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Distribuição
Física:
Conceitos e
Condicionantes
CONCEITUAÇÃO
A cadeia de distribuição clássica é formada por um canal de um nível, isto é,
entre o fabricante e o consumidor existe um único intermediário, o varejista.
Uma vez definidos os canais de distribuição, conforme discutido no Capítulo
4, torna-se necessário detalhar o processo logístico que concretizará, na prá-
tica, o projeto mercadológico selecionado.
O objetivo geral da distribuição física, como meta ideal, é o de levar os
produtos certos para os lugares certos, no momento certo e com o nível de
serviço desejado, pelo menor custo possível. Há um certo antagonismo em
garantir um nível de serviço elevado, ao mesmo tempo em que se pretende
reduzir custos. Isso porque as possíveis melhorias no sistema, de uma forma
geral, implicam custos maiores de transporte, de armazenagem e de estoque.
Essa visão, no entanto, está presa ao conceito de valor agregado, quando a
forma correta de focalizar o problema é através da cadeia de valor, conforme
discutido no Capítulo 7. No primeiro caso, as empresas que formam a cadeia
de suprimento procuram otimizar apenas as atividades que lhes tocam dire-
tamente, enquanto, no moderno gerenciamento da cadeia de suprimento, o
enfoque é o sistema no seu todo.
No estudo de caso da trading Li & Fung, de Hong Kong (Capítulo 2),
vimos que a empresa procura atuar sobre os “3 dólares soft”, que compre-
endem as despesas ao longo da distribuição, contra “1 dólar hard”, que
corresponde aos custos de fabricação do produto. Nas palavras de Victor 241
Fung, reduzir as despesas de produção de 10 ou 20 centavos de dólar por
unidade é uma tarefa quase impossível hoje, pois todas as empresas já vêm
realizando campanhas de racionalização de custos há um certo tempo,
não sobrando muito espaço para reduções adicionais. Mas, atuando sobre
os “3 dólares soft”, ainda é possível conseguir reduções de custos apreciá-
veis, racionalizando, para isso, os processos logísticos que participam do
Supply Chain.
A distribuição física cobre os segmentos que vão desde a saída do pro-
duto na fábrica até sua entrega final ao consumidor. Algumas vezes, o produ-
to é despachado da fábrica para o depósito de um atacadista. Noutras vezes,
o produto é transportado do fabricante para o centro de distribuição do va-
rejista. São também comuns os casos em que o fabricante abastece direta-
mente a loja de varejo. Na prática, podem também ocorrer outros esquemas
de distribuição física, mas os mencionados são os mais comuns.
Em muitas atividades varejistas o produto é entregue diretamente ao
consumidor na loja, no ato da compra. Mas há muitos casos em que o produto
é entregue posteriormente ao comprador em seu domicílio, seja porque é
volumoso ou pesado (uma geladeira ou uma televisão, por exemplo), seja
porque o varejista oferece esse serviço ao cliente, principalmente nos casos em
que a aquisição é feita via fax, Internet ou outra forma remota de compra.
1
Embarcador é um termo usado no Brasil para designar todo aquele que despacha mercadoria uti-
lizando um meio de transporte qualquer ou um operador logístico. Corresponde ao termo ship-
242 per, em inglês.
ponder ao menor custo total de transporte de porta a porta, respeitados, no
entanto, os limites mínimo e máximo de tempo (janela de tempo). Ou seja,
para a montadora em Detroit não interessa receber os componentes muito
cedo, pois isso a obrigaria a estocar, controlar, fiscalizar o material recebido,
atividades essas que geram custos, mas também não pode receber os compo-
nentes além do prazo, o que acarretaria problemas e eventuais paralisações
na linha de produção. Há assim uma flexibilidade modal para o embarcador,
flexibilidade essa que pode ser utilizada sempre que houver um elenco de al-
ternativas disponíveis.
Mas as possibilidades de otimização do transporte combinado não se
exaurem aqui. O computador vai analisando dia a dia as alterações não
previstas nas modalidades envolvidas: atrasos, greves, problemas meteoro-
lógicos etc. O sistema revê os custos e os novos tempos previstos, mudando a
programação de forma a mantê-la de acordo com a janela de tempo inicial-
mente estabelecida. Por exemplo, se a carga já está num navio a caminho de
Nova York, mas com atraso, e a conexão prevista era a ferroviária, o sistema
pode reprogramar o segmento terrestre para agora ser feito por rodovia, que
é mais rápido, embora com frete mais caro. Ou seja, a rede de transporte
multimodal oferece também uma flexibilidade temporal, de grande valia
para os embarcadores.
A conjugação da flexibilidade modal com a temporal dá aos embar-
cadores grandes vantagens, pois podem lançar mão de modos de menor con-
fiabilidade, mas de menor custo, refazendo suas programações sempre que
for necessário. Aqui é importante introduzir duas definições. Os especialis-
tas da área costumam utilizar o termo transporte intermodal para designar a
conjugação de duas ou mais modalidades sem maiores preocupações além da
simples integração física e operacional. Por exemplo, um produto pode ser
embarcado num navio de cabotagem no Rio de Janeiro, descarregado no
porto de Recife e de lá ser transportado por caminhão até seu destino final,
digamos Garanhuns. Já o termo transporte multimodal designa muito mais
do que uma simples inter-relação física: envolve a integração de responsabi-
lidades (integridade da carga, seguro etc.), de conhecimento (o documento
de despacho que acompanha a carga), de programação (horários combina-
dos, cumprimento dos mesmos etc.), de cobrança do frete e demais despesas
etc. Na verdade, quando se alcança um estágio de transporte multimodal,
toda a integração entre as modalidades fica transparente para o embarcador.
O agente de transporte, ou operador logístico, faz a escolha das modalidades
de forma integrada, cotejando os possíveis ganhos de custo e as exigências de
prazos e de segurança necessárias.
No Brasil, não temos essa disponibilidade de opções modais. Nossas
ferrovias não formam uma rede com boa cobertura do território nacional. As
opções de transporte marítimo também não são amplas. Na distribuição in- 243
terna, a esmagadora parte do transporte de produtos manufaturados é cons-
tituída pelo transporte rodoviário. Para os embarcadores, restam poucas op-
ções de transporte conjugado, levando ao uso intensivo de apenas um deles,
o rodoviário. Se fizermos uma análise ABC dos fluxos de carga transporta-
dos no Brasil, expressos em toneladas/quilômetro, vamos observar que o
transporte rodoviário corresponde ao grupo A, a ferrovia forma o grupo B, e
as demais modalidades, juntas, constituem o grupo C. A seguir, vamos anali-
sar as características mais importantes das diversas modalidades de interesse
para a distribuição de produtos. Não abordamos o transporte dutoviário por
ser muito específico, de interesse bem mais restrito.
Transporte Rodoviário
Na América do Norte são usadas as siglas FTL (full truck load) e LTL (less
than truck load) para indicar as duas formas mais usadas de transporte de
carga. A primeira sigla indica um carregamento completo, ou seja, o veículo
é carregado totalmente com um lote de despacho. No segundo caso, a capa-
cidade do veículo é compartilhada com a carga de dois ou mais embarcado-
res. No Brasil, costumamos chamar de lotação completa o primeiro caso, e
de carga fracionada o segundo.
Operacionalmente, há grandes diferenças entre essas duas formas de
transporte de carga. No caso da carga fracionada, a operação mais comum é
formada por diversas etapas, a saber:
Transporte Aquaviário
O transporte aquaviário, como sua denominação indica, envolve todos os ti-
pos de transporte efetuado sobre a água. Inclui o transporte fluvial e lacustre
(aquaviário interior) e o transporte marítimo. Este último pode ser dividido
em transporte marítimo de longo curso, que envolve as linhas de navegação
ligando o Brasil a outros países mais distantes, e a navegação de cabotagem,
que cobre a nossa costa. A navegação de cabotagem, por sua vez, é dividida
em pequena cabotagem, cobrindo apenas os portos nacionais, e a grande ca-
botagem, que corresponde às ligações marítimas com países próximos,
como, por exemplo, Uruguai e Argentina.
Há muitos tipos de navios cargueiros, dependendo do tipo de carga e das
características da rota. Um navio cargueiro típico que vemos nos nossos portos é
o navio de carga geral. Grande parte das mercadorias despachadas por via marí-
tima não pode ser movimentada como carga a granel, pois alguns tipos não são
passíveis de ser manuseados por equipamento automático de transbordo, e ou-
tros são transportados em pequenas quantidades. Tomemos o exemplo do que-
rosene, que pode ser transportado a granel se houver grandes lotes a despachar,
mas é usualmente transportado em latas, que por sua vez vão acondicionadas
em caixas ou pallets, quando são destinadas ao comércio varejista.
Hoje, grande parte da carga geral, no transporte marítimo de longo
curso, é deslocada em contêineres, que são caixas metálicas padronizadas de
diversos tipos. Os contêineres padrões mais comuns têm 12 pés de compri-
mento (cerca de 3,60m) ou 24 pés. 247
O termo carga geral representa qualquer produto que vai embalado ou,
no caso de ir solto, que pode ser acomodado junto com outras cargas. Por
exemplo, produtos comestíveis enlatados são transportados geralmente em
caixas, na forma paletizada ou não, e podem ser estivados (arrumados) nos
porões ou cobertas do navio. Barras de aço, por outro lado, não são embaladas
em recipientes, mas podem ser estivadas na embarcação junto com outros pro-
dutos. Na prática, há produtos que não podem ser estivados próximo, como,
por exemplo, produtos alimentícios juntamente com produtos químicos.
Outro tipo de embarcação bastante utilizada é o navio graneleiro, volta-
do ao transporte de produtos sólidos a granel, como soja, milho, minério de
ferro e carvão. Esse tipo de produto, em razão de suas características físicas e
de valor unitário, não precisa ser acondicionado em recipientes. Tira-se van-
tagem dessa condição fazendo o carregamento do produto através da gravi-
dade, o que agiliza e barateia as operações. Isso é feito utilizando-se dutos ou
esteiras rolantes, que vão despejando a carga diretamente nos porões, sem
necessidade do auxílio de guindastes. Na operação inversa, isto é, na descar-
ga do produto, utilizam-se grabs1 para o caso de minérios, carvão etc., e du-
tos sugadores para grãos. Há também os navios petroleiros, voltados a uma
série de insumos e produtos a granel, como o óleo bruto e a gasolina, álcool,
óleo diesel etc.
Hoje também são comuns, no transporte marítimo, navios construídos
especialmente para deslocar produtos específicos. Por exemplo, no trans-
porte de bobinas de papel, automóveis etc., há um tipo de embarcação deno-
minada box-shaped (com forma de caixa), em que o casco apresenta linhas
mais retas, permitindo melhor estivagem da carga. É também dotada de ram-
pas, dando condições para que os veículos e empilhadeiras entrem e saiam
rodando. Por isso denomina-se também navio roll-on, roll-off.
Em termos comerciais e econômicos é muito importante distinguir dois
tipos básicos de transporte marítimo de longo curso. De um lado há o trans-
porte conferenciado, formado pelas empresas regulares de navegação que
oferecem transporte de carga geral convencional e de contêineres. O comér-
cio marítimo entre as nações originou-se em tempos remotos, formando re-
gras e práticas nem sempre justas e equânimes, muitas vezes baseadas na lei
do mais forte. O princípio fundamental desse tipo de comércio é a liberdade
dos mares. Por isso, qualquer navio, de qualquer nação ou bandeira,3 desde
2
Grabs são caçambas de volume apreciável que operam acopladas a guindastes, apanhando uma
quantidade razoável de carga por ciclo, desde o porão do navio até um veículo (vagão, caminhão)
ou recipiente apropriado (moega ou esteira rolante, por exemplo).
3
Nem sempre a bandeira de um navio, que indica o país onde o navio foi registrado, corresponde
à nação onde está localizada a sede da empresa de navegação (armadora). Há países, denominados
genericamente de bandeiras de conveniência, como Panamá e Libéria, que oferecem vantagens fis-
248 cais para que as empresas de navegação lá registrem seus navios mercantes.
que respeite as regras de segurança, pode, em princípio, entrar e sair de qual-
quer porto, carregando e descarregando mercadorias previamente escolhi-
das e cobrando as taxas de frete que seu armador estipular. Essa liberdade di-
ficulta a ação dos governos no sentido de implantar uma regulamentação
mais rígida do transporte marítimo e das taxas de frete.
No caso do transporte marítimo regular (carga geral) não existe uma
entidade internacional independente que regule o processo, como faz a
IATA no caso do transporte aéreo. As empresas de navegação que realizam
serviços regulares se reúnem em associações, que recebem o nome genérico
de conferências de fretes. Daí a expressão transporte marítimo conferencia-
do. O termo conferência, que vem do inglês conference, indica simplesmente
uma associação com objetivos comuns. Fazem parte de uma determinada
conferência de fretes as empresas de navegação que mantêm linhas de nave-
gação atendendo uma mesma região geográfica ou rota mercante. As carac-
terísticas básicas do serviço de transporte marítimo conferenciado são:
Transporte Aéreo
A expressão “transporte aéreo” nos dá a ideia imediata do transporte de pas-
sageiros, tal é sua importância nos dias de hoje. O cidadão comum não visuali-
za imediatamente que, no setor de transporte de carga, principalmente interna-
cional, a modalidade aérea ocupa um espaço muito importante e apresenta
forte tendência de crescimento no mundo todo. Além de transportar carga
com velocidades muito superiores às demais modalidades, o transporte aéreo
apresenta níveis de avarias e extravios mais baixos, resultando em maior segu-
rança e confiabilidade. Por essa razão, não somente produtos de alto valor
agregado, tais como eletrônicos e aparelhos de precisão, são transportados
por avião, como também uma série de produtos sensíveis à ação do tempo,
como alimentos perecíveis, flores, encomendas, correspondência etc.
A importância do transporte aéreo na Logística aumentou muito com a
globalização, pois agora as cadeias produtivas estenderam suas ramificações
pelo mundo todo, e muitas vezes o fornecimento de componentes e a distri-
buição de produtos não podem ficar dependendo do transporte marítimo,
principalmente quando os embarcadores não conseguem níveis de confiabi-
lidade satisfatórios nos prazos de entrega.
Nos últimos trinta anos foram observadas mudanças sensíveis no trans-
porte aéreo mundial. De um lado, a expectativa da utilização do avião super-
sônico no transporte aéreo se frustrou. De fato, com o crescente congestio-
namento nas grandes cidades, de nada adianta ganhar umas poucas horas
durante o voo quando o acesso ao aeroporto, as longas filas no check-in e as
esperas na imigração consomem cada vez mais tempo nas viagens.
Os fabricantes de aviões comerciais preferiram percorrer outros cami-
nhos. Desenvolveram os aviões de fuselagem larga (wide-body), que trouxe-
ram melhores perspectivas para o transporte de mercadorias, agilizando o
processo de carga e descarga dos aviões e aumentando o volume interno útil.
Os níveis de confiabilidade das aeronaves e de seus equipamentos foram sen-
sivelmente melhorados, a tal ponto que os aviões permanecem parados por
pouco tempo para manutenção e revisão. Isso aumenta apreciavelmente o 251
nível de utilização da aeronave, reduzindo os custo unitários de transporte.
Hoje, estão sendo utilizados materiais mais resistentes e mais leves na fabri-
cação dos aviões (fibras reforçadas de carbono, por exemplo), reduzindo
também o peso próprio e aumentando a capacidade de carga das aeronaves.
Na parte operacional, têm sido implantados processos práticos para
agilizar a movimentação da carga nos terminais. Por exemplo, existem
aviões para os quais se pode converter rapidamente a configuração interna,
de passageiro para cargueiro e vice-versa, permitindo que a empresa aérea
utilize o avião com mais flexibilidade, obtendo maior receita e amortizando
os custos. Esse tipo de avião é muito utilizado no transporte de correio e de
encomendas. São comuns também as versões combi, em que uma parte do
avião é destinada aos passageiros, e a carga é acondicionada separadamente.
A utilização dos porões de aeronaves de passageiros para o transporte de car-
ga também é muito comum.
Os aviões exclusivos para transporte de carga foram dotados de portas
amplas e rampas de acesso para veículos e contêineres. A capacidade de car-
ga desses aviões é apreciável para esse tipo de transporte. Um cargueiro
MD-11, por exemplo, pode transportar até 92 toneladas de carga, e o
Boeing 747, até 112 toneladas. Já o Antonov 223, o maior cargueiro do
mundo, leva até 250 toneladas de carga.
As turbinas dos jatos de hoje são mais eficientes, mais econômicas e me-
nos barulhentas. É verdade que, no Brasil, as empresas de transporte aéreo
de carga utilizam, na sua maioria, antigas aeronaves de transporte de passa-
geiros, já tecnologicamente ultrapassadas, com níveis de ruído elevados.
Mas o tráfego aéreo desse tipo de avião não é tão intensivo, o que reduz os
possíveis impactos negativos. No Brasil, o transporte aéreo é regulamentado
e controlado pela ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil.
4
Sistema de Informações Geográficas. 253
Hoje, grande parte das atividades de distribuição é planejada, progra-
mada e controlada por meio de softwares aplicativos, que ajudam na prepa-
ração dos romaneios de entrega, roteirização dos veículos, controle dos pe-
didos, devoluções, monitoramento da frota, além de outros. Esses softwares
funcionam em computadores (hardware) especificamente instalados para
isso ou, seguindo tendência moderna, centralizados num sistema computa-
cional abrangente, muitas vezes como parte de pacotes de gerenciamento
amplos, do tipo genericamente denominado ERP (Enterprise Resource
Planning). Outros tipos de hardware são também empregados na distribuição
de produtos, tais como sistemas do tipo GPS para monitoramento da frota
de veículos, computadores de bordo, scanners, coletores de dados de radio-
frequência, entre outros.
O sexto elemento necessário para operar de forma competitiva um sis-
tema de distribuição física é a disponibilidade de uma estrutura de custos
adequada e constantemente atualizada. Tradicionalmente, no Brasil, as
transportadoras, de um lado, e os departamentos de transporte das indústrias
e das empresas comerciais, de outro, estavam mais acostumados a trabalhar
com uma situação muito específica de deslocamento de carga, situação essa
denominada transferência de produtos, quando um carregamento em lota-
ção completa é deslocado de um ponto A para outro ponto B. Nesses casos, e
para distâncias entre A e B não muito curtas, o custo do transporte, para um
determinado tipo de produto, é quase totalmente explicado pela distância e
pela quantidade de carga deslocada. Mesmo no caso de carga fracionada, em
que os lotes despachados não lotam o veículo, é comum se cobrar o frete em
função da distância e da quantidade de carga.
Na distribuição física, por outro lado, são bastante comuns roteiros com-
partilhados por vários clientes, com o veículo realizando uma sequência de en-
tregas numa única viagem. Há clientes que demoram muito tempo para receber
a mercadoria, forçando o veículo e sua equipagem a esperar em fila por longos
períodos ou empregando rotinas excessivamente burocráticas na recepção do
pedido. Essas práticas não implicam nenhum aumento na quilometragem per-
corrida pelo veículo, mas oneram o custo do serviço como resultado das horas
inativas do pessoal e do equipamento alocado à distribuição física.
No caso dos operadores logísticos (Capítulo 9), que estão sendo solici-
tados pela indústria e pelo comércio a desempenhar funções logísticas ante-
riormente realizadas pelas empresas-clientes, a determinação do custo de um
sem-número de atividades novas também passou a exigir um enfoque especí-
fico. Torna-se necessário, assim, adotar uma estrutura de custos mais eficaz
para os serviços logísticos associados à distribuição física de produtos. Hoje,
o emprego de formas de custeio modernas, como o ABC (Activity Based Cos-
ting), está se tornando um imperativo, razão por que damos certo destaque a
esse assunto no presente texto (Capítulo 11).
254
Finalmente, para que um sistema de distribuição física funcione a con-
tento e de forma competitiva, é necessário dispor de pessoal devidamente ca-
pacitado e treinado. Com a sofisticação dos equipamentos e do tratamento
da informação nas atividades logísticas nos dias de hoje, torna-se necessário
reciclar o elemento humano em todos os níveis. O motorista e seu ajudante,
ao fazerem uma entrega, têm contato direto com o cliente e, se mal orienta-
dos ou mal treinados, podem transmitir imagem negativa sobre a empresa
para a qual trabalham. Da mesma forma, os empregados que trabalham no
centro de distribuição e noutras atividades correlatas precisam estar a par
dos conceitos básicos de Logística, de forma a desempenhar suas tarefas em
sintonia com os objetivos estratégicos da empresa. A própria administração
da empresa deve se reciclar permanentemente, devido às mudanças constan-
tes que se observam na estratégia e nas operações das organizações.
Elementos Básicos
A distribuição “um para um”, ou transferência de produtos, é influenciada
por 14 fatores, quando encarada sob o ponto de vista logístico. São eles: 255
G distância entre o ponto de origem e o ponto de destino;
G velocidade operacional;
G tempo de carga e descarga;
G tempo porta a porta;
G quantidade ou volume do carregamento (medida em toneladas, me-
tros cúbicos, pallets etc.);
G disponibilidade de carga de retorno;
G densidade da carga;
G dimensões e morfologia das unidades transportadas;
G valor unitário;
G acondicionamento (carga solta, paletizada, a granel etc.);
G grau de fragilidade;
G grau de periculosidade;
G compatibilidade entre produtos de natureza diversa;
G custo total.
5
Os valores monetários apresentados no texto servem apenas um objetivo didático, não devendo
260 ser encarados como reais.
escolha do caminhão fosse deixada a critério da transportadora, o veículo
mais econômico seria o maior de todos, no caso, o rodotrem de 45 toneladas.
E do lado do fabricante e do varejista, como é que a escolha do veículo se
reflete nos custos de estoque? O custo de estoque num dos extremos da cadeia
(digamos, no depósito do fabricante) pode ser aproximadamente calculado
conforme mostra a Figura 8.2. Sendo L o lote de remessa do produto e ES o es-
L
toque de segurança, o estoque médio é igual a + ES O estoque de segurança
2
pode ser estimado através de um coeficiente corretivo fS > 1. Assim, o estoque
L
médio é expresso por (1 + fS). O custo de estoque num dos extremos (diga-
2
mos, no depósito do fabricante) pode ser calculado através da expressão:
261
110
100
L
CD = custo anual de estoque no fabricante = (1 + fS) × v × j (8.2)
2
L
CE = custo anual de estoque nas duas pontas (1 + fS) × v × j (8.3)
44
Q× v × T × j
262 CT = , (8.4)
365
Estoque
L
Estoque
médio
Estoque de
segurança
t
FIGURA 8.2 • Variação do nível de estoque no depósito do fornecedor
W
Custo anual de estoque = 7.108,60 (1 + fS) × v × j (8.5)
44
2500
2000
Custo anual (1.000 reais)
1500
Veículo
menor custo
1000
Custo total
500
Custo de estoque Custo de transporte
0
0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000
Elementos Básicos
A distribuição “um para muitos” é influenciada por 15 fatores, quando enca-
rada sob o ponto de vista logístico. São eles:
265
Região
servida
Bolsão
Percurso até
o bolsão CD (depósito)
Escolha do Veículo
No caso da distribuição “um para muitos”, a escolha do tipo de veículo mais
apropriado para um determinado serviço depende de vários fatores, desta-
cando-se os seguintes:
*Caminhão com 7.800kg úteis, com custos unitários indicados na Tabela 8.2.
**Caminhão com 3.800kg úteis, com custos unitários indicados na Tabela 8.2.
+
+
+
Custo unitário (R$/visita)
+
+ +
+
3,5 + +
+
+ +
d = 5 visitas/km2 +
+
+
d = 10 visitas/km2 + +
+ d = 15 visitas/km2
3,0 +
+ +
+
+ +
+ + Tráfego
+
+
+
Tráfego urbano
2,5 urbano +
interurbano
2,0
0 5 10 15 20 25 30
Distância do bolsão ao depósito (km)
FIGURA 8.5 • Custos unitários, exemplo de distribuição de bebidas
1,6
+
1,5 +
+
Custo unitário (R$/visita)
+ +
+
+ +
1,4 +
+ +
+
d = 5 visitas/km2 + +
1,3 +
+
d = 10 visitas/km2 +
+
+
1,2 +
+
+
+ d = 15 visitas/km2
+
+ +
1,1 + Tráfego
+ +
+
+ + Tráfego urbano
+
1,0 + urbano +
+
+ interurbano
0,9
0 5 10 15 20 25 30
Distância do bolsão ao depósito (km)
FIGURA 8.6 • Custos unitários, exemplo de distribuição de pacotes
269
bela 8.2 são meros exemplos, valendo os resultados apenas como ilustração
da metodologia.
Outra observação importante é que veículos sabidamente inadequados
para a distribuição de produtos, devido a seu tamanho, foram introduzidos
propositadamente na análise, conforme se pode observar na Tabela 8.2.
Alguns desses veículos não podem trafegar nas regiões urbanas, mas, mesmo
que fossem permitidos, não seriam selecionados. Isso porque a restrição de
tempo, quase sempre mais severa, força a escolha de veículos menores.
Outros Condicionantes
A análise do processo de distribuição que apresentamos não se esgota aqui.
Há questões importantes que não foram analisadas e que influem decisiva-
mente na seleção do tipo de veículo e no dimensionamento da frota. É o que
discutiremos resumidamente a seguir.
A primeira questão a colocar é sobre a natureza das variáveis, a maior
parte delas aleatória. Por exemplo, o tempo de percurso entre o CD e o bol-
são de entrega não é determinístico, mas varia diariamente em função das
condições de tráfego, da meteorologia, do motorista e de outros fatores im-
previsíveis. Os tempos de parada nos pontos de entrega também variam, pois
dependem basicamente da rapidez no recebimento, do tamanho do lote e
das condições de estacionamento na porta do cliente. A quantidade de mer-
cadoria entregue para cada cliente, por sua vez, flutua com os pedidos, po-
dendo variar de caso para caso, oscilando no tempo e também em função das
variações sazonais da demanda.
A análise estatística dos tempos que compõem o ciclo de um roteiro vai
fornecer o tempo médio de ciclo (TC) e seu desvio-padrão σTC. Como o tem-
po de ciclo é formado por uma série de tempos estatisticamente independen-
tes, a distribuição resultante pode ser representada por uma normal. É o que
mostra a Figura 8.7.
Define-se um nível de confiança estatístico para fins de dimensiona-
mento do sistema, digamos, 98% de certeza. Entrando numa tabela estatísti-
ca da distribuição normal, podemos extrair o limite superior esperado para a
variável considerada, no caso o tempo de ciclo TC. Para nível de confiança
de 98% e distribuição monocaudal, temos
Distribuição
normal
Probabilidade
de exceder TCMÁX
TC TCMÁX
Tempo de ciclo
FIGURA 8.7 • Tempo de ciclo regido por uma distribuição normal
272
77 75
79
80 73
74
81 78 76
61
69 68 72
60 67
58 59 66 65
64
71
56 57 39 38 37 36 35
40 34 63
41 33
55 42 32
54 17 16 15
18 14 70
53 43 31
19 13 62
52 44 20 5 4 3 48
51 12
45 6 2 30
21
1
50 7
46 26
22 11
9
8 • 81 bolsões
47 23
10
• Veículo com 500 kg
25
49 24 de capacidade
29 27
28
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