é uma medida de
Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produ- gestão da mobilidade que resulta em econo-
tiva de Veículos Automotores (Inovar Auto), que mia de tempo para o usuário, reduz o custo
é um regime fiscal diferenciado para montado- operacional e promove redução de emissões.
ras que cumprirem um conjunto de requisitos, Um estudo patrocinado pela Fundação Hewlett

95
5 Mobilidade Urbana e Meio Ambiente

e conduzido pela SPTrans, sob supervisão téc- potencial de conservação de energia e de re-
nica do Instituto de Pesquisa Tecnológicas da dução de emissões associadas à melhoria das
USP (IPT, 2007), demonstrou haver um grande condições operacionais dos ônibus urbanos.

Figura 50 – Influência das condições operacionais dos ônibus nas emissões e no consumo
de combustível.

120%

100%

80%

60%

40%

20%

0%
CO HC NOX MP2,5 Consumo Consumo
ISSRC IPT

LEGENDA:
Manhattan
Orange County
Expresso

Fonte: IPT, 2007.

Observa-se na Figura 50 que, em relação a uma Medidas de ampliação da oferta e melhoria da


condição de tráfego mais desfavorável e típi- qualidade do transporte público, combinadas
co de uma grande cidade (ciclo “Manhattan”), com sua prioridade no sistema viário, a amplia-
as reduções de consumo de combustível e de ção das possibilidades do uso do transporte
emissões são: não motorizado e medidas de desestímulo ao
uso do transporte individual estão ao alcance
sOPDJDMPi0SBOHF$PVOUZv RVFTJNVMBGBJYB das administrações municipais, que podem,
exclusiva de ônibus, da ordem de 20% no con- assim, contribuir para a construção de cidades
sumo de combustível, de 38% nas emissões de sustentáveis.
CO e HC, de 26% de NOx e de 44% de material
particulado;
5.3. Planos de Mobilidade Urbana
sOPDJDMPi&YQSFTTPv RVFTJNVMBBDPOEJÌËP
como instrumentos de melhoria
de operação similar à de um BRT, da ordem de
ambiental
52% no consumo de combustível, de 74% nas
emissões de CO, de 46% de HC e de 57% de Como visto no item 5.1, em um contexto no
NOx e de material particulado. qual os transportes urbanos se configuram
entre os principais vetores das emissões de

96
Mobilidade Urbana e Meio Ambiente 5

gases de efeito estufa e da poluição do ar nas ambiental. Por esta razão, esta também deve
cidades brasileiras, não se pode negligenciar ser vista como uma de suas finalidades, num
aos Planos de Mobilidade Urbana o papel de sentido mais estrito, e da própria mobilidade
promotores das condições para a melhoria urbana, numa visão mais ampla (Figura 51).

Figura 51 – Finalidades dos Planos de Mobilidade Urbana.

Integração aos mecanismos


de planejamento urbano e
Promoção de serviços de
ordenação do uso e da
transporte e de infraestrutura
ocupação do solo com vistas
da mobilidade urbana
à garantir a efetividade do
direito à cidade

PLANO DE
MOBILIDADE URBANA

Contribuição para a politica


Incorporação da mobilidade
climática e energética,
urbana como instrumento
reduzindo emissões de GEE
de promoção da qualidade
e promovendo eficiência no
ambiental
consumo de combustíveis

Fonte: elaboração IEMA.

Um estudo feito pelo IEMA (IEMA & BHTRANS, das frotas de ônibus e automóveis utilizados
2013), a partir do Plano de Mobilidade Urbana pela população.
de Belo Horizonte (PlanMob-BH), é um exemplo
do potencial de redução de emissões que um O estudo estimou a redução de emissões de
planejamento dessa natureza pode apresentar. poluentes locais e gases de efeito estufa, prin-
O Plano da capital mineira indica a implemen- cipalmente CO2, resultantes da implantação
tação de um conjunto de projetos até o ano de de BRTs, metrô e rede cicloviária projetados e a
2020, incluindo, num cenário de maior inter- adoção de instrumentos de gestão de demanda
venção no planejamento urbano e da mobi- de viagens, previstos neste Plano de Mobilidade
lidade (Cenário Transformador), uma rede de Urbana. Como resultado, chegou-se a uma re-
160 km de BRTs, 60 km de metrô, um sistema dução estimada, no horário de pico, de 18% no
cicloviário de mais de 300 km, obras viárias consumo de combustível, 22% dos NMHC, 22%
para o transporte público e a melhoria das de CO, 19% de NOx, 22% dos NCHO, 22% de
calçadas. Estão previstas também mudanças CH4 e 28% de CO2, em 2020, em comparação
na gestão de estacionamento e o estímulo ao com o cenário tendencial, em uma hora de pico
adensamento populacional ao longo dos corre- das viagens diárias de Belo Horizonte.
dores estruturais de transporte coletivo. Estas
medidas têm o potencial de alterar a divisão Como se vê, é possível que os Planos de
modal da cidade no Cenário Tendencial, o total Mobilidade Urbana abram a oportunidade aos
de quilômetros percorridos (Vehicle Kilometers municípios de viabilizarem uma gestão integra-
Travelled – VKT) e o consumo de combustível da e integradora com outras políticas públicas,

97
5 Mobilidade Urbana e Meio Ambiente

como a de mudanças climáticas e a de meio possam causar degradação ambiental, conside-


ambiente. Essa integração faz especial sentido rando as disposições legais e regulamentares e
naqueles municípios que já estruturam políti- as normas técnicas aplicáveis ao caso (Resolu-
cas voltadas ao abatimento das emissões de ção do Conama 237/1997, art. 1º, I).
GEE, chegando a estabelecer inclusive metas
de redução. Neste sentido, o licenciamento ambiental
mostra-se mandatório para alguns empreendi-
Exatamente em função do papel que a mo- mentos e atividades relacionados à mobilidade
bilidade urbana pode exercer sobre a quali- urbana, tais como as obras e intervenções
dade do ambiente, é essencial que os planos viárias, a construção, a instalação e a operação
contemplem mecanismos efetivos de monito- de sistemas de transporte de médio e grande
ramento do desempenho ambiental de suas porte (como metrôs, trens urbanos, corredores
medidas, incorporando metas e indicadores de ônibus, terminais de integração etc.), prin-
aos planos de mobilidade, os quais serão me- cipalmente considerando o potencial impacto
lhor detalhados no capítulo 7. ambiental que estes podem provocar.

5.4. Licenciamento ambiental na Em alguns casos, como os transportes me-


Mobilidade Urbana tropolitanos, o licenciamento ambiental é
obrigatório por imposição legal (Resolução do
Como mencionado anteriormente, o conceito
Conama 237/1997, Anexo I). Em outros, é preci-
de sustentabilidade ambiental foi incluído,
so avaliar a extensão da legislação estadual e
pela Lei n. 12.587/2012, dentre os princípios,
municipal pertinente, ou mesmo a orientação
objetivos e diretrizes da política de mobili-
do órgão ambiental competente.
dade urbana. Constitui também fundamento
da política urbana, conforme o Estatuto da
O estabelecimento do órgão ambiental com-
Cidade (Lei n. 10.257/2001, art. 2º, I, IV, VI, g). E
petente deve seguir as diretrizes previstas na
não poderia ser diferente, já que a Constituição
Lei Complementar n. 140/2011. Segundo esta
Federal de 1988, no seu art. 225, eleva o meio
lei, os órgãos municipais de meio ambiente
ambiente ecologicamente equilibrado a um di-
têm a atribuição de conduzir o licenciamento
reito fundamental, posto que essencial à sadia
desde que os empreendimentos ou atividades
qualidade de vida, obrigando o Poder Público e
a serem licenciados causem ou possam causar
a coletividade a protegê-lo para as presentes e
impacto ambiental de âmbito local, conforme
futuras gerações.
tipologia definida pelos respectivos Conse-
lhos Estaduais de Meio Ambiente – Consemas,
De modo a garantir minimamente a qualidade
considerados os critérios de porte, potencial
ambiental, inclusive urbana, a legislação brasi-
poluidor e natureza da atividade (art. 9º, XIV).
leira estabeleceu um conjunto de instrumentos
É preciso verificar, assim, se, no estado onde
de controle e gestão ambiental, dentre estes o
se pretende implantar determinada obra ou
licenciamento ambiental, conforme disciplinado
empreendimento de mobilidade, já há normati-
na Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n.
va do Consema a esse respeito. Em inexistindo,
6.938/1981, art. 9º). Trata-se de um procedimen-
a atribuição pelo licenciamento recai sobre o
to administrativo que tem por objetivo último a
órgão estadual de meio ambiente2.
prevenção de significativos impactos ambien-
tais. Por meio dele, o órgão ambiental com-
Cita-se, como exemplo, o caso do estado de
petente autoriza a localização, a instalação, a
São Paulo. Por força da Deliberação Normativa
ampliação e a operação de empreendimentos e
01/2014 do Consema, considerou-se como em-
atividades utilizadoras de recursos ambientais,
preendimentos e atividades de impacto local
consideradas efetiva ou potencialmente po-
os sistemas de transporte coletivo urbano de
luidoras ou daquelas que, sob qualquer forma,

98
Mobilidade Urbana e Meio Ambiente 5

passageiros, com exceção do modal metro- e avaliar os potenciais ou efetivos impactos


ferroviário (este de competência estadual); a ambientais oriundos do empreendimento e/ou
construção e a ampliação de pontes, viadutos, atividade sob licenciamento.
passarelas e demais obras de arte em vias mu-
nicipais; a abertura e o prolongamento de vias Nos termos da Resolução do Conama 01/1986,
municipais; a recuperação de estradas vicinais a realização é obrigatória nas hipóteses de o
e reparos de obras de arte em vias municipais; empreendimento ou a atividade tratar-se de
terminais rodoviários de passageiros; helipon- estradas de rodagem com duas ou mais faixas
tos; terminais logísticos e de contêiner que de rolamento; ferrovias; aeroportos, obras hi-
não envolvam o armazenamento de produtos dráulicas para exploração de recursos hídricos,
explosivos ou inflamáveis; e corredores de tais como a abertura de canais para navegação,
ônibus. Mas não basta que o empreendimen- e projetos urbanísticos acima de 100 ha ou
to se enquadre em uma dessas tipologias, já em áreas consideradas de relevante interesse
que, para que possa exercer o licenciamento, o ambiental a critério dos órgãos municipais e
município também deve dispor de: (i) um órgão estaduais competentes. Nos demais casos, é
ambiental capacitado a executar as ações preciso verificar a legislação ambiental estadual
administrativas concernentes ao licenciamento e municipal pertinente, bem como a orientação
ambiental, o qual deverá possuir técnicos pró- dada pelo órgão ambiental competente.
prios ou em consórcio, em número compatível
com a demanda de tais ações; (ii) uma equipe Dessa forma, os projetos que compõem os
multidisciplinar formada por profissionais Planos de Mobilidade Urbana devem levar em
qualificados, legalmente habilitados por seus conta em seus cronogramas de implantação
respectivos órgãos de classe e com especiali- o tempo demandado para a elaboração de
zação compatível; e (iii) o Conselho Municipal estudos de impacto ambiental, de impacto de
de Meio Ambiente, de caráter deliberativo, com vizinhança, os prazos necessários aos procedi-
funcionamento regular, e composto paritaria- mentos e trâmites para obtenção das licenças
mente por órgãos do setor público e entidades junto aos órgãos e colegiados competentes.
da sociedade civil. Esse é um ponto sensível para a execução de
obras em mobilidade nos prazos previstos.
Exige-se, como uma das etapas do licencia- Além disso, o não atendimento a possíveis
mento ambiental, a elaboração de estudos condicionantes de licenças ambientais, não
prévios de impacto ambiental e respectivos re- raro, torna-se passivo de difícil solução, por
latórios (EIA/RIMA). Trata-se de um instrumento vezes inviabilizando ou alterando o curso de
constitucional que tem por objetivo identificar implementação de projetos em mobilidade de
qualquer porte.

2
As hipóteses de atuação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama),
no licenciamento de empreendimentos e atividades em mobilidade urbana, mostram-se muito restritas, pois
ocorrem apenas nos casos em que localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país limítro-
fe, localizados ou desenvolvidos em terras indígenas ou em unidades de conservação instituídas pela União,
exceto em Áreas de Proteção Ambiental (Apas) (Lei Complementar n. 140/2011, art. 7º, XIV).

99
5 Mobilidade Urbana e Meio Ambiente

100
Mobilidade Urbana e Meio Ambiente 5

06

PLANEJAMENTO
DA MOBILIDADE
URBANA
101
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

Neste capítulo, é apresentada a importância de Dentro do planejamento geral, o item da mobi-


considerar a organização do espaço urbano e lidade se expressa diretamente pela definição,
de integrar planejamento urbano e de mobili- a implantação e o gerenciamento dos diferen-
dade. Também são apresentados os principais tes sistemas, meios e infraestruturas inerentes:
fatores que influenciam as necessidades e os sistema viário – passeios, diferentes vias para
padrões de deslocamentos assim como os os diversos modais, equipamentos, mobiliário
principais consumos e impactos da mobilidade –, pela oferta de modos públicos e privados de
urbana. Em seguida, este capítulo apresenta o transporte, motorizados e não motorizados,
conceito de Desenvolvimento Urbano Orientado assim como por demais elementos relaciona-
ao Transporte – TOD como modelo que pode das como estacionamentos, polos geradores de
ser utilizado para repensar a organização do tráfego, questões ambientais, segurança viária,
desenvolvimento urbano. Por fim, são descritos acessibilidade. No entanto, muitas dessas
instrumentos de gestão previstos no Estatuto ações são fortemente impactadas pela forma
da Cidade que permitem realizar transforma- como a cidade se organizou fisicamente e pela
ções no espaço urbano de modo a facilitar a distribuição dos locais de moradia e de traba-
integração entre uso do solo e mobilidade. lho das pessoas, assim como pela localização
de demais atividades como comércio, serviços,
6.1. O Planejamento Urbano lazer. Por isso, a análise da organização do am-
biente construído das cidades e a integração
O planejamento geral de uma cidade ou região
com os planos que orientam a evolução dessa
envolve todos os aspectos pertinentes ao tema,
organização, tal como o Plano Diretor e outros
como as formas desejáveis de uso e ocupação
planos municipais, são fundamentais para a
do solo; a oferta e a disposição física de equipa-
elaboração dos planos de mobilidade.
mentos públicos de educação, saúde, justiça e
lazer; o sistema viário e de transportes públicos;
Embora o Plano de Mobilidade Urbana tenha
os sistemas de abastecimento de energia e de
uma expressão geral, é interessante identificar
água, o sistema de esgotos, a coleta de lixo e ou-
quatro áreas centrais de intervenção que dele
tros. Comumente, as questões urbanas e outras
fazem parte. No tocante ao poder de inter-
atividades inter-relacionadas são administradas
venção do Plano, uma ação é indireta, outra é
pelo Poder Público, dentro das estruturas admi-
mista e as duas restantes são diretas. A forma
nistrativas, de forma estanque. Esta abordagem
indireta é o planejamento urbano, a forma
é, em si, um dos problemas para a construção
mista é a gestão da demanda e as formas
de um novo modelo de cidade sustentável.
diretas são o planejamento de transportes e o
planejamento da circulação. Mesmo que essas
Naturalmente, a estrutura da administração
formas de intervenção estejam muito interliga-
pública deve considerar aspectos característicos
das, a sua identificação isolada é útil para uma
de cada local – técnicos, políticos ou cultu-
análise inicial.
rais, além de refletir concepções e prioridades
também particulares. Além disso, nas cidades
O planejamento urbano é uma área “indireta”,
maiores, a complexidade dos problemas, as di-
pois ele define, em leis específicas, a forma
versidades regionais e o tamanho da própria es-
como o espaço deve ser ocupado e usado,
trutura gestora exigem a divisão de atribuições e
para os mais diversos fins. A sua ligação com a
especialização das equipes. Porém, é necessário
mobilidade está no fato de que estas decisões
que haja a máxima articulação e coordenação
têm impacto direto nas estratégias de mobili-
entre as diversas unidades.
dade das pessoas, que precisam selecionar os
destinos que querem alcançar e as formas de
Nesse cenário, o conceito de mobilidade urba-
mobilidade que desejam usar, dentro de suas
na para a construção de cidades sustentáveis
possibilidades. Em geral, o Plano de Mobilidade
surge como uma novidade, precisando ainda
Urbana, em si, não tem o poder de alterar as
consolidar um conjunto de denominações,
leis urbanísticas de uso e ocupação do solo, que
conceitos e significados, uma vez que esses
são objeto de ações específicas do Poder Públi-
termos são empregados em outros contextos,
co. No entanto, o Plano de Mobilidade Urbana
com significado um pouco distinto.

102
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

pode mostrar os problemas relacionados às circulação, em seus aspectos físico-espaciais,


condições atuais de uso e ocupação do solo e socioeconômicos e ambientais, estabelecendo
atuar para que elas sejam modificadas. um ordenamento territorial que permita a uni-
versalização do acesso à cidade e às oportuni-
A gestão da demanda por viagens é represen- dades que ela oferece.
tada por um conjunto de ações cujo objetivo
é interferir na decisão das pessoas sobre qual Contudo, o distanciamento entre as políticas
modo de deslocamento elas usarão. Ou seja, de urbanização e de mobilidade urbana, não le-
a gestão da demanda ocorre antes que as vando em conta a interdependência entre am-
pessoas saiam às ruas. Ela é uma ação mista bos, tende a causar graves problemas do ponto
em relação ao poder de intervenção do pla- de vista da qualidade de vida, da sustentabi-
nejamento da mobilidade, pois envolve tanto lidade ambiental, da equidade na apropriação
ações que requerem apoio de outras esferas do da cidade e dos custos sociais e econômicos
governo (por exemplo, o aumento do custo de de funcionamento das cidades.
usar um automóvel) quanto ações dentro do do-
mínio exclusivo do Plano de Mobilidade Urbana 6.2.1. Compatibilidade do Plano de
(por exemplo, a definição de horários de uso de Mobilidade Urbana com o Plano Diretor
determinadas vias).
Segundo levantamento específico do IBGE em
2012, 2.658 dentre os 5.565 municípios (47,8%)
Já as ações do planejamento de transportes e
declararam ter um Plano Diretor para a cidade.
do planejamento da circulação são diretas, na
Por outro lado, 1.598 municípios (29%) declara-
forma de decisões integrais do ponto de vista
ram estar revisando ou elaborando o plano.
legal e operacional. O planejamento de trans-
portes define a infraestrutura de circulação, que
Em geral, os Planos Diretores apresentam um
vai permitir o deslocamento de pessoas e mer-
primeiro problema relacionado à exagerada seto-
cadorias, bem como os veículos e os serviços
rização dos usos, produzida por um zoneamento
que serão ofertados. A infraestrutura é consti-
estanque que reforça a segregação, principal-
tuída por ruas, calçadas, vias férreas e terminais
mente da população de baixa renda, e obriga
e, no caso do transporte público, pelos veículos
a realização de deslocamentos desnecessaria-
que farão o transporte, a estrutura das linhas
mente extensos, demorados e dispendiosos, em
e a frequência das viagens. O planejamento da
função da separação total das áreas residenciais
circulação define como a estrutura viária será
(geradoras de demanda) das áreas de comércio
utilizada pelas pessoas e pelos veículos. Ela en-
e serviços e indústrias (que atraem demanda).
volve quatro atividades relacionadas: a legisla-
Esta configuração cria uma grande dependência
ção, que define as regras de utilização das vias
do transporte motorizado, com maiores custos
e calçadas (Código de Trânsito); a engenharia
sociais e mais externalidades negativas, como já
de tráfego, que define o esquema de circulação;
foi visto nesta publicação.
a educação, que define como as pessoas serão
treinadas para usar o sistema viário; e a fiscali-
Densidades desequilibradas de ocupação do
zação, que controla o respeito às leis de trânsi-
território também podem ter efeitos perversos
to. Sua relação com a gestão da demanda – que
na mobilidade. A infraestrutura de transporte
tenta influenciar as pessoas antes que saiam às
público e de circulação motorizada ou não,
ruas – é que o planejamento da circulação atua
como também a dos demais serviços urbanos, é
sobre as pessoas que já optaram por formas de
cara e requer significativos investimentos para
deslocamento e estão circulando nas ruas.
sua provisão, que são mais bem aproveitados
quando realizados nos eixos de concentração
6.2. Compatibilidade do Plano de
de demanda, onde beneficiam um maior núme-
Mobilidade Urbana com os demais
ro de pessoas. Pelo mesmo raciocínio, a gestão
planos municipais
das políticas urbanas deve estimular o adensa-
Cabe aos municípios promover e ordenar mento das atividades em regiões de fácil aces-
o desenvolvimento das principais funções so e já dotadas de infraestrutura de serviços,
urbanas: a habitação, o trabalho, o lazer e a pois manter uma densidade populacional muito

103
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

baixa significa construir uma cidade pouco coletivo; no segundo, geram um elevado número
racional e com altos custos de implantação e de viagens do transporte individual.
manutenção dessa infraestrutura.
Focadas na mobilidade urbana, as políticas
Quanto menor a densidade, maior a expansão de uso e ocupação do solo deveriam induzir à
horizontal da cidade e, consequentemente, formação de uma cidade mais compacta e sem
maiores as distâncias a serem percorridas nas vazios urbanos, onde a dependência dos des-
viagens cotidianas. Ao contrário, densidades locamentos motorizados fosse minimizada. Ao
muito altas, sem possibilidade de provisão contrário, na maioria das cidades brasileiras há
de infraestrutura, equipamentos públicos e uma quantidade expressiva e inaceitável de ter-
serviços em quantidade e qualidade suficiente renos urbanos ociosos em bairros consolidados,
levam à deterioração da qualidade de vida. dotados de infraestrutura e de acessibilidade
O equilíbrio entre a capacidade de oferta da privilegiada, que são estocados para fins de
infraestrutura de mobilidade urbana instalada especulação e valorização imobiliária, benefi-
e a densidade de ocupação de cada região ciando exclusivamente os seus proprietários.
da cidade deve ser um dos elementos predo-
minantes na determinação dos mecanismos Os poderes públicos, mais especificamente as
de controle das edificações, especialmente administrações municipais, dispõem de diver-
dos índices de aproveitamento, das taxas de sos instrumentos de ordenamento do território
ocupação, do número de vagas de estacio- que lhes permitem atuar sobre essas dinâmi-
namento, ao lado de outras referências, tais cas, se não as controlando, pelo menos procu-
como: preservação do patrimônio histórico, rando orientá-las. Eles podem ser classificados
sustentabilidade ambiental, desenvolvimento em três grandes grupos, cada um incidindo
econômico e outras. de modo distinto sobre a estrutura urbana e a
funcionalidade da cidade.
O padrão usual da urbanização brasileira não
tem contribuído de forma positiva para a O primeiro deles, não necessariamente em
estruturação da mobilidade. Comandadas pelo ordem de importância, é o zoneamento, que
mercado imobiliário, as cidades cresceram determina os tipos de uso do solo urbano acei-
horizontalmente, segundo um modelo de con- táveis para cada região da cidade (uso residen-
tínua expansão periférica. A periurbanização se cial, comercial, misto, industrial, institucional e
dá pela aprovação, licenciamento ou tolerância áreas especiais).
de novos loteamentos, muito além das áreas
consolidadas e providas de infraestrutura bási- Em um segundo grupo, as regras para parcela-
ca, incorporando glebas cada vez mais distan- mento do solo estabelecem os padrões para a
tes, portanto mais baratas, para instalação de estrutura fundiária da cidade e que, junto com
novos núcleos habitacionais, enquanto exten- o plano regulador de uso e ocupação do solo,
sas áreas vazias intermediárias são reservadas irão definir as densidades desejadas para cada
para especulação. setor urbano da cidade e seus tipos edilícios.
A legislação municipal pode estabelecer crité-
Este tipo de urbanização atende a dois segmen- rios para loteamentos, desmembramentos ou
tos econômicos distintos da população: enquan- fracionamentos, desde que sejam obedecidos
to os grupos de baixa renda migram para as os padrões estabelecidos na legislação fede-
periferias na busca de lotes mais baratos, seg- ral3. Nessas mesmas regras inclui-se, ainda,
mentos de renda mais elevada fazem o mesmo, a fixação dos parâmetros para as conexões e
na busca de terrenos mais amplos e de menor hierarquias viárias, fundamentais para a mobi-
densidade populacional. No primeiro caso, de- lidade urbana ao favorecer os diferentes modos
mandam a extensão dos serviços de transporte motorizados e não motorizados de transporte.

3
As normas gerais para parcelamento do solo urbano estão estabelecidas na Lei n. 6.766, de 19 de dezembro de
1979, com mudanças pontuais introduzidas pela Lei n. 9.785, de 29 de janeiro de 1999; estes dispositivos estão
passando por um processo de revisão para sua atualização à nova ordem urbanística instituída pelo Estatuto
da Cidade.

104
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

Por fim, os instrumentos que fixam limites para considerar a íntima relação entre infraestrutu-
a ocupação física dos lotes privados, determi- ra, transporte motorizado e o meio ambiente.
nando a densidade e a tipologia das edifica- O deslocamento de pessoas e mercadorias
ções (altura, volume, taxas de ocupação dos influencia fortemente os aspectos sociais e
lotes, índices de aproveitamento, recuos etc.). econômicos do desenvolvimento urbano, sendo
Estes regramentos urbanísticos se tornam con- a maior ou menor necessidade de deslocamen-
dicionantes da paisagem urbana e determinam tos definida pela localização das atividades na
o potencial construtivo de um lote, permitindo área urbana.
a previsão do volume de viagens a ser gerado
em cada área da cidade. Outro regramento é o A grande dificuldade de incorporar a ideia de
relacionado ao número de vagas para automó- mobilidade ao planejamento urbano e regional
veis nos estacionamentos dos prédios, sejam contribuiu, ao longo dos anos, para a produção
eles residenciais ou para fins de comércio e de cidades cada vez mais excludentes e insus-
serviços, pois o Plano Diretor, ao estabelecer tentáveis do ponto de vista ambiental e econô-
o número mínimo ou máximo de vagas, está mico. Esta dificuldade se deve talvez ao fato de
induzindo maior ou menor motorização. que a infraestrutura viária é fator determinante
do planejamento físico e territorial, sendo gran-
A estas normas, aplicáveis principalmente para de o investimento público a ela destinado e a
a produção privada, soma-se a ação direta do pressão exercida pelo crescimento vertiginoso
Poder Público, implantando os equipamentos da frota de veículos privados.
públicos e os serviços e infraestrutura comple-
mentar para a mobilidade urbana que permitem Os principais desafios no uso e na ocupação do
a conexão entre as diversas partes da cidade. solo de uma cidade são:

Todos estes mecanismos, quando aplicados sDPOTPMJEBSFSFHVMBSJ[BSPTDFOUSPT ÆSFBTKÆ


sobre o espaço urbano público ou privado, ocupadas e as parcelas informais da cidade,
orientam a produção e o crescimento das cida- promovendo maior aproveitamento da infraes-
des, disciplinam a distribuição das atividades trutura existente;
econômicas e sociais no território e limitam sDPOUSPMBSBJNQMBOUBÌËPEFOPWPTFNQSFFOEJ-
ou estimulam o crescimento horizontal ou mentos públicos e privados, condicionando-os
vertical da cidade, e consequentemente o seu a internalizar e minimizar os impactos sobre o
adensamento. Como resultado de tudo isso, ambiente urbano, trânsito e transporte;
determinam os padrões presente e futuro da sHBSBOUJSPVTPQÜCMJDPEPFTQBÌPQÜCMJDP 
mobilidade urbana, nos quais a estrutura viária prioriando o pedestre, solucionando ou minimi-
tem uma especial participação na configuração zando conflitos existentes entre a circulação a
do desenho das cidades. pé e trânsito de veículos e oferecendo qualida-
de na orientação, sinalização e no tratamento
Os Planos Diretores, tradicionalmente, estabe- urbanístico de áreas preferenciais para o seu
lecem diretrizes para a expansão/adequação deslocamento;
do sistema viário e para o sistema de trans- sJNQMBOUBSPCSBTFBEFRVBÌÚFTWJÆSJBTQBSB
porte público. Incorporar a mobilidade urbana a viabilidade dos modos de transporte não
no Plano Diretor é priorizar, no conjunto de motorizados;
políticas de transporte e circulação, a mobili- sQSJPSJ[BSPTJOWFTUJNFOUPTFPVTPEPTJTUFNB
dade das pessoas e não dos veículos, o acesso viário para o pedestre e os meios de transporte
amplo e democrático ao espaço urbano e os coletivo, principalmente nas situações de con-
meios não motorizados de transporte. flito com o transporte individual e de carga.

A mobilidade urbana é ao mesmo tempo causa A consolidação de sistemas de transportes


e consequência do desenvolvimento socioeco- inclusivos, de qualidade e sustentáveis do
nômico, da expansão urbana e da distribuição ponto de vista econômico e ambiental passa
espacial das atividades. Além disso, deve-se necessariamente pelo planejamento urbano e

105
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

regional integrado; pela priorização do trans- estimulando o adensamento em áreas com


porte coletivo, do pedestre e dos modos não infraestrutura instalada e evitando a expansão
motorizados; pela restrição ao uso do automó- horizontal descontrolada da área urbanizada.
vel e pela participação e conscientização da so- O adensamento deve considerar também a
ciedade. A prioridade para o transporte público disponibilidade de equipamentos públicos, a
e os modos não motorizados deve ser encara- acessibilidade e a sustentabilidade ambiental;
da como elemento fundamental de inclusão sDPOUSPMFEBFYQBOTËPVSCBOBPTDSJUÍSJPTQBSB
social, preservação ambiental, desenvolvimen- incorporação de novas áreas ao perímetro urba-
to econômico e geração de emprego e renda. no e de parcelamento do solo em regiões mais
O direito à cidade inclui necessariamente a remotas devem considerar a disponibilidade de
acessibilidade aos serviços públicos, trabalho, infraestrutura, inclusive dos sistemas viário e
educação e lazer, sem a qual não é possível se de transporte público, como modo de garantir
falar em cidadania e saúde. o direito de circulação dos futuros moradores
e não onerar desproporcionalmente a provisão
6.2.2. A Lei da Mobilidade Urbana e dos serviços públicos. As políticas de uso e
outros planos municipais ocupação do solo devem estimular a ocupação
em zonas urbanas já consolidadas e promover a
Na construção das cidades, executada predo-
ocupação dos vazios urbanos estocados com a
minantemente pela iniciativa privada e com a
finalidade de especulação imobiliária.
gestão do desenvolvimento urbano exercido
pelo Poder Público municipal, há necessidade
A Lei da Mobilidade Urbana oferece uma série
de se aplicar instrumentos urbanísticos adequa-
de instrumentos urbanísticos que direta ou
dos e, em muitos casos, específicos a um deter-
indiretamente possibilitam a implementação
minado processo de degradação urbana, a fim
do conceito da mobilidade urbana para a cons-
de garantir um crescimento urbano sustentável.
trução de cidades sustentáveis. Cabe a cada
município identificar os que melhor se adequa-
Especificamente no que se refere ao uso e à
rem ao desenvolvimento sustentável e à gestão
ocupação do solo e aos índices de aproveita-
democrática do processo de planejamento da
mento, que irão determinar o adensamento po-
cidade, a fim de introduzir a nova visão da cir-
pulacional, as políticas públicas devem buscar
culação, que prioriza a mobilidade das pessoas
os seguintes princípios:
independente do meio de locomoção adotado
(a pé, bicicleta, transporte coletivo, táxi, barca
sNJTDJHFOBÌËPEFVTPTPTQBESÚFTQBSB
ou automóvel), possibilitando a acessibilidade
zoneamento de usos devem ser mais flexíveis
a todos: idosos, crianças, pessoas com defi-
e estabelecer uma maior miscigenação para
ciência ou com mobilidade reduzida.
atividades que permitam convivências não no-
civas, por exemplo, de atividades residenciais
Um aspecto essencial diz respeito à exigência
com o comércio, serviços e pequenas indús-
legal da existência de planos de mobilida-
trias não poluentes;
de. Enquanto o Estatuto da Cidade o exigia
sDPOUSPMFEFVTPTOPDJWPTBUJWJEBEFTQPMVFO-
inicialmente para municípios acima de 500 mil
tes ou com impactos negativos na vizinhança,
habitantes (plano de transporte), em 2007 o Mi-
como acontece em distritos industriais, devem
nistério das Cidades sugeria a obrigatoriedade
ser instaladas em locais relativamente isolados,
para cidades com mais de 60 mil habitantes. Em
com estrutura viária para fácil escoamento da
2012, a Lei da Mobilidade Urbana ampliou a ne-
produção, evitando a passagem de cargas pe-
cessidade de elaboração de Planos para municí-
sadas ou perigosas por áreas urbanas densa-
pios acima de 20 mil habitantes, além de outros,
mente povoadas, porém com infraestrutura de
igualando o piso obrigatório para a definição do
transporte coletivo que ofereça fácil acessibili-
Plano Diretor, o que vem favorecer a integração
dade aos trabalhadores;
das políticas de desenvolvimento urbano, con-
sDPOUSPMFEBEFOTJEBEFQPQVMBDJPOBMPTNF-
siderando os problemas setoriais – habitação,
canismos de controle das edificações devem
mobilidade, saneamento, meio ambiente, saúde
estabelecer índices construtivos que permi-
– verificados na maioria das cidades brasileiras,
tam melhor aproveitamento do solo urbano,
independentemente do seu tamanho.

106
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

6.2.3. Análise da integração do Plano casos, estas políticas estão na esfera do go-
de Mobilidade Urbana com os demais verno estadual e a localização destes equipa-
planos municipais mentos pode ser inconveniente do ponto de
vista do acesso aos usuários – como a falta de
O Plano de Mobilidade Urbana precisa ser com-
transporte público ou de calçadas adequadas.
patível com outros planos municipais que te-
nham relação com a mobilidade urbana. Tanto
6.3. Fatores condicionantes da
com o Plano Diretor e o Plano Plurianual como
Mobilidade Urbana
com o Plano Habitacional de Interesse Social,
tendo em vista os crescentes investimentos O Brasil é um país com dimensões continen-
em programas habitacionais, como o Minha tais, fortes particularidades regionais e com
Casa, Minha Vida. Novos empreendimentos na profundas desigualdades sociais, culturais e
cidade, muitos deles com elevado número de econômicas. Todos estes elementos interferem
unidades residenciais, e por vezes em áreas de no padrão e nas necessidades da mobilidade
expansão territorial, precisam ser considerados da população de cada cidade.
na definição das propostas de mobilidade, sob
pena de comprometer a infraestrutura e os Os temas mais afeitos à política de mobilidade
serviços prestados à população. urbana: circulação, trânsito e transporte públi-
co são tipicamente assuntos de interesse local
O plano viário precisa ser compatível com e, portanto, difíceis de serem enquadrados em
o Plano de Mobilidade Urbana. As políti- uma solução única. Porém, mesmo reconhe-
cas e o sistema viário, com frequência, são cendo a predominância das especificidades de
definidos no setor de obras do município, cada situação, é possível estabelecer algumas
que geralmente tem um enfoque específico, variáveis analíticas que possam ser aplicadas, a
limitado, de produzir vias segundo critérios princípio, para todo o País, reiterando a neces-
técnicos que privilegiam o uso do automó- sidade de adaptá-las às situações concretas.
vel. É comum que as ações de gestão do
trânsito se choquem com a construção de 6.3.1. Diferenças regionais e culturais
vias inadequadas para o transporte públi- O intenso processo de urbanização do País
co e perigosas para pedestres e ciclistas. nas últimas décadas se deu com profundas
diferenças regionais, mas com um elemento
Analogamente, a política de calçadas adotada comum: a tendência para a concentração, para
pode entrar em conflito direto com o Plano de o crescimento das grandes cidades, para a
Mobilidade Urbana. Na maioria das cidades metropolização. E, quanto maior a cidade, mais
do Brasil, a responsabilidade pela construção os seus habitantes dependem das redes de
e pela manutenção de calçadas é atribuída ao infraestrutura de circulação e dos serviços de
proprietário do lote, o que leva à construção de transporte para ter acesso às oportunidades de
um sistema de circulação de pedestres precá- trabalho e de consumo nela concentradas.
rio, descontínuo e de baixa qualidade.
Porém, esta acessibilidade não é homogênea. O
Por outro lado, o Plano de Mobilidade Urbana padrão desta urbanização, de baixa densidade
pode ter grandes limitações frente à existência e com expansão horizontal contínua, comanda-
de usos e ocupações do solo que gerem uma da pela especulação imobiliária, segrega a po-
quantidade de viagens de pessoas e cargas pulação de baixa renda em áreas cada vez mais
que seja incompatível com a capacidade das inacessíveis, desprovidas total ou parcialmente
vias locais – os chamados “polos geradores de de infraestrutura e de serviços, prejudicando o
viagens”. seu acesso a essas oportunidades, impedindo
uma apropriação equitativa da própria cidade
Outro conflito potencial, relevante, pode e agravando a desigualdade na distribuição da
ocorrer em relação à política de localização dos riqueza gerada na sociedade. E esse quadro
equipamentos públicos como escolas, postos ocorre tanto nas grandes quanto nas pequenas
de saúde e equipamentos de lazer. Em muitos

107
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

cidades, das diferentes regiões do País, varian- Mais de 3 mil cidades estão obrigadas à elabo-
do apenas a escala das ocorrências. ração do Plano de Mobilidade Urbana conforme
a Lei n. 12.587/2012, das quais 1.644 têm acima
Esta situação tem raízes em fatores sociais, po- de 20 mil habitantes. Evidentemente, os pro-
líticos e econômicos, mas, fundamentalmente, blemas da mobilidade urbana se manifestam
é produto de decisões das políticas urbanas. de maneira distinta nessas cidades; enquanto
Nossas cidades são, desde décadas, construí- a concentração de pessoas dinamiza as rela-
das, reformadas e adaptadas para um modelo ções sociais e induz a uma maior necessidade
de circulação, hoje percebido como insusten- de deslocamentos, a extensão territorial os
tável, fundado no transporte individual, por torna mais complexos e mais dispendiosos.
automóvel. A mudança cultural de valorização
de outros modos, particularmente do trans- A política de mobilidade verificada na quase
porte público e dos modos não motorizados, totalidade das cidades brasileiras, em vez de
precisa ser promovida através de iniciativas contribuir para a melhoria da qualidade da
do setor público, responsável pela gestão dos vida urbana, tem representado um fator de sua
espaços públicos, pela prestação dos serviços deterioração, causando redução dos índices de
públicos e pela tributação de equipamentos, mobilidade e acessibilidade, degradação das
visando a atender uma população carente de condições ambientais, desperdício de tem-
transporte de qualidade, menor custo e tempo. po em congestionamentos crônicos, elevada
Também o incremento ou a busca de soluções mortalidade devido a acidentes de trânsito e
associadas à cultura das diferentes regiões, outros problemas, já presentes até mesmo em
valorizando modalidades de uso local – hidrovi- cidades de pequeno e médio portes.
ário, cicloviário etc. –, de acordo com o perfil da
população, podem potencializar e qualificar a 6.3.3. Perfil da mobilidade
mobilidade local.
É lógica a relação entre a dimensão das
cidades e a variação dos seus indicadores de
6.3.2. Porte das cidades
mobilidade. A sistematização dos dados dis-
Segundo o Censo do IBGE do ano 2010, mais de poníveis no Sistema de Informações da ANTP
80% dos brasileiros viviam em áreas urbanas evidencia, em primeiro lugar, uma tendência
dos 5.565 municípios, sendo que 29% da popu- de ampliação do índice de mobilidade total
lação total estavam em 38 cidades com mais de seguindo o crescimento das cidades; a popu-
500 mil habitantes, enquanto 608 municípios lação das grandes cidades realiza em média
apresentavam população superior a 50 mil habi- mais do que o dobro de viagens diárias do que
tantes. A previsão do IBGE é de crescimento da a das pequenas, o que reflete, provavelmente,
população brasileira até 2042, quando então as uma maior oferta de oportunidades em todas
taxas se tornarão decrescentes, com incremento as atividades geradoras de viagens (trabalho,
da população urbana, em especial nas cidades escola, lazer etc.). A grande diferença está nas
de médio porte. viagens motorizadas, com as viagens a pé e de
bicicleta mantendo-se praticamente constan-
tes independente do porte das cidades, como
mostrado na abaixo.

108
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

Figura 52 – Índice de mobilidade, cidades com mais de 60 mil habitantes, Brasil.

1,8
1,6
1,4
1,2
Viag/hab/dia

1
0,8
0,6
0,4

0,2

0
60 a 100 100 a 250 250 a 500 500 a 1.000
> 1 milhão
mil mil mil mil

População

LEGENDA:
A pé e de bicicleta
Motorizado

Fonte: ANTP, 2011.

A Figura 53 ilustra como a participação das pação do individual; enquanto que em todas
viagens motorizadas, tanto por transporte as categorias com população inferior a 500 mil
individual como por transporte coletivo, cresce habitantes predomina o transporte a pé (quase
nas cidades maiores, na mesma proporção em 50% nas cidades menores). Porém, apesar da
que se reduzem as viagens a pé e de bicicleta. pequena participação relativa, o número de
O modo predominante nas cidades com mais viagens não motorizadas nas grandes cidades,
de um milhão de habitantes é o transporte co- em termos absolutos, é bastante relevante,
letivo (39,4%), bastante próximo do individual reforçando a importância de um planejamento
(33,4%); nas cidades médias, cresce a partici- adequado para este modo.

109
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

Figura 53 – Divisão modal, cidades com mais de 60 mil habitantes, Brasil.

60 - 100 mil 19% 19% 8% 42% 8%

100 - 250 mil 18% 23% 6% 44% 6%


Faixa de população

250 - 500 mil 23% 28% 5% 41% 5%

500 - 1.000 mil 22% 32% 3% 40% 3%

> 1 milhão 36% 28% 2% 33% 1%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

% das viagens

LEGENDA:
T. coletivo
Auto
Moto
A pé
Bicicleta

Fonte: ANTP, 2011.

A maior participação das viagens motorizadas desperdiça com isso quase R$ 10 bilhões por
se reflete na maior presença relativa da frota ano, sendo que, em todas as categorias de
de veículos particulares e de transporte coleti- cidades, o transporte individual responde por
vo, o que faz crescer os problemas urbanos as- mais de 75% destes custos, reforçando a ne-
sociados à circulação, notadamente os custos cessidade de tomada de medidas no âmbito do
das suas principais externalidades: poluição e planejamento que levem a mudanças na matriz
acidentes (Figura 54). Segundo a ANTP, o País modal das cidades brasileiras.

110
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

Figura 54 – Externalidades por faixa de população, cidades com mais de 60 mil habitantes, Brasil.

> 1 milhão 5,1 5,2

500 - 1.000 mil 1,1 1,7


Faixa de população

250 - 500 mil 0,9 2,3

100 - 250 mil 0,8 2,6

60 - 100 mil 0,3 1,1

0 2 4 6 8 10 12

R$ Bilhôes

LEGENDA:
Poluição
Acidentes

Fonte: ANTP, 2011.

Na análise relativa destes dados verificam-se mente para o transporte individual, variando
duas conclusões importantes: primeira, que bem menos no caso do transporte coletivo,
tanto o custo dos deslocamentos quanto o como ilustrado na Figura 55, mostrando que o
das suas externalidades, por habitante, cres- transporte individual custa quatro vezes mais
cem com o tamanho das cidades, principal- no gasto dos deslocamentos por habitante.

111
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

Figura 55 – Custo do deslocamento por habitante, cidades com mais de 60 mil habitantes, Brasil.

1.800

1.600

1.400

1.200

1.000
R$/hab/ano

800

600

400

200

0
60 a 100 a 250 a 500 a > 1 milhão
100 mil 250 mil 500 mil 1.000 mil

Faixa de população

LEGENDA:
T. coletivo
T. individual

Fonte: ANTP, 2011.

A utilização do transporte coletivo cresce com índice é de 0,17 viagem por habitante, enquan-
as cidades e, na média, cada habitante realiza to que nas cidades com mais de um milhão de
0,48 viagem por dia nesse modo. Entretanto, habitantes as pessoas fazem 0,91 viagem por
nas cidades entre 60 e 100 mil habitantes, este habitante por dia (Figura 56).

112
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

Figura 56 – Viagens no transporte coletivo por habitante, cidades com mais de


60 mil habitantes, Brasil.

1,00
0,90
0,80
0,70 0,91
Viagens no TC/hab/dia

0,60
0,50
0,40
0,30 0,37
0,27
0,20
0,17 0,18
0,10

0,00
60 a 100 100 a 250 250 a 500 500 a 1.000 > 1 milhão
mil mil mil mil

Faixa de população

Fonte: ANTP, 2011 (elaboração adicional dos dados básicos).

6.3.4. Organização institucional alguma estrutura organizacional na área do


transporte urbano, mesmo que a mais singela,
Há poucas fontes disponíveis de informações
formada por um subsetor dentro de um órgão
sistematizadas, no âmbito nacional, sobre
com várias atribuições. Deve-se enfatizar que a
a estrutura organizacional dos sistemas de
existência de estrutura varia de 66% nos mu-
circulação e transporte público nas cidades
nicípios com até 5 mil habitantes a 100% nos
brasileiras. A fonte mais atual e abrangente é a
municípios com mais de 500 mil habitantes
Pesquisa de Informações Básicas Municipais do
(Tabela 1). Embora numericamente a existência
IBGE, realizada em 2012.
de estrutura seja alta, sabe-se que na maior
parte dos casos os recursos humanos, técnicos
Especificamente no tema da organização
e materiais são reduzidos e insuficientes na
institucional, a pesquisa aponta que, dos 5.565
maioria dos municípios.
municípios brasileiros, 4.133 (74,3%) tinham

113
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

Tabela 1 – Quantidade de municípios com estrutura na área de transporte, 2012.

POPULAÇÃO MUNICÍPIOS COM ESTRUTURA SEM ESTRUTURA

Número % Número %

Até 5.000 1.298 860 66,3 438 33,7

De 5.001 a 10.000 1.210 853 70,5 357 29,5

De 10.001 a 20.000 1.388 1.020 73,5 368 26,5

De 20.001 a 50.000 1.054 830 78,7 224 21,3

De 50.001 a 100.000 327 296 90,5 31 9,5

De 100.001 a
500.000
250 236 94,4 14 5,6

Mais de 500.000 38 38 100,0 0 0,0

Brasil 5.565 4.133 74,3 1.432 25,7

Fonte: IBGE, 2012.

Estudo realizado em 2002 pela Secretaria Espe- base legal, modelos de gestão voltados para a
cial de Desenvolvimento Urbano da Presidência produção dos serviços e não para as necessi-
da República avaliou as condições de gestão do dades dos usuários, falta de prioridade política
transporte público e do trânsito nas principais para o transporte público;
cidades brasileiras de médio e grande portes e sOBHFTUËPEPUSÇOTJUPDBSÎODJBEFFRVJQFT
concluiu que a gestão do transporte público so- técnicas especializadas, conflitos entre órgãos
fria um processo de degradação e de descons- atuantes no setor, carência de planos de circu-
trução, enquanto a gestão do trânsito evoluía lação e de planejamento estratégico, modelo
positivamente, principalmente em função do de gestão financeira apoiado na receita das
Código de Trânsito Brasileiro. Dos resultados, multas, inexistência de estudos e ações volta-
podem ser destacados os seguintes problemas: dos para os modos não motorizados.

sOBHFTUËPEPUSBOTQPSUFQÜCMJDPDBSÎODJBEF A municipalização do trânsito, definida pelo


estudos e planos, carência de equipes técnicas Código de Trânsito Brasileiro de 1997, atribui
especializadas, fragilidade ou inadequação da aos municípios brasileiros a responsabilidade

114
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

sobre as ações técnicas – engenharia, fiscaliza- das infrações de trânsito. Isso conduz à criação
ção e educação –, além do acompanhamento de estrutura mínima de gestão em praticamen-
estatístico de dados e gerenciamento de multas te todos os municípios com mais de 250 mil
habitantes (Tabela 2).

Tabela 2 – Municipalização do trânsito por categoria de cidades.

POPULAÇÃO URBANA MUNICÍPIOS MUNICIPALIZADOS %

Menos de 20 mil habitantes 3.850 516 13,40%

Entre 20 e 60 mil habitantes 1.197 436 36,42%

Entre 60 e 100 mil habitantes 224 182 81,25%

Entre 100 e 250 mil habitantes 189 170 89,95%

Entre 250 e 500 mil habitantes 71 71 100,00%

Entre 500 mil e 1 milhão de


23 23 100,00%
habitantes

Acima de 1 milhão de habitantes 16 16 100,00%

Total de
5.570 1.414 14,84%
municípios

Fonte: IBGE – Estimativa 2006 e Denatran 2007.

Sem um sistema de gestão centralizado, como sNFUPEPMPHJBEFDÆMDVMPUBSJGÆSJPQBSBPTFSWJ-


o do trânsito, não há informações disponí- ço de transporte coletivo;
veis, sistematizadas nacionalmente, sobre as sNFUPEPMPHJBEFBWBMJBÌËPQFSNBOFOUFEP
estruturas de gestão dos transportes públicos. desempenho dos operadores.
Contudo, a observação empírica permite inferir
que também as maiores cidades disponham de 6.3.5. Processo de urbanização e
elementos que caracterizam uma gestão públi- mobilidade urbana
ca dos serviços, entre eles:
A partir da década de 1950, o crescimento
populacional e a migração do campo para as
sMFHJTMBÌËPFSFHVMBNFOUBÌËPNVOJDJQBJTEPT
cidades no Brasil fizeram com que a popula-
serviços de transporte coletivo;
ção urbana ultrapassasse a rural. As cidades
sMFHJTMBÌËPFPVSFHVMBNFOUBÌËPNVOJDJQBJT
cresceram em ritmo muito superior aos investi-
dos serviços de transporte por táxi;
mentos em infraestrutura urbana, segregando
sMFHJTMBÌËPFPVSFHVMBNFOUBÌËPNVOJDJQBJT
a população de baixa renda nos loteamentos
dos serviços de transporte escolar;
periféricos e praticamente desprovidos de in-
sEFMFHBÌËPQBSBFYQMPSBÌËPEPTTFSWJÌPTEF
fraestrutura, inclusive de transporte. Outra ca-
transporte coletivo devidamente licitada nos
racterística foi a proliferação de novos municí-
termos da Lei Federal n. 8.987/1995;

115
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

pios, criados a partir de emancipações, muitas A acessibilidade proporcionada pelos sistemas


vezes sem dispor de recursos ou de estruturas de transporte e de comunicação ampliou a
administrativas, mantendo-se dependentes complementaridade entre os núcleos urbaniza-
das cidades de onde foram desmembrados. dos, formando redes de cidades que se expres-
sam pelo intercâmbio de fluxos de pessoas,
As grandes cidades se tornaram estruturas bens, serviços e informações entre as unidades
cada vez mais complexas, polarizando a vida geopolíticas que as compõem.
econômica e social ao seu redor, conectando
os municípios vizinhos através de sistemas de a) Inserção na rede de cidades
informações e de transporte. Surgiram cidades A inserção dos municípios dentro das redes de
industriais, cidades turísticas, polos educacio- cidades também determina os seus padrões
nais, polos de saúde e de serviços, com influên- de mobilidade urbana. Sob este aspecto, eles
cia muito além dos seus limites territoriais. podem ser considerados em três situações: iso-
lados, como polo regional e como integrante de
Espaços cada vez mais conurbados, com con- uma região metropolitana, aglomerado urbano
centrações humanas e de atividades produti- ou região de desenvolvimento integrado.
vas, formaram extensas áreas metropolitanas,
constituídas por um núcleo central, mais dinâ- a.1) O município isolado
mico economicamente, ao qual se liga uma rede
Com a intensificação da urbanização e o de-
de cidades satélites dependentes deste centro.
senvolvimento dos sistemas de comunicação
(física e virtual), as distâncias físicas perderam
As estruturas de gestão instituídas e os planos
relevância e as possibilidades de interação
metropolitanos formulados a partir da década
entre cidades e regiões se ampliaram.
de 1970 não conseguiram envolver as instâncias
municipais nem superar uma visão compar-
Contudo, algumas cidades mantêm uma ra-
timentada na destinação dos investimentos
zoável autonomia na sua organização urbana,
federais. A Constituição Federal de 1988, ao
em relação a outros centros. Esta autonomia é
reconhecer a autonomia municipal no trato de
relativa, pois, ao mesmo tempo em que indica
assuntos de interesse local, contribuiu para a
certa autossuficiência e isolamento regional,
falta de integração no âmbito metropolitano
estes municípios são dependentes dos centros
quanto à gestão pública e sua atuação no pla-
urbanos mais dinâmicos para acesso a serviços
nejamento e nas ações de diversos setores, com
e bens de consumo mais especializados.
destaque para o transporte público e trânsito.

Geralmente são municípios de menor porte,


Nos transportes, as medidas adotadas pelo
distante dos grandes centros de produção
setor público se concentraram em investi-
e distribuição, caracterizados por estruturas
mentos em infraestrutura, principalmente no
urbanas simples e pelo isolamento físico dos
sistema viário, sem avançar em soluções de
municípios vizinhos. Possuem baixa diversida-
coordenação institucional (entre os municípios
de de oferta de oportunidades, quase sempre
integrantes da região e o estado) ou na busca
restrita ao atendimento de seus habitantes.
de soluções de integração modal, operacional
ou tarifária.

116
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

A mobilidade urbana é predominantemente participação da circulação de passagem, princi-


interna, determinada quase exclusivamente palmente quando se trata de cargas especiais
por atividades desenvolvidas dentro do próprio (por suas dimensões ou volume) ou perigosas.
município, mesmo que não restritas à área
urbanizada; os fluxos de mercadorias também As cidades caracterizadas como polos regio-
são intramunicipais, com baixo impacto dos nais apresentam maior dinâmica interna, tanto
fluxos de passagem em seu sistema viário. nos fluxos internos como nas relações com os
municípios vizinhos. Em função disso, criam co-
O planejamento e a gestão da mobilidade nexões intermunicipais mais fortes, que geram
urbana e intramunicipal em seus aspectos de maior movimentação de pessoas e de mer-
circulação e transportes são função exclusiva cadorias e que vão demandar uma estrutura
da Prefeitura, com poucas ingerências de outras pública por infraestrutura e serviços (terminais,
instâncias de poder. rodovias, sistemas de transporte coletivo etc.).
Consequentemente, a gestão da mobilidade ur-
a.2) O município polo regional bana tem que tratar tanto dos deslocamentos
Municípios de porte médio se caracterizam por intramunicipais como dos intermunicipais no
estruturas urbanas mais complexas e maior âmbito da região polarizada.
diversidade de oferta de oportunidades. Pelo
seu porte, colocam-se em condição de desta- Quanto aos serviços de transporte público,
que no âmbito regional e se caracterizam como cabe às Prefeituras a gestão da rede de linhas
polo de oferta de empregos e de serviços em municipais, aos estados as intermunicipais e à
relação aos municípios vizinhos, dentro de um União as interestaduais. Porém permanece com
raio de alcance tanto maior quanto mais forte os municípios a responsabilidade pela gestão
for a dinâmica de sua economia, a concentra- da circulação como um todo dentro do seu
ção de atividades industriais ou de serviços território, atuando na coordenação das outras
ou a sua singularidade na disponibilidade de instâncias de governo e na coordenação de
alguma função estratégica econômica (porto todos os serviços.
ou aeroporto), cultural (universidade de grande
porte), de serviço (centro hospitalar) ou natural a.3) O município em uma região
(local de forte potencial turístico). metropolitana
A Constituição Federal, ao prever a possibilida-
É possível que um município que é centro de de de criação de regiões metropolitanas, aglo-
uma determinada região possa, por sua vez, ser merações urbanas e microrregiões, reconheceu
polarizado por centros maiores, articulando-se que algumas funções públicas de interesse
em uma rede hierarquizada de cidades. A com- comum não podem ser tratadas de maneira
binação destas relações determinará variações isolada pelos municípios ou mesmo pelos go-
nos padrões de mobilidade urbana no que se vernos estaduais.
refere, por exemplo, (i) ao volume e ao perfil
dos deslocamentos urbanos; (ii) à participação Em 2010, dados do IBGE mostram que nas
de serviços de transporte coletivo de nature- regiões metropolitanas e nas RIDE – Regiões In-
za intermunicipal; (iii) à intermodalidade e à tegradas de Desenvolvimento moravam 89,4 mi-
complementaridade dos meios de transporte; lhões de pessoas (Tabela 3), em 633 municípios.
(iv) à maior complexidade institucional devi- Quase a metade das pessoas morava nas áreas
do à necessidade de convivência de distintos do Sudeste, seguidas pelas áreas do Nordeste.
órgãos gestores municipais e estaduais; e (v) à

117
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

Tabela 3 – População nas regiões metropolitanas e nas RIDE, 2010.

REGIÕES METROPOLITANAS % DA
POPULAÇÃO MUNICÍPIOS
E RIDE POPULAÇÃO

Norte 6.384.725 16 5,3%

Nordeste 19.111.982 167 23,2%

Sudeste 43.698.658 168 48,9%

Sul 13.500.179 236 15,1%

Centro-Oeste 3.006.907 24 3,4%

DF 3.717.728 22 4,2%

Total 89.420.179 633 100,0%

Fonte: IBGE, 2010.

A intensa urbanização gerou situações de acen- Naturalmente, esta situação exige a configura-
tuada interdependência entre cidades, onde ção de novos arranjos institucionais na gestão
os limites municipais se tornaram uma mera dos serviços públicos, entre eles a mobilidade
formalidade, incompatíveis com as relações urbana. Estes não podem ser rígidos, como
econômicas, sociais e culturais que aconte- quando da criação das Regiões Metropolitanas
cem na vida real. Em alguns casos, o grau de na década de 1970, e precisam ser capazes de
conurbação é tão intenso que a delimitação promover e articular ações efetivas dos atores,
de territórios é apenas político-administrati- governamentais e privados, produzindo soluções
va, com continuidade do tecido urbano e das inovadoras e criativas que contemplem a neces-
características socioeconômicas. sária visão de conjunto do problema regional,
sem ignorar as realidades locais nem desrespei-
Essa barreira invisível dos limites administrati- tar a autonomia municipal, no que couber.
vos se manifesta com particular intensidade na
gestão da mobilidade urbana. Os serviços de Dentro de uma região, os conflitos metropolita-
trânsito e os transportes públicos são constitu- nos se manifestam de maneira distinta para os
cionalmente reconhecidos como de interesse municípios-sede e para os demais integrantes.
local, portanto de responsabilidade das admi- Com alta concentração econômica e segrega-
nistrações municipais. Por outro lado, a proximi- ção da população de baixa renda, em geral, os
dade e a conurbação ampliam a incidência de primeiros ficam com as principais atividades
deslocamentos intermunicipais cotidianos, por econômicas, e portanto se tornam grandes
todas as modalidades de transporte, exigindo a polos de atração de viagens, enquanto nos
provisão de uma infraestrutura física e de servi- demais se instalam áreas residenciais de baixa
ços impossível de ser atendida pelas Prefeituras. renda, muitas vezes desprovidas ou carentes

118
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

de infraestrutura, equipamentos urbanos e 250 mil habitantes, a maioria dos municípios


empregos e serviços que atendam as necessi- brasileiros se insere em regiões metropolitanas
dades dessa população. ou em processo de metropolização, e que 47%
da população brasileira vive nestas cidades,
Em função disso, os problemas e as necessida- mostrando a importância desta questão.
des dos municípios, no que se refere à política
de mobilidade urbana, se manifestam de forma b) Características morfológicas e urbanas
diferenciada. Para as cidades-polo os principais As características morfológicas e urbanas de
problemas são a saturação e o congestiona- uma cidade ou região podem condicionar a sua
mento dos sistemas de transporte (sistema infraestrutura e influenciar de maneira signi-
viário e de transporte público), as deseconomias ficativa na mobilidade e na circulação urbana
urbanas, as externalidades negativas decorren- e regional. A distribuição socioespacial condi-
tes do excesso de oferta e outros. Para as cida- ciona a organização da mobilidade urbana, e,
des periféricas, destacam-se a precariedade ou mesmo com todo o avanço técnico e tecnológi-
ausência da infraestrutura, a falta de oferta de co, as características do território influenciam
transporte público, o elevado custo e o tempo a sua estrutura, ora como facilitadores ou
excessivo gasto nos deslocamentos etc. geradores da ocupação do território, ora como
barreiras. A estas devem ser somadas as estru-
Nos últimos anos, nas principais regiões me- turas de comunicação e circulação construídas
tropolitanas do País, verificou-se um processo pelo próprio homem, que também servem
de desconcentração espacial, com as suas pe- como indutores ou obstáculos ao crescimento
riferias crescendo mais do que os núcleos, mas, das cidades e da sua infraestrutura.
mesmo assim, elas continuam polarizando os
deslocamentos regionais. Também a topografia pode orientar o cresci-
mento urbano e, até certo ponto, a escolha mo-
Uma gestão metropolitana é necessária para dal: por exemplo, cidades planas são favoráveis
prover a mobilidade intramunicipal e intrame- para o uso de bicicletas, mesmo para distâncias
tropolitana com redes de serviços estruturadas, maiores. Por outro lado, em locais de topogra-
coordenadas e complementares, integrando fia excessivamente acidentada, a urbanização
os municípios envolvidos e o governo estadual tende a se acomodar às barreiras naturais,
nos processos de planejamento e de gestão expandindo-se nas direções mais favoráveis e
por meio da construção de redes intermodais, moldando o sistema viário às curvas de nível.
integradas operacional e tarifariamente.
Traçados viários ortogonais propiciam op-
Na gestão da mobilidade metropolitana, os mu- ções de trajetos e facilitam a organização de
nicípios e os órgãos estaduais precisam admi- binários e vias especializadas para o transporte
nistrar três níveis distintos de fluxos de pessoas coletivo; ao contrário, vias sinuosas, limitadas
e bens: os fluxos internos a cada cidade, que por um sítio acidentado, podem ser adequadas
possuem origem e destino no âmbito exclusivo para áreas de baixa densidade de tráfego e
do município; os fluxos intrarregionais, entre os até são recomendáveis para a implantação de
municípios da região; e os fluxos externos, que medidas de moderação de tráfego.
passam pela região mas têm origem e/ou desti-
no fora dos seus limites. A presença de barreiras naturais (serras, rios
de grande porte, por exemplo) também afeta
A esta complexidade devem ser somadas ainda a morfologia e a mobilidade urbana. Cidades
as dificuldades intrínsecas do planejamento localizadas junto à orla marítima, rios e cursos
envolvendo diversas instâncias de poder, com navegáveis nasceram fortemente influenciadas
problemas específicos e dispondo de recursos por esta condição e, normalmente, contam com
muito diferenciados para resolvê-los. o seu centro histórico junto à orla e um cresci-
mento irradiado segundo um meio círculo para
Os dados do Censo de 2010 mostram que, o interior. Nas cidades ribeirinhas, a transposi-
consideradas apenas as cidades com mais de

119
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

ção do rio sempre é um problema; a construção c) Cidades com características específicas


de pontes exige obras caras e elas se tornam Muitas cidades apresentam uma condição
pontos de estrangulamento da circulação. Em particular que determina comportamentos e
compensação, esta condição oferece um po- padrões específicos para a mobilidade urbana.
tencial paisagístico e uma condição adequada Cidades industriais, municípios-dormitório,
para a implantação de calçadões e ciclovias. cidades litorâneas com atratividade turística,
cidades históricas, são situações em parte
Outro aspecto interessante das cidades ribeiri- determinadas pelas condições naturais, mas
nhas ou situadas na orla marítima é a possibi- derivam, principalmente, da forma como as ati-
lidade de exploração do transporte hidroviário vidades humanas se distribuíram no território.
e a sua articulação com os outros meios de
transporte terrestre. As possibilidades de combinação destas carac-
terísticas urbanas com os demais condicionan-
Municípios localizados em áreas ambiental- tes dos deslocamentos de pessoas e de bens
mente sensíveis ou com parte significativa de são tantas que não é prudente estabelecer uma
seu território englobando áreas de interesse tipologia rígida para classificá-las, porém algu-
ou de proteção ambiental (reservas naturais, mas características básicas podem ser apon-
região de mananciais, áreas de preservação tadas para as principais situações, conforme
permanente, Unidades de Conservação). Nestes destacado a seguir.
casos, a construção de infraestrutura e a ex-
pansão dos serviços de transporte motorizados c.1) Cidades industriais
devem sofrer restrições ou, pelo menos, exigir
Cidades ou regiões com expressiva localização
estudos de impacto ambiental.
industrial, principalmente de empreendimen-
tos de grande porte, geram tráfego pesado,
Um último tipo de barreira urbana são as
rodoviário ou ferroviário, com forte impacto
construídas pelo homem: cidades cortadas por
ambiental, na qualidade de vida e na segurança
rodovias ou ferrovias também sofrem conse-
da circulação. O planejamento da mobilidade
quências nas suas condições de mobilidade.
deve procurar organizar estes fluxos por meio
A ocupação pode ter se dado originalmente
de construção de infraestrutura adequada e de
em função da infraestrutura instalada, ou esta
regulamentação da circulação.
pode ter sido construída em um espaço com
um tipo de ocupação já consolidada; em am-
Restrições de vias ou de horários para a circu-
bos os casos, o tecido urbano é seccionado de
lação de veículos pesados, regulamentação da
forma traumática por uma barreira física que
circulação de produtos perigosos, adequação
impede a sua expansão de forma contínua e
da legislação de zoneamento e de uso do solo,
natural e dificulta a integração intraurbana.
são algumas medidas que podem contribuir
para minimizar os impactos indesejados desta
Especificamente nos casos de rodovias, elas
condição.
normalmente trazem um problema adicional,
atraindo atividades relacionadas ao transpor-
O planejamento municipal normalmente sofre
te de carga e gerando um elevado tráfego de
de limitações de competência ou de recursos,
passagem, com veículos de grande porte, com
humanos e financeiros, para tratar destes pro-
impactos ambientais e na segurança.
blemas, sendo necessário portanto o envolvi-
mento das demais esferas de governo.
Em todas essas situações, os Planos de Mo-
bilidade Urbana devem considerar as particu-
c.2) Cidades-dormitório
laridades locais, explorar as potencialidades
de cada situação e desenvolver medidas para Normalmente inseridos em regiões metropo-
minimizar os seus impactos negativos. litanas ou outras áreas com elevado grau de
conurbação, alguns municípios apresentam

120
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

característica de cidades-dormitório, concen- então o planejamento da mobilidade precisa,


tram quase exclusivamente uso residencial e simultaneamente, organizar a circulação, até
de pequenos serviços de influência local. com a adoção de medidas restritivas, e manter
a sua atratividade.
A gestão da mobilidade precisa atender as
necessidades de deslocamento da população Do mesmo modo, a sustentabilidade ambien-
que, nestes casos, dependem, por definição, tal ganha uma importância adicional com a
de serviços intermunicipais, fora da competên- necessidade de preservação das condições de
cia de gestão da Prefeitura. Da melhor forma atratividade turística do município.
possível, a Administração Municipal precisa
intervir no planejamento regional, na busca de c.4) Cidades históricas
soluções para as suas demandas. No âmbito O patrimônio histórico agrega à questão turísti-
municipal, o desenvolvimento dos meios não ca um problema adicional do ponto de vista da
motorizados e sua integração aos sistemas mobilidade. A formação urbana normalmente
de transporte local e a integração destes aos não apresenta condições de suportar altos vo-
intermunicipais, física, tarifária e operacional- lumes de circulação motorizada característicos
mente, pode melhorar as condições de oferta e do atual modelo de mobilidade.
o custo dos deslocamentos.
Ruas estreitas e estrutura urbana antiga não
Sob uma perspectiva mais geral, o município comportam a circulação de veículos pesados
deve elaborar estratégias de desenvolvimento que, ao contrário, representam riscos para
que mudem essa condição, procurando atrair a conservação daquele patrimônio constru-
empreendimentos geradores de emprego e ído. Por outro lado, essas áreas demandam
ampliar a oferta de serviços, sempre com obje- projetos adequados para a circulação de
tivo de reduzir a dependência da população de pedestres, com medidas de restrição do
longos e onerosos deslocamentos regionais. tráfego de veículos, garantindo-se as con-
dições para o abastecimento do comércio
c.3) Cidades turísticas local através, por exemplo, da criação de
Cidades turísticas apresentam comportamen- áreas de estacionamento no entorno.
tos muito distintos em períodos específicos do
ano, quando recebem uma população flutuante Normalmente, a área de interesse de preser-
muito superior a dos seus moradores perma- vação histórica está envolvida pelo restante
nentes. Essa demanda adicional sobre toda a da cidade, muitas vezes restrita à sua área
infraestrutura urbana cria problemas que pre- central ou qualquer outro segmento da cidade.
cisam ser eliminados ou pelo menos minimiza- O planejamento da mobilidade precisa então
dos por meio de políticas específicas para os combinar as exigências de preservação destas
sistemas de transporte público e de circulação. áreas com o atendimento de todas as necessi-
dades de circulação do conjunto da cidade.
Investimentos em ampliação de infraestrutu-
ra podem ser previstos dentro de um pla- d) Mobilidade em zonas rurais
no de investimentos, mas nem sempre são O Brasil é um país essencialmente urbano,
viáveis frente à capacidade de investimento com mais de 84% da população vivendo em
do município, até porque podem ser neces- áreas urbanas, sendo que, nos municípios com
sárias apenas em períodos muito curtos e, se mais de 100 mil habitantes, esta participação
construídas, permaneceriam ociosas duran- ultrapassa os 90%. Porém, apenas nas maiores
te a maior parte do tempo. Nessa condição, cidades, são mais de três milhões de pessoas
são necessárias medidas de regulamenta- que residem em áreas rurais e que demandam
ção, operação e fiscalização que permitam trabalho, educação, saúde, transporte e demais
minimizar os problemas mais relevantes. serviços disponíveis no perímetro urbano.

Por outro lado, o desenvolvimento econômico e As estradas rurais e vicinais são, na maior parte
social do município depende destas atividades, dos municípios, as únicas vias de acesso às

121
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

zonas agrícolas, utilizadas tanto para o trans- ma GPS, o que permite agregar ao cadastro
porte das pessoas como para o escoamento diversos níveis de informação. Por outro lado,
da produção, algumas atravessando áreas de a coleta direta, percorrendo as estradas,
mananciais, reservas florestais e outros tipos fornece informações mais detalhadas sobre
de regiões de preservação ambiental. as características físicas do viário, as ocupa-
ções lindeiras e as atividades dos habitantes
Não há dados abrangentes sobre a necessida- da região, ainda mais quando complemen-
de de transporte em áreas rurais, mas sabe-se tada por conversas com os moradores.
que a maioria das cidades até 500 mil habi-
tantes tem várias linhas de transporte coletivo Os padrões de deslocamento da população da
servindo habitantes das áreas rurais que vão à zona rural devem ser identificados e mapeados,
cidade trabalhar, fazer compras ou consultar-se tentando verificar também as suas necessida-
nos serviços de saúde. Há também um grande des potenciais de viagem, que não são realiza-
movimento de transporte escolar rural, que das pela falta de meios físicos ou econômicos;
em 2013 serviu 4,2 milhões de alunos (FNDE, além dos deslocamentos que utilizam os meios
2014), serviços resultantes do programa federal de transporte público convencional, devem ser
“Caminho da Escola”. identificadas viagens a pé, de bicicleta, por veí-
culos de tração animal, automóveis, caminhões,
Sendo assim, é importante que os municípios tratores, barco etc. Ainda quanto ao transpor-
tenham um planejamento de curto, médio e te de pessoas, há regiões que mobilizam um
longo prazos para a mobilidade na zona rural, grande contingente de trabalhadores rurais
detectando os problemas mais graves com ante- em determinadas épocas da estação (corte de
cedência e buscando soluções para os seus pro- cana, colheita de alguns produtos etc.), muitos
blemas. No que se refere à infraestrutura viária deles oriundos da área urbana do município,
e de transportes, o planejamento da mobilidade transportados em ônibus ou em caminhões. No
deve prever diretrizes para o desenvolvimento caso do transporte escolar, atenção especial
sustentável, proteção ambiental e ampliação do deve ser dada aos temas da segurança no trân-
atendimento à população residente. sito e da logística das rotas, feita junto com as
autoridades locais de educação.
O primeiro passo é realizar o cadastro e o ma-
peamento de todas as estradas rurais, vicinais Tão importante quanto o deslocamento das
e servidões existentes no município. Algumas pessoas é o transporte de cargas, sendo ne-
Prefeituras não conhecem toda a sua rede de cessário conhecer o seu perfil e necessidades,
estradas rurais, estando algumas localizadas principalmente para o escoamento da produ-
dentro de propriedades particulares. O levan- ção agrícola ou de indústrias localizadas na
tamento deve conter informações atualizadas área rural; neste caso é necessário conhecer
sobre as características das vias (dimensões, a sua sazonalidade, o volume de produção e
tipo de pavimento, estado de conservação etc.). as características para o transporte de cada
Também devem ser identificadas e mapeadas produto, que podem exigir tipos de veículos
a oferta dos serviços de transporte público específicos e cuidados especiais.
existentes (com dados de oferta e de demanda)
e a localização de polos de geração de viagens, Com base nestas informações, o município
de pessoas ou de produtos. poderá planejar as suas intervenções sobre
a infraestrutura, estabelecer diretrizes para
O ideal é a elaboração desta base de dados o crescimento da zona rural do município,
a partir da utilização de fotografias aéreas elaborar projetos e buscar parcerias junto aos
da região, preferencialmente em um sistema órgãos estaduais e federais, e mesmo junto à
georreferenciado. Alternativamente, o levan- iniciativa privada para abertura, extensão ou
tamento pode ser realizado sobre uma base alargamento de vias, pavimentação das existen-
existente, atualizada diretamente a partir de tes, melhoria da sinalização e outras medidas
dados coletados em campo, percorrendo as que contribuam para o desenvolvimento da
vias em um veículo equipado com um siste- zona rural e do município como um todo.

122
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

6.3.6. Aspectos socioeconômicos R$ 700,00) realizam, em média, 1,54 viagem


por dia, as de alta renda (acima de R$ 5.700)
a) Condições sociais
realizam 2,70 viagens por dia. A renda também
Existe uma relação de causa e efeito entre as influi na escolha modal: o uso do automóvel
condições sociais da população e sua necessi- aumenta diretamente com a elevação da renda,
dade e capacidade de deslocamento na busca e as viagens a pé diminuem; para o transporte
das oportunidades que as cidades oferecem coletivo, sua utilização aumenta até a faixa
para trabalho, educação, serviços e lazer. de renda de R$ 3.040, a partir do que diminui
Questões como renda, idade, gênero, entre (CMSP, 2008).
outros, interferem na mobilidade da população
incluindo-as ou excluindo-as do acesso a estas Na lógica de uso e ocupação do solo ainda
oportunidades. predominante nas cidades, os grupos sociais
de baixa renda são compulsoriamente expulsos
Nas últimas décadas, as cidades brasileiras vêm para a periferia das cidades e para municípios
passando por uma série de transformações: por periféricos das regiões metropolitanas, tendo
um lado, a crescente urbanização que aumenta que realizar viagens cada vez mais longas e
seu tamanho e, por outro lado, as alterações demoradas, e com desembolsos tarifários
socioeconômicas mudam as necessidades e os crescentes. Em função disso, parte significativa
hábitos de deslocamento de suas populações e da população de baixa renda tem a sua mobi-
interferem nos fluxos de mercadorias. lidade restringida por falta de capacidade de
financiar o seu deslocamento.
O emprego industrial ou em escritórios nas
áreas centrais, que gerava um grande volume O vale-transporte é um importante instrumen-
de viagens pendulares, vem sendo substituído to para permitir o acesso dos trabalhadores
pelo crescimento do setor terciário ou pela formais ao transporte público, entretanto, é
descentralização da localização das unidades grande o número de trabalhadores desemprega-
de trabalho, que já não exigem uma mútua dos ou subempregados que não têm direito ao
proximidade entre serviços complementares. benefício. O resultado imediato é o crescimento
Como decorrência, as viagens começam a ser da participação dos deslocamentos a pé, com
feitas de forma mais dispersa tanto no espaço tempos de caminhada excessivamente longos
como no tempo. e a redução do uso do transporte coletivo. Na
outra ponta, as faixas de maior renda estão cada
As transformações sociais também ocasio- vez mais migrando do transporte coletivo para
naram a ampliação da inserção da mulher no o transporte individual, consequência das facili-
mercado de trabalho e a elevação da longe- dades de aquisição dos automóveis, elevação do
vidade das populações, ampliando o público preço das tarifas e mudança de comportamen-
que tradicionalmente utilizava os sistemas de tos, uma vez que o carro, para muitas pessoas, é
transportes e circulação da cidade. também um instrumento de trabalho.

a.1) A questão da renda Dois dos grandes desafios a serem enfrentados


no planejamento da mobilidade urbana estão
Na mobilidade motorizada, seja ela realizada
relacionados à democratização do acesso ao
por sistemas de transportes públicos ou por
transporte público, recuperando os excluídos
transporte individual, a condição econômica
de seu ingresso por impossibilidade de paga-
é fator determinante. Em todas as pesquisas
mento, a priorização e a ampliação dos serviços
os índices de mobilidade crescem nas cama-
de transporte coletivo e o gerenciamento da
das de renda mais alta, uma vez que há maior
circulação do transporte individual em ruas
disponibilidade de recursos para pagar pelos
cada vez mais congestionadas, que envolvem
meios de transporte. A pesquisa origem/
medidas de restrição de sua circulação.
destino realizada na Região Metropolitana de
São Paulo em 2007 mostra que, enquanto as
Para a inclusão dos usuários de menor renda
pessoas de baixa renda (renda familiar até
no transporte coletivo existem políticas nacio-

123
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

nais em discussão pelo Ministério das Cidades As viagens motorizadas, por sua vez, são feitas
para o barateamento da tarifa, envolvendo as predominantemente por pessoas entre 18 e
três esferas de governo. Todavia, a responsa- 50 anos, por motivo de trabalho. Nessa mesma
bilidade pela implantação e pela gestão dos faixa etária estão os índices de mobilidade
serviços é de competência local, e ações no mais elevados, com o pico máximo entre 30 e
âmbito das gestões municipais podem reduzir 39 anos (CMSP, 2008).
o seu custo, tais como:
Enquanto os usuários do transporte individual
sGPSNVMBÌËPEFQPMÑUJDBTJOUFHSBEBTÉTEPQMB- podem escolher livremente os seus caminhos,
nejamento urbano para contenção da periurba- os que dependem dos serviços de transporte
nização de modo a reduzir o ritmo de expansão público precisam se adequar às limitações da
horizontal das cidades e, consequentemente, a rede de serviços, que foram tradicionalmente
elevação dos custos de transportes em função moldadas e dimensionadas para o atendi-
das distâncias cada vez maiores a serem per- mento das viagens cotidianas por motivo de
corridas; trabalho. Consequentemente, as redes de
sFTUBCFMFDJNFOUPEFSFEFTEFUSBOTQPSUFT transporte coletivo, no traçado das linhas e no
integradas que permitam redução do custo dimensionamento da oferta, não contemplam
operacional e do desembolso tarifário dos usu- adequadamente pessoas fora desse perfil pre-
ários que necessitam de mais de um veículo dominante, inclusive crianças e idosos.
para chegar ao seu destino final;
sSBDJPOBMJ[BÌËPEBTSFEFTEFUSBOTQPSUF  Os idosos são usuários cada vez mais frequen-
evitando oferta de viagens ociosa e percursos tes do transporte público, primeiro porque os
irracionais; avanços da ciência, principalmente no campo
sFTUÑNVMPBPTNFJPTEFUSBOTQPSUFOËPNPUPSJ- da medicina, aumentaram a longevidade da
zados, proporcionando aos ciclistas, pedestres população; além disso, a legislação brasileira
e pessoas com restrição de mobilidade a sua garante aos maiores de 65 anos a gratuida-
integração com os outros modos de transporte, de nos transportes coletivos, representando
bem como a segurança necessária para seus um estímulo para a sua utilização por essas
deslocamentos; pessoas, que passam então a enfrentar dificul-
sDPOUSPMFEBDPODFTTËPFEPVTPEBTJTFOÌÚFT dade com as barreiras físicas existentes nos
tarifárias para evitar ônus aos demais usuários, veículos (altura dos degraus, por exemplo) nos
que pagam as tarifas integrais; pontos de parada e até mesmo nas calçadas.
sSFEVÌËPEBJODJEÎODJBEFJNQPTUPTFUBYBT
municipais. A ampliação do uso de tecnologias mais sofisti-
cadas na operação dos transportes, com cres-
a.2) A questão da idade cente automação de atividades, também pode
trazer dificuldades para crianças e idosos.
A idade também influencia diretamente os
padrões da mobilidade, seja pela diminuição
No âmbito da gestão da mobilidade nos muni-
da necessidade ou da capacidade de realizar
cípios, muitas destas dificuldades podem ser
um deslocamento de forma autônoma, seja
abrandadas mediante ações e programas nos
pelas limitações de acesso aos equipamentos e
sistemas de transporte e circulação como:
meios de transporte oferecidos.

sOPSNBUJ[BÌËPEBGSPUBVUJMJ[BEBOPUSBOTQPSUF
Na Região Metropolitana de São Paulo, por
coletivo quanto à altura dos degraus, altura
exemplo, os dados da pesquisa origem/destino
dos balaústres, anatomia das roletas, dimen-
de 2007 mostram que os jovens (7 a 17 anos)
sionamento dos bancos, largura de corredores,
são os que mais realizam viagens a pé, princi-
entre outros, com adoção de padrões mais ami-
palmente para ir e voltar da escola. Isso reflete
gáveis para a terceira idade;
uma distribuição mais equilibrada da rede de
sGPSNBÌËPEFDPOEVUPSFTQBSBDPOTDJFOUJ[ÆMPT
estabelecimentos de ensino e a impossibilida-
da necessidade de maiores cuidados na condu-
de, por insuficiência de renda ou por falta de
ção dos veículos, principalmente em respeito
habilitação, de uso do transporte motorizado.

124
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

a idosos e crianças, evitando, por exemplo, que ocorre no interior do transporte público,
freadas e aceleradas bruscas; provocando o constrangimento das passageiras.
sDPOTFSWBÌËPEFQBTTFJPTFFMJNJOBÌËPEFCBS-
reiras arquitetônicas que possam representar Algumas ações podem melhorar as condições
riscos à circulação de crianças e idosos. de conforto no uso do transporte público para
as mulheres:
A Coleção de Cadernos do Programa Brasil
Acessível reúne informações mais detalhadas sJODPSQPSBÌËPEFFMFNFOUPTEFQSPKFUP FRVJ-
sobre a acessibilidade nas áreas públicas, pamentos e dispositivos mais adequados à sua
principalmente no caderno 2, “Construindo anatomia como altura de degraus, balaústres,
a Cidade Acessível” (disponível no endereço roletas etc.;
eletrônico: www.cidades.gov.br). sBEPÌËPEFQPMÑUJDBTUBSJGÆSJBTRVFGBDJMJUFNP
perfil de deslocamentos das mulheres exigidos
a.3) A questão do gênero em sua jornada de trabalho e na condução das
tarefas domésticas;
A questão do gênero na mobilidade urbana
sUSBUBNFOUPBEFRVBEPEPTQBTTFJPTQBSB
relaciona-se mais aos problemas de transpor-
garantir segurança nas caminhadas e rebai-
te enfrentados pelas mulheres, ligados à sua
xamento de guias e outros dispositivos para a
posição na sociedade e às suas diferenças
circulação de carrinhos de bebê.
anatômicas.

b) Aspectos econômicos
A participação crescente das mulheres no
mercado de trabalho leva-as a utilizar as infra- A mobilidade urbana é ao mesmo tempo causa
estruturas de transporte e de circulação com e consequência de desenvolvimento econômico
maior frequência. As mulheres ocupam 48% do e social, da expansão urbana e da distribuição
mercado de trabalho e são 26,7% da população espacial de atividades. A mobilidade urbana tem
habilitada para a direção de automóveis. relação direta com as atividades econômicas.

O padrão de deslocamentos diários das mu- Os padrões de uso e ocupação do solo e as


lheres é distinto e, em geral, mais complexo do condições de transportes (tanto de oferta como
que o dos homens, por realizarem uma maior de demanda) são interdependentes e intera-
diversidade de atividades, acumulando tarefas tivos, alternando relações de causa e efeito. A
domésticas. Ainda cabem predominantemente concentração de atividades em uma determi-
às mulheres as atividades de abastecimento nada região estabelece um padrão de deman-
da casa, condução de crianças à creche, escola da por transportes (necessidade de viagens
ou posto de saúde e outras que implicam a e de espaço público para sua realização) que
realização de várias viagens ao longo do dia, requer e induz uma determinada infraestru-
para diferentes lugares da cidade, muitas delas tura; por sua vez, a oferta de infraestrutura de
realizadas a pé. transportes (sistema viário, linhas de trans-
porte público, espaço de estacionamento etc.)
A falta de calçadas e localização inadequada proporciona condições mais ou menos atraen-
dos pontos de travessia de ruas e a superlo- tes para a localização das atividades (serviços,
tação dos veículos de transporte público são residência, comércio, indústria etc.).
problemas mais graves para as mulheres, sobre-
tudo quando grávidas, acompanhando crianças. Investimentos na infraestrutura ou nos servi-
A redução de oferta de viagens por transporte ços de transporte, tais como a ampliação do
público nos períodos entre picos e falta de polí- sistema viário ou a implantação de sistemas
tica tarifária integrada que permita a realização de transporte público, alteram a atratividade
de viagens múltiplas também são agravantes para localização de empregos e domicílios. Em
para as mulheres, na medida em que muitas contrapartida, as políticas de controle de uso
delas acumulam diversas tarefas ao longo do e ocupação do solo devem estimular o adensa-
dia. Outro problema grave é o assédio sexual mento nas regiões com capacidade ociosa de

125
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

infraestrutura de transporte e evitar a ocupa- tos negativos. Uma ação essencial na análise da
ção em áreas saturadas ou desprovidas dela, mobilidade é verificar quais são os consumos e
reduzindo assim os custos de urbanização. os impactos associados a cada forma de deslo-
camento, pois eles variam muito entre si.
Essa mesma relação existe entre a infraestrutura
de transporte e as políticas de desenvolvimen- a) Consumos da mobilidade urbana
to econômico. Os grandes empreendimentos
O primeiro consumo é o do espaço territorial.
industriais ou de serviços consideram a disponi-
O sistema de vias e calçadas, as estações e os
bilidade de transporte e os indicadores de aces-
terminais do transporte coletivo e os locais
sibilidade como condicionantes para escolha da
para estacionamento de veículos consomem
sua localização e, quando em operação, passam
grande quantidade de espaço físico. Um
a gerar deslocamentos de pessoas e de merca-
sistema viário ortogonal, com quadras de cem
dorias que usam essas infraestruturas.
metros, ocupa em média 20% do território.
Se adicionarmos apenas o espaço de estacio-
A análise do padrão de viagens nas cidades
namento de veículos dentro das residências,
mostra que também há correlação entre os
o consumo geral sobe para 22%. Se forem
indicadores de desenvolvimento econômico e
adicionados os espaços de estacionamento em
de mobilidade (índice de mobilidade, tempos
edifícios comerciais e de escritórios, o consumo
de viagem, escolha modal etc.). Isso permite
total pode chegar a 50%, como no caso extre-
o desenvolvimento de modelos matemáticos
mo da cidade de Los Angeles nos EUA.
para determinação dos padrões de atratividade,
desenho das redes de transporte, escolha de
O segundo consumo é o do tempo de percurso,
rotas e outras funções de planejamento dos
que varia em função do modo de transporte
transportes.
e das condições de trânsito. A caminhada é
feita a 4 km/hora, mas um automóvel ou uma
Esses modelos utilizam algumas variáveis quan-
motocicleta pode circular a até 60 km/hora em
tificáveis, como o estoque de terra urbanizada,
áreas urbanas. Do seu lado, o ônibus circula
o padrão e as limitações legais de uso do solo, o
entre 10 km/hora (sistemas congestionados
custo dos terrenos, o padrão de acessibilidade,
como o de São Paulo e Rio de Janeiro) e 20 km/
a oferta de serviços, a oferta de empregos, a
hora (cidades médias).
proximidade dos mercados (clientes e fornece-
dores); e outras não, como as condicionantes
O terceiro consumo é o de energia. Os modos
sociais e culturais.
motorizados consomem energia na forma de
óleo diesel em ônibus e caminhões e gasolina e
6.3.7. Consumos e impactos da
álcool em automóveis e motocicletas. O consu-
mobilidade urbana
mo é afetado pelas condições de manutenção
O planejamento da mobilidade requer um bom do veículo e pela velocidade média do trân-
conhecimento dos consumos e impactos a ela sito: em vias congestionadas, o consumo de
relacionados. A mobilidade requer uma grande combustível pode subir até 30% em relação ao
variedade de consumos e pode ter vários impac- consumo que ocorre em circulação livre.

126
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

O quarto consumo é o de dinheiro. Usar o pessoas do local. Este é o caso, por exemplo,
transporte coletivo requer o pagamento de da transformação de uma via residencial em
uma tarifa e usar um veículo particular requer sentido único de circulação, com aumento da
custos variados, como manutenção, impostos, quantidade e da velocidade dos veículos, redu-
combustível e estacionamento. zindo ou até eliminando os deslocamentos fei-
tos a pé ou de bicicleta e afetando gravemente
b) Impactos negativos da mobilidade urbana a vida das pessoas. É o caso também da cons-
trução de grandes avenidas, que criam bar-
A mobilidade urbana está relacionada a um
reiras de difícil transposição pelos moradores
grande número de impactos negativos.
e usuários. Ao enfatizar e apoiar demasiada-
mente o transporte rodoviário, o planejamento
O primeiro deles diz respeito à segurança de
de transporte tradicional contribuiu para o
trânsito, uma vez que os conflitos físicos no uso
isolamento e a desintegração das comunidades
de vias e calçadas podem resultar em acidentes.
– as cidades brasileiras são um exemplo muito
claro deste fenômeno. Há, assim, três níveis de
O segundo impacto é o ambiental, que se ex-
impacto que podem decorrer do efeito barreira
pressa principalmente na forma de emissão de
e que precisam ser considerados nos Planos de
poluentes pelos veículos automotores que usam
Mobilidade Urbana:
combustíveis e de geração de ruído e vibrações.

sQSJNÆSJPSFEVÌËPEPTEFTMPDBNFOUPTDVSUPT 
O terceiro impacto negativo é o congestiona-
devido à dificuldade de travessia, ao aumento
mento, que está relacionado à existência de flu-
dos percursos e ao perigo de acidentes;
xos de pedestre ou de veículos que superam a
sTFDVOEÆSJPNVEBOÌBOBBQSFFOTËPEPFTQB-
capacidade física de calçadas e vias, aumentan-
ço local, devido à redução dos deslocamentos e
do o desconforto e o tempo de deslocamento.
da interação social e à separação das comuni-
Neste aspecto, é essencial entender a diferen-
dades;
ça de consumo do espaço viário entre os vários
sUFSDJÆSJPNPEJGJDBÌËPEPGVODJPOBNFOUPEP
modos de transporte. Nas avenidas principais
local por mudanças no uso do solo.
de grandes cidades brasileiras, o espaço físico
ocupado por automóveis está em torno de 80%
Em relação aos consumos e aos custos da
da área disponível (IPEA-ANTP, 1998). Consi-
mobilidade urbana, a Figura 57 mostra que as
derando que os ônibus que circulam nestas
viagens no transporte coletivo nas cidades com
avenidas usam apenas 20% do espaço e trans-
mais de 60 mil habitantes consomem muito
portam em média vinte vezes mais pessoas
menos energia e emitem menos poluentes que
que os automóveis, o consumo do espaço por
as viagens no transporte individual. O custo
um passageiro do automóvel termina sendo
médio por habitante das viagens no transporte
oitenta vezes superior ao consumo por um
coletivo é muito inferior ao custo da viagem
passageiro do ônibus.
no transporte individual. Quando as externa-
lidades negativas de acidentes de trânsito e
O quarto impacto negativo é de natureza ur-
de emissão de poluentes são analisadas, o
banística e social e ocorre na forma do “efeito
transporte coletivo mostra-se muito menos
barreira”, quando fluxos de veículos interferem
prejudicial que o transporte individual.
negativamente na rede de relações entre as

127
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

Figura 57 – Consumos e impactos da mobilidade por habitante, cidades com mais de 60 mil
habitantes, Brasil, 2011.

600
514
500

400
Valor/hab./dia

274
300 271

200

100 82
36,7
8,3 1,10 4,60
0
Energia Poluição Custo Custo
(GEP) (gramas) mobilidade (R$) externalidades
(R$)

LEGENDA:
T. coletivo
T. individual

Fonte: ANTP, 2011 (elaboração adicional dos dados básicos).

O caso da Região Metropolitana de São Paulo, espaço (distância) pequenos em relação aos
apesar das suas grandes dimensões, é repre- modos públicos e privados de transporte. No
sentativo do que ocorreu em todo o País em caso do transporte público, ele era responsá-
escalas menores. A Figura 58 e a Figura 59 vel pelo maior consumo de tempo e de espa-
mostram como são os consumos e a geração ço, mas representava pouco em relação aos
de impactos da mobilidade das pessoas na impactos de energia, poluentes e acidentes de
maior metrópole brasileira. trânsito. Por seu lado, o transporte privado es-
tava relacionado ao maior consumo de energia
A Figura 58 mostra que a maior parte dos e de espaço, e aos maiores impactos negativos
deslocamentos diários em 1997 era feita a pé, de poluição e acidentes.
todavia levando a um consumo de tempo e de

128
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

Figura 58 – Consumos e impactos da mobilidade na RMSP por modo principal de


transporte, 1997.

100,0

90,0

80,0

70,0

60,0
% de ocorrência

50,0

40,0

30,0

20,0

10,0

0,0
s

po

es

2
n

gi
ço

es
nt
ge

er
pa

nt
ue
Te
a

En
Vi

de
Es

l
Po

i
Ac

LEGENDA:
A pé
Público
Privado

1: Espaço linear, multiplicando número de viagens pela distância média em cada modo de transporte.
2: Os acidentes foram atribuídos aos veículos, considerando que caminhar é a forma mais humana de transpor-
te e que ela está protegida pelo Código de Trânsito Brasileiro, que responsabiliza os condutores pela “incolumi-
dade” dos pedestres (artigo 29, inciso XII).

Fonte: Eduardo Vasconcelos, a partir de CMSP (1998).

A Figura 59, que relaciona o metabolismo da e acidentes muito mais elevados do que os
mobilidade à renda das pessoas, mostra clara- relativos às famílias de renda mais baixa. Com-
mente a enorme iniquidade do nosso sistema parando os dois extremos da escala de rendas,
de mobilidade. Pode-se observar que as famí- as famílias de renda mais alta têm consumos e
lias de renda mais alta apresentam consumos impactos entre 8 a 15 vezes superiores aos das
de espaço e de energia e impactos de poluição famílias de renda mais baixa.

129
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

Figura 59 – Consumos e impactos da mobilidade na RMSP, por nível de renda


familiar, 1997.

16
14
Índices (renda mais baixa = 1)

12
10
8
6
4

0
0 - 250 251 - 500 501 - 1.001 - 1.801 - 3.601 ou
1.000 1.800 3.600 mais

Renda mensal familiar (R$)

LEGENDA:
Acidendes 2
Poluentes
Energia
Espaço 1

1: Espaço dinâmico, considerando o espaço (m2) usado ao circular em cada modo de transporte.
2: Os acidentes foram atribuídos aos veículos, considerando que caminhar é a forma mais humana de transpor-
te e que ela está protegida pelo Código de Trânsito Brasileiro, que responsabiliza os condutores pela “incolumi-
dade” dos pedestres (artigo 29, inciso XII).

Fonte: Eduardo Vasconcelos, a partir de CMSP (1998).

c) A atratividade dos modos motorizados indiretos). Assim, as pessoas de uma sociedade


disponíveis aos usuários escolherão o modo a usar principalmente em
função dos custos diretos que elas percebem
Uma das características mais importantes das
facilmente – combustível e estacionamento –
políticas públicas se refere aos sinais tangíveis
mais a avaliação do tempo de viagem.
e simbólicos que elas emitem para a sociedade.
No caso da escolha dos modos de transporte a
A Tabela 4 e a Figura 60 mostram, para grandes
utilizar, a indicação dos custos da utilização é
cidades do Brasil, dados comparados de uma
essencial para apoiar a definição das pessoas.
viagem média de 9 km. A tabela demonstra que
É importante ressaltar que, embora os modos
o tempo total da viagem em ônibus é 43 mi-
privados de transporte motorizado incorram em
nutos, ao passo que o tempo para automóveis
custos diretos (combustível e estacionamento)
é 18 minutos e para motocicleta é 14 minutos.
e indiretos (seguros, manutenção, impostos,
Quanto ao custo de desembolso, o do ônibus é
depreciação), são os primeiros que impactam
R$ 2,2, enquanto o custo para usar o automóvel
mais a escolha modal por parte das pessoas
é R$ 2,5 e para usar a moto é R$ 0,65.
(muitas pessoas ignoram, na prática, os custos

130
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

Tabela 4 – Tempo de viagem e custo de desembolso de uma viagem de 9 km em ônibus,


automóvel e motocicleta, grandes cidades do Brasil, 2012.

INFORMAÇÃO DE USO DO
ÔNIBUS AUTO MOTO
MODO

Tempo de viagem (minutos) - - -

Acesso a pé 12 2 2

Espera 6 0 0

No veículo 25 18 14

Total 43 20 16

Fator tempo (ônibus = 1) 1 0,47 0,37

Custo (R$) 2,2 2,5 0,65

Fator custo (ônibus = 1) 1 1,1 0,3

Fonte: ANTP, 2011 (elaboração adicional dos dados básicos).

Os dados mostram que o custo de desembolso Os dados da Figura 60 representam uma


do usuário dos ônibus (a tarifa paga) é similar sinalização clara para a sociedade de que o
ao custo de usar um automóvel (gasolina e esta- transporte público não é conveniente e de que
cionamento) e é três vezes superior ao custo de o ideal é usar a motocicleta ou o automóvel.
usar a motocicleta; mostram igualmente que os Estas ações constituíram uma “pedagogia ne-
modos individuais são muito mais rápidos do gativa” do transporte coletivo que foi aplicada
que o ônibus. As políticas que construíram es- por décadas, tendo sido vivenciada cotidiana-
tas condições foram baseadas em benefícios e mente pela maior parte da população, influen-
isenções dadas aos automóveis e às motocicle- ciando sua visão sobre os modos desejáveis de
tas e em políticas inadequadas de oferta e de circulação nas cidades.
circulação do transporte coletivo, que aumenta-
ram seu custo e diminuíram sua confiabilidade.

131
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

Figura 60 – Tempo de viagem e custo de desembolso de uma viagem de 9 km em ônibus,


automóvel e motocicleta, grandes cidades do Brasil, 2012.

1,2

1 1 1,1
1

0,8
Índice (ônibus = 1)

0,6
0,47

0,4 0,37
0,3

0,2

0
Tempo viagem Custo direto

LEGENDA:
Ônibus
Auto
Moto

Fonte: ANTP, 2011 (elaboração adicional dos dados básicos).

6.4. Desenvolvimento urbano O termo “TOD”, sigla em inglês para Desen-


orientado ao transporte público volvimento Orientado ao Transporte (Transit
e não motorizado – TOD Oriented Development), é um conceito recente
e ainda pouco utilizado no Brasil, embora a
Conforme já explicitado no início do capítulo,
cidade de Curitiba seja referência internacio-
a mobilidade urbana é causa e consequência
nal no emprego desta abordagem de plane-
do desenvolvimento urbano e da organização
jamento urbano das cidades desde os anos
física da cidade. Essa interdependência alerta
1970. O termo TOD diz respeito à ação estatal
para o fato de que a resolução dos desafios de
para requalificação do espaço urbano focando
mobilidade urbana passa pela integração entre
em princípios da mobilidade urbana susten-
planejamento desta com o planejamento do
tável, incluindo: desenho urbano que priorize
desenvolvimento urbano. Entre outros objetivos,
o pedestre e o ciclista; incentivo ao uso do
esta integração de planejamento deve buscar
transporte de massa; restrição ao estaciona-
distribuir de forma mais equilibrada as ativida-
mento e circulação do automóvel; assim como
des no território para minimizar a necessidade
redefinição dos parâmetros de urbanismo com
de viagens motorizadas, incentivar o adensa-
foco em cidades compactas, adensadas, bem
mento nas regiões providas de infraestrutura,
conectadas e com uso misto do solo.
estimular o uso de transporte não motorizado
e coletivo. Nesse cenário, o conceito de De-
O modelo de desenvolvimento urbano orienta-
senvolvimento Orientado ao Transporte – TOD
do ao transporte público de massa, ao pedes-
representa um modelo que pode facilitar esta
tre e ao ciclista é um contraponto ao desen-
integração e contribuir para solucionar desafios
volvimento que produziu e reproduziu cidades
encontrados em diversas cidades brasileiras.

132
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

para automóveis no Brasil desde meados do No TOD, o foco do planejamento é a vizinhança


século XX. Somadas à falta de investimento em compacta, baseada na escala do pedestre e que
transporte público, as cidades brasileiras che- deve proporcionar o acesso a serviços e trans-
garam no século XXI com um enorme passivo porte público de alta capacidade em um raio de
econômico, social e ambiental. Para adequar- 400 a 800 metros no entorno da estação. Os
mos nossas cidades à Lei n. 12.587/2012, é fun- oito princípios-chave que devem estar presentes
damental nos desvincularmos do paradigma no planejamento do TOD e orientar sua elabora-
autocentrista e priorizarmos o planejamento ção são: caminhar, pedalar, conectar, promover
para pessoas, resultando em mais qualidade o transporte coletivo, compactar, adensar, mis-
de vida em nossas cidades. turar e promover mudanças (ITDP, 2014).

Princípios para um planejamento de TOD:

1. caminhar: vias para pedestres desobstruídas, bem iluminadas e de alta qualidade


aumentam a mobilidade básica para todos. Os equipamentos urbanos, os elementos
do paisagismo e as fachadas ativas dos prédios transformam calçadas e passagens em
espaços públicos vibrantes, confortáveis e seguros;
2. pedalar: um bom plano cicloviário aumenta a segurança dos ciclistas ao reduzir a
velocidade nas faixas de rodagem ou criar pistas separadas para as bicicletas.
É essencial ter uma rede completa de ciclovias e ciclofaixas, além de elementos
adequa dos para produzir sombra, superfícies lisas, estacionamento seguro para as
bicicletas e integração intermodal;
3. conectar: uma rede densa para trajetos a pé ou de bicicleta resulta em conexões mais
curtas, variadas e diretas, que melhoram o acesso a mercadorias, serviços e transporte
público;
4. promover o transporte coletivo: um sistema de transporte rápido, frequente,
confiável e de alta capacidade reduz a dependência de veículos motorizados
individuais. É importante planejar a localização de empreendimentos imobiliários de
alta densidade próximos ao transporte público de alta qualidade;
5. compactar: a reorganização ou a requalificação do tecido urbano existente ajuda a ga-
rantir que os residentes morem perto dos empregos, escolas, serviços e outros desti-
nos, reduzindo assim o tempo das viagens e as emissões dos veículos;
6. misturar: uma mistura diversificada de usos residenciais e não residenciais reduz o
número necessário de viagens e garante que o espaço público seja animado e vibrante
em todos os horários;
7. adensar: a intensificação dos usos residencial e comercial no entorno das estações de
transporte de alta capacidade ajuda a garantir que todos os residentes e trabalhadores
tenham acesso a um transporte de alta qualidade;
8. promover mudanças: tarifas adequadas de estacionamento e redução da oferta geral de
vagas em vias públicas e em áreas privadas incentiva o uso do transporte coletivo, a pé
ou de bicicleta.
4
Estudos sobre o tema podem divergir sobre o raio máximo para o acesso do pedestre em relação às
estações. De maneira geral, considera-se que 10 minutos ou até 1 km é uma distância aceitável para a
caminhada. Reiterando que, para um bom projeto de TOD, esse caminho deve ser amigável ao pedestre.

133
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

Para que o desenvolvimento orientado ao sSBDJPOBMJ[BÌËPEPTJOWFTUJNFOUPTFNUSBOTQPS-


transporte público de massa e não motorizado te público coletivo e sistemas alimentadores;
se torne uma realidade e seja estimulado em sQSPYJNJEBEFFGVODJPOBMJEBEFFOUSFBTFT-
nossas cidades, é fundamental um sistema de tações e terminais de transporte público com
financiamento integrado a uma visão de longo serviços de alta qualidade em modos como
prazo sobre qual cidade queremos. BRT, metrô e trens urbanos;
sHFSFODJBNFOUPFGFUJWPEPFTUBDJPOBNFOUPOP
Para os principais teóricos no tema, Cervero, entorno de estações;
Suzuki e Luchi (2013), assim como para Fraker sQPUFODJBMJ[BÌËPEPEFTFOWPMWJNFOUPTPDJBM
(2009), o planejamento de TOD deve se basear a partir do TOD, tornando as cidades mais
nos seguintes preceitos, além das diretrizes já inclusivas;
explicitadas anteriormente: sJNQMBOUBÌËPEFFRVJQBNFOUPTQÜCMJDPTBUSB-
tivos e integrados com a comunidade;
sEFTFOWPMWJNFOUPEFVNQMBOPFTUSBUÍHJDP sVUJMJ[BÌËPEFJOTUSVNFOUPTEFHFTUËPVSCB-
sDSJBÌËPEFVNBQPJPJOTUJUVDJPOBMFBNCJFOUF na para a captura de mais-valia. No caso do
governamental favorável; Brasil, o Estatuto da Cidade (Lei n. 12.257 de
sSFNPÌËPEFCBSSFJSBTSFHVMBUÖSJBTFFTUBCFMF- 2001) possibilita aos municípios a utilização
cimento de valores de terra que sejam apro- das Outorgas Onerosas do Direito de Construir
priados; (OODC) e as Operações Urbanas Consorciadas
sFTUBCFMFDJNFOUPEFPCKFUJWPTEFDVSUPQSB[P (OUC) ao longo de eixos estruturantes de trans-
e metas de desenvolvimento sustentável em porte de alta capacidade, com aproveitamento
paralelo; do potencial construído de áreas adensadas.

Figura 61 – Integração entre política de mobilidade e de uso do solo.

CARACTERÍSTICAS INERENTES ÀS CIDADES


Condições históricas e naturais
Padrão de desenvolvimento urbano
Cenário governamental e institucional

5SBOTQPSUF
FORÇAS DE MERCADO INTERVENÇÕES PÚBLICAS
s.FSDBEPJNPCJMJÆSJP s-FJTFSFHVMBNFOUBÌËP
(formal e informal) Desenvolvimento do solo s1PMÑUJDBTFQMBOPT
s1PMÑUJDBTFQMBOPT s'FSSBNFOUBTQBSB 
s$SFTDJNFOUP  QMBOFKBNFOUPEF 
FDPO×NJDPSFHJPOBM JNQMFNFOUBÌÚFT
OPÇÕES DE FINANCIAMENTO s(FSFODJBNFOUPEB
demanda de viagens
Privado
s e uso do solo
1BSDFSJBQÜCMJDPQSJWBEP
s
1ÜCMJDP

'PSÌBTNBDSPDPOEJÌÚFTTPDJPFDPO×NJDBT

Fonte: adaptado de Suzuki, Cervero e Luchi, 2013.

134
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

6.4.1. O caso de Curitiba de corredores de ônibus (sistema trinário es-


trutural). Este planejamento propiciou que uma
A experiência da cidade de Curitiba, no Paraná,
parte considerável da cidade se desenvolvesse
é internacionalmente reconhecida como pio-
ao longo desses eixos adensados e, ao mes-
neira por integrar o planejamento dos corredo-
mo tempo, fossem atendidos pelo transporte
res de ônibus ao planejamento do uso e ocupa-
público de massa e de qualidade. Nas imagens
ção do solo. Através do Plano Diretor de 1966
abaixo, é possível ver a sequência dos prédios
(revisto em 2004), a cidade optou pelo modelo
em forma linear, definindo a distribuição espa-
de planejamento de estrutura linear, com
cial da cidade.
adensamento ao longo de eixos estruturantes

Figura 62 – Foto aérea da cidade de Curitiba/PR, adensamento com foco nos corredores da
Rede Integrada de Transportes (RIT).

Fonte: Mariana Gil/EMBARQ Brasil.

135
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

Figura 63 – Foto aérea da cidade de Curitiba/PR, adensamento com foco nos corredores da
Rede Integrada de Transportes (RIT).

Fonte: Mariana Gil/EMBARQ Brasil.

Figura 64– Foto aérea da cidade de 6.4.2. O caso de Belo Horizonte


Curitiba/PR, adensamento com foco nos
O município de Belo Horizonte, em Minas Ge-
corredores da Rede Integrada de
rais, também tem adotado uma abordagem ali-
Transportes (RIT).
nhada com o conceito de TOD. Em seu Plano de
Mobilidade Urbana desenvolvido em 2009, TOD
é definido como conceito norteador para pro-
por políticas integradas de uso do solo e mo-
bilidade, redefinindo o zoneamento de certas
áreas da cidade, estimulando o adensamento
e a reorganização para que a cidade se torne
mais compacta, com priorização para os modos
de transporte a pé, de bicicleta e de transporte
público sobre o modo individual motorizado.

“Para ter sucesso, o TOD tem de estar


associado às redes de transporte cole-
tivo e não motorizado, desestimulando
o uso do transporte motorizado indivi-
dual. Uma vez que esse tipo de política
é concebido para satisfazer as variadas
necessidades dos usuários, a meta é
possibilitar todas as opções de trans-
porte, incluindo o individual motorizado,
porém com prioridade total ao sistema
público e não motorizado.” (PlanMob
Fonte: Mariana Gil/EMBARQ Brasil.
-BH, 2009)

136
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

Neste contexto, a Prefeitura elaborou as metas parência e permite o monitoramento efetivo


do Plano Municipal de Mobilidade Urbana rela- pela sociedade civil e operadores de direito.
cionadas a elementos-chave de TOD, conforme Trata-se de exemplos concretos para diretrizes
o Quadro 5. A explicitação de metas, elemen- que podem conter nos planos municipais de
tos-chave e diretrizes resulta em mais trans- mobilidade em diversas cidades do País.

Quadro 5 – Relação entre metas do Plano de Mobilidade de BH e TOD.

PRINCIPAIS METAS DO PLANO DE


ELEMENTOS-CHAVE DO TOD
MOBILIDADE DE BH

Acessibilidade Prioridade para modos coletivos e não motorizados

Segurança Maior concentração e movimentação de pedestres

Maior densidade de usuários no entorno dos


Eficiência
corredores

Maior acessibilidade, menos poluição, mais saúde


Qualidade de vida
para a população

Usos mistos nas proximidades da rede de


Dinamismo econômico
transporte coletivo

Ação integrada Uso do solo conectado com transporte

Melhoria da acessibilidade à população de baixa


Inclusão social
renda

Fonte: Plano de Mobilidade de BH.

6.5. Instrumentos de gestão urbana solo nas cidades. O Estatuto da Cidade (Lei n.
para o Planejamento Integrado do 10.257 de 2001) fornece alguns instrumentos
Uso do Solo e da Mobilidade Urbana que podem ser utilizados para este fim.

A Lei n. 12.587/2012, que institui as diretrizes


6.5.1. As Operações Urbanas Consor-
da Política Nacional de Mobilidade Urbana,
ciadas (OUC) e a Outorga Onerosa do
prevê na Sessão II, artigo 6o, a “integração
Direito de Construir (OODC)
com a política de desenvolvimento urbano e
respectivas políticas setoriais de habitação, Já no Estatuto da Cidade, Lei n. 10.257/2001,
saneamento básico, planejamento e gestão estava prevista a possibilidade da utilização do
do uso do solo no âmbito dos entes federati- instrumento de gestão urbana Outorga One-
vos”. Como vimos no capítulo anterior sobre rosa do Direito de Construir (OODC). A OODC
o conceito de TOD, é fundamental pensarmos consiste na cobrança de uma contrapartida
um desenvolvimento urbano sustentável que ao empreendedor pelo exercício do direito de
integre o planejamento da mobilidade urbana construir além do limite de aproveitamento
ao planejamento do uso e da ocupação do básico adotado pelo zoneamento local até o
limite máximo de aproveitamento possível.

137
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

Para autores como Furtado, Biasotto e buscar meios para ampliar as fontes de
Maleronka (2012), existem ao menos quatro recursos municipais para o financiamen-
motivações que podem levar os municípios a to do desenvolvimento urbano. Outra
propor uma OODC (com grifos nossos): importante motivação para a aplicação
da OODC, de ordem social, é colaborar
“Pode-se dizer que parte da motivação para a efetivação de melhores condições
política se dá em função da busca por de acesso à terra urbanizada por todos
maior equidade nas ações de desen- os cidadãos, por meio da aplicação dos
volvimento urbano, através da reali- recursos auferidos. Por fim, a implemen-
zação de uma distribuição mais justa tação da OODC é capaz de proporcionar
dos benefícios e ônus decorrentes do mais autonomia e liberdade às decisões
processo de urbanização, diretriz maior e ações urbanísticas, uma vez que sua
ligada à aplicação da OODC. Uma se- utilização envolve critérios de compen-
gunda motivação relacionada à utiliza- sação dos efeitos econômicos dessas
ção da OODC, de natureza econômica, decisões e ações.” (FURTADO; BIASOTTO
está vinculada à necessidade atual de e MALERONKA, 2012)

Critérios essenciais para a aplicação da OODC:

sQSFWJTËPOP1MBOP%JSFUPS
sGJYBÌËPEFDPFGJDJFOUFEFBQSPWFJUBNFOUPCÆTJDPFEFMJNJUFTNÆYJNPT
sEFGJOJÌËPEBTÆSFBTEFJODJEÎODJBEPJOTUSVNFOUP
sOBUVSF[BEBDPOUSBQBSUJEB
sGÖSNVMBEFDÆMDVMPEBDPOUSBQBSUJEB
sEFTUJOBÌËPEPTSFDVSTPTBVGFSJEPT
Fonte: Furtado; Biasotto; Maleronka, 2012.

No âmbito da Mobilidade Urbana, a legislação Com a legislação, outro mecanismo permitido


prevê o processo de implementação das OODC para a o financiamento das Operações Urbanas
através das Operações Urbanas Consorciadas nas cidades são os Certificados de Potencial
(OUC) e sua relação com a abordagem de TOD. Adicional de Construção (Cepacs). O potencial
Isso porque é no perímetro de cada Operação adicional de construção é definido por lei espe-
Urbana que o zoneamento, os mecanismos de cífica para cada OUC, definindo a quantidade
financiamento e as melhorias no entorno das de metros quadrados que se pode construir em
estações podem ser estabelecidos. determinado terreno. Os títulos de Cepacs são
negociados na Bolsa de Valores, segundo Ins-
A Operação Urbana Consorciada permite a trução 401/2003 da CVM – Comissão de Valores
inclusão de obras e serviços que podem ser Mobiliários.
executados com recursos advindos das OODC.
Pela legislação brasileira: A recuperação da mais-valia [das Operações
Urbanas] advém da aplicação dos instrumentos
Considera-se OUC o conjunto de inter- legais, dos recursos advindos da valorização
venções e medidas coordenadas pelo fundiária resultante da ação do Poder Público
Poder Público municipal, com a participa- e de sua aplicação em obras de infraestrutura
ção dos proprietários, moradores, usuá- urbana, sistema viário necessário ao transporte
rios e investidores privados, com objetivo coletivo, recuperação ambiental e habitação de
de alcançar em uma área transformações interesse social, entre outros (ALVIM, ABASCAL
urbanísticas estruturais, melhorias so- e MORAES, 2011, p. 219).
ciais e valorização ambiental (Estatuto da
Cidade, Brasil 2001, art. 32, § 1º).

138
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

Os proprietários que se beneficiarem com a sEFGJOJÌËPEBTGJOBMJEBEFTBTFSFNBUFOEJEBT


utilização maior do potencial construtivo, e, pela aplicação dos recursos financeiros obtidos
pois, da infraestrutura urbana, deverão de- com a aplicação da OODC;
volver parte da riqueza gerada à coletividade sQSFWJTËPEFDSJBÌËPEFVN'VOEP.VOJDJQBM
(SANTORO e CYMBALISTA, 2008, p. 88). que receba os recursos financeiros obtidos
com a aplicação da OODC;
Furtado, Biasotto e Maleronka (2012) propõem sJOEJDBÌËP RVBOEPGPSPDBTP EBTTJUVBÌÚFT
um roteiro do que deve constar no Plano Dire- passíveis de isenção, estando claramente
tor de um município para a regulamentação da indicados os objetivos e as finalidades a serem
OODC: atingidos. Vale lembrar que, quanto menos
casos de isenção houver, maior será a equidade
sEFGJOJÌËPEP$PFGJDJFOUFEF"QSPWFJUBNFOUP promovida pela regulação do uso e da ocupa-
Básico (CAB) dos terrenos urbanos; ção do solo.
sJOEJDBÌËPEBTÆSFBTVSCBOBTRVFQPEFSËP
absorver construções que ultrapassem o CAB dos Alguns autores como Levinson, Istrate (2011) e
terrenos, passíveis de aplicação da OODC. Esta Smith, Gihring e Litman (2013) têm defendido o
indicação pode ser feita com base na definição uso dos instrumentos de captura de mais-valia
do macrozoneamento e na delimitação do perí- para financiar os investimentos no setor de
metro urbano; mobilidade urbana. Um exemplo recente do uso
sDSJUÍSJPTQBSBPFTUBCFMFDJNFOUPEPTMJNJUFT de uma OUC no Brasil para o desenvolvimento
máximos de aproveitamento dos terrenos; de um projeto de mobilidade é a Linha Verde do
BRT de Curitiba, na BR 476 (antiga BR 116).
Figura 65 – Linha Verde em Curitiba/PR.

Fonte: Mariana Gil/EMBARQ Brasil.

A iniciativa tem como objetivo não apenas a parcelamento, a edificação ou a utilização do


criação de mais um eixo estruturante de trans- solo urbano mediante lei municipal. O artigo 5
porte de alta capacidade, mas de reconfigura- do Estatuto institui que lei municipal específi-
ção da área, redefinido o uso do solo – antes ca para área incluída no Plano Diretor poderá
somente de serviços – para uso misto, com determinar o parcelamento, a edificação ou a
aumento da densidade habitacional. utilização compulsórios do solo urbano não
edificado, subutilizado ou não utilizado, deven-
6.5.2. Parcelamento, edificação ou uti- do fixar as condições e os prazos para imple-
lização compulsórios do solo urbano mentação da referida obrigação. No âmbito da
integração do planejamento urbano e de mobi-
O Estatuto da Cidade também prevê a possi-
lidade, este instrumento poderia ser aplicado
bilidade de o Poder Público municipal exigir o

139
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

em áreas contempladas por meios de transpor- Para aplicação desse instrumento o Poder
te público coletivo de média ou alta capacida- Público deverá notificar e estabelecer um prazo
de no intuito de contribuir para o adensamento para o proprietário executar a obrigação de
demográfico nessas áreas e promover o uso de parcelamento, edificação ou utilização compul-
transporte coletivo. sórios. Caso sejam descumpridos os prazos e
condições, o Poder Público poderá aplicar um
Embora este instrumento busque contribuir imposto sobre a propriedade predial e territo-
para implementar o princípio constitucional de rial urbana (IPTU) progressivo no tempo (art. 7
função social da propriedade (arts. 170 e 182 do Estatuto da Cidade). Se o proprietário não
da Constituição Federal de 1988), é importante cumprir a obrigação de parcelamento, edifi-
ressaltar que o seu uso depende da aprovação cação ou utilização compulsórios após cinco
e implementação do Plano Diretor e respectivas anos de cobrança do IPTU progressivo, o Poder
leis no âmbito municipal. Estas leis deverão deli- Público poderá proceder à desapropriação do
mitar as áreas urbanas e condições de aplicação imóvel, com pagamento em títulos da dívida
do uso do instrumento. pública com resgate em até dez anos (art. 8 do
Estatuto da Cidade).

140
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

141
6 Planejamento da Mobilidade Urbana

142
Planejamento da Mobilidade Urbana 6

07
ESTRUTURA
E CONTEÚDO
DO PL ANO DE
MOBILIDADE
URBANA 143
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

Este capítulo tem por objetivo apresentar as sBJOUFHSBÌËPEPTNPEPTEFUSBOTQPSUFQÜCMJDP


partes básicas que devem compor o Plano de e destes com os privados e os não motorizados;
Mobilidade Urbana, bem como seu conteúdo. O sBPQFSBÌËPFPEJTDJQMJOBNFOUPEPUSBOTQPSUF
capítulo aborda os princípios, as diretrizes e os de carga na infraestrutura viária;
objetivos que, por lei, devem nortear a elabo- sPTQPMPTHFSBEPSFTEFWJBHFOT
ração do plano. Também são apresentadas as sBTÆSFBTEFFTUBDJPOBNFOUPTQÜCMJDPTFQSJ-
etapas de diagnóstico e prognóstico assim vados, gratuitos ou onerosos;
como as principais pesquisas e os métodos sBTÆSFBTFPTIPSÆSJPTEFBDFTTPFDJSDVMBÌËP
que permitem a realização dessas tarefas. A restrita ou controlada;
última parte do capítulo é dedicada ao conteú- sPTNFDBOJTNPTFJOTUSVNFOUPTEFGJOBO-
do mínimo que deve estar incluído no Plano de ciamento do transporte público coletivo e da
Mobilidade Urbana em conformidade com a lei, infraestrutura de mobilidade urbana;
não obstante a necessidade de ajustes para as sBTJTUFNÆUJDBEFBWBMJBÌËP SFWJTËPFBUVBMJ[B-
cidades de pequeno porte. ção periódica do Plano de Mobilidade Urbana
em prazo não superior a dez anos.
7.1. Introdução
O conteúdo dos Planos de Mobilidade Urbana
Os Planos de Mobilidade Urbana são instru-
não se esgota nos elementos explicitados no
mentos de internalização das diretrizes, dos
art. 24 da PNMU. Há requisitos, expressos em
objetivos e dos princípios gerais da Política
outros dispositivos da Lei, que também devem
Nacional de Mobilidade Urbana. Sua finalidade
ser considerados pelos Planos de Mobilidade
é a de, por meio do planejamento de curto,
Urbana, sendo o caso daqueles insertos nos
médio e longo prazos, traduzir os objetivos de
artigos 21 e 15 da Lei n. 12.587/2012.
melhoria da mobilidade urbana local em me-
tas, ações estratégicas e recursos materiais e
Como instrumentos de planejamento, gestão e
humanos, viabilizando os meios para a efetiva
avaliação dos sistemas de mobilidade (art. 21),
transformação desejada e, com isso, contri-
os Planos de Mobilidade Urbana também de-
buindo com uma real promoção do desenvolvi-
vem contemplar: a identificação clara e trans-
mento da cidade.
parente dos objetivos de curto, médio e longo
prazos e dos meios financeiros e institucionais
Devem ser construídos a partir de uma visão
que assegurem a sua implantação e execução.
clara do papel do sistema de mobilidade urba-
O mesmo dispositivo exige, inclusive, a defini-
na na construção e no desenvolvimento da ci-
ção de metas de atendimento e universalização
dade, conforme definido no Plano Diretor. Não
da oferta de transporte coletivo, monitoradas
menos importante, devem identificar os pontos
por indicadores preestabelecidos.
de interface e as inter-relações mútuas com a
ordenação do uso do solo e com a qualidade
Além disso, os Planos de Mobilidade Urbana
ambiental local, regional e global.
precisam prever os mecanismos que serão ado-
tados pelo município para a garantia da partici-
A Política Nacional de Mobilidade Urbana –
pação social nas etapas de implantação, moni-
PNMU, no seu art. 24, lista um conjunto de
toramento e avaliação, conforme exige o art. 15.
elementos a serem contemplados nos Planos
de Mobilidade Urbana:
Esses itens de conteúdo serão considerados,
de forma mais detalhada, no item 7.4.
sBUSBEVÌËP DPOGPSNFPDPOUFYUPFBTFTQF-
cificidades de cada município, dos princípios,
Para além dos requisitos propriamente de con-
objetivos e diretrizes estabelecidos na PNMU;
teúdo, a elaboração dos Planos de Mobilidade
sPTTFSWJÌPTEFUSBOTQPSUFQÜCMJDPDPMFUJWP
Urbana demanda a realização de duas etapas
sBDJSDVMBÌËPWJÆSJB
prévias – a de diagnóstico e a de prognóstico
sBTJOGSBFTUSVUVSBTEPTJTUFNBEFNPCJMJEBEF
da mobilidade urbana. Na primeira, busca-se
urbana;
coletar, sistematizar e analisar um conjunto de
sBBDFTTJCJMJEBEFQBSBQFTTPBTDPNEFGJDJÎODJB
dados específicos dos sistemas de mobilida-
e restrição de mobilidade;

144
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

de urbana, bem como informações relevantes As causas destes problemas podem estar rela-
sobre o contexto e a evolução socioeconômica cionadas, dentre outros motivos, ao uso inten-
da cidade, a legislação incidente etc. Por meio sivo do automóvel, que gera grandes conges-
desse diagnóstico, mostra-se possível identi- tionamentos, a uma rede de transporte coletivo
ficar e entender os vetores dos problemas de subdimensionada, sem prioridade nas vias e
mobilidade presentes na cidade. integração física ou tarifária, à inexistência de
infraestrutura para o transporte cicloviário ou
A etapa de prognóstico toma como base os calçadas para a circulação de pedestres. Con-
dados obtidos por meio do diagnóstico e, forme o porte da cidade analisada, os proble-
usando diferentes metodologias (como mode- mas e suas causas têm diferentes abrangência
lagens de transporte), projeta, para o futuro, o e importância.
comportamento dos sistemas de mobilidade,
considerando-se a situação atual e as alternati- Um diagnóstico bem elaborado é condição
vas possíveis de gestão. Nesta etapa, é possível para o estabelecimento de um conjunto de
promover a compreensão da sociedade e da ações regulatórias e projetos de transporte
administração municipal sobre os problemas público e não motorizados que a cidade vai
da mobilidade urbana e o que vai acontecer implementar nos próximos anos para a solução
na cidade nos próximos dez ou vinte anos, dos problemas identificados.
caso as condições atuais não sejam modifica-
das, formando o que se denomina de Cenário A etapa de diagnóstico da mobilidade urbana
Tendencial. A partir do Cenário Tendencial, é tem também a função de levantar e sistemati-
possível estabelecer as alternativas possíveis zar um conjunto robusto de dados e informa-
para a solução dos problemas, o que se dá pela ções, por meio dos quais torna-se possível, ao
implantação de um conjunto de projetos de gestor público, não só obter uma fotografia da
infraestrutura de transporte coletivo, transpor- situação das condições de deslocamento na ci-
te não motorizado (melhorias para a circulação dade, como entender seus vetores econômicos,
de pedestres e ciclistas) e instrumentos de políticos, técnicos e culturais, e, a partir daí,
gestão de demanda de viagens para desesti- possibilitar uma leitura de futuro sobre a inter
mular o uso dos modos individuais motoriza- -relação mobilidade-desenvolvimento urbano,
dos e estimular o uso do transporte coletivo bem como o delineamento de alternativas para
e dos modos não motorizados no conjunto de a política local de mobilidade.
deslocamentos da população.
A base de informações do setor de mobilidade
7.2. Diagnóstico da Mobilidade Urbana urbana pode ser montada a partir de dados de
fontes primárias (dados obtidos diretamente
O objetivo da elaboração do diagnóstico da
em campo) ou através de levantamentos em
mobilidade urbana é identificar claramente
fontes secundárias (dados disponíveis, docu-
os problemas enfrentados pelas pessoas para
mentos, bibliografia). É importante destacar
acessar as oportunidades que a cidade oferece
que a insuficiência de infraestrutura não pode
e as suas causas. Ao se observar principal-
ser confundida com o problema. Ela pode ser
mente as grandes e médias cidades brasilei-
uma das causas dos problemas, como o au-
ras, percebe-se nos últimos anos o aumento
mento de tempo de deslocamento por trans-
no tempo de deslocamento, o aumento nos
porte coletivo, a ausência de integração entre
seus custos, a existência de elevado número
os modos de transporte e a baixa participação
de vítimas do trânsito (mortos e feridos), o
da bicicleta nos deslocamentos das pessoas.
aumento do consumo de energia e da emissão
de poluentes que pioram a qualidade do ar (co-
Cabe ressaltar que os princípios da gestão de-
nhecidos como poluentes locais) e o aumento
mocrática e participativa se aplicam a todas as
das emissões de gases de efeito estufa, que
etapas da elaboração do Plano de Mobilidade
promovem as mudanças climáticas e a falta de
Urbana, inclusive à de diagnóstico.
acessibilidade, principalmente para população
de mais baixa renda.

145
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

7.2.1. Dados primários de demanda do transporte coletivo podem ser


repetidas frequentemente.
Os dados primários são resultado de levanta-
mentos realizados diretamente em campo, es-
As possibilidades de realização de pesquisas
pecíficos para o aspecto da mobilidade urbana
de campo são muitas, dependendo de cada
que se esteja analisando. Independentemente
situação, porém alguns tipos são usuais na
do tipo ou grupo de informações desejado,
gestão dos serviços de transporte coletivo e da
o processo de obtenção de dados envolve as
circulação urbana. Na literatura técnica, estão
seguintes atividades:
disponíveis vários manuais e documentos que
oferecem aos interessados maiores detalhes
i) seleção e especificação dos objetivos da
sobre a sua execução. Nos subitens a seguir
coleta;
são descritos os principais levantamentos e
ii) seleção das informações a serem obtidas;
pesquisas que podem ser empregados pela
iii) planejamento dos processos de coleta de
equipe responsável pela elaboração do Plano
dados, incluindo a identificação dos recursos
de Mobilidade Urbana.
disponíveis, a definição da metodologia de
coleta, a definição da amostra, a preparação de
a) Inventários físicos
formulários e a logística para a sua aplicação;
iv) treinamento das equipes de pesquisa; Os inventários físicos referem-se aos levanta-
v) aplicação da pesquisa e obtenção dos dados mentos das condições da infraestrutura urbana
brutos; destinada à circulação, incluindo o sistema vi-
vi) tabulação dos dados coletados em campo; ário e as suas benfeitorias, os sistemas de con-
vii) consistência dos dados obtidos, análise e trole de tráfego de veículos e outros aspectos:
crítica;
viii) organização do banco de dados. a.1) Inventário do sistema de circulação
para pedestres:
As pesquisas oferecem aos órgãos públicos sEFTDSJÌËPEBTDBSBDUFSÑTUJDBTEPTQBTTFJPT 
gestores uma valiosa base de informações so- incluindo informações como largura, materiais
bre a cidade para utilização no planejamento e empregados, declividades, rampas, estado de
na gestão da mobilidade urbana, a qual, diante conservação, entre outros;
da dinâmica das cidades, precisa de periódicas sDPOEJÌÚFTEFBDFTTJCJMJEBEFEPTQBTTFJPT 
atualizações. considerando seu grau de dificuldade de uso
por pessoas com deficiência;
De fato, as pesquisas de campo revelam uma sIJFSBSRVJBEBWJBFDPNQBUJCJMJEBEFEFTUB
situação que se altera ao longo do tempo como com as características do passeio.
resultado da implementação de políticas públi-
cas ou como produto da evolução das relações a.2) Inventário do sistema de circulação
sociais e econômicas que estão presentes nas para bicicletas:
cidades. Em consequência, elas precisam ser
atualizadas periodicamente, por meio de pro- sEFTDSJÌËPEBTJOGSBFTUSVUVSBTQBSBDJSDVMBÌËP
jeções dos dados originais ou com a realização de bicicletas (ciclovias e ciclofaixas) conside-
de novas pesquisas. rando suas características, estado de conserva-
ção, entre outros;
A periodicidade da revalidação das pesquisas sIJFSBSRVJBEBWJBFDPNQBUJCJMJEBEFEFTUBDPN
depende do tipo de informação a ser obtida, da as características da infraestrutura cicloviária.
margem de erro aceita e das dificuldades ope-
racionais e econômicas para a realização de no- a.3) Inventário do sistema de circulação
vas coletas. Pesquisas mais complexas, como a para transporte coletivo:
pesquisa origem/destino, podem ser realizadas
sJEFOUJGJDBÌËPEBTSPUBTEFUSBOTQPSUFDPMFUJWP
com menor frequência, enquanto levantamen-
sEFTDSJÌËPEBTDPOEJÌÚFTEBTWJBTEFTUJOBEBT
tos operacionais como contagens volumétricas
à circulação do transporte coletivo;
de veículos localizadas ou pesquisas pontuais
sIJFSBSRVJBEBWJBFDPNQBUJCJMJEBEFEFTUB

146
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

com a circulação do transporte coletivo; sMPDBMJ[BÌËPFDBSBDUFSÑTUJDBTEBTJOBMJ[BÌËP


sOÑWFMEFQSJPSJEBEFEBEPBPUSBOTQPSUFDPMFUJ- semafórica, incluindo dispositivos de centrali-
vo na via (vias exclusivas, faixas exclusivas); zação;
sFTUBÌÚFTFUFSNJOBJTEFUSBOTQPSUFDPMFUJWP sMPDBMJ[BÌËPFDBSBDUFSÑTUJDBTPQFSBDJPOBJTEPT
urbano, intermunicipal e estadual; equipamentos de fiscalização eletrônica.
sQPOUPTEFQBSBEBEPUSBOTQPSUFDPMFUJWPFB
sua infraestrutura (existência de abrigo, ban- a.8) Inventário de estacionamentos:
cos, informação aos usuários etc.);
sMPDBMJ[BÌËPEBTHBSBHFOTEBTFNQSFTBTEF sPGFSUBEFWBHBTEFFTUBDJPOBNFOUPTOBWJBQÜ-
transporte coletivo; blica (com e sem cobrança pelo setor público);
sDPNVOJDBÌËPWJTVBMFTJTUFNBTEFJOGPSNBÌËP sPGFSUBEFWBHBTEFFTUBDJPOBNFOUPTGPSB
do transporte coletivo. da via pública, em áreas públicas (bolsões
de estacionamentos, terminais e estações de
a.4) Inventário do sistema de circulação transporte coletivo etc.) ou privadas (estaciona-
para tráfego geral: mentos particulares, vagas em polos geradores
de tráfego, e outros);
sDMBTTJGJDBÌËPFIJFSBSRVJ[BÌËPWJÆSJB sMPDBMJ[BÌËPFPGFSUBEFWBHBTFNCJDJDMFUÆSJPT
sTFOUJEPEFDJSDVMBÌËPEPUSÆGFHPFTFVNPWJ-
mento em interseções; b) Pesquisas de comportamento na
sEFTDSJÌËPEBTDBSBDUFSÑTUJDBTGÑTJDBTEBTWJBT circulação
(dimensões longitudinais e transversais, nú-
mero de pistas, número de faixas por sentido, Em complemento ao inventário físico, que
existência de canteiro central, geometrias, tipo fornece informações sobre a capacidade e as
de pavimento e sistema de drenagem); características da infraestrutura dos sistemas
sEFTDSJÌËPEBTDPOEJÌÚFTEFUSÆGFHP TFHVSBO- de transportes, as pesquisas de demanda
ça, estado do pavimento etc.); informam o mapeamento quantitativo dos
sMFWBOUBNFOUPEBTÆSFBTEFSFTUSJÌËPEFFTUB- movimentos de transportes, no espaço e no
cionamento; tempo. Estas pesquisas buscam quantificar e
sMPDBMJ[BÌËPEPTQPOUPTEFUÆYJ qualificar deslocamentos (viagens), medir a de-
manda para cada tipo de viagem, identificar as
a.5) Inventário do sistema de circulação de origens e os destinos (distribuição espacial das
cargas: viagens ou matriz origem/destino), conhecer os
motivos das viagens e os modos de transportes
sJEFOUJGJDBÌËPEBTPSJHFOT EPTEFTUJOPTFEBT adotados (distribuição modal), identificar os
rotas do transporte de cargas; caminhos escolhidos (alocação de viagens na
sJEFOUJGJDBÌËPEPTDFOUSPTMPHÑTUJDPT rede de transportes) e verificar a distribuição
sJEFOUJGJDBÌËPEFFRVJQBNFOUPTEFBQPJP temporal das viagens (horários de pico e entre
picos de demanda).
a.6) Inventários complementares:
As informações sobre a circulação viária devem
sMPDBMJ[BÌËPFDBSBDUFSJ[BÌËPEPTQPMPTHFSB- abranger todos os modos de transporte moto-
dores de viagens; rizados ou não, coletivos e individuais, públicos
sUSBOTQPSUFFTDPMBSFGSFUBNFOUPT e privados.
sMFWBOUBNFOUPEBTJOUFSTFÌÚFTDPNTJTUFNBT
rodoviários e/ou ferroviários; b.1) Pesquisas de origem e destino
sMFWBOUBNFOUPEPTQBESÚFTEFVTPFPDVQBÌËP
dos solos lindeiros. As pesquisas de origem e destino (pesquisa
O/D) visam determinar a distribuição espacial e
a.7) Inventário de sistemas de controle de temporal dos desejos de deslocamentos gera-
tráfego: dos em uma determinada região ou cidade.

sMPDBMJ[BÌËPFDBSBDUFSÑTUJDBTEBTJOBMJ[BÌËP O princípio deste tipo de pesquisa é a divisão


horizontal e vertical; da área objeto de análise em zonas de tráfego

147
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

que configuram unidades territoriais relativa- Em todos os casos, o produto final destas
mente homogêneas de origem e destino de pesquisas é uma matriz quadrada que retrata
viagens. As viagens internas (intra e interzonas) o número de viagens (demanda de viagens), em
e externas são medidas em amostras estatis- um determinado espaço de tempo (hora, dia,
ticamente representativas, e seus resultados mês), entre cada par (origem e destino) de zo-
são posteriormente expandidos para todo o nas de tráfego. Em alguns casos, estas viagens
universo da pesquisa. podem ser desagregadas por motivo (trabalho,
estudo, lazer, compras, outros), por renda, sexo,
Há muitas maneiras de se realizar pesquisas idade ou escolaridade da população, por meio
origem/destino, cada uma delas com aplicação de transporte utilizado e todas as outras variá-
e resultados próprios, podendo ser aplicadas veis compreendidas na pesquisa.
em diversos estudos, em função dos objetivos
desejados e dos recursos disponíveis. Este mesmo instrumento pode ser aplicado
para identificação da movimentação de carga
A mais ampla é a pesquisa O/D Domiciliar, urbana, identificando seus principais pontos
que tem como objetivo registrar o padrão de atração e geração, o fluxo e as característi-
de demanda atual de viagens da população, cas da carga transportada (embalagem, peso,
em conjunto com seu perfil socioeconômico, dimensões e outras) e a sazonalidade das
avaliando as características dos deslocamentos movimentações.
das pessoas, o motivo da viagem, o horário e
o tempo de percurso e os meios de transporte Pesquisas específicas com ciclistas na via
utilizados. Complementarmente às entrevistas pública também podem ser realizadas para a
domiciliares, devem ser feitas pesquisas nos identificação de origens e destino das viagens,
principais eixos de acesso à região da pesquisa fornecendo elementos para o planejamento de
(linha de contorno) para identificar as viagens sistemas cicloviários.
externas a ela.
b.2) Pesquisas de engenharia de tráfego
Este tipo de pesquisa constitui um importante As pesquisas de tráfego buscam mapear os
instrumento para o planejamento dos inves- três principais componentes dinâmicos do trá-
timentos em infraestrutura e, se realizada pe- fego: fluxo, velocidade e densidade de tráfego.
riodicamente, permite acompanhar a evolução
dos padrões de deslocamento da população e As pesquisas de fluxos de tráfego medem o
da mobilidade em geral. volume de veículos em determinados trechos
da via pública durante um período de tempo,
Para estudos de tráfego, dois tipos de pesqui- podendo ser classificadas por tipo de veícu-
sa O/D são praticados: uma com entrevistas lo (ônibus, caminhões, veículos de passeio,
com motoristas de veículos em pontos pre- motocicletas etc.). As contagens podem ser
viamente escolhidos da via pública e outra realizadas manualmente, utilizando pesquisa-
por meio da anotação das placas dos veículos dores de campo, ou com equipamentos que as
simultaneamente em dois locais distintos. realizam automaticamente. Atualmente, com
Nestes dois casos, a sua aplicação só é pos- o desenvolvimento da eletrônica aplicada à
sível para áreas menores e normalmente com gestão da circulação, há um crescente número
um objeto de estudo bastante delimitado. de produtos no mercado que agregam essa
função ao controle semafórico ou à fiscalização
Outro tipo de pesquisa de origem e destino eletrônica, por exemplo.
utilizado no planejamento operacional dos
serviços de transporte coletivo urbano são as Em princípio, as pesquisas de fluxo são aplica-
pesquisas de embarque e desembarque reali- das em três situações: em eixos viários ou em
zadas com passageiros embarcados nos ônibus interseções, para veículos, e para contagem de
(ver item específico adiante). fluxos de pedestres.

148
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

As contagens em eixos viários visam determi- de atraso em interseções, que medem os tem-
nar as quantidades de veículos que passam por pos gastos e a formação de filas nos cruzamen-
uma seção transversal de uma via, por unidade tos, servindo para identificar a necessidade de
de tempo (veículos/hora) em um determinado instalação ou de retirada de semáforos, bem
sentido de tráfego, bem como identificar as como para ajustar a programação dos equipa-
variações temporais desses valores e a compo- mentos de controle existentes ou para projetar
sição veicular (veículos leves, pesados e outros). arranjos geométricos no sistema viário, a partir
das informações sobre a eficiência operacional
As pesquisas de fluxo de tráfego em interse- da interseção.
ções de dois ou mais eixos viários determi-
nam as quantidades de veículos por unidade A pesquisa de capacidade, ao contrário, deter-
de tempo (veículos/hora) em cada um dos mina o fluxo de veículos capaz de ser atendido
sentidos de tráfego permitidos na interseção por um determinado componente viário (eixo vi-
(movimentos direcionais), permitindo também ário ou interseção) sob determinadas condições
analisar as suas variações temporais e a com- de sinalização, geometria e outras interferências
posição veicular. existentes. É importante para o planejamento
de tráfego, pois, em vez de medir o problema
Analogamente, as pesquisas de fluxos de pe- quando ele já ocorre, permite determiná-lo com
destres ou de bicicletas são realizadas de ma- antecedência a partir do levantamento dos com-
neira a determinar os volumes de fluxos e suas ponentes dinâmicos do tráfego: fluxo (veículos/
variações temporais em determinadas vias. hora), velocidade (km/hora) e densidade de
tráfego (veículos/km de via).
A velocidade na via pública é outro aspecto
fundamental para o planejamento da mobili- Os veículos na via pública podem se tornar um
dade urbana, para verificar suas condições de problema mesmo quando não estão em circula-
segurança, para medir o nível de serviço ou de ção. Para isso, as pesquisas de estacionamento
desempenho do sistema viário ou para a deter- visam determinar os níveis de ocupação e de
minação de rotas de tráfego. rotatividade de estacionamentos, na via pública
ou fora dela, identificando os graus de solici-
A medida da velocidade pontual instantânea tação do espaço público para esta finalidade
em uma determinada seção de um eixo viário e, consequentemente, subsidiam a formulação
é útil para a avaliação do desempenho do de políticas públicas referentes ao assunto. Em
sistema viário (verificação da velocidade média geral, as pesquisas consistem em levantar o
praticada em um trecho ou ao longo de um número de veículos que utilizam cada trecho ou
corredor, por exemplo) ou para a adoção de espaço de estacionamento em determinados
medidas de segurança, de engenharia ou de períodos do dia, assim como a distribuição dos
fiscalização em geral, visando moderar a ação tempos de ocupação das vagas.
dos motoristas.
Finalmente, há as pesquisas de ocupação de
As pesquisas de velocidade e retardamento, veículos, que visam determinar os índices mé-
por sua vez, medem as velocidades de percurso dios de ocupação (em passageiros) por tipo de
de uma corrente de tráfego em um determi- veículo (leves ou coletivos) de modo a estimar o
nado trecho viário e os respectivos tempos contingente de pessoas que utilizam os siste-
de retardamento com os respectivos motivos mas de transportes públicos e privados de uma
(semáforos, interseções, gargalos etc.). Seus determinada área de estudo.
produtos são aplicados em análises da capaci-
dade e do desempenho das rotas de tráfego. c) Pesquisas operacionais do transporte
coletivo
A condição operacional do sistema viário tam- As pesquisas do setor de transporte coletivo
bém pode ser avaliada por meio de pesquisas estão mais voltadas para a gestão dos serviços,

149
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

fornecendo informações quantitativas e quali- Para identificar com precisão os serviços em


tativas da oferta e da demanda, fundamentais operação, deve ser realizado um levantamento
para o planejamento da rede, para o controle de trajetos das linhas de transporte, que é feito
da operação, para o acompanhamento do de- com pesquisadores embarcados nos ônibus
sempenho econômico e do equilíbrio econômi- ou em um veículo seguindo os coletivos. Esta
co e financeiro, dentre outros aspectos. verificação deve ser aproveitada para realizar
ou atualizar o cadastro dos pontos de parada.
c.1) Pesquisas de oferta
Para levantamento dos dados de oferta, é
As pesquisas de oferta buscam conhecer as con- necessária uma pesquisa que consiga verificar
dições reais da prestação dos serviços de trans- a operação das linhas como um todo; para
porte coletivo (oferta) e incluem: (i) a relação de isso, uma pesquisa de oferta normalmente
linhas e serviços; (ii) os itinerários e a localização é realizada com o posicionamento de dois
dos pontos de parada; (iii) os dados de oferta pesquisadores, um em cada ponto terminal
(frota alocada e viagens realizadas); e outras da linha, anotando o prefixo dos veículos, os
informações importantes à caracterização do horários de início e fim das viagens e a leitura
serviço de transporte. da catraca no momento de chegada do veículo.
A tabulação posterior desses dados retrata
A ação básica consiste na organização das infor- a frota efetivamente utilizada na operação, o
mações cadastrais que constituem a especifica- número de viagens realizadas e a sua distribui-
ção dos serviços (programação). A operação do ção horária, os tempos médios de viagem e de
transporte coletivo é uma atividade planejada; permanência nos pontos terminais e a quanti-
um número de carros preestabelecido é alocado dade de passageiros transportados por viagem,
em linhas com um determinado itinerário onde faixa horária ou período.
realizam um número de viagens também previa-
mente determinado. c.2) Pesquisas de demanda

A programação destas características operacio- Os dados de demanda obtidos pelas pesquisas


nais pode ser feita pelo Poder Público ou pelos de origem/destino, fundamentais para o plane-
próprios operadores. Em muitos municípios, jamento global dos sistemas de transporte, não
esta programação está formalizada por meio são suficientes para o planejamento operacio-
de ordens de serviço ou outro instrumento nal e para a gestão cotidiana dos serviços. Para
equivalente e, na maior parte deles, estes da- isso há outros tipos de pesquisas de demanda
dos nem sempre estão disponíveis nos órgãos que oferecem informações mais precisas sobre
públicos e precisam ser levantados junto às o comportamento dos usuários.
empresas operadoras, concessionárias ou per-
missionárias dos serviços de ônibus. A abordagem mais simplificada para verifica-
ção do nível de serviço ofertado é a aplicação
As informações devem ser organizadas em ca- de uma pesquisa visual de carregamento
dastros, bancos de dados e mapas temáticos. (PVC). Nela, os pesquisadores acompanham a
Os dados em geral são sistematizados pelas operação em algum ponto do trajeto anotando
unidades do serviço (linhas de transporte), o prefixo do veículo, a identificação da linha, o
podendo também ser agregados por empresa horário da passagem do carro pelo ponto e o
operadora, por região ou por tipo de serviço. nível de carregamento observado.

As informações sobre a programação dos A identificação do nível de carregamento é


serviços não são suficientes para uma análi- relativamente subjetiva, feita visualmente
se da situação do atendimento à população. pelo pesquisador com base em um gabarito
É necessária uma verificação em campo da que permite estimar o número de passageiros
operação real, que nem sempre corresponde às embarcados pela visualização da ocupação
especificações programadas. do veículo. Esta pesquisa mostra a frota em
operação, o número de viagens realizadas e a

150
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

sua distribuição nas faixas horárias e, ainda, no mercado permite a geração de relatórios de
permite avaliar a qualidade do atendimento oferta e de demanda com diversos graus de
prestado, pelo menos em termos de lotação desagregação (por empresa, por linha ou por
dos veículos. veículo) para qualquer período (mês, dia, faixa
horária etc.), indicando ainda o tipo de passa-
A PVC, porém, não fornece informações quanti- geiro (estudante, usuário de vale transporte,
tativas precisas sobre o número de passageiros idoso etc.).
transportados, necessárias, por exemplo, para
os estudos de desempenho econômico do sis- Nenhum desses métodos de levantamento per-
tema, estudos de viabilidade, cálculo tarifário mite verificar o comportamento espacial da de-
e outros. Para isso, são recomendáveis outros manda, isto é, como os usuários se distribuem
procedimentos. ao longo dos itinerários das linhas. Para isso é
necessária a aplicação de outro tipo de levan-
Para uma abordagem mais geral, pode ser rea- tamento, com características de uma pesquisa
lizada uma pesquisa de demanda nas garagens de origem e destino: pesquisa de embarque/
das empresas operadoras, com a finalidade desembarque ou pesquisa “sobe/desce”.
de determinar o número total de passagei-
ros transportados durante um determinado Esse tipo de pesquisa, por sua vez, pode ser
período. Nela, diariamente, os pesquisadores realizado utilizando ou não uma senha para
anotam, para cada ônibus, o número registrado identificar precisamente o ponto de embarque
no contador da catraca no início e no final da e de desembarque de cada passageiro. Em
operação. Também deve ser acompanhada a ambos os casos, a pesquisa é realizada por
movimentação na recebedoria das empresas linha, em uma amostra estatisticamente válida
para verificar a participação de passageiros de viagens para cada período do dia, expandi-
com algum tipo de benefício tarifário controla- da depois para o número total de passageiros
do (passes escolares e outros). historicamente transportados, por dia típico
(dia útil, sábado ou domingo). Esta pesquisa
Este tipo de pesquisa costuma ser realizado depende de um levantamento prévio e de um
durante toda uma semana para permitir a apu- cadastro de todos os pontos de parada ao
ração da demanda nos dias úteis, sábados e longo dos itinerários.
domingos. Para evitar desvios, é recomendável
a sua realização na segunda ou na terceira se- Sem uso de senha, os pesquisadores apenas
mana do mês. Os dados obtidos por esta meto- anotam, a cada ponto, o número de passagei-
dologia, porém, não podem ser desagregados ros que embarcam e desembarcam dos ônibus.
por períodos do dia e nem sempre por linha, Com senha, os resultados são mais precisos.
quando a operadora realiza muitas mudanças Neste caso, os pesquisadores são posiciona-
na alocação da frota ao longo do dia. dos nas portas de entrada e saída dos ônibus,
entregando a cada usuário uma senha no mo-
Outra possibilidade de medir a demanda ma- mento em que o passageiro embarca no ônibus
nifesta é a pesquisa de demanda associada à e coletando-a no desembarque.
pesquisa de oferta. Neste caso, os pesquisado-
res nos pontos iniciais fazem também a leitura Ambas fornecem a ocupação máxima de
do contador da catraca nos pontos finais, passageiros no ônibus durante a viagem que,
permitindo a identificação da demanda por comparada ao total de passageiros transpor-
viagem, por sentido e por período do dia. tados na mesma viagem, mede o seu índice de
renovação, naquele sentido e período, funda-
Atualmente, com a implantação de sistemas de mental para os processos de dimensionamento
bilhetagem eletrônica, é possível obter gran- da oferta. As pesquisas com senha, adicional-
de parte destas informações com facilidade e mente, retratam a distribuição dos passageiros,
precisão; a maioria dos produtos disponíveis ponto a ponto, ao longo do itinerário.

151
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

É importante destacar que todas as pesquisas pecção de mercado comumente utilizados


para levantamento da oferta ou da demanda em outros setores, na área de marketing,
dos serviços de transporte coletivo devem levar entre eles diversos tipos de pesquisas que
em conta que os deslocamentos na cidade apre- passaram a ser empregadas como apoio
sentam uma sazonalidade ao longo do dia (perí- ao planejamento da mobilidade urbana.
odos de pico, entrepico, horários noturnos etc.),
na semana (dias úteis, sábados e domingos), Pesquisas de opinião foram introduzidas
no mês (a primeira semana costuma apresen- para verificar a satisfação dos usuários fren-
tar uma demanda acima da média e, a última, te aos serviços de transporte que lhes são
abaixo) e no ano (principalmente em função de oferecidos. Sob diversas formas, todas elas
férias escolares). procuram captar a avaliação da população,
usuária ou não dos serviços de transporte,
Para todos os dados operacionais, de oferta sobre seus aspectos gerais ou atributos es-
e demanda, os bancos de dados devem ser pecíficos. Nos serviços de transporte coletivo
organizados em séries históricas que permitam urbano, permitem, por exemplo, avaliar a
conhecer a sua evolução e prever tendências. quantidade e a qualidade da oferta, a con-
dição da frota e o tratamento dispensado
d) Outras pesquisas por motoristas e cobradores, a tarifa etc.
A Política Nacional de Mobilidade Urbana
Este tipo de pesquisa, além de fornecer infor-
afeta diretamente quase todas as dimensões
mações importantes para nortear as ações do
da vida das pessoas, e de maneira muito
Poder Público, abre espaço para críticas, suges-
intensa. Nem sempre o conhecimento de
tões e opiniões diversas que podem subsidiar
dados objetivos, quantitativos e qualitati-
a formulação das políticas de mobilidade.
vos, dos diversos serviços que a constituem,
são suficientes para orientar, de maneira
Do mesmo modo, pesquisas de satisfa-
adequada, os processos de formulação e
ção podem ser utilizadas como instru-
implementação das políticas públicas.
mento de monitoramento e gestão dos
transportes e de orientação na formulação
Nos serviços de transporte coletivo urbano,
de políticas públicas de mobilidade.
por exemplo, a acomodação do setor público
e do setor privado a uma situação anterior
Por outro lado, a aplicação de pesquisas de
de demanda cativa talvez tenha levado a um
preferência declarada permite, por exem-
distanciamento entre as suas políticas e as as-
plo, estabelecer curvas estatísticas de de-
pirações dos usuários que, em um mercado de
manda referentes ao uso de sistema ainda
transporte de passageiros cada vez mais com-
não implantado, em fase de planejamento.
petitivo, mesmo quando intensamente regula-
Também possibilitam avaliar a sensibilida-
mentado, pode ser uma das explicações para
de da população frente a algumas medidas
a tendência de perda contínua de demanda.
estratégicas pretendidas pelo Poder Público,
como, por exemplo, a disposição dos usuários
Em função disso, cresceram as iniciativas
para aceitar medidas de restrição à circula-
de introdução de processos de avaliação
ção do transporte individual ou para obter
das aspirações da população e de pros-
investimentos na melhoria da infraestrutura
mediante cobrança de tarifas (pedágios).

152
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

Quadro 6 – Resumo de levantamentos e pesquisas.

Inventário do sistema de circulação para pedestres

Inventário do sistema de circulação para bicicletas

Inventário do sistema de circulação para transporte coletivo

Inventário do sistema de circulação para tráfego geral

INVENTÁRIOS FÍSICOS

Inventário do sistema de circulação de cargas

Inventários complementares

Inventário de sistemas de controle de tráfego

Inventário de estacionamentos

Pesquisa O/D domiciliar

Pesquisa O/D de tráfego

Pesquisas de origem e destino

Pesquisa O/D de transporte coletivo

Pesquisa O/D de carga urbana

Pesquisa de fluxo em eixos viários


PESQUISAS DE
COMPORTAMENTO NA
CIRCULAÇÃO
Pesquisa de fluxo em interseções

Pesquisa de fluxo de pedestres ou


bicicletas
Pesquisas de engenharia de
tráfego
Pesquisa de velocidade pontual

Pesquisa de velocidade e retarda-


mento

Pesquisa de atraso em interseções

153
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

Pesquisa de capacidade

PESQUISAS DE
Pesquisas de engenharia de
COMPORTAMENTO NA Pesquisa de estacionamento
tráfego
CIRCULAÇÃO

Pesquisa de ocupação de veículos

Organização das informações


cadastrais

Pesquisas de oferta Levantamento de trajetos

Pesquisa de oferta

Pesquisa visual de carregamento


PESQUISAS
OPERACIONAIS DO
TRANSPORTE COLETIVO
Pesquisa de demanda nas garagens

Pesquisa de demanda associada à


Pesquisas de demanda pesquisa de oferta

Pesquisa de embarque e desembar-


que sem senha

Pesquisa de embarque e desembar-


que com senha

Pesquisa de opinião

OUTRAS PESQUISAS Pesquisa de satisfação

Pesquisa de preferência declarada

Fonte: IEMA.

154
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

7.2.2. Dados secundários ciona informações estatísticas e geográficas


em escala municipal ou em escala dos setores
As fontes de dados secundários são estudos,
censitários.
estatísticas, projetos, séries históricas de
levantamentos de dados e outros levantamen-
A internet é atualmente um poderoso instru-
tos já existentes e consolidados (publicações,
mento de acesso a bases de informações de
relatórios ou arquivos digitais).
fontes secundárias.

O planejamento da mobilidade urbana requer


b) Informações gerais do setor de
informações de dois grupos: informações
transportes
socioeconômicas, que condicionam os padrões
de deslocamento da população, e dados dos As informações gerais do setor de transportes
sistemas de transportes. ajudam o planejador a entender melhor o perfil,
os modos e condições de transporte no municí-
a) Informações socioeconômicas pio. O levantamento e a análise dessas infor-
mações permite alimentar o diagnóstico local
Conforme explicado no capítulo 6, os indicado-
de mobilidade com informações gerais que são
res econômicos e de mobilidade, assim como
fundamentais para a identificação de ações de
informações sociais de renda, idade, gênero,
melhoria do sistema de mobilidade urbana.
entre outras, são fatores condicionantes da
mobilidade urbana. Portanto, o levantamento
As instituições de pesquisa e análise de esta-
dessas informações permite entender melhor as
tísticas sociais e econômicas citadas possuem
características socioeconômicas que impactam
bases de dados relacionadas diretamente à
no perfil de mobilidade da população do muni-
mobilidade urbana, tais como taxas de moto-
cípio, subsidiar a análise de seus deslocamentos
rização (veículos/família), composição veicular
e identificar ações pertinentes para a melhoria
(veículos licenciados), e outros.
do sistema de mobilidade urbana local.

Diversos órgãos governamentais, como secreta-


Informações para estudos socioeconômicos
rias estaduais de transportes, meio ambiente,
podem ser obtidas em instituições de pesquisa
planejamento, fazenda etc. e ministérios fede-
e análise de estatísticas sociais e econômicas
rais, dispõem de informações de interesse para
tais como o IBGE, IPEA e INPE.
o planejamento da mobilidade urbana.

Entre as informações gerais de interesse para


c) Levantamento da legislação
suporte ao planejamento da mobilidade urba-
na, há dados sobre a população e suas condi- Os serviços de transporte e trânsito são ser-
ções de vida, incluindo: distribuição por idade, viços públicos e, como tal, têm sua prestação
sexo, classe de renda e região do município, regida por um conjunto de leis, decretos, por-
empregos por setor; escolaridade, distribuição tarias, resoluções, normas e outros instrumen-
de despesas domiciliares, composição familiar tos normativos emitidos pela administração
e taxas de empregos e de desemprego; e dados pública nas três esferas de governo (federal,
sobre a produção de bens e serviços como: estadual e municipal), estabelecendo direitos e
produção e composição industrial, produção e obrigações para operadores, usuários e para o
composição do setor de comércio; produção e próprio Poder Público.
composição do setor de serviços, produção e
composição do setor agrícola. Alguns desses instrumentos tratam diretamen-
te dos serviços (Código de Trânsito Brasileiro,
Um dos inúmeros instrumentos disponíveis legislações e regulamentos locais organizado-
de disseminação de informações sociais, res dos serviços de transporte coletivo urbano,
econômicas e territoriais sobre os municípios leis reguladoras da instalação de polos gerado-
brasileiros é o sistema STATCARD – Sistema res de tráfego, entre tantas outras); outros de
de Recuperação de Informações Georreferen- políticas urbanas e regionais com influência di-
ciadas, disponibilizado pelo IBGE, que propor- reta nos transportes, como as normas para uso

155
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

e ocupação do solo urbano, as leis ambientais estudo assim como o mapeamento do macro-
etc.; outros ainda tratam de orientações gerais zoneamento ambiental.
para a ação do Estado, como lei de licitações e
lei de concessões de serviços públicos. 7.2.3. Definição de indicadores para
diagnósticos
Para o planejamento da mobilidade, é fun-
A Lei da Mobilidade Urbana, além de tor-
damental fazer um inventário, organizado
nar obrigatória a elaboração de Plano de
tematicamente e hierarquizado pelas esferas
Mobilidade Urbana, integrado e compa-
de governo, de todos os dispositivos legais
tível com os respectivos Planos Diretores
referentes ao desenvolvimento urbano e aos
ou neles inseridos, também concretizou a
componentes da mobilidade urbana. Esse
necessidade de uma sistemática de avalia-
inventário permite ao planejador ter entendi-
ção, revisão e atualização destes Planos de
mento das regras que regem os serviços de
Mobilidade, tornando imprescindível o uso
transporte e trânsito no município, identificar
de ferramentas de avaliação e controle das
oportunidades de melhoria e ter clareza sobre
condições de mobilidade nos municípios.
as ações potenciais que podem ser realizadas
para aprimorar estes serviços.
Neste contexto, destaca-se a importância do
uso de indicadores para orientar o planejamen-
d) Análise de estudos e projetos existentes
to da mobilidade urbana. Dentro de um Plano
O levantamento e a análise desses estudos de Mobilidade, tal ferramenta pode ser utiliza-
e projetos são fundamentais para aproveitar da pelo menos em três momentos distintos:
esforços realizados para entendimento do
contexto local e projetos já idealizados para sOBPCUFOÌËPEFVNEJBHOÖTUJDPNBJTQSFDJTP
mobilidade urbana local. Essas informações das condições de mobilidade do município;
podem ser úteis para ganhar tempo na com- sOBEFGJOJÌËPEBTNFUBTBTFSFNBUJOHJEBT
preensão dos desafios locais, subsidiar novos sOPNPOJUPSBNFOUPFOBBWBMJBÌËPEPTSFTVM-
diagnósticos e análise de potenciais soluções tados alcançados ao longo da execução das
para os gargalos identificados. ações definidas no Plano.

Na preparação da base de informações para Indicadores são variáveis que permitem des-
o estudo da mobilidade urbana, devem ser le- crever, classificar, ordenar, comparar ou quan-
vantados, catalogados e analisados os estudos tificar aspectos de uma realidade. Por se tratar
existentes envolvendo as áreas de planejamen- de uma simplificação de fenômenos comple-
to e projeto, tais como: estudos de trânsito, xos, raramente um único indicador é suficiente
projetos viários, projetos de sinalização, para retratar uma situação de forma completa.
estudos e projetos de sistemas de transporte É comum o emprego de um conjunto de indi-
coletivo, planos gerais ou específicos de trans- cadores de forma a caracterizar as diferentes
porte urbano, estudos de organização institu- dimensões e aspectos de um mesmo problema.
cional do organismo gestor do transporte e da
mobilidade, estatísticas de acidentes etc. Para que os indicadores possam ser usados
como medidas de desempenho, é fundamen-
Analogamente, devem ser analisados os estu- tal que existam parâmetros bem definidos
dos e projetos urbanos como o Plano Diretor, que mostrem, por exemplo, qual seria o valor
levantamentos do uso e da ocupação do solo de cada indicador em uma situação ideal. Tal
urbano, diretrizes para o sistema viário, planos informação deve servir de referência para o
de investimento em infraestrutura urbana, pla- estabelecimento de metas e para a compara-
nos habitacionais, de saneamento ambiental e ção com os resultados obtidos na execução do
de drenagem e outros estudos de interesse. Plano de Mobilidade Urbana.

Em nível regional, devem ser levantados os pro- A obtenção de indicadores não é uma tarefa
gramas existentes que podem afetar a área de simples. Inicialmente, é necessário definir o

156
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

conjunto de indicadores que irá retratar as sEBEPTEBSFEFWJÆSJBDPNPTTFOUJEPTEF


condições de mobilidade e que auxiliará na tráfego, velocidades ou tempos de percurso,
construção do Plano. Para orientar esta esco- as capacidades de tráfego e as dimensões de
lha, é possível consultar na literatura métodos seus componentes;
científicos ou, de forma mais simplificada, sDPOUBHFOTEFUSÆGFHPOBSFEFWJÆSJB
conjuntos de indicadores já selecionados por sDVTUPTPQFSBDJPOBJTEFUSBOTQPSUFT
outras cidades, regiões ou mesmo por órgãos e sQBESËPEFEJWJTËPNPEBMFYJTUFOUF DPMFUJWPF
entidades competentes. individual).

Também, é muito importante fazer um levanta- Com base nesses dados, são gerados mapas
mento dos dados que serão necessários para temáticos para a análise de carregamento de
o cálculo de cada um dos indicadores. Muitas tráfego na rede viária, de carregamento nas
vezes é possível o uso de dados secundários linhas de ônibus, de simulação de desejos de
encontrados em pesquisas ou bases preexis- viagens (origem/destino) ou de definição de
tentes, como IBGE ou órgãos estaduais, por caminhos e itinerários de viagens.
exemplo. Em outros casos, torna-se necessária
a coleta e a produção de dados primários, atra- Os modelos de transporte podem ser construí-
vés de pesquisas de campo, como pesquisas dos segundo diversas metodologias, sendo que
de tráfego, de transporte coletivo, origem/des- a mais tradicional consiste na chamada Modelo
tino, satisfação do usuário, entre outras. Quatro Etapas. Este é um modelo sequencial
de demanda que analisa os processos envol-
Para a escolha dos indicadores que serão utili- vidos na realização de viagens, sendo essas:
zados, é importante verificar se há viabilidade i) geração: determina o volume de viagens
na obtenção dos dados e a qualidade destes no produzidas e atraídas nas zonas de tráfego;
que concerne à consistência e à confiabilidade. ii) distribuição: determina a distribuição das
viagens entre as zonas de tráfego, constituindo
7.3. Prognóstico: estudos de projeção uma matriz de origens e destinos; iii) escolha
da demanda e análise de alternativas modal: determina a distribuição das viagens
dentre os vários modos de transporte disponí-
veis; iv) alocação: determina a distribuição das
7.3.1. Modelagem e projeção da
viagens em uma rede de transportes. O resul-
demanda
tado da aplicação dessa metodologia, ao final
A modelagem é um instrumento consagrado do processo, estima as demandas dos sistemas
na engenharia de transportes e é utilizada de transporte em toda sua rede, possibilitando
para a análise de alternativas de investimen- a realização de análises de desempenho das
tos. Consiste na utilização de programas de condições de circulação.
computador (modelos de transporte) que
simulam as variações nos deslocamentos Os resultados obtidos pela modelagem podem
da população decorrentes de modifica- ser utilizados para:
ções propostas na infraestrutura (tal como
a implantação de novas vias, mudanças no sBOÆMJTFEBEFNBOEBEFUSÆGFHPOBÆSFBEF
sistema de circulação viária, mudanças nas estudo (viagens totais, de veículos coletivos, de
linhas de ônibus etc.), permitindo a previsão carga, de veículos privados);
de seus impactos, positivos ou negativos. sEJNFOTJPOBNFOUPEBTQJTUBTEFVNFJYPWJÆ-
rio (número de faixas);
As bases de informações necessárias para o sEJNFOTJPOBNFOUPEPTTFSWJÌPTEFUSBOTQPSUF
processo de modelagem são: coletivo;
sBOÆMJTFEPTJNQBDUPTEBJNQMBOUBÌËPEBT
sEBEPTTPDJPFDPO×NJDPT DPOEJDJPOBOUFTEB ações na rede viária do entorno;
geração de viagens); sBOÆMJTFEPJNQBDUPEFBÌÚFTOBTWFMPDJEBEFT
sNBUSJ[FTEFPSJHFNFEFTUJOP QPSNPEPEF e nos tempos de viagem;
transporte (coletivo e individual); sBWBMJBÌËPEPTCFOFGÑDJPTEBJNQMBOUBÌËPEBT

157
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

ações (medidos em termos de ganhos em tem- mostram uma curva (tendência) de evolução
pos de viagem); da demanda no tempo. Nesse caso, a projeção
sNBUSJ[EFUFNQPTEFWJBHFOT DPNFTFNBT do crescimento do número de viagens geradas
ações) que servem de insumo para as análises de em cada zona de tráfego pode ser baseada
indução à ocupação do espaço urbano; na elasticidade da demanda em relação ao
sBOÆMJTFEBBUSBUJWJEBEFQBSBFNQSFFOEJNFOUPT PIB (relações entre a quantidade de viagens
disponíveis nas séries históricas de demanda
O processo de planejamento da mobilidade e a evolução do PIB, também obtida a partir de
urbana sempre envolve propostas de ações e séries históricas), calculada através de um mo-
investimentos em diversos setores públicos delo de regressão matemática. Como exemplo,
e privados (como transporte coletivo, sistema os estudos do Plano Diretor de Desenvolvi-
viário, sistemas de controle de tráfego), cujo mento de Transportes do estado de São Paulo
prazo de maturidade pode envolver períodos (PDDT 2000-2020) indicaram um crescimento
longos, da ordem de 5 a 30 anos, dependendo da demanda para veículos comerciais de apro-
do tipo e da magnitude destes investimentos. ximadamente 85% do crescimento do PIB, e
71% para os veículos particulares.
Para apoio à avaliação das ações e dos inves-
timentos propostos no Plano de Mobilidade Cabe salientar que os estudos de projeção da
Urbana, deve-se estimar a evolução dos prin- demanda podem ser precedidos pela constru-
cipais componentes da mobilidade ao longo ção de cenários, em função, por exemplo, do
do período de maturidade do investimento, crescimento do PIB (cenário otimista, espontâ-
principalmente a demanda, expressa através neo e pessimista), durante o período de matu-
da matriz origem/destino de viagens. ração esperado para o investimento. Para cada
cenário são feitas projeções de demandas.
Os fatores de crescimento do número de via-
gens geradas em cada zona de tráfego (deman- 7.3.2. Análise de alternativas/cenários
da) podem ser estimados a partir de projeções
Nos processos básicos para o planejamento da
das matrizes de viagens. Estima-se primeiro
mobilidade urbana, as alternativas de inves-
o crescimento em cada zona que, posterior-
timentos e ações para a reorganização dos
mente, é projetado na matriz total de viagens
sistemas de transportes devem ser analisadas
(matriz origem/destino) do ano-base, de forma
e avaliadas para permitir a seleção da melhor a
iterativa, até a obtenção de uma convergência
ser adotada.
que resulta nas matrizes origem/destino proje-
tadas para os períodos futuros.
No processo de avaliação, cada alternativa
deve ser analisada quanto à sua viabilidade
As estimativas futuras de demanda são resul-
e, a partir daí, elas devem ser hierarquizadas
tantes dos chamados processos de projeção
dentro de um ranking de alternativas.
da demanda, onde se destacam a projeção dos
condicionantes da demanda e a projeção das
a) Análise de viabilidade
séries históricas de demanda.
A análise de viabilidade das alternativas tem
No primeiro caso, as projeções são realizadas a pelo menos dois objetivos diferenciados: (i)
partir da evolução das características socioeco- proporcionar elementos para que a sociedade
nômicas da cidade, um dos principais con- e o Poder Público escolham a melhor alterna-
dicionantes da demanda. Ou seja, projeta-se tiva e (ii) atender os requisitos dos agentes de
para um determinado prazo no futuro (também financiamento, como o BNDES, BID, Bird, para
denominado ano horizonte de projeto) a evo- a obtenção dos recursos necessários para em-
lução dos dados socioeconômicos, utilizando preender as ações propostas no Plano.
modelos demográficos, que podem considerar
cenários alternativos. Os conceitos modernos de avaliação de empre-
endimentos consideram que a análise de viabili-
No segundo caso, o processo de projeção é dade não se restrinja aos aspectos econômicos,
facilitado por dispor de séries históricas que mas inclua o princípio da sustentabilidade, ou

158
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

seja, os empreendimentos precisam ser compro- balanço ambiental. Recentemente, vêm sendo
vados como viáveis simultaneamente sob três utilizados métodos de contabilidade financeira
enfoques: econômico, social e ambiental. ambiental (CFA) que incorporam critérios de
valoração ambiental no processo de avaliação
A seleção das alternativas do Plano de Mobili- econômica tradicional.
dade Urbana deve, portanto, incorporar quatro
dimensões: a avaliação técnica, a avaliação b) Hierarquização das alternativas
socioeconômica, a avaliação financeira e a ava-
Uma vez identificadas as alternativas viáveis,
liação ambiental. Somente a comprovação da
elas devem ser hierarquizadas. Para isso, não é
viabilidade nestes quatro aspectos garantirá
suficiente, muitas vezes, comparar os resulta-
a sustentabilidade do empreendimento ou do
dos das avaliações socioeconômicas, havendo
conjunto de ações propostas no Plano.
necessidade de análises adicionais nas dimen-
sões técnica e ambiental.
A avaliação técnica identifica os padrões tecno-
lógicos propostos e verifica a aplicação das me-
Em muitas situações, a hierarquização das
lhores práticas no contexto técnico atual; seus
alternativas baseia-se em métodos multicrité-
condicionantes são em geral qualitativos, mas
rios de avaliação, que podem considerar, por
podem se basear em indicadores quantitativos.
exemplo, objetivos estabelecidos em três níveis
distintos: estratégico, tático e operacional.
Na avaliação socioeconômica, os investimen-
tos e as ações são analisados sob o prisma do
Os objetivos estratégicos tratam dos aspectos
retorno do investimento público, incluindo os
gerais tais como qualidade e desenvolvimento
custos e os benefícios sociais. Os custos e os
sustentável, isto é, mostram onde se quer che-
benefícios contabilizados podem ser tangíveis
gar. Para cada objetivo estratégico, por sua vez,
(por exemplo, os custos operacionais de trans-
são relacionados objetivos táticos, que indicam
porte) ou intangíveis (custos de acidentes, do
como será possível atingi-los, isto é, como che-
tempo gasto nas viagens, de contaminação do
gar onde se pretende. E, por último, precisam
ar etc.). O principal objetivo é identificar se os
ser estabelecidos os objetivos operacionais
custos socioeconômicos serão compensados
que apontam exatamente o que se vai fazer.
pelos benefícios.

Os objetivos são ponderados com pesos dife-


A avaliação financeira mede a viabilidade dos
rentes, de acordo com a importância atribuí-
empreendimentos do ponto de vista dos in-
da a cada um. Essas ponderações permitem
vestimentos privados, com base na análise dos
determinar um peso global pelo qual é possível
fluxos de caixa de custos e receitas tangíveis
hierarquizar as alternativas de ação propostas
(exclusivamente monetários).
no Plano de Mobilidade Urbana.

A avaliação socioeconômica e a financeira utili-


7.4. Objetivos, metas e ações
zam indicadores de viabilidade já consagrados
estratégicas (conteúdos mínimos)
na análise econômica: taxa interna de retorno
(TIR), relação benefício/custo (B/C) e valor pre- Conforme mencionado no início deste capítu-
sente líquido (VPL). lo, item 7.1, a Política Nacional de Mobilidade
Urbana – PNMU exige que os Planos de Mobi-
Por fim, a avaliação ambiental tem por objetivo lidade Urbana contemplem um conjunto de
avaliar os impactos das propostas do Plano elementos de conteúdo, bem como: a identifica-
de Mobilidade no meio ambiente e identificar ção clara e transparente dos objetivos de curto,
ações de mitigação dos danos ou de compen- médio e longo prazos e dos meios financeiros
sação ambiental aplicáveis. Nos casos em que e institucionais que assegurem a sua implan-
é necessário apresentar estudos de impacto tação; e as metas de atendimento e universali-
ambiental, o próprio processo de licenciamento zação da oferta de transporte público coletivo,
do empreendimento incorpora a avaliação e o monitoradas por indicadores preestabelecidos.

159
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

O modo e a profundidade com que os requisitos de conteúdo serão tratados nos Planos
de Mobilidade Urbana dependem, sem dúvida, do porte e das condições de mobilidade
urbana de cada cidade. Assim, nem todas as pesquisas citadas anteriormente, nem as
metas e ações descritas a seguir, aplicam-se igualmente a todos os municípios. É papel
fundamental destes avaliar a sua realidade e suas especificidades e, a partir delas, iden-
tificar os mecanismos mais adequados para cumprir as exigências de conteúdo mínimo
estipuladas na PNMU. Por exemplo, em municípios que não demandam uma rede de
transporte público coletivo, o planejamento da infraestrutura e dos serviços de transpor-
te não motorizado – pedestres e bicicletas – deve ser a prioridade, sempre tendo em vista
análise de projeção, pois, em virtude de seu crescimento, a necessidade de transporte
público pode ser iminente.

A seguir, apresenta-se uma descrição dos obje- sBQSJPSJEBEFBPTNPEPTOËPNPUPSJ[BEPT


tivos, metas e ações estratégicas que consti- sobre os motorizados e a do transporte público
tuem os conteúdos mínimos ou básicos de um coletivo sobre o individual;
Plano de Mobilidade Urbana, resguardadas as sBFRVJEBEFOPBDFTTPEPTDJEBEËPTBPUSBOT-
particularidades de cada município. porte público coletivo;
sBBDFTTJCJMJEBEFVOJWFSTBM
7.4.1. O estabelecimento de objetivos sBHFTUËPEFNPDSÆUJDBFQBSUJDJQBÌËPTPDJBM
e metas no planejamento, implantação e avaliação dos
Planos de Mobilidade Urbana;
A Política Nacional de Mobilidade Urbana
sBFRVJEBEFOPVTPEPFTQBÌPQÜCMJDPEF
estabeleceu, com clareza, a obrigatoriedade de
circulação, vias e logradouros;
os Planos de Mobilidade Urbana se adequa-
sBJOUFHSBÌËPDPNBQPMÑUJDBEFEFTFOWPMWJ-
rem a seus princípios, diretrizes e objetivos.
mento urbano e respectivas políticas setoriais
Assim, a visão política a predominar nos Planos
de habitação, saneamento básico, planejamen-
deve ser a de melhoria da acessibilidade e da
to e gestão do uso do solo no âmbito dos entes
mobilidade das pessoas e cargas no território
federativos;
do município, considerando a integração entre
sBNJUJHBÌËPEPTDVTUPTBNCJFOUBJT TPDJBJTF
os diferentes modos de transporte e a sus-
econômicos dos deslocamentos de pessoas e
tentabilidade. Isso implica, especificamente, o
cargas na cidade.
papel que se reconhece à mobilidade urbana de:
reduzir as desigualdades e promover a inclusão
A visão integrada e sustentável da mobilidade
social; promover o acesso aos serviços básicos
urbana deve ser formalizada nos Planos de Mo-
e equipamentos sociais; proporcionar melhoria
bilidade Urbana por meio de um conjunto de
nas condições urbanas da população no que se
objetivos específicos, de curto, médio e longo
refere à acessibilidade e à mobilidade; promover
prazos. Estes devem ser definidos com base no
o desenvolvimento sustentável com a mitigação
contexto e nas especificidades de cada municí-
dos custos ambientais e socioeconômicos dos
pio, de forma clara e transparente.
deslocamentos de pessoas e cargas nas cida-
des; e consolidar a gestão democrática como
Mas apenas a delimitação de objetivos para a
instrumento e garantia da construção contínua
melhoria das condições de mobilidade e aces-
do aprimoramento da mobilidade urbana.
sibilidade na cidade não se mostra suficiente.
Os objetivos, ao serem traduzidos em ações
A visão política a ser conferida aos Planos de
estratégicas e projetos, também devem vir
Mobilidade Urbana deve tomar como referen-
acompanhados do estabelecimento de metas.
cial os princípios e diretrizes constantes da
Para as médias e grandes cidades brasilei-
PNMU, podendo-se destacar:
ras, vislumbram-se como possíveis metas o
aumento da participação do transporte público
coletivo e do não motorizado no conjunto de

160
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

deslocamentos da população, a redução do da velocidade média dos ônibus nos principais


consumo de energia e de emissões atmos- eixos de transporte.
féricas do sistema de mobilidade urbana, a
redução das vítimas no trânsito, dentre outros. As metas secundárias são aquelas condiciona-
O estabelecimento de metas e a mensuração das à existência de pesquisas, principalmente
dos avanços decorrentes da implantação dos O/D, que permitam a simulação de uma rede a
projetos constituem desafios fundamentais partir da utilização de modelos de transporte,
para a elaboração e implantação do Plano de para possibilitar a verificação do impacto dos
Mobilidade Urbana. projetos na divisão modal e na extensão das
viagens, bem como para a realização de esti-
As cidades apresentam diferentes característi- mativa de redução de emissões. Estas metas
cas que se refletem na capacidade institucional devem estar associadas à possibilidade de re-
e na existência de informações estruturadas so- alização de pesquisas específicas no processo
bre o sistema de mobilidade urbana. As metas de implantação do Plano, com o objetivo de se
estão condicionadas à existência de informa- obter informações necessárias para o monito-
ções quantitativas sobre a operação do serviço ramento das metas no horizonte temporal do
de transporte coletivo e sobre as características Plano – 10, 15, 20 anos ou mais.
dos deslocamentos feitos por transporte indi-
vidual. O estabelecimento das metas depende A seguir, uma descrição de exemplos de metas
também da existência ou não de informações a serem consideradas na elaboração do Plano
obtidas por meio da realização de pesquisas de Mobilidade Urbana.
como a de origem/destino (O/D). Muitas cidades
realizam periodicamente esta pesquisa e podem a) Meta de ampliação da participação do
atualizá-la em tempo hábil para a elaboração e transporte coletivo e do não motorizado na
o monitoramento do Plano. Há outro grupo de matriz de deslocamentos da população
cidades que ainda não realiza pesquisa O/D, o
A divisão modal expressa a participação dos
que compromete sua capacidade de estimar o
diversos modos de transporte no conjunto das
impacto dos projetos previstos sobre a divisão
viagens de uma cidade. Ela pode ser classi-
modal e a extensão de viagens no Plano de
ficada entre viagens motorizadas, nas quais
Mobilidade. Dificuldade maior, quando há insufi-
são utilizados o automóvel, a motocicleta ou o
ciência de informações, é o estabelecimento de
transporte coletivo, e o transporte não moto-
metas ambientais e a realização de monitora-
rizado, que são as viagens feitas a pé ou pelo
mento das emissões de poluentes atmosféricos
uso de bicicleta. Outra análise é a identifica-
no horizonte temporal do Plano.
ção da participação do transporte individual
(automóveis e motos) e do transporte coletivo
Uma alternativa que se apresenta para viabili-
(ônibus, trens ou metrôs) nas viagens motoriza-
zar o estabelecimento e monitoramento de me-
das. Quanto maior a participação do transporte
tas por todas as cidades, independentemente
coletivo e do transporte não motorizado em
de seu atual estágio de organização e base
uma cidade, menor é o consumo de energia e a
de dados disponível, é a definição de metas
emissão de poluentes locais e gases de efeito
primárias e secundárias. As metas primárias
estufa do sistema de mobilidade.
são as mais simples, baseadas na ampliação da
infraestrutura, melhoria da qualidade dos ser-
A adoção deste requisito, focado na mudança
viços e das condições de sua operação. Podem
da divisão modal verificada na cidade, resul-
ser mensuradas por indicadores de (i) implan-
ta em um conjunto de projetos que prioriza a
tação ou ampliação da extensão de infraestru-
ampliação da rede de transporte coletivo, a me-
tura exclusiva para o transporte coletivo por
lhoria das condições de caminhada e do tráfego
ônibus ou transporte não motorizado (km), (ii)
de bicicletas, possibilitando o aumento destes
adoção de medidas de gestão da demanda
modos na divisão modal da cidade no horizonte
e uso do solo, (iii) melhoria da qualidade dos
temporal do Plano. Se o requisito adotado fosse
serviços de transporte coletivo e (iv) aumento
outro, por exemplo, a redução do número de

161
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

vias congestionadas, o resultado seria um con- A ampliação da participação do transporte


junto de projetos com o objetivo de aumentar coletivo e do transporte não motorizado no
a fluidez do transporte individual, por meio da conjunto de deslocamentos da população está
construção de pontes, viadutos e alargamento relacionada ao aumento da acessibilidade, uma
de vias, o que iria contra os princípios, as diretri- vez que estes modos podem ser universais, isto
zes e os objetivos da PNMU. é, organizados em rede integrada e disponíveis
para todas as pessoas.

Figura 66 – Terminal Alvorada do BRT do Rio de Janeiro/RJ.

Fonte: Mariana Gil/EMBARQ Brasil.

b) Meta de redução de emissões de poluen- Particularmente nas grandes cidades, a adoção


tes locais e gases de efeito estufa de um conjunto de estratégias voltadas à redu-
ção da necessidade de viagens motorizadas e
Conforme visto no capítulo 5, os deslocamen-
à promoção de transferência de viagens para
tos das pessoas e bens configuram-se impor-
o transporte público coletivo e para os modos
tantes vetores da poluição atmosférica, sonora
não motorizados deve vir acompanhada de
e visual das áreas urbanas. Dada essa relação
metas de desempenho ambiental dos sistemas
direta entre mobilidade urbana e qualidade
de mobilidade urbana. O estabelecimento de
ambiental, evidencia-se importante tratar os
metas ambientais está relacionado ao papel de
Planos de Mobilidade Urbana como instrumen-
instrumento de gestão ambiental que o plano
tos de melhoria ambiental. Cabe a estes planos
de mobilidade pode ter, ao abordar de forma
o delineamento de ações estratégicas, projetos
integrada a política de mobilidade urbana, a
e medidas condizentes com a visão políti-
política de qualidade do ar e a política de mu-
ca adotada pela PNMU, a qual reforça, entre
dança climática.
outros aspectos, a priorização do transporte
público coletivo e dos modos não motorizados,
Além das leis diretamente relacionadas com
o desestímulo ao transporte individual moto-
o planejamento urbano e com a mobilidade
rizado e a racionalização e maior eficiência do
urbana apresentadas, o Brasil possui leis que
sistema de transporte coletivo.
orientam a política ambiental que devem se
relacionar com aquela legislação. Desde 2009,

162
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

o País possui a Política Nacional de Mudan- (...) no transporte coletivo urbano’, conforme
ça Climática, instituída por meio da Lei n. exigido no parágrafo único do mesmo artigo 11
12.187/2009. Esta Política foi regulamentada da Lei n. 12.187/2009”.
por meio do Decreto n. 7.390/2010, o qual
estabeleceu a obrigatoriedade de elaboração Com o estabelecimento de metas de redução
de planos setoriais para a mitigação de gases de emissões de poluentes locais e gases de
de efeito estufa e um dos temas listados foi a efeito estufa para o sistema de mobilidade
mobilidade urbana. O Ministério das Cidades urbana, o Plano de Mobilidade Urbana se
e o Ministério dos Transportes elaboraram o fortalece como um instrumento de gestão am-
Plano Setorial de Transporte e de Mobilidade biental, ampliando o conjunto de alternativas
Urbana para Mitigação da Mudança do Clima para a atuação das agências estaduais de meio
(PSTM), publicado em junho de 2013. Destaca- ambiente e das administrações municipais.
se neste plano uma importante estratégia que Tais metas, além de permitirem ao cidadão
é a consideração do Plano de Mobilidade Urba- e ao gestor público o acompanhamento e
na como um dos instrumentos de efetivação da a avaliação da política local de mobilidade
redução de emissões do sistema de mobilidade urbana, também podem auxiliar o município
nas grandes cidades. na consecução de suas políticas ambientais de
mitigação das mudanças climáticas.
O PSTM destaca a seguinte relação entre a
Política Nacional de Mobilidade Urbana e a c) Meta de redução de acidentes de trânsito
Política Nacional de Mudanças Climáticas:
Um dos grandes problemas da mobilidade
urbana é o dos acidentes de trânsito. O Data-
“…a relação de nexo causal entre as duas po-
sus, Departamento de Informática do Sistema
líticas nacionais significará o completo aten-
Único de Saúde do Brasil, vinculado à Secre-
dimento ao disposto nesse caput do artigo 11
taria de Gestão Estratégica e Participativa do
quando da elaboração dos Planos Municipais
Ministério da Saúde, registrou no ano de 2012 a
de Mobilidade Urbana – Planos de Mobilidade
ocorrência de 44.812 vítimas fatais decorrentes
Urbana, que deverão estar orientados pela
de acidentes de trânsito no País. O indicador
estratégia de ‘mitigação e de adaptação às mu-
do número de mortes por 100 mil habitantes
danças climáticas visando à consolidação de
tem sofrido aumentos ao longo dos anos. Estes
uma economia de baixo consumo de carbono
dados mostram a gravidade do problema.

Figura 67 – Mortes a cada 100 mil habitantes, Brasil.

25,00
22,49
21,92 21,91
19,19 19,44 19,74 19,98
20,00 18,37 18,35 19,41 19,42
17,35
16,72

15,00

10,00

5,00

0,0
00

01

02

03

04

05

06

07

08

09

10

11

12
20

20
20

20
20
20
20

20
20

20

20

20
20

Fonte: elaboração própria.

163
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

A Organização das Nações Unidas (ONU) feridos. Também devem considerar indicadores
estabeleceu, em 2010, a “Década de Ações como o descrito acima. Podem, ainda, conside-
para Segurança no Trânsito”, com uma meta rar reduções de acidentes por tipo de usuário
de reduzir em, no mínimo, 50% o número de como pedestres, ciclistas e motociclistas.
vítimas no trânsito no período de 2011 a 2020.
O documento recomenda aos países-membros 7.4.2. Ações estratégicas para a solução
a elaboração de um Plano Diretor para guiar as dos problemas e alcance das metas
ações nessa área. O governo brasileiro aderiu As ações estratégicas apresentadas a seguir
aos objetivos da década, e o Departamento são aquelas consideradas mínimas ou básicas
Nacional de Trânsito (Denatran) tem discutido para compor o Plano de Mobilidade Urbana,
medidas que envolvem ações de fiscaliza- embora tal orientação tenha sido concebida
ção, educação, saúde, infraestrutura viária e em função da realidade apresentada pela
segurança veicular que visam contribuir para a maioria das cidades de grande e médio portes.
redução das taxas de mortalidade e lesões por Assim, as características de cada município
acidentes de trânsito. devem ser levadas em conta ao se estabelecer
as ações a compor cada Plano de Mobilidade.
O Plano de Mobilidade Urbana constitui um Tais ações devem estar sempre alinhadas ao
importante elemento definidor de metas e de diagnóstico e ao prognóstico tratados ante-
medidas de segurança que o município deve riormente neste caderno. Importante salientar
adotar. que as descrições das ações feitas a seguir
As metas a serem estabelecidas podem consi- são gerais, de forma a possibilitar uma maior
derar a redução de números absolutos de aci- compreensão dos conteúdos.
dentes com vítimas e/ou de vítimas fatais e de

a) Integração da mobilidade com o planejamento e a ordenação do solo urbano

Esta ação, embora considerada da maior relevância no desenvolvimento do Plano de


Mobilidade, não necessariamente deverá constituir-se de medidas orçáveis de mobilida-
de para fins de implantação dentro do Plano. Isso significa que o uso do solo presente e
futuro constitui elemento primordial na definição das ações de mobilidade a comporem
o Plano. Por outro lado, a recíproca é verdadeira, ou seja, a definição das grandes ações
de mobilidade deve direcionar o ordenamento do uso do solo. A participação de pessoas
qualificadas na área de planejamento do uso do solo, em conjunto com a equipe de
transportes, é indispensável tanto para esta ação quanto para as fases do diagnóstico e
prognóstico, consideradas em capítulos anteriores.

É incontestável a interdependência entre o para áreas desprovidas de infraestrutura ou de


transporte urbano e as atividades econômicas forma a deixar grandes vazios intermediários.
e sociais. A ampliação e a integração da rede
de transportes propiciam a dinamização de A expansão dos sistemas de transporte tam-
atividades comerciais, industriais e de serviços. bém não deve estimular ocupações em áreas
de proteção ou preservação ambiental, em
As políticas urbanas devem estimular o aden- áreas de proteção aos mananciais, parques,
samento do uso do solo, inclusive habitacional, faixas de preservação permanente e áreas de
nas regiões adequadamente servidas por siste- risco ou insalubres.
mas de transporte, de forma proporcional à sua
capacidade instalada ou ao seu potencial de Na orientação dos vetores de crescimento ou
ampliação. Analogamente, devem ser evitados de adensamento urbano, o Plano de Mobilida-
tanto o crescimento de regiões saturadas quan- de Urbana deve considerar:
to a expansão horizontal da mancha urbana

164
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

sBEJTUSJCVJÌËPNBJTFRVJMJCSBEBEBTBUJWJEBEFT viário estrutural, composto por vias de trânsito


no território de forma a minimizar a necessida- rápido, arteriais e até coletoras, onde também
de de viagens motorizadas; se concentram os serviços e o comércio. Muitas
sPFTUÑNVMPBPVTPEFNFJPTEFUSBOTQPSUFOËP cidades classificam indevidamente como vias
motorizados e motorizados coletivos; de trânsito rápido os seus corredores radiais,
sPFTUÑNVMPBPBEFOTBNFOUPOBTSFHJÚFTQSPWJ- uma vez que estes geralmente possuem para-
das de infraestrutura de transporte e restrição das de transporte coletivo, não têm acessos e
à expansão horizontal da malha urbana; saídas controlados, apresentam interseções se-
sBQSFTFSWBÌËPEPTGVOEPTEFWBMFFEBT maforizadas e, muito frequentemente, recebem
áreas de várzea para preservação ambiental acesso direto dos lotes lindeiros.
e regulação da drenagem urbana em lugar de
construção de avenidas marginais aos córregos Em municípios integrantes de regiões metro-
urbanos; politanas, aglomerações urbanas e microrre-
sBBWBMJBÌËPEFJNQBDUPTVSCBOPTQBSBEFUFS- giões, ou mesmo em polos regionais, devem
minados projetos viários, como vias em fundos ser identificadas as vias que recebem um tipo
de vale ou que cortem regiões de valor ambien- ou um volume de tráfego decorrente dessa
tal e paisagístico; inserção regional, desproporcional à dimen-
sBBWBMJBÌËPEFJNQBDUPTVSCBOPTQBSBFNQSF- são municipal. A identificação, o cadastro e
endimentos públicos e privados, como grandes o mapeamento destes corredores, centros e
estacionamentos e outros polos geradores de subcentros e polos de atração ou geração de
viagens. viagens é o ponto de partida para a caracteri-
zação do sistema viário de interesse metropo-
b) Classificação, hierarquização do sistema litano. A relação do município principal com os
viário e organização da circulação que o circundam reproduz as que se manifes-
tam entre a área central e os bairros periféricos
Classificação e hierarquização de uma cidade isolada, gerando deslocamentos
intra e intermunicipais polarizados por centros
Na elaboração do Plano de Mobilidade Urbana, regionais. Estes deslocamentos em geral se
as principais vias urbanas devem ser identifi- concentram em alguns corredores de pene-
cadas, classificadas e hierarquizadas segundo tração, que exercem a função de ligação entre
as suas características físicas e as funções que os municípios e onde se instalam os centros
desempenham na circulação local e regional comerciais de abrangência regional.
considerando todos os modos de transporte.
Esta medida facilita a análise dos impactos Nas situações de elevada conurbação, as vias
proporcionados pelas medidas de prioridade de ligação costumam apresentar característi-
para o transporte coletivo e não motorizado, cas arteriais, com o uso do solo predominante
bem como pelas medidas de melhoria da circu- de serviços e comércios e grande participação
lação viária que podem ser implementadas ao dos fluxos de passagem, o que demanda sis-
longo da vigência do plano. temas de controle da malha viária integrados
entre os diversos municípios, coordenação
No Plano, a classificação viária deverá ser semafórica e padronização da sinalização de
lançada em mapas temáticos, identificando e orientação.
classificando as vias, verificando seus atri-
butos físicos: largura da via, tipo e estado de Nas áreas não conurbadas, este mesmo precei-
conservação do pavimento e da sinalização, to vale para as vias que dão acesso às rodovias,
localização dos pontos de parada do transpor- que também costumam apresentar, em menor
te coletivo e atributos operacionais: volume escala, características de vias arteriais ou
de tráfego geral e de transporte coletivo, nível coletoras, com identidades assemelhadas às
de serviço, velocidades médias. As principais descritas anteriormente, no sentido da utili-
vias, que recebem os maiores deslocamentos zação da via, embora os deslocamentos sejam
motorizados ou são utilizadas pelas maiores mais regionalizados.
intensidades de fluxos, formam o sistema

165
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

Em qualquer das situações, o tratamento do deslocamentos, restringindo alguns movimen-


sistema viário de interesse metropolitano ou tos para aumentar a capacidade de outros.
regional deve ser objeto de uma definição clara
de responsabilidades, competências e metas Uma primeira ação costuma ser a implantação
para os agentes públicos envolvidos. O plane- de sentido único de direção em vias saturadas.
jamento deve também indicar as necessidades Esta medida proporciona aumento de capaci-
de complementação e expansão dos sistemas dade e traz o benefício adicional de reduzir o
de interesse metropolitano e ampliação do número de conflitos nas interseções e, con-
sistema viário, com configuração de binários ou sequentemente, a redução de acidentes com
vias alternativas aos corredores de penetração, pedestres e veículos. A implantação de sentido
e outros. único de direção depende da disponibilida-
de de um sistema alternativo para receber o
Uma maior eficiência do sistema viário, acom- volume de tráfego eliminado, que pode ser
panhada de reestruturação das redes municipal suprido pela adoção de binários de circula-
e intermunicipal de transporte coletivo, pode ção (duas vias que operam o mesmo serviço,
fortalecer os subcentros e os núcleos de bairro, com sentidos únicos em direções opostas). Na
dinamizando a economia local e reduzindo a implantação deste tipo de solução, é importan-
necessidade de deslocamentos motorizados. te que seja mantido o equilíbrio da oferta nos
dois sentidos de circulação, utilizando vias com
As vias que ligam o centro do município e os capacidades similares.
centros regionais também podem ser conside-
radas como parte do sistema viário de interes- É importante salientar que qualquer mudan-
se metropolitano, apresentando características ça na circulação ou nas características das
de vias arteriais ou coletoras, uso de solo misto vias (por exemplo, ampliação ou redução do
entre residencial e de serviços, e intensidade limite de velocidade, liberação ou retirada de
do fluxo de passagem. estacionamento, entre outras) interfere nas
características de sua utilização, nos padrões
As vias por onde circulam veículos de transpor- de uso do solo e na importância relativa daque-
te coletivo metropolitano, principalmente as la via dentro da malha viária do município. As
ligações estruturais, devem ser identificadas e demandas pela ampliação dos espaços des-
ter os seus pontos de parada mapeados e seus tinados à circulação podem ser em benefício
equipamentos cadastrados, com destaque à dos veículos ou dos pedestres. Principalmente
disponibilidade de infraestrutura dedicada sob a ótica da Política Nacional de Mobilidade
exclusivamente ao transporte coletivo. Urbana e da prioridade aos meios não motori-
zados, é necessário analisar as possibilidades
Organização da circulação viária do alargamento das calçadas para melhoria
das condições de circulação dos pedestres.
Para organizar a circulação, os planejadores
intervêm na regulamentação da circulação
A sinalização semafórica, por exemplo, é outra
viária, restringindo alguns movimentos até
ferramenta essencial para organização da circu-
então permitidos, com objetivo de aumentar
lação urbana, disciplinando a operação em cru-
a capacidade da via, a sua fluidez ou a segu-
zamentos saturados ou perigosos, preferencial-
rança. Originalmente, as vias não apresentam
mente utilizando equipamentos coordenados
nenhuma restrição à circulação ou à parada de
em rede e que permitam a adoção de múltiplos
veículos, permitindo total liberdade aos condu-
planos de tráfego.
tores. Com o crescimento urbano, aumentam
os volumes de circulação, crescem os conflitos
Circulação nas áreas centrais
e as vias começam a apresentar capacidade in-
suficiente para atender a demanda. Como nem As áreas centrais são, em geral, lugares de
sempre é possível e necessário ampliar a oferta concentração de atividades econômicas, princi-
real de espaço viário, com construção de novas palmente do setor terciário, incluindo, além dos
vias ou ampliação das existentes, a solução é centros tradicionais das cidades, os polos regio-
alterar a sua regulamentação, racionalizar os nais secundários e as novas centralidades que

166
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

a dinâmica da expansão urbana gera. Normal- tação e recuperação, dentro de um plano geral
mente, a importância destas áreas transcende de desenvolvimento urbano que recupere a sua
os aspectos econômicos e atinge dimensões importância econômica, cultural e simbólica,
simbólicas e culturais na sociedade, contribuin- sem expulsar a população existente. Em menor
do para a consolidação da identidade local. escala, o mesmo ocorre em centros regionais e
centros de bairro, que perderam progressiva-
A reorganização ocorrida na economia, com mente seu papel de referência local.
redução das atividades industriais e ampliação
do setor de serviços, associada a um padrão Em todas essas situações, os sistemas de
de mobilidade urbana baseado no transporte transporte e de circulação desempenham pa-
individual, causou um profundo impacto nos pel fundamental, influindo na sua atratividade
centros tradicionais das cidades. A proliferação para a economia e na qualidade de vida para
de shopping centers, normalmente localizados as pessoas que moram ou apenas circulam por
em regiões mais afastadas, deslocou dos cen- ali. Por princípio, são polos geradores de via-
tros tradicionais parte importante das ativida- gens, concentram grandes volumes de tráfego
des econômicas. Com isso os centros antigos de veículos e de pessoas que produzem impac-
passaram por um processo de esvaziamento tos ambientais não restritos às próprias áreas.
econômico, de desvalorização imobiliária, de
mudança de usos e relativa deterioração. Assim, o Plano de Mobilidade Urbana deve con-
templar medidas que atuem na requalificação
Essas áreas, contudo, não perderam sua vita- de áreas degradadas, levando em consideração
lidade. Na maioria dos municípios, ali ainda se os fluxos de circulação motorizada e não mo-
concentram atividades administrativas, políti- torizada e atuando no controle da demanda de
cas e financeiras e um intenso setor terciário, tráfego de forma a orientar o desenvolvimento
ainda que mais voltado para um consumo da região.
mais popular, com forte presença da economia
informal. Em muitos locais, a desvalorização c) Implantação e qualificação de calçadas
imobiliária estimulou o crescimento do uso
A necessidade de expansão contínua do sis-
habitacional de baixa renda.
tema rodoviário urbano levou à eliminação ou
redução de espaços destinados exclusivamente
Com o aprofundamento das formas de se-
aos pedestres, como calçadas e praças. Essa
gregação espacial, de certa forma as áreas
mesma situação ocorreu nos espaços privados:
centrais também se especializaram: de um
nas residências, nos prédios e conjuntos habita-
lado, os centros históricos, em processo de
cionais, onde jardins e quintais cederam espaço
deterioração, se tornaram um espaço mais
para garagens.
voltado para as classes populares; de outro,
as novas centralidades, dinâmicas e inseridas
As legislações municipais são em parte respon-
na economia globalizada, despertaram como
sáveis por esta situação, ao manterem certa
verdadeiras ilhas de aparente prosperidade.
confusão sobre as responsabilidades e os di-
reitos das pessoas sobre as calçadas. Na maior
Os centros históricos, mesmo quando em
parte das cidades existem leis que transferem
condições precárias de conservação, são áreas
aos proprietários dos lotes a responsabilidade
consolidadas, providas de infraestrutura urba-
pela construção e manutenção das calçadas,
na e de equipamentos públicos, inclusive uma
cabendo à Prefeitura estabelecer padrões para
boa oferta de transporte coletivo. Ali se con-
a sua execução e fiscalizar o seu cumprimento.
centram edificações e conjuntos arquitetônicos
e urbanísticos de valor cultural e patrimonial
Os municípios, mesmo na existência de
e as atividades econômicas são intensas, com
legislação local que transfira a obrigação aos
inúmeras oportunidades de trabalho, conviven-
proprietários dos imóveis, permanecem com a
do ao mesmo tempo com espaços deteriora-
responsabilidade pelo seu cumprimento, além
dos, com edificações abandonadas ou ociosas.
do papel de normatizar a sua execução e esta-
Nestas áreas, são necessárias ações de reabili-
belecer diretrizes para que os passeios, mesmo

167
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

quando construídos em diferentes momentos O transporte a pé é um modo de locomoção


e por diferentes proprietários, adquiram uma expressivo em todas as cidades brasilei-
configuração homogênea. ras, de pequeno, médio e de grande portes.
Enquanto nas cidades com até 60 mil habi-
Também cabe ao Poder Público municipal a tantes este modo responde por quase me-
fiscalização quanto ao uso correto deste es- tade do total das viagens, nas cidades com
paço, evitando a sua invasão por ambulantes, mais de um milhão de habitantes, ainda que
automóveis depósitos de entulhos ou qualquer sua participação seja reduzida a um terço
outra atividade privada que impeça a livre das viagens, em números absolutos repre-
circulação das pessoas, inclusive as que têm senta uma quantidade enorme de pessoas.
deficiências ou dificuldades de locomoção.
Entretanto, há ainda uma grande distância
O Código de Trânsito Brasileiro (art. 68) repre- entre o texto da lei e a realidade das cidades
sentou um avanço nessa área, ao assegurar o brasileiras. O Plano de Mobilidade Urbana não
direito dos pedestres na utilização dos pas- pode ignorar o problema.
seios. A utilização das calçadas para outros fins
pode ser autorizada pela autoridade compe- Tratar das calçadas no Plano de Mobilidade
tente, desde que não seja prejudicial ao fluxo Urbana é, portanto, fundamental para garantir
de pedestres. o direito de ir e vir de todos os cidadãos, com
autonomia, independência e segurança, possi-
bilitando maior qualidade de vida.

Os passeios públicos, como espaços de cidadania, exigem uma gestão efetiva da


administração municipal na sua implantação e manutenção, para que se tornem
espaços qualificados para as funções a que se destinam. Para isso, alguns cuidados
básicos no planejamento se fazem necessários:

sVTPEFNBUFSJBJTEFRVBMJEBEFFDPNSFTJTUÎODJBBEFRVBEBFTVQFSGÑDJFBOUJEFSSB 
pante para propiciar segurança aos usuários, mesmo quando molhados ou em aclives
acentuados;
sDPOTUSVÌËPEFDBMÌBEBTDPNMBSHVSBNÑOJNBEFTPCTUSVÑEBRVFQFSNJUBBQBTTBHFNEF
ao menos duas pessoas lado a lado;
sNBOVUFOÌËPEBTFTTËPUSBOTWFSTBMQMBOBBQFOBTDPNPDBJNFOUPOFDFTTÆSJPQBSBP 
escoamento de águas pluviais;
sDPOTUSVÌËPNBOUFOEPPQFSGJMMPOHJUVEJOBMTFNEFHSBVT FYDFUPRVBOUPPTEFDMJWFT 
forem muito acentuados e estes apresentarem um nível de conforto melhor do que as
rampas;
sSFCBJYBNFOUPEBTHVJBTPVNFJPTGJPTOBTFTRVJOBTFOPTMPDBJTPOEFIPVWFSGBJYBEF 
travessia para permitir o trânsito de cadeirantes, com rampas com as inclinações máxi-
mas estabelecidas pela ABNT;
sMPDBMJ[BÌËPBEFRVBEBEFFRVJQBNFOUPTVSCBOPTQÜCMJDPT QPTUFT UFMFGPOFT MJYFJSBT 
etc.) de modo a garantir uma faixa de circulação livre para os pedestres, resguardando a
acessibilidade e a segurança de pessoas com deficiência;
sOPDBTPEBVUJMJ[BÌËPEFPCTUÆDVMPTQBSBPFTUBDJPOBNFOUPEFWFÑDVMPTTPCSF  
as calçadas (frades), deve ser garantida uma faixa de circulação livre para os pedestres,
resguardando a acessibilidade e a segurança de pessoas com deficiência;
sOPDBTPEFBVUPSJ[BÌËPQBSBFTUBCFMFDJNFOUPTDPNFSDJBJTDPMPDBSFNNFTBT   
mostruários e outros elementos nas calçadas, deve ser garantida a reserva de uma
faixa de circulação livre para os pedestres, resguardando a acessibilidade e a segurança
de pessoas com deficiência.

168
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

Detalhes de projetos de calçadas podem ser trução de uma infraestrutura adequada para a
obtidos no caderno 2, “Construindo a Cidade circulação das bicicletas: um espaço cicloviário
Acessível”, do Programa Brasil Acessível do constituído por ciclovias, ciclofaixas, bicicletá-
Ministério das Cidades. rios, paraciclos e outros elementos que propi-
ciem segurança aos ciclistas e que permitam
d) Criação de condições adequadas à circu- conexões com outras modalidades de transpor-
lação de ciclistas te urbano. Uma cidade que pretenda valori-
zar este modo de transporte deverá destinar
O potencial de utilização desta modalidade va-
recursos orçamentários para projetos e obras
ria de cidade para cidade, porém a experiência
de infraestrutura cicloviária.
mostra que há diversas situações típicas
em que ela deve ser estimulada, tais como: na li-
Parte dos investimentos na construção dessa
gação de zonas industriais a bairros residenciais
infraestrutura pode ser viabilizada junto à ini-
com predominância de populações operárias;
ciativa privada, na recomendação de implanta-
em áreas litorâneas com vocação turística,
ção de espaços para circulação preferencial da
ampliando os atrativos de cidades costeiras;
bicicleta nos novos parcelamentos urbanos, ou
nas áreas centrais e comércios de bairros, nos
na exigência de instalação de paraciclos junto
prédios públicos e nos pátios das escolas, por
aos polos geradores de tráfego.
meio da implantação de estacionamentos de
curta permanência (paraciclos); na interligação
O investimento na construção de uma infra-
de áreas residenciais aos grandes equipamen-
estrutura urbana adequada e segura para o
tos de transporte coletivo (terminais e corredo-
transporte cicloviário deve ser apoiado por
res), principalmente na integração com sistemas
medidas de divulgação, incentivo e educação
coletivos de média e alta capacidade; e pela
da população para o uso correto das bicicletas,
criação de espaços destinados à circulação de
não apenas na condição de ciclistas, mas tam-
bicicletas em parques e outras áreas públicas.
bém enquanto pedestres ou motoristas. Entre
essas medidas podem ser citadas: a criação e
Diversas cidades, normalmente por contar com
distribuição de cartilhas comportamentais no
uma topografia favorável ou com dimensões
trânsito destinadas a ciclistas e motoristas, e a
urbanas relativamente reduzidas, têm a bicicleta
promoção de passeios ciclísticos.
como um importante meio de transporte; porém,
mesmo nestes casos, poucas têm uma política
A seguir são elencadas algumas recomenda-
clara para estimular ou organizar a circulação
ções, muitas delas válidas para praticamente
cicloviária e pouco investem em uma infraestru-
todos os municípios brasileiros, que permitem
tura viária específica para as bicicletas.
fortalecer o modo cicloviário quando da elabo-
ração do Plano de Mobilidade Urbana:
Os municípios podem desenvolver várias ativi-
dades voltadas à promoção do uso da bicicleta.
sGPSNBÌËPEFVNBSFEFDJDMPWJÆSJBJODMVJOEP
A primeira é a inclusão das bicicletas como um
tramos cicloviários, trechos de ciclofaixas, vias
item do planejamento da mobilidade urbana,
compartilhadas, ruas preferenciais à circulação
inclusive no Plano de Mobilidade Urbana, com-
das bicicletas e trechos sobre calçadas;
plementado por um quadro normativo regulan-
sOPDBTPEFEFTUJOBÌËPEFQBTTFJPTQBSBVTP
do a circulação cicloviária.
compartilhado de bicicletas e pedestres, a
autoridade de trânsito municipal deve definir
A questão da segurança na circulação cicloviá-
quais terão esta destinação e prepará-las para o
ria não se limita ao seu conflito com os veículos
uso comum;
automotores, mas também na sua relação com
sOPTNVOJDÑQJPTEFNÍEJPFHSBOEFQPSUFT
os pedestres, quando ela deixa de ser o ele-
deve ser promovida a integração entre bicicle-
mento mais frágil e precisa também obedecer
tas e os modos coletivos, dotando os terminais
a regras de circulação específicas.
de condições adequadas para a guarda em
segurança das bicicletas;
Os municípios devem preparar o meio urbano
sFNWJBTVSCBOBTDPNWFMPDJEBEFNÆYJNBEF
para o atendimento aos ciclistas pela cons-

169
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

60 km/h é aceitável o uso compartilhado de Tampouco essa medida se justifica apenas


bicicletas; em situações de elevados carregamentos. Em
sQBSDFSJBTDPNBJOJDJBUJWBQSJWBEB BFYFNQMP princípio, todas as vias que apresentam volu-
do que vem sendo realizado na conservação mes significativos de circulação do transporte
de praças em muitos municípios, devem ser coletivo (acima de 50 ônibus/hora/sentido), ou
utilizadas para a construção e manutenção de que tenham um papel estratégico na organiza-
paraciclos e bicicletários; ção da circulação urbana, devem receber um
sJODMVTËPEFDJDMPWJBTPVPVUSBTJOGSBFTUSVUVSBT tratamento de projeto que, de alguma maneira,
voltadas à circulação da bicicleta no interior de priorize os modos de transporte coletivo e a
parques comuns, parques temáticos ou outras circulação dos pedestres e ciclistas. Da mesma
áreas de lazer, de preservação ou de interesse forma, a concepção e o dimensionamento dos
ambiental. projetos deve considerar os dados de deman-
da do horizonte do projeto, incluindo os eixos
e) Priorização do transporte coletivo e im- viários de menor volume de tráfego que te-
plantação de sistemas integrados nham potencial de crescimento, prevendo para
eles reserva de espaço viário para a execução
Priorização do transporte coletivo
de obras futuras, sob pena de comprometer
O tratamento viário para o transporte coletivo soluções necessárias quando os problemas de
deve ser objeto de atenção especial no Plano circulação se agravarem.
de Mobilidade Urbana, na medida em que a
reserva de um espaço preferencial à circulação O tratamento viário preferencial para o trans-
dos ônibus nas vias constitui um importan- porte coletivo não deve se limitar à implanta-
te elemento para a melhoria da qualidade e ção de vias segregadas do tráfego geral. Há
eficiência dos serviços, permitindo uma série de várias outras possibilidades para priorizar a
benefícios: (i) redução do tempo de viagem dos circulação dos ônibus e melhorar as condições
usuários, decorrente da redução dos retarda- dos pontos de parada que podem ser implan-
mentos causados pelos congestionamentos; tadas em cidades de menor população ou em
(ii) redução do custo operacional, em função da vias de menor grau de utilização:
redução e da adequação da frota em operação
nos corredores, devido à elevação da velocidade sDPOTUSVÌËPEFGBJYBTPVQJTUBTTFHSFHBEBT
média e à utilização de veículos de maior capa- no meio das vias, com ou sem ultrapassagem,
cidade; (iii) melhor organização dos embarques operando com veículos de porta somente à
e desembarques dos usuários, conferindo maior esquerda, somente à direita ou com portas de
conforto e segurança aos usuários; e (iv) redu- ambos os lados;
ção do consumo de combustível e das emissões sJNQMBOUBÌËPEFGBJYBTFYDMVTJWBTQBSBPUSBOT-
de gases de feito estufa e de poluentes locais. porte coletivo à direita da via, junto à calçada;
Esta medida, além de expressar concretamente sJNQMBOUBÌËPEFGBJYBTFYDMVTJWBTOPDPOUSB-
a prioridade da Administração Municipal pelo fluxo;
transporte coletivo, favorece a imagem do ser- sJNQMBOUBÌËPEFGBJYBTQSFGFSFODJBJTPVTF-
viço como elemento estruturador dos desloca- miexclusivas, ou seja, onde é permitida a circu-
mentos de média e longa distância. lação de outros veículos, porém com prioridade
para a circulação de ônibus e micro-ônibus.
A prioridade para o transporte coletivo não se
aplica apenas às cidades de médio e grande A escolha da solução a ser adotada depende
portes (acima de 250 mil habitantes). Nas cida- do grau de solicitação da via (frequência em
des de porte intermediário (entre 100 e 250 mil veículos/hora), dos retardamentos verificados,
habitantes) e em algumas ainda menores, essa da quantidade de passageiros embarcando
medida pode ser fundamental na orientação nos pontos de parada, das condições físicas do
do crescimento urbano segundo um modelo de sistema viário e do modelo operacional proje-
mobilidade urbana para a construção de uma tado para a rede de transporte como um todo.
cidade sustentável. Como referência quantitativa, qualquer via com
carregamento acima de 50 ônibus/hora/sentido

170
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

justifica algum tipo de tratamento viário espe- cidade, nem deve ser negligenciada a importân-
cífico. Algumas soluções, como faixas exclusivas cia do debate social no processo de formulação,
ou preferenciais à direita, perdem eficiência em sob pena de sua efetiva implantação sofrer
volumes de tráfego maiores (mais de 100 ôni- fortes restrições ou até mesmo ser inviabilizada.
bus/hora/sentido) ou quando a via possui ele-
vado número de interseções semaforizadas ou A implantação de tratamentos viários para o
volume expressivo de embarques nos pontos de transporte coletivo deve ser acompanhada de
parada; nestes casos, ou quando as frequências melhorias gerais nas vias, nas calçadas, nas
e o volume de passageiros são muito elevados, travessias de pedestres, no mobiliário urbano, na
são exigidas soluções de maior impacto. comunicação com os usuários, na sinalização e
na iluminação pública. Estas medidas podem ser
Mesmo sem intervenções físicas significativas, um importante elemento para a qualificação dos
soluções utilizando recursos de engenharia (pro- espaços urbanos, podendo ser complementadas
jeto viário e de sinalização), de operação ou de por outras iniciativas que resgatem a qualidade
fiscalização podem ser suficientes para otimizar ambiental do eixo viário e do seu entorno.
a operação do transporte coletivo e melhorar a
sua eficiência, superando dificuldades localiza- Há no Brasil e em outros países inúmeras expe-
das que retardam as viagens, tais como: riências de tratamentos viários com prioridade
para o transporte coletivo implantadas com
sQBWJNFOUBÌËPFNBOVUFOÌËPBEFRVBEBEPT êxito, que podem servir de referência na formu-
itinerários do transporte coletivo; lação do Plano de Mobilidade Urbana, além de
sDPOWFSTÚFTÉFTRVFSEBFYDMVTJWBTQBSB×OJCVT um grande número de informações e critérios
sSFTUSJÌÚFTEFFTUBDJPOBNFOUPFNUSFDIPTDSÑUJ- de projetos disponíveis na literatura técnica.
cos dos itinerários ou em horários de pico;
sSFQPTJDJPOBNFOUPEPTQPOUPTEFQBSBEBQBSB O planejamento do transporte coletivo deve
melhorar o desempenho da circulação; considerar as demandas e os trajetos para ha-
sNFMIPSJBEBDPPSEFOBÌËPTFNBGÖSJDB DPN ver eficiência, ou seja, otimização dos recursos
prioridade à circulação do transporte coletivo; empregados de forma a não haver duplicidade
sDPSSFÌËPHFPNÍUSJDBEFWBMFUBTUSBOTWFSTBJT em trajetos ou escassez de passageiros em
à via; algumas linhas. É necessário, ainda, planejar de
sFTQBÌPQBSBVMUSBQBTTBHFNOPTQPOUPTEF forma a abranger toda a cidade para que não
parada em vias onde operam linhas expressas haja regiões negligenciadas, não atendidas pelo
ou semiexpressas; sistema de transporte público coletivo.
sSFTUSJÌËPÉDJSDVMBÌËPEFWFÑDVMPTQBSUJDVMBSFT
ou de operações de carga e descarga em deter- Sistemas integrados de transporte coletivo
minados horários e locais;
Os sistemas integrados de transporte cole-
sSFTUSJÌËPÉDJSDVMBÌËPFÉQBSBEBEF×OJCVTEF
tivo afirmaram-se como uma solução para o
fretamento;
atendimento da diversidade de viagens que a
sOBTQSPQPTUBTEFUSBUBNFOUPWJÆSJPEFWFN
população das cidades de hoje requer, fruto da
ser cuidadosamente avaliados os seus reflexos
descentralização das atividades econômicas,
nas condições de circulação como um todo. Em
da mudança do perfil de emprego, da amplia-
princípio, a prioridade ao transporte coletivo
ção do número de estabelecimentos de ensino,
se dá em detrimento a algum outro uso da via,
entre outras razões.
com redução da sua capacidade para o tráfego
geral, eliminação ou redução da oferta de vagas
Muitas cidades brasileiras contam com siste-
para estacionamento, implantação de restrições
mas integrados, do tipo tronco-alimentador,
para carga e descarga, implantação de um maior
que oferecem conectividade entre várias linhas
número de semáforos e de travessias de pedes-
de transporte coletivo e que permitem a tron-
tres etc. A opção preferencial pelo transporte
calização dos sistemas, isto é, a concentração
coletivo em relação ao transporte individual não
das linhas que atendem aos corredores viários
deve desconsiderar as demais necessidades da
principais, complementados por uma rede de

171
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

linhas alimentadoras, geralmente articuladas sistemas integrados, que não exigem, como no
em um terminal de integração. passado, a construção de grandes terminais,
permitindo a integração tarifária em qualquer
A implantação de sistemas integrados traz ponto ao longo do trajeto das linhas. Porém,
benefícios à rede de transporte coletivo, am- mesmo não sendo imprescindíveis, e poden-
pliando a mobilidade e a acessibilidade dos do ser simplificados e ter suas dimensões
usuários e otimizando as redes com: reduzidas, terminais, estações de transferên-
cia ou até pontos de parada com tratamento
sSBDJPOBMJ[BÌËPEPVTPEPTJTUFNBWJÆSJPOPT urbanístico adequado são equipamentos
corredores de tráfego, na área central e em urbanos importantes de suporte aos sistemas
subcentros; integrados, oferecendo conforto, segurança e
sQPTTJCJMJEBEFEFVTPEFWFÑDVMPTEFNBJPS serviços de apoio aos usuários e aos operado-
capacidade, reduzindo a frota em circulação res. As dimensões e características funcionais
e, consequentemente, os custos operacionais, destes equipamentos urbanos de integração
a emissão de poluentes e as demandas pelo variam em função do tamanho das cidades, da
sistema viário; característica da rede proposta e do modelo
sSFEVÌËPEPOÜNFSPEFMJOIBTFNDJSDVMB- operacional de integração, dos volumes de
ção nas áreas de tráfego congestionado, com oferta e de demanda, independente da adoção
reflexo na quantidade de veículos que deman- de sistemas de bilhetagem automática.
dam os pontos de parada em percurso ou os
terminais de retorno; O conceito operacional da rede integrada,
sSFEVÌËPEBPDJPTJEBEFEBGSPUBPQFSBOEPFN existente ou prevista, é determinante para a
linhas sobrepostas, com reflexo nos custos da obtenção de bons resultados. Para isso, alguns
operação; cuidados devem ser tomados pela equipe res-
sNFMIPSBSUJDVMBÌËPEBSFEFEFUSBOTQPSUF ponsável pela elaboração do Plano de Mobili-
coletivo, oferecendo mais opções de viagens dade Urbana:
para os usuários pela possibilidade de integra-
ção entre duas ou mais linhas, em estações de sEFGJOJÌËPEFVNNPEFMPPQFSBDJPOBM
integração e pontos de conexão; adequado;
sNFMIPSMFHJCJMJEBEFEBSFEFEFUSBOTQPSUF sFMBCPSBÌËPEFVNQSPKFUPEFSFEFFTUSVUV-
pelos usuários, pela simplificação dos atendi- rado e dimensionado segundo a matriz de
mentos na malha viária principal e nas regiões desejos de viagens da população e as diretrizes
periféricas e pela concentração das linhas em urbanísticas definidas no Plano Diretor;
pontos notáveis. sFTUVEPBEFRVBEPEBMPDBMJ[BÌËPEPTUFS-
minais e pontos de integração da rede, que
Mesmo com tantos benefícios, os sistemas inte- devem obedecer aos princípios técnicos defi-
grados também têm seus problemas, como: re- nidos em um projeto funcional e não apenas à
sistência dos usuários aos transbordos compul- disponibilidade de áreas ociosas no município;
sórios, seccionamento de linhas consolidadas sFTUVEPEBOFDFTTJEBEFFEBQPTTJCJMJEBEFEF
e perda de tempo ou de conforto na viagem. ivestimentos no sistema viário para priorizar a
Estes problemas devem ser eliminados ou, pelo circulação dos ônibus nos corredores, com di-
menos, minimizados, no planejamento da rede. versos horizontes de implantação dos projetos;
Por fim, a sua implantação exige uma revisão da sEFTFOWPMWJNFOUPEFQSPKFUPTBEFRVBEPTQBSB
política tarifária para que seja implementada a terminais e estações, que devem atender atribu-
integração e mantido o equilíbrio econômico e tos básicos dos usuários (conforto, segurança,
financeiro dos sistemas, sem a transferência de informação e serviços de apoio) e da operação
novos encargos para os usuários. (facilidade de acostamento para os ônibus, ex-
tensão suficiente para acomodação dos veículos
A disseminação de sistemas eletrônicos de nas operações de embarque/desembarque, se-
cobrança de passagens (bilhetagem eletrôni- gurança do usuário, facilidade de identificação
ca) ampliou as alternativas de constituição de de linhas integradas, instalações operacionais
adequadas etc.).

172
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

Sistemas estruturais de transporte coletivo de ceiras e ambientais e também de definições e


média capacidade análises quanto ao modelo tarifário e quanto
às políticas de integração com o restante do
Nas cidades de médio e grande portes (acima
sistema local ou regional;
de 250 mil habitantes), determinados corredo-
sPFNQSFFOEJNFOUP QFMPTFVQPSUF QPEF
res apresentam volumes elevados de ônibus
requerer avaliações de impacto ambiental e de
nos quais, mesmo em redes integradas e com
vizinhança;
bom tratamento de engenharia e operação, as
sOPTNVOJDÑQJPTJOUFHSBOUFTEFSFHJÚFTNFUSP-
condições de oferta se tornam insuficientes
politanas, os sistemas de média capacidade de-
para atender adequadamente a demanda ou
vem ser articulados do ponto de vista regional.
geram significativos impactos negativos em sua
vizinhança ou no meio ambiente. Nesses casos, é
Especificamente para os estudos visando à
recomendável a adoção de sistemas de trans-
adoção do VLT, cabem ainda as seguintes
porte coletivo de média capacidade, que incluem
considerações:
soluções com veículos leves sobre trilhos (VLT)
ou com uso de ônibus de maior capacidade de
sFTTFTJTUFNBEFNÍEJBDBQBDJEBEFFYJHF
transporte em corredores viários segregados.
maior prazo de maturação, consumido na fase
de projeto, estudos de viabilidade, obtenção de
Estas alternativas são eficientes e conciliam
financiamentos, equacionamento do modelo
a diretriz de prioridade ao transporte coletivo
de concessão, obras, fornecimentos, teste e
com melhores condições ambientais, porém
implantação. Logo, deve ser pensado para hori-
têm custos expressivos, apesar de bem infe-
zonte de tempo mais largo;
riores aos dos sistemas de alta capacidade.
sÍVNTJTUFNBRVFFYJHFBQPSUFEFUFDOPMP-
Neste contexto, ganham força soluções com
gias e sistemas de controle e outros requisitos
a tecnologia ônibus, largamente dominada
tecnológicos não corriqueiros ou de mercado,
pela indústria e pelos operadores nacionais,
sendo importante contar com o envolvimento
possibilitando menores custos de implanta-
da indústria ou de empresas especializadas na
ção e operação. A implantação de sistemas de
concepção e no desenvolvimento do projeto;
média capacidade com tecnologia rodoviária
sOËPDPOTUJUVJVNTJTUFNBGBDJMNFOUFUSBOT-
em corredores altamente qualificados pode
ferível para a iniciativa privada devido aos
evoluir, no futuro, para o sistema de metrô, de
elevados investimentos necessários, à pouca
alta capacidade.
flexibilidade do modelo operacional e aos
riscos contratuais; em função disso, a possi-
Os municípios que necessitam utilizar soluções
bilidade de concessão do serviço, mesmo que
de transporte de média capacidade no seu
envolva somente a operação, exige um bom
sistema local ou regional devem considerá-las
modelo contratual e institucional;
no Plano de Mobilidade Urbana. É a oportu-
sPTJHOJGJDBUJWPWPMVNFEFJOWFTUJNFOUPT
nidade para discussão da utilização de meios
necessário pode requerer a participação de
de transporte de maior capacidade, capazes
outros níveis de governo (estados e União) no
de catalisar o processo de reestruturação de
modelo de financiamento;
todo o sistema de transporte coletivo local e
sPÖSHËPMPDBMEFHFTUËPEFUSBOTQPSUFEFWF
regional, considerando os investimentos neces-
estar preparado para a condução desse projeto.
sários e a disponibilidade de recursos para sua
efetiva implantação. Sistemas estruturais de transporte coletivo de
alta capacidade
Contudo, é importante verificar, na elaboração
Os sistemas de transporte coletivo de alta capa-
do Plano de Mobilidade Urbana, os seguintes
cidade (metrôs e trens) são viáveis para cidades
aspectos:
e áreas urbanas acima de 500 mil habitantes.

sBFTDPMIBEBBMUFSOBUJWBGFSSPWJÆSJBPVSPEP
Atualmente, enquanto alguns serviços me-
viária depende de análises econômicas, finan-
troferroviários no País estão sendo operados

173
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

no limite de sua capacidade, outros estão cotejados com os investimentos necessários,


subaproveitados se considerados os custos de geram um quadro de referência para tomada
operação e de manutenção e a capacidade de de decisões.
transporte de que dispõem.
Outra dimensão de análise pelo Plano de
O Plano de Mobilidade Urbana deve avaliar Mobilidade Urbana, principalmente para os sis-
os serviços metroferroviários (existentes ou temas ferroviários existentes, em operação ou
passíveis de implantação) na rede de transpor- inativos, são as relações e os impactos daquela
te atual e futura, considerando a sua capaci- infraestrutura no tecido urbano. Nos sistemas
dade de estruturar toda a rede de transporte em operação, a existência de travessias em ní-
coletivo local e regional e as formas de sua vel, a utilização da via férrea como caminhos de
articulação física, operacional e tarifária com os pedestres ou a ocupação da faixa de domínio
outros meios de transporte, incluindo os ôni- da linha por moradias irregulares geram situa-
bus municipais e metropolitanos, o transporte ções de risco para a população e prejuízos para
individual privado e a acessibilidade por meios a operação do serviço ferroviário.
não motorizados às estações.
f) Política tarifária e redução do custo do
Ações no campo das políticas urbanas e de transporte coletivo urbano
transporte podem maximizar o aproveitamen-
As tarifas dos serviços de transporte coletivo
to da infraestrutura instalada, estimulando o
urbano têm relação com a apropriação adequa-
adensamento ao longo da via e de sua área de
da dos custos de operação, o equilíbrio econô-
influência imediata, gerando ao mesmo tempo
mico e financeiro dos sistemas, a capacidade
demanda adicional para os serviços em locais
de pagamento dos usuários diretos e a capa-
onde operam com capacidade ociosa.
cidade de subsídio que uma administração
pode alocar para a cobertura dos seus custos
Devido aos elevados investimentos necessários
operacionais. Este tem sido um dos principais
para sua implantação, nenhum dos serviços de
problemas dos gestores públicos nas grandes
alta capacidade em operação no País está sob
cidades brasileiras.
responsabilidade municipal, o que não quer
dizer que eles não devam ser considerados no
Os operadores, públicos ou privados, devem
planejamento da mobilidade urbana. O Plano
ser remunerados pelo serviço que prestam de
de Mobilidade Urbana deverá, então, estar
forma a garantir a cobertura dos seus custos
compatibilizado com os programas da esfera
administrativos e operacionais, acrescidos de
responsável pelo serviço (estadual ou federal).
uma justa remuneração pelo capital investido.
Na absoluta maioria dos casos, a única fonte
Em algumas cidades, sistemas metroferroviários
de recursos para isso são as tarifas pagas pelos
existentes e com capacidade ociosa sofrem con-
seus usuários diretos, ao contrário dos países
corrência do modo rodoviário. Portanto, durante
desenvolvidos onde há significativos subsídios
o processo de elaboração do Plano de Mobilida-
públicos para o transporte coletivo.
de Urbana, as redes municipal e regional devem
ser estudadas como um todo, com especial pre-
No Brasil, as raras exceções estão em geral nos
ocupação para a definição dos modelos tarifário
serviços de alta capacidade, normalmente sob
e de remuneração dos operadores.
responsabilidade de empresas estatais. São
minoria os casos de concessão de subsídios
Os projetos metroferroviários exigem deta-
orçamentários ou de obtenção de fontes de
lhados estudos de viabilidade que devem ser
receitas adicionais para o custeio de sistemas
feitos em função da demanda potencial futura,
de transporte por ônibus. Os subsídios governa-
uma vez que esses sistemas exigem avaliações
mentais são comumente questionados dentro
de maior prazo. A simulação da rede de trans-
da própria Administração Municipal, na disputa
porte pretendida fornecerá os dados necessá-
por uma maior participação orçamentária. As
rios à avaliação dos benefícios e à monetariza-
experiências de obtenção de fontes alternativas
ção dos ganhos para a sociedade que, quando

174
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

de financiamento são raras, sendo a única exce- fornecendo passes para estudantes, idosos,
ção no País a concessão do vale-transporte. desempregados, pessoas com deficiências etc.

Por outro lado, a totalidade dos sistemas brasi- Outro desafio estrutural das políticas tarifá-
leiros adota mecanismos de subsídios internos. rias é o estabelecimento de uma remuneração
Com a predominância de modelos de tarifa úni- adequada a todos os operadores da cidade
ca, os sistemas operam com sistemas de com- (quando há mais de um operador na cidade),
pensação interna no qual, como regra, a tarifa considerando que cada lote de serviços tem
dos usuários das viagens mais curtas cobre par- seus custos e receitas específicos. Mais uma
te dos custos dos que residem em áreas mais vez esse problema se agrava nas cidades que
distantes. Do mesmo modo, algumas categorias possuem algum tipo de integração tarifária.
de usuários gozam de privilégios tarifários, com Surgem então diversos modelos de sistemas
gratuidade no pagamento da tarifa, de forma de compensação de receitas (pagamento por
integral ou parcial. Os benefícios tarifários va- serviço, câmaras de compensação tarifária etc.).
riam de local para local, exceto a isenção total
O Plano de Mobilidade Urbana pode analisar a
do pagamento da tarifa para os idosos maiores
política tarifária para os serviços de transporte
de 65 anos, estabelecido constitucionalmente.
coletivo sob os dois pontos de vista citados
Fora isso, legislação e regulamentação locais, ou
anteriormente (política de remuneração dos
muitas vezes os hábitos consolidados, benefi-
operadores e política de benefícios sociais),
ciam alguns segmentos de usuários: estudantes
acrescidos de outro, não menos relevante, que
normalmente são beneficiados com redução de
é o da política de desenvolvimento urbano,
50% no valor da passagem ou com gratuidade
utilizando a fixação de preços como fator de
total; o limite de isenção do idoso foi reduzido
gestão da demanda. Assim, tarifas mais baixas
para 60 anos em muitas cidades; pessoas com
para viagens locais podem ser um importante
deficiências e seus acompanhantes gozam de
estímulo para a consolidação de subcentros e
gratuidade em praticamente todas as cidades;
para o desenvolvimento regional; preços redu-
e assim por diante.
zidos nos horários de menor demanda (fora dos
picos) podem produzir um melhor aproveita-
Atualmente, com o crescimento dos custos
mento da estrutura operacional implantada; do
operacionais, aumento das tarifas e, em alguns
mesmo modo, tarifas relativamente mais eleva-
casos, com a queda de demanda, os questiona-
das para o pagamento de viagens isoladas po-
mentos sobre os problemas de financiamento
dem inibir a utilização de dinheiro nos veículos
da prestação dos serviços de transporte coleti-
e induzir a utilização de meios de pagamento
vo urbano ganharam espaço. Neste ambiente,
múltiplos adquiridos com antecedência.
muitos questionam a conveniência e a justiça
social da permanência dos modelos de tarifa Possivelmente, para o Plano de Mobilidade
única, alegando o crescimento exagerado do Urbana, o aspecto mais importante da política
custo médio das viagens, ou seja, apesar de tarifária é a configuração de sistemas efeti-
a tarifa ser única, ela é cada vez mais cara. A vamente integrados, com todos os modos de
ampliação da possibilidade de implantação transporte existentes, inclusive os sob respon-
de sistemas tarifariamente integrados, a partir sabilidade de outras esferas de governo.
da disseminação dos sistemas de bilhetagem
A fixação das tarifas públicas é uma prerro-
eletrônica, ampliou essa discussão.
gativa do Poder Executivo local, e como os
aspectos econômicos são essenciais tanto
No que se refere às gratuidades, questiona-
para a garantia de continuidade da prestação
se a justiça da transferência do ônus destas
do serviço público de caráter essencial como
medidas, muitas delas socialmente justas, para
para permitir o acesso da população a este
o conjunto dos usuários, a maioria de baixa
serviço, o processo de elaboração do Plano
renda, por meio da elevação relativa da tarifa
de Mobilidade Urbana pode contribuir para o
média. Algumas cidades estão criando meca-
aprimoramento do cálculo do custo, da tarifa
nismos para compensar este efeito nas tarifas
e do estabelecimento de novas formas de
por meio do orçamento público, adquirindo e

175
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

remuneração dos operadores, considerando os h) Promoção da acessibilidade universal


seguintes aspectos:
Estimativas da Organização das Nações Unidas
sSFBMJ[BÌËPEFQFTRVJTBTEFEFNBOEBQBSB (ONU) indicam que aproximadamente 10% da
conhecimento da demanda efetiva transpor- população dos países em desenvolvimento de-
tada no sistema municipal, em seus diversos monstra algum tipo de deficiência, permanente
serviços (inclusive com estimativa para even- ou temporária. No Brasil, segundo os dados do
tuais serviços clandestinos), da participação de Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
usuários que gozam de gratuidades tarifárias, (IBGE), 14,5% da população são portadores de
total ou parcial, e estimativa de demanda alguma deficiência. Parte destas pessoas está
potencial para novos serviços; impedida de usufruir livremente espaços públi-
sEFTFOWPMWJNFOUPEFFTUVEPEPFRVJMÑCSJP cos e privados da cidade por problemas de pro-
econômico e financeiro do sistema municipal jeto ou de construção, quando são desconside-
de transporte coletivo e avaliação dos impactos rados os princípios da acessibilidade universal.
das medidas propostas no Plano que interferem
diretamente nele, como, por exemplo, a implan- A preocupação com a acessibilidade é um im-
tação de sistemas com integração tarifária; portante fator de inclusão social e de democra-
sBQSPQSJBÌËPSFBMEPTDVTUPTEPTJOTVNPTQBSB tização, pois permite a todos o acesso aos bens
a operação do transporte coletivo na cidade; e serviços que a cidade oferece. As cidades
sFTUVEPFQSPQPTJÌËPEFNPEFMPEFQPMÑUJDB devem garantir a acessibilidade de todas as
tarifária e de remuneração dos operadores pessoas a todos os ambientes, em especial as
que contemple os objetivos de mudança dos pessoas com dificuldade de locomoção. A aces-
padrões de mobilidade no município e mante- sibilidade universal é um aspecto determinante
nham o equilíbrio econômico e financeiro do para se considerar uma cidade sustentável e
sistema; representa um ganho para toda a sociedade, na
sBWBMJBÌËPEBQPTTJCJMJEBEFFEBDPOWFOJÎO- medida em que oferece facilidades e comodi-
cia de implantação de sistema de bilhetagem dades para todos, independentemente de sua
eletrônica. idade ou condição física.
Destaca-se que a prioridade para o transpor- Com esta perspectiva, vários dispositivos legais
te coletivo nas vias por meio da implantação vêm sendo incorporados na legislação brasi-
de faixas e corredores exclusivos para ônibus leira nos últimos anos, alguns com incidência
contribui muito para a redução dos custos de direta nas políticas urbanas e de mobilidade.
operação, devido ao aumento da velocidade
operacional dos veículos. As Leis n. 10.048, de 8/11/2000, e a de n.
10.098, de 19/12/2000, estabeleceram normas
g) Instrumentos para o controle e desestí- gerais e critérios básicos para a promoção da
mulo ao transporte individual motorizado acessibilidade das pessoas com deficiência
ou com mobilidade reduzida, temporária ou
O sistema viário de uma cidade tem capaci- definitivamente. Ambas foram regulamentadas
dade de atender a um determinado nível de por meio do Decreto n. 5.296, de 2/12/2004,
demanda gerada pelas atividades que nela se que definiu critérios mais específicos para a
desenvolvem. Se esta demanda por espaço implementação da acessibilidade arquitetôni-
estiver próxima ou for maior que a oferta, ocor- ca e urbanística (capítulo IV) e aos serviços de
rem lentidões e congestionamentos. A gestão transportes coletivos (capítulo V).
da demanda, que tem exemplos de instrumen-
tos descritos no capítulo 4 deste caderno, deve De acordo com a legislação, nas intervenções
ter seus dispositivos previstos no Plano de urbanísticas deve ser adotado o conceito de
Mobilidade Urbana. desenho universal que, conforme o próprio texto
da norma define, visa atender à maior gama de
variações possíveis das características antropo-

176
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

métricas da população, buscando desenvolver lidade, 2: Construindo a Cidade Acessível, 3:


soluções integradoras para atendimento a todos Implementação do Decreto n. 5.296/2004, 4:
os usuários e evitando a criação de espaços se- Implantação de política municipal de acessibi-
gregados, áreas especiais, isoladas, destinadas lidade, 5: Implantação de sistema de transporte
apenas ao acesso de pessoas com deficiência. acessível, e 6: Boas práticas em acessibilidade
(disponível em www.cidades.gov.br).
O Plano de Mobilidade Urbana deve definir
medidas para: (i) eliminação das barreiras i) Circulação viária em condições seguras e
arquitetônicas que impedem ou dificultam o humanizadas
acesso à cidade; (ii) eliminação das barreiras
Um dos maiores problemas da mobilidade
urbanísticas que impedem o cidadão de circu-
urbana é o da segurança. Conforme menciona-
lar e utilizar o espaço e o mobiliário urbano; (iii)
do anteriormente, no ano de 2012 ocorreram
eliminação das barreiras de transportes que
44.812 mortes em acidentes de trânsito no Brasil,
se caracterizam pela falta de adaptação em
segundo o Datasus.
qualquer sistema de transporte. Isso vale tanto
para projetos novos quanto para a adaptação
O Plano de Mobilidade Urbana, na etapa do
dos sistemas existentes.
Diagnóstico, deve apresentar os dados de
acidentes registrados no município, suas
As diretrizes básicas de acessibilidade univer-
principais causas e localização. Esta parte foi
sal a serem observadas no Plano de Mobilidade
descrita com maior profundidade em outro
Urbana são as seguintes:
capítulo deste caderno.

sSFCBJYBNFOUPEFNFJPTGJPTOBTFTRVJOBTF
Com base nesse diagnóstico, o Plano deve
junto às faixas de segurança com a construção
prever um programa de ações contemplando
de rampas segundo as especificações da ABNT;
basicamente as áreas de engenharia, fiscali-
sSFNPÌËPEFCBSSFJSBTGÑTJDBTDPNPTFQBSBEPSFT
zação e educação. Medidas institucionais e de
de fluxos nos locais de travessia de pedestres;
envolvimento da sociedade em prol da segu-
sTJOBMJ[BÌËPOPQBTTFJPQÜCMJDPEFSPUBTQBSB
rança de trânsito também são desejáveis, tudo
a circulação de deficientes visuais, utilizando
em conformidade com o diagnóstico.
pisos táteis nos locais de maior circulação e
nos pontos de acesso ao transporte coletivo;
É fundamental conscientizar a sociedade de
sDVJEBEPTFTQFDJBJTOBDPOTUSVÌËPFOBDPO-
que os acidentes e as perdas físicas e mate-
servação de passeios, tratando-os como parte
riais deles decorrentes podem ser evitados ou
da via pública;
reduzidos, com ação conjunta e coordenada de
sEJSFUSJ[FTQBSBBDFTTJCJMJEBEFOPTFSWJÌPEF
todos os agentes envolvidos na circulação.
transporte;
sDPOTUSVÌËPEFSBNQBTQBSBBDFTTPÉTQMBUB-
A conscientização se faz a médio e longo
formas de embarque e desembarque;
prazos, atuando em várias frentes e com en-
sBEBQUBÌËPEPTWFÑDVMPTEFUSBOTQPSUFDPMFUJWP
volvimento dos diversos setores da sociedade
para acesso de cadeiras de rodas mediante
em amplos programas de educação, que não
rebaixamento do piso interno dos veículos,
devem ter como objetivo ensinar apenas as
implantação de elevadores ou nivelamento dos
regras de trânsito, mas sim construir hábitos
pisos das plataformas com o piso interno dos
e atitudes seguras e promover alterações no
veículos.
comportamento e crenças dos indivíduos de
forma a constituir uma cultura de segurança
Com o objetivo de difundir as informações ne-
e preservação da vida. A educação na mobili-
cessárias ao desenvolvimento de uma política
dade urbana também compreende a difusão
nacional de acessibilidade, o Ministério das
dos princípios de valorização e prioridade aos
Cidades elaborou uma coleção de cadernos
meios de transporte coletivos e não motoriza-
composta por: 1: Atendimento adequado às
dos, da acessibilidade universal, da inclusão
pessoas com deficiência e restrição de mobi-
social e da sustentabilidade ambiental.

177
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

j) Acessibilidade, transporte coletivo e esco- às escolas, incluindo o transporte. Em alguns


lar para a área rural locais, o Poder Público oferece transporte para
A melhoria da acessibilidade às áreas rurais as crianças do ensino fundamental residentes
não se restringe à implantação e à conservação na área rural, por meio do próprio sistema de
das vias, devendo incluir também a possibilida- transporte coletivo ou por serviços por ele con-
de de a população usufruir bens e serviços. tratados. O planejamento deste tipo de aten-
dimento não é simples. A definição das rotas e
A distribuição da população na zona rural dos horários precisa levar em conta os locais de
segue alguns padrões: uma parcela vive em residência, a localização das escolas, os tempos
aglomerados urbanos, normalmente menos de viagem, os horários de início e término das
densos do que as áreas urbanas das sedes dos aulas, tanto na ida como na volta.
municípios; outra parcela trabalha e reside em
fazendas, sítios ou pequenas propriedades; e No Plano de Mobilidade Urbana deve ser ela-
há um terceiro grupo, mais recente, de morado- borado um levantamento amplo dessas neces-
res das classes média, média alta e alta que se sidades e, em seguida, devem ser definidas as
instalam em loteamentos (em geral condomí- ações para assegurar o transporte escolar para
nios fechados). as áreas rurais.

Todos esses moradores possuem necessidades Tratado o problema do transporte dos es-
básicas, similares aos habitantes das cida- colares, permanecem as dificuldades dos
des: necessitam fazer compras, ir ao médico, moradores que precisam ser atendidos pelos
estudar, resolver problemas pessoais, passear, serviços de transporte coletivo regular. A baixa
receber amigos e outras atividades econômicas densidade demográfica, a dispersão espacial
e sociais. Algumas dessas necessidades podem da população e as limitações do sistema viário
ser providas na própria região (escolas, postos dificultam a manutenção de uma oferta regular
de saúde, pequenos comércios), outras só são por linhas de transporte dentro das regras usu-
encontradas no núcleo urbano da sede do ais desses sistemas nas cidades, isto é, coberto
município; e mesmo para o acesso aos equipa- exclusivamente pelas tarifas pagas pelos usuá-
mentos existentes na área rural, muitas vezes rios diretos. Isso inviabiliza economicamente o
é preciso percorrer grandes distâncias, difíceis atendimento a essas regiões.
de serem vencidas a pé.
Entretanto, esta população não pode ser pri-
Os dois primeiros grupos de moradores são vada do acesso ao trabalho, à saúde, à educa-
normalmente constituídos por cidadãos de ção, ao lazer, nem permanecer segregada das
baixa renda, que não possuem automóvel e de- oportunidades disponíveis na cidade. O Plano
pendem do transporte coletivo ou, na ausência de Mobilidade deve verificar o atendimento a
deste, deslocam-se a pé, cavalo, charrete, bici- esta necessidade pelo uso de subsídio público e
cleta ou mais recentemente por motocicleta. Já outros mecanismos.
no terceiro grupo, as famílias possuem até mais
de um automóvel, gerando um elevado número O Plano de Mobilidade Urbana deve ser com-
de viagens motorizadas por transporte indivi- plementado por um programa de manutenção
dual para o atendimento de suas necessidades; da infraestrutura viária existente (estradas, ata-
além disso, estes loteamentos geram empregos lhos, servidões, pontes, mata-burros etc.) que
para certo número de pessoas que utilizam permita a sua utilização mesmo em períodos
transporte coletivo. de intempéries, garantindo condições mínimas
de mobilidade nessas áreas.
O transporte escolar para a população de
baixa renda nas áreas rurais é um dos grandes k) Transporte de carga
problemas de muitos municípios. A educação
A correlação do sistema de logística e trans-
fundamental é um direito constitucional do
porte de cargas urbanas com o padrão de
brasileiro e, portanto, é obrigação do Estado
organização do uso do solo urbano é evidente.
propiciar as condições de acesso das crianças

178
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

As atividades produtivas necessitam de apoio sSFHVMBNFOUBÌËPEPUSBOTQPSUFEFDBSHB


logístico que envolve movimentação, armaze- sEFGJOJÌËPEFSPUBTQSFGFSFODJBJTFEFWJBTEF
nagem e transporte de cargas, em volume e uso proibido;
dimensões nem sempre compatíveis com os sTJOBMJ[BÌËPFTQFDÑGJDBQBSBWFÑDVMPTEFDBSHB
demais usos da cidade: habitação, lazer, estu- (orientação e restrição).
dos, comércio, trabalhos de escritório ou com
equipamentos urbanos como escolas e hospi- l) Estruturação institucional
tais, causando impactos negativos sobre elas.
Muitas cidades, principalmente as de menor
porte populacional, não dispõem de unidades
O Plano de Mobilidade Urbana deve contemplar
administrativas dedicadas à gestão dos servi-
o transporte de cargas urbanas e suas ope-
ços referentes à mobilidade urbana ou, quando
rações associadas (carga e descarga, esta-
elas existem, atuam de forma isolada e, mais
cionamento, rotas), para evitar problemas na
frequentemente ainda, dissociadas das demais
circulação viária e mitigar impactos ambientais
políticas urbanas. É importante a constituição,
(vibrações, ruído, contaminação do ar, conta-
dentro da estrutura da Administração Muni-
minação do solo, resíduos sólidos e líquidos,
cipal, de um órgão que coordene as políticas
acidentes com cargas perigosas).
de mobilidade urbana e a sua integração com
as políticas urbanísticas. Para isso, algumas
Parte desses problemas pode ser minimizada,
diretrizes podem ser estabelecidas:
preventivamente, pela gestão do uso e da ocu-
pação do solo, estabelecendo um zoneamento
sDSJBÌËPEFVOJEBEFHFTUPSBEBTQPMÑUJDBTEF
adequado das indústrias, pelo menos das que
mobilidade, ou mais de uma, integrando a
produzem maiores impactos ambientais, segre-
gestão dos serviços de transporte coletivo e de
gando-as das áreas mais sensíveis. Porém, nem
trânsito, de forma articulada com as políticas
sempre isso é possível, até porque, mesmo iso-
urbanísticas;
ladas, estas atividades necessitam de abasteci-
sDBQBDJUBÌËPUÍDOJDBFJOTUSVNFOUBMEBVOJ-
mento de suprimentos e matérias-primas e de
dade gestora da mobilidade, com provisão
escoamento da produção, gerando um tráfego
específica de recursos para a gestão;
de passagem pelo sistema viário da cidade.
sBSUJDVMBÌËPEBFTUSVUVSBNVOJDJQBMEFHFT-
tão da mobilidade com outras instâncias da
Outras atividades, mesmo de menor impacto
Administração Municipal, ou metropolitanas e
ambiental, geram deslocamentos urbanos para
regionais.
recebimento de matérias-primas e despacho
de mercadorias que causam transtornos na
A criação de uma unidade gestora, porém, não
sua vizinhança imediata. Nesses casos, são
é suficiente para garantir uma boa adminis-
necessárias medidas no âmbito da gestão da
tração dos serviços sob sua responsabilidade.
circulação urbana para administrar os conflitos.
No caso dos serviços de transporte coletivo,
Em alguns casos, a simples regulamentação de
majoritariamente operado por particulares, o
espaços e horários para as operações de carga
Poder Público precisa contar com uma base
e descarga pode ser suficiente para controlar
jurídica adequada para permitir o planejamen-
seus efeitos negativos, outros podem exigir
to, o controle e a fiscalização, que permanecem
medidas mais abrangentes.
sob sua responsabilidade.

O Plano de Mobilidade Urbana deve conter


Esta base jurídica (marco regulatório) é espe-
estudos específicos sobre a circulação de carga
cífica para cada serviço de transporte público
urbana, identificando os tipos, o volume e as
(transporte coletivo, táxis, transporte de esco-
especificidades da movimentação, e estabelecer
lares, principalmente) e é constituída de leis,
ações específicas de transporte e trânsito que
decretos, contratos e outros instrumentos que
contemplem, pelo menos, os seguintes aspectos:
devem ser preparados para atender as particu-

179
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

laridades de cada local. Além da regulação dos mobilidade urbana, em particular a gestão dos
serviços estritamente municipais, alguns instru- serviços de transporte público e de trânsito,
mentos normativos também podem ser esten- é assunto de interesse local e, portanto, de
didos para o controle de serviços de transporte responsabilidade das Prefeituras.
sob responsabilidade de outras esferas gover-
namentais, como o transporte intermunicipal, Porém, as necessidades de deslocamentos
ou natureza estritamente particular, mas com não se restringem ao território do município,
interferência direta na circulação urbana, como principalmente em situações de conurbação.
é o caso dos serviços de fretamento. Nestes casos, a gestão e o planejamento da
mobilidade, tanto em se tratando dos serviços
Especificamente para os serviços de trans- de transporte público quanto da circulação,
porte coletivo de passageiros, um elemento precisam superar os limites político-adminis-
importante de valorização da gestão pública trativos municipais. Para isso, é necessário criar
é a regularidade contratual com as empresas canais, institucionais ou políticos, para envol-
operadoras, o que deve ser feito por meio de ver os outros gestores envolvidos: Prefeituras
procedimento licitatório. As delegações sem vizinhas, governos estadual e federal e até
contrato, com prazos vencidos ou por prazo empresas públicas concessionárias.
indeterminado devem ser novamente licitadas,
e este processo pode ser um momento de re- A falta de coordenação entre os diversos
definição das regras para os serviços. Reco- gestores traz prejuízos para todos.
menda-se que esses serviços sejam licitados Diferentes sistemas, quando superpostos,
prevendo-se a concessão dos serviços. aumentam desnecessariamente os custos
operacionais, sobrecarregam o sistema viário,
O Código de Trânsito Brasileiro prevê uma clara geram maiores impactos ambientais e con-
divisão de responsabilidades e uma parceria gestionamentos. Os usuários são os maiores
entre órgãos federais, estaduais e munici- prejudicados: têm sua acessibilidade reduzida
pais na gestão do trânsito. Os municípios, em e, muitas vezes, pagam duas ou mais tarifas
particular, tiveram sua esfera de competência para realizar seus deslocamentos.
substancialmente ampliada no tratamento
deste tema. Aliás, nada mais justo se conside- Este problema não é de fácil solução, em função
rarmos que é nele que o cidadão efetivamente de diversos conflitos de interesses entre os
mora, trabalha e se movimenta, ali encontrando agentes envolvidos, mesmo quando todos legí-
sua circunstância concreta e imediata de vida timos, e deve ser resolvido em duas dimensões:
comunitária e expressão política. Por isso, com- no planejamento e na gestão dos serviços de
pete agora aos órgãos executivos municipais de interesse comum.
trânsito exercer várias atribuições.
O equacionamento da gestão coordenada dos
Uma vez preenchidos os requisitos para integra- serviços municipais e regionais nessas condi-
ção do município ao Sistema Nacional de Trânsi- ções exige uma solução institucional que coor-
to, ele assume a responsabilidade pelo plane- dene as ações dos diversos entes envolvidos,
jamento, sinalização, operação e fiscalização de superando os limites institucionais.
trânsito. O atendimento a algumas exigências é
condição indispensável à integração de determi- No caso das regiões metropolitanas, o País
nado município ao Sistema Nacional de Trânsito. demonstra diversas práticas nesse sentido: de
Tais exigências não são difíceis de serem atendi- predominância do órgão estadual (Recife), de
das e estão expressas no CTB, artigos 24 e 333, e predominância do órgão municipal (Curitiba),
na Resolução do Contran n. 296/2008. de constituição de uma empresa gestora com
controle societário das diversas instâncias en-
Com relação à gestão metropolitana, cabe volvidas (Goiânia) ou de atuação independente
considerar que, em princípio, a política de dos diversos agentes (São Paulo). Recentemen-

180
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

te, foi formalizada a possibilidade de criação de incluir capítulos ou anexos distintos para cada
consórcios entre os municípios para adminis- município, contendo ações específicas para
tração de problemas de interesse comum. a mobilidade urbana local. Dessa forma, um
único plano de mobilidade trataria da questão
Com relação aos Planos de Mobilidade Urbana, metropolitana e de cada município da região.
estes são necessários para as regiões de inten-
sa conturbação, basicamente regiões metro- São apresentadas, de forma resumida, as
politanas, independentemente dos planos de metas e ações estratégicas consideradas como
mobilidade específicos dos municípios. É pos- sendo os conteúdos mínimos ou básicos para a
sível o Plano de Mobilidade Urbana Regional elaboração do Plano de Mobilidade Urbana.

Quadro 7 – Resumo do conteúdo mínimo do Plano de Mobilidade Urbana.

ESTABELECIMENTO DE OBJETIVOS E METAS

Meta de ampliação da participação do trans- Aumento gradual de participação do transporte público e


porte público e não motorizado na matriz de não motorizado no conjunto de deslocamentos da popula-
deslocamentos da população ção, conforme o tempo de vigência do Plano.

Redução no consumo de energia, emissão de poluentes


Meta de redução de emissões de poluentes locais (para a melhoria da qualidade do ar) e gases de
locais e gases de efeito estufa efeito estufa do sistema de mobilidade urbana nas grandes
cidades.

Meta de redução de acidentes de trânsito Redução de vítimas fatais e de feridos.

AÇÕES ESTRATÉGICAS PARA A SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS E ALCANCE DAS METAS

Estimular o adensamento populacional e de atividades de


Integração da mobilidade com o planejamen-
comércio, serviços e lazer junto aos eixos de transporte
to e a ordenação do solo urbano
coletivo.

Identificação, classificação e hierarquização das vias urba-


Classificação, hierarquização do sistema nas, regulamentação da circulação viária e apoio à requali-
viário e organização da circulação ficação de áreas degradadas com medidas de engenharia
de tráfego.

Medidas que visam aumentar a segurança de quem se deslo-


ca a pé, bem como evitar invasões de calçadas pelo comércio
Implantação e qualificação de calçadas
ou mesmo por veículos estacionados. Envolve aspectos de
qualidade do pavimento e iluminação.

Medidas que visam dar melhores condições para o uso da


Criação de condições adequadas à circulação bicicleta, por meio da sinalização de rotas cicláveis, amplia-
de ciclistas ção de ciclovias/ciclofaixas e construção de bicicletários/
paraciclos.

Análise e escolha de tecnologias apropriadas às demandas


dos eixos de transporte (BRTs, VLTs, Metrôs e Trens); reserva
Priorização do transporte coletivo e implanta- de espaços preferenciais à circulação de ônibus (faixas e
ção de sistemas integrados pistas exclusivas); qualificação das vias e equipamentos do
transporte coletivo urbano convencional; integração física e
tarifária dos serviços.

181
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

Quadro 7 – Resumo do conteúdo mínimo do Plano de Mobilidade Urbana (continuação).

AÇÕES ESTRATÉGICAS PARA A SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS E ALCANCE DAS METAS

Apropriação adequada dos custos para cálculo da tarifa,


identificação de fontes de financiamento para reduzir
Política tarifária e redução do custo do trans-
custos para o usuário. Identificação de novas formas de
porte coletivo urbano
contratação e remuneração dos operadores de transporte
coletivo, principalmente por ônibus.

Utilização de instrumentos de gestão da demanda para


Instrumentos para o controle e o desestímulo desestimular o uso do transporte individual motorizado e
do transporte individual motorizado promover a mudança modal para o transporte coletivo e
para o não motorizado.

Ações para garantir a acessibilidade para pessoas com


deficiência e idosos nos espaços públicos e sistema de
Promoção da acessibilidade universal transporte coletivo (veículos e infraestrutura), conforme
dispõe o Decreto n. 5296/2004 e normas de acessibilidade
da ABNT.

Ações de engenharia, fiscalização e educação. Medidas


Circulação viária em condições seguras e
institucionais e de envolvimento da sociedade em prol da
humanizadas
segurança de trânsito também são desejáveis.

Ações para assegurar o transporte escolar para as áreas


Acessibilidade, transporte coletivo e escolar rurais. Atendimento às dificuldades dos moradores de
para a área rural baixa renda nas áreas rurais que necessitam dos serviços
de transporte coletivo regular.

Adoção de instrumentos legais (leis, decretos, portarias)


para a limitação de horários e locais de circulação de veícu-
los pesados, localização de áreas de estacionamento, de-
Transporte de carga terminação de horários para operação de carga e descarga
na via pública. Definição de rotas preferenciais e de vias de
uso proibido. Sinalização específica para veículos de carga
(orientação e restrição).

Constituição ou ajustes, dentro da estrutura da Adminis-


tração Municipal, de um órgão que coordene as políticas
Estruturação institucional de mobilidade urbana e a sua integração com as políticas
urbanísticas. Ações para a gestão metropolitana na mobili-
dade urbana.

Fonte: IEMA.

7.5. Programa de investimentos, menor, em conformidade com o cronograma


monitoramento e revisão do Plano constante do Plano.
de Mobilidade Urbana
Porém, não basta prever quais medidas e ações
7.5.1. Programa de investimentos e iden-
serão implantadas, sendo preciso também
tificação de fontes de financiamento
avaliar o volume de investimento necessário e
O Plano de Mobilidade Urbana traz um conjun- o prazo de implantação.
to de ações que o município identifica como
necessário e que deve ser implantado até o A implantação de uma rede de transporte
ano horizonte de planejamento ou por período que necessita de alto investimento pode ser

182
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

incompatível com a capacidade orçamentá- Normalmente, o grau de detalhamento das


ria da administração local. A estimativa dos propostas contidas nos Planos de Mobilidade
investimentos e do prazo necessários para a Urbana não é suficiente para a sua efetiva im-
implantação da infraestrutura de transporte plantação. As normas e diretrizes nele fixadas
público, o orçamento municipal e o histórico precisam ser desenvolvidas tanto no âmbito
de investimentos do município possibilitam a da regulamentação normativa (leis específicas
análise das ações previstas no Plano à luz da complementares, decretos regulamentadores,
capacidade de investimento da administração resoluções ou portarias), como no desenvolvi-
municipal, mostrando a factibilidade da sua mento dos projetos, estruturação de equipes
implantação. O risco para o Plano de Mobilida- próprias ou na contratação de obras e serviços
de Urbana é a identificação de um conjunto de necessários para a sua implementação.
obras que exija investimentos volumosos, fora
do alcance da administração, cuja dependên- Uma vez iniciada a implementação do Plano,
cia de financiamento na prática representa a fazem-se necessários estrutura e processos
transferência de responsabilidade de implanta- internos de acompanhamento permanente
ção para outra esfera de governo. e revisões periódicas. Estas podem ocorrer
continuamente, mas é conveniente estabelecer,
O município tem a possibilidade de contar com previamente, prazo para uma atualização mais
recursos federais e estaduais, além de emprés- ampla e estruturada do Plano de Mobilidade
timos. Pode, também, utilizar instrumentos Urbana, em periodicidade compatível com o ho-
de financiamento previstos no Estatuto da rizonte e com a complexidade das suas propos-
Cidade, como, por exemplo, a Operação Urbana tas. Nos termos da Política Nacional de Mobili-
Consorciada. Estes instrumentos permitem que dade Urbana, o prazo máximo é de dez anos.
sejam obtidos recursos para o investimento
nos eixos de transporte coletivo, ao mesmo Vale destacar que é fundamental que a
tempo em que estimulam o adensamento ao mobilização dos agentes sociais na fase de
longo destas infraestruturas. elaboração do Plano de Mobilidade Urbana
seja mantida, dentro das devidas proporções,
Além das fontes de financiamento para os ao longo da sua implementação e nas suas
projetos, o estabelecimento de cronograma revisões. Consequentemente, os processos par-
com prazos factíveis é fundamental. Existem ao ticipativos precisam ser estruturados também
menos três prazos que devem ser articulados, de forma continuada, com objetivo de manter a
referentes à implantação da infraestrutura, de- sustentação ao Plano na sociedade e de fiscali-
senvolvimento dos instrumentos de gestão da zar a sua condução pelo Poder Público.
mobilidade e o alcance das metas de redução
de emissões de poluentes, de divisão modal e Quanto à instituição de um processo perma-
de redução de vítimas. O cronograma permite nente de planejamento, o Plano de Mobilidade
o acompanhamento da implantação do Plano Urbana pode dispor de diretrizes sobre:
e está associado também ao controle social
sobre sua administração. sFTUBCFMFDJNFOUPEFBUPTOPSNBUJWPTRVFWJO-
culem os investimentos na infraestrutura e nos
7.5.2. Monitoramento, avaliação e re- serviços públicos às orientações do Plano;
visão do Plano de Mobilidade Urbana sSFBMJ[BÌËPEFQSPKFUPTCÆTJDPTFFYFDVUJWPTF
elaboração de outros estudos necessários;
O planejamento da mobilidade urbana, asso-
sGJYBÌËPEFVNBQFSJPEJDJEBEFQBSBB
ciado ao Plano Diretor, é um processo perma-
atualização do Plano;
nente que não se encerra com a elaboração do
sJOTUJUVJÌËPEFVNCBODPEFEBEPTQFSNBOFOUF
Plano de Mobilidade Urbana. Ao contrário, o
sobre a mobilidade urbana;
Plano deve ser o ponto de partida, se o municí-
sSFBMJ[BÌËPEFQSPDFTTPTQFSJÖEJDPTEF
pio não possui instrumentos nesse sentido, ou
consultas à sociedade;
a continuidade de uma dinâmica existente.
sEJSFUSJ[FTFNFJPTQBSBBBDFTTJCJMJEBEF
universal.

183
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

Dentre estas diretrizes, ganham destaque a e projeções que lhe garantam a confiabilidade e
construção e a manutenção de uma base de permitam estimar importantes informações.
dados sobre mobilidade urbana. Na elaboração
do Plano de Mobilidade Urbana serão apro- As informações obtidas constituirão uma
priadas informações quantitativas sobre as importante base de dados e de indicadores
variáveis importantes e representativas para o que serão utilizados de diversas maneiras pelo
conhecimento e diagnóstico da situação da mo- órgão gestor, durante o desenvolvimento e a
bilidade nos municípios. Apesar de ser previsível implementação do Plano especialmente para:
a dificuldade de obtenção de muitas informa-
ções de fontes primárias ou secundárias em sBWBMJBÌËPEBFGJDÆDJBEBTBÌÚFTJNQMFNFOUB-
muitos municípios, ou de dúvidas sobre a vera- das, quando confrontadas com seus objetivos;
cidade das disponíveis, a adoção de metodolo- sQMBOFKBNFOUPDPOUJOVBEPEBTQPMÑUJDBTEF
gias adequadas para coleta e tratamento destes mobilidade urbana, no contexto do desenvol-
dados permitirá realizar análises de consistência vimento dos projetos operacionais e funcio-
nais dos serviços de transporte coletivo e da
circulação viária.

As diretrizes para participação social no Plano de Mobilidade Urbana devem incluir:

sEFGJOJÌËPEBTGPSNBTEFQBSUJDJQBÌËPTPDJBMOBFMBCPSBÌËPEP1MBOPBVEJÎODJBTQÜ 
blicas, reuniões regionais com moradores, reuniões específicas com segmentos da
população (idosos, estudantes etc.) ou da sociedade (sindicatos, associações e outras
entidades representativas da sociedade civil);
sEFGJOJÌËPEFFTUSBUÍHJBTEFFOWPMWJNFOUPEPTSFQSFTFOUBOUFTEP1PEFS-FHJTMBUJWPOP 
processo de elaboração do Plano;
sEFTFOWPMWJNFOUPEFQSPDFTTPTEFDBQBDJUBÌËPEPTSFQSFTFOUBOUFTEPTEJWFSTPTTFH 
mentos da população envolvidos;
sEFGJOJÌËPEFNFDBOJTNPTEFQSFTUBÌËPEFDPOUBTQFSJÖEJDBTEPBOEBNFOUPEP1MBOP 
para a sociedade, na sua elaboração e na sua implementação;
sDPOTUJUVJÌËPEFPSHBOJTNPTFTQFDÑGJDPTEFQBSUJDJQBÌËPQPQVMBSQFSNBOFOUFOP 
município, como Conselhos de Transporte e Mobilidade, definindo suas competências,
abrangência de atuação e estrutura de funcionamento.

184
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

185
7 Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana

186
Estrutura e Conteúdo do Plano de Mobilidade Urbana 7

PROCESSO DE
CONSTRUÇÃO
DO PLANO DE
MOBILIDADE
URBANA

08
187
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

Este capítulo apresenta a metodologia passo longo do tempo. A aprovação da lei que institui
a passo para a construção do Plano de Mobili- o Plano contribui para a validação deste,
dade Urbana, desde as primeiras mobilizações liberando-o de eventuais descontinuidades
até as providências necessárias para sua im- decorrentes das sucessões políticas.
plementação e revisão periódica. São apresen-
tados também os principais elementos que 8.1. Participação social
compõem o Termo de Referência e roteiros por
A participação social se refere aos meios e
porte de cidade para a elaboração do Plano.
processos de informação e cooperação dos
cidadãos no planejamento, na definição de
O objetivo da construção do Plano de Mobilida-
prioridades, na avaliação e na fiscalização da
de Urbana é dispor de um instrumento efetivo
gestão pública e da execução das políticas de
que auxilie na melhoria do atual modelo de
governo. Trata-se de um instrumento demo-
mobilidade urbana no Brasil, na produção de
crático que estimula o exercício da cidadania
cidades ambientalmente sustentáveis, social-
participativa e tem como objetivo aumentar a
mente inclusivas e geridas da maneira mais
efetividade das políticas de governo e diminuir
democrática. O capítulo 8 visa estimular e
a ineficiência da administração pública. Através
orientar esse trabalho de construção do Plano,
de medidas de descentralização de poder, de
através de uma abordagem metodológica e
compartilhamento de responsabilidades, de
de recomendações de natureza prática. Cabe
criação e ampliação dos canais que favoreçam
ressaltar que a metodologia apresentada aqui
a transparência e a disponibilização de infor-
se aplica tanto à elaboração de Planos Munici-
mações, busca-se garantir que as políticas pú-
pais de Mobilidade Urbana como de Planos de
blicas empregadas atendam de fato às deman-
Mobilidade Urbana Regionais e Metropolitanos.
das prioritárias da sociedade, adequando-as às
necessidades de interesse público.
A participação social é tratada de forma des-
tacada neste capítulo pela sua importância em
O direito à participação popular e à gestão
conferir voz ativa aos cidadãos no processo de
democrática está assegurado pela Constituição
construção das políticas de desenvolvimento
Federal de 1988 e regulamentado em leis espe-
urbano e no estabelecimento das prioridades
cíficas, como, por exemplo, a Lei Orgânica da
de investimento, voltadas às necessidades de
Assistência Social (LOAS), o Estatuto da Criança
seus habitantes. Apesar de garantidas pela
e do Adolescente (ECA), o Estatuto da Cidade, e
Constituição Federal e regulamentadas pela
mais recentemente na própria Lei da Mobilida-
Lei da Mobilidade Urbana, a gestão democráti-
de Urbana. A gestão democrática do transporte
ca e a participação social, em geral, ainda são
nas cidades é imprescindível para a adequada
promovidas de forma incipiente pelo Poder
formulação de um Plano de Mobilidade Urba-
Público, o que pode ser verificado pelos poucos
na, sendo um instrumento da sociedade para
canais de comunicação existentes.
a promoção de mudanças na política desse
setor. A Lei da Mobilidade Urbana, ao instituir
Nas etapas para construção do Plano de Mobi-
a Política Nacional de Mobilidade Urbana, tem
lidade Urbana, apresenta-se uma metodologia
como um de seus objetivos “consolidar a gestão
passo a passo, desde as primeiras mobiliza-
democrática como instrumento e garantia da
ções até as providências necessárias para sua
construção contínua do aprimoramento da
implementação e revisão periódica. São apre-
mobilidade”, conforme o artigo 7º da Lei.
sentados também os principais elementos que
compõem o Termo de Referência para elabora-
Os princípios da gestão democrática e dos
ção do Plano e caracterizadas as condições e
processos de participação popular são aplicá-
os resultados esperados.
veis a qualquer nível de governo, mas preci-
sam, evidentemente, ser adequados à reali-
No final do capítulo aborda-se a instituição do
dade local, considerando as relações entre os
Plano de Mobilidade Urbana, tratando aspectos
agentes locais, a força e o grau de organização
relacionados ao seu caráter legal e democráti-
dos movimentos sociais. Devem ser adequa-
co, na busca de efetividade e permanência ao
dos também às limitações legais e a todos

188
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

os elementos sociais, culturais, econômicos e dos possíveis. Através desse processo inclusivo
políticos de cada cidade. e democrático, a tendência é de que um Plano
sofra menor resistência no momento de sua
O planejamento da mobilidade deve ser reali- implementação, e o seu legado possa melhor
zado com a máxima participação da sociedade transcender as administrações municipais.
na elaboração dos planos e projetos, para
garantir legitimação e sustentação política na A participação social requer um elevado envol-
sua implementação e continuidade. Vale desta- vimento político e uma coordenação compro-
car que é fundamental que a mobilização dos metida e com autoridade para a gestão dessa
agentes sociais na fase de elaboração do Plano parte do processo de construção do Plano. A
de Mobilidade Urbana seja mantida, dentro das grande vantagem de assumir esse compro-
devidas proporções, ao longo da sua imple- misso com a sociedade é o fortalecimento
mentação e nas suas revisões. Consequente- simultâneo, tanto por parte dos cidadãos como
mente, os processos participativos precisam da Administração Pública, da capacidade de
ser estruturados também de forma continuada, entendimento sobre as necessidades, expec-
com objetivo de manter a sustentação ao Plano tativas e limitações de cada parte. De outro
na sociedade e de fiscalizar a sua condução lado, também fortalecem as próprias relações
pelo Poder Público. interinstitucionais por integrarem diferentes
estruturas de gestão no processo de discussão
De forma geral, a importância do processo de um plano ou projeto.
participativo é reconhecida pelos governos
locais. Mas, na prática, estes nem sempre de- Adotar uma política de participação social não
monstram disposição em investir recursos para deve ser entendido como um evento pontual,
fortalecer a gestão democrática. Os métodos e sim como um processo contínuo e desafia-
não participativos são mais rápidos e fáceis de dor que requer um planejamento cuidadoso e
administrar, pois geram menores expectativas atento aos detalhes. Os grupos sociais devem
na população, além de custarem menos. Se, por ser estimulados a atuar e cooperar, uma vez
um lado, os métodos participativos são vistos que não existe a cultura de participação social
pelos governos como uma barreira, pois levam nas iniciativas promovidas pelo Poder Público.
tempo e geram conflitos, por outro, tendem a O governo deve assegurar que as demandas
conferir maior aceitação pela comunidade uma da população serão consideradas, e que não se
vez que são concebidos de forma transparente trata apenas de uma formalidade para cumprir
e considerando o maior número de interessa- os requisitos legais aos quais estão submetidas
as Administrações Públicas.
Figura 68 – Formas de participação social.

CONSULTAR COLABORAR

INFORMAR EMPODERAR

ENVOLVER

Fonte: EMBARQ Brasil.

189
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

Um dos principais objetivos da participação A metodologia de mapeamento envolve a


social é equilibrar os interesses e influências identificação dos envolvidos e a preparação de
dos atores sociais envolvidos no processo de um plano de gerenciamento e de comunicação
discussão pública. O Poder Público deve pro- que crie e amplie os canais de interlocução
mover sua capacidade reguladora do desen- entre o setor público e a sociedade. É necessá-
volvimento urbano em defesa dos interesses rio garantir o fluxo correto de informações que
públicos, em conjunto com os setores políticos contemplem os interesses específicos de cada
e econômicos. É necessário gerenciar as in- grupo identificado. Dessa forma, o mapea-
fluências dos grupos mais poderosos e dimi- mento irá ajudar a Administração Municipal a
nuir as desigualdades de classe e territoriais ter uma boa representação da realidade e da
dentro do planejamento urbano. Uma vez que complexidade social a se intervir.
são os usuários de transporte público e não
motorizado os que mais sentem os efeitos das O primeiro passo para o mapeamento dos
políticas de mobilidade, deve-se fortalecer a atores é a elaboração de um inventário com
organização das comunidades locais e dar visi- todos os principais grupos sociais envolvidos.
bilidade às demandas das minorias sociais, que É preciso definir o perfil dos atores através
têm enormes dificuldades em levar suas opini- das relações estabelecidas entre os grupos, e
ões aos formuladores de políticas públicas. deles com a Administração Pública. Posterior-
mente, é necessário identificar os principais
8.1.1. Mapeamento dos atores sociais interesses de cada grupo em relação ao Plano,
respondendo questões do tipo “quais são os
Planejar o envolvimento dos atores sociais e as
grupos mais impactados?”, “quais são os mais
melhores estratégias de comunicação a serem
beneficiados?”, “quais grupos não são escuta-
adotadas requer a realização de um mapea-
dos?”, “quais são favoráveis e quais se opõem
mento prévio dos agentes que tenham inte-
às propostas, e por quê?”.
resse ou serão impactados de alguma forma
pelo Plano de Mobilidade Urbana. Entendem-se
Após o levantamento inicial, os atores são
como atores sociais os indivíduos, as agremia-
classificados conforme seus níveis de interesse
ções ou os grupos organizados de cidadãos e
e poder de influência em relação às propostas
entidades (associações, sindicatos, movimen-
do Plano de Mobilidade Urbana através de uma
tos sociais, organizações comunitárias, ONGs,
análise qualitativa. Isso permite hierarquizar o
movimentos sociais) e as instituições (agências
poder de influência que cada grupo tem de li-
governamentais ou estatais, vereadores, em-
mitar ou facilitar as ações do governo. O produ-
presas, operadores do sistema de transporte).
to deste mapeamento é uma matriz de influên-
Incluem-se todos aqueles que estejam de al-
cia-interesse, conforme mostra o Quadro 8, que
guma forma envolvidos, que tenham interesse,
setoriza os grupos e sugere como proceder com
que exerçam influência sobre os objetivos e
cada conjunto de atores sociais envolvidos.
resultados do Plano, direta ou indiretamente,
ou então que possam ser afetados de forma
positiva ou negativa pela sua execução.

190
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

Quadro 8 – Matriz de influência e interesses.

ALTA INFLUÊNCIA BAIXA INFLUÊNCIA

Grupo de atores importante que


ALTO INTERESSE Grupo de atores crítico
necessita de apoio

Grupo de atores para mediação e deci- Grupo de atores menos


BAIXO INTERESSE
são (formadores de opinião) prioritário

Fonte: adaptado de Buhrmann et al. (2011) e King et al. (2013a).

É preciso ter claro que diferentes interesses e Realizado o mapeamento dos atores sociais,
prioridades geram diferentes reações frente às as consultas públicas devem ser organizadas
políticas de intervenção do governo. Confor- de acordo com um planejamento de ativida-
me a classificação em relação a essa matriz, des específicas para cada um dos grupos, que
alteram-se as estratégias de gestão dos grupos incluem: (i) definição do roteiro básico; (ii) esta-
elencados. Os grupos de baixa influência e in- belecimento de cronograma de eventos; (iii) es-
teresse, por exemplo, são os menos prioritários, timativa dos recursos necessários, incluindo a
porém devem ser monitorados, uma vez que definição dos locais; (iv) agendamento, convite
existe sempre a possibilidade de uma troca e divulgação; (v) execução das consultas e (vi)
de classificação. Os grupos de baixo interesse sistematização das observações colhidas.
porém alta influência devem ser envolvidos
de alguma maneira, visto que podem ser úteis Os processos de discussão pública devem ter
para possíveis parcerias e para a formulação uma dinâmica que atenda às particularidades
da opinião pública. Os grupos de alto interesse locais de cada grupo ou comunidade. As partes
porém baixa influência, tais como os usuários e envolvidas devem ser abordadas e convidadas
comunidades impactadas, devem ser cons- individualmente, sendo que diferentes forma-
tantemente informados, necessitando suporte tos e métodos participativos podem ser usados
e acompanhamento para que tenham suas conforme as especificidades de cada de grupo
opiniões consideradas. E por fim, o grupo mais social. Todos devem conhecer de forma clara
crítico, com alta influência e alto interesse, os objetivos da proposta, as regras, a forma
deve ser aproveitado por sua capacidade de de organização, quem são as demais partes
interação com o projeto, mas precisa ter seu envolvidas no processo, quais os resultados
poder de decisão gerido, sob o risco de induzir esperados, além da agenda, dos prazos e dos
o processo conforme seus interesses próprios. locais das atividades.

191
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

Figura 69 – Dinâmica de grupo em Juiz de Fora/MG.

Fonte: Mariana Gil/EMBARQ Brasil.

O agendamento e a divulgação das atividades O grau de envolvimento pode ser mais passivo,
devem ser feitos de forma mais ampla possível. desde a transmissão e recepção de informação
As atividades precisam ser convidativas, reali- até os processos mais ativos de deliberações e
zadas em locais de fácil acesso e em horários gestão compartilhadas. Durante as etapas de
que maximizem a presença dos interessados. desenvolvimento do Plano de Mobilidade Urba-
As pautas devem ser apresentadas previamen- na, estes distintos métodos podem ser adota-
te de forma clara e coerente. Diversas mídias, dos simultaneamente ou especificamente para
linguagens e métodos de publicização de- determinados grupos, conforme o roteiro ado-
vem ser adotados: propagandas, campanhas, tado por cada município. De qualquer modo, o
anúncios, slogan, divulgados através jornais, desenvolvimento do processo de participação
rádio, televisão, redes sociais. É importante social requer um equilíbrio entre a vontade de
que os mediadores dessas atividades sejam ampliar a gestão democrática e entre os custos
pessoas com credibilidade junto à popula- e a lentidão associados a este processo.
ção, com grande neutralidade e idoneidade,
além de terem facilidade de comunicação. Os níveis de participação variam conforme o
grau de envolvimento dos atores e a sua capa-
8.1.2. Conselho, audiência e cidade de influenciar a tomada de decisão. O
consultas públicas primeiro nível representa a ausência de parti-
cipação popular, quando o Poder Público toma
Há diversas formas de promover a participação
todas as decisões de forma unilateral sem ne-
social e os métodos utilizados variam bastante.
nhuma forma de interlocução com a população.

192
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

O segundo nível é de caráter informativo e Para que a participação social possa ser efeti-
unidirecional, ou seja, as autoridades divulgam vamente exercida, é preciso que os cidadãos
e disponibilizam as informações para a popu- acessem livremente informações públicas e
lação, através de portais de transparência, de que a Administração Municipal apresente a
páginas oficiais das instituições, de publica- temática de forma simples, compreensível
ções, de campanhas educacionais e publicitá- e sistematizada, a partir de um conjunto de
rias. No caso do Plano de Mobilidade Urbana, é informações organizadas em mapas temáti-
essencial o desenvolvimento de uma política de cos, fotografias, textos explicativos e outros
comunicação para manter os cidadãos informa- recursos, favorecendo a leitura da cidade. É
dos sobre os processos de participação através necessário que a população conheça e entenda
de comunicados e relatórios, para divulgar os mecanismos de gestão para qualificar a par-
amplamente as reuniões, os objetivos e resul- ticipação popular e influenciar positivamente
tados pretendidos com a participação social, e nas decisões.
para promover uma participação mais ativa nos
níveis mais avançados da gestão democrática. Além disso, o controle social pode ser exercido
por canais não institucionalizados de parti-
O terceiro nível de participação tem caráter cipação, seja pela população em geral, que
mais consultivo e pode ser descrito como um acompanha os orçamentos e políticas públicas,
processo bidirecional. A informação é trans- seja através dos diversos fóruns existentes
mitida para a população, que, por sua vez, en- ou movimentos sociais. Estas organizações
contra espaços para manifestar suas opiniões. representam posicionamentos de interesse
São exemplos deste processo as ouvidorias das coletivo, formulam propostas e as defendem
instituições, os fóruns de discussão (presen- em espaços políticos, além de exercerem
ciais ou virtuais), os workshops, as pesquisas pressão, denunciando ou acionando os órgãos
de opinião, os grupos focais, as palestras, as de Justiça. O fato de não ser promovido ou
audiências e consultas públicas, entre outros. mediado pelo Poder Público não deslegitima
estes grupos no que se refere ao processo de
E, por último, o nível mais aprofundado e com- participação social.
plexo de discussão, a participação ativa, que se
caracteriza por ser um processo multidirecional A metodologia de participação envolve uma sé-
e colaborativo. Os principais exemplos são rie de definições sobre a dimensão e o formato
os conselhos de políticas públicas, os órgãos dos espaços de diálogo. Independentemente de
colegiados, os grupos de trabalhos, as confe- serem consultivos ou deliberativos, os espaços
rências, entre outros. podem ter distintas configurações a respeito
de sua temática, objeto de intervenção, recorte
As conferências, os conselhos de políticas territorial e social. Quanto ao assunto, podem
públicas e os orçamentos participativos são ser de caráter mais geral sobre o Plano de
instrumentos garantidos por lei, portanto Mobilidade Urbana como um todo, por exemplo,
não dependem de vontade política para sua ou enfocar temas específicos do Plano. Assim,
existência. Alguns são de abrangência nacional uma audiência pode tratar especificamente dos
e outros têm atuação restrita a estados e mu- transportes públicos, ou modais não motori-
nicípios. São importantes espaços de diálogo zados, ou dos aspectos ambientais, habita-
e deliberação direta e condições obrigatórias cionais etc. Podem também tratar de alguma
para que os estados e municípios recebam intervenção pontual de maior proporção como
recursos de instâncias governamentais. a implantação de uma linha de metrô ou um
corredor de ônibus estruturante, por exemplo.

193
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

Figura 70 – Audiências públicas como espaços de participação social.

Fonte: EMBARQ Brasil.

Segundo o recorte territorial, os espaços de de transporte público, taxistas, operadores, os


participação podem ser trabalhados por toda movimentos de ciclistas e pedestres, estudan-
a população da cidade, ou delimitados por tes, indivíduos com necessidades especiais
regiões, bairros ou até mesmo uma comunida- etc. – com o objetivo de identificar como cada
de específica impactada. E por fim, quando se grupo reage às distintas mudanças. O formato
trata de recorte social, as audiências podem de participação pode ser alterado e até mesmo
ser abertas para toda a população ou divididas definido junto aos participantes, conforme
por grupos de interesse específicos – usuários cada grupo ou temática de discussão.

As diretrizes para participação social no Plano de Mobilidade Urbana devem incluir:

sEFGJOJÌËPEBTGPSNBTEFQBSUJDJQBÌËPTPDJBMOBFMBCPSBÌËPEP1MBOPBVEJÎODJBTQÜCMJDBT 
reuniões regionais com moradores, reuniões específicas com segmentos da população
(idosos, estudantes etc.) ou da sociedade (sindicatos, associações e outras entidades
representativas da sociedade civil);
sEFGJOJÌËPEFFTUSBUÍHJBTEFFOWPMWJNFOUPEPTSFQSFTFOUBOUFTEP1PEFS-FHJTMBUJWPOP 
processo de elaboração do Plano;
sEFTFOWPMWJNFOUPEFQSPDFTTPTEFDBQBDJUBÌËPEPTSFQSFTFOUBOUFTEPTEJWFSTPTTFHNFO
tos da população envolvidos;
sEFGJOJÌËPEFNFDBOJTNPTEFQSFTUBÌËPEFDPOUBTQFSJÖEJDBTEPBOEBNFOUPEP1MBOP 
para a sociedade, na sua elaboração e na sua implementação;
sDPOTUJUVJÌËPEFPSHBOJTNPTFTQFDÑGJDPTEFQBSUJDJQBÌËPQPQVMBSQFSNBOFOUFOPNVOJ 
cípio, como Conselhos de Transporte e Mobilidade, definindo suas competências,
abrangência de atuação e estrutura de funcionamento.

194
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

Os debates do Plano de Mobilidade Urbana lação do desempenho de redes de transporte


também devem contemplar temas transver- com base em indicadores de desempenho
sais, como a questão ambiental, revitalização econômico e social.
urbana, desenvolvimento econômico, inclusão
social, e outros, envolvendo conselhos locais, Na abordagem social, cabe a utilização de mé-
universidades, entidades não governamentais todos que permitam, a partir da discussão com
e outros grupos com interesse específico em a sociedade, uma compreensão do que as pes-
cada um deles. soas, entidades e setores econômicos pensam
das condições de mobilidade no município e
8.2. Etapas para construção do Plano da receptividade e aprovação das medidas que
de Mobilidade Urbana venham a ser definidas. Esta abordagem tam-
bém pode produzir indicadores qualitativos e
A elaboração de um Plano de Mobilidade Urba-
quantitativos que expressem algumas variáveis
na implica a tomada de um conjunto de deci-
importantes à análise.
sões e a necessidade de seguir uma sequência
de atividades para produzir uma proposta que
É importante que as reuniões, audiências e ou-
atenda as expectativas de todos. De qualquer
tros eventos de discussão pública ocorram com
maneira, criar esse Plano exige um processo
base em informações sistematizadas sobre a
dinâmico e flexível que, mesmo depois de con-
infraestrutura, demanda e oferta de serviços,
cluído, precisa ser revisto periodicamente, em
obtidas pela aplicação das metodologias técni-
resposta às mudanças de contextos e atitudes
cas, permitindo a ampliação da capacidade de
dos envolvidos.
interlocução e de moderação das discussões.
Em princípios gerais, o Caderno de Referência
Para construir um Plano de Mobilidade Urba-
PlanMob parte da premissa de que há duas
na, várias etapas precisam ser seguidas pela
abordagens que devem coexistir e se combinar
Administração Pública em consonância com os
ao longo da produção do Plano de Mobilidade
diversos segmentos envolvidos com as ques-
Urbana: uma técnica e outra da discussão social.
tões da mobilidade. Momentos importantes
neste processo poderão valorizar esse tema: a
A abordagem técnica utiliza as metodologias
decisão de fazer o Plano, a obtenção dos recur-
clássicas de planejamento de transporte, fun-
sos necessários, o envolvimento dos diferentes
damentadas no levantamento de dados quanti-
grupos sociais, a construção da visão da cidade
tativos, no emprego de meios de representação
e sua mobilidade urbana, a definição dos
dos atributos e relações espaciais (mapas,
objetivos e metas, a escolha dos responsáveis
desenhos, esquemas ilustrativos), no uso de
pela sua elaboração, a formulação do Termo de
métodos de previsão de demanda (modelos de
Referência, a institucionalização e a implemen-
transporte) e no uso de instrumentos de simu-
tação do Plano.

195
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

Figura 71 – Passo a passo e respectivas atividades para um Plano de


Mobilidade Urbana.

1.1 Mobilização Inicial


1.2 Análises preliminares
7.1 Avaliação das pro-
1.3 Tomada de decisão
postas e ações
1.4 Mapeamento dos atores
7.2 Revisão e atualiza
1.5 Comunicação e participação social
ção periódicas
1.6 Estruturas de gestão e participação

7 1
Avaliação Preparação
e revisão

6.1 Cooperação para


implementação
6.2 Detalhamento 2.1 Construção da visão
6 2 2.2 Objetivos e área de
e implantação de
estudos e projetos
Implementação PLANO DE Definição
do escopo intervenção
6.3 Monitoramento MOBILIDADE 2.3 Metas, prioridades
das ações URBANA e horizontes
Passo a passo

5 3
Procedimentos
Aprovação gerenciais

4
Elaboração 3.1 Cooperação para
5.1 Verificação da qualidade
elaboração
5.2 Audiência pública final
3.2 Termo de referência
5.3 Instituição do plano
e licitação
4.1 Caracterização e diagnóstico
3.3 Plano de trabalho
4.2 Cenários e avaliação de
e cronograma
impactos
4.3 Formulação e avaliação de
propostas
4.4 Programa de ação
4.5 Indicadores de desempenho
4.6 Consolidação do plano

Fonte: EMBARQ Brasil.

196
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

8.2.1. Definição da metodologia É necessário entender que não se apresentam


soluções prontas, mas propõe-se uma sequên-
Diferentes metodologias vêm sendo sugeridas
cia metodológica de atividades institucionais e
por instituições brasileiras e estrangeiras –
técnicas a serem realizadas pela Administração
Brasil (2007), Buhrmann et al. (2011), IMTT (2011,
Municipal, com acompanhamento e participa-
2012), King et al. (2013a, 2013b, 2013c), EMBARQ
ção social. Apesar desta estrutura passo a pas-
Brasil (2014) – que, através da conceituação e
so não ser necessariamente linear – algumas
da definição de etapas e atividades, buscam
atividades podem ocorrer de forma simultânea
estabelecer um roteiro de trabalho que facilite o
–, é recomendável que se realizem todas as
processo para a construção e implementação de
etapas e atividades.
um Plano de Mobilidade Urbana. Vistas no seu
conjunto, as metodologias refletem as técnicas
É importante ter claro que o objetivo maior
e estratégias de coleta de dados, de análise, de
do Plano deve estar centrado na mobilidade
proposição de soluções, de discussão social e de
das pessoas e não de veículos, e que todas as
consolidação dos produtos. No capítulo 7 estão
medidas propostas requerem adaptações aos
descritos os conteúdos mínimos que integram
contextos vigentes.
um Plano de Mobilidade Urbana.

A seguir são descritos os passos e as


A metodologia proposta para a construção do
atividades para a construção do Plano
Plano de Mobilidade Urbana buscou abranger
de Mobilidade Urbana.
todas as etapas do processo a serem desenvol-
vidas através de um roteiro de ações.
Prevê a organização do trabalho desde o seu
1 PREPARAÇÃO
ponto inicial, quando o prefeito ou gestor Mobilizar e preparar bem
público toma as primeiras medidas e define
em que condições este Plano será construído, O passo inicial trata das primeiras medidas do
até as providências para a sua revisão depois processo de construção do Plano de Mobilida-
de implementado. O ciclo completo possibilita de Urbana. Sua importância está na constitui-
uma visão dos recursos e esforços necessários, ção de uma base política e organizativa que vai
tanto políticos quanto técnicos e financeiros, identificar e preparar os recursos necessários
que vão além da formulação de um Termo de para o bom andamento dos trabalhos, orga-
Referência e contratação de uma empresa de nizar as equipes do município e as externas,
consultoria para elaborar o Plano. Ou seja, um planejar e concretizar as atividades. Uma boa
processo robusto dará mais chance de melho- preparação influencia diretamente no potencial
res resultados para a cidade e sua população. da elaboração de um plano bem-sucedido.

A metodologia proposta para a construção do Esta etapa representa a consolidação de


Plano de Mobilidade Urbana, apresentada sob todo o processo de construção do Plano a ser
a forma de um passo a passo, consiste em um desenvolvido, desde a mobilização inicial até
conjunto de atividades que precisam ser plane- a constituição das estruturas institucionais,
jadas, providenciadas e organizadas. passando pela revisão de todos os planos e po-
Este roteiro pretende ajudar gestores e de- líticas existentes, pela análise do atual sistema
mais interessados em desenvolver planos de de transportes e identificação dos problemas e
mobilidade e pode ser aplicado a diferentes oportunidades da mobilidade urbana. Destaca-
contextos. se o importante papel dos planos de comuni-
cação e participação social – a serem planeja-
8.2.2. Passo a passo dos neste primeiro passo, mas desenvolvido
O roteiro apresentado compreende sete passos ao longo de todos os demais – como forma de
principais e suas respectivas atividades a se- minimizar possíveis conflitos e conferir maior
rem conduzidos pelo Poder Público. legitimidade ao Plano de Mobilidade Urbana.

197
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

Atividade 1.1 – Mobilização inicial disponíveis, tais como fontes de financiamento,


parcerias, convênios, contratações etc.
O ponto de partida deve ser dado pela Admi-
nistração Municipal ao assumir a mobilização
Em resumo, esta etapa tem como objetivo ca-
inicial no aspecto político, técnico e financeiro
racterizar uma expectativa do que será o Plano
para a construção do Plano de Mobilidade Ur-
de Mobilidade Urbana e organizar previamente
bana. Para um projeto estratégico desse porte,
as fontes de informação e consulta. Resulta em
é necessário atribuir, desde o começo dos
um documento que sistematiza as oportunida-
trabalhos, responsabilidades (quem faz?), com-
des e os problemas relacionados à elaboração
petências (o que fazer?) e prazos (em quanto
do Plano, possibilitando a tomada de decisão e
tempo se faz?), de forma clara e objetiva.
definição de diretrizes para o processo.

É preciso designar um pequeno grupo de


Atividade 1.3 – Tomada de decisão
trabalho, formado por dirigentes, assessores
e técnicos atuantes na gestão política, de A construção do Plano de Mobilidade Urbana
comunicação, planejamento territorial e da requer vontade política e comprometimento
mobilidade urbana, para tomar as primeiras técnico e financeiro local para vencer as barrei-
providências. Cabe a este grupo obter infor- ras que historicamente dificultam mudanças
mações e elaborar análises preliminares, bem estruturais nas cidades. A direção firme e o en-
como gerenciar as atividades iniciais até que o volvimento político para equacionar os entraves
processo de construção do Plano esteja estru- que surgem ao longo do trabalho são perce-
turado e consolidado. bidos pelos participantes e as comunidades e
respaldam o processo e o Plano resultante. Por-
Atividade 1.2 – Análises preliminares tanto, para a realização do Plano, é importante
a tomada de decisão do prefeito municipal.
O grupo de trabalho tem como atribuição inicial
produzir uma apreciação geral das característi-
O engajamento do prefeito traduz o reconheci-
cas e dos problemas de mobilidade do muni-
mento da necessidade de tratar das questões
cípio, elaborando um pré-diagnóstico. Neste
de mobilidade para melhorar a qualidade de
processo, são identificados os modos de trans-
vida nas cidades, afirma o valor do Plano de
porte e as características espaciais relevantes
Mobilidade Urbana neste processo, assegura
(bairros, regiões, corredores viários etc.), que
os recursos para sua elaboração, oportuniza a
devem ter uma avaliação pormenorizada, assim
democratização do debate e cobra resultados.
como são identificadas as fontes de dados
É importante também comprometer a Admi-
secundárias disponíveis. Também é realizada
nistração Pública para garantir a utilização do
uma pré-avaliação dos aspectos institucionais
Plano como instrumento de desenvolvimento
e legais associados ao tema. É preciso identifi-
urbano, implementando a política de mobilida-
car planos, projetos e legislação existentes no
de urbana por ele proposta.
âmbito local, regional e nacional, visando com-
patibilizar ações e minimizar possíveis conflitos
A tomada de decisão do gestor deve esta-
com outros municípios que exercem influência
belecer algumas diretrizes preliminares em
na mobilidade de cada cidade.
relação a alguns assuntos. Prazos, abrangência,
alocação de recursos financeiros e técnicos,
Compõe ainda esta atividade estimar os
formação de estruturas para o desenvolvimen-
recursos orçamentários, humanos e materiais
to dos trabalhos e grau de participação dos di-
necessários para o desenvolvimento do Plano.
ferentes atores relacionados à mobilidade são
É importante apontar as possibilidades de
decisões iniciais que nortearão os trabalhos.
solução quando estes requisitos não estiverem

198
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

Atividade 1.4 – Mapeamento dos atores A gestão democrática dialoga diretamente com
o plano de comunicação, cujas ações informam
O mapeamento dos atores da mobilidade
a população, divulgam as atividades de forma
urbana é uma atividade de grande importância
sistematizada e de fácil entendimento, am-
para o processo de construção do Plano de
pliam os canais de interlocução e promovem a
Mobilidade Urbana pelo caráter permanente
participação mais ativa. Além de orientar a so-
dado à participação da sociedade, desde a
ciedade sobre as possibilidades e as dificulda-
preparação até a implementação e a revisão do
des enfrentadas pelo município, o Plano pode
Plano. Na perspectiva de ampliação da gestão
promover campanhas educativas, voltadas para
democrática e da participação social, é preciso
diferentes temas e públicos.
contar com uma abordagem participativa e
transparente, que considere a opinião dos dife-
Deve haver uma preocupação em sintonizar o
rentes cidadãos e entidades relacionados e/ou
plano de comunicação e participação social
impactados pelo Plano.
com a elaboração do Plano de Mobilidade Ur-
bana (passo 4), considerando a transversalida-
A atividade consiste no levantamento dos
de entre as atividades. As diferentes etapas da
diferentes tipos de atores e grupos envolvidos
elaboração devem ser apresentadas e debati-
com a mobilidade e no seu agrupamento em
das pelos atores sociais e população em geral,
diferentes categorias, de acordo com a iden-
com previsão, além da Audiência Pública final,
tificação de seus interesses e influências nos
de uma série de eventos e encontros durante
processos urbanos. O resultado deste trabalho
os trabalhos.
é uma matriz que reflete a maior ou menor
importância e pressão dos grupos para ajudar
Atividade 1.6 – Estruturas de gestão e
no planejamento da comunicação e participa-
participação
ção social. O levantamento é feito pela área de
mobilidade urbana da Prefeitura, em parceria O processo de elaboração, implementação e
com o pessoal das áreas de comunicação e revisão do Plano de Mobilidade Urbana requer
relacionamento com a comunidade, podendo estruturas organizacionais políticas e técnicas
contar com o aporte de outros interessados. para a gestão institucional, operacional e da
participação cidadã, além dos demais canais e
Atividade 1.5 – Comunicação e participação instâncias de divulgação e apreciação das suas
social etapas, conforme proposto pelo projeto de
comunicação.
Uma ampla participação social atribui legitimi-
dade ao Plano de Mobilidade Urbana através
Estas estruturas, com composição e atribuições
da descentralização da discussão e do apoio
distintas, conforme sugerido no Quadro 9, dão
na tomada de decisão, conferindo transparên-
importância, agilidade, transparência e os atri-
cia ao processo de planejamento da mobili-
butos necessários para o desenvolvimento dos
dade nas cidades. Sendo assim, é necessário
passos seguintes. A composição das comissões
planejar o envolvimento dos atores sociais e
deve ser adequada às necessidades e caracte-
as melhores estratégias de solução para os
rísticas de cada município, podendo incorporar
problemas e conflitos que possam existir entre
diversas secretarias. Convém que cada comis-
eles. É preciso designar uma equipe específica
são tenha um coordenador para encaminhar os
para esta atividade, composta por profissionais
trabalhos e atribuições e que os coordenadores
das áreas de transporte, comunicação e de
técnicos e de acompanhamento integrem a
relacionamento com a comunidade.
Comissão Executiva.

199
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

Quadro 9 – Estruturas de gestão e acompanhamento.

ESTRUTURA COMPOSIÇÃO ATRIBUIÇÕES

Realizar a coordenação política do


Plano de Mobilidade Urbana. Validar
Prefeito, secretários das áreas de
o processo, os estudos e os resul-
transporte, urbanismo, meio ambiente,
Comissão tados desta ou outras instâncias.
comunicação, desenvolvimento econô-
Executiva Providenciar as condições para o de-
mico e social, representante da Câmara
senvolvimento do Plano e promover
Municipal.
a participação de parceiros, técnicos
e atores.

Preparar o Termo de Referência.


Técnicos municipais das áreas de
Realizar o gerenciamento e o acom-
transporte, urbanismo, meio ambiente,
Comissão Técnica panhamento técnico e financeiro dos
comunicação, desenvolvimento econô-
trabalhos de elaboração e imple-
mico e social.
mentação do Plano.

Representantes dos parceiros (órgãos Acompanhar o desenvolvimento do


Comissão de externos, legislativo) e grupos sociais Plano no atendimento e na conci-
Acompanhamento mais importantes identificados no liação de visões e interesses dos
mapeamento. diferentes grupos sociais.

Fonte: adaptado de IMTT (2011).

dos atores sociais. A resposta à pergunta “que


2 DEFINIÇÃO DO ESCOPO tipo de cidade queremos para todos?” ajuda
Focar, organizar e viabilizar
a definir os objetivos a serem alcançados, a
previsão de validação, os estudos, as propostas
O segundo passo aborda as atividades refe- e ações de todo o planejamento e implementa-
rentes à definição do escopo e objetivos do ção do Plano.
Plano. É fundamental conhecer as expectativas
da população sobre o futuro da cidade para A construção da visão comum da cidade de-
orientar a definição dos objetivos a serem manda análises de outras estratégias adotadas
buscados pelo Poder Público. Para se definir a para o município ou região nos âmbitos do uso
visão de município em relação à mobilidade, é do solo, economia, meio ambiente, sustenta-
de extrema importância a consulta à sociedade bilidade, saúde, educação etc. Esta atividade
e a previsão de espaços de participação. confere maior identidade e pertencimento dos
envolvidos com o planejamento de sua cidade.
A partir da construção da visão de cidade, são
definidos os objetivos e a área de intervenção Acordar a visão da cidade é tarefa para um
do Plano de Mobilidade Urbana e, com base grupo, composto por pessoas representativas
nas definições, formulam-se as estratégias de diferentes setores da cidade e região, que
para alcançar estes objetivos, as metas e as possam trazer à discussão uma multiplicidade
prioridades para que a implantação do Plano de leituras e conhecimentos. O grupo pode ser
se efetive, com ações previstas para curto, formado pelo conjunto das estruturas pro-
médio e longo prazos. postas na atividade 1.6 ou definido no projeto
de participação social. A construção da visão,
Atividade 2.1 – Construção da visão conduzida por um facilitador, identifica e agru-
pa as potencialidades, tendências, problemas
A visão da cidade é elemento central na elabo-
e deficiências, e consolida a visão da cidade e
ração do Plano de Mobilidade Urbana porque
como dela se desdobra o transporte e a mobili-
sintetiza o futuro desejado pela população,
dade urbana.
resultante do consenso entre as expectativas

200
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

Atividade 2.2 – Objetivos e área de interveção metas mensuráveis e eficazes e o estabeleci-


mento de prioridades e horizontes de imple-
A definição dos objetivos e da área de interven-
mentação de curto, médio e longo prazos. A
ção do Plano de Mobilidade Urbana são desdo-
partir da avaliação da realidade e das expec-
bramentos necessários para se alcançar a visão
tativas políticas, técnicas, socioeconômicas e
estabelecida para a cidade. Considerando o pré-
financeiras dos municípios, as metas e prio-
diagnóstico já realizado, os objetivos traduzem
ridades ajudarão a monitorar o progresso da
o que se pretende alcançar através do Plano,
implementação do Plano e observar se estão
assim como delimitam a sua abrangência.
sendo alcançados os objetivos.

Os objetivos devem ser explícitos, apontando


As metas são definidas pela sua possibilidade
as questões a abordar e o nível de detalhamen-
de monitorar as ações do Plano e seus resulta-
to que se pretende obter, relacionando com
dos ao longo do tempo, segundo regulamentos,
as melhorias previstas, mensuráveis em nível
normas e leis em vigor. A escolha das metas
social, ambiental ou econômico. Devem indicar
deve ter em conta uma análise dos recursos e
o que deve ser alcançado e quando, se haverá
conhecimentos disponíveis e o cuidado em não
redução, aumento ou manutenção de determi-
eleger algo que dificilmente possa ser cumprido.
nado aspecto.
As metas serão avaliadas por indicadores de
desempenho, apresentados na atividade 4.5 e no
A área de intervenção do Plano deve considerar a
item 7.2 do capítulo 7.
delimitação geográfica, as características territo-
riais, os limites urbanos e rurais, as centralidades,
Não é possível viabilizar metas para todos os
as áreas de expansão e as relações da mobili-
temas do Plano de Mobilidade Urbana simulta-
dade além de suas fronteiras. A abrangência é
neamente. É preciso ordená-las conforme sua
estabelecida, ainda, de acordo com as diferentes
importância e sua preferência, consensuadas
estruturas urbanas, a hierarquia viária, o serviço
entre os atores. A priorização de metas é pro-
de transporte e as infraestruturas, relacionados
duto da discussão e da avaliação do interesse e
aos deslocamentos de pessoas e cargas.
dos recursos disponíveis para implantá-las, e a
estimativa de tempo para viabilizá-las ajuda a
Atividade 2.3 – Metas, prioridades e
definir o horizonte temporal das ações.
horizontes

Um dos requisitos para o desenvolvimento do


Plano de Mobilidade Urbana é a definição de

Figura 72 – Definição de metas para o Plano de Mobilidade Urbana de Joinville/SC.

Fonte: EMBARQ Brasil.

201
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

A Lei da Mobilidade Urbana estabelece que o pesquisas, convém que elabore internamente
Plano, além de integrado e compatível com o o seu Plano de Mobilidade Urbana. Realizado
Plano Diretor, seja revisto a cada dez anos. Esta com recursos técnicos próprios ou terceiriza-
determinação induz a que o processo de pla- dos, o Plano precisa de um Termo de Refe-
nejamento de cada município compatibilize os rência e de encaminhamento para questões
cronogramas dos planos que tratam do desen- gerenciais relacionadas ao planejamento e ao
volvimento urbano e da mobilidade, integrando cronograma de trabalho, aos recursos huma-
as propostas, a implementação das ações, o nos e materiais para sua elaboração. Ao tratar
monitoramento e o cumprimento das metas. destes assuntos, devem ser consideradas as
ações de gestão democrática que influenciam
De forma geral, as cidades precisam de inter- diretamente nos prazos e na forma de atuação
venções de portes distintos, o que exige es- da equipe envolvida. Em caso de contratação
tratégias com tempos diversos, porque muitos dos serviços, é preciso explicitar estas con-
projetos de mobilidade demandam grandes dições no Termo de Referência, pois de nada
períodos de maturação entre seu desenvol- adianta promover atividades de participação
vimento e implantação. Também as adminis- social se as demandas e expectativas da popu-
trações devem se organizar para atender os lação não forem consideradas pela consultoria
cidadãos com medidas de impacto imediato na elaboração do Plano.
e outras de repercussão em um espaço de
tempo maior. Atividade 3.1 – Cooperação para elaboração

Construir o Plano de Mobilidade Urbana é


Os horizontes temporais do Plano de Mobilida-
um trabalho complexo que requer a coopera-
de Urbana são estabelecidos levando em conta
ção com entidades públicas e privadas, com
objetivos e metas de curto, médio e longo
atribuições legais, interesse ou experiência em
prazos. Indicativamente, podem ser considera-
assuntos técnicos e de gestão. Além de qua-
dos horizontes de 2 a 3 anos (curto prazo), 6 a 7
lificar o trabalho, a cooperação também pode
anos (médio prazo) e 15 anos (longo prazo) para
facilitar as condições operacionais para a ela-
a definição de um cronograma geral, do progra-
boração do Plano, através da disponibilização
ma de ação e do plano de investimentos.
de recursos humanos ou materiais necessários
à empreitada.

3 PROCEDIMENTOS Poder Legislativo, Poder Judiciário, municípios


GERENCIAIS vizinhos, entidades de âmbito regional, estadual,
Planejar e formalizar federal e mesmo internacional, de diferentes
segmentos – uso do solo, saneamento, meio
O terceiro passo possui um caráter mais ambiente, sustentabilidade, tecnologia, pes-
operacional. Contempla providências quanto quisa etc. –, podem participar e enriquecer o
ao Termo de Referência, a cooperação técnica processo de construção do Plano. São válidas,
e institucional para iniciar a elaboração do ainda, visitas a locais que praticaram medidas
Plano de Mobilidade Urbana e envolve princi- com sucesso e o convite a especialistas para
palmente a equipe técnica. É o momento de conhecerem o município.
buscar parcerias, o que requer negociações,
formalização e definição de responsabilida- A realização e a formalização das distintas
des e recursos. A população deve sempre ser parcerias envolvem acordos institucionais que
informada sobre quem são os parceiros, os atendam a normas legais, formalizados através
contratos formulados, os termos conveniados e de contratos e convênios, com definição de
os resultados esperados, objetivando conferir plano de trabalho, prazos, responsabilidades
transparência ao processo. e verificação da necessidade do repasse de
recursos. As parcerias devem ser transparentes
Caso o município tenha um órgão gestor de e constantemente divulgadas para as partes
transporte forte e uma boa base de dados e interessadas.

202
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

Atividade 3.2 – Termo de Referência e licitação Plano de Mobilidade Urbana, e um cronograma


básico, estabelecendo os tempos necessários
O Termo de Referência consiste na descrição
para a sua realização. A partir da definição dos
dos procedimentos e do produto final esperado.
responsáveis pelo Plano, através de pessoal
Dá as diretrizes para a compreensão e a orienta-
próprio, consultoria ou equipe mista, é preciso
ção do trabalho a ser feito, permitindo estimar
detalhar o plano de trabalho e o cronograma.
a dimensão e a complexidade do processo, as
condições para levantamentos, preparação e
Em caso de licitação, a consultora deve entre-
entrega do resultado, a necessidade de recur-
gar uma proposta de plano de trabalho, com a
sos humanos, técnicos e materiais, os custos
programação, a metodologia para desenvolvi-
envolvidos, a supervisão, bem como os prazos.
mento das atividades, o fluxograma, a estrutura
Independentemente do Plano de Mobilidade
técnico-administrativa necessária, a alocação
Urbana ser realizado com pessoal próprio da ad-
de recursos e o cronograma geral. A proposta
ministração municipal ou terceirizado, mediante
deve revelar o detalhamento e a relação entre
licitação, é importante preparar esse termo por-
os serviços. Antes de iniciar a elaboração do
que ele ajuda no planejamento e nas definições
Plano, é preciso que a Comissão Técnica e a
necessárias para obter os produtos esperados.
consultora promovam os esclarecimentos e
ajustes necessários no plano de trabalho e cro-
Alguns elementos importantes para a formula-
nograma, visando otimizar os procedimentos
ção de um Termo de Referência para o Plano de
de trabalho.
Mobilidade Urbana já estão definidos: objeti-
vos, área de abrangência, metas, prioridades,
Atenção especial deve ser dada ao planejamen-
horizontes, acompanhamento e supervisão. O
to das atividades que envolvem a apresentação
passo seguinte, de elaboração, descreve as ativi-
e a discussão dos produtos com a população,
dades necessárias para desenvolver os estudos
de acordo com o projeto de comunicação e
e propostas do Plano, as quais também devem
participação social e sua transversalidade ao
subsidiar a redação do Termo de Referência.
longo do processo.

Considerando que muitas administrações


municipais não dispõem de equipe técnica
suficiente e/ou capacitada para desenvolver 4 ELABORAÇÃO
o Plano por conta própria, deve ser providen- Fazer e legitimar o Plano
ciada a contratação de serviços terceirizados.
O passo 4 trata da elaboração do Plano de
O Termo de Referência integra o edital para
Mobilidade Urbana propriamente dito. O traba-
licitação dos serviços, em modalidade e tipo
lho é realizado pela Administração Municipal,
definidos de acordo com o porte do estudo. É
empresas de consultoria contratadas e insti-
importante evitar a reprodução de editais de
tuições conveniadas, conforme especificado no
outras cidades, que muitas vezes não corres-
Termo de Referência. A supervisão da elabora-
pondem à realidade e às demandas locais.
ção é da Comissão Técnica, com participação
das Comissões Executiva e de Acompanhamen-
A realização de licitação demanda procedimen-
to. É uma etapa importante e complexa que
tos e atendimento a prazos legais pela Comis-
exige uma coordenação focada, principalmente
são Técnica. Recomenda-se especial cuidado
quando houver diversas equipes envolvidas.
nas questões administrativas para não inviabi-
É ideal que um coordenador responda pela
lizar ou retardar o processo.
mobilização dos recursos e pelas demais provi-
dências requeridas para o trabalho.
Atividade 3.3 – Plano de trabalho
e cronograma
A elaboração do Plano, enquanto um processo,
O Termo de Referência deve conter um plano demanda o envolvimento de vários setores da
de trabalho esquemático, prevendo as princi- administração municipal e da sociedade civil.
pais etapas e atividades para a elaboração do Em vários momentos, independentemente de

203
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

quem estiver desenvolvendo os estudos, há tos qualitativos oriundos da compreensão dos


necessidade de esforço para avançar e concluir técnicos e dirigentes públicos e da sociedade,
o trabalho, cumprindo tanto o plano de traba- ouvida na etapa de consulta.
lho como os prazos estabelecidos. O tempo
estimado para realizar este passo depende tan- Os trabalhos, por serem caracteristicamente
to do porte da cidade quanto do acúmulo de analíticos, resultam na produção de mapas,
dados e pesquisas disponíveis, variando entre tabelas, gráficos e textos que representem as
6 a 18 meses. informações colhidas e as reflexões sobre as
principais questões, com indicativos de como
Atividade 4.1 – Caracterização e diagnóstico elas podem ser tratadas, em momento mais
avançado da elaboração do Plano. Recomenda-
Entender o cenário atual da mobilidade urbana
se, entretanto, que as análises sejam segmen-
é fundamental para planejar o futuro. Incluem-
tadas por temas envolvidos sem, no entanto,
se nesta atividade os trabalhos prévios de
perder o contexto de um sistema único, inte-
preparação dos instrumentos de análise de
grado, multimodal e estruturante do desenvol-
informações. Dependendo da metodologia
vimento sustentável da cidade, como serviço
escolhida, pode ser necessário o suporte de
de transporte coletivo, rede viária, circulação
instrumentos informatizados como modelos
de ciclistas, acessibilidade, regulamentação,
georreferenciados e/ou de transportes, que
organização pública para a gestão e, ainda,
precisam ser preparados para a recepção e o
quando necessário e possível, seja particulari-
tratamento das informações.
zada para regiões do município.

O trabalho inclui atividades como preparação


Atividade 4.2 – Cenários e avaliação de
da base viária, lançamento de dados cadastrais
impactos
disponíveis sobre a infraestrutura, aspectos
urbanos e territoriais, rede de transporte cole- A partir da caracterização e do diagnóstico, é
tivo (linhas e suas informações) e outros dados preciso elaborar e avaliar cenários que repre-
que possam ser representados espacialmente. sentem as possibilidades de evolução nos ho-
Mesmo que o município opte por uma metodo- rizontes adotados para o Plano de Mobilidade
logia que não use sistemas de processamento Urbana. Esses cenários, preparados através de
de dados mais avançados para o suporte ao tra- diferentes alternativas, incorporam as tendên-
balho, será necessário produzir mapas em papel cias dos prognósticos. Um dos cenários deve
ou em meio digital. No caso do uso de sistemas ser a situação tendencial base, considerando o
avançados, que trabalham com modelos de que aconteceria se nada fosse feito; os demais
simulação, esta atividade possui outros desdo- devem representar situações contrastantes
bramentos técnicos específicos à preparação de para uma avaliação de tendências distintas.
um modelo de rede que simule a realidade. A análise e a comparação entre os cenários
favorecem a compreensão sobre os impactos
Outro objetivo desta atividade é promover a positivos e negativos que as medidas podem
leitura das informações colhidas e sua análise gerar em situações futuras.
para identificar os problemas existentes. É o
momento, também, de sistematizar adequa- A análise de prognóstico é requerida para se
damente as informações sobre as condições antever situações que poderão advir do cresci-
locais de mobilidade, oferecendo uma síntese mento urbano em relação à mobilidade urbana,
de dados quantitativos e indicadores, como: a por meio de projeções do crescimento espon-
quantidade de passageiros transportados, de tâneo, isto é, caso não haja nenhuma interven-
frota, de viagens, e outros dados do serviço de ção sobre as demandas por deslocamentos nos
transporte coletivo; perfil dos deslocamentos vários modos e seu impacto. Mesmo que o mu-
realizados pela população e os modos em- nicípio não opte por uma metodologia técnica
pregados; dados sobre a infraestrutura viária para realizar as projeções e simular os impac-
(extensão pavimentada, larguras viárias etc.). tos no transporte, cabe uma reflexão, ainda que
Além dos dados quantitativos, o diagnóstico empírica e informal, sobre o que pode ocorrer
deve apresentar uma abordagem dos aspec- no curto, no médio e no longo prazos.

204
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

Em qualquer caso, deve haver uma associação Ao contrário, nesta etapa podem surgir duas
destes trabalhos com o conhecimento, refle- ou mais soluções para determinadas questões,
xões e indicativos da política urbana municipal, verificadas do ponto de vista técnico, econômi-
especialmente com o Plano Diretor de Desen- co e social.
volvimento Urbano. A interface com os pro-
fissionais do município que lidam com estas As alternativas de diferentes modos de trans-
questões é bastante útil para o fornecimento porte, serviços e infraestruturas para os deslo-
de indicadores sobre vetores de expansão, camentos de pessoas e cargas são dimensio-
áreas urbanas que devem ser restringidas, nadas para viabilizar uma estimativa de custos
zoneamento de uso e ocupação do solo, áreas e benefícios, tanto sociais como econômicos e
destinadas a programas habitacionais, locali- ambientais, expressos através de indicadores
zação de novos empreendimentos que poderão quantificáveis. Estes indicadores, como tempo
vir a se instalar. de viagem, custo global e unitário por pessoa,
emissão de poluentes, níveis de acessibilidade
Independente do grau de detalhe que a meto- e segurança viária, entre outros, são os empre-
dologia escolhida venha a impor, é importante gados em avaliações de viabilidade econômica
que a etapa se estruture segundo dois campos: e/ou financeira. Isso é particularmente impres-
(i) a construção de cenários de evolução urba- cindível em planos que objetivam obter recur-
na, demográfica, econômica e social da locali- sos de agências de fomento e financiamento.
dade e (ii) projeção quantitativa ou qualitativa
dos impactos destes cenários na mobilidade, A partir do conjunto de dados sistematizados
nos serviços de transporte e no sistema viário. sobre as alternativas e as impressões obtidas
nas consultas à sociedade, cabe à Administra-
Atividade 4.3 – Formulação e avaliação de ção Municipal escolher as propostas incorpo-
propostas radas ao Plano de Mobilidade Urbana. Além do
trabalho de análise e reflexão, característico
Nesta etapa são concebidas e avaliadas
deste processo, cabe à equipe representar as
soluções, propostas, diretrizes, ações, enfim,
propostas e os resultados através de mapas,
um conjunto de medidas partindo da análise
textos, tabelas e outros recursos documentais
da situação atual e do prognóstico realizados
para alimentação dos demais trabalhos e apre-
anteriormente e debatidos com a sociedade.
sentações diversas.
É importante fixar, de antemão, as diretrizes e
estratégias principais de como tratar a ques-
Atividade 4.4 – Programa de ação
tão da mobilidade, para que não se produzam
propostas conflitantes entre si. Como, por O Plano de Mobilidade Urbana deve conter um
exemplo, propostas para um mesmo eixo-vetor programa ou plano de ação para a melhoria da
de deslocamentos que demandem vultosos mobilidade local. A estruturação deste progra-
investimentos para a ampliação da sua capa- ma pressupõe equacionar vários fatores para
cidade viária para o transporte privado moto- implementar o Plano, iniciando com a indica-
rizado e, ao mesmo tempo, para a implantação ção de quais são as intervenções e medidas a
de um sistema de média ou alta capacidade de serem desenvolvidas, quais as prioridades e os
transporte coletivo. prazos a serem executados e as inter-relações
entre elas.
As propostas, compatibilizadas com as propo-
sições de ordenamento territorial e preserva- Organizado sob a forma de quadro com as infor-
ção da qualidade ambiental, devem contem- mações necessárias, associadas a uma planta
plar todos os temas da mobilidade urbana com a localização das intervenções, o programa
de presença obrigatória, além das questões indica, além das ações, prioridades e prazos
específicas, adequados ao porte e às carac- previstos, responsabilidades pela execução (Po-
terísticas de cada local. Não se deve esperar, der Público, setor privado ou sociedade), custo
entretanto, que do processo de formulação e possíveis fontes de financiamento, de forma
surjam soluções definitivas para os problemas. a assegurar que as medidas sejam viáveis e
realistas. O programa também define horizontes

205
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

temporais claros para implementação das me- nósticos, prognósticos, alternativas estudadas
didas e para assegurar transparência em torno e escolhidas é organizada de forma a gerar a
das ações planejadas. documentação com a memória e a expressão
final do Plano. A etapa, portanto, inclui a pro-
Essa atividade requer a coordenação entre dução final dos textos e dos elementos gráficos
as partes interessadas na etapa de imple- do documento.
mentação, além de uma consistência entre as
intervenções planejadas, as metas almejadas e
os fundos alocados. Demanda ainda a defini-
ção de quem e como será monitorada a sua
5 APROVAÇÃO
Revisar, apresentar e instituir
execução. Para o financiamento, investimentos
e custeio, são identificadas as fontes de recur- Depois de elaborado, discutido e consolidado,
sos existentes, próprias ou externas, públicas o Plano de Mobilidade Urbana passa pelas
ou privadas, considerando a legislação de últimas etapas antes da sua aprovação final e
parcerias público-privadas (PPPs) e concessões. transformação em lei. A revisão, a apreciação
Também deve ser cogitada a utilização dos ins- pela sociedade e atores envolvidos e a sua
trumentos urbanísticos previstos no Plano Di- institucionalização, considerando a construção
retor como fonte de captação de recursos, tais democrática e participativa, e os diferentes te-
como o Imposto Predial e Territorial Urbano mas trabalhados nas várias instâncias técnicas,
(IPTU) progressivo, a outorga onerosa do direito sociais e políticas, devem ocorrer sem questio-
de construir, a utilização das contrapartidas namentos importantes.
de polos geradores de tráfego, as operações
urbanas consorciadas, entre outros. Cabe à Administração Municipal realizar a Au-
diência Pública para exposição do produto final
Atividade 4.5 – Indicadores de desempenho do Plano, apresentando as diretrizes gerais e as
A aferição do êxito ou das dificuldades em propostas específicas à comunidade. No caso
atingir os objetivos propostos pelo Plano de de não ser aceito plenamente por esta instân-
Mobilidade Urbana é feita a partir da escolha cia, pode ser necessária a revisão de alguns
de um conjunto de indicadores de desempe- elementos, a fim de incorporar as sugestões
nho. Esses parâmetros servem para avaliar os finais, o que é feito com o suporte técnico de
resultados obtidos, antes, durante e depois da equipe responsável pela elaboração do Plano.
implantação do programa de ação, de acordo
com as metas e prazos definidos no início do Atividade 5.1 – Verificação da qualidade
processo de construção do Plano, principal- Para assegurar a qualidade do documento que
mente naqueles considerados de maior impor- reúne a produção final de textos e elementos
tância de intervenção. gráficos do Plano de Mobilidade Urbana, é
recomendável um trabalho de revisão, obser-
O capítulo 7 apresenta um conjunto de indi- vados o conteúdo e o potencial para o alcance
cadores para subsidiar esta atividade, assim dos objetivos, metas e ações propostos. Outro
como podem ser obtidos resultados de outras resultado importante desta revisão é a veri-
cidades ou contextos similares para contribuir ficação de que os pontos de vista dos atores
no estudo. sociais encontram-se suficientemente conside-
rados no documento.
Atividade 4.6 – Consolidação do Plano
A verificação é realizada pela equipe técnica,
Esta é uma etapa de sistematização do conhe-
em cooperação com os atores sociais mais
cimento acumulado, produto de um adequado
importantes no processo. A colaboração de
e meticuloso processo de estudo da mobilida-
revisores externos com experiência no plane-
de no município, cujo acervo técnico gerado é
jamento da mobilidade urbana contribui para
perpetuado através de um adequado registro
a credibilidade do processo e para a inclusão
documental. Toda a sequência de mapas, tabe-
de ajustes e melhorias finais. A versão final do
las e textos de coleta de dados, análises, diag-
Plano publicizada deve incorporar as recomen-
dações dos revisores.
206
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

Atividade 5.2 – Audiência pública final Atividade 5.3 – Instituição do Plano de


Mobilidade Urbana
A audiência pública final é uma atividade-cha-
ve de participação social para a legitimação A instituição do Plano de Mobilidade Urbana
do Plano. Deve ser precedida de um amplo sob a forma de lei, ainda que não obrigatória,
processo participativo, sendo complementar é recomendada para que a Administração
à participação da sociedade civil nas etapas Municipal e a Câmara de Vereadores legiti-
anteriores de desenvolvimento do Plano. Sua mem a sua construção e resultados. Sugere-se
apresentação deve envolver a população em mobilizar esforços para a aprovação integral do
geral, os grupos interessados e as instâncias projeto, por ser produto de um longo processo
de gestão (comissões e conselhos municipais e técnico e participativo. A aprovação da lei é
regionais), para criar um sentimento de apro- uma garantia da permanência do Plano, sem
priação e aceitação em relação às propostas do estar submetido às descontinuidades das
Plano de Mobilidade Urbana. A apresentação sucessões políticas, respeitando a vontade de
deve utilizar uma linguagem adequada para um todos os que participaram da sua construção.
público não familiarizado com esse tipo de tra-
balho, assim como uma comunicação de forma Nesta etapa, é redigida a minuta de projeto de
profissional e transparente dos resultados do lei dispondo sobre as diretrizes da mobilidade
processo de planejamento e elaboração. Reco- no município e as gestões políticas e legislati-
menda-se a produção de documentos-síntese vas associadas ao trâmite da matéria. Após a
(sumário executivo), CDs, vídeos e outros meios, avaliação e triagem dos conteúdos do Plano,
utilizados para ampla divulgação do Plano. identificando os aspectos tratados no âmbito
do Poder Legislativo (normas e diretrizes) e os
Na exposição pública, são esclarecidas as da esfera executiva, o projeto de lei é elabora-
propostas específicas para a reorganização do com o devido enquadramento nos regula-
dos sistemas de transporte e de circulação e mentos nacionais, visando evitar posteriores
sua relação com o desenvolvimento urbano. contestações de seu valor legal.
São apresentados os critérios de priorização,
os impactos na mobilidade e benefícios para a
população, o horizonte de implantação, assim 6 IMPLEMENTAÇÃO
como as limitações (gestão das expectativas) Projetar, implementar e monitorar
que o município possa ter para colocar o Plano
em prática. É importante identificar, sempre Depois de elaborado e aprovado, o Plano de
que possível, os pontos onde as contribuições Mobilidade Urbana sai do papel e é implemen-
das atividades participativas foram considera- tado conforme o programa de ação estabe-
das ao longo do trabalho. lecido. Cabe à Administração Municipal dar
continuidade ao processo tomando algumas
Por fim, são sistematizadas as contribuições providências. Aconselha-se a manutenção
e rejeições apresentadas pela população na das estruturas de gestão executiva, técnica e
Audiência Pública para consideração na fina- acompanhamento formadas para a elaboração
lização do documento integrante do projeto do Plano, recompostas de acordo com as atri-
de lei. Devido ao cuidado com a ampla partici- buições necessárias à implantação. Também
pação popular ao longo do processo, o Plano convém rever e promover as parcerias, visando
de Mobilidade Urbana deve estar alinhado e contribuir nessa nova etapa.
direcionado para a visão de cidade que se quer
atingir. Ao final, espera-se que a população Para que o Plano não entre em descrédito junto
perceba que se trata do “seu” Plano, e que este à população, é importante levar em conta as
visa à melhoria da mobilidade e da qualidade ações prioritárias para atingir os objetivos
de vida para todos. de curto prazo. Também é relevante iniciar o
detalhamento dos estudos e dos projetos para
executar as intervenções previstas.

207
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

A implementação do programa de ação, através O detalhamento de estudos e projetos gera a


do progresso da execução das obras e reali- necessidade de informações adicionais e de
zação de medidas de âmbito institucional e recursos incompatíveis com o objetivo princi-
técnico, deve ser constantemente monitorada. pal dos trabalhos. Consequentemente, sempre
É importante ter em conta que nem todas as que possível, o detalhamento de medidas
medidas do Plano serão efetivamente imple- propostas deve ser objeto de outro processo
mentadas. Portanto, o monitoramento dos de trabalho, que incorpore as contribuições de
indicadores de desempenho vai apontar os outros setores da Administração Municipal e
avanços e as dificuldades na concretização do dos parceiros.
Plano e auxiliar na sua revisão e atualização.
As ações – intervenções e obras – são imple-
Atividade 6.1 – Cooperação para mentadas pelos diferentes setores da Ad-
implementação ministração Municipal, de acordo com suas
atribuições legais, enquanto o monitoramento
A cooperação para implementação do Plano
continua vinculado ao Plano. Por exemplo,
de Mobilidade Urbana tem como objetivo
obras de infraestrutura ou melhorias do serviço
compartilhar as responsabilidades, através da
do transporte público são executadas pelas
utilização da experiência e recursos de outras
secretarias de obras ou transportes, enquanto
entidades que atuam em setores da mobilida-
são monitorados o cumprimento do cronogra-
de urbana ou a ela relacionados na execução
ma e as metas atingidas.
do programa de ação. As cooperações feitas
para a elaboração do Plano podem ser reno-
Atividade 6.3 – Monitoramento das ações
vadas para esta etapa e podem ser agregados
novos parceiros, buscados entre operadores de Monitorar ações, uma tarefa muitas vezes negli-
transporte público, empreendedores econô- genciada pelo Poder Público, é essencial para
micos, movimentos sociais, ambientalistas, a gestão da mobilidade. O monitoramento das
entidades de âmbito local estadual, federal ou ações consiste na análise constante e na veri-
mesmo internacional. ficação do progresso das intervenções e obras
em curso, assim como na identificação de pos-
É preciso estabelecer uma clara atribuição e síveis necessidades de ajustes das propostas
formalização de responsabilidades, através de do Plano de Mobilidade Urbana, quando encon-
protocolos de intenções, convênios e contra- tradas dificuldades não contornáveis. Deve ser
tos, para assegurar transparência e todos os conduzida por uma estrutura específica para
requisitos necessários para que o Plano seja este fim na Administração, podendo contar com
efetivamente implementado. a colaboração de parceiros especializados.

Atividade 6.2 – Detalhamento e implantação A atividade implica uma atenção continuada


de estudos e projetos sobre a evolução da implementação da política
de mobilidade, por meio de levantamentos
Em função dos objetivos e metas do Plano de
e análises de dados e informações sobre o
Mobilidade Urbana, é necessário o desenvolvi-
desempenho das realizações, sendo medidos
mento adicional de algumas propostas formula-
os resultados, avaliados os indicadores de
das, como a expansão do pré-dimensionamento
desempenho e determinado se os objetivos
da oferta de transporte coletivo para todos
e metas estão sendo atingidos. Implica a
os horários do dia (caso o Plano contenha um
produção de relatórios de acompanhamento,
componente de aplicação operacional imedia-
disponibilizados para o debate público, para
ta), o detalhamento de seções transversais e
que todos os atores possam avaliar e propor
o traçado básico de uma ciclovia, ou ainda o
correções, adaptando o programa de ação do
desenvolvimento de um projeto básico de uma
Plano quando necessário, antes da sua revisão
obra de arte especial.
total a cada dez anos.

208
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

ou correção de rumo, e preparar a futura revi-


7 AVALIAÇÃO E REVISÃO são e atualização. É recomendável a sua reali-
Revisar e atualizar zação com uma periodicidade de cinco anos.

A mobilidade urbana é essencialmente dinâ- Atividade 7.2 – Revisão e atualização


mica. Portanto, por melhor que tenha sido ela- periódica
borado o Plano de Mobilidade Urbana, sempre
O monitoramento do progresso, do programa
existe a possibilidade do surgimento de uma
de ação e a avaliação dos pontos positivos e
nova frente de expansão urbana, de uma nova
negativos servirão para embasar a construção
tecnologia, um novo polo gerador de viagens
do próximo Plano de Mobilidade Urbana. O pro-
ou uma nova cultura no município que altere
cesso de revisão e atualização deve ser flexível
a dinâmica da mobilidade local. O desenvolvi-
para incorporar novos métodos e tecnologias,
mento urbano cria demandas constantes para
bem como identificar e absorver mudanças na
as infraestruturas de transporte e avanços tec-
realidade, incluindo aspectos socioeconômicos
nológicos apresentam novas formas de pensar
e culturais que impactem na mobilidade urbana.
e planejar a mobilidade.
A Lei da Mobilidade Urbana exige a revisão e a
atualização periódica do Plano em um prazo não
Dessa forma, o último passo diz respeito à ava-
superior a dez anos.
liação da evolução da implantação da política
de mobilidade urbana executada pelo Poder
Público. Utilizando-se dos indicadores e fer-
8.3. Termo de Referência para a
ramentas de monitoramento e do acúmulo de elaboração do Plano de Mobilidade
conhecimento advindo da construção do Plano Urbana
de Mobilidade Urbana, avaliam-se os seus bons A elaboração do Plano de Mobilidade Urbana,
e maus resultados e identificam-se os pontos em qualquer situação, obedece a uma sequên-
que devem ser revistos ou reformulados. cia lógica de atividades que seguem os princí-
pios técnicos e de participação social descritos
Atividade 7.1 – Avaliação das propostas nos itens anteriores. Preferencialmente, esta
e ações organização do trabalho deve estar expressa no
Termo de Referência, que é o instrumento que
A avaliação do impacto geral das propostas
vai balizar a execução do Plano pela equipe
e ações do Plano na mobilidade urbana e nos
envolvida, seja interna ou externa à Administra-
sistemas de transporte do município é feita
ção Municipal.
buscando entender as razões do seu êxito ou
insucesso, monitorados através dos indicado-
8.3.1. Estabelecimento de conteúdos
res e da avaliação sobre a conquista das metas
e dos objetivos. A crítica dos atores envolvidos O Termo de Referência deve conter todos os
que acompanharam todo o processo é também elementos necessários para o desenvolvimento
importante nesse processo, buscando entender dos trabalhos, suficientemente explicitados
os acertos em relação às estruturas criadas, as para orientar as atividades dos profissionais
lições e os erros. envolvidos na elaboração do Plano de Mobili-
dade Urbana e para estabelecer os produtos
Esse trabalho serve para ajustar a implementa- esperados. Especialmente se o Plano for elabo-
ção do Plano, promovendo alguma priorização rado através de consultoria, que somente exe-
cuta e entrega o que ali estiver determinado.

209
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

Deve contemplar, pelo menos, os seguintes conteúdos:

sobjetivos do Plano, estabelecendo o nível de detalhamento que se pretende obter com


o Plano de Mobilidade Urbana;
sespecificação técnica dos trabalhos, contextualizando a realidade local e abordando
sobre a metodologia a ser empregada, isto é, quais as técnicas de análise e formulação
de propostas, de promoção do debate social que serão utilizadas, a área de abrangência
e os horizontes do estudo, as bases de dados disponíveis;
splano de trabalho, ou seja, o conjunto de etapas e atividades que devem compor o pro-
cesso de trabalho, seus respectivos responsáveis e cronograma, até se obter o produto final;
sprodutos do trabalho, considerando que os produtos finais da elaboração do Plano de
Mobilidade Urbana são o documento técnico e a minuta de projeto de lei que o instituirá.
O Termo de Referência também deverá explicitar os tipos e número de cópias de docu-
mentos impressos e digitais, nas diferentes fases do estudo, tais como relatórios parciais
e finais. Poderá ser prevista, entre outros, a aquisição de softwares, bem como o forneci-
mento de materiais previstos no projeto de comunicação e participação social;
scronograma básico, no qual são estabelecidos os momentos iniciais e finais de cada
etapa ou atividade do trabalho, respeitada a interdependência que existam entre elas;
srecursos humanos necessários, relacionando a quantidade de técnicos e outros
profissionais que participarão dos trabalhos, com previsão de horas de envolvimento no
período de execução do plano;
srecursos materiais necessários, incluindo, além da previsão de recursos para execução
das principais atividades (realização, processamento e análise das pesquisas, mapea-
mentos, produção de documentos etc.), verbas para deslocamentos, reprografia, aquisi-
ção de softwares e outros;
sforma de viabilização dos recursos com a definição sobre como se dará a mobilização
dos recursos necessários – de modo interno à estrutura da Prefeitura (ou outra instância
de governo), mediante convênio e parcerias com instituições de ensino e de pesquisa.
Ou, ainda, através da contratação total ou parcial de serviços profissionais externos para
suprir as necessidades técnicas;
sorçamento básico para o desenvolvimento de todas as atividades, incluindo os cus-
tos internos à administração (vinculados ao uso de seus recursos próprios) e/ou custos
externos (serviços contratados ou conveniados);
sforma de pagamento, prevendo o desembolso das parcelas de acordo com a realização
das atividades previstas no cronograma físico;
sprocesso de acompanhamento e gestão dos trabalhos, através do qual se apresenta a
estrutura de coordenação e acompanhamento, estabelece-se a frequência de reuniões
de acompanhamento, e se dispõe sobre o andamento dos trabalhos e a sua relação com
o processo de participação social.

210
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

8.3.2. Estabelecimento de cronogramas o suporte de consultores especializados para


apoio metodológico, instrumental ou analítico.
As especificações metodológicas e o plano de
trabalho escolhido têm interferência direta no
O trabalho exige uma coordenação, principal-
cronograma de elaboração do Plano de Mobi-
mente quando houver diversas equipes envol-
lidade Urbana, principalmente no que diz res-
vidas. O ideal é que o coordenador responda
peito ao processo de coleta de dados primários
pela mobilização dos recursos e pelas demais
(pesquisas) e nos instrumentos de análise ado-
providências requeridas para o trabalho. E que
tados. Especificamente em relação às pesqui-
o coordenador, da equipe da Administração
sas, vale destacar a necessidade de considerar,
Municipal ou da contratada em caso de tercei-
no seu planejamento, o momento adequado
rização, seja um profissional com formação em
para sua execução, descartando períodos atípi-
urbanismo, visando compatibilizar diretrizes
cos, como os meses de férias escolares.
urbanísticas e setoriais, integrando propostas
do Plano Diretor com as de mobilidade, habita-
O plano de trabalho escolhido deve observar a
ção, meio ambiente e outros.
interdependência entre as atividades a desen-
volver. Alguns trabalhos podem ser realizados
Caso a Administração Municipal não disponha
de forma paralela, mas outros dependem da
de recursos humanos e técnicos para a elabo-
finalização de etapas anteriores. Deve ser previs-
ração do Plano, é recomendável a contratação
ta uma margem de segurança para contemplar a
de serviços ou a realização de convênio com
possibilidade de atrasos na execução de ativida-
instituições que possuam capacidade para
des mais complexas.
realizá-lo, como universidades e institutos de
pesquisa existentes no município e na região.
De forma geral, nas cidades que disponham de
Deve ser observado que, quando contratado
boas bases de dados, ou nos municípios com
um serviço conveniado, deve ser previsto no
menos de 250 mil habitantes, deve ser consi-
cronograma um tempo adicional para os proce-
derado um prazo mínimo de seis meses para
dimentos administrativos necessários para as
a elaboração do Plano de Mobilidade Urbana;
contratações (preparação de editais, processos
para os municípios de porte intermediário, en-
licitatórios e assinatura de contratos).
tre 250 e 500 mil habitantes, é recomendável
a previsão de um prazo de oito a dez meses,
8.3.4. Estabelecimento de acompanha-
atingindo 12 meses se houver previsão de re-
mento e gestão dos trabalhos
alização de pesquisa de origem e destino. Nos
municípios com mais de 500 mil habitantes A elaboração do Plano de Mobilidade Urbana
ou integrantes de regiões metropolitanas, deve ser supervisionada pela Administração
o prazo mínimo razoável passa a ser de 12 me- Municipal por meio de procedimentos de regis-
ses, ou de 18 meses, quando incluírem pes- tro do andamento e da realização de reuniões
quisa de origem e destino domiciliar e estudos para avaliação da evolução dos trabalhos.
mais detalhados para instrução de processos Essas reuniões servem tanto para o monito-
de financiamento. ramento sob o ponto de vista técnico quanto
para a participação da Comissão Executiva e
8.3.3. Definição de recursos Comissão de Acompanhamento.

A previsão de recursos humanos e materiais


A melhor forma de realizar um acompanha-
é imprescindível para a produção do Plano de
mento sistemático é utilizando um cronograma
Mobilidade Urbana. Seu adequado desenvolvi-
detalhado, pelo qual o andamento das ativida-
mento exige a alocação de uma equipe técnica
des possa ser permanentemente comparado
específica, com conhecimento na área de pla-
com o planejamento inicial dos trabalhos.
nejamento de transporte, de infraestrutura e de
Também se valendo de relatórios mensais de
urbanismo. É sugerido que a Comissão Técnica
progresso dos trabalhos, em que sejam regis-
assuma essas funções, podendo ser necessário
tradas as atividades executadas, as pendências

211
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

e demais informações relevantes para informar nicos dos profissionais que integrarão a equipe
os dirigentes municipais e para prestação de técnica principal de nível superior, em trabalhos
contas periódicas aos segmentos envolvidos na similares à experiência exigida da empresa.
discussão do Plano.
8.3.6. Sugestões de roteiros
8.3.5. Estabelecimento de condições
Neste item, são apresentadas sugestões de
quando contratada a elaboração do
metodologias, temas a serem tratados e ativi-
Plano de Mobilidade Urbana
dades que devem, a princípio, integrar o Termo
Em muitos casos, a Administração Municipal de Referência do Plano de Mobilidade Urbana.
não dispõe dos recursos humanos e técnicos Cada município deve analisar o roteiro propos-
necessários para a elaboração do Plano de Mo- to e adequar à sua condição urbana, técnica e
bilidade Urbana, precisando recorrer à contra- financeira. Os temas particulares a serem tra-
tação de serviços de consultoria. A realização tados por cada município são complementares
de uma licitação para essa natureza de estudo ao conteúdo mínimo obrigatório, apresentado
convém seja feita através da modalidade no capítulo 7.
técnica e preço, onde podem ser avaliados e
pontuados aspectos para obter maior qualida- A divisão de roteiros por porte de cidade se ba-
de no processo de elaboração e nos resultados. seia na identificação de padrões relativamente
homogêneos de mobilidade variando direta-
O edital deve conter, além das condições ad- mente com o crescimento populacional. Cidades
ministrativas, legais e do Termo de Referência, pequenas, inseridas em regiões metropolitanas,
uma parte dedicada aos critérios de julgamen- por exemplo, podem apresentar problemas típi-
to da proposta técnica e de preço. Sugere-se cos de cidades maiores, que devem ser tratados
solicitar que as empresas participantes do como tal no processo de planejamento.
certame apresentem sua proposta técnica com
os seguintes elementos para avaliação: O processo de planejamento, principalmente na
formulação do Plano de Investimentos, precisa
sNFUPEPMPHJBFQMBOPEFUSBCBMIP RVFEFWFN ser razoável e compatível com as necessidades e
discorrer sobre o conhecimento do problema e com a capacidade de investimento dos municí-
do planejamento da mobilidade e transporte, pios, sob pena de incluir propostas inexequíveis.
expondo sobre os aspectos metodológicos
a serem utilizados no desenvolvimento dos As sugestões de roteiros apresentadas a seguir
estudos, além de descrever a programação dos são indicativas, refletindo uma compreen-
trabalhos e a estrutura técnico-administrativa são média das características dos municípios
a ser utilizada; brasileiros. Sempre que necessário, eles devem
sFYQFSJÎODJBEBFNQSFTB BWBMJBEBFQPOUVBEB ser ajustados e adaptados para a incorporação
com base em atestados técnicos referentes a de outras atividades ou temas que se mostrem
pesquisas, estudos, planos e projetos básicos, relevantes, configurando novas combinações que
em planejamento urbanístico e ambiental, de contemplem as especificidades locais. Os muni-
mobilidade e de transporte urbanos, em seus cípios que não possuem serviços de transporte
aspectos de infraestrutura, serviços operacio- público, independentemente do número de
nais e gestão. moradores, devem atender o disposto na Lei da
sFYQFSJÎODJBEBFRVJQFUÍDOJDB BWBMJBEBFQPO- Mobilidade Urbana, privilegiando os elementos
tuada com base em currículos e atestados téc- de deslocamento não motorizados.

212
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

ROTEIROS SUGERIDOS PARA DIFERENTES PORTES


DE MUNICÍPIOS

a) Municípios com população de 20 a 60 mil habitantes

Características que influenciam a fixação dos objetivos e do universo de análise:

sgrande importância da zona rural;


spequena dimensão territorial da área urbana;
smodo predominante: a pé;
ssignificativa participação de viagens por bicicletas;
sserviço de transporte coletivo regular inexistente; sistema de transporte coletivo rural
pouco estruturado ou com dimensão territorial que não favorece o modo;
smínima participação pública na gestão do transporte;
smotorização média para baixa.

Temas a serem abordados no Plano: (dependendo das características do município,


outros temas podem ser necessários – consultar o capítulo 7)

sclassificação, hierarquização do sistema viário e organização da circulação;


simplantação e qualificação de calçadas e áreas de circulação a pé;
scriação de condições adequadas à circulação de ciclistas;
spromoção da acessibilidade universal;
scirculação viária em condições seguras e humanizadas;
sacessibilidade, transporte coletivo e escolar para a área rural;
sestruturação institucional.

Aspectos metodológicos e atividades sugeridas

Além das atividades básicas e fundamentais do plano, sugerem-se os seguintes


aspectos metodológicos a serem considerados na formulação do plano de trabalho:

a.1) Relativas às pesquisas e levantamentos:

srealização de inventário da infraestrutura viária, com atenção para as condições das calça-
das e travessias;
srealização de inventário das condições de segurança de trânsito, sinalização viária e di-
mensões das vias;
sidentificação das demandas de transporte na zona rural;
saplicação de pesquisas com ciclistas sobre o uso da bicicleta, incluindo origens e desti-
nos, rotas e problemas enfrentados;
saplicação de pesquisas de contagem volumétrica de tráfego nos principais locais pré-
-identificados.

a.2) Relativas à instrumentalização das análises:

selaboração de mapas temáticos da cidade com as informações obtidas segundo carac-


terísticas homogêneas, como tipo de ocupação, perfil social e econômico da população,
dados de origem e de destino;
sprodução de mapa que represente a hierarquia viária atual.

213
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

a.3) Relativas ao diagnóstico e prognóstico:

sidentificação das orientações da política urbana estabelecidas no Plano Diretor Urbano;


sidentificação dos vetores de crescimento urbano e das áreas de expansão populacional;
sidentificação de novos parcelamentos de solo urbano em tramitação na Prefeitura ou de
áreas de expansão para as quais haja especulação sobre futuro aproveitamento para
parcelamento;
sidentificação de novos empreendimentos empresariais na área de comércio, serviços e
indústrias;
sidentificação de projetos existentes, com atenção para projetos de outras instâncias,
como o governo estadual;
srealização da projeção populacional para um horizonte de dez anos ou mais e sua macro-
espacialização de acordo com as diretrizes urbanísticas, ou tendencial com base nos da
dos obtidos;
sanálise da malha viária, especialmente sob o ponto de vista da sua capacidade de suporte
para o atendimento de demandas futuras de transporte coletivo, de circulação a pé e por
bicicletas;
sanálise da regulamentação em vigor sobre os transportes, especialmente sobre o transporte
público por modos coletivos e individuais (concedido, fretamento, táxi, escolar, mototáxi);
sanálise da organização da gestão pública da mobilidade urbana, em especial prevendo a
possível elevação das demandas e o crescimento urbano;
sanálise dos problemas de segurança de trânsito.

a.4) Estudos e proposições:

sidentificação das necessidades e propostas para estímulo ao deslocamento a pé e por


bicicleta de forma segura e acessível;
sidentificação de deficiências e propostas para a melhoria do transporte escolar rural;
sresolução de medidas para ampliação e melhorias viárias, considerando o ano horizonte do
Plano;
sidentificação dos conflitos de tráfego de passagem porventura existentes, em especial
com rodovias e ferrovias e proposição de soluções;
sidentificação das necessidades de estacionamento nas áreas de atração de viagens e
propostas;
sidentificação dos pontos de descontinuidade viária entre bairros ou regiões, incluindo
barreiras de transposição naturais ou artificiais e propostas;
sinstituição de programa de segurança de trânsito.

b) Municípios com população de 60 a 100 mil habitantes

Características que influenciam a fixação dos objetivos e do universo de análise:


simportância da zona rural;
spequena dimensão territorial da área urbana;
screscimento populacional acima da média nacional;
smodo predominante: a pé;
ssignificativa participação de viagens por bicicletas;
sredes de serviços de transporte coletivo embrionárias, com elevados intervalos entre via-
gens; dimensão territorial não favorece o modo.
spouca participação pública na gestão do transporte;
smotorização média para baixa.

214
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

Temas a serem abordados no Plano:

sclassificação, hierarquização do sistema viário e organização da circulação;


simplantação e qualificação de calçadas e áreas de circulação a pé;
scriação de condições adequadas à circulação de ciclistas;
spriorização do transporte coletivo e implantação de sistemas integrados (para este grupo
de cidades, basicamente análises técnicas e ações mais voltadas à qualificação das vias e
equipamentos do transporte coletivo);
spromoção da acessibilidade universal;
scirculação viária em condições seguras e humanizadas;
spromoção de acessibilidade, transporte coletivo e escolar para a área rural;
sestruturação institucional.

Aspectos metodológicos e atividades sugeridas

Além das atividades básicas e fundamentais do Plano, sugerem-se os seguintes aspectos


metodológicos a serem considerados na formulação do plano de trabalho:

b.1) Relativas às pesquisas e levantamentos:

srealização de inventário da infraestrutura viária, com atenção para as condições das calça-
das e travessias;
srealização de inventário das condições de segurança de trânsito, sinalização viária e di-
mensões das vias;
sidentificação das demandas de transporte na zona rural;
srealização de pesquisa de transporte coletivo (operacional);
srealização de pesquisas de origem e destino de viagens através de entrevistas com a
população na área central. Por meio delas, verificar, além do local de origem e de destino,
o modo de transporte, os tempos de viagem e outros indicadores úteis à compreensão da
mobilidade da cidade. Esta pesquisa também poderá ser realizada em outros locais que
se mostrem importantes, como polos de geração de viagens (região de fábricas, shopping
ou centro de compras);
srealização de pesquisas com ciclistas sobre o uso da bicicleta, incluindo origens e desti-
nos, rotas e problemas enfrentados;
srealização de pesquisas de contagem volumétrica de tráfego nos principais locais pré-
-identificados.

b.2) Relativas à instrumentalização das análises:

selaboração de um zoneamento de tráfego (regiões) da cidade com características homo-


gêneas de tipo de ocupação, perfil social e econômico da população, com um nível espa-
cial mais agregado em razão da forma de obtenção dos dados de origem e de destino;
sprodução de mapas temáticos com as informações obtidas;
sprodução de mapa que represente a hierarquia viária atual.

b.3) Relativas ao diagnóstico e prognóstico:

sidentificação das orientações da política urbana estabelecidas no Plano Diretor Urbano;


sidentificação dos vetores de crescimento urbano e das áreas de expansão populacional;
sidentificação de novos parcelamentos de solo urbano em tramitação na Prefeitura ou de

215
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

áreas de expansão para as quais haja especulação sobre futuro aproveitamento para par-
celamento;
sidentificação de novos empreendimentos empresariais, na área de comércio, serviços e
indústrias;
sidentificação de projetos existentes, com atenção para projetos de outras instâncias, como
o governo estadual;
srealização de projeção populacional para um horizonte de 15 anos ou mais e sua macroes-
pacialização de acordo com as diretrizes urbanísticas, ou tendencial com base nos dados
obtidos;
sanálise da malha viária, especialmente sob o ponto de vista da sua capacidade de suporte
para o atendimento de demandas futuras de transporte coletivo, de circulação a pé e por
bicicletas;
sanálise da regulamentação em vigor sobre os transportes, especialmente sobre o transpor-
te público por modos coletivos e individuais (táxi, escolar, lotação, mototáxi);
sanálise da organização da gestão pública da mobilidade urbana, em especial prevendo a
elevação das demandas e das complexidades inerentes ao crescimento urbano;
sanálise dos problemas de segurança de trânsito.

b.4) Estudos e proposições:

sidentificação do sistema viário e equipamentos de interesse para a circulação do


transporte coletivo, independente de a via ser muito ou pouco utilizada atualmente pelo
transporte coletivo (rede viária do transporte coletivo) e propostas;
sidentificação das necessidades e propostas para estímulo ao deslocamento a pé e por
bicicleta de forma segura e acessível;
sidentificação de deficiências e propostas para a melhoria do transporte escolar rural;
sformulação de medidas para ampliação e melhorias viárias, considerando o ano horizonte
do Plano;
sidentificação dos conflitos de tráfego de passagem porventura existentes, em especial
com rodovias e ferrovias e proposição de soluções;
sidentificação da demanda de estacionamento nas áreas de atração de viagens e
propostas;
sidentificação dos pontos de descontinuidade viária entre bairros ou regiões, incluindo
barreiras de transposição naturais ou artificiais e propostas;
sinstituição de programa de segurança de trânsito.

c) Municípios com população de 100 a 250 mil habitantes

Características que influenciam a fixação dos objetivos e do universo de análise:

simportância da zona rural ainda expressiva;


sdimensão territorial da área urbana pequena;
scidades com crescimento populacional elevado;
smodo predominante: a pé, ainda que haja uma tendência aos modos motorizados, com
destaque para o automóvel e motocicleta;
sequilíbrio entre viagens não motorizadas e motorizadas;
sredes de serviços de transporte coletivo em formação ou já consolidadas, porém com
intervalos elevados das viagens;
spouca participação pública na gestão do transporte;
smotorização média para baixa.

216
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

Temas a serem abordados no Plano:


sclassificação, hierarquização do sistema viário e organização da circulação;
simplantação e qualificação de calçadas e áreas de circulação a pé;
scriação de condições adequadas à circulação de ciclistas;
spriorização do transporte coletivo e implantação de sistemas integrados;
spolítica tarifária e redução do custo do transporte coletivo;
spromoção da acessibilidade universal;
scirculação viária em condições seguras e humanizadas;
spromoção de acessibilidade, transporte coletivo e escolar para a área rural;
sestruturação institucional.

Aspectos metodológicos e atividades sugeridas

Além das atividades básicas e fundamentais do Plano, sugerem-se os seguintes aspectos


metodológicos a serem considerados na formulação do plano de trabalho:

c.1) Relativas às pesquisas e levantamentos:

srealização de inventário da infraestrutura viária, com atenção para as condições das calça-
das e travessias;
srealização de inventário das condições de segurança de trânsito, sinalização viária e di-
mensões das vias, com atenção para a questão semafórica existente e potencial;
sidentificação das demandas de transporte na zona rural;
saplicação de pesquisa de transporte coletivo (operacional);
saplicação de pesquisas de origem e destino de viagens através de entrevistas com a
população na área central, verificando, além do local de origem e de destino, o modo de
transporte, os tempos de viagem e outros indicadores úteis à compreensão da mobilidade
da cidade. Esta pesquisa também poderá ser realizada em outros locais que se mostrem
importantes como polos de geração de viagens (região de fábricas, shopping ou centro de
compras);
sno caso de municípios com 200 a 250 mil habitantes, caso seja possível, recomenda-se a
realização de pesquisa domiciliar, admitindo-se um zoneamento com aproximadamente
20 a 30 zonas (regiões) e uma amostra de 1.400 a 2.100 domicílios;
saplicação de pesquisas com ciclistas sobre o uso da bicicleta, incluindo origens e desti-
nos, rotas e problemas enfrentados;
saplicação de pesquisas de contagem volumétrica de tráfego nos principais locais pré-
-identificados.

c.2) Relativas à instrumentalização das análises:

selaboração de um zoneamento de tráfego (regiões) da cidade com características homogê-


neas de tipo de ocupação, perfil social e econômico da população e adequadas às formas
de obtenção dos dados de origem e destino (domiciliar ou entrevistas em pontos estraté-
gicos mais origem/destino de transporte coletivo);
sprodução de mapas temáticos com as informações obtidas;
sprodução de mapa que represente a hierarquia viária atual.

c.3) Relativas ao diagnóstico e prognóstico:

sidentificação das orientações da política urbana estabelecidas no Plano Diretor Urbano;


sidentificação dos vetores de crescimento urbano e das áreas de expansão populacional;
sidentificação de novos parcelamentos de solo urbano em tramitação na Prefeitura ou de

217
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

áreas de expansão para as quais haja especulação sobre futuro aproveitamento para par-
celamento;
sidentificação de novos empreendimentos empresariais, na área de comércio, serviços e
indústrias;
sidentificação de projetos existentes, com atenção para projetos de outras instâncias, como
o governo estadual;
srealização de projeção populacional para um horizonte de 15 anos ou mais e sua macroes-
pacialização de acordo com as diretrizes urbanísticas, ou tendencial com base nos dados
obtidos;
srealização de análise da malha viária, especialmente sob o ponto de vista da sua capacida-
de de suporte para o atendimento de demandas futuras de transporte coletivo, de circula-
ção a pé e por bicicletas;
srealização de análise da regulamentação em vigor sobre os transportes, especialmente
sobre o transporte público por modos coletivos e individuais (táxi, escolar, mototáxi);
srealização de análise da organização da gestão pública da mobilidade urbana, em espe -
cial prevendo a elevação das demandas e das complexidades inerentes ao crescimento
urbano;
srealização de análise dos problemas de segurança de trânsito.

c.4) Estudos e proposições:

sidentificação das necessidades para estímulo ao deslocamento a pé e por bicicleta de


forma segura e acessível;
sidentificação de deficiências e propostas para a melhoria do transporte escolar rural;
sidentificação dos conflitos de tráfego de passagem porventura existentes, em especial
com rodovias e ferrovias, e proposição de soluções;
sidentificação da demanda de estacionamento nas áreas de atração de viagens e
propostas;
sidentificação dos pontos de descontinuidade viária entre bairros ou regiões, incluindo
barreiras de transposição naturais ou artificiais e propostas;
sinstituição de programa de segurança de trânsito;
sformulação de proposta de rede de transporte coletivo integrada;
sidentificação do sistema viário de interesse para a circulação do transporte coletivo e, em
especial, dos corredores de tráfego no qual deverão ser previstas ações para a priorização
de sua circulação;
sidentificação de locais para instalação de terminais ou estações de integração ou de cone-
xão da rede de serviços de transporte coletivo, em bairros e/ou na área central;
srealização de análise pormenorizada da situação da área central ou de corredores viários
comerciais e propostas;
sinstituição de programa de segurança de trânsito.

d) Municípios com população de 250 a 500 mil habitantes

Características que influenciam a fixação dos objetivos e do universo de análise:


simportância menor da zona rural;
smédia dimensão territorial da área urbana;
scidades com maior crescimento populacional do que as demais faixas populacionais;
smodo predominante: a pé, ainda que haja uma tendência aos modos motorizados, com
destaque para o automóvel e motocicletas;
smaior participação das viagens motorizadas;
srede de transporte coletivo consolidada, com demandas por integração, em razão da maior

218
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

complexidade das atividades urbanas. Problemas de velocidade comercial ocorrem em


situações específicas;
sdistintas situações quanto à estrutura da gestão pública de transporte;
smotorização média.

Temas a serem abordados no Plano:

sintegração da mobilidade com o planejamento e ordenação do solo urbano;


sclassificação, hierarquização do sistema viário e organização da circulação;
simplantação e qualificação de calçadas e áreas de circulação a pé;
scriação de condições adequadas à circulação de ciclistas;
spriorização do transporte coletivo e implantação de sistemas integrados;
spolítica tarifária e redução do custo do transporte coletivo;
sinstrumentos para o controle e o desestímulo do transporte individual motorizado;
spromoção da acessibilidade universal;
scirculação viária em condições seguras e humanizadas;
sacessibilidade, transporte coletivo e escolar para a área rural;
stransporte de carga;
sestruturação institucional.

Aspectos metodológicos e atividades sugeridas:

Além das atividades básicas e fundamentais do Plano, sugerem-se os seguintes aspectos


metodológicos a serem considerados na formulação do plano de trabalho:

d.1) Relativas às pesquisas e aos levantamentos:

srealização de inventário da infraestrutura viária, com atenção para as condições das


calçadas e travessias;
srealização de inventário das condições de segurança de trânsito, sinalização viária e di-
mensões das vias, com atenção para a questão semafórica existente e potencial;
sidentificação das demandas de transporte na zona rural;
saplicação de pesquisas de origem e destino de viagens através de pesquisa domiciliar, ad-
mitindo-se um zoneamento com aproximadamente 40 a 60 zonas (regiões) e uma amostra
de 2.800 a 4.200 domicílios;
saplicação de pesquisa de entrevistas com veículos nos pontos de acesso à cidade
(pesquisa de linha de contorno);
saplicação de pesquisa de ocupação de veículos de transporte coletivo e individual em
pontos estratégicos dispostos na malha viária (pesquisa de linha de controle);
saplicação de pesquisa de transporte coletivo: operacional, sobe-desce, entrevistas com
usuários sobre origem e destino (a bordo dos ônibus ou nos pontos de parada);
saplicação de pesquisas com ciclistas sobre o uso da bicicleta, incluindo origens e desti-
nos, rotas e problemas enfrentados;
saplicação de pesquisas de contagem volumétrica de tráfego nos principais locais pré-
-identificados;
saplicação de pesquisa de velocidade e retardamento nas principais rotas, individualizado
para o transporte coletivo e individual.

d.2) Relativas à instrumentalização das análises:

selaboração de um zoneamento de tráfego (regiões) da cidade com características homogê-


neas de tipo de ocupação, perfil social e econômico da população e adequadas às formas

219
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

de obtenção dos dados de origem e destino (domiciliar mais origem/destino de transporte


coletivo);
sprodução de mapas temáticos com as informações obtidas;
sprodução de mapa que represente a hierarquia viária atual;
sutilização de recursos informatizados para representação da rede viária e de transporte
coletivo;
sformulação de modelo de transporte para representação da demanda e oferta de transpor-
te coletivo e individual motorizado, utilizando software de planejamento de transporte.

d.3) Relativas ao diagnóstico e prognóstico:

sidentificação das orientações da política urbana estabelecidas no Plano Diretor Urbano;


sidentificação dos vetores de crescimento urbano e das áreas de expansão populacional;
sidentificação de novos parcelamentos de solo urbano em tramitação na Prefeitura ou de
áreas de expansão para as quais haja especulação sobre futuro aproveitamento para par-
celamento;
sidentificação de novos empreendimentos empresariais, na área de comércio, serviços e
indústrias;
sidentificação de projetos existentes, com atenção para projetos de outras instâncias, como
o governo estadual;
srealização de projeção populacional para um horizonte de 15 anos ou mais e sua macroes-
pacialização de acordo com as diretrizes urbanísticas, ou tendencial com base nos dados
obtidos;
srealização de projeção das viagens de transporte coletivo para o horizonte de estudo utili-
zando o modelo de transporte;
srealização de análise da malha viária, especialmente sob o ponto de vista da sua capacida-
de de suporte para o atendimento de demandas futuras de transporte coletivo, de circula-
ção a pé e por bicicletas;
srealização de análise da regulamentação em vigor sobre os transportes, especialmente
sobre o transporte público por modos coletivos e individuais (táxi, escolar, mototáxi);
srealização de análise da organização da gestão pública do transporte, em especial preven-
do a elevação das demandas e das complexidades inerentes ao crescimento urbano.

d.4) Estudos e proposições:

sidentificação das necessidades para estímulo ao deslocamento a pé e por bicicleta de


forma segura e acessível;
sidentificação de deficiências e propostas para a melhoria do transporte escolar rural;
sdentificação dos conflitos de tráfego de passagem porventura existentes, em especial com
rodovias e ferrovias e proposição de soluções;
sidentificação da demanda de estacionamento nas áreas de atração de viagens e
propostas;
sidentificação dos pontos de descontinuidade viária entre bairros ou regiões, incluindo
barreiras de transposição naturais ou artificiais e propostas;
sinstituição de programa de segurança de trânsito;
sformulação de proposta de rede de transporte coletivo integrada;
srealização de análise do modelo tarifário do transporte coletivo;
sidentificação do sistema viário de interesse para a circulação do transporte coletivo e, em
especial, dos corredores de tráfego no qual deverão ser previstas ações para a priorização
de sua circulação;
sidentificação de locais para instalação de terminais ou estações de integração ou de cone-
xão da rede de serviços de transporte coletivo, em bairros e/ou na área central;

220
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

srealização de análise do transporte de cargas, em especial em relação à circulação de


caminhões com peso bruto elevado e de cargas perigosas;
srealização de análise da situação da área central ou de corredores viários principais;
srepresentação das alternativas de reorganização das redes de transporte coletivo e sis-
tema viário, incluindo medidas de priorização do transporte coletivo e não motorizado e
simulação de seu desempenho frente a indicadores;
srealização de estudos de viabilidade econômico-financeira das soluções estruturais
propostas.

e) Municípios com população acima de 500 mil habitantes

Características que influenciam a fixação dos objetivos e do universo de análise:

simportância menor da zona rural;


sgrande dimensão territorial da área urbana;
scidades com crescimento populacional pouco acima da média nacional, com forte
periferização;
smudança acelerada da distribuição das atividades econômicas, com descentralização;
sárea do centro histórico ainda é forte atratora de viagens, mas perde importância relativa
para outros centros regionais;
sdemanda por maior variedade de articulações entre origens e destinos é elevada, geran-
do maior complexidade de atendimento pela rede de transporte coletivo e, consequen-
temente, maior demanda pela ampliação da integração intra e entre modos de transporte.
Viagens interzonais ou transversais se acentuam;
sproblemas de circulação, congestionamentos, carência de vagas para estacionamentos
distribuem-se em maior número de locais – centros regionais e corredores;
sequilíbrio entre os modos individual não motorizado, automóveis e transporte coletivo;
sparticipação muito expressiva das viagens motorizadas;
sgrande importância da circulação de veículos para a poluição do ar e sonora;
sredes de transporte coletivo altamente complexas, com presença de modos metroferroviá-
rios. Sérios problemas relativos à prioridade de circulação para o transporte coletivo;
smaior participação pública na gestão;
spresença expressiva das questões metropolitanas;
smotorização elevada.

Temas a serem abordados no Plano:

sintegração da mobilidade com o planejamento e ordenação do solo urbano;


sclassificação, hierarquização do sistema viário e organização da circulação;
simplantação e qualificação de calçadas e áreas de circulação a pé;
scriação de condições adequadas à circulação de ciclistas;
spriorização do transporte coletivo e implantação de sistemas integrados;
sinstituição de política tarifária e redução do custo do transporte coletivo;
scriação de instrumentos para o controle e desestímulo ao transporte individual
motorizado;
spromoção da acessibilidade universal;
scirculação viária em condições seguras e humanizadas;
spromoção de acessibilidade, transporte coletivo e escolar para a área rural;
stransporte de carga;
sestruturação institucional.

221
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

Aspectos metodológicos e atividades sugeridas

Além das atividades básicas e fundamentais do Plano, sugerem-se os seguintes aspectos


metodológicos a serem considerados na formulação do plano de trabalho:

e.1) Relativas às pesquisas e levantamentos:

srealização de inventário da infraestrutura viária;


srealização de inventário das condições de segurança de trânsito;
srealização de inventário e caracterização da questão semafórica, com atenção para as
questões de centralização e coordenação;
saplicação de pesquisas de origem e destino de viagens através de pesquisa domiciliar,
com zoneamento definido para cada situação peculiar, com 160 a 200 zonas (até 5 milhões
de habitantes), isto é, de 11 mil a 14 mil domicílios;
saplicação de pesquisa de entrevistas com veículos nos pontos de acesso à cidade (pesqui-
sa de linha de contorno);
saplicação de pesquisa de ocupação de veículos de transporte coletivo e individual em pon-
tos estratégicos dispostos na malha viária (pesquisa de linha de controle);
saplicação de pesquisa de transporte coletivo: operacional, sobe-desce, entrevistas com
usuários sobre origem e destino (a bordo dos ônibus ou nos pontos de parada);
saplicação de pesquisa de movimentação em estações de embarque e desembarque de
sistemas metroferroviários (se for o caso);
saplicação de pesquisas com ciclistas sobre o uso da bicicleta, incluindo origens e destinos,
rotas e problemas enfrentados;
saplicação de pesquisas de contagem volumétrica de tráfego nos principais locais pré-iden-
tificados;
sPesquisa de velocidade e retardamento nas principais rotas, individualizado para o trans-
porte coletivo e individual.

e.2) Relativas à instrumentalização das análises:

selaboração de um zoneamento de tráfego (regiões) da cidade com características homogê-


neas de tipo de ocupação, perfil social e econômico da população e adequadas às formas
de obtenção dos dados de origem e destino (domiciliar mais origem/destino de transporte
coletivo);
sprodução de mapas temáticos com as informações obtidas;
sprodução de mapa que represente a hierarquia viária atual;
sutilização de recursos informatizados para representação da rede viária e de transporte
coletivo;
sformulação de modelo de transporte para representação da demanda e oferta de transpor-
te coletivo e individual motorizado, utilizando software de planejamento de transporte.

e.3) Relativas ao diagnóstico e prognóstico:

sidentificação das orientações da política urbana estabelecidas no Plano Diretor Urbano;


sidentificação dos vetores de crescimento urbano e das áreas de expansão populacional;
sidentificação de novos parcelamentos de solo urbano em tramitação na Prefeitura ou de
áreas de expansão para as quais haja especulação sobre futuro aproveitamento para par-
celamento;
sidentificação de novos empreendimentos empresariais, na área de comércio, serviços e
indústrias;

222
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

sidentificação de tendências de verticalização e aumento da densidade urbana em áreas da


cidade;
sidentificação de áreas com modificações de uso do solo (renovação);
sidentificação de projetos existentes, com atenção para projetos de outras instâncias,
como o governo estadual;
srealização de projeção populacional para um horizonte de 15 anos ou mais e sua macroes-
pacialização de acordo com as diretrizes urbanísticas, ou tendencial com base nos dados
obtidos;
sprojeção das viagens de transporte coletivo para o horizonte de estudo utilizando o mode-
lo de transporte;
srealização de análise da malha viária, especialmente sob o ponto de vista da sua capa-
cidade de suporte para o atendimento de demandas futuras de transporte coletivo, de
circulação a pé e por bicicletas;
srealização de análise da regulamentação em vigor sobre os transportes, especialmente
sobre o transporte público por modos coletivos e individuais (táxi, escolar, mototáxi);
srealização de análise dos aspectos metropolitanos (se for o caso) com atenção para a
questão da rede de transporte coletivo e o sistema viário de interesse metropolitano;
srealização de análise da organização da gestão pública do transporte, em especial preven-
do a elevação das demandas e das complexidades inerentes ao crescimento urbano.

e.4) Estudos e proposições:

sidentificação das necessidades para estímulo ao deslocamento a pé e por bicicleta de


forma segura e acessível, se for o caso;
sidentificação de deficiências e propostas para a melhoria do transporte escolar rural, se
for o caso;
sidentificação dos conflitos de tráfego de passagem porventura existentes, em especial
com rodovias e ferrovias e proposição de soluções;
sidentificação das necessidades de estacionamento nas áreas de atração de viagens e
propostas;
sidentificação dos pontos de descontinuidade viária entre bairros ou regiões, incluindo
barreiras de transposição naturais ou artificiais e propostas;
sformulação de proposta de rede de transporte coletivo integrada;
sformulação de propostas de serviços estruturais de transporte coletivo baseados no uso
de tecnologias de média e/ou alta capacidade de transporte;
srealização de análise do modelo tarifário do transporte coletivo e de integração entre
serviços;
sidentificação do sistema viário de interesse para a circulação do transporte coletivo e, em
especial, dos corredores de tráfego no qual deverão ser previstas ações para a priorização
de sua circulação;
sidentificação de locais para instalação de terminais ou estações de integração ou de cone-
xão da rede de serviços de transporte coletivo, em bairros e/ou na área central;
savaliação das condições dos terminais de transporte coletivo existentes e propostas de
melhoria, caso necessárias;
srealização de análise do transporte de cargas, em especial em relação à circulação de
caminhões com peso bruto elevado e de cargas perigosas;
srealização de análise da situação da área central e dos corredores viários principais;
srealização de análises de reorganização viária para separação de fluxos de passagem e de
acesso local;
savaliação de medidas para restrição ao transporte individual;
srepresentação das alternativas de reorganização das redes de transporte coletivo e siste-

223
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

ma viário, incluindo medidas de priorização do transporte coletivo e não motorizado e


simulação de seu desempenho frente a indicadores;
srealização de estudos de viabilidade econômico-financeira das soluções estruturais
propostas;
savaliação de alternativas para a realização de operações urbanas, parcerias público-priva-
das e outros instrumentos para a captação de investimentos no sistema de transporte,
caso seja necessário.

f) Municípios em regiões metropolitanas e demais obrigados pela


Lei n. 12.587/2012

Os municípios em regiões metropolitanas e demais obrigados pela Lei n. 12.587/2012 per-


tencem aos extratos cujos roteiros foram apresentados anteriormente.

Do ponto de vista da dimensão que a mobilidade assume nestas localidades, valem as


observações já citadas e os indicativos metodológicos correspondentes, entretanto, tal
inserção geopolítica resulta em implicações adicionais a serem contempladas.

Para estes municípios recomendam-se, independente do seu porte, as seguintes


atividades de análise adicionais:

sidentificação dos fluxos veiculares de passagem de característica metropolitana (origem e


destino externos ao município) e mensuração de seu impacto no nível de solicitação do
sistema viário;
sidentificação da rede de transporte coletivo metropolitano (intermunicipal) que serve ao
município;
sidentificação da dependência da população pelo transporte coletivo metropolitano (ori-
gem interna com destino externo);
srealização de pesquisa de transporte nas linhas metropolitanas para verificação da parcela
de demanda municipal transportada nestas linhas;
srealização de análise da sobreposição física dos trajetos da rede de transporte coletivo;
srealização de análise do modelo tarifário e dos custos de deslocamentos da população;
srealização de análise da regulamentação de transporte intermunicipal e do modelo institu-
cional em vigor, e seu reflexo na capacidade de atuação do Poder Executivo municipal;
sproposição de soluções de serviços de transporte coletivo coordenados e integrados, en-
volvendo o transporte municipal e intermunicipal;
sidentificação de áreas de tráfego local a serem preservadas mediante projetos de trânsito
calmo ou restrições de circulação;
sidentificação das necessidades para estímulo ao deslocamento a pé e por bicicleta de
forma segura e acessível;
sproposição de modelos de articulação institucional para a cogestão do transporte inter-
municipal;
sproposição de modelos de compartilhamento de investimentos entre instâncias adminis-
trativas (município e estado).

224
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

Quadro 10 – Incidência provável de tema por classe de cidades.

20 A 60 A 100 A 250 A + DE
TEMAS 60 100 250 500 500
MIL MIL MIL MIL MIL

Integração da mobilidade com o


planejamento e ordenação do
solo urbano
s s s s s

Classificação, hierarquização do
sistema viário e
organização da circulação
s s s s s

Implantação e qualificação de calçadas


e áreas de circulação a pé s s s s s

Criação de condições adequadas à


circulação de ciclistas s s s s s

Priorização do transporte coletivo e


implantação de sistemas integrados s s s s

Política tarifária e redução do custo do


transporte coletivo urbano s s s

Instrumentos para o controle e o


desestímulo ao transporte individual
motorizado
s s

Promoção da acessibilidade universal s s s s s


Circulação viária em condições seguras
e humanizadas s s s s s

Acessibilidade, transporte coletivo e


escolar para a área rural s s s s s

Transporte de carga s s

Estruturação institucional s s s s s
Fonte: elaboração própria.

Observações:
1- o tema “Priorização do transporte coletivo e implantação de sistemas integrados”, para os municípios de 60
mil a 100 mil habitantes, aplica-se, basicamente, na elaboração de análises técnicas e ações voltadas à qualifi-
cação das vias e equipamentos do transporte coletivo;
2- todos os temas se aplicam aos grupos de municípios de 250 mil a 500 mil e acima de 500 mil habitantes, o
que muda é o nível de profundidade dos estudos.

225
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

8.4. Instituição do Plano de ção política entre os diversos segmentos da


Mobilidade Urbana sociedade, até a proposição de soluções. Deste
modo, ficam duplamente comprometidos com
O Plano de Mobilidade Urbana é bem mais do
a proposta final: com a sua visão conceitual e
que os seus produtos: trata-se de um processo
com as propostas concretas formuladas.
de mobilização e de envolvimento de toda a
sociedade na formulação de políticas que visam
A segunda preocupação apontada acima vem
propiciar melhor qualidade de vida, mais equi-
exatamente no sentido inverso, levando para
dade, melhores condições para um desenvolvi-
o Legislativo a articulação social que gerou a
mento econômico e urbano sustentável. Ainda
proposta encaminhada para sua aprovação.
que não obrigatória, a sua institucionalização
Em todas as atividades de iniciativa própria
dentro do Plano Diretor ou mediante projeto de
do Legislativo, para a análise e para aprovação
lei específico é altamente recomendada, para
do projeto encaminhado pelo Executivo, deve
consolidar as diretrizes e os instrumentos de
ser realizado um esforço de mobilização social
sua implementação.
dos setores envolvidos na elaboração do Plano,
fazendo reuniões com vereadores para esclare-
Duas preocupações devem estar presentes na
cimento de dúvidas ou discussão de propostas
institucionalização: o envolvimento dos verea-
de emendas e acompanhando as audiências pú-
dores na elaboração do Plano e o envolvimento
blicas, os trabalhos das comissões e, evidente-
da população na sua aprovação pela Câmara
mente, as sessões de votação do projeto de lei.
Municipal. Assim, deve ser buscada a partici-
pação do maior número possível de vereadores
Além da consolidação das diretrizes do Plano de
nas etapas intermediárias de discussão dos
Mobilidade Urbana em uma lei geral, é provável
problemas, de formulação dos objetivos e
que do processo de análise e discussão dos
das estratégias, de análise dos dados e das
elementos que constituem a política de mobi-
condicionantes da mobilidade urbana, de
lidade urbana surja a necessidade de outros
formulação das propostas e da proposição das
instrumentos normativos, mais específicos, tais
diretrizes e dos instrumentos de gestão. Isso
como a elaboração ou a revisão da legislação
permite que os parlamentares aprofundem o
municipal relativa a um ou mais dos serviços
seu conhecimento dos problemas, compreen-
de transporte público, a formulação de uma lei
dam as dinâmicas e as questões estruturais da
disciplinando o processo de aprovação da ins-
organização dos serviços envolvidos e enten-
talação de polos geradores de viagens e outras
dam a complexidade da sua provisão.
tantas possibilidades. Algumas destas medidas
Os vereadores devem participar desde o início
poderão ser implementadas com ações unila-
da formulação de estratégias, da negocia-
terais do Poder Executivo (decretos, portarias,

226
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

resoluções, especificações técnicas etc.), outras e competências claras para a coordenação das
devem ser submetidas às Câmaras Municipais. atividades programadas no Programa de Ação e
no acompanhamento da execução do Plano.
Dispositivos complementares tendem a ser
mais específicos, uma vez que são dirigidos a A manutenção em funcionamento da Comissão
problemas localizados, onde os conflitos de in- Executiva, constituída para a elaboração do Pla-
teresses podem ser mais pontuais, porém mais no, redimensionada para um volume menor de
acirrados. De um lado, os segmentos envolvi- atividades, é interessante, mas não suficiente.
dos diretamente em cada matéria tendem a se A Administração Municipal deve constituir,
mobilizar para maximizar os seus benefícios; de dentro de sua estrutura organizacional, uma
outro, a Administração Municipal pode sentir unidade responsável pela coordenação das
dificuldade em conseguir apoio de outros se- atividades de implantação, acompanhamento,
tores da sociedade, que não se sintam direta- monitoramento, prestação de contas para a
mente beneficiados pelas medidas. Mais uma sociedade, análise dos resultados e proposi-
vez, o envolvimento de todos os segmentos da ção de ajustes nos processos. Esta unidade
sociedade no diagnóstico dos problemas, na pode ser o órgão responsável pela gestão das
seleção de alternativas e na escolha das medi- políticas de mobilidade urbana, com orientação
das a serem tomadas, mesmo as de importân- mais técnica, ou outra instância que for mais
cia secundária, é a melhor forma de conseguir conveniente. Seja qual for a solução adotada, o
apoio político para as mudanças necessárias e fundamental é destacar a importância da de-
minimizar as reações contrárias. signação formal de competências e de respon-
sabilidades para esta unidade, devendo isso
Outro aspecto importante que deve ser con- ser tratado também como parte da institucio-
siderado como parte da institucionalização nalização do Plano de Mobilidade Urbana.
do Plano de Mobilidade Urbana é a definição,
dentro da Administração Municipal, dos res- É recomendável que a Administração Municipal
ponsáveis pela sua implementação. As equipes aprove integralmente o Plano e legitime todo
técnicas envolvidas na preparação do Plano, o processo técnico e participativo realizado.
principalmente os profissionais e consultores A instituição do Plano de Mobilidade Urbana,
contratados para tarefas específicas, serão des- através de uma lei específica, é a garantia de
mobilizadas e seus integrantes, quando do qua- sua continuidade, superando as frequentes
dro próprio de pessoal, assumirão naturalmente descontinuidades das sucessões políticas, res-
outras tarefas. Porém, deve ser mantido um peitando, desta forma, todos os que participa-
responsável, ou uma equipe, com atribuições ram da sua construção.

227
8 Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana

228
Processo de Construção do Plano de Mobilidade Urbana 8

09

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
229
9 Referências Bibliográficas

CAPÍTULO 2

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1 Apresentação

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