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Introdução:
Outrossim, Barreto interpretava que nada poderia ser totalmente determinado por mais natural
que se pudesse pressupor e, metaforicamente, faz a analogia de uma pessoa com o curso de um
rio, em que por mais lógico que se possa antever o seu caminho, sempre existe a possibilidade
de desvios. E caberia ao Direito, sobretudo o Direito Penal, a “arte de mudar o rumo das índoles
e o curso dos caracteres que a educação não pode amoldar [...] no sentido de adaptar o homem
a sociedade, de reformar o homem pelo homem mesmo” (BARRETO, 1926: p. 75).
Tobias Barreto era um mulato de origem muito humilde do interior de Sergipe, que chegara a
Recife em 1862 e passara por inúmeras dificuldades financeiras e por enfermidades, que
retardaram o seu ingresso como estudante na Academia, que só ocorreu aos 25 anos de idade.
Após várias tentativas frustradas de implementar reformas sociais por meio de sua titulação
acadêmica, o intelectual nordestino intentou-se que o ingresso na docência da 10
Faculdade de Direito de Recife poder-se-ia tornar a via de acesso para a execução das reformas
que pleiteava para o país (MERCADANTE; PAIM, 1972: p. 51).
O ingresso de Tobias Barreto na Faculdade de Direito do Recife em 1882 teve uma extraordinária
importância para os estudantes pelo espírito de reforma que o sergipano figurava. Barreto
também dispunha de uma excelente oratória com pleno domínio dos recursos retóricos, era um
polêmico destemido e agressivo na alocução, além de entoar um discurso engajado com as
causas dos mais pobres e dos mestiços do país. Por tudo isso, a juventude acadêmica o
identificava como um representante e aliado. O concurso que enfrentara para o ingresso na
carreira de lente na Faculdade de Direito foi extremamente acirrado, porém só foi o início de
sua empreitada acadêmica cuja proposta audaciosa era emancipar a mentalidade brasileira
(MERCADANTE; PAIM, 1972: p. 65).
A Escola do Recife é um movimento, que tem na sua base ideológica, o estudo, a análise e a
circulação de ideias, sejam das culturas europeias ou norte-americanas. O que é interessante
notar, que o cenário dessa proposta se confrontava com a mentalidade de intelectuais religiosos
e positivistas.
[...] É possível afirmar que a Escola do Recife, da qual emergiram os chamados culturalistas
brasileiros, inaugurou o debate livre de ideias no Brasil, de forma sistemática e aberta a todas
as correntes filosóficas. O desenho da escola está marcado basicamente pelas formas de pensar
de sua duas maiores expressões: Tobias Barreto, seu fundador, e Sílvio Romero [...]
(NASCIMENTO, 1999, p. 155).
Os principais nomes da Escola do Recife, além do autor aqui especificamente estudado, é Artur
Orlando, Clóvis Beliváquia, Fausto Cardoso, Castro Alves, Celso de Magalhães, Capistrano de
Abreu, Franklin Távora, Carneiro Vilela, Inglês de Souza, Domingos Olímpio, Luís Guimarães,
Plínio de Lima, Santa Helena Magno e Souza Pinto. Estes se filiavam basicamente ao
Romantismo, quando encetaram suas atividades ao lado de Tobias Barreto.
Dentro das influências aqui sofridas não só a portuguesa, italiana, holandesa e comumente a
francesa, mas alemã via Tobias Barreto e outros fatores confirmados no livro “A cultura
Ocultada” e Inglesa no livro do pernambucano Gilberto Freyre “Ingleses no Brasil” e que o
mesmo comenta sobre Tobias Barreto:
Na primeira, verifica-se que seus fundadores são apenas participantes do movimento geral
denominado por Sílvio Romero (1851/1914) de “surto de ideias novas” que planeja renovar o
terreno do pensamento. Da mesma forma uma grande parte da intelectualidade da época, os
que a agregam nesse período rejeitam o ecletismo espiritualista. Para combatê-lo, sustentam-
se tanto no positivismo como no darwinismo e até mesmo no materialismo. “[...] da Escola do
Recife é possível afirmar que tanto Tobias Barreto e Sílvio Romero quanto os demais nomes do
movimento mantiveram uma posição de defesa de ideias materialistas”[...] (NASCIMENTO,
1999, p. 155).
As ações referentes aos estudos mais rígidos, só teria início após o imprevisto na Faculdade de
Direito do Recife, em que Sílvio Romero declara estar morta a metafísica e Tobias Barreto
(1839/1889) começa a avaliar o problema e a escrever o estudo que nos chegou incompleto
“Deve a Metafísica Ser Considerada Morta”? (1875).
O livro de Sílvio Romero A Filosofia no Brasil (1878) indica a passagem entre a primeira e a
segunda fase. Nesta é que apresentaria o rompimento radical com o positivismo e a procura de
uma doutrina nova. Compreende cerca de dez anos. Tobias Barreto é então o personagem
central da Escola. Possui um cargo de professor na Faculdade de Direito do Recife, uma vez que
esta já era visível pela grande atividade, ampliada pela imprensa do Rio de Janeiro por Sílvio
Romero.
É Tobias que tem o encargo de ater as linhas gerais de uma posição autônoma no debate entre
as correntes disseminadas no país. Formam-se centros nas mais importantes 5
províncias nordestinas. Esta segunda fase, quando já se pode falar com propriedade em Escola
do Recife, desdobra-se de 1875/78 aos anos iniciais do decênio seguinte.
A partir da publicação dos últimos estudos de Tobias Barreto (1888/1889), denota os diversos
membros da Escola grande atividade intelectual nos domínios da filosofia. Nessa fase é que se
editam os livros Doutrina contra Doutrina (1894), Ensaios de Filosofia do Direito (1895) e Ensaios
de Sociologia e Literatura (1899), de Sílvio Romero; que Clóvis Beviláqua (1859/1944) divulga
vários trabalhos de cunho filosófico reunidos posteriormente no livro Esboços e Fragmentos
(1889); Artur Orlando (1858/1916) elabora os ensaios constantes de sua obra Ensaios de Crítica
(1904); Fausto Cardoso (1864/1906) publica os dois primeiros volumes do Cosmos do Direito e
da Moral (1894/98) e Sílvio Romero organiza a reedição das obras de Tobias Barreto
(1892/1903).
Pode-se dizer, portanto, que, no período em questão, não prosperou de modo completo o
intento de distinguir-se radicalmente do positivismo. Isso aconteceu, pelo fato de que o núcleo
filosófico herdado por Tobias Barreto não foi, desenvolvido pelos discípulos em atividades
futuras.
Essa parcela da herança de Tobias Barreto foi abandonada para ser retomada no ciclo de
declínio, mas de uma perspectiva diversa do que imaginara o fundador da Escola.
A outra parcela das reflexões filosóficas de Tobias Barreto era representada pela adoção do
conceito neokantiano de que a filosofia consiste num tipo de saber que estudo o conhecimento.
Limitando-se para determinar os fundamentos e os pressupostos da ciência. Semelhante
entendimento não podia coexistir com as “filosofias sintéticas” do tipo monista ou evolucionista.
Tobias Barreto não chegaria a apontar semelhante incompatibilidade, mas Artur Orlando logo o
faria em seguida à sua morte.
A Escola como um todo, entretanto, não se dispôs a abdicar da definição de filosofia sintética.
Sílvio Romero cuidava, sobretudo de contrapor o evolucionismo spenceriano àqueles que, como
Fausto Cardoso, mantinham-se ancorados no monismo haeckeliano. 7
Essa discussão não era de índole a estimular o florescimento da indagação filosófica. E embora
a filosofia cultuada na Europa Central se encaminhasse precisamente no sentido do culturalismo
e da epistemologia de inspiração neokantiana, a Escola do Recife iria estacionar nos temas do
ciclo que precedeu o novo curso.
Era inevitável, pois, que se aproximasse do declínio. A derrota do positivismo somente seria
alcançada por uma autêntica investigação filosófica, integralmente dissociada de resquícios
cientificistas.
A quarta e última fase. Abrange aproximadamente dos fins do primeiro do século XX à época da
primeira guerra mundial. Singulariza-se, sobretudo, pelo abandono virtual da atividade
filosófica, caracterizada nos anos anteriores pela publicação sistemática de obras e estudos. A
partir de 1906, escasseiam os trabalhos de cunho filosófico. Este é o ano da morte de Fausto
Cardoso.
Deixa de circular a revista Cultura Acadêmica. Clóvis Beviláqua ocupa-se da defesa do Código
Civil que elaborara, dedicando-se, sobretudo à ciência jurídica. Artur Orlando, nos últimos dez
anos de sua vida, tem uma atividade intelectual dispersa descurando-se da filosofia. Sílvio
Romero procura na Escola de Le Play uma explicação para a sociedade brasileira. Com a sua
morte, em 1914, chega ao fim a Escola do Recife. A partir de então, seus adeptos serão apenas
remanescentes.
Embora a hipótese de que a cultura devesse ser estudada de ângulo sociológico estivesse
presente, na obra de Sílvio Romero, desde a História da Literatura Brasileira (1888), é na fase de
declínio que se lançam as bases do culturalismo sociológico.
Essa parcela da obra da Escola do Recife, ainda que corresponda uma contramão da perspectiva
de Tobias Barreto, constitui o elo que a vincula à meditação contemporânea, onde a corrente
Culturalista que, entre outras coisas, reivindica a herança do fundador da Escola do Recife ocupa
uma posição de grande destaque.
Os estudos sobre a ciência, abandonada na fase última, seria retornada por Otto de Alencar
(1874/1912) e Amoroso Costa (1885/1928), da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, já agora
marcando o rompimento frontal com o positivismo a que aspirara a Escola do Recife, sem tê-lo
alcançado.
Nos primórdios de seu surgimento, aqueles pensadores que vieram a constituir o movimento
que passaria à história com o nome de Escola do Recife aspiravam a uma reforma total na
ideologia dominante. Com sua crítica desejavam demolir não apenas o ecletismo e 8
desalojar velhas doutrinas das escolas jurídicas. Sonhavam também, de certo modo, com a
reforma dos costumes políticos.
Nessa esfera é que a sua impotência se manifestaria desde logo. Tiveram mesmo que reduzir o
seu raio de ação, refugiar-se, primeiro na filosofia e no direito, para acabar os que sobreviveram
até o período que se seguiu à primeira guerra mundial circunscritos à esfera jurídica.
Mas, o que realizaram no sentido de radicar no País um pensamento filosófico e por dar base
científica ao estudo da sociedade e das suas relações jurídicas basta para situá-los como um
ponto alto no processo de evolução de nosso povo e da constituição de sua cultura.
Portanto, pelos indícios e pelas informações até agora apresentadas, revelam que pelas
atividades motivadas e desempenhadas por Tobias, seja como professor de aulas particulares,
seja na fundação frustrada do Clube Popular de Escada, nos estudos e publicações de artigos e
obras, seja enfim como principal representante do movimento da escola do Recife, o tema da
educação fundamenta-se numa perspectiva culturalista
num país de tão larga extensão, deveria colocar sob controle e vigilância o radicalismo
republicano que desde 1817 grassava em Pernambuco e que, não poucas vezes, contestara
após sua transferência para o Recife, em 1854, passou por um conjunto de profundas
levadas à frente por “intelectuais independentes”. Foi no quadro dessas mudanças que se
separaram os currículos dos cursos de “ciências jurídicas” e de “ciências sociais”, das quais
higiene pública e a história dos tratados, segundo informa Lilia Schwarcz no livro O
ideário no debate teórico e político no Brasil seriam de tal ordem que, na década de 1870, já
Tobias Barreto e Sílvio Romero, que iriam formar a vanguarda do que veio a ser conhecida
como “Geração de 1870”. Dela também faziam parte Aníbal Falcão, Franklin Távora,
Araripe Jr., Clóvis Beviláqua, Higino Cunha, Graça Aranha, Artur Orlando e Martins Jr.
comum a origem social numa classe média urbana ascendente, distanciada do mundo
ideológicos como os que martirizavam o Império em meados do século XIX. Nos seus
progresso, entendido, nos moldes positivistas, como o esclarecimento dos indivíduos por
meio da razão. Leitor de filósofos alemães (Haeckel, Buckle), Barreto foi o difusor de
pensadores que marcariam o perfil acadêmico da Escola do Recife: Le Bon e Gobineau,
Spencer e Darwin, Littré e le Play. Da difusão das idéias desses teóricos nasceria uma
evolutiva.
É importante que se lembre também que, por essa época, o cientificismo naturalista
a poesia. Os romances naturalistas, dos quais A carne de Júlio Ribeiro é clara expressão,
Entre todos os pensadores, no entanto, destaca-se Sílvio Romero, cuja influência chegou às
brasileiro, tais como Euclides da Cunha, Oliveira Viana e Gilberto Freire. Romero, segundo
informa Lilia Schwarcz, foi um típico “homem de ciência” do século XIX, polemista e
romantismo e acerba crítica à sociedade imperial em seu livro mais importante, Historia da
literatura brasileira.
povo brasileiro e do caráter nacional no princípio biológico da raça. Para ele, a mestiçagem
seria a saída para a construção da homogeneidade nacional. Todo brasileiro era um mestiço,
tanto no “sangue” como nas “idéias”, expressando “a vitória do branco no país”. O mestiço,
Que não se conceba, no entanto, Sílvio Romero como um democrata defensor da igualdade
original entre os homens. Segundo suas concepções racistas, a mestiçagem seria o caminho
para extinguir os grupos indígenas e negros através de sua diluição na raça branca. Em
outros termos, a mestiçagem era apresentada como a via de assimilação das raças
inferiores, que possibilitaria ao Brasil escapar dos prognósticos pessimistas anunciados por
teóricos como o conde Arthur de Gobineau, para quem a população brasileira, “totalmente
não apenas como a constituição de um mercado capitalista de força de trabalho, mas como