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A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER

E ÉMILE DURKHEIM:
QUESTÕES PREMILIMARES
ACERCA DOS MÉTODOS*

ALESSANDRO ANDRÉ LEMES**

Resumo: Max Weber e Émile Durkheim são dois dos mais importantes autores clássicos das
ciências sociais. A influência de suas respetivas teorias e abordagens metodológicas ainda são
percebidas em muitos autores atualmente. Aqui vamos apresentar preliminarmente as contri-
buições dos autores para as pesquisas qualitativas e quantitativas. Para tal discorremos sobre
a pesquisa qualitativa de Weber na obra a ‘Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo’ e
a pesquisa quantitativa de Durkheim sobre ‘O Suicídio: estudo sociológico’.

Palavras-chave: Max Weber. Émile Durkheim. Ética Protestante. Suicídio. Pesquisa Qua-
litativa e Pesquisa Quantitativa.

E 
ste artigo tem como intuito a promoção de um debate e ao mesmo tempo a
apresentação de dois pensadores/cientistas de suma importância para a criação,
consolidação e o desenvolvimento das ciências sociais. Trata-se do sociólogo
e filósofo francês Émile Durkheim (1858-1917) e do sociólogo, filósofo e economista
alemão Max Weber (1864-1920).
O primeiro marcadamente um expoente teórico metodológico nas ciências sociais
e de forte influência na pesquisa quantitativa, o segundo, também um expoente teórico me-
todológico nas ciências sociais, porém com forte influência na pesquisa qualitativa.
Centrado nos dois autores supra, este trabalho será composto por quatro partes, a
saber: a primeira apresentando uma visão geral dos autores; a segunda focando estritamente
O Suicídio e os Fatores Cósmicos do livro O Suicídio (estudo sociológico) de Durkheim a fim
de identificar no texto qual a lógica da verificação das hipóteses e quais os problemas postos
pelo autor.

* Recebido em: 06.01.2011.


Aprovado em: 16.02.2011.

** Doutor em Ciência Política pela Unicamp. Sociólogo e Cientista Político.


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Na terceira parte será realizado um contraponto entre as Regras do Método So-
ciológico e O Suicídio, ambos de Durkheim. Nesta parte far-se-á necessário um maior deta-
lhamento de como Durkheim elabora sua teoria e metodologia e como ele as aplica em um
estudo de caso, verificando não só a eficiência do método, mas também o aperfeiçoando,
dado que O Suicídio é uma obra a posteriori.
Na última parte, por sua vez, será realizada uma comparação entre a pesquisa quan-
titativa de Durkheim (O Suicídio) e a pesquisa qualitativa de Weber (A Ética Protestante e o
Espírito do Capitalismo) a fim de evidenciar, por um lado, os esforços de ambos os autores
em elaborarem grandes metodologias para o entendimento da sociedade e das relações dos
indivíduos que a compõem. Cabe salientar que não se trata de uma comparação no sentido
de hierarquização de quem é o melhor, mas sim de uma exploração das riquezas que tanto
Durkheim quanto Weber deixaram para as ciências sociais.
As Ciências Sociais desde o seu surgimento em meados do século XIX é marcada por um
embate de teorias centradas na estrutura e teorias centradas na ação. Historicamente verificamos
no que tange as ciências sociais que o embate supra se apresenta marcante nos trabalhos científicos
dos clássicos (MARX, WEBER; DURKHEIM). Embora não possamos definir tão linearmente
os autores em proposições centradas na estrutura e proposições centradas na ação, é evidente a pre-
dominância de um autor em um ou em outro enfoque. No caso dos autores clássicos, com a devida
ressalva já exposta, pode se afirmar que Weber estaria apoiado numa teoria da ação enquanto Marx
e Durkheim estariam apoiados numa teoria da estrutura, embora diferenciadas entre si.
Por outro lado, também é inerente a ciências sociais a elaboração de métodos de
pesquisas qualitativas e quantitativas e é justamente está última proposição que será explora-
da neste trabalho ao analisar, descrever e relacionar Durkheim e Weber, o primeiro pala sua
pesquisa quantitativa e o segundo, por sua pesquisa qualitativa.

QUESTÕES GERAIS ACERCA DOS AUTORES

Antes mesmo de entrar propriamente dito nas questões aqui propostas a serem de-
senvolvidas cabe uma apresentação geral sobre os autores supra. Durkheim é um teórico que
se pode evidenciar sem muita dificuldade sua predominância na noção de estrutura, porém,
um tanto diferenciado da de Marx. Para Durkheim o indivíduo é um ser social, mas não or-
ganizado em classes sociais como Marx afirmara.
Pode-se identificar à noção de estrutura nesse autor pela ideia de consciência co-
letiva e representação coletiva, ambos conceitos chaves para o entendimento da teoria que o
autor elaborou como sendo algo específico ao olhar da sociologia nascente, ou seja, apresenta
as especificidades e as justificam como forma de validar cientificamente este novo tipo de
saber que esta propondo para a explicação e compreensão da sociedade (a sociologia) em con-
traposição ao olhar da psicologia, da filosofia ou da economia, por exemplo.
Tanto a representação coletiva como a consciência coletiva enquanto fatores estruturais
da sociedade não são compostos pela soma das partes, a sociedade é sempre maior que a soma das
partes, ou seja, não é a soma das representações individuais que redundam na representação coletiva,
mas sim as representações individuais que são expressões objetivadas das representações coletivas.
A objetivação da sociedade em Durkheim passa por afirmar que os fatos sociais são
exteriores e coercitivos aos indivíduos, ou seja, as ações individuais seriam reflexos da interna-
lização da consciência coletiva de um determinado grupo social.
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Giddens (1994; 1998) salienta que não há uma única consciência coletiva, diversas
sociedades são portadoras de diferentes consciências coletivas, que, por sua vez engendram
algumas diferenças nas organizações sociais.
Durkheim também dá importância a divisão do trabalho, porém, dentro de uma
perspectiva diferenciada da de Marx, ou seja, Durkheim parte da ideia de que a divisão do
trabalho engendra a solidariedade. Os indivíduos compreendem o significado da divisão
do trabalho enquanto uma especialização que quando vista de forma integrada é funda-
mental para a solidariedade orgânica, para reprodução da ordem social. A única exceção a
essa solidariedade seria a divisão forçada do trabalho enquanto um fato anômico, trazendo
sérios prejuízos à coesão social.
É importante salientar que Durkheim apresenta suas contribuições à sociologia a
partir de sua tese de doutoramento sobre A Divisão Social do Trabalho (De la division du
travail social), publicada em 1893, onde Durkheim demonstra que o desenvolvimento dos
indivíduos tem estrita ligação e dependência com o desenvolvimento da sociedade, esta foi
sua primeira grande obra.
Em 1894 com As Regras do Método Sociológico (Règles de la méthode socio-
logique), Durkheim elabora um método em defesa dos princípios iniciados na sua tese de
doutoramento, quais sejam: o entendimento dos fenômenos sociais enquanto fatos sociais1.
Outra obra importante de Durkheim é O Suicídio, um estudo sociológico (Le
Suicide, étude de sociologie) de 1897, que põem a prova sua metodologia ao realizar uma
ampla pesquisa quantitativa sobre o suicídio, provando que o suicídio, ou as causas que levam
alguém a querer se matar (seja de forma positiva ou negativa) é de natureza sociológica e não
individual.
Por fim, e como livro considerado da maturidade da Durkheim, As Formas Elemen-
tares da Vida Religiosa (Les Formes élémentaires de la vie religieuse) de 1912, é talvez o seu
mais importante livro. Neste livro, Durkheim elabora uma teoria geral da religião partindo
de análises centradas nas instituições religiosas mais simples e mais primitivas. Uma das ideias
centrais do autor nesta obra é de fundamentar uma teoria das religiões superiores no estudo
das formas religiosas primitivas, onde o totemismo acaba por revelar a essência da religião.
A partir do estudo do totemismo, Durkheim prova que se possa apreender a essência de um
dado fenômeno social observando suas formas mais elementares.
Max Weber por sua vez, apresenta uma produção intelectual/científica voltada para
análises e interpretações predominantemente centradas na ação. Nas sociedades capitalistas as
ações dos indivíduos são orientadas/organizadas pelo calculo racional e pela divisão do traba-
lho na administração burocrática do Estado.
Weber pressupõe que as ações dos indivíduos são orientadas por uma lógica racio-
nal (orientada visando um fim, ou por valores). Porém, a racionalidade legal não é a única
forma de organização social, tendo também o carisma e a tradição que influenciam no tipo
de poder, como tipos puros de dominação ao lado do poder legal.
A racionalidade centrada no poder legal é a mais importante no capitalismo dado a
iminente tendência à burocratização da sociedade em suas diversas esferas – sociais, políticas,
econômicas, militares, religiosas, dentre outras. Perante essa tendência à burocratização, a
existência de poderes centrados no carisma ou na tradição pode ser prejudicial à continuidade
de novas lideranças aptas a atuarem na divisão burocrática da administração estatal. Weber
nos evidencia este fato ao descrever e analisar historicamente o legado de Bismark, ou seja, as
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consequências da saída/queda de um líder carismático do poder e o “vácuo” político deixado
pelo mesmo.
Max Weber e Émile Durkheim elaboraram seus trabalhos em circunstâncias po-
líticas, econômicas, morais e sociais diferentes que caracterizavam a Alemanha e a França
na segunda metade do século XIX e começo do século XX na tentativa de superar tanto o
conservadorismo romântico (da filosofia alemã), quanto o utilitarismo da economia clássica.

DURKHEIM CONSTRUINDO O PROBLEMA: A LÓGICA DE VERIFICAÇÃO DAS


HIPÓTESES NO SUICÍDIO E OS FATORES CÓSMICOS

Não há pois nada mais urgente que procurar libertar dele (preconceito) definitivamente a
nossa ciência; é esse o objectivo principal dos nossos esforços. (Émile Durkheim)

A verificação de como Durkheim constrói seu problema acerca das questões relati-
vas ao suicídio tem como ponto de partida um pressuposto lógico de verificação das hipóte-
ses, a partir de um exercício analítico-descritivo do capítulo terceiro O Suicídio e os Fatores
Cósmicos do livro O Suicídio – estudo sociológico, que demonstra sua riqueza e rigor meto-
dológico no desenvolvimento de uma pesquisa quantitativa.
A pesquisa de Durkheim contou com um recorte geográfico que envolveu vários
países da Europa e suas respectivas taxas de suicídios, dentre os países trabalhados estão a
França, a Prússia, a Inglaterra, a Itália, a Dinamarca, a Áustria dentre outros.
Para Durkheim, o desenvolvimento de uma pesquisa de característica eminente-
mente sociológica se dá num primeiro momento pela relação contrastiva do fenômeno social
(fato social) com os fenômenos psíquicos ou biológicos/químicos. É nesta diferenciação e
ao mesmo tempo de definição de qual o objeto de estudo da sociologia que o autor começa
relacionando no capítulo supra.
A importância de delinear claramente qual seria o objeto de estudo da sociologia
em contraste com o objeto da psicologia, da biologia e da própria química é fundamental
para Durkheim.
O fenômeno a ser observado e tratado como social para Durkheim (em sua socio-
logia) é o Suicídio, porém, o caminho metodológico realizado para defini-lo como um fato
social partiu da refutação do suicídio como um fenômeno psíquico e/ou orgânico.
Porém, a refutação de causas psíquicas e orgânicas do suicídio exigiu do autor uma
pesquisa quantitativa, sendo necessário para o seu desenvolvimento à centralização nas taxas
dos suicídios e não no suicídio em si, ou seja, foi preciso quantificá-lo, mensurá-lo para poder
inferí-lo como um fato social. Durkheim parte de um entendimento que é só explicando um
determinado fenômeno que se poderá compreendê-lo, daí a importância de se realizar uma
pesquisa quantitativa para o autor.
Primeiramente foi refutada a predisposição individual como causadora determinante
do suicídio, ou seja, refutou-se qualquer hipótese ou tentativa de evidenciar o suicídio como um
fenômeno estritamente ligado às condições psíquicas dos indivíduos. Com isto, não só se elimi-
nou o determinante individual do suicídio como também o tirou da esfera individual de causas.
Uma vez tendo eliminado os fatores individuais, o autor insere as condições mate-
riais ou cósmicas como possíveis causadoras do suicídio, assentando-se no argumento de que
assim como muitas doenças são manifestadas em certas condições materiais e não em outras,
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o suicídio também poderia estar associado de alguma forma a essas diferenciações cósmicas
(materiais/biológicas).
Caso tal argumento centrado nos fatores cósmicos se verificasse, não se poderia
atribuir o suicídio como um fenômeno social, mas sim natural por evidenciar que alguns
indivíduos seriam naturalmente impulsionados, seja pelo ambiente natural ou por certas ca-
racterísticas bioquímicas inerentes a alguns indivíduos.
De todo o conjunto de fatores e causas ligadas ao meio material somente o clima e
a temperatura sazonal aparentemente teriam alguma influência sobre as taxas dos suicídios,
porém, em sua pesquisa Durkheim também acaba por refutá-las.
O clima2 enquanto causa do suicídio é rapidamente refutado por Durkheim, para
o autor ele em nada influencia nas taxas de suicídio. Nesse sentido há desde o início uma
contraposição entre o autor supra e a escola italiana que explicava as taxas de suicídio pelas
variações temporais.
Na pesquisa de Durkheim não se verificou uma relação entre as taxas de suicídio e
as variações temporais, ou seja, explicar o suicídio pela incidência do calor não se verifica ao
evidenciar que há vários países quentes que possuem baixas taxas de suicídio.
Outra hipótese contestada foi a de que logo nas primeiras alternâncias de tempera-
tura (subida) é que haveria aumentos de suicídio, ou seja, não se verificou relação nenhuma
entre as taxas de suicídio e as alternâncias de temperatura (o fato de subir ou descer a tempe-
ratura não foi relevante para a correlação das variáveis envolventes3).
Por outro lado, a relação existente entre a taxa dos suicídios e as variações da dura-
ção dos dias, verificada com a predominância dos suicídios durante o dia, seria explicada pelo
fato de que é durante o dia que as relações sociais são mais intensas. Tal fato é explicado ao se
verificar que as maiores taxas de suicídio se dão nos dias e nas horas onde a atividade social é
mais intensa. Nesse sentido, o suicídio e suas possíveis causas só podem ser explicados pelas
causas sociais, o compreendendo a partir desta relação como um fato social.
Como pode ser observada, a pesquisa de Durkheim sobre o suicídio, enquanto um
aspecto patológico das sociedades modernas, revela uma relação marcante entre o indivíduo e
a coletividade, ou seja, está posto implicitamente pelo autor até que ponto os indivíduos são
determinados pela esfera coletiva. Nesse sentido, a explicação do suicídio como um fenômeno
social, logo objeto de estudo da sociologia é essencial.
Porém, para defini-lo enquanto um fenômeno social Durkheim criou uma tipologia
para a partir dela elaborar uma teoria geral sobre o suicídio. Para tal, o autor definiu o suicídio
como sendo todo caso de morte ocasionado direta ou indiretamente, seja por atos positivos4
ou negativos5 realizados pelo próprio indivíduo e que o mesmo sabia a quais resultado chegaria.
Nesse sentido, é necessário considerar o suicídio não somente nos casos reconheci-
dos por todos, mas também nos casos de morte voluntária, seja por honra, glória ou qualquer
outra motivação cultural de um determinado conjunto de indivíduos.
Para concluir, porém, não esgotar o assunto, cabe expor que Durkheim pretende
distinguir o suicídio enquanto um fenômeno individual da taxa de suicídio enquanto um
fenômeno social, sendo assim, o autor explica o suicídio6 pela sua taxa de incidência.
Com isto, a explicação proposta por Durkheim afasta as explicações psicológicas
e suas características psicopatológicas da compreensão das taxas de suicídio para explicá-la e
compreendê-la como social, ou seja, sai das predisposições psicológicas para explicá-las pelas
determinações sociais propostas pelo seu método e não pelo determinismo em si.
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A APLICAÇÃO DO MÉTODO À EXPLICAÇÃO DO SUICÍDIO: RELAÇÕES
E AVANÇOS ENTRE AS REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
E O SUICÍDIO DE DURKHEIM

Primeiramente cabe salientar que Durkheim em sua trajetória histórica de contri-
buições para a formação da sociologia e de seu método distintivo das demais ciências, começa
em sua tese de doutorado sobre a divisão do trabalho social, sendo mais bem demarcada na
elaboração das Regras do Método Sociológico, enquanto um método para explicar os fenô-
menos sociais.
Já o estudo de Durkheim sobre o suicídio é uma aplicação do método criado pelo
autor e aperfeiçoado até sua obra considerada a mais “madura”, qual seja: “As forma Elemen-
tares da Vida Religiosa”. A seguir será visto como o autor aplicou seu método e gradativamen-
te o refinou na elaboração do suicídio.
Em primeiro lugar Durkheim apresenta o recorte e o interesse pelo qual a sociologia
deveria se prestar, ou seja, explicar os fenômenos sociais, para tal feito seria necessário enten-
der estes fenômenos como Fato Social.

Fato social é toda a maneira de fazer, fixada ou não, susceptível de exercer sobre o in-
divíduo uma coerção exterior: ou então, que é geral no âmbito de uma dada sociedade
tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das suas manifestações
individuais (DURKHEIM, 1995, p. 39).

Por sua vez, um fato social possui algumas características distintivas dos demais
fatos, quais sejam: a exterioridade às consciências individuais e a ação coercitiva que exerce
sobre os indivíduos. “Somos, então, vítimas de uma ilusão que nos faz acreditar termos sidos
nós quem elaborou aquilo que se nos impôs do exterior” (DURKHEIM, 1995, p. 32). Com
isto pode se dizer que o fato social é generalizado por ser social, mas não seu inverso.
A partir desta definição primária pode-se afirmar que o suicídio, ou melhor, as taxas
de suicídio são vistas como fato social, logo é um fenômeno exterior as individualidades e é
suscetível de exercer coerção sobre as consciências individuais.
Esta ideia parte de um pressuposto que não seria o indivíduo que daria origem
ao suicídio, mas este seria uma manifestação da sociedade por meio de obrigações implí-
citas e difusas. Durkheim exemplifica tal proposição por meio das correntes de opinião,
por exemplo, que podem levar ao casamento, ao suicídio, a uma maior ou menor taxa de
natalidade, dentre outros fatos, sendo que ambos são qualificados como estados da “alma
coletiva”.
Porém, Durkheim não ficou apenas na definição do que é um Fato Social, ele tam-
bém se preocupou em verificar quais seriam as formas de observação dos fatos sociais. Neste
requisito a regra fundamental ficou fundada no tratamento dos fatos sociais enquanto coisas,
porque é só evitando as pré-noções para se ter efetivação na objetividade científica.

Devemos, portanto, considerar os fenômenos sociais em si mesmos, desligados dos su-


jeitos conscientes que deles têm representações; é preciso estudá-los de fora, como coisas
exteriores, porque é deste modo que se nos apresentam [...] portanto, considerando os
fenômenos sociais como coisas, não faremos mais que conformarmos-nos com a sua
natureza (DURKHEIM, 1995, p. 52-3).

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O fenômeno em cuja explicação nos empenhamos, só pode ser imputado a cau-
sas extra-sociais de uma grande generalidade ou a causas propriamente sociais
(DURKHEIM, 1996, p. 19).

Nesse sentido pode-se dizer que há dois preceitos fundamentais presentes na meto-
dologia de Durkheim, a primeira é a observação dos fatos sociais como coisas e, a segunda é o
reconhecimento da coerção que eles exercem sobre os indivíduos. Por coisas pode-se enten-
der qualquer realidade observável do exterior e que cuja natureza não se conhece de imediato.
O suicídio, ou melhor, a taxa de suicídios pode ser um bom exemplo onde se verificam os
dois preceitos expostos acima.
Na aplicação do método proposto por Durkheim à sociologia e evidenciado na
realização da pesquisa sobre as taxas de suicídio fica evidente que a explicação sociológica
proposta pelo autor consiste no estabelecimento de ligações causais, ou seja, a relação de um
fenômeno como causa de outro só é possível pela observação e/ou exame dos casos em que os
dois fenômenos estão presentes, para com isto verificar se há dependência entre eles.
Esse método comparativo ou método da experiência indireta é por excelência socio-
lógico, uma vez em que a verificação da ligação entre variáveis não pode ser feita pelo método
da experimentação, porém, o rigor do método comparativo proposto por Durkheim acaba
por suprir a impossibilidade da experiência.
A correlação dos textos de Durkheim aqui propostas evidencia alguns pontos
essenciais no pensamento do autor que estão contidos em todas suas obras, a saber: o
ponto de partida sempre é a definição do fenômeno; num segundo momento se refuta as
interpretações anteriores acerca do objeto enumerado e, por fim, busca-se a explicação do
fenômeno considerado de forma sociológica. É justamente este desenvolvimento lógico e
metodológico desenvolvido pelo autor que dá originalidade ao objeto de estudo da socio-
logia nascente.
As refutações realizadas por Durkheim se referem geralmente as interpretações indi-
vidualistas e as racionalizantes relativas à interpretação da economia política.

A PESQUISA QUANTITATIVA DE DURKHEIM EM CONTRASTE COM
A PESQUISA QUALITATIVA DE WEBER: DIÁLOGOS E CONTRAPOSIÇÕES

Ao passo que partimos do Suicídio do Durkheim para explanação de sua pesquisa
quantitativa e sua respectiva aplicação teórico-metodológica sobre o fenômeno a ser investigado
de forma sociológica. Em Weber, nosso ponto de partida é a Ética Protestante e o Espírito do
Capitalismo, isto porque acreditamos que este livro, resultado de uma pesquisa qualitativa vai
nos apresentar os principais pontos de partida para compreensão do autor, principalmente
para a possibilidade de diálogos e contraposições a Durkheim.
Weber começa seu livro indagando quais seriam os fatores para que na civilização
ocidental e somente nela tiverem aparecido tais fenômenos culturais, ou seja, quais as pe-
culiaridades da racionalização no Ocidente? Porque os embriões do capitalismo moderno
evoluíram no ocidente e não em outras partes do mundo?
Para tal, Weber apresenta uma breve caracterização de alguns fatores históricos des-
sa racionalidade, ou seja, dos principais aspectos presentes neste processo histórico, mas tam-
bém político, social e cultural, a saber:
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a) o desenvolvimento da ciência com a presença da fundamentação matemática;
b) o legado do Renascimento nas artes:
1 – a abóbada gótica como meio de distribuição de peso e de cobertura de espaços na forma
desejada;
2 – a introdução na pintura de linhas e perspectiva espacial;
3 – a imprensa jornalística e periódica.
c) a ciência como forma sistemática e realizada por especialistas treinados (institucionalização da ciência);
d) a organização do Estado estamental com a composição de funcionários especialmente treinados
para funções específicas (processo de burocratização);
e) o surgimento do conceito de “cidadão”, de “burguesia” e de “proletariado” enquanto classe
trabalhadora livre institucionalizada.
Por outro lado, o autor estabelece que a ânsia pelo lucro em si não tem nada a ver
com o capitalismo, ou seja, não é uma relação causal (causa-efeito). Este impulso existe entre
garçons, prostitutas, médicos, cachaceiros e etc. desde que haja possibilidades objetivas para
que isto venha a ocorrer.
Além do mais, as diversas formas de troca, de obtenção de ganhos já existiam no
mundo todo antes da moderna civilização ocidental, porém a organização capitalista racional
assentada no trabalho livre é uma particularidade do ocidente.
A organização industrial racional orientada para um mercado real e não para opor-
tunidades políticas ou especulativas é peculiaridade do capitalismo ocidental. Sendo que a
empresa capitalista contou com duas condições fundamentais para se realizar enquanto em-
preendimento diferenciado e específico no tempo e no espaço:
a) a separação da empresa da economia doméstica;
b) a criação de uma contabilidade racional (o cálculo exato só é possível no plano do trabalho
livre).
Já a criação do conceito de cidadão, burguesia e proletariado enquanto classe só
passa a existir com a institucionalização e divisão do trabalho gerada pelo processo de especia-
lização e, por novas formas de organização da produção de mercadorias na nascente sociedade
capitalista.
Este moderno capitalismo racional se baseia nos meios técnicos da produção, num
sistema legal e numa administração orientada por regras formais (processo de burocratização
do mundo do trabalho e de impessoalização das relações).
Mediante tais caracterizações e exposições, Weber começa a problematizar seu ob-
jeto de estudo a fim de buscar uma compreensão significativa para o problema da construção
de um determinado ethos capitalista no ocidente e suas possíveis relações com fatores que lhe
deram sentido e motivação.
O primeiro problema apresentado visava compreender o porquê os líderes do mun-
do dos negócios e proprietários do capital, os cargos de níveis mais elevados são predominan-
temente ocupados por protestantes (variável ocupacional)?
Este problema pode num primeiro momento ser explicado de forma histórica, ou
seja, num passado longínquo a filiação religiosa não seria uma causa das condições econô-
micas, mas aparece como resultante delas – condições econômicas causaria o tipo de filiação
religiosa centrada no protestantismo. A posse econômica envolve dois fatores:
a) posse prévia de capital (herdada);
b) grau de escolaridade (educação, conhecimento sistemático).

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Tanto a posse prévia de capital, quanto o grau de escolaridade podem ser herdados
e/ou facilitados por meio de riqueza ou, pelo menos, por meio de um bem estar material,
por exemplo: das partes ou grupos mais desenvolvidos economicamente do antigo império,
foram justamente às cidades mais ricas que aderiram ao protestantismo no século XVI.
O segundo problema parte do primeiro, ou seja, perante esta primeira construção
surge uma outra indagação, qual seja: Porque razão as regiões de maior desenvolvimento eco-
nômico foram ao mesmo tempo favoráveis à uma revolução na Igreja?
As reforma protestantes não significaram à eliminação do controle da igreja sobre
a vida cotidiana, mas sim, na substituição do controle vigente por uma nova forma, ou seja,
foi à substituição de uma forma muito tênue por um estilo mais rigoroso de controle sobre
o cotidiano.
Ao passo que o domínio da igreja católica “punia o herege e perdoava o pecador”.
O domínio calvinista introduzido no século XVI em Genebra e na Escócia, na passagem do
século XVI para o XVII em parte dos países baixos e, no século XVII na Nova Inglaterra aca-
bou por determinar um maior controle e rigor nas condutas dos indivíduos.
Weber também identifica que o tipo predominante de escolaridade entre protestan-
tes e católicos era diferente, a saber:
a) os protestantes se dedicavam (em sua predominância) aos estudos técnicos de perspectivas em
ocupações comerciais e industriais,
b) os católicos se dedicavam (em sua predominância) aos estudos humanísticos e tinham pouco inte-
resse por empregos nas empresas capitalistas.
Outra constatação do autor era que havia uma menor porcentagem de católicos
formados do que protestantes.
Como forma de explicar a pequena proporção dos católicos entre os trabalhadores
especializados, Weber verificou que no processo histórico de transição do artesanato para os
diaristas, os católicos preferiam ficar como artesãos (mestres-artesão). Por sua vez, os pro-
testantes preferiam ser diaristas, eles eram mais atraídos pelas fábricas onde, por sua vez,
acabavam preenchendo as camadas superiores da mão-de-obra especializada e as posições
administrativas mais elevadas.
O fenômeno acima teria como uma de suas explicações as peculiaridades mentais
e espirituais adquiridas do meio, especialmente as oriundas do tipo de educação propiciada
pela atmosfera religiosa do lar e da família protestante.
Segundo Weber (2000), os protestantes, seja como maioria ou como minoria, como
governantes ou governados, sempre demonstraram tendência específica para a racionalidade
econômica.
Um terceiro problema posto pelo autor foi o porquê de haver tanta diferença entre
protestantes de católicos? Porque cada religião parte de orientações diferentes que refletem
diretamente nas respectivas condutas pessoais dos indivíduos?
Ao passo que os católicos preferem a segurança, a não ganância para garantir a vida
eterna (espiritual), os protestantes preferem investir, arriscar no trabalho, eles são contra o
ócio e a luxúria, o que os fazem trabalhar e aplicar/investir seus lucros.
A partir desta constatação, Weber (2000) estabelece uma relação entre o protestan-
tismo calvinista como sendo a religião que mais promovia o desenvolvimento do espírito do
capitalismo em diversas regiões do ocidente (mais que o luteranismo – segundo dados quan-
titativos).
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Por outro lado, o processo de racionalização do tempo, do tempo de trabalho e do
tempo livre no ocidente. Além da racionalização nas relações de troca, nos investimentos e
nos processos de acumulações são alguns dos principais fatores componentes do espírito do
capitalismo.
O espírito do capitalismo é a possibilidade de maximização do ganhar dinheiro en-
quanto puder, ou seja, é um caráter ético de máxima orientação da vida. O dever profissional
enquanto vocação é a ética máxima da cultura capitalista
Neste sentido, o capitalismo lidera a vida econômica por um processo de seleção
econômica dos mais aptos, porém, esta seleção não deve ser vista como algo pertinente em um
único indivíduo isolado, mas sim em um modo de vida comum a todo um grupo inteiro. A se-
leção entendida enquanto uma forma de estabelecer o domínio, o poder de dominar os outros.
A questão que se referia a ética capitalista enquanto um estilo normativo de vida
encontrou como principal opositor a tradição. O empreendedor moderno paga o trabalhador
agrícola pelo tempo de produtividade (quanto mais se produz num determinado tempo mais
se ganha). No tradicionalismo o homem não tem por natureza ganhar cada vez mais dinheiro,
ele prefere ganhar o suficiente para satisfazer suas necessidades tradicionais.
O trabalho como um fim em si mesmo, ou seja, como vocação não advém de bai-
xos salários, nem de salários elevados, mas sim de um processo de educação. A superação do
tradicionalismo é feita pela educação religiosa, principalmente pela possibilidade de conexão
entre ética capitalista a fatores religiosos.
A motivação da expansão do capitalismo moderno não é decorrente das somas vo-
lumosas na origem do capital, mas sim, do desenvolvimento do espírito do capitalismo, ou
seja, onde aparece e é capaz de se desenvolver, em quais condições? Nesse processo, a presença
de uma ética diferente da presente no tradicionalismo é fundamental para o desenvolvimento
do capitalismo.
Ou seja, o que teria destruído as velhas formas de regulação mental da vida medieval
econômica aliado ao crescente poder do Estado Moderno seriam a estrita ligação das condu-
tas econômicas relacionadas com as forças religiosas (principalmente as de ehtos protestante).
A economia capitalista individualista e racionalizada com base no cálculo rigoroso e
dirigida para o sucesso econômico é contrastiva com a precária existência do camponês, com
o tradicionalismo do artesão e com o capitalismo aventureiro oriundo da especulação irracio-
nal, ou seja, a existência de um é a negação do outro.
Nesse sentido o capitalismo pode ser entendido como parte do desenvolvimento do
racionalismo como um todo e, o protestantismo8 seria a medida do desenvolvimento de uma
filosofia puramente racional.
Weber não pretende cair num reducionismo segundo o qual o espírito do capitalis-
mo foi determinado pelas reformas protestantes. Ele esta preocupado em apenas compreen-
der se e em que medida as influências religiosas participaram na moldagem qualitativa e na
expressão quantitativa do espírito do capitalismo.
Ou seja, somente depois de se verificar/compreender as correlações existentes entre
o movimento religioso, no sentido de agir sobre o desenvolvimento da cultura material, é
que se poderá avaliar em que medida os fenômenos culturais contemporâneos se originaram
historicamente em movimentos religiosos.
Perante tal compreensão, Weber (2000) estabelece quais foram os representantes
históricos do protestantismo ascético no ocidente, a saber:
134 FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 22, n. 1, p. 15-24, jan./mar. 2012.
a) Calvinismo (especialmente no século XVII);
b) Pietismo;
c) Metodismo e;
d) Seitas derivadas do movimento Batista.
Porém, esta distinção não foi tão linear na prática, na história. O Metodismo surge
pela 1º vez no século XVIII no seio da Igreja Anglicana da Inglaterra, só ulteriormente com
seu alastramento pela América é que se separou da igreja Anglicana.
O Pietismo inicialmente se desenvolveu no seio do movimento Calvinista na Ingla-
terra e na Holanda e só foi se separando de forma gradativa até a sua absorção no século XVII
pelo Luteranismo, sob liderança de Spencer, conservando-se como um movimento dentro da
igreja Luterana.
Porém, vai ser no calvinismo que vai surgir a doutrina da predestinação, ou seja,
alguns são os escolhidos, mas ninguém sabe quem está entre os escolhidos. Poucos são os
escolhidos para as bem-aventuranças por meio da glória e da majestade de Deus.
a) aplicar padrões de justiça terrena aos desígnios de Deus é desprovido de sentido e é um insulto a sua
Majestade (Deus) (ex: os homens por intermédios dos padres se redimem com Deus a alcançam a
salvação – vida eterna);
b) o homem só fica sabendo dos desígnios de Deus caso o mesmo resolva o revelar;
c) o homem não sabe qual é o seu destino individual.
Tudo o que é carne esta separado de Deus e somente a morte eterna na glorificação
de Deus é que os aproxima (Homem-Deus). Apenas uma parte da humanidade será salva e a
outra será condenada, ou seja, o homem não pode e nem consegue influir sobre seu destino.
Seu destino foi marcado pela liberdade de escolha e agir de Deus.
Este processo marca a ruptura do Pai Celestial do novo testamento tão humano e
compreensivo que perdoava o pecador para a entrada de um Deus transcendental para além
do entendimento humano.
A graça de Deus é tão impossível de ser pedida por aqueles que ele concedeu, assim
como também é inatingível para aqueles que ele negou. O caminho a ser percorrido era re-
servado apenas as individualidades dos próprios homens, nenhum sacerdote poderia ajudar.
A principal diferença entre o Catolicismo e o Calvinismo consiste na eliminação
da salvação por meio da igreja e dos sacramentos no segundo (Calvinismo). Por outro lado,
a predestinação é a confiança exclusiva em Deus, ou seja, os eleitos como a igreja invisível de
Deus.
O intercâmbio do calvinista com Deus era desenvolvido em um profundo isola-
mento espiritual. Para o calvinismo o mundo existe para a glorificação de Deus e o cristão
eleito está no mundo apenas para aumentar esta glória. O crente religioso pode se sentir como
receptáculo do Espírito Santo ou como instrumento da vontade de Deus.
a) no primeiro caso, a vida religiosa tende para o misticismo (Lutero);
b) no segundo caso, a vida tende para a ação ascética (Calvinismo).
Para o calvinismo, as boas obras, embora não pudessem salvar, eram um sinal de
escolha dos eleitos (salvação pelas obras). Já no catolicismo há a existência do sacramento da
absolvição. O sacerdote como um mágico que realiza o milagre da transubstanciação é que
tinha nas mãos a chave para a vida eterna.
No calvinismo era requerido dos fies boas obras isoladas além da própria santifica-
ção pela obras. O trabalho como vocação e a noção de predestinados por meio da realização
FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 22, n. 2, p. 125-140, abr./jun. 2012. 135
bem sucedida do trabalho. No calvinismo o asceticismo é transformado em atividade terrena.
O ócio era um sinal da possível condenação eterna. Para o crente (calvinista) a lei era uma
norma ideal, embora nunca totalmente atingível.
A doutrina da predestinação como uma motivadora de condutas éticas metodica-
mente racionalizadas e o calvinismo como motivador de uma efetivação da racionalização
metódica da vida cotidiana são aspectos fundamentais da Lógica da predestinação, outros
aspectos são:
a) ninguém sabe quem são os escolhidos, os eleitos;
b) o trabalho como vocação e;
c) a recriminação ao ócio e à luxúria.
Perante esta lógica exposta acima, pode-se afirmar que a ética religiosa (calvinista,
por exemplo) engendra um padrão de conduta individual racionalizado. Neste sentido, o
protestantismo não é a causa, mas sim, um dos elementos fundamentais do espírito do capi-
talismo moderno, fundamentado em uma conduta e uma organização racional dos negócios.
As atitudes religiosas determinam um comportamento moral que encontra aplica-
ção nos negócios profanos. O ethos protestantes foi uma das fontes da racionalização da vida
e que contribuíram para Weber para formar o Espírito do Capitalismo.
Para o comentador Julian Freund (1987) a preocupação de Weber é compreender
que ao mesmo tempo em que a conduta religiosa orienta ou condiciona em partes as outras
atividades humanas (economia e política), respectivamente é condicionada por elas. É uma
relação mútua e recíproca.
Ao passo que Durkheim começa realizando um recorte de qual será seu objeto
(o suicídio), o delimita aos indivíduos (eliminado os animais da esfera do estudo) e estabe-
lece uma diferenciação clara entre o suicídio enquanto um fenômeno individual e o suicídio
enquanto um fenômeno coletivo. Este último definido pela taxa de suicídios, sendo esta
proposição a inquietação científica da sociologia, cuja realização se daria por uma pesquisa
quantitativa.
Weber por sua vez realizou uma pesquisa qualitativa que redundou no livro “A Ética
Protestante e o Espírito do Capitalismo”. Porém, ao realizar um estudo qualitativo o autor
desenvolve algumas concepções metodológicas que são fundamentais tanto para o desenvol-
vimento da pesquisa quanto para sua compreensão.
Primeiramente Weber tenta dar um sustentáculo metodológico original à sociolo-
gia, partindo de um procedimento de classificação tendo como base quatro tipos puros de
ação, quais sejam: a ação racional visando um fim; a ação racional visando valor; a ação efetiva
e, por fim, a ação tradicional. Como se verá mais a diante, na ética protestante e na análise de
suas influências sobre a orientação do espírito do capitalismo há a predominância dos tipos
de ação racional. Alias, a ação racional adquire predominância na sociedade moderno com a
burocratização do estado capitalista, com o processo de racionalização e desencantamento do
mundo moderno.
Ao passo que Durkheim parte de sua pesquisa quantitativa centrada na explicação
dos fatos sociais presentes nas consciências coletivas, Weber em sua sociologia compreensiva
visa compreender quais as motivações que orientam as ações dos indivíduos, tendo como um
dos principais recursos metodológicos para tal realização, a classificação já exposta à cima e as
tipologias criadas. Nesse sentido pode-se afirmar que ao passo que o primeiro parte da expli-
cação para se compreender, o segundo partiria da compreensão para depois explicar.
136 FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 22, n. 2, p. 125-140, abr./jun. 2012.
Na elaboração deste método proposto por Weber que fundaria o que ele mesmo de-
nominou de sociologia compreensiva, quando aplicada a uma de suas pesquisas sobre a “ética
protestante” e o “espírito do capitalismo”, algumas indagações são evidenciadas, a saber: qual
seria a peculiaridade do desenvolvimento do capitalismo no ocidente e não em outras partes do
mundo (oriente, por exemplo?).
Para começar a responder tal pergunta/indagação, Weber parte do mesmo princípio
que Durkheim, ou seja, começa refutando as hipóteses propostas. A primeira a ser refutada é a
de uma explicação puramente econômica, sendo essa verificada por Weber como incapaz, por
si só, de justificar as particularidades presentes no desenvolvimento do capitalismo do ocidente.
Num segundo momento Weber salienta a necessidade de se compreender qual seria
o etos específico dos primeiros empresários capitalistas europeus para se compreender o por-
quê este comportamento faltava nas outras civilizações.
Uma das particularidades presente no ocidente e verificada por Weber, consistiu no
etos protestante enquanto uma das fontes racionalizadoras da vida e que contribuiu para o que
o autor denomina de espírito do capitalismo. Weber não pretende com isto estabelecer uma
relação causal meramente mecânica entre o protestantismo e o capitalismo, mas sim, com-
preender o quanto o etos protestante foi racionalizador e contribuiu com isto para a evolução
do capitalismo9.
Nesse sentido Weber está preocupado em compreender como a ética protestante
em suas motivações psicológicas e morais motivou a formação do espírito do capitalismo. No
desenvolvimento de sua pesquisa, sua maior preocupação era com a análise do calvinismo do
fim do século XVII (e não os próprios escritos de Calvino que viveu cerca de aproximadamen-
te 150 anos antes). É justamente a partir deste procedimento que a aplicação da sociologia
compreensiva de Weber é utilizada para o entendimento da correlação da ética protestante
com o espírito do capitalismo.
Enquanto Weber visa compreender o desenvolvimento e a evolução do capitalismo
no ocidente por meio das motivações engendradas pela ética protestante, Durkheim visa
explicar a taxa de suicídios enquanto um fenômeno social, logo exterior e coercitivo aos
indivíduos (centrado numa noção de coletividade) dentro de relações causais bem definidas.
A análise que Weber faz, parte da ideia de um tipo ideal de ética protestante na qual
se encontra a noção de predestinação (convicção religiosa) e a noção do trabalho enquanto
vocação.
Na primeira, há a referência de que ninguém saberia quais são os escolhidos, ou
seja, os desígnios de Deus seriam irrevogáveis, sendo tão impossível perder sua graça uma
vez que a tendo ganhada, quando tentar adquiri-la quando a foi recusada. Esta convicção
acaba por eliminar gradativamente a magia, há um desencantamento do mundo e, por
conseguinte, uma racionalização crescente nas diversas esferas das relações sociais.
Uma vez engendrado o processo de desencantamento do mundo juntamente com
a não declaração explícita de quem seriam os escolhidos por Deus, o trabalho enquanto vo-
cação surge como uma tentativa de demonstrar, por meio de sua eficácia social, quais seriam
os possíveis predestinados. Nesse sentido, o trabalho mais eficaz seria uma manifestação da
glória de Deus e um sinal da eleição baseada na vida ascética, ou seja, o êxito no trabalho
confirmaria a vocação pessoal.
Essa conduta ascética contribuiu para a racionalização de toda a existência rela-
cionada com a vontade de Deus, ou seja, houve uma racionalização do comportamento dos
FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 22, n. 2, p. 125-140, abr./jun. 2012. 137
indivíduos, inclusive no mundo dos negócios. Entretanto o êxito no mundo do trabalho
não é sinônimo de riqueza no seu caráter de acumulação para vida ociosa, luxúria ou coisas
do tipo, mas sim como forma de acumulação para o investimento. Quanto mais se investia,
quanto maior produtividade se adquiria no trabalho e, em contrapartida a recusava do luxo e
do ócio, estiveram intimamente ligados a um novo estilo de vida que influenciou diretamente
o espírito do capitalismo.
Por meio da ética protestante foi possível compreender o desenvolvimento do espírito
do capitalismo por causa da nova característica que foi introduzida ao mundo do trabalho, ou
seja, há uma fundamentação cujas origens são a moral religiosa que, por sua vez, influencia nos
estilos de vida e trabalho dos indivíduos, refletindo diretamente na forma, no modo de aplicação
e condução dos negócios profanos.
Enquanto Weber está preocupado com sua pesquisa qualitativa em quais motiva-
ções estariam orientando as ações dos indivíduos (ética protestante e espírito do capitalismo)
para compreender o porquê das particularidades do capitalismo no ocidente, Durkheim, em
sua pesquisa quantitativa sobre o suicídio, está preocupado em dar o status ao problema do
suicídio enquanto um objeto de estudo da sociologia. Para tal, parte da explicação deste fenô-
meno dentro de condições de variabilidade (taxa de suicídio) num processo de objetivação do
mesmo e remetido a esfera da consciência coletiva e não as perturbações ou crises psicológicas
dos indivíduos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Falar sobre Durkheim e Weber enquanto fundadores da sociologia clássica implica


em diferencia-los pelo método, porém não hierarquiza-los do melhor para o pior. As diferen-
ças metodológicas verificadas no decorrer deste trabalho e a própria diferença no tipo de pes-
quisa pelo qual cada autor optou em realizar (o primeiro a pesquisa quantitativa e o segundo
a pesquisa qualitativa) devem ser encaradas como modelos consistentes de como se realiza
uma pesquisa com coerência na aplicação do método e clareza nas explicações/compreensões
daí resultadas.
A pesquisa quantitativa de Durkheim sobre o suicídio segue a rigor sua proposição
metodológica de considerar as taxas de suicídios enquanto um fenômeno social, logo pos-
suidor das características de um fato social (coercitivo e exterior), o que acaba por explicar o
fenômeno supra enquanto um fenômeno social presente nas consciências coletivas, ou seja,
algo a ser estudado e explicado pela sociologia, ciência que o autor está fundando.
O mesmo rigor que Durkheim apresenta no desenvolvimento de sua pesquisa, We-
ber apresenta na elaboração de sua pesquisa qualitativa que visa a compreensão de quais
motivações estariam orientando as ações dos indivíduos para o desenvolvimento singular do
espírito do capitalismo no ocidente e não em outras civilizações. Para tal, Weber cria algumas
classificações e tipologias para melhor compreender esta relação multi-causal de motivações
orientando determinadas ações, que por sua vez, acabam por definir um novo tipo de estilos
de vida e, por conseguinte, um novo padrão de relações sociais mais racionalizadas, ocasio-
nando um desencantamento do mundo.
Tanto o primeiro autor quanto o segundo tem contribuições relevantes à sociologia
e as ciências sociais como um todo, seja nas pesquisas de cunho quantitativo ou qualitativo,
seja pela forma de explicar para depois compreender ou de primeiro compreender para depois
138 FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 22, n. 2, p. 125-140, abr./jun. 2012.
poder explicar, enfim, ambos possuem corroborações essenciais à pesquisa sociológica ainda
na atualidade.
O que acaba por reforçar que os esforços em relizar pesquisa (quantitativa ou quali-
tativa) nas ciências sociais tem sua validade e viabilidade quando sustentadas por abordagens
teórico-metodológicas capazes de dar alguma resposta a determinados fatos/fenômenos so-
ciais. Ou seja, metodologias capazes de partir das particularidades das formas de tratamento
da relação sujeito/objeto das ciências sociais (sociologia, antropologia e ciência política) sem
perder de vista o princípio da refutação e, ao mesmo tempo validar hipóteses e consequente-
mente, conseguir explicar/compreender determinados fenômenos/fatos sociais presentes em
determinados momentos históricos.

SOCIOLOGY OF MAX WEBER AND EMILE DURKHEIM: PRELIMINARY QUES-


TIONS ABOUT THE METHODS

Abstract: Max Weber and Émile Durkheim are two of the most important classic authors of the
social sciences. The influence of their respetivas theories and methodological approaches are still
noticed in many authors now. Here we will present preliminarmente the authors’ contributions
for the qualitative and quantitative researches, for such we talked about the qualitative research
of Weber in the work the Protestant Ethics and the Spirit of the Capitalism and the quantitative
research of Durkheim on Suicício: I study sociological.

Keywords: Max Weber. Émile Durkheim. Protestant Ethics. Suicide. Researches Qualitative and
Quantitative Research.

Notas

1 O Fato Social é distintivo de outros fenômenos presentes na natureza e nas predisposições


psíquicas dos indivíduos por se apresentarem como coisa exterior às consciências individuais
e susceptíveis de exercerem ação coercitiva sobre as mesmas.
2 O clima aqui é entendido em suas variações, calor e frio, por exemplo.
3 Correlação entre as taxas de suicídio e as variações na temperatura (calor e frio e suas
respectivas intensidade segundo um padrão quantitativo – categorização da temperatura
em intervalos).
4 Os atos positivos estão associados às mortes provocadas de forma direta pelos indivíduos,
como por exemplo, o ato de um indivíduo disparar contra si mesmo um tiro de revolver
ou apunhalar uma faca em pontos vitais do seu corpo.
5 Os atos negativos por sua vez estão associados às mortes provocadas de forma indireta, tal
como o ato de um indivíduo que resolve deixar de comer ou, que numa eventualidade não
queira sair da frente de um automóvel que venha em sua direção, por exemplo.
6 Durkheim ainda vai caracterizar as causas sociais e os respectivos tipos sociais que o
suicídio apresentam, ou seja, o autor acaba por dividir o suicídio em 3 (três) grandes
agrupamentos, a saber: o suicídio egoista; o suicídio altruísta e o suicídio anômico.
7 Este parentesco estreito entre a vida e a estrutura, entre o órgão e a função, pode ser facilmente
estabelecido em sociologia porque entre estes dois termos extremos existe toda uma série de

FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 22, n. 2, p. 125-140, abr./jun. 2012. 139


intermediários imediatamente observáveis que mostra a ligação entre eles. A biologia não tem
o mesmo recurso. Mas é permitido acreditar que as induções da primeira destas ciências sobre
este assunto são aplicáveis à outra e que nos organismos, tal como nas sociedades, só existem
diferenças de grau entre estas duas de factos (DURKHEIM, 1995, p. 39).
8 Para o Luteranismo a profissão era como um “Dom” especial de Deus. Neste aspecto o
calvinismo se difere tanto do catolicismo quanto do luteranismo.
9 Weber não tenta com isto realizar uma inversão da esfera econômica para a religiosa como
causa única, o autor compreende que há várias causas intrinsecamente ligadas a evolução
do capitalismo, porém, sua pesquisa se preocupa em compreender a correlação da ética
protestante para o espírito do capitalismo.

Referências

ARON, R.. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: M. Fontes, 1993.


COHN, G.(org.). Weber – sociologia. São Paulo: Ática. (Coleção Grandes Cientistas Sociais).
DURKHEIM, E. O Suicídio – estudo sociológico. Lisboa: Editorial Presença, 1996.
DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. Lisboa: Presença, 1995.
DURKHEIM, E. Sociologia e filosofia. São Paulo: Ícone, 1994.
FREUND, J. Sociologia de Max Weber. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987.
GIDDENS, Anthony. Capitalismo e moderna teoria social. Lisboa: Editorial Presença, 1994.
GIDDENS, Anthony. Política, sociologia e teoria social: encontros com o pensamento social clás-
sico e contemporâneo. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998.
WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 2000.
WEBER, M. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília, DF: Edi-
tora Universitária de Brasília, 1994.

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