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Brasil submergente vive o pior docênio (2011-2022) dos 200 anos da Independência

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População,
Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE;
Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

Por quase 180 anos, desde a Independência (em 1822), o Brasil foi uma nação emergente no cenário
internacional e apresentou grande crescimento populacional (passou de 4,7 milhões de habitantes em
1822, para 121 milhões em 1980 e mais de 200 milhões atualmente), assim como grande crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB). A participação do PIB brasileiro no PIB mundial subiu de 0,43% em 1822 para
3,2% em 1980, mas pode ficar em 1,9% do PIB mundial, em 2022, como mostra o gráfico acima.

A partir da Independência, com raros momentos de retrocessos, o Brasil passou a crescer mais do que a
média da economia mundial. Porém, foi no período compreendido entre 1930 e 1980 que o país deu um
salto no crescimento demoeconômico, pois a população cresceu 3,3 vezes (de 37 milhões de habitantes
em 1930 para 121 milhões em 1980) e o PIB cresceu 18,2 vezes. No mesmo período, a população mundial
cresceu 2,2 vezes (de 2,1 bilhões de habitantes em 1930 para 4,6 bilhões em 1980) e o PIB mundial cresceu
5,4 vezes. Nos cinquenta anos em questão, a taxa média de crescimento anual do PIB foi de 6% no Brasil
e de 3,4% no mundo. Crescendo em ritmo mais acelerado, o Brasil se tornou uma das dez maiores
economia do mundo.

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Os chamados “30 anos dourados” ocorreram logo depois da Segunda Guerra Mundial, entre 1950 e 1980,
quando a população brasileira cresceu 2,8% ao ano, a economia cresceu 7% ao ano e a renda per capita
cresceu 4,2% ao ano. Porém a situação se inverteu nas últimas quatro décadas e o PIB brasileiro tem
crescido menos do que a média mundial, desde 1981.

Considerando as últimas quatro décadas, até os 200 anos da Independência, o Brasil deve crescer menos
do que a média mundial. Entre 1981 e 2022 o país deve apresentar um crescimento de 2,4 vezes no PIB
(2,1% ao ano) e o mundo deve apresentar um crescimento de 4,1 vezes no PIB (3,4% ao ano). Portanto, a
economia brasileira perdeu ritmo em relação à média global (que, neste período é liderada pela China e
Índia). O povo brasileiro está mais pobre em termos relativos e o Brasil virou uma economia submergente.

O gráfico abaixo mostra o crescimento anual do PIB (barras azuis) e os docênios, média móvel de doze
anos (linha vermelha). Nota-se que, na maior parte dos 200 anos, os docênios ficavam acima de 4% ao
ano e chegaram a atingir 9% aa, quando se considera o período 1967-1980. Mas a partir de 1981 a
economia brasileira sofre um grande revés e passa a crescer, consistentemente, abaixo de 4% aa. A
chamada primeira década perdida (anos 1980) rebaixou o ritmo de crescimento do PIB brasileiro. Houve
uma pequena recuperação nos anos 1990 e uma recuperação um pouco melhor na primeira década do
século XXI (mas muito abaixo dos números da década de 1970).

A partir da recessão, que teve início em 2014 e se aprofundou no biênio 2015 e 2016, os docênios
passaram a apresentar ritmo abaixo de 2% aa e devem vivenciar, pela primeira vez na história brasileira,
um crescimento em torno de 1% aa. O docênio 2011-2022 deve apresentar um crescimento de 1,2% aa.
Desta forma, a primeira década perdida (1981-90) fez o ritmo da economia brasileira cair de 9% aa para
3% ao ano e a atual década perdida (2011-20) vai fazer a economia brasileira passar de algo pouco acima
de 3% aa para cerca de 1,2% ao ano.

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Evidentemente, a economia brasileira está “na UTI” e não terá nada a comemorar nos 200 anos da
Independência. Pelos dados apresentados nos gráficos acima, nota-se que o Brasil que já representou
3,2% do PIB mundial pode chegar a representar 1,9% da economia global em 2022 (pela metodologia de
Angus Maddison). Em termos relativos, é como se o Brasil tivesse reduzido de tamanho quase pela
metade. Se a economia brasileira tivesse mantido a mesma proporção de produção de bens e serviços
globais, a renda per capita brasileira poderia estar próxima da renda per capita de Portugal e o Brasil
poderia ser considerado uma país de renda alta.

Mas parece que o Brasil vai ficar preso à “Armadilha da renda média”, pois está perdendo a oportunidade
de aproveitar o bônus demográfico e terá grande dificuldade para dar um salto no desenvolvimento
depois que o índice de envelhecimento for superior a 100 (quando a proporção de idosos for superior à
proporção de crianças e jovens de 0 a 15 anos).

Ao invés de progredir em termos relativos, o Brasil está regredindo e empobrecendo antes de envelhecer.
Depois do envelhecimento populacional, será muito difícil (talvez até impossível) dar um salto no
desenvolvimento e se tornar uma nação de alto padrão de vida social e ambiental. Parece que o país está
jogando fora uma oportunidade histórica e única. O futuro brasileiro, de “ordem e progresso”, está
seriamente ameaçado.

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