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11/25/2017 Meditações sobre o arcano Maior: 1. O Mago - Clube do Tarô - Tarot
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que toma as decisões e que dirige e escolhe os meios para a execução das tarefas do
organismo todo – cabeça, coração e membros.
A missão de João consiste em conservar a vida e a alma da Igreja – em viver até a segunda
vinda do Senhor. Por isso João nunca pretendeu e nunca pretenderá ter a função diretiva do
corpo da Igreja. Ele vivifica esse corpo, mas não dirige suas ações.
Ora, o hermetismo, a tradição hermética viva, guarda a alma comum da verdadeira cultura.
Insisto em acrescentar: os hermetistas ouvem – e, às vezes, compreendem – o bater do
coração da vida espiritual da humanidade. Eles só podem viver como guardiães da vida e da
alma comum da religião, da ciência e da arte. Não têm nenhum privilégio em nenhum desses
domínios; os santos, os verdadeiros sábios e os artistas de gênio são superiores a eles. Mas
eles vivem para o mistério do coração comum que bate no fundo de todas as religiões, de
todas as filosofias, de todas as artes e de todas as ciências passadas, presentes e futuras. E,
inspirando-se no exemplo de João, o discípulo amado, não pretendem e jamais pretenderão
exercer papel de direção na religião, na ciência, na arte, na vida social ou na política; mas
velam constantemente para não perderem nenhuma ocasião de servir a religião, a filosofia, a
ciência, a arte e a vida social e política da humanidade e para que lhes seja infundido o sopro
da vida de sua alma comum – em analogia com a administração do Sacramento da Santa
Comunhão. O hermetismo é – e é somente – um estimulante, um "fermento" ou uma
"enzima" no organismo da vida espiritual da humanidade. Nesse sentido, ele é em si mesmo
um Arcano, isto é, o antecedente do Mistério do segundo nascimento ou da Grande Iniciação.
Eis qual é o espírito do hermetismo. E é nesse espírito que voltamos agora ao primeiro Arcano
Maior do Tarô.
Em que consiste essa primeira lâmina?
Um jovem, tendo na cabeça um grande chapéu em forma de lemniscata, está de pé atrás de
pequena mesa, sobre a qual se encontram pequeno vaso amarelo, três pequenos discos
amarelos, quatro discos vermelhos, um dos quais dividido ao meio por um traço, um copo
vermelho com dois dados, uma faca fora da bainha e uma bolsa para guardar pequenos
objetos. O jovem – que é o Mago – tem uma varinha em sua mão esquerda e uma bola ou
moeda amarela em sua mão direita. Ele segura esses dois objetos com despreocupação
perfeita, sem apertá-los nem demonstrar qualquer sinal de tensão, de indecisão, de pressa ou
de esforço.
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Ele age com espontaneidade perfeita – trata-se de jogo, não de trabalho – e nem sequer
segue os movimentos de suas mãos; seu olhar se dirige para outro lugar.
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Essa é a lâmina.
Que a série dos símbolos, isto é, dos reveladores, dos arcanos, que é o jogo do Tarô, se abra
com uma figura representando um mago – um pelotiqueiro em ação é, sem dúvida,
surpreendente! Como explicá-lo?
O primeiro Arcano – princípio subjacente dos outros vinte e um Arcanos Maiores do Tarô – é o
da relação de esforço pessoal e da realidade espiritual. Ele está em primeiro lugar na série
porque quem não o compreender (isto é, quem não o entender na prática cognitiva e
realizadora) não saberá o que fazer com os outros arcanos, visto que é o Mago que é
chamado a revelar o método prático, válido para todos os arcanos.
Ele é o "Arcano dos Arcanos" no sentido de que revela o que é necessário saber e poder para
se entrar na escola dos exercícios espirituais constituídos pelo conjunto do jogo do Tarô, a fim
de que se tire algum proveito dele.
Com efeito, o princípio primeiro e fundamental do esoterismo (isto é, da vida da experiência
da realidade do Espírito) pode ser enunciado assim:
Aprendei primeiro a concentração sem esforço; transformai o trabalho em jogo;
fazei com que o jugo que aceitastes seja suave e que o fardo que carregais seja leve!
Este conselho, ou mandamento, ou advertência, como quiserdes, é muito importante; ele é
atestado pela sua fonte original, as palavras do Mestre: " O meu jugo é suave e o meu fardo
é leve" (Mt 11,30).
Examinemos as três partes do enunciado acima, a fim de penetrarmos o Arcana da "distensão
ativa" ou do "esforço sem esforço". "Aprendei primeiro a concentração sem esforço". Qual é o
sentido prático e teórico desse enunciado?
A concentração, enquanto capacidade de fixar o máximo de atenção no mínimo de espaço
(Goethe diz que aquele que quer realizar algo de sólido e hábil deve concentrar num ponto
mínimo o máximo de. força); é a chave prática do êxito em qualquer domínio. Neste ponto
estão de acordo a pedagogia e a psicoterapia modernas, as escolas de oração e de exercícios
espirituais franciscana, carmelita, dominicana e jesuíta, as escolas ocultistas de toda espécie,
enfim a ioga hindu antiga e todos os outros métodos. Patânjali, em sua obra clássica sobre
ioga, enuncia em sua primeira frase a essência prática e teórica da ioga – "o primeiro arcano"
ou a chave da ioga – como segue – Ioga citta vritti nirodha, "a ioga é a supressão das
vacilações da substância mental" – ou, em outros termos, a arte da concentração. Porque as
vacilações (vritti) da "substância mental" (citta) se verificam automaticamente. Esse
automatismo nos movimentos do pensamento e da imaginação é o contrário da concentração.
Ora a concentração só é possível ao preço e com a condição da tranquilidade e do silêncio do
automatismo do intelecto e da imaginação.
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O "calar-se" precede, pois, o "saber", o "poder" e o "ousar". Por isso a escola pitagórica
prescrevia o silêncio de cinco anos aos principiantes ou aos "ouvintes". Ninguém ousava falar
antes de saber e poder, antes de ter dominado a arte de calar-se, isto é, a arte da
concentração. A prerrogativa de "falar" pertencia àqueles que não falavam mais
automaticamente, movidos pelo jogo do intelecto e da imaginação, mas que podiam suprimi-
lo, graças à prática do silêncio interior e exterior, e que sabiam o que diziam – sempre graças
à mesma prática. O silêncio praticado pelos monges da Trapa e prescrito durante o tempo de
"retiro", de modo geral, a todos os que nele tomam parte, é a aplicação da mesma regra-
verdade: "A ioga é a supressão das vacilações da substância mental" ou ainda "a
concentração é o silêncio voluntário do automatismo intelectual e imaginário".
É necessário distinguir duas espécies de concentração, essencialmente diferentes. Uma é
a concentração desinteressada; a outra, a concentração interessada. A primeira é a da
vontade libertada das paixões, das obsessões e dos apegos escravizadores, ao passo que a
outra é o resultado de paixão, de obsessão ou de apego dominadores. Um monge no
recolhimento da oração e um touro enraivecido estão concentrados, um, porque está na paz
do recolhimento; o outro, porque está dominado pela raiva. Também as paixões fortes levam,
pois, a alto grau de concentração. Assim os ávidos, os avaros, os orgulhosos e os maníacos
denotam às vezes concentração notável. Na verdade, trata-se não de concentração, e sim
de obsessão.
A verdadeira concentração é ato livre na luz e na paz e pressupõe vontade desinteressada e
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E, pois, inútil o esforço para se concentrar, se a vontade está tomada por outra
coisa. As "oscilações da substância mental" jamais poderão ser reduzidas ao silêncio, se a
vontade não lhes infundir seu silêncio. É só a vontade silenciosa que torna efetivo o silêncio
do intelecto e da imaginação na concentração. Por isso, os grandes ascetas são também
grandes mestres da concentração.
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Tudo isso é evidente. Mas o que nos ocupa aqui não é só a concentração em geral, mas
também e sobretudo a concentração sem es/orço. Que vem a ser ela?
Considerai o equilibrista na corda. E evidente que ele está completamente concentrado, do
contrário, cairia por terra. Sua vida está em jogo, e só a concentração perfeita pode preservá-
la.
Acreditais, porém, que o seu intelecto e a sua imaginação se preocupam com o que ele faz?
Credes que ele reflete, imagina, calcula e planeja cada passo?
Se o fizer, cairá. Ele precisa eliminar toda atividade do intelecto e da imaginação para evitar a
queda; precisa "suprimir as oscilações da substância mental" para poder exercer sua
profissão. Durante seus exercícios acrobáticos, a inteligência de seu sistema rítmico –
respiratório e circulatório – substitui a do seu cérebro. Trata-se, em última análise, de milagre
– do ponto de vista do intelecto e da imaginação – análogo ao de são Dionísio, apóstolo dos
gauleses e primeiro bispo de Paris, que a tradição identifica com são Dionísio Areopagita,
discípulo de são Paulo. Ele teve "a cabeça separada do corpo a machadadas, diante da
estátua do deus Mercúrio, mas logo se levantou, tomou a cabeça em suas mãos e, guiado por
um anjo, caminhou longa distância, da colina de Montmartre até o lugar onde hoje repousam
os seus ossos por escolha dele e da providência divina" (Jacques de Voragine, La Legende
Dorée).
Ora, também o equilibrista, enquanto exerce o seu ofício, tem a "cabeça" – isto é, o intelecto
e a imaginação – separada do corpo e caminha de um ponto a outro, levando a cabeça em
suas mãos, guiado por outra inteligência, que age pelo sistema rítmico do corpo.
Para o equilibrista, para o pelotiqueiro, para o mago, a arte e a habilidade, no fundo, são
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análogas ao milagre de são Dionísio, porque, para ele, como para são Dionísio, trata-se da
transposição do centro da consciência diretiva da cabeça para o peito – do sistema cerebral
para o sistema rítmico.
Ora, a concentração sem esforço é a transposição do centro diretor do cérebro para o sistema
rítmico – do domínio mental e da imaginação para o da moralidade e da vontade. O chapéu
grande em forma de lemniscata que está na cabeça do mago e a sua atitude de perfeita
despreocupação indicam essa transposição. A lemniscata (o oito horizontal: ) é o símbolo
não só do infinito, mas também do ritmo, da respiração e da circulação – ela é o símbolo do
ritmo eterno ou da eternidade do ritmo.
O mago representa, pois, o estado de concentração sem esforço, isto é, o estado de
consciência no qual o centro diretor da vontade "desceu" (na verdade, "elevou-se") do
cérebro para o sistema rítmico
e no qual as "oscilações da substância mental", reduzidas ao silêncio e ao repouso, não
entravam mais a concentração.
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A concentração sem esforço – isto é, na qual não há nada a suprimir, e o recolhimento se
torna tão natural como a respiração e as pulsações do coração – é o estado de consciência
(do intelecto, da imaginação, do sentimento e da vontade) em estado de tranquilidade
perfeita, acompanhada da distensão completa dos nervos e dos músculos do corpo. É o
silêncio profundo dos desejos, das preocupações, da imaginação, da memória e do
pensamento discursivo. Dir-se-ia que o ser todo se tornou como a superfície de águas
tranquilas refletindo a presença imensa do céu estrelado e de sua indizível harmonia. As
águas são profundas, e como são profundas – e o silêncio aumenta, aumenta sempre, e
que silêncio! Seu crescimento realiza-se por ondas regulares que passam, uma após outra,
através de vosso ser: uma onda de silêncio, seguida de outra onda de silêncio mais profundo,
depois outra onda de silêncio ainda mais profundo. Já bebestes do silêncio alguma vez? Se a
resposta for afirmativa, sabeis o que é a concentração sem esforço.
No começo, o silêncio completo ou a "concentração sem esforço" duram instantes, depois
minutos, depois quartos de hora. Com o tempo, o silêncio ou a concentração sem esforço se
tornam o elemento fundamental sempre presente na vida da alma. É como o ofício perpétuo
na igreja de Sacré-Coeur de Montmartre, que se verifica enquanto em Paris trabalha-se,
circula-se, diverte-se, dorme-se, morre-se... E assim que o "ofício perpétuo" do silêncio se
instala na alma e prossegue até quando ela está em atividade, trabalhando ou conversando.
Uma vez estabelecida essa "zona de silêncio", podeis haurir dela tanto para o repouso como
para o trabalho. Tereis então não só a concentração sem esforço como também a atividade
sem esforço.
E é isso precisamente que quer dizer a segunda parte de nosso enunciado:
Transformai o trabalho em jogo.
A mudança do trabalho, que de corvéia se torna jogo, efetua-se em consequência da
presença da "zona do silêncio perpétuo", do qual se pode haurir, por uma espécie de
respiração íntima e secreta, a suavidade e o frescor que dão unção ao trabalho e o
transformam em fogo.
Porque a "zona de silêncio" não significa só que a alma, no fundo, está em paz, mas também
e mais ainda que ela está em contato com o céu ou com o mundo espiritual, que trabalha
com ela. Aquele que encontra o silêncio na solidão da concentração :em esforço nunca
está só. Ele nunca leva sozinho as cargas que deve carregar: as forças do céu, as forças do
alto o ajudam.
Assim a verdade enunciada na terceira parte da fórmula:
fazei com que o jugo que aceitastes seja suave
e que o fardo que carregais seja leve,
se torna experiência. Porque o silêncio é o sinal do contato real com o mundo espiritual, e
esse contato, por sua vez, gera sempre o afluxo das forças. É esse o fundamento de toda
mística, de toda gnose, de toda magia e de todo esoterismo prático em geral.
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Todo esoterismo se funda na regra seguinte:
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O dogma da unidade da essência de tudo o que existe precede todo ato de conhecimento, e
todo ato de conhecimento pressupõe o dogma da unidade do mundo. O ideal – ou fim último
– de toda filosofia e de toda ciência é a verdade. Mas a "verdade" não tem outro sentido que
não seja a redução da pluralidade fenomenal à unidade essencial – dos fatos às leis, das leis
aos princípios, dos princípios à essência ou ao ser. Toda procura da verdade – mística,
gnóstica, filosófica e científica – postula a sua existência, isto é, a unidade fundamental da
multiplicidade fenomenal do mundo. Sem essa unidade, nada seria cognoscível. Como seria
possível proceder do conhecido para o desconhecido – e esse é o método do progresso no
conhecimento – se o desconhecido não tivesse nada a ver com o conhecido, se o
desconhecido não tivesse nenhum parentesco com o conhecido e lhe fosse absoluta e
essencialmente estranho? Quando dizemos que o mundo é cognoscível – isto é, que o
conhecimento como tal existe – afirmamos, com isso mesmo, o dogma da unidade essencial
do mundo. Afirmamos que o mundo não é um mosaico no qual está incrustada uma
pluralidade de mundos essencialmente estranhos uns aos outros, mas que se trata
de organismo cujas partes são governadas pelo mesmo princípio, revelando-o e deixando-se
reduzir a cie. 0 parentesco de todas as coisas e de todos os seres é a condição "sine qua non"
de sua possibilidade de serem conhecidos.
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Ora, o parentesco de todas as coisas e de todos os seres reconhecido francamente gerou um
método de conhecimento que lhe corresponde de modo estrito, conhecido geralmente pelo
nome de Método da analogia: seu papel e alcance para a ciência dita "oculta" foram mostra-
dos de maneira admirável por Papus em seu Traité élémentaire de Science Occulte. A
analogia não é dogma ou postulado – a unidade essencial do mundo o é – mas sim o método
primeiro e principal (o alef do alfabeto dos métodos), cujo uso permite fazer o conhecimento
avançar. Ela é a conclusão primeira tirada do dogma da unidade universal: uma vez que no
fundo da diversidade dos fenômenos encontra-se a sua unidade, de modo que eles são ao
mesmo tempo diversos e um, seguese que eles não são idênticos nem heterogêneos,
mas análogos, enquanto manifestam seu parentesco essencial.
A enunciação tradicional do método da analogia é bem tradicional. E o primeiro versículo
da Tábua de Esmeralda (Tabula Smaragdina) de Hermes Trismegisto:
"Quod superius est sicut quod inferius et quod inferius est sicut quod est superius ad
perpetranda miracula Rei Unius":
"O que está no alto é como o que está em baixo, e o que está em baixo é como o que está no
alto para realizar o milagre da Unidade".
É a forma clássica da analogia para tudo o que existe no espaço em cima e em baixo.
A fórmula da analogia aplicada ao tempo seria:
"Quod fuit est sicut quod erit, et quod erit est sicut quod fuit, ad perpetranda miracula
aeternitatis":
"O que foi é como o que será, e o que será é como o que foi, para realizar os milagres da
eternidade".
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Eis o que escreve sobre o mito (isto é, sobre o simbolismo do tempo ou simbolismo histórico,
segundo a nossa definição) Hans Leisegang, autor de livro clássico sobre a Gnose: "O mito
exprime na forma de narração de caso particular, uma ideia eterna, intuitivamente
reconhecida por aquele que a revive na ação" (La Gnose, Payot, Paris, 1951, p. 42).
E eis o que diz dos símbolos tipológicos Marc Haven no capítulo sobre o simbolismo, em seu
livro póstumo Le Tarot (1937): "As nossas sensações, símbolos de movimentos exteriores,
não se parecem com eles (isto é, com os fenômenos) como as ondulações da areia, no
deserto, não se parecem com o vento que forma os montículos e como o fluxo e refluxo das
águas do mar não se parecem com os movimentos combinados do Sol e da Lua. Eles são os
seus símbolos... A opinião de Kant, de Hamilton e de Spencer, que reduzem os movimentos
de dentro a simples símbolos de realidade oculta, é mais racional e mais verdadeira (do que o
realismo ingênuo – nota do autor). A própria ciência deve resignar-se a ser apenas
simbolismo consciente de si mesma... Mas a simbólica tem alcance muito diferente. Ciência
das ciências, como a chamavam os antigos (Decourcelle, Traité des symboles, Paris, 1806), e
língua universal e divina, ela proclama e prova a hierarquia das formas desde o mundo
arquetípico até o mundo material e as relações que os unem; numa palavra, ela é a prova
tangível da solidariedade dos seres" (pp. 19, 20, 24).
Eis pois duas definições dos símbolos do tempo ou dos mitos e dos do espaço ou da
correspondência dos mundos "desde o mundo arquetípico até o mundo material" –
formuladas, uma, por sábio alemão em Lípsia, em 1924, e, a outra, por hermetista francês
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em Lião, em 1906 – que exprimem exatamente as idéias dos dois gêneros da simbólica – o
mitológico e o tipológico – que acabamos de apresentar.
A "Tábua de Esmeralda" visa somente ao simbolismo tipológico ou do espaço – a analogia
entre o que está "em cima" e o que está "em baixo". Por isso, é necessário acrescentar-lhe,
por extensão, a fórmula correspondente, que visa ao simbolismo mitológico ou simbolismo do
tempo, que encontramos, por exemplo, no livro do Gênesis.
A distinção entre essas duas formas da simbólica é inteiramente desprovida de alcance
prático; é à sua confusão que se devem atribuir muitos erros de interpretação das fontes
antigas, inclusive da Bíblia. Assim, por exemplo, alguns autores consideram a narração de
Caim e Abel como tipológica. Eles querem ver nela os símbolos das "forças centrífugas e
centrípetas" etc. Mas a história de Caíra e Abel é um mito, isto é, exprime, na forma de
narração de um caso particular, uma ideia "eterna", referindo-se, consequentemente,
ao tempo e à história, e não ao espaço e à sua estrutura. Ela nos mostra que irmãos podem
tornar-se inimigos mortais pelo fato de adorarem, do mesmo modo, o mesmo Deus.
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Essa história revela a fonte das guerras de religião; a sua causa não é a diferença de dogma,
de culto ou de rito, e sim unicamente a pretensão à igualdade ou, se preferirmos, a negação
da hierarquia. Temos aqui também a primeira revolução do mundo – o arquétipo
(o Urphänomen de Goethe) de todas as revoluções passadas e futuras da humanidade, uma
vez que a causa de todas as guerras e revoluções – numa palavra, de toda violência – é
sempre a mesma: a negação da hierarquia. Essa causa já se encontra em germe num nível
tão elevado como é o ato comum de adoração do mesmo Deus por dois irmãos, e nisso está a
revelação perturbadora da história de Caim e Abel. E como os homicídios, . as guerras e as
revoluções continuam, a história de Caim e Abel permanece sempre válida e atual. Ela é um
mito e um mito de primeira ordem.
O mesmo podemos dizer das narrativas da queda de Adão e Eva, do dilúvio e da arca de Noé,
da torre de Babel etc. Elas são mitos, isto é, são, em primeiro lugar,
símbolos históricos referentes ao tempo, e não símbolos que exprimem a unidade dos
mundos no espaço físico, metafísico e moral. A queda de Adão e Eva não revela uma queda
correspondente no mundo divino, no seio da Santíssima Trindade, e também não exprime
diretamente a estrutura metafísica do mundo arquetípico. Ela é acontecimento particular da
história da humanidade terrestre, cujo alcance só cessará com o fim da história humana;
numa palavra, ela é verdadeiro mito.
Seria errôneo, por outro lado, interpretar, por exemplo, a visão de Ezequiel,
o Merkabahi, como mito. A visão do carro celeste é revelação simbólica do mundo arquetípico.
Ela pertence à simbólica tipológica – o que, aliás, o autor do Zohar compreendeu muito bem
e, por isso, tomou a visão de Ezequiel como símbolo central do conhecimento cósmico –
segundo a regra da analogia, em conformidade com a qual o que está em cima é como o que
está em baixo.
Porque o Zohar conhece bem essa regra. Ele não só a usa implicitamente como também lhe
dá expressão explícita. É assim que lemos no Zohar (Waera, 25a): "O que está em cima é
como o que está em baixo: como os 'dias' de cima estão cheios da bênção do Homem
(celeste), do mesmo modo os dias daqui de baixo estão cheios da bênção por intermédio do
Homem (do justo)".
Também a India tem a sua versão da máxima hermética. Assim a Vishvasâra Tantra anuncia
a fórmula: “O que está aqui está lá. O que não está aqui não está em parte alguma” (Arthur
Avalon. La Puissance du Serpent, p. 56).
O uso da analogia não se limita, contudo, às "ciências malditas" – a magia, a astrologia e a
alquimia – e à mística especulativa, sendo, a bem dizer, universal, porque nem a filosofia,
nem a teologia e nem a ciência podem prescindir dela.
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Eis o papel que a analogia desempenha na lógica, que é a base da filosofia e das ciências:
1) A classificação dos objetos segundo sua semelhança é o primeiro passo no caminho da
pesquisa pelo método indutivo. Ela pressupõe a analogia dos objetos a classificar.
2) A analogia (o argumento por analogia) pode constituir a base das hipóteses. Assim a
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famosa Hipótese Nebular de Laplace deve-se à analogia que ele observou na direção do
movimento circular dos planetas em torno do Sol, do movimento dos satélites em torno dos
planetas e da rotação dos planetas em torno de seus eixos. Da analogia observada nesses
movimentos ele concluiu pela sua origem comum.
3) Diz J. Maynard Keynes em seu A Treatise on Probability (Tratado sobre a probabilidade):
"O método científico tem como objetivo descobrir os meios de elevar o alcance da analogia
conhecida até que ela possa, na medida do possível, dispensar os métodos da indução pura"
(p. 24). Ora, a "indução pura" se funda na simples enumeração, sendo essencialmente uma
conclusão tirada dos dados estatísticos da experiência. Assim poderíamos dizer: como João é
homem e morreu, Pedro é homem e morreu, Miguel é homem e morreu etc. A força desse
argumento depende do número ou da quantidade dos fatos conhecidos pela experiência; a
analogia, ao contrário, acrescenta a ele o elemento qualitativo de alcance intrínseco das
quantidades. Eis um exemplo de argumento por analogia: André é formado de matéria,
energia e consciência. Como a matéria não desaparece com sua morte, mas somente muda
de forma, e como a energia não desaparece, mas somente se modifica, também a sua
consciência não pode simplesmente desaparecer, mas deve apenas mudar a sua forma e o
seu modo (ou plano) de atividade. Logo, André é imortal.
Este argumento funda-se na fórmula de Hermes Trismegisto: o que está em baixo (matéria,
energia) é como o que está em cima (consciência). Ora, se existe a lei da conservação da
matéria e da energia (se bem que a matéria se transforme em energia e vice-versa), deve
existir também, necessariamente, a lei da conservação da consciência ou da imortalidade.
concluíram, por analogia, que elas eram "canais" artificiais e que Marte era habitado por seres
civilizados. Com o aperfeiçoamento dos telescópios, puderam observar que os "canais" não
são contínuos, nem retilíneos. Em tais casos, o argumento por analogia perde seu valor por
causa do erro de experiência que lhe serve de apoio.
Quanto às ciências ocultas, Gérard van Rijnberk publicou (na p. 203 de seu livro Le Tarot) um
quadro das "correspondências astrológicas do Tarô segundo diferentes autores". Nele, na
lâmina VII, "o Carro", por exemplo, corresponde ao signo de Gêmeos (segundo Etteila), de
Sagitário (segundo Fomalhaut), de Gêmeos (segundo Shoral), de Sagitário (segundo autor
anônimo), ao planeta Marte (segundo Basílides), ao planeta Vênus (segundo Volguine), ao Sol
(segundo Ely Star), ao signo de Libra (segundo Snijders), ao planeta Vênus (segundo
Muchery), ao signo de Câncer (segundo Crowley) e ao signo de Gêmeos (segundo Kurtzahn).
Aqui salta aos olhos a relatividade das correspondências obtidas pelo método analógico.
Ao contrário, a concordância das correspondências entre os metais e os planetas, obtida pelo
mesmo método, manteve-se nos autores antigos, medievais e modernos. Os astrólogos
gregos do século IV a.C., continuando a tradição babilônica, na qual o ouro correspondia ao
Sol e ao deus Enlil, e a prata à Lua e ao deus Anu, aceitavam as correspondências seguintes:
Ouro-Sol, Prata-Lua, Chumbo-Saturno, Estanho-Júpiter, Ferro-Marte, Cobre-Vênus, Mercúrio-
Mercúrio (E. J. Holmyard, Alchemy, Pelican, Londres, 1957, p. 18). As mesmas
correspondências que eram aceitas pelos astrólogos e alquimistas da Idade Média o são ainda
hoje por todos os autores de ciências ocultas e de hermetismo (inclusive por Rudolf Steiner e
pelos outros autores antropósofos), logo também pelo Traité Élémentaire de Science
occulte de Papus (Dangles, Paris, reprodução integral na 7ª ed., p. 145).
Quarenta e quatro anos de estudos nesse domínio não me fizeram modificar em nada o
quadro das correspondências acima, muito ao contrário.
O método da analogia não é infalível, mas pode levar a descobertas de verdades essenciais.
Sua eficácia depende da extensão e da exatidão da experiência na qual ele se apóia.
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Voltemos agora ao arcano "O Mago".
A concentração sem esforço tem sua expressão tanto no conjunto da lâmina como em seus
pormenores; ela constitui seu arcano prático. Nela está expresso também o método da
analogia, da qual ela é ainda o arcano teórico. Porque, vista no plano intelectual, a prática do
método da analogia corresponde em tudo à prática da concentração sem esforço. E essa
prática se manifesta não como "trabalho", e sim como "jogo".
Com efeito, no plano intelectual, a prática da analogia não exige esforço algum; ou
percebemos e "vemos" as correspondências analógicas ou simplesmente não as percebemos,
nem "vemos".
Como o mago e o pelotiqueiro devem exercitar-se e trabalhar durante muito tempo antes de
atingirem a habilidade de concentração sem esforço, também aquele que usa o método da
analogia no plano intelectual deve adquirir longa experiência e acumular as lições que ela
comporta antes de atingir a faculdade de percepção imediata das correspondências analógicas
– antes de se tornar "mago" ou "pelotiqueiro" que se serve da analogia dos seres e das coisas
sem esforço, como que brincando. Essa faculdade constitui parte essencial da realização da
tarefa que o Mestre prescreveu aos seus discípulos. "Em verdade vos digo: aquele que não
receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele" (Mc 10,15).
A criança não "trabalha", ela brinca. Mas como ela é séria, isto é, concentrada quando brinca!
A sua atenção ainda é inteira e indivisa, ao passo que naquele que se aproxima do Reino de
Deus, ela já se torna inteira e indivisa. Nisso está o arcano da genialidade intelectual: na
visão da unidade dos seres e das coisas pela percepção imediata de suas correspondências,
pela consciência concentrada sem esforço.
O Mestre não quer que nos tornemos pueris; o que ele quer é que atinjamos a genialidade da
inteligência e do coração, que é análoga – não idêntica – à atitude da criança, que só carrega
fardos leves e que torna suaves todos os jugos.
O mago representa o homem que atingiu a harmonia e o equilíbrio entre a espontaneidade do
Inconsciente (no sentido de C. G. Jung) e a ação voluntária do Consciente (no sentido do
"ego" consciente).
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11/25/2017 Meditações sobre o arcano Maior: 1. O Mago - Clube do Tarô - Tarot
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