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ESCOLA DO RECIFE:

Introdução:

A Escola do Recife é um movimento eminentemente jurídico-cultural surgido em 1860. Têm


como principais fundadores Tobias Barreto e Silvio Romero. Esse movimento tem descendência
direta da Faculdade de Direito do Recife, sendo essa a alma mater de todo o desenvolvimento
da referida escola literária. É um movimento que pode ser caracterizado pela ruptura com as
tradições lusitanas e a criação de uma “essência tupiniquim”.

É importante pontuar o ecletismo dessa Escola, um importante instrumento na refutação das


antigas percepções jurídicas europeias e reforma dos costumes políticos brasileiros,
principalmente na análise feita por Tobias a respeito da filosofia jurídica alemã, como Kant.
Antes de mais nada era um combate ao positivismo físico, por ser uma doutrina do culturalismo
social. “Na concepção do sergipano, o positivismo representaria uma ruptura abrupta no
processo de constituição de uma consciência filosófica da nação e a sua resistência era para que
a filosofia tivesse um espaço garantido nas discussões dos problemas do país” (MERCADANTE &
PAIM, 1972: p. 85-86).

O pensador sergipano compreendia o Direito como um “produto histórico, um produto cultural


da humanidade” (BARRETO, 1882: p. 106-107). Porém, com a modulação do tempo e os saberes
adquiridos, o jurista complementou o seu entendimento de Direito, segundo Mercadante e Paim
(1972: p. 70), com um “conjunto das condições existenciais e evolucionais da sociedade,
coativamente asseguradas” pelo poder público.

Outrossim, Barreto interpretava que nada poderia ser totalmente determinado por mais natural
que se pudesse pressupor e, metaforicamente, faz a analogia de uma pessoa com o curso de um
rio, em que por mais lógico que se possa antever o seu caminho, sempre existe a possibilidade
de desvios. E caberia ao Direito, sobretudo o Direito Penal, a “arte de mudar o rumo das índoles
e o curso dos caracteres que a educação não pode amoldar [...] no sentido de adaptar o homem
a sociedade, de reformar o homem pelo homem mesmo” (BARRETO, 1926: p. 75).

A trajetória individual de Tobias Barreto até o seu ingresso na Faculdade de Direito


proporcionava comoção entre os estudantes de Recife por destoar da trajetória da maioria dos
jovens que ali estudavam cujas origens eram, em sua maioria, de famílias tradicionais e
aristrocráticas do Nordeste.

Tobias Barreto era um mulato de origem muito humilde do interior de Sergipe, que chegara a
Recife em 1862 e passara por inúmeras dificuldades financeiras e por enfermidades, que
retardaram o seu ingresso como estudante na Academia, que só ocorreu aos 25 anos de idade.
Após várias tentativas frustradas de implementar reformas sociais por meio de sua titulação
acadêmica, o intelectual nordestino intentou-se que o ingresso na docência da 10

Faculdade de Direito de Recife poder-se-ia tornar a via de acesso para a execução das reformas
que pleiteava para o país (MERCADANTE; PAIM, 1972: p. 51).

O ingresso de Tobias Barreto na Faculdade de Direito do Recife em 1882 teve uma extraordinária
importância para os estudantes pelo espírito de reforma que o sergipano figurava. Barreto
também dispunha de uma excelente oratória com pleno domínio dos recursos retóricos, era um
polêmico destemido e agressivo na alocução, além de entoar um discurso engajado com as
causas dos mais pobres e dos mestiços do país. Por tudo isso, a juventude acadêmica o
identificava como um representante e aliado. O concurso que enfrentara para o ingresso na
carreira de lente na Faculdade de Direito foi extremamente acirrado, porém só foi o início de
sua empreitada acadêmica cuja proposta audaciosa era emancipar a mentalidade brasileira
(MERCADANTE; PAIM, 1972: p. 65).

Tobias Barreto que representava para os jovens da Faculdade de Direito do Recife a


possibilidade de renovação no pensamento filosófico da academia e até no currículo do curso,
não se esquivava da representação que os estudantes lhe conferiram e tecia críticas severas ao
ensino da academia nordestina, considerando, em 1883, que “o grau de desenvolvimento das
doutrinas do curso, é duro e triste dizê-lo, mas é verdade, não esteve à altura que era para se
desejar [...] com o extremo obscurantismo” (BEVILÁQUA, 1927: p. 250

A Escola do Recife é um movimento, que tem na sua base ideológica, o estudo, a análise e a
circulação de ideias, sejam das culturas europeias ou norte-americanas. O que é interessante
notar, que o cenário dessa proposta se confrontava com a mentalidade de intelectuais religiosos
e positivistas.

Tobias Barreto, ajudam a entender melhor o cenário brasileiro em torno da educação e o


pioneirismo do movimento conhecido como culturalismo.

[...] É possível afirmar que a Escola do Recife, da qual emergiram os chamados culturalistas
brasileiros, inaugurou o debate livre de ideias no Brasil, de forma sistemática e aberta a todas
as correntes filosóficas. O desenho da escola está marcado basicamente pelas formas de pensar
de sua duas maiores expressões: Tobias Barreto, seu fundador, e Sílvio Romero [...]
(NASCIMENTO, 1999, p. 155).

Os principais nomes da Escola do Recife, além do autor aqui especificamente estudado, é Artur
Orlando, Clóvis Beliváquia, Fausto Cardoso, Castro Alves, Celso de Magalhães, Capistrano de
Abreu, Franklin Távora, Carneiro Vilela, Inglês de Souza, Domingos Olímpio, Luís Guimarães,
Plínio de Lima, Santa Helena Magno e Souza Pinto. Estes se filiavam basicamente ao
Romantismo, quando encetaram suas atividades ao lado de Tobias Barreto.

Dentro das influências aqui sofridas não só a portuguesa, italiana, holandesa e comumente a
francesa, mas alemã via Tobias Barreto e outros fatores confirmados no livro “A cultura
Ocultada” e Inglesa no livro do pernambucano Gilberto Freyre “Ingleses no Brasil” e que o
mesmo comenta sobre Tobias Barreto:

Nesse sentido, a Escola do Recife atravessou quatro fases perfeitamente caracterizadas.

Na primeira, verifica-se que seus fundadores são apenas participantes do movimento geral
denominado por Sílvio Romero (1851/1914) de “surto de ideias novas” que planeja renovar o
terreno do pensamento. Da mesma forma uma grande parte da intelectualidade da época, os
que a agregam nesse período rejeitam o ecletismo espiritualista. Para combatê-lo, sustentam-
se tanto no positivismo como no darwinismo e até mesmo no materialismo. “[...] da Escola do
Recife é possível afirmar que tanto Tobias Barreto e Sílvio Romero quanto os demais nomes do
movimento mantiveram uma posição de defesa de ideias materialistas”[...] (NASCIMENTO,
1999, p. 155).
As ações referentes aos estudos mais rígidos, só teria início após o imprevisto na Faculdade de
Direito do Recife, em que Sílvio Romero declara estar morta a metafísica e Tobias Barreto
(1839/1889) começa a avaliar o problema e a escrever o estudo que nos chegou incompleto
“Deve a Metafísica Ser Considerada Morta”? (1875).

O livro de Sílvio Romero A Filosofia no Brasil (1878) indica a passagem entre a primeira e a
segunda fase. Nesta é que apresentaria o rompimento radical com o positivismo e a procura de
uma doutrina nova. Compreende cerca de dez anos. Tobias Barreto é então o personagem
central da Escola. Possui um cargo de professor na Faculdade de Direito do Recife, uma vez que
esta já era visível pela grande atividade, ampliada pela imprensa do Rio de Janeiro por Sílvio
Romero.

É Tobias que tem o encargo de ater as linhas gerais de uma posição autônoma no debate entre
as correntes disseminadas no país. Formam-se centros nas mais importantes 5

províncias nordestinas. Esta segunda fase, quando já se pode falar com propriedade em Escola
do Recife, desdobra-se de 1875/78 aos anos iniciais do decênio seguinte.

Para esclarecer os movimentos faço uso da citação de Nascimento

[...] o movimento da chamada Escola do Recife, fortemente assentado sobre as bases do


culturalismo brasileiro. E também podia ser notada no movimento da Escola Tropicalista Baiana,
organizado em torno da Faculdade de Medicina da Bahia. Merece menção, também, a chamada
Padaria de Ideias – movimento que se organizou no Ceará face à influência de alguns intelectuais
que se formaram sob a orientação intelectual do grupo da Escola do Recife (NASCIMENTO, 1999
p.08).

A terceira fase inclui os meados da década de 80 aos começos do século. O movimento já


formado, que se propunha enfrentar simultaneamente ao positivismo e ao espiritualismo,
conseguindo uma posição de predomínio nos meios intelectuais do nordeste, mantendo alguns
centros de influência no sul do país. Nesse período, em 1889, ocorre a morte de Tobias Barreto.

A partir da publicação dos últimos estudos de Tobias Barreto (1888/1889), denota os diversos
membros da Escola grande atividade intelectual nos domínios da filosofia. Nessa fase é que se
editam os livros Doutrina contra Doutrina (1894), Ensaios de Filosofia do Direito (1895) e Ensaios
de Sociologia e Literatura (1899), de Sílvio Romero; que Clóvis Beviláqua (1859/1944) divulga
vários trabalhos de cunho filosófico reunidos posteriormente no livro Esboços e Fragmentos
(1889); Artur Orlando (1858/1916) elabora os ensaios constantes de sua obra Ensaios de Crítica
(1904); Fausto Cardoso (1864/1906) publica os dois primeiros volumes do Cosmos do Direito e
da Moral (1894/98) e Sílvio Romero organiza a reedição das obras de Tobias Barreto
(1892/1903).

No período republicano, além de contribuírem para a edição normal da Revista Acadêmica, os


componentes da Escola do Recife contribuem na imprensa diária e organizam publicações de
vida efêmera, a mais importante das quais é representada pela revista Cultura Acadêmica
(1904/1906).

Em que pese à manutenção do debate filosófico e da crítica multilateral ao positivismo, a Escola


do Recife não conseguiu, em seu período de apogeu, firmar uma investigação filosófica e
manteve-se envolta no cientificismo. É bem sintomático dessa circunstância, o depoimento de
Gilberto Amado (1887/1969) quanto ao ambiente na Faculdade de Direito do Recife, por volta
de 1905, quando ingressou naquele estabelecimento 6
de ensino: “Quase todo rapaz do meu tempo em Pernambuco era agnóstico, darwinista,
spencerista, monista. Quando apareceu no primeiro ano um Mac Dowell, do Pará, que tinha
passado pelos colégios de Paris, demonstrando a existência de Deus pelas belezas da criação,
canto de pássaros etc., provocou riso, foi ridicularizado” (PAIN, 1966, p.112). Existia, no entanto,
uma minoria que, não chegando aos extremos do paraense, refugava o fenomenismo, o
mecanicismo, e, assegurava-se espiritualista.

Pode-se dizer, portanto, que, no período em questão, não prosperou de modo completo o
intento de distinguir-se radicalmente do positivismo. Isso aconteceu, pelo fato de que o núcleo
filosófico herdado por Tobias Barreto não foi, desenvolvido pelos discípulos em atividades
futuras.

Esse núcleo filosófico consistia, de um lado, no culturalismo, isto é, no ensinamento de que o


humano constitui objeto privilegiado da reflexão filosófica, sendo ele mesmo apto a superar, de
uma vez por todas, o positivismo e o cientificismo em geral.

Para Jorge Carvalho (1999)

O estudo da Escola do Recife permite visualizar como a constituição de um pensamento


brasileiro se consolida a medida que se aprofunda, no interior daquele movimento, a discussão
a respeito de cultura. O culturalismo é, sob tal perspectiva, possivelmente a única corrente
filosófica que possibilita, no Brasil do século XIX, a constituição de um corpus filosófico que leva
em consideração as questões nacionais [...] (NASCIMENTO, 1999, p. 193).

Essa parcela da herança de Tobias Barreto foi abandonada para ser retomada no ciclo de
declínio, mas de uma perspectiva diversa do que imaginara o fundador da Escola.

A outra parcela das reflexões filosóficas de Tobias Barreto era representada pela adoção do
conceito neokantiano de que a filosofia consiste num tipo de saber que estudo o conhecimento.
Limitando-se para determinar os fundamentos e os pressupostos da ciência. Semelhante
entendimento não podia coexistir com as “filosofias sintéticas” do tipo monista ou evolucionista.

Tobias Barreto não chegaria a apontar semelhante incompatibilidade, mas Artur Orlando logo o
faria em seguida à sua morte.

A Escola como um todo, entretanto, não se dispôs a abdicar da definição de filosofia sintética.
Sílvio Romero cuidava, sobretudo de contrapor o evolucionismo spenceriano àqueles que, como
Fausto Cardoso, mantinham-se ancorados no monismo haeckeliano. 7

Essa discussão não era de índole a estimular o florescimento da indagação filosófica. E embora
a filosofia cultuada na Europa Central se encaminhasse precisamente no sentido do culturalismo
e da epistemologia de inspiração neokantiana, a Escola do Recife iria estacionar nos temas do
ciclo que precedeu o novo curso.

Era inevitável, pois, que se aproximasse do declínio. A derrota do positivismo somente seria
alcançada por uma autêntica investigação filosófica, integralmente dissociada de resquícios
cientificistas.

A quarta e última fase. Abrange aproximadamente dos fins do primeiro do século XX à época da
primeira guerra mundial. Singulariza-se, sobretudo, pelo abandono virtual da atividade
filosófica, caracterizada nos anos anteriores pela publicação sistemática de obras e estudos. A
partir de 1906, escasseiam os trabalhos de cunho filosófico. Este é o ano da morte de Fausto
Cardoso.
Deixa de circular a revista Cultura Acadêmica. Clóvis Beviláqua ocupa-se da defesa do Código
Civil que elaborara, dedicando-se, sobretudo à ciência jurídica. Artur Orlando, nos últimos dez
anos de sua vida, tem uma atividade intelectual dispersa descurando-se da filosofia. Sílvio
Romero procura na Escola de Le Play uma explicação para a sociedade brasileira. Com a sua
morte, em 1914, chega ao fim a Escola do Recife. A partir de então, seus adeptos serão apenas
remanescentes.

Embora a hipótese de que a cultura devesse ser estudada de ângulo sociológico estivesse
presente, na obra de Sílvio Romero, desde a História da Literatura Brasileira (1888), é na fase de
declínio que se lançam as bases do culturalismo sociológico.

Essa parcela da obra da Escola do Recife, ainda que corresponda uma contramão da perspectiva
de Tobias Barreto, constitui o elo que a vincula à meditação contemporânea, onde a corrente
Culturalista que, entre outras coisas, reivindica a herança do fundador da Escola do Recife ocupa
uma posição de grande destaque.

Os estudos sobre a ciência, abandonada na fase última, seria retornada por Otto de Alencar
(1874/1912) e Amoroso Costa (1885/1928), da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, já agora
marcando o rompimento frontal com o positivismo a que aspirara a Escola do Recife, sem tê-lo
alcançado.

Nos primórdios de seu surgimento, aqueles pensadores que vieram a constituir o movimento
que passaria à história com o nome de Escola do Recife aspiravam a uma reforma total na
ideologia dominante. Com sua crítica desejavam demolir não apenas o ecletismo e 8

desalojar velhas doutrinas das escolas jurídicas. Sonhavam também, de certo modo, com a
reforma dos costumes políticos.

Nessa esfera é que a sua impotência se manifestaria desde logo. Tiveram mesmo que reduzir o
seu raio de ação, refugiar-se, primeiro na filosofia e no direito, para acabar os que sobreviveram
até o período que se seguiu à primeira guerra mundial circunscritos à esfera jurídica.

Mas, o que realizaram no sentido de radicar no País um pensamento filosófico e por dar base
científica ao estudo da sociedade e das suas relações jurídicas basta para situá-los como um
ponto alto no processo de evolução de nosso povo e da constituição de sua cultura.

Portanto, pelos indícios e pelas informações até agora apresentadas, revelam que pelas
atividades motivadas e desempenhadas por Tobias, seja como professor de aulas particulares,
seja na fundação frustrada do Clube Popular de Escada, nos estudos e publicações de artigos e
obras, seja enfim como principal representante do movimento da escola do Recife, o tema da
educação fundamenta-se numa perspectiva culturalista

Em 15 de maio de 1828, foi inaugurada a Faculdade de Direito no Mosteiro de São

Bento, em Olinda. A nova escola, além de atender à estratégica localização setentrional

num país de tão larga extensão, deveria colocar sob controle e vigilância o radicalismo

republicano que desde 1817 grassava em Pernambuco e que, não poucas vezes, contestara

em armas a ordem imperial imposta pelo Rio de Janeiro.

Na primeira fase de sua existência, a Faculdade de Direito em Olinda reproduziu a estrutura


da Escola de Coimbra, mantendo-se sob a forte influência da Igreja Católica. No entanto,

após sua transferência para o Recife, em 1854, passou por um conjunto de profundas

reformas acadêmicas de tendências laicas e republicanas, de indelével matiz positivista,

levadas à frente por “intelectuais independentes”. Foi no quadro dessas mudanças que se

separaram os currículos dos cursos de “ciências jurídicas” e de “ciências sociais”, das quais

faziam parte, entre outras cadeiras, as ciências da administração, a economia política, a

higiene pública e a história dos tratados, segundo informa Lilia Schwarcz no livro O

espetáculo das raças.

Essas mudanças propiciaram o desenvolvimento de formulações teóricas, fortemente

marcadas pelo racionalismo científico, que iriam combater a metafísica, a tradição

supersticiosa e o clericalismo católico conservador. O ímpeto crítico e a penetração desse

ideário no debate teórico e político no Brasil seriam de tal ordem que, na década de 1870, já

se falava de uma “Escola do Recife”, cuja produção e influência de largo, no entanto,

ultrapassavam os limites regionais de Pernambuco.

Entre os intelectuais empenhados em introduzir a razão científica nos estudos jurídicos e o

positivismo e o evolucionismo darwinista na produção do pensamento social estavam

Tobias Barreto e Sílvio Romero, que iriam formar a vanguarda do que veio a ser conhecida

como “Geração de 1870”. Dela também faziam parte Aníbal Falcão, Franklin Távora,

Araripe Jr., Clóvis Beviláqua, Higino Cunha, Graça Aranha, Artur Orlando e Martins Jr.

Abolicionistas e republicanos, esses literatos e pensadores eram homens que tinham em

comum a origem social numa classe média urbana ascendente, distanciada do mundo

agrário escravista e marginalizada com relação à política imperial. Capazes de se distanciar

criticamente da ordem escravista monárquica, puderam defender a laicização da sociedade

brasileira e combater o ideário romântico que, ao final do século XIX, fornecia as

referências para a formação da identidade nacional.

Comprometido com a “modernização“ do Brasil, Tobias Barreto chegou a propor o

desenvolvimento de uma “ciência política positiva”, capaz de neutralizar conflitos sociais e

ideológicos como os que martirizavam o Império em meados do século XIX. Nos seus

termos, a noção de modernização tinha um forte comprometimento com a idéia de

progresso, entendido, nos moldes positivistas, como o esclarecimento dos indivíduos por

meio da razão. Leitor de filósofos alemães (Haeckel, Buckle), Barreto foi o difusor de
pensadores que marcariam o perfil acadêmico da Escola do Recife: Le Bon e Gobineau,

Spencer e Darwin, Littré e le Play. Da difusão das idéias desses teóricos nasceria uma

concepção “científica” do direito, influenciada pela antropologia determinista, pela biologia

evolutiva.

É importante que se lembre também que, por essa época, o cientificismo naturalista

transbordou o âmbito do direito, contaminando a literatura, a crítica literária e, até mesmo,

a poesia. Os romances naturalistas, dos quais A carne de Júlio Ribeiro é clara expressão,

colocaram em evidência essa tendência à naturalização evolucionista do pensamento

produzido à sombra da Escola do Recife.

Entre todos os pensadores, no entanto, destaca-se Sílvio Romero, cuja influência chegou às

gerações subsequentes de autores que marcaram profundamente o pensamento social

brasileiro, tais como Euclides da Cunha, Oliveira Viana e Gilberto Freire. Romero, segundo

informa Lilia Schwarcz, foi um típico “homem de ciência” do século XIX, polemista e

grande agitador intelectual, comprometido com as questões nacionais de seu tempo,

analisadas à luz do ideário naturalista e evolucionista. Levando às últimas consequências a

concepção da ciência como forma privilegiada do saber, fez contundente denúncia do

romantismo e acerba crítica à sociedade imperial em seu livro mais importante, Historia da

literatura brasileira.

Sustentado pelas teorias de Haeckel, Darwin e Spencer, Romero localizava os problemas do

povo brasileiro e do caráter nacional no princípio biológico da raça. Para ele, a mestiçagem

seria a saída para a construção da homogeneidade nacional. Todo brasileiro era um mestiço,

tanto no “sangue” como nas “idéias”, expressando “a vitória do branco no país”. O mestiço,

segundo ele, era o produto final de uma raça em formação.

Que não se conceba, no entanto, Sílvio Romero como um democrata defensor da igualdade

original entre os homens. Segundo suas concepções racistas, a mestiçagem seria o caminho

para extinguir os grupos indígenas e negros através de sua diluição na raça branca. Em

outros termos, a mestiçagem era apresentada como a via de assimilação das raças

inferiores, que possibilitaria ao Brasil escapar dos prognósticos pessimistas anunciados por

teóricos como o conde Arthur de Gobineau, para quem a população brasileira, “totalmente

mulata, viciada no sangue e no espírito e assustadoramente feia”, inviabilizaria a existência

da nação civilizada. Em última instância, Romero dava voz às proposições que


alimentavam o programa de imigração de trabalhadores europeus para o Brasil, concebido

não apenas como a constituição de um mercado capitalista de força de trabalho, mas como

um processo de aceleração do branqueamento do país em construção

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