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As editoras que integram o GEN, das mais respeitadas no mercado editorial, construíram
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(2.a edição
[j revista, atualizada
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Impresso no Brasil - Printed in Brazil
Habeas Corpus / Guilherme de Souza Nucci. - 2. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro:
Forense, 2017.
Bibliografia
ISBN 978-85-309-7125-0
o Autor
SUMÁRIO
11. CONCEITUAÇÃO 23
2.1 Conceito e natureza jurídica....................................................................... 23
2.2 Espécies de habeas corpus 28
m. CONDIÇÕES DA AÇÃO 31
IV. COMPETÊNCIA 73
V. FUNDAMENTO JURÍDICO 87
5.1 Cabimento 87
SUMARIO 113
1. "O habeas corpus é a água da vida para reviver alguém da morte da prisão" (traduzi),
conforme Rolling C. Hurd (in Vicente Sabino Jr., O habeas corpus, p. 34).
18 I HABEAS CORPUS - NucCl
6. "No Direito Romano havia um instituto que talvez tenha sido o precursor do habeas
corpus. Destinava-se a garantir a pessoa livre que por qualquer circunstância tivesse
sido reclamada como escravo. Se tal ocorresse havia o recurso ao interdito de homene
libero, mas daí não se passou" (Antonio Macedo de Campos, Habeas corpus, p. 60).
7. Pinto Ferreira (Teoria e prática do habeas corpus, p. 3 e 23); Vicente Sabino Jr. (O
habeas corpus, p. 22).
8. Código de Processo Penal, p. 359.
9. "Art. 183. Recusarem os Juizes, á quem fôr permittido passar ordens de - habeas-
-corpus - concedel-as, quando lhes forem regularmente requeridas, nos casos, em
CAPo I • CONSTITUiÇÃO FEDERAL E LINHAS HISTÓRICAS DO HABEAS CORPUS I 21
que podem ser legalmente passadas; retardarem sem motivo a sua concessão, ou
deixarem de proposito, e com conhecimento de causa, de as passar independente
de petição, nos casos em que a Lei o determinar. Art. 184. Recusarem os Officiaes
de Justiça, ou demorarem por qualquer modo a intimação de uma ordem de -
habeas-corpus- que lhes tenha sido apresentada, ou a execução das outras diligencias
necessarias para que essa ordem surta effeito. Penas - de suspensão do emprego
por um mez a um anno, e de prisão por quinze dias a quatro mezes. Art. 185.
Recusar, ou demorar a pessoa, a quem fôr dirigida uma ordem legal de - habeas-
-corpus - e devidamente intimada, a remessa, e apresentação do preso no lugar, e
tempo determinado pela ordem; deixar de dar conta circumstanciada dos motivos
da prisão, ou do não cumprimento da ordem, nos casos declarados pela Lei. Penas
- de prisão por quatro a dezaseis mezes, e de multa correspondente á metade do
tempo. Art. 186. Fazer remesea do preso á outra autoridade; occultal-o, ou mudai-o
de prisão, com o fim de illudir uma ordem de - habeas-corpus - depois de saber
por qualquer modo que ella foi passada, e tem de lhe ser apresentada. Penas - de
prisão por oito mezes a tres annos, e de multa correspondente á metade do tempo.
Art. 187.Tornar a prender pela mesma causa a pessoa, que tiver sido solta por effeito
de uma ordem de - habeas-corpus - passada competentemente. Penas - de prisão
por quatro mezes a dous annos, e de multa correspondente á metade do tempo.
Se os crimes, de que tratamos tres artigos antecedentes, forem commettidos por
empregados publicos em razão, e no exercicio de seus empregos, incorrerão, em
lugar de pena de multa, na de suspensão dos empregos; a saber: no caso do artigo
cento oitenta e cinco, por dous mezes a dous annos; no caso do artigo cento oitenta
e seis, por um a quatro annos; e no caso do artigo cento oitenta e sete, por seis
mezes a tres annos. Art. 188. Recusar-se qualquer cidadão de mais de dezoito annos
de idade, e de menos de cincoenta, sem motivo justo, a prestar auxilio ao Official
encarregado da execução de uma ordem legitima de - habeas-corpus - sendo para
isso devidamente intimado. Penas - de multa de dez a sessenta mil réis':
10. Como leciona Pontes de Miranda, "habeas corpus é pretensão, ação e remédio. A
pretensão data de 1830 (Código Criminal, arts. 183-188). A ação e o remédio, de
1832" (História e prática do habeas corpus, p. 128).
22 I HABEAS CORPUS - NuCCl
manos (1948), art. 8.°; a Convenção Europeia (1950), art. 5.°, inciso 4; a
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, art. 7.oY
Na América Latina, o habeas corpus não teve uma evolução idêntica;
alguns países o inseriram em seus textos constitucionais ou legais há muitos
anos, como o Brasil; outros o fizeram em época mais recente. Está presente,
atualmente, na Argentina, Bolívia, Chile (recurso de amparo), Colômbia,
Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá,
Paraguai, Peru, Porto Rico, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.
No México, não possui a mesma denominação, mas está inserido no processo
de amparo, que abriga vários dispositivos processuais. 12
11. Antonio Magalhães Gomes Filho, O habeas corpus como instrumento de proteção
do direito à liberdade de locomoção, p. 62; Pontes de Miranda, História e prática do
habeas corpus, p. 126-127; Galdino Siqueira, Curso de processo criminal, p. 381.
12. Gumesindo GarCÍa Morelos (EI proceso de habeas corpus y los derechos fundamen-
tales, p. 32).
II
Conceituação
corpus é uma ação popular, pois pode ser ajuizada por qualquer pessoa do
pOVO,3o que, certamente, corresponde à sua natureza de remédio heroi-
co e garantia constitucional. E, há muito, já dizia Oliveira Machado que
"nenhum remédio é mais salutar, mais poderoso a garantir a liberdade
suprimida ou cerceada que o habeas corpus, cujo fim é aliviar o paciente,
com verdadeira presteza e admirável prontidão, da opressão ilegal. O habeas
corpus é o salvo-conduto eficaz, a carta de crédito vigilante e defensora
que preserva a liberdade contra os ataques iníquos e injuriosos".4
Não se trata de recurso, como faz crer a sua inserção na lei processual
penal, no âmbito dos recursos, mas de autêntica ação autônoma, dando
vida a uma relevante garantia humana fundamental. Dentre as principais
razões que se podem enumerar para o seu caráter de ação - e não de re-
curso -, encontra-se a inexistência de prazo para o seu ajuizamento. Pode
ser proposta contra decisão com trânsito em julgado. Além disso, pode
ser impetrada contra ato de autoridade coatora (delegado de polícia, por
exemplo) distinto de decisão judicial - contra a qual poderia caber algum
recurso -, além de ser viável contra abuso de particular (internação com-
pulsória firmada por médico, a título de ilustração). De se anotar, também,
existirem decisões judiciais contra as quais não cabe recurso previsto em
lei, mas que podem significar autêntico constrangimento à liberdade de
locomoção, como a determinação judicial de condução coercitiva de vítima
ou testemunha. Nunca é demais ressaltar o trancamento de inquérito ou
ação penal, situações que não comportam recurso previsto em lei, mas o
habeas corpus se torna o remédio adequado a tanto. Em suma, o habeas
corpus pode até atuar como recurso, em determinadas situações, buscando
corrigir em instância superior algum erro cometido por instância inferior
do Judiciário, mas o seu propósito principal não é este. Eis que o motivo
de sua natureza jurídica concentra-se noutro aspecto.
No entanto, não deixa de ser uma ação sui generis, que possui polo
ativo singular (impetrante e paciente são a mesma pessoa) ou complexo
(impetrante e paciente são pessoas diversas) e polo passivo peculiar, inte-
grado pela autoridade apontada como coatora (ou particular coator), de
que ela logrou se firmar. Fazer respeitada a liberdade física é um dos meios de servir
e sustentar essa civilização, a que todos os homens, de todos os recantos da Terra, se
destinam, sem ser certo que todos a logrem. Os que não a lograrem desaparecerão"
(Pontes de Miranda, História e prática do habeas corpus, p. 571).
3. Elementos de direito processual penal, p. 376.
4. O habeas corpus no Brasil, p. 10.
CAPo 11 • CONCEITUAÇÃO I 25
quem não se exige contestação, mas somente informações (que podem ser
dispensadas ou exigidas, sob pena de falta funcional e prática de crime).
Não há citação de réu; em seu lugar, ingressa um ofício de requisição
de informes. Pode-se, inclusive, abrir mão da requisição, impondo-se a
intimação do coator para depoimento pessoal em juízo, como se dá no
caso de particular, a critério do magistrado.
Cuida-se de garantia individual, e não direito. Em nosso posicio-
namento, há diferença entre direito e garantia fundamental. O primeiro
é meramente declaratório - como o direito à liberdade -, enquanto
o segundo é assecuratório - como o devido processo legal. O Estado
reconhece a existência do direito, afirmando-o em norma jurídica. A
garantia é instituída pelo Estado, não existindo naturalmente antes da
norma que a criou. Num panorama amplo, o direito é uma garantia e
esta também é um direito. É in conteste que a liberdade é um direito,
mas também a garantia de uma sociedade livre; o habeas corpus é uma
garantia da liberdade, porém um direito do cidadão, quando deseja
utilizá-lo. Entretanto, a diferença estabelecida entre direito e garantia é
didática e classificatória, permitindo a mais adequada visão dos direitos
e garantias humanas fundamentais.
O termo habeas corpus, do latim (habeo, habere = ter, exibir, tomar,
trazer; corpus, corporis = corpo), etimologicamente, significa "toma o
corpo", isto é, fazer a apresentação de alguém, que esteja preso, em juízo,
para que a ordem de constrição à liberdade seja justificada, podendo o
magistrado mantê-la ou revogá-la. Nas palavras de Pontes de Miranda,
"toma (literalmente: tome, no subjuntivo, habeas, de habeo, habere,
ter, exibir, tomar, trazer etc.) o corpo deste detido e vem submeter ao
Tribunal o homem e o caso. Por onde se vê que era preciso produzir e
apresentar à Corte o homem e o negócio, para que pudesse a Justiça,
convenientemente instruída, estatuir, com justiça, sobre a questão, e
velar pelo indivíduo".5
Distingue-se o habeas corpus de outras medidas cautelares em prol
da liberdade e da defesa de direitos individuais pelo fato de constituir um
procedimento célere, com pronta resposta em face da violação da liberdade
de alguém, por ato inconstitucional ou ilegal, viabilizando a apresentação
imediata da pessoa privada do direito de ir e vir diante da autoridade judi-
ciária, que o liberou por ordem, para que possa, sem qualquer formalismo,
37. O mais famoso caso de habeas corpus registrado no Brasil foi julgado pelo STF, em
5 de abril de 1919, relatado pelo Ministro Edmundo Lins, concedendo-se salvo-
-conduto em favor do conselheiro Rui Barbosa e alguns de seus amigos para fazerem
na Bahia, sem constrangimento, a sua propaganda política, em função da eleição
presidencial de 13 de abril de 1919. Aliás, consagrou-se, nessa ordem, o direito de
ficar, pois os correligionários de Rui Barbosa estavam autorizados a permanecer
em determinado lugar para o fim de realizar comício político (Pontes de Miranda,
História e prática do habeas corpus, p. 256).
30 I HABEAS CORPUS - NuCCl
a existência de direito líquido e certo, seja para liberar, seja para prevenir.
Por certo, a prova da ameaça (dano futuro) é mais difícil, mas não inviável.
É preciso que o impetrante explicite, detalhadamente, o que pode
acontecer com o paciente, caso a ordem não seja concedida, mesmo ha-
vendo dificuldade de ofertar elementos documentais imediatos.
Ilustrando, são casos de habeas corpus preventivo:
a) indiciamento: antes de ser formalmente apontado pela autoridade
policial, como autor do delito, inscrevendo-se tais dados em sua folha de
antecedentes, o suspeito pode impetrar habeas corpus preventivo, visan-
do a obstar que tal ato se concretize, evitando-se os dissabores que daí
podem advir;
b) quando indiciado por um crime, o suspeito tem direito de acom-
panhar a direção tomada das investigações por meio de seu defensor;
conforme o rumo tomado, pode impetrar habeas corpus para evitar que
seja quebrado o seu sigilo bancário, fiscal ou telefônico;
c) o indiciado pode questionar preventivamente a ordem da autori-
dade policial, quando intimado para participar da reconstituição do crime,
evitando que seja conduzido coercitivamente ao local;
d) caso pretenda participar da prova pericial, por meio de assistente
técnico, produzida durante a fase policial, sabedor que muitos delegados
não permitem esse acompanhamento, pode impetrar a ordem preventiva
para que seu representante tome parte na diligência;
e) da mesma forma que se admite a propositura do habeas corpus
para trancar ação penal, é cabível o remédio heroico para impedir o re-
cebimento da denúncia, por falta de justa causa; imagine-se a finalização
do inquérito, remetendo-se os autos ao órgão acusatório, sem nenhuma
prova a lastrear uma acusação; desde que tenha a oferta da peça acusatória,
pode o indiciado impetrar habeas corpus;
f) durante a instrução, designada a audiência, o réu será intimado a
comparecer; porém ele tem o direito de acompanhar a instrução, e não um
dever; se optar pelo não comparecimento, pode impetrar habeas corpus
preventivo para não ser conduzido coercitivamente ao ato; aliás, o mesmo
se dá se não pretender ser interrogado, valendo-se do direito ao silêncio;
g) intimado a depor como testemunha, especialmente diante de Comis-
são Parlamentar de Inquérito, havendo possibilidade de se autoincriminar
com suas declarações, éviávelimpetrar habeas corpus preventivo para invocar
o direito ao silêncio, evitando a prisão em flagrante por falso testemunho.
III
Condições da ação
Cabe a ação de habeas corpus quando tem por fim o resgate à liberdade
individual que, por qualquer constrangimento, encontra-se restringida ou
ameaçada de restrição. Esse é o fundamento jurídico, retratado no próprio
texto constitucional (art. 5.°, LXVIII): "concede-se habeas corpus quando
32 I HABEAS CORPUS - NuCCl
mais flexível do que uma ação diversa. A dúvida deve favorecer o impe-
trante e o paciente, jamais o próprio Estado.
Um dos pontos de confronto entre o texto constitucional (art. 5.°,
LXVIII) e a lei ordinária (art. 647, CPP) é o termo iminência, que consta
nesta última, mas não na norma da Constituição Federal.
O Código de Processo Penal prevê o uso de habeas corpus sempre que
alguém sofrer ou se achar na iminência (prestes a acontecer) de sofrer vio-
lência ou coação ilegal no tocante à sua liberdade de ir, vir e ficar, salvo nos
casos de punição disciplinar. A Constituição estipula a utilização de habeas
corpus quando alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou
coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
O texto normativo do Código é mais restritivo do que o previsto na
Constituição, devendo este prevalecer sobre aquele, por duas razões básicas:
a) a Constituição Federal encontra-se em nível superior à lei ordinária;
b) em caso de dúvida, deve prevalecer a interpretação mais favorável
ao paciente, que se encontra de algum modo constrangido.
Afinal, se há o princípio constitucional da presunção de inocência,
quem sofre constrangimento torna-se vítima, considerada, a princípio,
pessoa inocente.
Diante disso, cabe habeas corpus preventivo sempre que alguém se
achar ameaçado de sofrer coação ou violência, seja isso iminente (próximo
de acontecer) ou mais distante (futuro).
A lei ordinária refere-se à liberdade de ir e vir, enquanto o texto
constitucional menciona a liberdade de locomoção; ambas as expressões
possuem significado correlato, não sendo este um fator diferencial.
No Código de Processo Penal, cita-se apenas a coação ou violência
ilegal (contra a lei em amplo sentido); na Constituição, além da ilegalidade,
há referência a abuso de poder, que, no entanto, é desnecessário, visto que
o abuso (excesso indevido) é sempre um ato ilegal.
Configura impossibilidade jurídica do pedido, não sendo cabível
o habeas corpus, a discussão acerca do mérito da ação penal, em que o
paciente figura como réu. A ação mandamental não é ambiente para se
analisar se o acusado é culpado ou inocente pelas seguintes razões:
a) o objetivo do habeas corpus é assegurar a liberdade de ir e vir,
exceto se houver imposição de pena, com trânsito em julgado; assim sen-
do, combater uma sentença condenatória por meio do remédio heroico
significa perverter a sua essência;
34 I HABEAS CORPUS - NuCCl
direito, primeiro, certo e, depois, líquido, pois há direitos certos, que são
ilíquidos; porém, não há direito líquido que não seja certo.2
Sintetizando, diz Pontes de Miranda: "direito líquido e certo é aquele
que não desperta dúvidas, que está isento de obscuridades, que não pre-
cisa ser aclarado com o exame de provas em dilações, que é de si mesmo
concludente e inconcusso':3 Exigindo igualmente a constatação de direito
líquido e certo, Galdino Siqueira.4
2. Nessa ótica, Pontes de Miranda: "para ser líquido, o direito tem de ser certo. A certeza
é qualidade conceptualmente anterior. O direito certo pode ser líquido ou ilíquido. O
líquido tem, como prius, de ser certo" (Comentários à Constituição de 1967, p. 361).
3. História e prática do habeas corpus, p. 325.
4. Curso de processo criminal, p. 390.
CAPo 111 • CONDiÇÕES DA AÇÃO I 37
5. No dizer de Rogério Lauria Tucci, o âmbito do habeas corpus envolve todas as "hipó-
teses de constrição, potencial ou efetiva, da liberdade física do indivíduo; vale dizer,
quando, por ilegalidade ou abuso de poder, ocorra, pelas mais variadas formas que
se possa conceber, privação ou comprometimento - qualquer restrição, enfim - da
liberdade pessoal do ente humano" (Habeas corpus, ação e processo penal, p. 31).
CAPo 111 • CONDIÇÓES DA AÇÃO I 39
9. Súmula 694, STF: "não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de exclusão
de military ou de perda de patente ou de função pública':
CAPo 111 • CONDIÇÚES DA AÇÃO I 43
namento pode ser feito, por via de ação própria, junto à Justiça Militar
Federal (punição militar das Forças Armadas) ou Justiça Militar Estadual
(punição da polícia militar). Esse é o conteúdo do art. 125, ~~ 4.° e 5.°,
da Constituição Federal. Ou por meio de recurso administrativo interna
corporis. Confira-se na Lei 6.880/1980, art. 51, ~ 3.°:"O militar que se julgar
prejudicado ou ofendido por qualquer ato administrativo ou disciplinar
de superior hierárquico poderá recorrer ou interpor pedido de reconsi-
deração, queixa ou representação, segundo regulamentação específica de
cada Força Armada. (...) ~ 3.° O militar só poderá recorrer ao Judiciário
após esgotados todos os recursos administrativos e deverá participar esta
iniciativa, antecipadamente, à autoridade à qual estiver subordinado".
Não há nenhuma ofensa a direito individual, quando se impõe o
prévio esgotamento da via administrativa.
Nessa ótica, editou-se a Súmula 694 do STF: "Não cabe habeas corpus
contra a imposição da pena de exclusão de militar ou de perda de patente
ou de função públicà:
No tocante às punições disciplinares privativas de liberdade, embora
mencione-se não caber habeas corpus, trata-se da regra, mas não pode
44 I HABEAS CORPUS - NuCCl
15. No sentido que defendemos, Antonio Macedo de Campos (Habeas corpus, p. 81);
Florêncio de Abreu (Comentários ao Código de Processo Penal, p. 586).
50 I HABEAS CORPUS - NuCCl
É integralmente
desnecessário requerer ao juiz, que manteve a prisão,
a reconsideração ou o pedido de liberdade renovado. Seria o mesmo que
pleitear à polícia, quando prendesse alguém sem justo motivo, que solte
o detido, antes de se poder ir a juízo para propor habeas corpus.
Na mesma linha, é desnecessário obrigar o interessado reiterar várias
vezes o mesmo pedido de liberdade provisória, relaxamento de prisão ou
outro que o beneficie. Se o magistrado havia decretado a preventiva e re-
novou as mesmas razões na sentença condenatória, caso estivesse pendente
de julgamento pedido de habeas corpus, este não se torna prejudicado. Ao
contrário, deve ser julgado quanto ao mérito da prisão cautelar.
3.3 Legitimidade
Legítimo significa o que está conforme a lei; não deixa de ser sinôni-
mo de legal. No entanto, também quer dizer algo genuíno ou autêntico.
CAP.III • CONDiÇÕES DA AçAO I 51
21. Identicamente, Espínola Filho (Código de Processo Penal brasileiro anotado, p. 214);
Magalhães Noronha (Curso de processo penal, p. 418). O importante é que a peça
seja assinada. No caso do analfabeto, não tem validade a aposição do dedo, mas
assinaturas de pessoas a rogo.
22. Admitindo a impetração feita por pessoa jurídica em favor de pessoa física: STF,HC
79.535/MS, 2." T., reI. Maurício Corrêa, 16.11.1999, V.U., Dl 10.12.1999, p. 3. Nesse
caminho, escreve Espínola Filho: "óbvio que uma pessoa jurídica pode impetrar
habeas corpus em favor de pessoa natural, cuja soltura, em muitos casos, interessa
diretamente àquela, como nos de prisão, ou ameaça, de diretor, sócio, associado,
confrade" (Código de Processo Penal brasileiro anotado, p. 214). No mesmo sentido,
Paulo Rangel (Direito processual penal, p. 877).
23. No mesmo sentido, pela dispensa do advogado para pessoa jurídica: Paulo Roberto
da Silva Passos (Do habeas corpus, p. 34).
24. Assim também: Pontes de Miranda (História e prática do habeas corpus, p. 107);
Tourinho Filho (Processo penal, p. 657); Borges da Rosa (Comentários ao Código
de Processo Penal, p. 777); Bento de Faria (Código de Processo Penal, p. 381) Em
contrário, defendendo a impetração de habeas corpus, Aury Lopes Jr. (Direito pro-
cessual penal, p. 1357).
CAPo 111 • CONDiÇÕES DA AÇÃO I 53
25. No mesmo prisma, Dante Busana (O habeas corpus no Brasil, p. 45); Heráclito
Antônio Mossin (Habeas corpus, p. 371).
26. "O órgão do Ministério Público tem competência, e mesmo por dever do seu cargo,
de exercer uma das mais nobres missões - a de requerer habeas corpus, nos casos
permitidos em lei, para aquelas pessoas que encontrar detidas ilegalmente nas prisões,
cárceres privados, asilos etc:' (Tavares Bastos, O habeas corpus na República, p. 125).
54 I HABEAS CORPUS - NuCCl
27. No mesmo sentido, Celso Delmanto (Da impetração de habeas corpus por juízes,
promotores e delegados, p. 287).
CAPo 111 • CONDIÇÚES DA AÇÃO I 55
28. Nas palavras de Antonio Macedo de Campos, "ninguém cometeria a heresia jurí-
dica de imaginar que os juízes de 1.0 ou 2.0 grau de jurisdição requeiram habeas
corpus, uma vez que o magistrado dentro do processo, não pede, manda; não soli-
cita, determina" (Habeas corpus, p. 82). No entanto, o mesmo autor, narrando uma
história de erro judiciário, afirma que "excepcionalmente, em circunstâncias muito
especiais, o Juiz poderá conceder habeas corpus contra si próprio" (ob. cit., p. 84).
O caso apresentado por Macedo de Campos ilustra uma condenação, com trânsito
em julgado, em primeiro grau, sendo que, após, o magistrado percebeu a inocência
do acusado, de forma insofismável. Com a devida vênia, para isso existe a revisão
criminal e, inclusive, como temos defendido, a possibilidade de concessão de limi-
nar, para a imediata soltura do sentenciado. Se ficar tão evidente a sua inocência, há
instituições prontas a atuar, como a Defensoria Pública e a OAB, em benefício do
acusado, propondo a referida revisão criminal, com pedido liminar de libertação. Se,
em função de remediar injustiças, puder o juiz fazer qualquer coisa, como atentar
contra a coisa julgada, poderia igualmente, em tese, conceder habeas corpus contra
acórdão transitado em julgado, desde que a inocência do sentenciado ficasse evidente.
E todos os magistrados poderiam judicar como bem quisessem, desde que no melhor
interesse do réu. Ademais, no exemplo narrado pelo autor, nem mesmo o Tribunal
poderia conceder habeas corpus, pois, após o trânsito em julgado, não sendo o caso
de nulidade absoluta, somente a revisão criminal é viável. Em suma, jamais poderá
o juiz conceder habeas corpus contra si mesmo, sem qualquer exceção.
29. Assim também pensa Frederico Marques (Elementos de direito processual penal, p.
377). Ver também o item 3.3.5 a seguir.
30. Essa decisão do juiz, reconhecendo a nulidade absoluta do recebimento da denún-
cia, representa, para Demercian e Maluly, a concessão de habeas corpus de ofício
("a nosso ver, outro não foi o espírito que norteou o legislador ao estabelecer a
possibilidade de concessão do writ de ofício, de forma rápida e eficiente': Curso de
processo penal, p. 443). Com essa postura não concordamos. Declarar a nulidade
absoluta, mandando refazer os atos viciados, faz parte do dever jurisdicional de
qualquer juiz, não significando reconhecer como autoridade coatora ele mesmo.
A concessão do habeas corpus de ofício produz a emissão de uma ordem de cessação
do constrangimento enviada a outra pessoa, que, não cumprindo, responde inclusive
por crime. Nem é preciso dizer que o habeas corpus contra si mesmo representaria
56 I HABEAS CORPUS - NuCCl
Pode, ainda, ser um órgão estatal, como ocorre com Tribunais, Co-
missões Parlamentares de Inquérito e outros colegiados.34 Para Frederico
Marques, no entanto, quando se tratar de autoridade, o verdadeiro sujeito
passivo é o Estado.35 Parece-nos, no entanto, que, no pala passivo, está
mesmo a pessoa física, ainda que seja autoridade, pois esta deveria ser
condenada em custas, segundo o espírito do Código de Processo Penal,
e responderá diretamente por abuso.36 Atualmente, ressalte-se, não há
mais custas em habeas corpus (art. 5.°, LXXVII, CF), perdendo o efeito
o disposto no art. 653 do CPP (condenação da autoridade nas custas).
O Tribunal transforma-se em órgão coator, desde que julgue recurso
do réu, negando provimento, quando deveria ter acolhido a pretensão, bem
como quando julga recurso da acusação, concedendo ou negando provi-
mento, mas deixando de apreciar matéria fundamental, que comportaria
a concessão de habeas corpus de ofício, em favor do acusado, nos termos
do art. 654, ~ 2.°, do CPP. O não conhecimento de apelação ou outro
recurso do réu ou da acusação, não torna o tribunal autoridade coatora,
salvo se a matéria comportasse a concessão, de ofício, de habeas corpus.
As informações - uma forma similar à impugnação ao pedido formu-
lado - gozam de presunção de veracidade, devendo ser acompanhadas das
cópias pertinentes do processo ou inquérito, conforme o caso. Ressalte-se
que, em muitos casos, tratando-se de autoridade, esta se limita a fazer
um mero relatório do feito, deixando de sustentar a medida coercitiva
empregada, o que nos soa irregular. Entretanto, se enviar cópia de deci-
são devidamente fundamentada, demonstrativa da legalidade da decisão
tomada, supre-se a falha. Note-se que, deixando de evidenciar a correção
do seu ato, pode ser a autoridade condenada nas custas (ao menos na
época de edição do CPP) e processada por abuso de poder (art. 653, CPP),
34. As pessoas jurídicas de direito privado somente podem ser sujeitos passivos se o
direito público a tenha reconhecido em seu seio, bem como a sua responsabilidade.
Fora daí, somente a pessoa física (Pontes de Miranda, História e prática do habeas
corpus, p. 499).
35. Elementos de direito processual penal, v. IV, p. 376. No mesmo raciocínio, Dante
Busana (O habeas corpus no Brasil, p. 65).
36. Assim já defendia João Mendes Júnior: "a ação de mandado de segurança, como a
ação de habeas corpus, é proponível contra atos - positivos ou negativos - de auto-
ridade, e sujeito passivo da relação jurídica processual é a própria autoridade, e não
a pessoa jurídica de cujo corpo faz parte a autoridade" (Comentários à Constituição
de 1967, p. 337).
58 I HABEAS CORPUS - NuCCl
37. História e prática do habeas corpus. Ver o item 6.4 do Capítulo VI.
38. Habeas corpus, p. 119. Ver também o item 6.4 do Capítulo VI.
39. Código de Processo Penal, v. 2, p. 381. No mesmo prisma: Espínola Filho (Código
de Processo Penal brasileiro anotado, v. VII, p. 216).
CAPo 111 • CONDiÇÕES DA AçAo I 59
40. Pensam assim: Bento de Faria (Código de Processo Penal, V. 2, p. 382), ressaltando
que o pedido deve ter por objetivo assegurar a entrada do sujeito no País; Espínola
Filho (Código de Processo Penal brasileiro anotado, V. VII, p. 216).
41. Dante Busana (O habeas corpus no Brasil, p. 67), embora baseado em jurisprudência
antiga do STF, datada de 1982.
60 I HABEAS CORPUS - NuCCl
79. Diz Dante Busana: "ao silenciar sobre a atuação do Ministério Público em primeiro
grau, o legislador parece ter cedido ao temor de retardar o rito sumaríssimo do habeas
corpus, máxime porque nas impetrações dirigidas à primeira instância o paciente
está preso, ou na iminência de o ser, por ordem de autoridade administrativa ou ato
de particular, impondo-se decisão urgente sobre a legalidade da coação ou ameaça".
E continua, justificando a ausência do MP em primeira instância: "de se notar que
no processo perante os tribunais a urgência do pronunciamento sobre a legalidade
da coação ou ameaça é menor, porque o ato hostilizado é jurisdictional e não de
autoridade administrativa ou de particular" (O habeas corpus no Brasil, p. 96).
80. O Ministério Público e o habeas corpus, p. 415.
CAPo 111 • CONDiÇÕES DA AÇÃO I 69
82. Nessa visão, Dante Busana sustenta que a intervenção do querelante deve dar-se de
maneira espontânea e facultativa, sem atrasar o rito célere do habeas corpus, logo,
sem necessidade de ser intimado a tanto (O habeas corpus no Brasil, p. 99).
83. Nessa ótica, Dante Busana (O habeas corpus no Brasil, p. 66).
CAPo 111 • CONDIÇOES DA AÇÃO I 71
84. Como diz Dante Busana, "o juiz não deve, qual verdadeiro D. Quixote, sair à cata
de moinhos de vento com quem pelejar, de ilegalidades a remediar" (O habeas
corpus no Brasil, p. 73).
85. Ver também o item 3.3.1 supra.
IV
Competência
4.2 Prevenção
Júnior, Curso de direito processual civil, V. V101, item n. 70, 54. ed., 2013,
Forense; Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, Código de
Processo Civil comentado, p. 233, item n. 5,13. ed., 2013, RT, v.g.), circuns-
tância essa que plenamente legitima a sua participação em mencionadas
causas mandamentais. Precedentes. Tratando-se, porém, de demanda
diversa (uma ação ordinária, p. ex.), não se configura a competência
originária da Suprema Corte, considerado o entendimento prevalecente
na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, manifestado, inclusive,
em julgamentos colegiados, eis que, nas hipóteses não compreendidas
no art. 102, I, alíneas 'd' e 'q: da Constituição, a legitimação passiva
ad causam referir-se-á, exclusivamente, à União Federal, pelo fato de
as deliberações do Conselho Nacional de Justiça serem juridicamente
imputáveis à própria União Federal, que é o ente de direito público em
cuja estrutura institucional se acha integrado o CNJ. Doutrina. Prece-
dentes" (AO 1706 AgRlDF, Pleno, reI. Celso de Mello, 18.12.2013, v.u.).
5.1 Cabimento
por coação, mas sim da lei" (Teoria e prática do habeas corpus, p. 45). Igualmente,
Frederico Marques alega que o art. 648 do cpp prevê todas as hipóteses viáveis
de constrangimento ilegal, logo, o rol é exaustivo (Elementos de direito processual
penal, p. 365).
2. Comentários à Constituição de 1967, p. 313-314.
3. Habeas corpus e advocacia criminal: ordem liminar e âmbito de cognição, p. 135.
CAPo V • FUNDAMENTO JURfDICO I 89
da, quando o que era justo perdeu a razão de ser;4 b) justa causa para a
existência de processo ou investigação contra alguém, sem que haja lastro
probatório suficiente.5
Nunca é demais salientar a lição da doutrina de longa data. Oliveira
Machado afirma que "justa causa não pode ser definida em absoluto.
Depende da inteligente e escrupulosa apreciação do juiz que, aquilatando
os motivos ocasionais determinantes da prisão, qualificará a justiça ou
injustiça da causa para declarar legal ou não o constrangimento corporal
ou ameaça. É impossível capitular antecipadamente as causas justas, assim
como não se pode definir por tese dogmática onde se terminam os atos
preparatórios do crime, e onde principia a execução, assim como onde
está a legítima defesa, ou onde principia o excesso. Tudo depende das
circunstâncias ocorrentes e do estudo que sobre elas faz o juiz".6
Na primeira situação, a falta de justa causa baseia-se na inexistência
de provas ou de requisitos legais para que alguém seja detido ou submetido
a constrangimento (ex.: decreta-se a preventiva sem que os motivos do
art. 312 do cpp estejam nitidamente demonstrados nos autos).
Outros aspectos, considerando emergir ilegalidade após a decretação,
podem ter variados fundamentos: a) embora tenha sido segregado por
motivo justo, é inserido em cela inadequada, porque possui grau superior e
encontra-se misturado a outros presos, considerados comuns (art. 295, SiSi
1.0 e 2.°, CPP); b) o preso provisório é colocado em cela com condenados
(art. 300, CPP); c) o preso provisório é mantido em local insalubre, com
superlotação, representando-lhe o cumprimento antecipado de aflição
abusiva e cruel, que nem mesmo ao condenado deve ser destinada. Essas
situações eliminam a justa causa para a prisão cautelar.?
Na segunda hipótese, a ausência de justa causa concentra-se na ca-
rência de provas a sustentar a existência e manutenção da investigação
policial ou do processo criminal. Se a falta de justa causa envolver apenas
uma decisão, contra esta será concedida a ordem de habeas corpus. Caso
diga respeito à ação ou investigação em si, concede-se a ordem para o
trancamento do processo ou procedimento investigatório que, normal-
mente, é o inquérito policial.
7. Narra Tavares Bastos o caso do habeas corpus pela fome, ocorrido no Estado do Rio
de Janeiro: "por ocasião de uma das suas últimas crises financeiras em que ficaram
suspensos os pagamentos do funcionalismo do Estado por muitos meses, na co-
marca de Macaé fora requerido um habeas corpus, baseado na falta de alimentação
do paciente, visto o Estado não ter pago ao fornecedor da cadeia o que lhe devia e
este resolver não mais fornecer o alimento aos presos. Impetrado o pedido, o juiz
de direito da comarca Dr. B. Sampaio a concedeu, fundamentando cabalmente a
sua decisão" (O habeas corpus na República, p. 141).
CAPo V • FUNDAMENTO JURfDICO I 91
9. Já dizia João Mendes Ir.: "a prisão preventiva é qualquer detenção ou custódia sofrida
pelo imputado, antes ou depois da pronúncia e em qualquer estado da causa, antes de
julgado definitivamente". É uma medida de segurança, uma garantia de execução, um
meio de instrução. Deve ser decretada em caráter excepcional para não se tornar
uma poderosa causa de desmoralização (O processo criminal brasileiro, p. 378).
10. Detalhamos esses requisitos em nossas obras Código de Processo Penal comentado,
Manual de processo penal e execução penal e Prisão e liberdade.
CAPo V • FUNDAMENTO JURfDICO I 95
D) Crime organizado
E) Periculosidade do agente
G) Antecedentes
11. Paulo Rangel insurge-se contra o termo trancamento do inquérito, assim como
contra o trancamento da ação penal; chega a se penitenciar por ter usado essa
terminologia antes; afirma que esses termos são incorretos, pois, na realidade,
arquiva-se o inquérito e extingue-se a ação sem julgamento de mérito. Alega que a
doutrina utiliza tais termos sem previsão em lei (Direito processual penal, p. 890). Na
realidade, os termos foram criações doutrinárias e jurisprudenciais, não constantes
expressamente em lei, mas que fornecem o sentido exato da concessão do habeas
corpus, quando o inquérito deve ser sustado e a ação, paralisada no estado em que
se encontra. Nada demais. Somos levados a afirmar que também não constam em
lei as hipóteses aventadas pelo autor, quando a ordem de habeas corpus atua para
impedir o prosseguimento do inquérito ou da ação. O arquivamento de inquérito
está previsto para o caso de o Ministério Público, de posse dos autos da investigação,
resolver não denunciar. Sob outro aspecto, inexiste, em processo penal, qualquer
hipótese de extinção do processo, sem julgamento de mérito. A bem da verdade,
nem mesmo se fala em trancamento de processo, mas da ação penal, quando o habeas
corpus é concedido. Em suma, o remédio heroico foi idealizado para combater o
constrangimento ilegal à liberdade de locomoção, quando nem se imaginava a
112 I HABEAS CORPUS - Nuccr
quais deve cessar a constrição. O prazo é fIxado em lei (art. 2.°, caput, Lei
7.960/1989). Não ocorrendo a soltura, confIgura -se o constrangimento ilegal.
Quanto à instrução dos processos criminais, inexistia prazo específIco.
Portanto, criou-se um período - obtido pela soma dos prazos previstos no
Código de Processo Penal- de 81 dias, tempo considerado suficiente para
o término da colheita das provas. Com o advento das Leis 11.689/2008
e 11.719/2008, fixou-se o prazo de 90 dias para a fInalização da fase de
formação da culpa, no procedimento do júri (art. 412 da Lei 11.689/2008),
bem como o prazo de 60 dias para a finalização do procedimento comum
ordinário (art. 400, caput, CPP) e 30 dias para o procedimento comum
sumário (art. 531, CPP). Voltaria à discussão a respeito dos prazos ri-
gorosamente cumpridos, ao menos em situações de réus presos, pois o
legislador, mesmo sem conhecer a realidade forense, estabeleceu um pe-
ríodo máximo fIxo. Ocorre que a jurisprudência vinha amenizando essa
discussão em torno de prazos, alegando que somente cada caso poderia
ditar se haveria ou não excesso de prazo para a conclusão da instrução.
Logo, já não se falava em 81 dias, mas num prazo razoável, sem culpa do
juiz ou do órgão acusatório, para a conclusão da instrução. 13
Na doutrina, parece-nos válida a referência de Aury Lopes Jr. e Gustavo
Henrique Badaró: ''A natureza do delito e pena a ela cominada, enquanto
critérios da razoabilidade de duração do processo, representam, em essência,
o critério da proporcionalidade. Processos que tenham por objeto delitos
mais graves e, consequentemente, apenados mais severamente poderão durar
mais tempo do que outros feitos por delitos de pequena gravidade. Todavia,
embora o critério da proporcionalidade seja fundamental, na ponderação
da duração do processo em relação ao binômio 'natureza do delito - pena
cominadà, não poderá ser aceito, de forma isolada, como índice de razoa-
bilidade. Levado ao extremo, delitos apenados com prisão perpétua teriam
como razoável um processo que durasse toda a vida ..:: 14 Embora a lei tenha
retornado ao passado, fIxando prazos para o término da instrução, parece- nos
correto manter o conteúdo da matéria decidida pelos tribunais pátriOS, ou
seja, devem-se obedecer a razoabilidade e a proporcionalidade para fIndar
a colheita de provas, sem períodos preestabelecidos de maneira rígida.
13. Em posição peculiar, Borges da Rosa interpreta o art. 648, II, como, unicamente,
o excesso da prisão-pena, e não da prisão cautelar (Comentários ao Código de Pro-
cesso Penal, p. 778). Atualmente, essa posição praticamente inexiste na doutrina e
na jurisprudência brasileiras.
14. Direito ao processo penal no prazo razoável, p. 56-57.
126 I HABEAS CORPUS - NuCCl
Negando a ordem:
• "Por fim, não obstante o paciente esteja preso há mais de três anos,
rejeitou-se a alegação de excesso de prazo, tendo em conta que este
não poderia ser atribuído exclusivamente ao Poder Judiciário e que a
complexidade do feito justificaria a demora - homicídio envolvendo
quatro réus, além de pedido de desaforamento pelo Ministério Público"
(HC 85.868/RJ, reI. Joaquim Barbosa, 11.04.2006, Informativo 423).
Concedendo a ordem:
• "Configura excesso de prazo a investigação criminal que dura mais
de 1 (um) ano sem que se tenha concluído o inquérito policial, muito
menos oferecida a Denúncia em desfavor do paciente" (HC 228023/
SC, 5.a T., reI. Adilson Vieira Macabu, 19.06.2012, v.u.).
Negando a ordem:
• "Proferida sentença, resta prejudicada a alegação de excesso de prazo
na formação da culpa, pois entregue a prestação jurisdicional" (HC
364902/SP, 5.a T., reI. Jorge Mussi, 20.10.2016, v.u.).
128 I HABEAS CORPUS - NuCCl
Concedendo a ordem:
• ''A paciente foi detida, em flagrante, encontrando-se presa desde 27
de março de 2009, pois surpreendida em sua residência, juntamente
com seu parceiro, na posse de 59,2g (cinquenta e nove gramas e dois
decigramas) de substância entorpecente vulgarmente denominada
'cocaína: na forma compactada de 'crack'. Segundo a exordial acusa-
tória, policiais civis, em meio a investigações, receberam informações
de suposto envolvimento da paciente com o tráfico de drogas. Muni-
dos de um mandado de busca e apreensão, dirigiram-se à residência
do casal, onde localizaram a droga supracitada, dinheiro, aparelhos
celulares e anotações semelhantes àquelas utilizadas no tráfico. A
denúncia foi oferecida em 22 de abril de 2009. Em 30 de abril do
mesmo ano, foi apresentada a defesa preliminar pela paciente. Em
18 de maio de 2009 o corréu apresentou sua defesa. A audiência de
instrução e julgamento foi designada para 30 de julho de 2009, porém
a paciente não foi apresentada para interrogatório e seu depoimento
somente foi colhido em 21 de outubro do mesmo ano, totalizando
o lapso temporal de aproximadamente 3 (três) meses de mora, não
ocasionada pela defesa. Em 8 de janeiro e 13 de maio de 2010, foram
reiterados ofícios requisitando provas periciais à autoridade policial,
estes respondidos somente em 17 de junho de p. p., restando em mora
de mais de 7 (sete) meses ocasionada exclusivamente pela autoridade
policial. A defesa, por seu turno, também causou mora, porquanto
reteve os autos em carga por pouco mais de 20 (vinte) dias, passados
os quais deixou de apresentar os memoriais, nomeando-se novo de-
fensor. Diante do quadro, parece-nos pertinente a revogação da prisão
cautelar da paciente - que perdura há mais de 1 (um) ano e 6 (seis)
meses -, configurando patente excesso de prazo para conclusão do
feito, porquanto sua mantença sobrepujaria os limites da razoabilida-
de" (HC 990.10.323344-1, 14.a c., reI. Souza Nucci, 25.11.2010, v.u.).
• ''Associação para o tráfico. Paciente custodiado há quase um ano.
Manifesto excesso de prazo. Demora injustificada para formação da
culpa. Princípio da razoabilidade. Constrangimento ilegal existente.
Ordem concedidà' (HC O 1013005420 138260000,4. a Câmara de Direito
Criminal, reI. Ivana David, DJ 08.08.2013, v.u.).
• "Habeas corpus. Prisão preventiva. Excesso de prazo. Paciente preso
há 1 ano e 9 meses. Instrução ainda não concluída. Pendência de
CAPo V • FUNDAMENTO JURIDICO I '29
Concedendo a ordem:
• "A caracterização do excesso de prazo no encerramento da instrução
criminal não exige apenas a soma aritmética de tempo para a reali-
zação dos atos processuais instrutivos, sendo necessário verificar as
peculiaridades do caso concreto, impondo-se a aplicação do princípio
da razoabilidade. Todavia, a demora no encerramento da instrução
processual causada exclusivamente pela falta de estrutura do Poder
Judiciário para dar vazão à demanda de processos criminais, ante a
patente ausência de razoabilidade, configura constrangimento ilegal a
ensejar a concessão de liberdade provisórià' (HC 2006.00.2.000461-4,
2.a T., reI. Benito Tiezzi, v.u., Boletim AASP 2500, p. 1.283).
Concedendo a ordem:
• "A demora injustificada da formação da culpa, sem colaboração da
defesa, impõe o imediato relaxamento da prisão pela autoridade ju-
diciária, atendendo-se, assim, aos preceitos do art. 648, lI, do CPP, e
do art. 5.°, LXV,da Constituição Federal" (HC 2010.0001.006833-5/
PI, 2.a C.E.C., reI. Erivan José da Silva Lopes, 14.12.2010, v.u.).
Negando a ordem:
• "No que respeita ao excesso, o Código de Processo Penal não esta-
belece prazo absoluto para a formação da culpa, podendo-se afirmar
que o 'tempo do processo' é dado de acordo com as características
próprias de cada feito, em atenção ao princípio da razoabilidade, não
se permitindo a higidez de maneira a obstaculizar o exercício amplo
de defesa pelo réu ou o cerceamento da acusação. No caso, trata-se
132 I HABEAS CORPUS - NuCCl
5.1.3.1 Razoabilidade
Complexidade do processo
• "A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que não procede
a alegação de excesso de prazo quando a complexidade do feito, as
peculiaridades da causa ou a defesa contribuem para eventual dilação
do prazo. Precedentes. Ficaram comprovadas a complexidade da ação
penal e a tomada de providências necessárias ao célere andamento
do feito. A dilação dos prazos processuais não pode ser imputada ao
juízo que preside o andamento do feito, mas às peculiaridades do caso,
bem como à atuação da defesa" (RHC 120133/PA, 2.a T., reI. Ricardo
Lewandowski, 18.02.2014, v.u).
• "I - O prazo para julgamento da ação penal mostra-se dilatado em
decorrência da complexidade do caso, uma vez que o réu e mais três
corréus foram denunciados pela prática do crime de homicídio tripla-
mente qualificado em concurso material com o de furto. Ademais, várias
testemunhas residem em comarca diversa daquela onde tramita o feito,
o que demanda a expedição de cartas precatórias e provoca a dilação dos
prazos processuais. II - A jurisprudência desta Corte é firme no sentido
de que não procede a alegação de excesso de prazo quando a complexi-
dade do feito, as peculiaridades da causa ou a defesa contribuem para
eventual dilação do prazo. Precedentes. III - A prisão cautelar mostra-se
suficientemente motivada para a preservação da ordem pública, tendo
em vista a periculosidade do paciente, verificada pelo modus operandi
mediante o qual foi praticado o delito. Precedentes. IV - Ordem dene-
gada" (HC 115112/SP, 2.a T., reI. Ricardo Lewandowski, 19.03.2013, v.u.).
• "Imputação do delito previsto no art. 217- A do Código Penal. Inexis-
tência de excesso de prazo para a formação da culpa. Ordem denegada.
1. Ação penal em tramitação na origem em prazo razoável e regular,
consideradas as peculiaridades do feito; necessidade de oitiva da vítima
ao lado de psicólogo, demora no andamento desse processo devido à
atuação da defesa. 2. Autos da ação penal na origem conclusos para
a sentença. Evidência de que a prestação jurisdicional na origem está
na iminência de ser exaurida. 3. Ordem denegada" (HC 119239/PI,
2.a T., reI. Cármen Lúcia, 18.03.2014, v.u.).
Lesão à razoabilidade
• "No caso, o decreto prisional encontra-se devidamente fundamentado
em dados extraídos dos autos, que evidenciam que a liberdade do ora
recorrente acarretaria risco à ordem pública, notadamente se conside-
CAPo V • FUNDAMENTO JURfDICO 1135
Processo complexo
• "1. Os prazos para a conclusão da instrução criminal não são peremp-
tórios, podendo ser flexibilizados diante das peculiaridades do caso
concreto, em atenção e dentro dos limites da razoabilidade. 2. No
caso dos autos, a ação penal vem tramitando regularmente, faltando
apenas o retorno da última carta precatória em que, recentemente,
foi colhido o depoimento de testemunha de acusação, não havendo
notícias de que esteja ocorrendo morosidade ou retardo excessivo na
implementação das fases processuais, tampouco desídia ou inércia na
prestação jurisdicional, em processo que se apura a prática delitiva
de narcotraficância perpetrada por 3 (três) agentes e envolvendo
considerável quantidade e variedade de droga apreendida - aproxi-
madamente 7 kg de cocaína e 7,5 kg de maconha, além de crack -,
tendo sido necessária a deprecação em outras comarcas para oitiva de
testemunhas, o que afasta a coação ilegal suscitada na irresignação. 3.
Indevida a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão quando
a segregação encontra-se justificada e mostra-se imprescindível para
acautelar o meio social da reprodução de fatos criminosos. 4. Vedada
a apreciação, diretamente por esta Corte Superior de Justiça, da tese
de que a decisão judicial favorável proferida em favor dos corréus
se estenda ao recorrente, extrapolação do prazo razoável da prisão
preventiva, quando a questão não foi analisada no aresto combatido.
5. Recurso ordinário parcialmente conhecido e, nesta extensão, im-
provido" (RHC 75132/RS, 5.a T., reI. Jorge Mussi, 25.10.2016, v.u.) .
• "Constitui entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça
que somente configura constrangimento ilegal por excesso de prazo
na formação da culpa, apto a ensejar o relaxamento da prisão cautelar,
a mora que decorra de ofensa ao princípio da razoabilidade, consubs-
tanciada em desídia do Poder Judiciário ou da acusação, jamais sendo
aferÍvel apenas a partir da mera soma aritmética dos prazos processuais.
In casu, o processo tem seguido regular tramitação. O maior prazo
CAPo V • FUNDAMENTO JURfDICO 1137
Gravidade concreta
• "1. Apresentada fundamentação concreta para a decretação da prisão
preventiva, evidenciada na grande quantidade de entorpecente apreen-
dido, tratando-se de 1.880 gramas de maconha, bem como indícios de
participação da paciente em organização criminosa, como enfatizado
pelo magistrado de piso, ao afirmar que 'a existência de indícios nos
autos de associação criminosa entre os investigados, demonstrando
um tráfico de médio porte, bem como dedicação exclusiva a atividades
criminosas, sendo a prisão preventiva a custódia cautelar perfeitamente
adequada ao caso em tela: não há que se falar em ilegalidade a justificar
a concessão de habeas corpus. 2. Não constatada clara mora estatal em
ação penal onde a sucessão de atos processuais infirma a ideia de parali-
sação indevida da ação penal ou de culpa do estado persecutor, não se vê
demonstrada ilegalidade no prazo da persecução criminal desenvolvida.
3. Habeas corpus denegado, mas com a recomendação de que o juízo de
piso confira maior celeridade à ação penal, com o fito de instruir e julgar
o processo" (BC 351557/PB, 6.a T., reI. Nefi Cordeiro, 02.08.2016, v.u.).
15. Oliveira Machado diz: "a simples negligência, a lentidão não justificada, a ignorância,
a prevaricação, a acumulação de serviços não urgentes e adiáveis são insuficientes
para escusar o juiz da obrigação, imposta pela lei, de acelerar e concluir os termos
da culpa. Para se isentar da responsabilidade, o juiz deve demonstrar que fez tudo
quanto lhe cabia fazer para superar os obstáculos supervenientes" (O habeas corpus
CAPo V • FUNDAMENTO JURfDICO 1141
no Brasil, p. 108). E Tavares Bastos completa: "os motivos impeditivos devem ser
superiores à vontade da autoridade processante, e às vezes podem mesmo tornar
esse prazo indeterminado. O juiz deve dar razões da demora na formação da culpa
(... ). Os juízes superiores ao formador do processo e culpa, bem como os tribunais,
jamais deveriam deixar que tal negligência tivesse lugar, instaurando o processo de
responsabilidade para aquelas autoridades não diligentes. Quantos réus de crimes
hediondos não são soltos pelo habeas corpus baseada a concessão na demora da
formação da culpa, quando são protegidos por juízes formadores da culpa!" (O
habeas corpus na República, p. 121-122).
142 I HABEAS CORPUS - NuCCl
cada pela própria defesa, não.16 Nesse caso, o princípio regente é simples:
a ninguém é dado beneficiar-se da própria torpezaY Poder-se-ia dizer
que o réu preso não pode arcar com a atitude antiética de seu advogado.
Entretanto, quando se tratar de defensor constituído, quer-se crer tenha
confiança no profissional e deva ter discutido a linha defensiva, com co-
nhecimento da ação protelatória.18 Cuidando-se de defensor dativo, sem
dúvida, deve o juiz intervir, declarando o réu indefeso, nomeando-se outro
para o patrocínio da causa, antes mesmo que se possa gerar a indevida
lentidão. Se, porventura, tratar-se de defensor público, também cabe ao
juiz intervir, comunicando o episódio à chefia da instituição.
Supremo Tribunal Federal
• "O Supremo Tribunal Federal entende que a aferição de eventual ex-
cesso de prazo é de se dar em cada caso concreto, atento o julgador
às peculiaridades do processo em que estiver oficiando" (HC 110365/
SP, l.a T., reI. Dias Toffoli, 28.02.2012, v.u.).
Superior Tribunal de Justiça
• "Conforme entendimento pacífico desta Corte Superior, eventual ex-
cesso de prazo deve ser analisado à luz do princípio da razoabilidade,
permitido ao Juízo, em hipóteses excepcionais, ante as peculiaridades
da causa, a extrapolação dos prazos previstos na lei processual penal,
visto que essa aferição não resulta de simples operação aritmética"
(HC 228033/SP, 5.a T., reI. Marco Aurélio Bellizze, 14.08.2012, v.u.).
Tribunal de Justiça do Paraná
• "Não constitui constrangimento ilegal o excesso de prazo na instrução,
provocado pela defesa, Súmula 64, STJ" (HC 928543-6, 4.a Câmara
Criminal, reI. Carvilio da Silveira Filho, 26.07.2012, v.u.).
16. Súmula 64, STJ: "não constitui constrangimento ilegal o excesso de prazo na ins-
trução, provocado pela defesa".No mesmo sentido, Frederico Marques (Elementos
de direito processual penal, p. 371).
17. Segundo Bento de Faria, "a demora pode se apresentar justificada por motivos
que são relevantes da responsabilidade do Juiz, v.g. - quando for determinada pelo
próprio acusado, quer usando, intencionalmente, de meios protelatórios, quer pelas
dificuldades das diligências por ele próprio requeridas em sua defesa, ou, ainda, em
casos que revistam os caracteres da força maior" (Código de Processo Penal, p. 373).
18. Eventualmente, se o magistrado perceber a nítida desídia do defensor constituído
para realizar os atos que lhe cabem, pode considerar o acusado indefeso, em razão
de estar preso há mais tempo que o devido por culpa de seu advogado.
CAPo V • FUNDAMENTO JURfDICO \143
5.1.3.2 Proporcionalidade
5.1.3.7 Prisão-pena
cerário, submete-se, segundo a lei, à decisão judicial. Cabe a este zelar pelo
cumprimento de seus julgados. Ora, se o magistrado que deferiu a progressão
ao semiaberto oficiou para conseguir a vaga, nada mais faz para ver cumprido
o seu veredicto, e torna-se, por omissão, automaticamente, autoridade coatora.
Seria o mesmo que conceder liberdade provisória ao acusado ou relaxar o
flagrante e não se importar se o seu alvará de soltura foi realmente cumprido.
Quanto à segunda, há dois pontos relevantes:
a) o sentenciado, ao impetrar habeas corpus, não pleiteia nenhuma
espécie de progressão por salto; não pretende passar do fechado ao aberto
como solução definitiva; na realidade, quer que o Estado cumpra a lei,
inserindo-o no regime deferido pelo Poder Judiciário, independentemente
de ficar esperando em fila, não prevista em lei;
b) não conhecer ou indeferir o pedido de habeas corpus, porque o
preso deveria ter dirigido seu pleito ao juiz de primeiro grau significa,
simplesmente, impor-lhe uma via crucis inadequada e protelatória; afinal,
foi o juiz das execuções que o transferiu para o semiaberto, mas se omitiu
de fazer valer a sua decisão.
Logo, significa exigir do preso que se dirija à autoridade coatora para
pleitear algo que ele, por certo, não quis fazer. Fosse o magistrado interessado
em solucionar o problema da falta de vagas no semiaberto, ele deveria deferir
a progressão e zelar para a pronta transferência. Se não atingir seu desiderato,
ato contínuo, poderia inserir o sentenciado no aberto para que aguardasse a
referida vaga. Contudo, se não o fez, não se pode exigir do preso um percurso
infindável até que consiga o seu direito: estar no regime imposto pelo próprio
Judiciário. A vingar esse entendimento, todo preso em flagrante, não recebendo
do juiz a liberdade provisória, mas, sim, a conversão da prisão em preventiva,
deveria, antes de ir ao Tribunal, pedir ao magistrado que lhe conceda algo que,
por óbvio, o magistrado não quis fazer. Torna-se o juiz autoridade coatora
assim que converte a prisão em flagrante em preventiva, independentemente
de qualquer outra declaração. Supressão de instância significa que o Tribunal
conhece de assunto nunca antes discutido por instância anterior/inferior. Não
é o caso do sentenciado que tem o semiaberto deferido, mas não o consegue
concretamente, por omissão do juiz.
24. "Hoje, a garantia do habeas corpus tem formado o caminho de sua mutação proces-
sual, vale dizer, não somente tutelar a liberdade contra detenções arbitrárias, mas
corrigir os gravames impostos ilegalmente aos que forem privados da liberdade,
ainda quando esta seja fundadà' (Gumesindo GarCÍaMorelos, El proceso de habeas
corpus y los derechos fundamentales, p. 84, tradução livre).
25. Súmula 695, STF: "não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de
liberdade':
CAPo V • FUNDAMENTO JURfDICO I 159
pois se trata de doença mental e, enquanto não curado o internado, não deve
ser liberado, em seu próprio benefício, há quem sustente o contrário. Existe,
inclusive, posição do STF, no sentido de que a medida de segurança, assim
como a pena privativa de liberdade, não pode ultrapassar o prazo de 30 anos,
fIxado no art. 75 do Código Penal. Adotando-se tal visão, atingindo-se os 30
anos de internação, não sendo o sujeito liberado pelo magistrado das execuções
penais, cabe a impetração de habeas corpus. Vale citar, ainda, a Súmula 527
do STJ: "O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar
o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado:'
Lembremos que a peça inicial pode ser oferecida por qualquer pessoa,
mesmo inculta e sem nenhuma formação jurídica, o que envolve a situação
do preso, quando milita em seu próprio favor; por isso, o juiz há de ter
complacência e flexibilidade, deixando passar certas falhas, procurando
sanar, ele mesmo, as deficiências.2 Ademais, muitas ações de habeas corpus
foram ajuizadas por réus ou condenados presos, em linguagem simples,
5. Nesta visão, Espínola Filho (Código de Processo Penal brasileiro anotado, p. 221).
6. Código de Processo Penal, p. 38l.
7. História e prática do habeas corpus, p. 375.
8. O habeas corpus no Brasil, p. 57-58.
CAPo VI • PROCEDIMENTO I 169
10. Interessante observação faz Paulo Roberto da Silva Passos: "a apresentação do preso
e as diligências suprarreferidas [para verificar a coação], determinadas ou realizadas
pelo Magistrado, prendem-se à busca da verdade real, que norteia o processo penal,
verdade real essa que não pode prescindir da requisição de informações quando
julgá-las necessários o Juiz" (Do habeas corpus, p. 46).
11. História e prática do habeas corpus, p. 469.
CAPo VI • PROCEDIMENTO 1171
6.2 Liminar
12. Como lembra Pontes de Miranda, "a petição há de ser respeitosa, mas o desrespeito não
basta para que se indefira o pedido de habeas corpus, nem que se negue provimento a
recurso. A respeitabilidade e o respeito das autoridades públicas são pressupostos da
ordem social; porém de modo nenhum pode a exigência do respeito passar à frente
da liberdade de ir, ficar e vir" (História e prática do habeas corpus, p. 409).
172 I HABEAS CORPUS - NuCCl
13. Amoldo Wald, As origens da liminar em habeas corpus no direito brasileiro, p. 804.
14. Medida liminar em habeas corpus, p. 72.
CAPo VI • PROCEDIMENTO I 173
15. Lembra Dante Busana ser "duvidoso que o indeferimento de liminar importe em
coação autônoma, distinta da denunciada na impetração, cujo pleno conhecimento
174 I HABEAS CORPUS - NuCCl
Para isso existem recursos. E tem mais. O próprio STF pode indeferir a
liminar de um habeas corpus, determinando que se aguarde o resultado
das instâncias inferiores, não significando o fim da discussão, devendo o
paciente esperar o deslinde das causas.
compete ao juízo ou tribunal em que aforada. (... ) Não se percebe como a exis-
tência de 'ilegalidade flagrante' possa atribuir competência a órgão judiciário que
não a tem. A generosidade da orientação talvez venha a garantir-lhe, como sói
acontecer em matéria de habeas corpus, marcha vitoriosa. Não sem ferir a regra
da competência hierárquica e ensejar o risco de indesejável prejulgamento dos
tribunais superiores de matéria que exorbita de sua competência originária" (O
habeas corpus no Brasil, p. 141).
16. O mesmo procedimento - apresentação do paciente em juízo - pode ser adotado
pelo relator em qualquer Corte.
17. Nessa ótica: Pontes de Miranda (História e prática do habeas corpus, p. 457).
CAPo VI • PROCEDIMENTO 1175
18. Nas palavras de Tavares Bastos, "pelo vocábulo detentor se compreende qualquer
pessoa do povo, nacional ou estrangeira que tenha feito a prisão em flagrante delito,
inspetor, agente de força pública, oficial de justiça, praça ou pessoa particular que
retenha o paciente em cárcere privado, o recrutador, chefe de uma escolta, oficial
militar ou da guarda nacional; finalmente, toda pessoa de caráter público ou parti-
cular, que, legal ou ilegalmente tenha feito captura, ou esteja de vigia do paciente"
(O habeas corpus na República, p. 116).
19. O detentor não é necessariamente o coator, mas a pessoa que, geralmente, executa
as ordens deste, mantendo presa a pessoa. É considerado detentor o carcereiro, por
exemplo, que mantém o sujeito detido.
20. História e prática do habeas corpus, p. 374.
21. Código de Processo Penal comentado, p. 591.
176 I HABEAS CORPUS - NuCCl
22. "A autoridade pública, coatora ou ameaçadora, mesmo judiciária, tem o dever de
informação imediata, de modo que o infringe se não o faz imediatamente, ou no
prazo que lhe marcou a justiça" (Pontes de Miranda, História e prática do habeas
corpus, p. 431).
23. É o que sustenta Vicente Sabino Jr. (O habeas corpus, p. 83).
24. Assim também é a posição de Bento de Faria (Código de Processo Penal, p. 386).
CAPo VI • PROCEDIMENTO I 177
25. "Por se tratar de autoridade, devem ser cridas as suas informações até prova em
contrário" (Florêncio de Abreu, Comentários ao Código de Processo Penal, p. 600).
Igualmente, Frederico Marques (Elementos de direito processual penal, p. 391);
Espínola Filho (Código de Processo Penal brasileiro anotado, p. 223). Em contrário,
Gustavo Badaró, afirmando que conceder às informações presunção de veracidade
implica reconhecer um privilégio inadequado colocando em posição superior a
autoridade em detrimento da liberdade (Processo penal, p. 688). Assim não nos
parece. Não se trata de colocar numa balança a autoridade versus a liberdade. Há
um erro de enfoque. A autoridade deve informar ao Tribunal a verdade dos fatos,
sob pena de responder pelo crime de falsidade ideológica. Somente por isso já não se
encontra em posição superior ao impetrante. Este pode alegar o que bem entender,
inclusive mentir quanto quiser, não respondendo por delito algum. Por outro lado,
as informações não correspondem a uma contestação, como se houvesse igualdade
das partes no processo. Elas servem de apoio ao Tribunal, quando emanadas de
autoridade, para aquilatar a realidade dos fatos; a valoração desses fatos é coisa bem
diversa. Se a prisão é legal ou ilegal, após o decurso do prazo de quatro meses de
instrução, atendendo ou não o princípio da razoabilidade, é o mérito do habeas
corpus. O que a autoridade vai informar com veracidade é a duração do processo
em quatro meses e os motivos disso. Se é razoável ou não, decidirá o Tribunal.
26. Dependendo do conteúdo das informações, pode-se configurar o crime de falsidade
ideológica. Além disso, retratando inverdades nessa peça, pode tornar clara a prática
do delito de abuso de autoridade.
27. Eduardo Espínola Filho, Código de Processo Penal brasileiro anotado, p. 223.
28. No mesmo sentido, Pontes de Miranda (História e prática do habeas corpus, p. 423).
178 I HABEAS CORPUS - NuCCl
29. Ver, ainda, o item 6.4 sobre a presunção de veracidade das informações.
30. Embora reconhecendo ser essa a posição predominante, Gustavo Badaró discorda,
opinando que, em caso de dúvida, deve prevalecer o direito à liberdade (Processo
penal, p. 686-688).
31. Em contrário, Paulo Roberto da Silva Passos, sustentando que, na dúvida, deve o
magistrado conceder a ordem em favor do paciente, pois se trata o habeas corpus de
instrumento de tutela da liberdade (Do habeas corpus, p. 48). Se dúvida, o habeas
corpus é um remédio heroico para solucionar, rapidamente, constrições à liberdade
individual, quando ilegais e abusivas. Não se trata de chave de cadeia, significando
um alvará de soltura indeterminado constitucionalmente assegurado. No campo das
autoridades públicas, no polo passivo, presume-se que seus atos sejam legais - e não
o contrário. Quanto ao particular, rara é a situação que demanda habeas corpus, pois
os constrangimentos nítidos à liberdade individual podem ser resolvidos pela polícia,
prendendo-se o coator em flagrante, quando o caso. No entanto, se é duvidosa a
detenção do paciente - como no exemplo do médico, que determina a internação
de pessoa considerada enferma mental -, não deve o Judiciário, na dúvida, atropelar
o parecer médico, soltando quem pode ferir ou se ferir, sem a vigilância necessária.
CAPo VI • PROCEDIMENTO /179
6.7 Mérito
38. Em igual ótica, Florêncio de Abreu (Comentários ao Código de Processo Penal, p. 591).
39. Em sentido contrário, sustentando a prejudicialidade, está a posição de Pontes de
Miranda (História e prática do habeas corpus, p. 412).
CAPo VI • PROCEDIMENTO 1187
Corte não o conhece, mas entra na questão para decidir se concede ou não a
ordem de ofício. Se conceder, melhor para o impetrante; torna-se prejudicado
o recurso ordinário. Se negar, o impetrante ainda tem outra chance, pois o
STJ será obrigado a conhecer do recurso ordinário constitucional, avaliando
o mérito da questão, novamente. Ora, se negou a ordem de ofício, é bem
possível que considere improcedente o recurso ordinário; mas tudo pode
acontecer, incluindo a mudança da composição da turma, viabilizando que
a ordem, antes negada (de ofício), agora venha a ser concedida.
Em suma, com a atual sistemática, o impetrante passaria a ter duas
chances: pela via do habeas corpus interposto contra habeas corpus an-
terior e por intermédio do recurso ordinário constitucional. Entretanto,
a La T. do STF e a do ST] têm negado provimento ao recurso ordinário
constitucional - ou o considera prejudicado - quando já analisaram o
habeas corpus, interposto concomitantemente, com precedente decisão
de não conhecimento ou com a concessão de ofício da ordem.
que fixe, à vista do que dispõe o art. 33, ~~ 2.° e 3.°, do Código Penal,
o regime inicial condizente, bem como avalie a possibilidade de substi-
tuição da pena privativa de liberdade por penas restritivas de direitos"
(HC 119225/PR, La T., reI. Dias Toffoli, 18.03.2014, v.u.).
• "1. A competência do Supremo Tribunal Federal 'somente se inaugura
com a prolação do ato colegiado, salvo as hipóteses de exceção à Sú-
mula 691/STF' (HC 113.468, ReI. Min. Luiz Fux). 2. Hipótese em que
não foi exaurida a instância, tendo em vista que não fora interposto
agravo regimental contra a decisão monocrática do relator no Supe-
rior Tribunal de Justiça. 3. A superveniência do julgamento do mérito
do habeas corpus impetrado no Tribunal de segundo grau prejudica
a análise da impetração. Precedentes. 4. Paciente preso em flagrante
delito e denunciado por roubo majorado pelo emprego de arma de
fogo e concurso de pessoas. 5. Inocorrência de teratologia, ilegalidade
flagrante ou abuso de poder na prisão preventiva para a garantia da
ordem pública. 6. Agravo regimental desprovido" (HC 115318 AgR/
SP, La T., reI. Roberto Barroso, 18.03.2014, m.v.).
disposto pelo art. 648, VI, do CPP. E a competência para julgar o habeas
corpus é do Tribunal superior àquele que apreciou a revisão criminal.
Tratando-se do STF, como órgão julgador da revisão, a essa mesma
Corte deve ser dirigido o habeas corpus.
o habeas
corpus não é meio adequado, pois a suspensão condicional
da pena possui requisitos objetivos e subjetivos, que merecem análise
detida feita pelo magistrado. Especialmente quanto aos aspectos subjeti-
vos, não cabe a avaliação do seu cabimento em habeas corpus. Ademais,
a concessão ou não do sursis sempre comporta recurso.
8.7.4 Desaforamento
crime não tem lugar na estreita via do habeas corpus por demandar
aprofundado exame do conjunto fático-probatório da causa, e não
mera revaloração. Precedentes. III - Recurso ordinário não provido"
(RHC 120417/AL, 2.a T., reI. Ricardo Lewandowski, 11.03.2014, v.u.).
A visita íntima não tem previsão em lei, razão pela qual inexiste direito
líquido e certo a defender, quando o diretor do estabelecimento prisional
8. Para Gustavo Badaró, cabe habeas corpus assim que for fixada a pena restritiva de
direitos, pois a liberdade de locomoção poderá ser violada, caso haja conversão
em privativa de liberdade (Processo penal, p. 678). Assim não pensamos, pois o
estabelecimento da restritiva de direitos se dá na decisão condenatória contra a
qual cabe apelação e não há chance de conversão, antes do trânsito em julgado.
246 I HABEAS CORPUS - NuCCl
não permite essa forma de visitação. Além disso, o direito de visita não
tem nenhuma conexão com a liberdade de locomoção.
Sob outro aspecto, temos defendido que, no plano administrativo,
todos devem ser tratados de forma igualitária perante a lei. Diante disso,
o coordenador do presídio, se optar pela concessão do benefício da visita
íntima, deve fazê-lo em relação a todos, sem nenhuma forma de discri-
minação. Se conceder a uns e negar a outros, os prejudicados podem
peticionar ao juiz das execuções penais para que interfira, solucionando
o caso: ou todos têm ou ninguém tem.
Caso o magistrado não intervenha, pode-se interpor agravo. Con-
forme o caso, a depender da concreta situação, até mesmo mandado de
segurança pode ser ajuizado. No entanto, descabe habeas corpus.
pode prender alguém por ordem verbal ou por meio de decisão escrita, sem
motivação; ou ainda quando for incompetente para avaliar o caso criminal.
Havendo a denominada prisão para averiguação, torna-se possível
o ajuizamento de habeas corpus perante o juiz contra ato ilegal da auto-
ridade policial.
10. Código de Processo Penal comentado; Manual de processo penal e execução penal.
11. É valioso destacar que muitos dos que sustentam posição contrária, defendendo a
possibilidade investigatória do MP, esquivam-se do ponto central do debate. E este
ponto concentra-se na investigação de gabinete, sem nenhuma fiscalização, sem
acesso do advogado do suspeito, sem publicidade, sem registro, enfim, um "proto-
colado" de gaveta. É contra isso que nós temos nos insurgido - e não na escorreita
investigação do Parquet, aberta o suficiente para ser fiscalizada pelo Judiciário,
inclusive pela interposição de habeas corpus pelo interessado em trancá-la.
CAPo VIII • PONTOS POLEMICOS DO HABEAS CORPUS I 261
O advento de lei penal favorável faz incidir o disposto pelo art. 5.°,
XL, da Constituição Federal e pelo art. 2. do Código Penal, determinando
0
internos dos Tribunais não podem prever algo nesse sentido, sob pena de
afrontar o princípio da colegialidade.