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DE LÍNGUAS E O BILINGUISMO”
Ijuí – RS
2013
1
DE LÍNGUAS E O BILINGUISMO”
Ijuí – RS
2013
2
AGRADECIMENTOS
RESUMO
A busca pelo domínio de uma segunda língua por parte de adultos e crianças vem
aumentando cada vez mais. O domínio de uma segunda língua leva o indivíduo a se
tornar um indivíduo bilíngue. Com base nisso, o objetivo deste estudo é apresentar
as principais teorias de aquisição de língua e conceituar o termo bilíngue, bem como
esclarecer outros aspectos que englobem o tema como educação bilíngue e o
possível desenvolvimento cognitivo e cerebral de uma pessoa que se comunica e
domina mais de uma língua. Para tanto será feito um estudo bibliográfico com os
principais autores sobre o tema. Assim, ao explanarmos as teorias de aquisição de
língua constatamos que a teoria de Stephen Krashen e suas cinco hipóteses é a
teoria que melhor nos explica o processo de aquisição e aprendizagem de línguas,
processos esses que são conceituadas e diferenciadas pelo autor. Já no que diz
respeito ao bilinguismo, relatamos sua origem e expomos seus vários conceitos,
chegando à conclusão de que um indivíduo bilíngue é aquele que consegue
comunicar-se em mais de uma língua, dentro ou fora de sua comunidade linguística.
E finalizando, encontramos pesquisas e evidencias que nos mostram que existem de
fato vantagens cognitivas e cerebrais em indivíduos que são bilíngues. Desta forma,
contribuímos para o estudo sobre segunda língua e o recente estudo sobre
bilinguismo.
ABSTRACT
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 6
2 O BILINGUISMO ................................................................................................... 27
2.1 ORIGEM DO BILINGUISMO ............................................................................... 27
2.2 DEFINIÇÃO DO TERMO BILÍNGUE ................................................................... 31
2.3 EDUCAÇÃO BILÍNGUE ...................................................................................... 37
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 50
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 52
6
INTRODUÇÃO
1
O signo linguístico é a união do significado a um significante.
2
Na obra A construção do pensamento e da linguagem (2009) de Vygotsky, podemos encontrar
pesquisas feitas com chimpanzés em relação ao desenvolvimento da linguagem.
7
3
As traduções serão feitas pela autora ao longo do texto (TP): "Na verdade, um das significativas
descobertas da pesquisa em aquisição de segunda língua tem sido de que há semelhanças
importantes entre aquisição da primeira e de segunda”.
4
O termo teoria é aqui substituído pelo termo abordagem, podendo usar hora um, hora outro.
10
Assim, não há motivos para não desafiar e não encorajar uma criança a falar
duas línguas. As autoras ainda expõem questões que afirmam isso ainda mais. Para
elas quando uma criança aprende uma língua em seu ambiente familiar, e é por
meio desta que sabe se comunicar, ao frequentar uma escola onde se fala outra
língua, a criança recebe um “corte” em sua primeira língua. Isso fará com que ela
perca a linguagem da família sem tê-la dominado. Desta forma, ela não estará
dominando a segunda língua e não continuará a desenvolver a primeira.
5
TP: A evidência sugere que, quando bilingues simultâneos estão em contacto com ambos os idiomas
em uma variedade de configurações, existe muitas razões para esperar que eles irão avançar no
desenvolvimento de ambas as línguas, a um ritmo e de um modo que não são diferentes das crianças
monilingues.
11
Por parte da escola, ainda será pedido que os pais parem de falar a língua
que falam em casa e se concentrem na “nova língua” desta criança, que é a
majoritária. Nestes casos, porém, é importante que a família continue falando entre
si a língua materna6, para pelo menos a criança manter a compreensão da mesma.
Não há evidências de que o cérebro infantil tenha capacidades ilimitadas, de
forma que o conhecimento de uma língua não diminuiria a aprendizagem de uma
nova língua, ou seja, nem a criança, nem o adulto, esqueceriam os conhecimentos
que já adquiriu em uma língua ao aprender outra. Crianças que têm oportunidades
de aprender múltiplas línguas e mantê-las em suas vidas devem ser encorajadas a
aprendê-las, sendo o mesmo caso para adultos.
A aprendizagem entre crianças e adultos difere em alguns pontos, pois
crianças normalmente aprendem sem objetivos, sem benefícios e sem os
conhecimentos sobre a língua que um adulto já possui. Além disso, crianças não
apresentam nervosismo ao tentarem usar a nova língua e não se preocupam com os
erros ocorridos. Já adultos e adolescentes consideram a tentativa de fala, muitas
vezes, uma ação estressante quando não conseguem proferir sentenças claras e
corretas. Crianças tendem a se “arriscar” mais na nova língua, enquanto aprendizes
mais velhos tendem a permanecer por um tempo em silêncio até terem de ser
forçados a falar. (Ligthbown & Spada, 1999).
As autoras alertam que para se desenvolver uma nova língua, é necessário
já ter pelo menos adquirido uma língua. Este prévio conhecimento pode ser
vantajoso em matéria de que o aprendiz já sabe como uma língua funciona. Por
outro lado, deve-se perceber que o conhecimento de outra língua pode conduzir os
aprendizes a fazer suposições incorretas sobre como a segunda língua funciona.
Contudo, de acordo com Ligthbown & Spada (1999, p. 03) “there seems to
be little support for the myth that learning more one language in early childhood
slows down the child’s linguistic or cognitive development.7” Estas informações foram
aqui colocadas para situar o leitor sobre o que o acontece com indivíduos que
aprendem duas línguas e, já de antemão, esclarecer que a aprendizagem de mais
de uma língua não é de forma alguma prejudicial a este ser.
6
Também chamada língua familiar.
7
"Parece haver pouco apoio para o mito de que aprender mais um idioma na primeira infância retarda
o desenvolvimento linguístico e cognitivo da criança."
12
1.2 BEHAVIORISMO
8
TP: “... quando os pais corrigem os erros, as crianças frequentemente ignoram a correção,
continuando a usar sua própria maneira de falar as coisas”.
13
Para essa teoria segundo as mesmas autoras, Ligthbown & Spada, é mais
fácil de aprender uma segunda língua que seja semelhante à língua materna. Do
mesmo modo quando uma língua apresenta muitas diferenças, o aprendiz
encontrará maior dificuldade em aprendê-la.
Segundo Figueiredo (1995, p. 48) esta abordagem pode usar de técnicas de
repetição exaustivas e intensivas de estruturas e exercícios de substituição, que
promovem o estabelecimento de novos hábitos necessários para se aprender uma
segunda língua. É através dessas incansáveis repetições que o aprendiz deixa de
produzir erros. Esse tipo de exercício aparece até hoje em livros de aprendizagem
de línguas, acreditando-se ainda que é a repetição que fará o indivíduo a aprender
uma nova língua.
Contudo, essa abordagem é uma explicação incompleta da aquisição da
segunda língua e mesmo da aquisição da língua materna. (Lightbown & Spada,
1994, p. 25 apud Figueiredo, 1995, p.48). O aluno, segundo Figueiredo (1995, p. 48)
“aprende com a experiência, mas não somente da experiência, como comprovam
tantas outras teorias” as quais veremos mais adiante. Além do que fora citado, o que
mais deixa a desejar nesta abordagem é o fato de que, como um indivíduo é capaz
de elaborar ou produzir, sentenças que nunca ouviu antes. Se um aprendiz falasse
somente o que é repetido, a aprendizagem de uma nova língua seria um processo
muito mais longo que o habitual.
Ainda, nesta abordagem, o professor é o centro da aprendizagem, não
interessa a história, a cultura, os hábitos e os conhecimentos que o aprendiz já
adquiriu anteriormente. Tudo que o professor diz está correto, e não há possibilidade
de críticas ou reflexões.
1.3 INATISMO
Noam Chomsky afirma, segundo Ligthbown & Spada, (1999, p. 15) “... that
children are biologically programmed for language develops in the child in just the
same way that other biological functions developed 9.” O ato de desenvolver uma
língua é para ele como o ato de aprender a caminhar, tendo para isso um período 10
9
“... que as crianças são biologicamente programadas para desenvolver uma língua na infância da
mesma maneira que o desenvolvimento de outra função biológica...”.
10
Período que Chomsky nomeia como “critical period”.
14
1.4 INTERACIONISMO
11
Crianças que já não são recém-nascidos, com até dois anos de idade. Fonte:
http://www.dicionarioinformal.com.br/lactente/
15
ambiente do que os inatistas, ambiente que forneça amostras da língua que se vai
aprender.
Para os interacionistas “... language acquisition focusses on the role of the
linguistic environment in interaction with the child’s innate capacities in determining
language development.12” (Ligthbown & Spada, 1999, p. 22). Assim, o que esta
teoria nos diz é que o desenvolvimento da linguagem está voltado ao ambiente. Em
suma, a linguagem é o resultado de uma ação complexa entre exclusivamente as
características humanas e o ambiente em que ela se desenvolve.
Piaget, de acordo com Ligthbown & Spada (1999), não via a língua como
base num módulo na mente como Chomsky. Para ele a linguagem se desenvolve na
infância e pode ser usada para representar o conhecimento que a criança tem
adquirido com a interação física no seu ambiente. Constatamos isso na afirmação
“the developing cognitive understanding is built on the interaction between the child
and the things which can observed, touched and manipulated 13” feita por Ligthbown
& Spada (1999, p. 23).
Essa teoria anos mais tarde, ganha a contribuição de Lew Vygotsky (1896-
1934), intelectual russo, que trabalhou na União Soviética, o qual possuía um amplo
e diversificado conhecimento, atuando em áreas da psicologia, educação, medicina,
direito, filosofia entre outras. Sua teoria também pode ser encontrada como teoria
socioconstrutivista, sociointeracionismo entre outros.
Segundo Ligthbown & Spada (1999, p. 23), “... Vygostky’s view differs from
Piaget.”14 Piaget admitiu a hipótese do desenvolvimento da língua como um sistema
de símbolos para expressar o conhecimento adquirido através da interação com o
mundo do físico. Já para Vygotsky o pensamento era essencialmente o discurso
internalizado, e esse discurso emerge com a interação social. Devido a isso,
podemos dizer que Vygotsky conclui que, o desenvolvimento da linguagem dá-se na
interação social. Em outras palavras, ele estruturou um sistema de pensamento
tendo como base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo
sócio histórico, enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse
desenvolvimento.
12
TP: "... aquisição da linguagem enfoca o papel do ambiente linguístico em interação com
capacidades inatas da criança para determinar o desenvolvimento da linguagem”.
13
“a compreensão cognitiva do desenvolvimento baseia-se na interação entre a criança e as coisas
que pode ser observado, tocado e manipulado.”
14
TP: “... a visão de Vygotsky difere de Piaget”.
16
O que fora dito acima reforça o que vinha sendo mostrado e nos fala ainda
sobre a Zona de Desenvolvimento Proximal que como fora dito é o intervalo entre o
que a criança consegue fazer sozinha e o que ela faz com a ajuda de outro
indivíduo. É nesse espaço que o professor atua, criando situações para que a
criança avance em seus conhecimentos permitindo que ela faça sozinha, o que
antes só conseguiria fazer com a ajuda de um adulto.
Um fato interessante é citado na obra Abordagens, Métodos e
Perspectivas16:
Por isso que, o que fora dito por Vygotsky em relação ao Piaget era uma
correção do que este último havia postulado. Desta forma, resumidamente, a teoria
sociocultural de Vygotsky assume que a aquisição ocorre na interação do aprendiz e
do interlocutor, ao passo que outros modelos interacionistas assumem que a entrada
(input) modificada, fornece ao aprendiz materiais linguísticos que são processados
internamente e invisivelmente (Ligthbown & Spada, 1999, p. 44).
15
TP: "Vygotsky se refere ao que a criança poderia fazer em um ambiente interativo de apoio, a
criança é capaz de avançar para um nível mais elevado de conhecimento e desempenho do que ele
ou ela seria capaz de forma independente. Vygotsky se refere ao que a criança pode fazer na
interação com o outro, mas não só, como zona de desenvolvimento proximal da criança. Ele observou
a importância das conversas que as crianças têm com os adultos e com outras crianças e viu nessas
conversas as origens da língua e pensamento”.
16
Livro do curso de Especialização para o quadro do Magistério da SEESP de São Paulo.
17
17
História que o autor traduz da Obra The Art of Learning and Studying Foregn Languages, de Brown,
1880, p. 43).
18
18
Livre docente – IEL – Unicamp – Campinas – SP. Texto disponível em:
http://www.doneforyou.com.br/padrao.aspx?texto.aspx?idcontent=240&idContentSection=1836
19
Mestre em linguística pela Universidade Federal de Goiás. Professor assistente do departamento de
letras da UFG. Texto disponível em: www.revistas.ufg.br/index.php/sig/article/viewFile/7380/5246.
20
Texto disponível em: http://www.iel.unicamp.br/revista/index.php/tla/article/view/1962/1536
19
1.5.3 Do Input
Para este mesmo autor, está é a explicação para a grande falha no ensino
de línguas, uma vez que está centrado apenas na forma consciente de aprender
uma língua, e em exercícios gramaticais exaustivos. Para ele, está forma errônea de
ensinar, não levará o indivíduo à comunicação ou ao uso da língua em situações
reais.
Está hipótese do input postula que a fluência na fala não pode ser ensinada.
O indivíduo deve estar apto, preparado para falar, se não estiver ele repetirá frases
mecanicamente sem se comunicar. De acordo com Almeida Filho, “a incorreção na
produção linguística é característica dos primeiros estágios”. Quanto maior e melhor
for o input, e quanto mais exposição e mais correto for este input recebido, melhor
será a produção linguística, o que consequentemente irá gerar a correção por parte
22
1) falar mais devagar, articulando melhor cada palavra, o que ajuda quem
está aprendendo a identificar os limites das palavras e permite mais tempo
para que o adquirente processo as informações transmitidas;
2) usar palavras mais comuns, mais frequentes, evitar usar expressões
idiomáticas ou gíria, visando a quantidade de input compreensível ;
3) usar estruturas sintáticas mais simples, sentenças mais curtas. Na
aquisição de língua materna, foi observado que à medida que o adquirente
revela maior competência na língua, o input fornecido vai se tornando mais
complexo e fluente.
Almeida Filho ainda nos coloca que para auxiliar ainda mais a
compreensibilidade do input, o professor pode contar com o auxílio de materiais de
apoio durante as aulas. Apresentar aos alunos, jornais, revistas, vídeos, músicas
torna as situações linguísticas mais reais, o que desperta o interesse no aluno.
23
O input deve ser inclusive, interessante. De acordo com Krashen citado por
Almeida Filho, o input ideal é aquele que faz com que o adquirente esqueça que
está recebendo uma mensagem em outra língua. Krashen deixa claro que dadas às
situações de grande número de alunos em sala de aula, será muito difícil o professor
agradar a todos quando proporcionar materiais de apoio, devido a isso, o professor
deve procurar utilizar um bom material e evitar causar o desinteresse no aluno.
O input deve ser suficiente. O que se percebe até então, no resultado de
pesquisas, é de que a quantidade de input vem sendo subestimada. O input não
deve ser dosado ou sequenciado, assim consegue-se alcançar todos os alunos de
uma turma heterogênea, pois em algum momento o input chegará até o aluno.
Para finalizar, um ótimo input não é sequenciado gramaticalmente. Para
Krashen a tentativa de sequenciamento gramatical falhará, pois pensar que em uma
turma todos conhecem e sabem as mesmas regras gramaticais, e que adquirem as
estruturas ao mesmo tempo é ilusão. Inicialmente Krashen era favorável ao
sequenciamento gramatical desde que a ordem natural fosse seguida. Porém,
atualmente ele é contra a essa tentativa. Essas implicações decorrem, inclusive,
dessa realidade que temos salas de aula heterogêneas, ou seja, é difícil seguir uma
sequência ou sequenciar os conteúdos, uma vez que pode acontecer de alguns
alunos já dominarem determinado assunto e que, o tempo de aprender não é o
mesmo para cada aluno21.
1.5.4 Do Monitor
21
O que fora dito neste subtema baseia-se na obra de Almeida Filho.
24
22
O que Ligthbown & Spada (1999) chamam de filtro up.
25
23
O que Ligthbown & Spada (1999) chamam de filtro down.
26
2 O BILINGUISMO
24
Definição de migração: deslocação de populações de uma região para outra ou de um país para
outro. Disponível na http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/migra%C3%A7%C3%A3o;jsessionid=L
4UaWivd1c1dzkj1xOLrPw__
25
Definição de imigrante para fins de evitar mal entendimento: visitante permanente ou temporário a
outro país que não é sua nação. Disponível em: http://www.dicionarioinformal.com.br/imigrante
28
Neste caso, a língua nativa pode com o passar das gerações, se perder e deixar de
ser usada. Qualquer que seja a maneira, o fator mais importante para o
estabelecimento do bilinguismo é a migração. (Grosjean, 1982)
Um tipo de movimento que estava ligado de maneira importante no século
passado era as invasões militares e a posterior colonização. Essas invasões fizeram
com que as línguas se espalhassem pelos locais conquistados. No século XIX, por
exemplo, tanto ingleses como franceses colonizaram uma extensa região na África e
na Ásia (Grosjean, 1982). Segundo Brosnahan (1963) e Cooper (1978), citado em
Grosjean (1982) a língua se espalharia e o bilinguismo aconteceria graças ao
estabelecimento da língua dos invasores ou colonizadores nas novas terras, que
propagavam estas línguas, que resultava no bilinguismo. Assim,
26
TP: A área de conquista deve ser multilingue para que a língua do invasor seja utilizada como
língua franca, especialmente em áreas urbanas, e o uso da linguagem do invasor deve ser aumentar
as oportunidades sociais, políticas, educacionais ou comerciais dos habitantes.
29
27
Língua falada na China.
30
half a nation. A nation should guard its language more than its territories 28.” Por isso
que uma nação só é nação quando esta tem uma língua estabelecida.
A consequência do nacionalismo, é que a língua regional desenvolve-se
fazendo com que muitos habitantes falem a língua nativa, ou seja, a língua da
região, assim como falem a língua nacional, forma esta que leva ao bilinguismo.
Porém em alguns lugares a língua regional é proibida pela política do governo, em
escolas e locais públicos. Contudo, se a mesma política é mais moderada, onde a
língua regional é permitida, temos uma política federalista, onde o uso de duas
línguas é aceito pela lei, podendo ser utilizado em todos os locais. Nações modernas
da África são exemplos de política federalista onde o bilinguismo é norma, desta
forma mantem-se a essência das línguas regionais. Há muitos locais (regiões
geográficas) que estão divididos por muitos países e que os grupos destes locais
possuem uma língua regional ou nativa e uma língua nacional, ocorrendo assim o
bilinguismo (Grosjean, 1982, p. 33 e 34).
Educação e Cultura: outra causa do bilinguismo é educação e cultura. No
império Romano o idioma grego era o idioma da educação e cultura. Quase toda a
educação romana era bilíngue em latim e grego. Pessoas de classes mais elevadas
davam este tipo de educação para seus filhos (Grosjean, 1982, p. 34). Esta é uma
causa que se mantêm, pois em muitos países, como o Brasil, uma segunda língua
só é aprendida por quem tem maiores condições financeiras. Condições estas que
proporcionam uma busca por cursos de idiomas e escolas particulares de alto nível
onde o idioma é ensinado.
A busca por um novo idioma vem ganhando grandes proporções em nosso
país. Com a criação do programa Ciências sem Fronteiras29 do governo federal
brasileiro, que leva estudantes para outros países, muitos estudantes estão
buscando aprender uma nova língua para poderem ser aprovados no programa.
Porém este programa mostrou uma triste realidade, que é a falta de domínio dos
alunos em outras línguas. Os alunos que possuem o domínio de segunda língua são
aqueles que estudaram em escolas particulares e/ou buscaram um curso de idiomas
para aprender uma nova língua. A escola pública brasileira não vem apresentando
28
TP: um povo sem uma linguagem própria é apenas metade de uma nação. A nação deve proteger
sua língua mais do que os seus territórios.
29
Mais informações a respeito do programa ver: http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf
31
bons resultados em relação ao ensino de línguas, mas esta é uma questão que não
detalharemos neste trabalho.
Outras Razões: a industrialização e a urbanização são consideradas como
outras causas do bilinguismo. Uma está ligada a outra, a industrialização,
principalmente com as multinacionais, onde em muitos setores faz-se necessário
que o trabalhador use muito uma língua franca, seja para manter contato com filiais
em outros países, receber instruções entre outras (Grosjean, 1982, p 35).
No Brasil existem várias multinacionais como a JBS, maior processadora de
carnes do mundo; a Gerdau, uma empresa siderúrgica; Metalfrio, fabricante de
refrigeradores; Tigre Tubos e conexões, fabricante de tubos para construções entre
outras. Estas empresas estão presentes no mundo todo e se interligam,
necessitando assim o domínio, de uma língua franca.
Outra razão que Grosjean coloca é a religião, mas nós a vemos como um
fator um pouco mais fraco, pois o que o autor nos coloca, já não é como ele
descreve, pois, o cristianismo já não é mais proferido em latim, isso faz parte do
passado. Então, em tempos passados foi uma causa de bilinguismo, mas hoje em
dia já não poderia ser considerado. O autor também cita o Islã como forma de
propagar a língua árabe.
Grosjean (1982, p. 36) esclarece que todas as causas citadas acima não são
raramente permanentes. Ou seja, podem variar dependendo do período histórico e
das necessidades da humanidade.
30
TP: fluência em duas línguas tem sido frequentemente proposta como critério principal...
32
31
TP: Bilinguismo é o controle nativo de duas línguas.
32
TP: um verdadeiro bilíngüe é alguém que é considerado um dos “seus”, pelos membros de duas
comunidades lingüísticas diferentes, mais ou menos no mesmo nível social e cultural.
33
33
Algumas concepções são unidimensionais, que definem o indivíduo bilíngue apenas em termos de
competência linguística, ignorando outras dimensões. (HARMES E BLANC, 2000 apud MEGALE,
2005, p.6).
34
34
Disponível também no site: http://kauverdianu.blogspot.com.br/2011_04_01_archive.html Acessado
dia: 27/10/2013.
36
ainda, que existiam fatores que conduziam para o bilinguismo, (fatores estes que
enraízam a descrição das dimensões que citamos a cima) e a respeito disso nos diz
que, algumas pessoas aprendem duas línguas em seu lar e podem falar ambas
fluentemente, mas são capazes de ler e escrever em apenas uma delas; outras
aprendem e usam a segunda língua na escola e se saem melhor ao ler e escrever
do que ao falar. Trabalhadores imigrantes geralmente aprendem suas segundas
línguas no trabalho e podem nunca aprender a ler e a escrever com elas, contudo,
diplomatas e homens de negócios internacionais frequentemente necessitam ser
altamente alfabetizados em duas línguas.
Com o tempo, o nível de fluência em cada habilidade linguística reflete a
necessidade do falante em determinada língua. Frequentemente, muitas pessoas
deixam de falar uma de suas línguas (no caso do sujeito bilíngue), ou por que deseja
ou por motivos que tornam o uso da língua desnecessária, como a mudança para
longe de pais, parentes... Grosjean (1982) chama isso de esquecimento da língua,
um acontecimento que exige atenção e ocorre principalmente em adultos. As
principais características desse fenômeno é que mesmo entendo tudo que lhe é dito,
o falante em esquecimento da língua, começa a procurar pela palavra certa, torna
sua fala excitante, tem a pronúncia afetada e perde completamente a expressão da
fala.
Este é um processo que acontece de forma vagarosa, porém o falante
percebe que está perdendo a forma falada da língua, quando usa essa língua
esporadicamente. Muito interessante à colocação de Grosjean (1982) quando este
diz que este fenômeno de esquecimento mostra que a sociedade permite que você
aprenda uma língua, mas não a esqueça. Embora o indivíduo perca a fluência ou a
forma de falar, ou seja, tenha esquecido a língua, ele jamais deixará de entender. E
caso, volte a usar a língua, este rapidamente voltará a ter o domínio sobre a língua
que tinha anteriormente. Pessoas que passam por esse processo Grosjean (1982)
35
chama de “dormant bilingual” . É como se a língua, que não vem sendo utilizada,
estivesse em estado de dormência, podendo “acordar” a qualquer momento, se for
necessário.
35
TP: bilíngue adormecido.
37
Falar sobre educação bilíngue é uma tarefa tão complexa quanto falar em
bilinguismo. Os conceitos de educação bilíngue se tornam complexas, pois as suas
características vão além dos limites escolares e inclui família, vizinhos, os meios de
comunicação (Akkari, 1998 apud Mello, 2010, p.118). Anos atrás a educação
bilíngue era procurada por diplomatas, políticos, imigrantes que desejavam que seus
filhos não deixassem de viver suas culturas, ou imigrantes que viviam por um tempo
no Brasil e depois de um período voltariam para seu país de origem (Flory, 2009,
p.26). O objetivo destas famílias era, ou manter uma língua ou aprender e dominar
uma língua franca.
Quando pensamos em escola bilíngue, remetemos nossa ideia a escolas
que ensinam seus alunos em duas línguas. Porém se refletirmos um pouco mais
além, algumas dúvidas surgirão, dúvidas como: “mas afinal, as duas línguas são
usadas juntas dentro da sala de aula ou são alternadas? A aula de língua materna é
proferida em segunda língua?” entre outras. São questões que existem e as
respostas poderão ser dadas, dependendo da forma como a escola trabalha essa
forma de ensino bilíngue.
O que se percebe é que não existe algo que se aplique a todas as escolas
bilíngues, pois cada um tem seus objetivos, suas metodologias e até mesmo a
própria maneira de trabalhar com a aprendizagem da segunda língua. Atualmente,
essas escolas vêm recebendo cada vez mais alunos, com o objetivo de aprender
uma segunda língua de forma perfeita, porém, o objetivo é o de dominar uma
segunda língua para prosseguir os estudos fora do país.
Segundo Mello (2010, p.121),
Peal & Lambert (1962) atribuíram os resultados negativos dos bilíngues nos
estudos anteriores à falha dos pesquisadores em diferenciar ‘pseudo-
bilíngües’ e ‘bilíngües verdadeiros’. Os mesmos pesquisadores acreditavam
que o pseudo-bilíngüismo poderia trazer desvantagens, mas que o
bilinguismo verdadeiro poderia ser uma grande vantagem no
desenvolvimento cognitivo. (BILLIG & FREDERES, 2008, p.02)
36
Disponível em: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI313503-17579,00-BILIN
GUES+TEM+VANTAGENS+NO+APRENDIZADO.html.
42
Indefrey (2007) ainda disse que, para falar sem sotaque o importante é
começar cedo, mas já para ganhar vocabulário é mais importante o tempo que se
dedica a aprendizagem do que a idade em que se aprende a língua. Para nós, esta
é uma questão muito controversa e que ainda necessita de um maior número de
pesquisas sobre o assunto, para que possamos afirmar de fato algo a respeito do
período crítico.
Independente da existência ou não do período crítico, o que algumas
pesquisas mostram, é que bilíngues que aprenderam uma língua na infância têm
44
Quando falamos no que uma pessoa que domina uma ou mais línguas
desenvolve, falamos nos aspectos cognitivos. Acontece também, que um indivíduo
bilíngue acaba tendo, além disso, algumas questões de ordem cerebral. Segundo
pesquisas recentes percebeu-se que além de desenvolvimento em relação à
atenção, à concentração, maior conhecimento metalinguístico da língua; o nosso
cérebro também é beneficiado com o bilinguismo. Para entender isso de uma forma
melhor, precisamos conhecer nosso cérebro no que tange a linguagem.
Os estudos referentes à como o cérebro procede em relação à
aprendizagem da linguagem, iniciaram-se a partir do interesse em descobrir a causa
45
37
O termo afasia é usado para descrever os distúrbios de linguagem resultantes de uma lesão no
cérebro. (Geschwind, 1976).
46
38
Disponível em: http://ciencia.hsw.uol.com.br/chimpanze-aprende-linguagens1.htm
47
39
Disponível em: http://somostodosum.ig.com.br/clube/artigosP.asp?id=31543
40
Tronco Cerebral é aqui entendido como uma estrutura neurológica que se localiza entre a medula
espinhal e o diencéfalo e é responsável em parte, pela atenção. Fonte: http://www.psiqweb.med.br/
site/DefaultLimpo.aspx?area=ES/VerDicionario&idZDicionario=597
41
Disponível em: http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=en&tl=pt&u=http% 3A%2F%2F
www.nytimes.com%2F2011%2F05%2F31%2Fscience%2F31conversation.html&anno=2&sandbox=1
ou no original: http://www.nytimes.com/2011/05/31/science/31conversation.html?_r=0
49
Uma das coisas que temos visto é que, em certos tipos de testes ainda não-
verbais, as pessoas bilíngues são mais rápidas. Por quê? Bem, quando
olhamos em seus cérebros através de neuroimagem, parece que eles estão
usando um tipo diferente de uma rede que pode incluir centros de línguas
para resolver um problema completamente não-verbal. Todo o seu cérebro
parece religar por causa de bilinguismo. (BIALYSTOK, 2011)
Já em outa entrevista dada, desta vez ao The Guardian, por Killian Fox em
junho de 201142, ela relata melhor seu estudo com pacientes que desenvolveram
Alzheimer, onde neste estudo, ao analisar o cérebro de idosos com cerca de 75
anos e com exatamente o mesmo nível cognitivo, Bialystok percebeu que o córtex
medial temporal dos bilíngues havia muito mais danos que nos pacientes
monolíngues. Isso significa que, os idosos bilíngues poderiam estar com a doença
mais adiantada se fossem monolíngues, assim o fato de falarem duas línguas
retardou a doença.
Contudo, Bialystok salienta que esses resultados são encontrados em
pessoas que usam ambas as línguas o tempo todo. Ela enfatiza ainda que uma nova
língua deve ser aprendida em qualquer idade e que não devemos buscar uma língua
somente por que teremos melhor desenvolvimento cognitivo e evitaremos o
aparecimento de demências, mas também, para conhecermos novas culturas, outras
pessoas, outras formas de pensar.
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Disponível em: http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=http://www.theguardian.
com/technology/2011/jun/12/ellen-bialystok-bilingual-brains-more-healthy&prev=/search%3Fq%3D
BIALYSTOK,%2BEllen.%26biw%3D1366%26bih%3D675 ou no original: http://www.theguardian.
com/technology/2011/jun/12/ellen-bialystok-bilingual-brains-more-healthy
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CONCLUSÃO
irrelevantes, tem mais facilidade com o uso gramatical da língua, por se concentrar
na forma da língua. A respeito dos benefícios cerebrais, o fato de ser bilíngue ajuda
a manter o cérebro saudável evitando demências como o Alzheimer. Além disso,
consideramos que o fato de que uma segunda língua garante o conhecimento de
novas culturas, novas histórias, e a entender outras pessoas e seu modo de viver.
Percebemos, contudo, que o estudo sobre segunda língua e principalmente
sobre o bilinguismo, tem um longo caminho a percorrer, tanto que encontramos
dificuldades em realizar este estudo por ser algo muito recente, principalmente em
nosso país. Neste aspecto, vimos que o nosso país é um país composto de várias
comunidades bilíngues e que o termo monolíngue dirigido ao nosso país é um tanto
quanto equivocado. Temos aqui, inclusive, muito campo de pesquisa, temos
comunidades de descendentes de alemães, italianos, russos... e os indígenas.
Assim, faz-se necessário que trabalhos como o nosso tenham continuidade, mas
que estes sejam voltados também à pesquisa de campo, a coleta de dados, pois ao
final deste trabalho percebemos que não precisamos ir tão longe assim para
encontramos um número considerável de bilíngues.
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REFERÊNCIAS
BBC BRASIL. Aprender uma segunda língua pode aumentar poder do cérebro,
dizem cientistas. maio 2012. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/
noticias/2012/05/120502_cerebro-lingua_rp.shtml Acesso em 19/10/2013>. Acesso
em: 10/10/2013.
______. A vantagem bilíngue. The New York Times. Entrevista concedida a Claudia
Dreifus em maio de 2011. Disponível em: <http://translate.google.com.br/
translate?hl=pt-BR&sl=en&tl=pt&u=http%3A%2F%2Fwww.nytimes.com%2F2011%2
F05%2F31%2Fscience%2F31conversation.html&anno=2&sandbox=1> ou no
original: <http://www.nytimes.com/2011/05/31/science/31conversation.html?_r=0>.
Acesso em: 21/10/2013.
53
IZEF. Por que o estudo de uma língua é bom para o cérebro? Disponível em:
<http://somostodosum.ig.com.br/clube/artigosP.asp?id=31543>. Acesso em:
28/03/2013.
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