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IMMANUEL KANT

CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Tradução de Valerio Rohden e Udo Baldur Moosburger

NOWl CULTURAL
PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO

Se a elaboração dos conhecimentos pertencentes ao domínio


,III rozão segue ou não o caminho seguro de uma ciência, isso deixa-se
lu lg< r logo a partir do resultado. Quando após muito preparar-se e
1'( I' ,ipar-se esta elaboração cai em dificuldades tão logo se acerca do
h'lI fim ou se, .para alcançá-lo, precisa freqüentemen te voltar atrás e
1IIIIlor um outro caminho/quando se torna igualmente impossível aos
tI versos colaboradores porem-se de acordo sobre a maneira como o
IIhl ·Li vo comum deve ser perseguido: então se pode estar sempre con-
V 1'1 ) de que um tal estudo acha-se ainda bem longe de ter tomado
tI, ' I minho seguro de uma ciência, constituindo-se antes um simples
11I1(' lr; já é um mérito para a razão descobrir porventura tal caminho,
11\1' 111 que se tenha que abandonar como vã muita coisa contida n o
I III lnl riormente proposto sem reflexão.
ue a Lógica tenha seguido desde os tempos mais remotos esse
111 111 Ilho seguro depreende-se do fato de não ter podido desde Aris-
11111'1\'11 dar nenhum pa"sso atrás, desde que não se considere melhorias
I "P' Bsão de algumas sutilezas dispensáveis ou a determinação mais
I 111111 tio xposto o que pertence mais à elegância do que à segurança
II \, Il ia. É ainda digno de nota que também ela até agora não tenha
111111 (lo dar nenhum passo adiante, parecendo, portanto, ao que tudo
II.! ", ompleta e acabada. Pois quando alguns modernos pensavam
1111 1,1 1< I interpolando cap ítulos seja p-sicológicos sobre as d iversas ca-
\111 ItI I 1(' de conhecimento (a imaginação, o sentido de humor), seja
/I 11'111/11111'OH 'obre a origem do conhecimento ou sobre os vários modos
d, 'I' I h')I;lI onform e a diversidade dos objetos (sobre o idealismo, o
t, I I 1 1111) 'l .), seja antropológicos sobre preconceitos (suas causas e
t II II nl doLos), provém da sua ignorância peculiar desta ciência. Não
I IlttllHl\lo (\ s im desfi ração das ciências confundir os limites das
1111 11 11/ i o IIm il da Lógica, porém, acha-se determinado bem preci-
11111'1111 por 'r uma ciência que expõe detalhadamente e prova ri-
11111 IIIIH'\lI(' II, da mais que as regras formais de todo pensamento

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OS PENSADORES

(seja a pnon OU empmco, tenha uma origem ou objeto que quiser, II


1 1'1'I'o ,nça], bem como a da feliz pessoa que a levo~ a e eit?~ nao
f . -
encontre em nossa mente obstáculos acidentais ou naturais). IIII'I',OU a té nós. Não obstante, a ~enda transmitida a nos p~r.DLOgenes
A Lógica deve a vantagem de seu sucesso simplesmente à sua "/1 " I,lo _ que nomeia o suposto m:,en~or dos .elementos ffilrumos das
limitação, pela qual está autorizada e mesmo obrigada a abstrair de .II 11 1011 trações geométricas, os quaIS nao preCIsam de nenhuma pro~a
todos os objetos do conhecimento bem como das suas diferenças, de I ",1 11\ lo o juízo comum - prova que a l~mbrança da transform~çao
modo a que nela o entendimento tem que lidar apenas consigo mesmo I" 1II III z ida pelo primeiro passo no descobnmento dest; .novo camInho
e com sua forma. Para a razão tinha naturalmente que ser muito mais ii III li l parecido extremamente importante aos matematicos e se.Atenha
difícil encetar o caminho seguro da ciência, quando ela precisa ocu- ""III Id o por isso inesquecível. Ao primeiro a de~onstrar o tnangulo
par-se não somente consigo mesma, mas também com objetos, por "/IIi/dl 'ro' (tenha-se chamado Tales ou como se queIra.) acen~eu-se uma
isso, também como {2ro12edêutica a Lógica constitui apenas uma espécie
de veshôulo das ciências e, quando fala de conhecimentos, pressu-
"I " pois achou que não tinha de rastrear o que v~a na flgura ou. o
ll1 lpl s conceito da mesma e como que aprender ~ISS0 suas propne-
põe-se uma Lógica para julgá-los, mas se tem que procurar adquirir .1 ," 11'11, mas que tinha de produzir (por construçao) o que se~~~o
os mesmos nas próprias e objetivamente assim chamadas ciências. '" ll1 'l'i los ele mesmo introduziu pensando e se apre:entou a pnor! e
Na medida em deve haver razão nas ciências, algo tem de ser 11'1 1', para saber de modo seguro algo a priori, não f>reClsava acre~centar
.Çonhecido nela!iiL12riori, e o conhecimento da razão pode ser referido de 1111 111 t coisa a não ser o que ressaltava necessana~ente daqUIlo que
dois modos ao seu objeto: ou meramente para detenninar este e seu con- I I. , III ' mo havia posto nela conforme o s~u con~eito. ,
ceito (que precisa ser dado alhures) ou também para torná-lo real. Q..pri:- A Ciência da Natureza, procedeu mUIto maIS lenta~ente ate e~­
meiro é conhecimento teórico, o outro, conhecimento prático da razão. Não '11111 1' r o largo caminho da Ciência, pois faz apenas um seculo e m~lO
importa quão grande ou pequeno seja o seu conteúdo, a parte pura de '1" 1' I proposta do engenhoso Bacon de Verulamo e.~ parte ensejou
ambos, ou seja, aquela em que a razão determina o seu objeto de modo , III ti 'scoberta e em parte a ativou, uma v~z que Ja se andava e~
completamente a priori, tem de ser exposta antes sozinha, e aquela que II II I 'n alço, e que igualmente só pode ser ~xphcada p~r uma revoluçao
provém de outras fontes não tem que ser-mesclada com ela; pois constitui ""In
01'1 ira de pensar que a precedeu subitamente. N~o pretendo con:
péssima economia gastar cegamente todos os ganhos sem poder distinguir Idl'I'M aqui senão a Ciência da Natureza, na medIda em que esta
depois, quando ela emperra, qual parte dos rendimentos pode arcar com 1111 ui, \d a sobre princípios empíricos. . .
a despesa e de qual parte tem de cortá-la. uando Galileu deixou as suas esferas rolar sobre o plano l~cli~
Matemática e Física são os dois conhecimentos teóricos da razão 110111(1 'om um peso por ele mesmo escolhido, ou quand? Torncelll
que devem determinar os seus objetos a priori, a primeira de modo .t, I ou O ar carregar um peso de antemão pensado c.omo l~al o de
inteiramente puro, a segunda de modo pelo menos em parte puro, 1111111 çoluna de água conhecida por ele, ou quando amda mal.s tarde
mas tomando ainda corno medida outras fontes de conhecimento que , ,,,1/111 Lransformou metais em cal e esta de novo em metal rehrando-
não as da razão. II" " llU restituindo-lhes algo: 3 assim acendeu-se uma l~ 12~r~ todos
A Matemática desde os tempos mais remotos alcançados pela 'I \ I"' q uisadores da natureza. :end-cram..qu..e..a..razao.sú..dlS.k~
história da razão humana; já com o admirável povo grego, encetou o 'I '1
111 ' la mesmo roduz se ndo seu 12rojeto~ que ela tem de .l r a
caminho seguro de uma ciência. Só não se deve pensar que lhe tenha III 1\ I I' om princípios dos seus juízos segundo le.ls constaI}!:es e ~bngar
sido tão fácil como à Lógica na qual a razão só se ocupa consigo I 11 IllIr'za a responder às suas perguntas, mas sem ter de delx~r-se
mesma, encontrar esse caminho imperial ou, mais ainda, traçá-lo para , IllId II zir somente por ela como se estivesse presa a um ~aço; pOIS do
si mesma; muito antes, creio que tenha permanecido por longo tempo '1111 11' ri observações casuais, feitas sem um pl~~o pr~vlamente pr,?-
(sobretudo entre os egípcios) no tatear, e que essa transformação se 1,111110, não se interconectariam numa lei nec~s~ana, COIsa que a razao
deva atribuir a uma revolução, que o lampejo feliz de um único homem II II \,Ivl,\ procura e necessita. A razão tem que Ir a natureza tendo numa
realizou, numa tentativa a partir da qual não se podia mais errar a
trilha que se tinha de seguir, e assim o caminho seguro de uma ciência
I ""Inldo p r Kant para "triângulo isóscele", em carta a C. G. Schutz, d e 25 de junho de 1787.
estava encetado e traçado para todos os tempos e distâncias infinitas.
A história desta revolução na maneira de pensar, aliás muito mais
lN 1111'
1',111" T,)O segue nesta .
passagem a sugestão de Adlckes.
(N d T )
. os . . . . ,
I I~" t11f\o qui exatamente o fio da história do método experimental, cUJos pnmórdlOs tambem
importante do que a descoberta do caminho do famoso Cabo [da Boa
II," ,111 ilrm conhecidos.

;~~\i \.a-.~~\) ~ ~ \..> '/ '),., ~\

~~\,\~
II I I Nl llureza que se tornaram o que agora são por uma revolução
das mãos os pr~n~í}2ios unicamente seg!!ndo os uais fenômenos con- " Id n efeito de uma só vez, seriam suficientemente notáveis para
" . ÇQrdante~ ent~e SI podem valer como leis, e na outra o ex erimento III 1'1' Jl1 ditar acerca do elemento essencial da transformação da ma-
ele ~\.,'lue e~a Imagmou segundo a ueles }2rinCÍ}2ios, na verdade para ser III' I I le pensar que lhes foi tão vantajosa e, na medida em que o
Jt m~trUl~a pela natureza, não porém na qualidade de um aluno que se I" III ii l sua analogia com a metafísica como conhecimentos da razão,
l d eIxa d~tar tudo o que o professor quer, mas na de um juiz nomeado 111I1 I n i tá-las nisso ao menos como tentativa. Até agora se su ôs ue
N~()\~que o~nga ~s testemu~~ a responder às perguntas que lhes propõe. li "ln 11 sso conhecimento tinha ue se re ~ elos ob'~tos; porém,
E ass~m ate mesmo a FlSlca deve a tão vantajosa revolução na sua

,
li 11111:1 a tentativas de mediante conceitos estabelecer algo a priori sobre
~anelfa de pensar apenas à idéia de procurar na natureza (não lhe
II " " \ mos, através do que o nosso conhecimento seria ampliado, fra-
Imputar), segundo o que a própria razão coloca nela, aquilo que precisa Illrlr Ir, 111 sob esta pressuposição. furi s o tente-se ver uma vez se não
apren~er ~a mesm~A m~neira e sobre o que nada saberia por si própria.
1"11)',1' ' climos melhor nas tarefas da Metafísica admitindo que os objetos
Atr~ves dISSO, a CIenCla da Natureza foi pela primeira vez levada ao
I. III q u se E _ lar :(2elo nosso conhecimento, o gue assim já concorda
ca~nh? seguro de uma ciência, já que por muitQs séculos nada mais
11\1.11101' com .ª-If.. uerida :(2ossibilidade de um conhecimento a_priori
havIa SIdo que um simples tatear. til! tn 'smos que deve estabek cer aI . o sobre os objetos antes de nos
A fv!etafísica, um conhecimento da razão inteiramente isolado e 'I 11'11 dad~ O mesmo aconteceu com os primeiros pensamentos de
esp.eculativo que através de simples conceitos (não como a Matemática Co /
.\....Vapl~cando os mesmos à intuição), se eleva completamente acima d~
Me\1Jl!-ensll:mmento da _experiência, na qual portanto a razão deve ser aluna
I "I"lmico que, depois das coisas não quererem andar muito bem com
II pli ação dos movimentos celestes admitindo-se que todo o exército
ti, II/ Ir s girava em torno do espectador, tentou ver se não seria mais tO (
r:
S i \-~ de SI. ~esma, nao teve ~té agora um destino tão favorável que lhe 1'1 III ' lI cedido se d eixasse o expectador mover-se e, em contrapartida, 05
per:rutIs~e encetar o camInho seguro de uma ciência, não obstante ser II' I Iro em repouso. Na Metafísica }2ode-se então tentar algo similar
maIS an~ga do que todas as demais e de que sobreviveria mesmo que 1111 qm' diz respeito à intui ção dos objgtos. Se a intuição tivesse que }, / '
as de~als fossen: tragadas pelo abismo de uma barbárie que a tudo I 11 '1', 111, r pela natureza dos objetos, não vejo como se poderia saber

11)\1111 priori a respeito da última; se porém o objeto (Gegenstand) (como i~o\


extermInasse. POIS a razão em}2erra continuamente na Metafísica mes-
mo gua.r:do. guer. discernir a pri?ri (como se arroga~quelas leis -que "llp'lo (olJjekt) dos sentidos) se regula pela natureza d e nossa faculdade
éLex~e~Iencla maIS comum confIrma. Nela se precisa retomar o cami-
.II 1\llIic;ão, posso então representar-me muito bem essa possibilidade. I
nho mumera~ ,:-ezes'p~rque se descobre que não leva aonde se quer I 111110 não posso deter-me nestas intuições caso devam tornar-se co-
e, no tocante a unarumldade ~e seus partidários quanto a afirmações, Itlll'llllwntos, mas preciso referi-las como representações a algo como
ela se encontra a tal ponto dIstante disso, que ela é muito antes um l\tl' lo t determinar este através daquelas, ou posso aceitar que os
campo de batalha que mui propriamente parece destinado a exercitar "~II' fI/O:; através dos quais realizam esta determinação também se re-
suas .forças n~ combate simulado, onde ainda combatente algum con- 111,1111 pelo objeto, e então me encontro de novo no mesmo embaraço
seguIU conq.u~s~ar pa_ra si? m~nor ~ugar e fundar uma posse duradoura 1\1101111(1 .)() modo como posso saber algo a priori a respeito, ou suponho
so~re esta v~tona . ~ao ha, pOIS, duvida alguma que seu procedimento
1" 1' II objctos ou, o que é o mesmo, a experiência unicamente na qual
.ate agora fOI um sImples tatear e, o que é pior, entre meros conceitos. /I I '!lllhccidos (como objetos d ados), se regula por esses conceitos,
~ que se deve o fato de l)ão se ter podido aqui encontrar ainda I 1111 ullimo caso, vislumbro imediatamente uma saída mais fácil por-
o cammho .seguro da ciência? E porventura impossível? Pois de onde 1''' .1 própria experiência é um Jllillio de_ c.o.nhe~to_queJ.equ.er
a natureza mcultou em nossa razão a aspiração incansável de rastreá-lo \\1 II 1I1l1ento, cuja regra tenho que pressupor -ª. eriori em mim ainq'!,
como uma. de suas ocupações. mais importantes? Mais ainda, quão 1111, " dI' me serem dados objetos e Siue é expressa em conceitos a
pouco motivo temos para confIar em nossa razão quando não só nos /'//fI/', 1II.'Ios quais portanto todos os objetos d a experiência necessa-
aband?na num dos aspectos mais importantes da nossa ânsia d e saber, tllllllf'I\ll' têm que se regular e com eles concordar. N o que concerne
mas a~nda nos entretém com simulações e por fim nos ludibria. Ou III II!li l ' IOH, na medida em que apenas pensados pela razão, na verdad e
ele ate agora s~mente falhou: que indícios podemos usar para, em
"' '" oII'l.Imente, sem porém (pelo menos d o m odo como a razão os
renovada tentativa, esperar sermos mais felizes do que outros o foram I" II I ) poderem de maneira alguma ser d ados na experiência, as ten-
antes de nós? I iii '11 dI' pensá-los (pois tem que ser possível pensá-los) constituirão
Eu d everia achar que os exemplos da Matemática e da Ciência
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\~
r?O?~~ kv~ e;s\~ Wl:>\)~~~\f\ 1,. o] J 2: ~ih,,1-t)-~ ck

~I
os PENSADORES ~ , 16jV~ . KANT

mais tarde uma esplêndida pedra-de-toque daquilo que tomamos I I t'ncontrado não em coisas na medida em que as conhecemos (nos
como o método transformado da maneira de pensar, a saber, que das I II ladas), mas sim nelas na medida em que não as conhecemos,
coisas conhecemos a priori só o que nós mesmos colocamos nelas. 1 ' 1 1I1\ ~) coisas em si mesmas; ,então §e mostra que é fundado o q.yg..
, Esta tentativa alcança o êxito desejado e promete à metafísica o I II I I, Imente admitíamos ap-enas a título de tentativa.! Após ter sido
caminho seguro de uma ciência na sua primeira parte, na qual se , I l lll • ' tado à razão especulativa todo progresso neste campo do su-

ocupa com conceitos a priori cujos objetos correspondentes podem ser 1'"1 11 nsível, agora ainda nos resta tentar ver ~e no seu conheci~ento
dados adequadamente na experiência. Após esta mudança na maneira I'" li o não se encontram dados para determmar aquele conceito ra-
de pensar, pode-se com efeIto explicar muito bem a possibilidade de I lllla l transcendente do incondicionado e, deste modo, de acordo com

um conhecimento a priori e, mais ainda, dotar de provas satisfatórias II II ' jo da Metafísica, conseguir elevar-n~s acima do.s ~mites de t?da
as leis que subjazem a priori' à natureza enquanto conjunto dos objetos I II pcriência possível com ;? ,nosso conheCimento a pno:z, mas possi~el
da experiência, coisas impossíveis segundo a maneira de proceder 11 111 >nte com o propósito prático. Com um tal procedimento, a razao
adotada até agora. Entretanto, na :primeira :parte da Metafísica, esta , I' \ ulativa ainda assim nos conseguiu pelo menos lugar para tal
dedução da nossa faculdade de conhecer a TJ.Tiori conduz a um estranho .111'1 liação, embora tivesse que deixá-lo vazio, e ainda somosAPor con-
r~sultado_ apMentemente muitQ...p-rejudicial ao inteiro fim da mesma ''I' uinte livres, e a tanto até exortados por ela, a preenche-lo, se o
2
e do qual se ocupa sua segunda parte _a saber, que com esta faculdade I" ' I rmos, com dados práticos da mesma. • •
j~mais podemos ultrapassar os limit~da experiência possível, o que O assunto desta crítica da razão pura especulativa consiste na-
é justament~ a_ocuI2ª.Ção desta ciência. Mas aqui reside precisamente "tlPla tentativa de transformar o procedimento tradicio~al da Metafí-
o experimento de uma contraprova da verdade do resultado daquela II' \ e promover através disso uma completa revoluçao na mesma;
primeira apreciação do nosso conhecimento racional a p.riori, ou seja, "gundo o exemplo dos geômetra.s e investi~~do.res da natu~eza. E
(\ que ele só concerne a fenômenos, deixando ao contrário a coisa em 11111 lratado do método e não um Sistema da CienCia mesma; nao obs-
te.~~ :,. i mesma de lado como real :para si,~ não conhecida Ror IlÓS. Pois I tlll , traça como que todo o seu contorno, tendo em vist~ tanto ~s
o que nos impele necessariamente a ultrapassar os limites da expe- j'US limites como também toda a sua estrutura interna. POiS a razao
riência e de todos os fenômenos é o incondicionado o qual, e nas coisas pltl' especulativa possui a peculiaridade de que pode e deve medir
em si mesmas, a razão exige o último necessariamente e com todo o I ' I ~I própria faculdade segundo as diversas maneiras de escolher os
Cc> \6'<>.,. direito para todo o condicionado, e através disso a completude da l ' tl l! objetos de pensamentos bem como enumerar completamente os
série das condições. Ora, ~uando se admite ue o nosso conheci- v, ri s modos dela se propor tarefas e traçar assim todo o esboço de
€' ~ mento de ex:periência se gt,!ie pelo Qb~s_como coisas em_si mesmas, IIIll is tema da Metafísica. Com efeito, no que diz respeito ao primeiro
~\ ocorre gue o incondicionado de maneira algumª-pode ser pensado_sem , p 'cto, no conhecimento a priori não se po~e acre~centar aos objetos
contradiçiiQ; se contrariamenle quando se admite que a nossa repre- IIlId, a não ser o que o sujeito pensante retira de Si mesmo e, no que
sentação das coisas como nos são dadas se guie não por estas como I I I. r speito ao segundo aspecto, com referência aos princípios do co-
coisas em si mesmas, mas que estes objetos, como fenômenos, muito
antes se guiem pelo nosso modo de representação, ocorre que a con-
tradição desaparece; e que, conseqüentemente, o incondicionado tem de I) ti Ir ex erimento da razão ura tem muito em comum com o !lue os químicos chamam freq~
h'menle de ensaio de redu ão em geral porém de procedimento S!l1t~tICO .. A análise do metafiSICO
II'l'fmrou o conhecimento puro a priori em dois eleme~tos. mU.lto desIguaiS, a saber, o das COisas
(limo fenômenos e o das coisas em si mesmas. A dlaléllca hga de novo ambos para tomá-los
G} Este método cop~ado do investigador da naturez.a consiste, portanto, no seguinte: procurar os III/A rrimes com a idéia racional necessária do incondicionado e descobre que .esta unarmrudade
eleme?tos da razao ura na utlo ~e ser confirmado ou refutado por um-1!E!.erimenjo. Ora, não Illinois vem à luz senão através daquela distinção que é, portanto, a verdadeIra. .
é posslvel fazer nenhum experimento com os objetos da razão pura (como na Ciência da Natureza) \ (." e modo as leis centrais dos movimentos dos corpos celestes proporcionaram certeza maruf~ta
para testar suas proposições, sobretudo quando se arriscam para além d e todos os limites da 110 que Copérnico tomou inicialmente só como hipótese, provando ao ~esmo temI><? a força lnvlSlvel
expe~iência p?ssível: portanto, isso SÓ será factível com conceitos e princfpios aceitos por nós a q\l ' liga a estrutura do mundo (a atração de Newton), a qual tena permanecido para sempre
prIOri na medida em que forem dispostos de tal modo que os mesmos objetos possam ser con- Ot ull A não houvesse o primeiro ousado, de maneira paradoxal mas verdadeira, procuT.ar 05 .~o­
siderados desde dois aspectos diversos, por <1m lado como objetos dos sentidos e do entendimento vI m nlos observados não nos objetos celestes, mas no seu espectador. Neste prefác~o, enJo a
para a experiência, por outro lado porém como objetos apenas pensados, quer dizer, como objetos 1" lln9formação da maneira de pensar exposta na Cr(t~ca apenas como hipótese análoga a antenor,
da razão iso1ada que aspira elevar-se acima dos limites da experiência. Ora, se ao se considerar " ",ba ra no tratado mesmo seja provada não hipotética, mas apodlll~amente pela natureza tanto
as coisas desde aquele duplo ponto de vista ocorrer a concordância com o prinápio da razão " 1\ nossas representações do espaço e do tempo 'luanto do.s conceitos elementares do e."tendl'
pura e se desde um só ponto de vista surgir um inevitável conflito da razão consigo mesma, ",,'nlO a fim de chamar a atenção para as pnmeIras tentallvas de uma tal transformaçao, que
neste caso o experimento decide pela justeza daquela distinção. () H'mpre hipotéticas .

•<'----. I
e~~ ~ ~~ :# e,f\ct-... ó \
:v- e~\lQ~i~~\.\~ \
OS PENSADORES KANT

nhecimento, a razão pura especulativa é uma unidade que subsiste I dlld positiva desse serviço prestado. :pela Críti~a. equivaleria a di~er[~obbJl
por si de um modo bem peculiar e na qual, como num corpo orga- '1 111 ' u política não possui nenhuma utilidade posltlVa por s_er sua pnn-
nizado, cada membro existe em função de todos os demais e todos I jllll ocupação fechar a porta à violência que os cldadao~ ..possam
os demais em função dele, e assim nenhum princípio pode ser tomado II 'IIH'" uns dos outros, para que cada um po:~a tratar t:~nqUlla e se-
com segurança numa relação sem ter sido ao mesmo tempo investigado I'o lll'o lmente dos seus afazeres. Na parte an~llt1~a_ da Cn,tica prova-se
na sua relação universal com todo o uso puro da razão. Para tanto a ,\\1(' spaço e tempo são apenas forma~ de mtUlçao :enslVel, portar;to
Metafísica também possui uma rara felicidade da qual não pode par- III \l 'nte condições da existência das COlsas como fer:omenos, que alem
ticipar nenhuma outra ciência da razão que tenha a ver com objetos II O não possuímos nenhum conceito do ent~nd1men_to e porta~to
(pois a Lógica só se ocupa com a forma do pensamento em geral), a 11I 'l\hum elemento para o conhecimento das .COlS~~ senao na med1da
saber, que uma vez conduzida por esta Crítica ao caminho seguro de I III que a esses conceitos pqssa ser dada uma mtUlçao c?rresponde~te,
uma ciência, poderá abranger completamente todo o campo dos co- qllí' por conseguinte não" podemos conhecer nenhum o~leto co~o C?l:,a
nhecimentos a ela pertencente e, por conseguinte, concluir sua obra, 1'11\ Iii mesma, mas somente na medida em q.ue for ?bJeto da mtmç.ao
podendo legá-la à posteridade como um patrimônio utilizável jamais I'IlHfvel isto é como fe ômeno; disto se segue, e .bem verd~de, a
a ser aumentado, pois ela se ocupa somente com princípios e com as I I"ilação de todo o possível conhecimento especulativo, da razao aos
limitações do seu uso determinadas por aqueles mesmos princípios. 111\'1' s objetos da experiência. Todavia, note-se b.em,~er.a..s~pLE!-pr.e::­
Como ciência fundamental, por conseguinte, também está obrigada a II/O ressalyacque, seJ1ã.Q.p-o_deffi-o..s_conbe.c.eLess_esJllesmos::-obJ~tos_com~ •
essa completude, e dela deve poder ser dito: nil actom repuntans, si I II HOS em si mesmas, temos pelo menos que poder _~ensa-l~s. Do con

quid superesset agendum. 1 III do seguir-se-ia a proposição absurda que havena fenomeno sem
Mas que tesouro é este, perguntar-se-á, que pretendemos legar II"t' houvesse algo aparecendo. 2 Suponhamos a,g?ra que de mod? al-
à posteridade com semelhante metafísica purificada pela crítica e con- 1', lIm se tivesse feito a distinção, torn~~a r:ecessan.a pela nossa Cntica,
duzida por esse meio a um estado duradouro? Com um lance super- t'lItr as coisas como objetos da expenenoa e preClsamente as ~esmas
(j ficial de olhos sobre esta obra, acreditar-se-á perceber que sua utilidade I \ IIno coisas em si mesmas; neste caso, o princípio de causahdade e,

V seja somente negativa, ou seja, de jamais ousarmos elevar-nos com a )1111' onseguinte, o mecanismo natural na determin~ção dessa causa-
razão especulativa acima dos limites da ex eriência, e esta é, na ver- I ,Iad teria que valer cabahnente para todas as COlsas em geral en-
• dade sua primeira utilidade. Ela se tornará porém imediatamente po-
sitiva se nos dermos conta que os princlplOs, com os quais a razão
I" 1,lnto causas eficientes. Com respeito a um m~smo ente, por exemplo~
1 lima humana, eu não poderia portanto d1z:r que ~ua vontade e
especulativa se aventura além dos seus limites, de fato têm como ine- \l V I" e que está ao mesmo tempo submetida a nec~s~ldade natural,
vitável resultado, se o observarmos mais de perto, não uma ampliação, I lo é, não é livre, sem cair numa evidente contrad1çao; porque. e~
mas uma restrição do uso da nossa razão na medida em que realmente IlI1bas as proposições usei a palavra ahna ex~tamente. na mesma Slgnt-
ameaçam estender sobre todas as coisas os limites da sensibilidade à 1tr'1I fio, ou seja, como coisa em geral (~omo .cOlsa em Sl mesma), e,s.em
qual pertencem propriamente, ameaçando assim anular o uso puro I I' li a anterior nem sequer podia usa-la d1ferentemente. S~ a .c~lt1~a,
(prático) da razão. Por isso, uma crítica que limita a razão especulativa 1 ' m, não errou ensinando a tomar? objeto ~uma dupla slgnificaç~o,
'111
é, nesta medida, negativa; na medida em que ao mesmo tempo elimina II Ilnber, como fenômeno ou como COlsa em Sl mesma; se .a deduç.ao
com isso um obstáculo que limita ou até ameaça aniquilar o uso prático, ,lo seus conceitos do entendimento é certa, se por consegu~te. o pnn-
de fato }2ossui utilidade p-ositiva muito im}2ortante tão 10go_lte_estej,iL I ' I lo de causalidade só incide sobre coisas tomadas no pnme1ro sen-

cQ.nvencido de _que exist~ u~~ prático ab.§olu~!fi~nte necessário


d-ª..razão pura (o moral) no qual esta se estend~.inevitavelIJlente acima l'I\r~ cOllhecer um objeto requer-se-á que eu possa provar sua possibilidade (seja pelo testemunho
<ios limites da sensibilidade, Embora neste seu uso não necessite ne- do "xperiência a partir da sua realidade, seja a priori pela razão). Mas posso pensar o que q~lSer
I ' de ue não me contradiga, isto é, quando o meu conceito for apenas um pensamento pOSSlV: '
nhuma ajuda da razão especulativa, precisa assegurar-se contra a su.a :'I11\)or; eu não possa garantir se no conjunto de todas. aspossibilidad",: lhe corres,P0nde ou nao
reação para não cair em contradição consigo mesma. Contestar a uti- 11111 objeto. Mas para atribuir validade objetiva (posslblhdade real, p_OIS a pnmelra era apen;s
Iclf\lcn) a um lal conceito requer-se-á algo mais. Este maIS, contudo: nao neces.Slta ser procura o
I" tnmente nas fontes teóricas do conhecimento, também pod: resld~r nas praticas ..
IlIflo intraduzível com as palavras cognatas Erscheinung (apançao, fenomeno) e ersc/lem! (aparece).
1 Reputando nada como feito, se algo restasse para fazer. (N. dos T.)
(N. dos T.)
-42-
KANT

ti~o, ou seja, na medida em que objetos da experiência, e se as mesmas IIIl'Smo tempo tirar1 da razão especulativa sua pretensão a visões exa-
COIsas ~omadas contudo na segunda significação não se lhe acham Iwradas, (überschwenglicher Einsichten), pois para chegar a estas ela pre-
s~bmetidas, ent~o e~a:a~ente a mesma vontade será pensada no fe- I ' Il< empregar princípios que, estendendo-se de fato apenas a objetos
nomeno (nas açoes vIsIveIs) como necessariamente conforme à lei na- ti I experiência possível não obstante serem aplicados ao que não pode
tural e nessa medida ~ão livre, e por outro lado ainda assim, enquanto 1' 1' objeto da experiência, na realidade sempre transformam o último

per~encente a uma COIsa em si mesma, pensada como não submetida " I)) fenômeno e assim declaram impossível toda a ampliação prática da

a .1:'1 natural e portanto como livre, sem que isso Ocorra uma contra- I' Izão pura. Portanto, tive que elevar (aufhebenF o saber para obter
dIça~. ~onquanto não possa conhecer a minha alma, considerada sob IlI gar para a fé, e o dogmatismo da Metafísica, isto é, o preconceito
este ultimo as~ecto, m~~iante razão especulativa alguma (menos ainda II ' progredir nela sem crítica da razão pura, é a verdadeira fonte de
pela observ~çao empmca) e por conseguinte tampouco a liberdade Ioda a sempre muito dogmática incredulidade antagonizando a mo-
c?mo pr?pne?ade de um ente ao qual atribuo efeitos no mundo sen- I'nlidade. - Portanto, se ·cmrt uma Metafísica sistemática composta
sI~el~ p~IS tena que conhecer um tal ente como determinado em sua 'gundo o critério da Crítica da Razão Pura não pode ser difícil legar
eXIst~nCIa : todavia como não determinado no tempo (o que é im- ligo à posteridade, tal não constitui dádiva de valor desprezível: veja-
possIvel, nao podendo eu pôr intuição alguma sob o meu conceito) ) apenas a cultura alcançável pela razão através do caminho seguro
posso contudo pensar a liberdade, isto é, sua representação não conté~ I uma ciência em geral em comparação com o tatear sem fundamento
p~l~ ~enos, ~enhuma contradição em si desde que Ocorra a nossa , o vaguear leviano da razão sem crítica, ou também o emJ2rego melhor
dIsh~çao cntica entre ambos os modos de representação (o sensível lo teml2º--12or }2arte de uma juventude ávida de saber que no costu-
e o mt:lectual) e daí proveniente limitação dos conceitos puros do meiro d.Qgm<ID~l!lQ,. recebe ~Jlcorqjamento }2ara sofismqr (vernünfteln)
entendIme~to e portanto também dos princípios decorrentes dos mes- 'omodamente sobre .coisas das quais nada entende e no qual, tanto
~os. Admitamos agora que a Moral pressuponha necessariamente a quanto ningyéin no mundo jamais chegará a discernir algp,_ou até
lIberdade (n~ sentido mais rigoroso) como propriedade da nossa von- I ara ter em vista novos pensamentos e opiniões e assim descurar a
t~de na medIda em que aduz a priori princípios práticos originários prendizagem de ciências meticulosas; em grau máximo, contudo,
sItos em .nossa ~az~o como dados da mesma, os quais seriam absolu- quando se leva em consideração a inestimável vantagem, para pôr
tamente I~possIveIs sem a pressuposição da liberdade e que não obs- fim, para todo o tempo futuro, a todas as objeções contra a moralidade
tante,a ra.zao especulativa tivesse pro~~do que a liberdade não é sequer a Religião de maneira socrática, isto é, através da prova mais clara
per:savel. neste caso, essa pressuposIçao, ou seja a Moral, teria neces- da ignorância dos adversários. Com efeito, uma ou outra Metafísica
s~r~amente que .~eder àquela cujo oposto contém uma notória contra- sempre existiu e continuará a existir no mundo, e com ela também
dIçao, e conse~uentem,ente a .l iberdade e com ela a moralidade (pois uma dialética da razão pura, pois esta lhe é natural. A }2rimeira e
o seu oposto nao contem nenhuma contradição se a liberdade já não mais importante }2reocu12ação da filoJiQfi~é,--PD.is, afastar de uma....\!.eL
for press.uposta) ?ar lugar .ao mecanismo natural.S.omo para a moral por todas toda a influência noc'va e.ss..<Ulialé.t.i..cLobslruind~
Dada maIS necessito que a liberdade não se contradiga e portanto seja dos erros.
Relo menos pe~ável sem nece~sidade çLe discerni-la ulteriormente, Nesta importante mudança no campo da ciência e na perda que
que portanto nao oponha nenhum obstáculo ao mecanismo natural a razão especulativa tem que sofrer na posse que até agora se arrogou,
preClsa~ente da mesma ação (tomada em outra relação), assim tanto tudo o que diz respeito à geral ocupação humana e ao proveito que
a doutrm~ da :noralidad.e como a da natureza mantém o seu lugar, o mundo tirou das teorias da razão pura permanece no mesmo estado
o que porem ~ao ~correna se a crítica não tivesse antes nos instruído vantajoso de outrora, ~ a perdª- ati!}ge só o monopólio das escolas, mas
s.ob:e a nossa mevItável ignorância acerca das coisas em si mesmas e de modo algum o interesse dos homens. Pergunto ao mais inflexível
lImitando a. meros fenômenos tudo o que podemos conhecer teorica- dogmático se a prova da perduração da nossa alma depois a morte
~e~te. P~~ClSamente essa discussão sobre a utilidade positiva dos prin- pela simplicidade da substância, se a prova da liberdade da vontade
CIpIOS cntIcos da razão pura pode ser patenteada nos conceitos de contra o mecanismo universal por meio das distinções sutis embora
Deus e da n~tureza simples de nossa alma, o que passo por alto para
ser breve. N~o posso portanto sequer admitir Deus, liberdade e imorta- 1 Jogo com as palavras cognatas annehmetr (admitir) e betrehmetr (tirar) (N. dos T.)
lIdade com VIstas ao uso prático necessário da minha razão sem ao 2 Na tradução deste termo seguimos a proposta de A. Gulyga. (N. dos T.)
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I , os PENSADORES KANT

importantes entre necessidade prática subjetiva e objetiva, ou se a !III' direitos da razão especulativa, o escândalo que cedo ou tarde tem
prova da existência de Deus pelo conceito de um ente realíssimo (da 111 11 ' H r provocado mesmo no povo pelas disputas em que o~ m~ta­
contingência do mutável e da necessidade de um primeiro motor), II' ,'os (e como tais por fim também os clérigos) se enredam mevIta-
depois de terem saído das escolas chegaram a alcançar o 'público e 1, 1111 nte sem crítica, acabando mesmo depois por falsificar as suas
conseguiram exercer a mínima influência sobre sua convicção? Se isso tllIlIl rinas. Só mediante essa crítica podem ser cortados pela raiz o
não aconteceu, e também jamais se pode esperar que aconteça em IIlr1i1'rialismo, o fatalismo, o ateísmo, a incredulidade dos ~ivr.e:-~ensadores,
virtude da inaptidão do entendimento humano comum para a espe- II ftlllatismo e a superstição, que podem ~o.rnar-se pre!UdlCl~IS em.geral,
culação tão sutil; mais ainda, se no referente ao primeiro ponto a no- I' por fim também o idealismo e o cetzclsmo, ~u~ sao maIS pengosos
tável disposição da natureza de cada homem de jamais poder ser sa- 1'.11'11 as escolas e dificilmente passam ao pu~lico, .Se a~s governos
tisfeita pelo temporal (como insuficiente às disposições da sua inteira .11'1' z ocupar-se dos assunto~ dos erud~:os',entao sena maIS adequado
determinação) teve que provocar totalmente sozinha a esperança numa 1\ ua sábia solicitude para com as ClenClas e mesmo para com os
vida futura, se com relação ao segundo a mera apresentação clara dos III 1m ns favorecer a liberdade de uma tal crítica, unicamente pela qual
deveres em oposição a todas as pretensões das inclinações teve sozinha \' d aborações da razão podem ser conduzidas a pisar fin~es, em ,:,ez i'
que fazer nascer a consciência da liberdade, e se finalmente no referente III' < poiar o despotismo ridículo das escolas, que alarde.l am ~er~go ~
ao terceiro a ordem, beleza e providência magníficas, visíveis por toda I" I lico quarido se destrói as sua~ teias de ara~a, d~s quaIS o pubhco ~
a parte na natureza, tiveram por si sós que suscitar a fé num sábio e 1\lInCa tomou conhecimento e cUJa perda tambem nao pode, portanto,
grande ~utor do mundo, convicção esta que se propaga entre o público I IInais sentir. . '. -
na medIda em que repousa sobre fundamentos racionais, então essa A crítica não é contra.Eosta ao procedImento do matlco da razao
posse não apenas permanece intata, mas antes ganha ainda em pres- 111 ) eu conhecimento Euro como ciência (pois esta ~em que.se~ s~mpre

tígio pelo fato des escolas serem doravante instruídas a não se arro- d,)gmática, isto é, provando rigo~osa~ente, a, partir d: prmClplOs s~-
garem, num ponto que diz respeito à geral ocupação humana, nenhum 1', lII'os a priori),.mE.s silJl ao dogm~tls!JlJ2, lsto.e, a Ereten:>ao d~..I~rog:~0r
discernimento ~ais alto e difundido do que aquele que a grande massa 1'1 ' nas com um conhecimentº-puro a_partir d: conceitos .(0 fllosoflco)
(para nós digna de respeito) pode também facilmente alcançar, e se I'gundo princípios há tempo usados .E.el'!..!'azao, sem se mdag.ar COI~-
limitarem, por conseguinte, ao cultivo desses argumentos acessíveis II Ido de que modo e com que di:~ito chego~ a eles. Dogmatism? e'l\
a todos e suficientes ao propósito moral. A mudança atinge, portanto, portanto, o procedimento dogmatico da raza? yura sen;. uma cntlca
III' cedente da sua própria capacidade. Essa oposlçao da ~r~ti~a ao dog-
1
apenas as arrogantes pretensões das escolas que gostariam de se con-
III tismo não deve por isso defender a causa da superflClahda?~ ver-
siderar aqui (como com direito em muitos outros pontos) os únicos
conhecedores e guardiães de tais verdades, das ' quais comunicam ao I t) a, sob o pretenso nome da popularid~d.e, ou me:~o ~ do cetiCl.sm~,
~úblico apenas o uso, conservando porém a chave delas apenas para
que liquida sumariamente toda a MetaÍlslca; a Cntica, ~ antes a InstI-
SI (quod mecum nescit, solus vu/t scire videri),1 Não obstante, também se \11 ição provisória necessária para promover u~a MetafíSiCa fundam~n­
,cuidou de um reclamo mais justo do filósofo especulativo. Ele per- \.11 como ciência que precisa ser desenvolVIda de modo nec~s~ar~a­
manece sempre o depositário exclusivo de uma ciência útil ao público l1'l nte dogmático e sistemático segu~do a ma~s Arig?r?sa eXI~e~1Cla~

sem que este o saiba, a saber, de crítica da razão, pois esta jamais I rtanto escolástica (não popular); pO!s essa ~xlgenCla a Metaflslca e
poderá tornar-se popular e não tem sequer necessidade de sê-lo. Com Indispensável, já que se compromete a realiz~r s~a obra d: modo
efeito, assim como os argumentos finalmente tecidos não querem entrar Inteiramente a priori, portanto para a plena satis,f~çao. da ~azao espe-
na cabeça do povo como verdades úteis, assim tampouco lhe chegam ' ulativa. Na execução do plano prescnto pela CntIca, Isto e, no futuro
a aflorar na mente as objeções exatamente tão sutis contra os mesmos. listema da Metafísica, temos pois que seguir algum dia o mé~odo
Em contrapartida, como a escola e cada homem que se eleva à espe- rigoroso do famoso Wolff, o maior de todos os filósofos d~gmá~lcos.
culação caem inevitavelmente em ambos, a crítica se vê obrigada a lIste deu pela primeira vez o exemplo (e com este exemplo fO! o cnador
prevenir de uma vez por todas, através de meticulosas investigações
Em alemão: Verméigen. Enquanto designando alguma função lógico-transcendental de caráter ideal,
traduzimos sempre por faculdade. Neste caso, porém, o contexto justifica verter por capacIdade.
lOque não sabe comigo, pretende parecer saber sozinho. (N. dos T.) (N . dos T.)

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-
1\ OS PENSADORES KANT

l do espírito de meticulosidade na Alemanha que até agora ainda não se


extinguiu) como se deve tomar o caminho seguro de uma ciência esta-
mente até o fim do primeiro capítulo da dialética transcen~en:al) e
não mais adiante,l pois me faltou tempo e porque, ~om referenCIa ao
belecendo princípios legítimos determinando claramente os conceitos, r stante, não me deparei com nenhum mal-entendIdo por parte de
buscando rigor nas demonstrações, evitando saltos temerários em con- 'xaminadores competentes e imparciais; sem ~ue eu ~ece:sl:e men-
dusões. Justamente por isso ele estaria precipuamente apto a colocar ioná-Ios com o louvor devido, estes encontrarao por SI propnos, nos
uma ciência como a Metafísica nesse caminho caso lhe tivesse ocorrido lugares respectivos, a considera~ão. que .tomei por suas advertências.
preparar antes o campo mediante crítica do órgão, ou seja da própria Para o leitor, porém, essa correçao. lmphca n~ma pequena perda que
razão pura: deficiência devida não tanto a ele, mas antes à maneira dog- não se podia evitar sem tornar o hvro demasIado volumoso, a saber,
mática de pensar de sua época, sobre o que os filósofos tanto do seu
tempo quanto de todos tempos passados nada têm a se censurar reci- o único acréscimo propriamente dito ~ue eu poderia mencio~ar, mas apenas q~anto ao modo
procamente. Aqueles que rejeitam o seu modo de ensinar e ao mesmo de provar, consiste numa nova refutação do idealismo ps~col~g~co e numa prova r~g~rosa (a meu
ver também a única possível) da realidade objetiva da lntulçao. ~xtema. Por, ~alS Inocente que
tempo o procedimento da Crítica da razão pura não podem ter em mente o idealismo possa ser considerado no que tange aos fins essenClalS da MetafISica (o que de f~to
outra coisa senão romper as cadeias da ciência e transformar o trabalho não é), permanece contudo um escândalo da filosofia e da razão humana geral ter que adrruhr
a existência das coisas fora de nós (das quais recebemos todo o matenal dos conheclfientos
em jogo, a certeza em opinião e a filosofia em filodoxia. mesmo para o nosso sentido interno) com base apenas na fé e, ao ocorrer a alguém colocar essa
No que diz respeito a esta segunda edição, como é justo não quis existência em dúvida, não lhe poder contrapor nenhuma prova satisfatória. Pelo fato de ~s termos
deixar passar a oportunidade para remediar, na medida do possível, da prova conterem, da terceira à sexta linha, alguma obscundade, peç? _que esse penodo seja
mudado "como se segue: "Este permanerlte não pode, porém, s~r ~ma Int~,çao_ em muno Co:!, efeIto,
as dificuldades e a obscuridade das quais podem ter-se originado mui- todos os "fundamentos determinantes da minha existência encont-ravels em mIm sao rep~esentaçoes e 'le-
tas interpretações falsas em que, talvez não sem minha culpa, homens cessita'm como tais algo permanente disti",to delas, com referência ao qual po~~a ser dete:mznada a m~dan~~
das mesmas e portanto a minha exjstên~ia no tempo em que elas, m,udam ' Pr~umlveln:ent~ dtr:se a
perspicazes incidiram ao julgarem este livro. Não encontrei nada para contra esta prova: sou imediatamente consciente apenas d~qUll0 que e~lste ~m mIm, Isto e, da
mudar nas próprias proposições e nos seus argumentos, bem como minha representação de coisas externas: conseqüentemente, "!lC~ s:mpre amda mce~to se algo ~ora
de mim que lhe corresponda ou não, Todavia, por experrenc,la '",t:rna sou cons~lent: da mml~
na forma e na completude do plano: o que se deve atribuir em parte existência no tempo (conseqüentemente também da sua deterrrunablhdade nele), e ISSO e algo .'."a15
ao longo exame 'a que submeti tudo isso antes de apresentar o livro ue ser meramente consciente da minha representação não obstante ser o mesmo q,ue a conscl~nc,a
;"'pírica da minM existência, a qual só é determinável re.ferindo-se a algo que, hgado à rrunh~
ao público, em parte à conformação da própria coisa, a saber, à na- existência, é fora de mim, Essa consciência de nunha eXIstenCla, no te?,po está, po~anto, Ide~tic~
tureza de uma razão pura e especulativa que contém uma verdadeira mente ligada à consciência de uma relação com algo fora de num, e e por consegumte expenenCla
e não ficção, sentido e não imaginação aquilo que conecta .. l~para,vel~:nte o externo com o
estrutura articulada onde tudo é órgão, ou seja, onde tudo existe para meu sentido interno; pois o sentido externo é já em si referenCia da mtulçao a algo real fora de
cada parte e cada parte para todas as outras, portanto onde a menor mim, e cuja realidade, à diferença da ficção, repousa somente sobre o fat~ ~~ ser Inseparavelmente
r do à própria experiência interna enquanto a condição de sua posslblhdade, o que é o caso
fragilidade, seja um defeito (erro) ou deficiência, terá que se trair ine- :g~i. Se na representação eu sou, que acompanha todos os meus juízos e ações ~o e~tendlm~nto,
vitavelmente no uso. Este sistema afirmar-se-á na sua imutabilidade, e~ udesse mediante intuição intelectual ao mesmo tempo liga~ u~a d:termmaçao da rrunha
exis~ência à consciência intelectual da mesma, então a esta detenrunaçao nao pertencena ne~:ss~­
como o espero, também no futuro. A tal confian a me autoriza não riamente a consciência de uma relação com algo fora de mim, Na ver~ade, aqu':,la ~onsclenCla
uma presunção mas a enas a evidência g!le-ª--experimenta ão da intelectual é precedente, mas a intuição interna, unicamente na qual ,nu~a eXlst~encla pode se;
deterIlÚnada, é sensível e presa à condição de tempo; essa deter~naçao, porem, portanto
i aldade do resultado roduz, artindo desde os mínimos elementos própria experiência interna, depende de algo permanente que não esta por conse~m~ emr~':'
até o todo da razão }2ura e retornando d.esde OjO_dJL(}2ois ta...mhénL mas somente em algo fora de mim e com o que tenho que me ~onslder~r e~ relaçao. rea 1 a .~
d sentimento externo está, portanto ligada necessanamente a do sentido mtem~, para a pOSSl
este é por si dado no prático por meio do propósito final da razão b~idade de uma experiência em geral: isto é, sou tão justa e segu~am~nte consCIente de que, há
pura) até cada parte, enquanto a tentativa de modificar o mínimo coisas fora de mim que se refere.m a meu sentido como sou conSClente de que, eu mesmo ex~to
detalhe ocasiona logo contradições, não só do sistema, mas também determinado no tempo. Mas a que intuições dadas correspondem re.. lmente obJetos fo_ra de n:"":
ertencentes portanto ao sentido externo, ao qual devem ser atnbUldas aquela mtulçoes e nao a
da razão humana geral. Já na exposição resta ainda muito a fazer e, fmaginação, isto tem que ser decidido em cada caso particular c~nforme regras segundo as quais
neste sentido, nesta edição tentei melhorias para remediar em parte experiência em geral (mesmo a interna) é distinta da lmagmaçao, e a IStO sempre subJaz a pro-
. -ode que há realmente experiência externa, Pode-se amda acrescentar a 15S0 a se~llnte
o mal-entendido da Estética, sobretudo o contido no conceito de tem o, ~~:~~açãO: a representação de algo permanente na existência _não é idêntica à representaçao per-
em parte a obscuridade na dedução dos conceitos do entendimento manente; pois esta pode ser, como todas as nossas representaçoes e mesmo as da matérIa, mUlto
assa eira e mutável mesmo se referindo a algo permanente, ~ue ~or~anto tem que ser uma
em parte a suposta falta de uma evidência suficiente nas provas dos COIsa gex t erna e dl·sti·nta de todas as minhas representações e cUJa eXlstenCla é . necessanamente
p. . ' .. '
princípios do entendimento puro, em parte finalmente a falsa inter- incluída na determinação da minha própria existência, perfazendo com ela uma untca ex ~eTlenCla
ue nem ocorreria interiormente se não fosse (em parte) ao mesmo tempo externa, Aqu~ o ~mo
pretação dos paralogismos antepostos à psicologia racional. As mi- i tampouco melhor explicável quanto em geral pensamos algo persistente no tempo, cUJa sunul-
nhas modificações no modo de exposição estendem-se até aqui (a saber, taneidade com o mutável produz o conceito de mudança.

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KANT
OS PENSADORES

que diversas coisas na reil.lldade não pertencentes essenciil.lmente à discurso são pinçáveis aparentes contradições quando se arrancam
completude do todo, mas de que muito leitor não gostaria de prescindir partes isoladas do seu conjunto e se as compara entre si, contradições
na medida em que podem ser úteis desde um outro ponto de vista, \ sas que aos olhos daquele que se abandona ao julgamento de outros
precisaram ser supressas ou apresentadas abreviada mente para darem projetam por sua vez uma luz prejudicial sobre esses escritos, mas
lugar à minha exposição agora mais compreensível, como espero; esta que se resolvem muito facilmente para aquele que se apoderou da
nova exposição não muda no fundo absolutamente nada no tocante idéia no seu todo. Todavia, quando uma teoria é sólida, tanto a ação
às proposições e mesmo aos seus argumentos, mas no tocante ao mé- quanto a reação que inicialmente a ameaçavam com grande perigo,
todo da exposição às vezes se afasta a tal ponto da precedente que om o tempo servem somente para aplainar os seus desníveis, e quando
não era possível intercalá-la na mesma. Essa pequena perda, que por homens dotados de imparcialidade, discernimento e verdadeira po-
outro lado cada um pode reparar à sua vontade pela comparação com pularidade ocuparem-se cqm ela, em pouco tempo servem para pro-
a primeira edição, será preponderantemente compensada, como espe- porcionar-lhe também a el~gância requerida .
ro, pela maior compreensibilidade. em diversos escritos publicados Konigsberg, no mês de abril de 1787.
Cl:)~tu,,«,e) "\'\
(seja por ocasião da recensão de muitos livros, seja em tratados espe-
ciais), percebi, com grata satisfação, que o espírito de meticulosidade [t\ ~f~tJ~s~() l't\~t~í61~ ~S
não se extinguiu na Alemanha, mas foi somente sufocado por algum
tempo pelo modismo de uma liberdade de pensamento às raias do I ~ .u~) pn'tt,,*,\\} ~eh~\) ~ ~. ~J1\6e ~~
genial, e que as espinhosas veredas da crítica que conduzem a uma
ciência escolástica da razão pura, mas como tal a única duradoura e -~]
por isso absolutamente necessária, não impediram as cabeças corajosas
e lúcidas de se apoderarem dela. A estes homens beneméritos, que a
meticulosidaçle do discernimento aliam de modo tão feliz o talento
de uma exposição luminosa (a qual não me sinto bem consciente de
possuir), deixo o encargo de concluir, no tocante ao último ponto,
minha elaboração aqui e ali porventura ainda defeituosa; pois o perigo
neste caso reside não em ser refutado, mas em não ser compreendido.
De minha parte, não posso doravante meter-me em controvérsias, em-
bora atente cuidadosamente a todas as sugestões, sejam de amigos
ou de inimigos, para utilizá-las, de acordo com esta propedêutica, na
futura execução do sistema. Já-que durante estes trabalhos atingi uma
idade relativamente avançada (este mês completarei sessenta e quatro
anos), se quero executar meu plano de fornecer tanto a Metafísica da
Natureza quanto a Metafísica dos Costumes como confirmação da
correção da crítica da razão tanto especulativa como prática, tenho
que usar com parcimônia o meu tempo como esperar dos homens
beneméritos que tomaram a si essa tarefa tanto o esclarecimento das
obscuridades inicialmente inevitáveis nesta obra quanto a defesa do
todo. Em pontos isolados cada exposição filosófica é vulnerável (pois
não pode apresentar-se tão blindada como a exposição matemática).
Entretanto, a estrutura do sistema, considerada como unidade, não
corre com isso o mínimo perigo; com efeito, só poucos possuem a
agilidade de espírito para abranger com a vista o sistema quando este
é novo, e menor número ainda tem prazer nisso, pois toda novidade
lhes é importuna. Em cada escrito desenvolvido sob forma de livre
- 51-
-50-
INTRODUÇÃO
r. Da distinção entre conhecimento puro e empírico -

..
.'
~

QUETOOO o nosso conhecimento começa com a experiência,


não há dúvida alguma, pois, do contrário, por meio do que a faculdade
de conhecimento deveria ~er despertada para o exercício senão através
de objetos que tocam nossos sentiqos e em parte produzem por si
próprios representações, em parte põem em movimento a atividade1
do nosso entendimento para compará-las, conectá-las ou separá-las e,
desse modo, assimilar a matéria bruta das impressões sensíveis a um
conhecimento dos objetos que se chama experiência? Segundo o tempo,
portanto, nenhum conhecimento em nós precede a experiência, e todo
ele começa com ela.
Mas embora todo o nosso conhecimento comece com a experiência,
n~r isso todo ele se origina ~tamente da ~ência. Pois poderia
bem acontecer que mesmo o nosso conhecimento de experiência seja um
composto daquilo que recebemos por impressões e daquilo que él nossa
própria faculdade de conhecimento (apenas provocada por impressões
sensíveis) fornece de si mesma, cujo aditamento não distinguimos daquela
matéria-prima antes que um longo exercício nos tenha tomado atento a
ele e nos tenha tornado aptos à sua abstração.
Portanto, é pelo menos uma questão que requer urna investigação
mais pormenoriZada e que não pode ser logo despachada devido aos -.L
ares que ostenta, a saber se há um tal conhecimento independente da -r
experiência e mesmo de todas as impressões dos sentidos. Tais conhe-
cimentos denominam-se a priori e distinguem-se dos empírices, que pos-
suem suas fontes a posteriori, ou seja, na experiência.
Todavia, aquela expressão não é ainda suficientemente determi-
nada para designar de todo o sentido adequadamente à questão pro-

I Na quinta edição original (1799) consta a "capacidade do entendimento". (N. dos T.)

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e 'k ~().;JeY'DY)
.., , t

KANT
oS PENSADORES

posta. Com efeito, de muito conhecimento derivado de fontes da ex- até a que vale para todos, como por exemplo na proposição: todos os
peri~n~ia costuma-se dizer que somos capazes ou participantes dele l' rpos são pesados. Ao contrário, onde a universalidade rigorosa é
I ' sencial a um juízo, indica uma fonte peculiar de conhecimento do
a przon porque o derivamos não imediatamente da experiência, mas
~: uz:ta re~a ge~al que, não obstante, tomamos emprestada da expe- l'\'IeSmo, a saber, uma faculdade de conhecimento a priori. Necessidade
nenCla. Asslfi, dIz-se de alguém que solapou os fundamentos de sua , universalidade rigorosa são, I2ortanto, se _ ras características de um
c~sa: ele .podia saber a priori' que a casa desmoronar-se-ia, quer dizer, 'onhecimento a Wiori e também .I2ertencem inseparavelmen te uma à
nao precIsava esperar pela experiência de seu desmoronamento efetivo. outra. Mas como no uso desses critérios é às vezes mais fácil mostrar
.1 limitação empírica dos juízos do que sua contingência, ou às vezes
Co.ntudo, mesmo assim ele não podia sabê-lo inteiramente a priori,
pOIS 0_ fat? dos corpos serem pesados e de portanto caírem quando mais convincente fazer ver a universalidade ilimitada que lhe atribuí-
lhes sao tirados os sustentáculos, tinha de tornar-se antes conhecido In os do que sua necessidade, é aconselhável servir-se separadamente
pela experiência. I ambos os critérios, que. são cada um por si infalíveis.
jel k, No que se segue, portanto conhecimentos a priori entenderemos ' Ora, é fácil mostrar que no conhecimento humano realmente há
\ -
• p ~r~o ~s que ocorrem
d e m.o do independente desta ou daquela expe- l is juízos necessários e em sentido estrito universais por conseguinte
r \J'r'\~\\ r~enCla, mas absolutamente mdependente de toda a experiência. A eles puros a priori. Caso se queira um exemplo das ciências, basta olhar
'11\ \ ~ao contrapo.s;os. ou aqueles que são possíveis apenas a posteriori, isto lodas as 'proposi ões da matemática; caso se queira um do uso mais
e, por expenen.cIa. Dos conhecimentos a priori denominam-se puros omum do entendimento, poderá servir a proposição de que toda mu-
aqueles a.o~ quaIS nada de empírico está mesclado. Assim, por exemplo, lança tem que ter uma causa. Nesta última, o próprio conceito de
a propos:çao: cada n:udança tem sua causa, é uma proposição a priori, uma causa contém tão manifestamente o conceito de necessidade da
so que n~? p~a, pOIS mudança é um conceito que só pode ser tirado onexão com um efeito e o de uma universalidade rigorosa da regra
da expenencIa. que se perderia completamente tal conceito de uma causa caso se
quisesse derivá-lo como Hume o fez, de uma freqüente associação da-
II. Somos possuidores de certos conhecimentos a priori e mesmo o quilo que acontece com aquilo que o antecede, e do hábito daí decor-
entendimt;nto2 comum jamais está d!!provido deles . I' nte (por conseguinte, de uma necessidade meramente subjetiva) de

. \.\IJI. ~()5 r\\e,ce6S1>-')-\1J.S Uf'\\\tQ,Yó~15 conectar representações. Também sl'UJoderia demonstrar a imprescin-
dibilidade de rincí ios uros a p'riori I2ara a ossibilidade da ex e-
O que zmpor~a aquz e um traço pelo qual possamos distinguir de mode
seguro ~m conheczmento puro de um empírico. Na verdade, a experiência riência sem 12recisar de semelhan tes exem p los para provar sua reali-
nos e.nsma ~e algo. é c?nstituído deste ou daquele modo, mas não que possa iade em_nosso conhecimento, I2ortanto d e modo a priori. Pois de onde
ser diferente. Em pnmezro lugar, portanto, se se encontra uma rroI2os.!ç.[o queria a própria experiência tirar sua certeza se todas as regras, se-
pensada ao mesmo tem o corri sua necessidade, então ela é um uízo - !' undo as quais progride, fossem semp re empíricas e portanto contin-
E-p'riorij se além disso não é derivada senão de um;-;álida por sua g ntes? Por isso, dificilmente se pod e deixar semelhantes regras va-
vez c.Rmo uma proposição necessária, então ela é absolutamente a I 'rem como primeiros princípios. Só que aqui podemos nos contentar
priori.~'Em segundo !ugar, ~ eXI2eriência jamais dá aos seus juízos_uni- d haver exposto como um fato o uso puro de nossa faculdade de
'ljers'!l.zdade ~erdadeIra ou. ngoros.?, mas somente suposta e comparativa nhecimento junto com su as características. Não a enas nos juízos,
(por mduçao), de maneIra que temos propriamente que dizer: tanto mas também nos conceitos revela-se uma origem ~priori de aI ~s
quanto percebemos até agora, não se encontra nenhuma exceção desta deles. Em vosso conceito de experiência de um corpo, renunciai aos E
ou daquela regra. Portanto, se um juízo é pensado com universalidade I ucos a tudo o que nele é empírico: à cor, à dureza ou à maleabilidade, iIZ.
rigorosa, isto é, de modo a não lhe ser permitida nenhuma exceção peso e mesmo à impenetrabilidade, mesmo assim resta o espaçctlt ~
como possível, então não é derivado da experiência, mas vale abso- lue ele (agora completamente desaparecido) ocupou e o qual não po- .L-
lutamente a priori. Logo, a universalidade empírica é somente uma I is suprimir. Da mesma maneira( quando suprimirdes do vosso con- Cl%~'I'1\'l
elevação arbitrária da validade, da que vale para a maioria dos casos , ' i to empírico de um objeto corpóreo ou incorpóreo todas as proprie-~ f?-x'p .
d. des ensinadas pela experiência, não podereis tirar-lhe aquela pela 0 steJb
qual o pensais como substância ou como aderente a uma substância 106 ~
Na quinta edição original consta "a posterion", sem sentido porém no contexto da frase. (N. dos T.)
Na qwnta edição original, "condição" (staná), eventualmente um erro gráfico de Verstand. (N. dos T.)
(n50 obstante esse conceito conter maior determinação do que a de %S
_ 55 _ I 'b.. ~'r\c}i\
-54 -
OS PENSADORES KANT

um objeto em geral). Convencidos pela necessidade com que esse con- da esfera da ex eriência, então se está segyro de não ser contestado
ceito se vos impõe, tereis portanto que confessar que ele tem a sua pela experiência. O estímulo para ampliar seus conhecimentos é tão
sede em vossa faculdade de conhecimento a priori. grande que só se pode ser detido em seu progresso por. uma clara
contradição em seu caminho. Esta pode ser contudo evitada se as
III. A filosofia precisa de uma ciência que determine a possibilidade, ficções forem forjadas cautelosamente, sem que por isso deixem de
os princípios e o âmbito de todos os conhecimentos a priori ser ficções. A matemática dá-nos um esplêndido exemplo de quão
longe conseguimos chegar no conhecimento a priori independentemen-
Muito mais significativo que todo o precedente é o fato de que te da experiência. Na verdade, a Matemática se ocupa com objetos e
certos conhecimentos abandonam mesmo o campo de todas as expe- conhecimentos apenas na medida em que se deixam apresentar na
riências possíveis e parecem estender 6 âmbito dos nossos juízos acima intuição. Mas essa circunstância é facilmente descurada, porque mesmo
de todos os limites da experiência mediante conceitos aos quais em tal intuição pode ser dada a priori e, portanto, dificilmente é distinguida
parte alguma pode ser dado um objeto correspondente na experiência. de um simples conceito puro. Tornado por tal prova do poder da
E justamente nestes últimos conhecimentos, que se elevam acima razão, o impulso de ampliação não vê mais limites. A leve pomba,
do mundo sensível, onde a experiência não pode dar nem guia nem enquanto no livre vôo fende o ar do qual sente a resistência, poderia
correção, residem as investigações de nossa razão que pela sua im- imaginar-se 'que seria ainda muito melhor sucedida no espaço sem
portância consideramos muito mais eminentes e pelo seu propósito ar. Do mesmb modo, Platão abandonou o mundo sensível porque este
último muito mais sublimes do que tudo o que o entendimento pode estabelece limites tão estreitos ao entendimento, e sobre as asas das
aprender no campo dos fenômenos; mesmo sob o p~i o de errar, idéias aventurou-se além do primeiro no espaço vazio do entendimento
nisto arriscamo-ª--ant~~ tudo a d~ver desi stir_de tão importantes inves- puro. Não observou que por .meio de seus esforços não ganhava ne
!igações por uma razão qualquer de escrúpulo,_de menosI2rezo ou de nhum terreno, pois não possuía nenhum ponto em que, como uma
i ndiferença. Esses problemas inevitáveis da própria razão pura são espécie de base, pudesse apoiar-se e empregar suas forças para fa~er
Deus, liberdade e imortalidade. A ciência, porém, cujo propósito último o entendimento sair do lugar. Na especulação é, contudo, um destino t
está propriamente dirigido com todo o seu aparato só à solução desses habitual da razão humana concluir o quanto antes seu edifício e apenas ,
problemas denomina-se Metafísica; o procedimento desta é de início depois investigar se também seu fundamentos está bem assentado. ,
dogmático, ou seja, assume confiantemente a sua execução sem um Procurar-se-ão então pretextos de toda espécie para nos consolar da
exame prévio da capacidade ou incapacidade da razão para um tão sua solidez ou mesmo para preferivelmente recusar tal exame tardio
grande empreendimento. e perigoso. O que porém durante a construção n~s lib~ra de :oda a
Na verdade, parece natural que, tão logo se tenha abandonado apreensão e suspeita e lisonjeia com aparente metIculosIdade e o ~e­
o solo da experiência, não se erija imediatamente, com conhecimentos guinte. A ocupação da razão consiste, em grande e talvez na malOr
que se possui sem saber de onde e sobre o crédito de princípios Qe parte, em desmembramentos! dos conceitos que já temos de objetos. Isso
origem desconhecida, um edifício, sem estar antes assegurado dos nos pro icia uma porção de conhecimentos Hue, embora não assem
fundamentos mediante cuidadosas investigações, que antes portanto de esclarecimentos ou elucidações daquilo que já foi pensado (embora
se tenha há tempo levantado a pergunta de como o entendimento de modo confuso) em nossosconceito~~ão pelo menos guanto à forma
possa chegar a todos esses conhecimentos a priori e que âmbito, va- tidos na mesma conta gue conhecimentos novos, não obstante não
lidade e valor possam ter. De fato, nada é também mais natural se am12liarem, mas só analisarem os conceitos que .E..0ssl.:!.ÍID~ quant? à
sob a I2-alavra natural se entender aquilo q.Ye ,eqüitativa e racion.alm.en!;e sua matéria 011 conteÚdo Ora, já que esse procedimento dá um efetIvo
deveria acontecer: mas se por essa palavra se entende aquilo que cos- conhecimento a priori que toma um incremento seguro e útil, a razão,
tumeiramente acontece, então nada é novamente mais natural e con- sem dar-se conta, obtém ilicitamente sob essa miragem afirmações de
cebível do que o fato que essa investigação por muito tempo teve que espécie totalmente diversa acrescentando a conceitos dados outros
deixar de efetuar-se. Com efeito, uma parte desses conhecimentos, completamente estranhos, e isso a priori, sem que se saiba como chega
como os matemáticos, é há muito tempo detentora de confiança e
favorece assim a expectativa para outros conhecimentos, embora estes
possam ser de natureza bem diversa. Além disso uando se está acima I Na quinta edição original, "desmembramento". (N. dos T.)

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OS PENSADORES ~ D~'R~ => \v,zo Slf0etlcQ
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a iss~ e sem deixar que uma tal questão nem sequer lhe aflore à mente.
Por , I~SO, quero l~go de início tratar da distinção entre essa dupla 'm geral o predicado peso, esse conceito designa um objeto da expe-
especIe de conhecImento. riência mediante uma das partes da mesma, à qual posso acrescentar
uinda outras partes da mesma experiência como pertencentes ao pri-
IV. Da distinção entre juízos analíticos e sintéticos meiro conceito . .posso conhecer antes analiticamente o conceito de cor-
I o pelas caraterísticas da gxtensão, da impenetrabilidade, da forma
Em to~os os juízos e~ que for pensada a relação de um sujeito tc" todas p_ens_adas nesse couç;.eitQ., Mas a seguir estendo o meu co-
co~ o "predIcado (~e co~sIdero. apenas os juízos afirmativos, pois a nhecimento e, ao lançar um olhar retrospectivo à experiência da qual
aphca~ao aos negatIvos e p~stenormente fácil), essa relação é possível xtraí este conceito de corpo, encontro sempre conectado com as ca-
de ~OlS modos. Ou o predIcado B pertence ao sujeito A como algo racterísticas mencionadas também a de peso e o acrescento, portanto,
contido (?cultamente) ness~ conceito A, ou B jaz completamente fora inteticamente como predicado' àquele conceito, Portanto, é sobre a
do conceIto .A, e~b?ra este!a. em conexão com o mesmo. No primeiro xperiência que se funda a possibilidade da· síntese do predicado de
ca.so de~ommo o JUIZO analltzco, no outro sintético. Juízos analíticos (os peso com o conceito de corpo, pois ambos os conceitos embora na
afIrmatIv~s! são, portanto, aqueles em que a conexão do predicado verdade um não esteja contido no outro todavia se pertencem reci-
com o sUJ:Ito for pensada por identidade; aqueles, porém, em que procamente, se bem que de modo apenas contingente, como partes
e~sa, c.o nexao for. pe~ada sem .identidade, devem denominar-se juízos de um todo, a saber, da experiência, que é ela mesma uma ligação
s~nte~cos. Os pnmeIros podenam também denominar-se juízos de elu- sintética 'das intuições.
cz~açao e os outros juízos de ampliação. Com efeito, por meio do pre- Mas nos juízos sintéticos a priori falta completamente esse re-
dIc~d? aqueles nada acrescentam ao conceito do sujeito, mas somente curso. Se devo sair do conceÍto A para conhecer um outro conceito B
o dIVIdem por desmembramento em seus conceitos parciais que já
com~ l!g~c!o a ele, gue coisa i..,essa sobr~ a qual me apói'Le pela gual
eram ,c~mbora confusamente) pensados nele, enquanto os últimos ao
contrano acrescentam ao conceito do sujeito um predicado que de a síntese se torna possível visto ÇJue aÇJui não ossuo a vantagem de
modo algum era pensado nele nem poderia ter sido extraído dele por recorrer ao camRo da experiência? Tome-se a proposição: tudo o que
desmembramento algum. Se por exemplo digo: todos os corpos são acontece tem sua causa. No conceito de algo que acontece penso, na
extensos, então este é um juízo analítico. De fato, não preciso ir além verdade, uma existência à qual precede um tempo etc. e disso é possível
n do conceito que ligo ao corpo para encontrar a extensão enquanto extrair juízos analíticos. Mas o conceito de causa jaz completamente
( conex~ com tal conceito, mas apenas desmembrar aquele conceito, fora daquele conceito e indica algo distinto daquilo que acontece; não
• quer dIzer, tornar-me ~penas con~ciente do múltiplo que sempre penso está, portanto, absolutamente contido nesta última representação. En-
nele, f~ra encontra~ aI esse predIcado; é, pois, um juízo analítico. Do tão como acerca daquilo em geral acontece consigo dizer algo com-
c:ontrano, qu~ndo dIgo: t~dos os corpos são pesados, então o predicado pletamente diverso do mesmo e conhecer o conceito de causa, embora
e algo bem dIver~o ~aquIlo que penso no mero conceito de um corpo não contida naquiÍo que acontece, como lhe pertencendo e até neces-
?
~n: ge~al., acres~lIDO de um tal predicado fornece, portanto, um
JUIZO smtetico.
sariamente? Que é aqui a incógnita x sobre a qual o entendimento se
apóia ao crer descobrir fora do conceito de A um predicado B estranho
[uízos de experiência como tais são todos sintéticos. Com efeito seria a esse conceito e não obstante considerado conectado a ele? Não pode
ab.s~rdo fundar um juízo anal~tico s?bre a experiência, pois para f~rmar ser a experiência, pois o mencionado princípio acrescentou essa se-
o JUIZO de modo algum preCISO saIr do meu conceito nem, portanto gunda representação à primeira não somente com maior generalidade,
de testemu~~ algum da e~p~riência. Que um corpo seill. e~tenso, é mas também com a expressão da necessidade, por conseguinte com-
uma proposlçao ,certa ~ !rz?r~,e não um _iuízo d.e e.2<periência. Pois pletamente a priori e a partir de simples conceitos. Ora, sobre tais
antes de rec~r~er a expe~lencla Ja possuo no conceito todas as condições
princ~pios sintéticos,~to é,_12rincí12io~ de am.)iliaç.ãQJfpousa todo o
para.o ~~u JUIZO, conceIto do qual posso extrair o predicado segundo
o~etivo último do nosso conhecimento especulativo a priorii:. os prin-
o pn~clplO de con~adição e com isso tornar-me ao mesmo tempo
co~cIe~te da neces,sl.dade do juízo, coisa que a experiência nunca me cípios analíticos são, na verdade, altamente im ortantes e necessários
e)"lsmana. Do 9 !:rano, embora já não inclua no conceito~~um corpo mas só ara chegar àguela clareza dos conceitos exigida_ para uma
U\JIL.C0S ~ \ \.D<; ~tJ~z:..\)s, 5 ! !'{{~Tic~ síntese se ra e vasta em vez de a uma a uisi ão realme re...n.<lYa...-

(~>:J ~\V-' ç~ -58- (~\J ck ~\iR}~\)) ,


B-J A
KANT
OS PENSADORES
12. A proposição aritmética é, portanto, sempre sir:tética; isso se re-
onhece bem mais claramente quando se tomam numeros um pouco
@Em todas as ciências teóricas da razão estãp contidos, como maiores, já que então fica evidente que, viremos ~ re~i:e~os o~ nossos
princípios, juízos sintéticos a priori onceitos como quisermos, sem tomar ajuda da mtulçao Jamais pode-
ríamos encontrar a soma pelo simples desmembramento dos nossOS
1. Juízos matemáticos são todos sintéticos. Embora incontestavel- onceitos.
mente certa e muito importante em sua conseqüência, esta proposição Tampouco é analítico qualquer princípio (Grundsa~z) da Geo~
parece ter passado até agora despercebida às observações dos disse- metria pura. Que a linha reta seja a mais cu~ta entre dOlS_ pontos~ e
cadores da razão humana, parecendo antes justamente opor-se a todas uma proposição sintética, pois o meu conceito de .reto nao ~ontem
as suas conjeturas. Com efeito, por ter-se descoberto que as inferências nada de quantidade, mas só uII1~ qualida~e. O conceito dO,mals curt~
dos matemáticos procedem todas segundo o princípio de contradição portanto acrescentado inteiramente e nao pode ser extraldo do con
(o que a natureza de cada certeza apodítica exige), persuadiram-se ~ito de li:ma reta por nenhum desmembramento. Portant?, se :em
que também os princípios seriam conhecidos a partir do princípio de que recprrer aqui à ajuda da intuição, unicamente pela qual e posslvel
contradição. Nisso se enganaram, pois uma proposição sintética pode síntese. d" )
seguramente ser compreendida segundo o princípio de contradição, Algumas ,poucas proposições fundamentais (Grun s~~ze pres-
mas somente de tal modo que se pressuponha uma outra proposição U ostas pelosgeômetras são, é verdade, realment~ an~hhcas e re-
sintética da qual a primeira possa ser inferida, jamais porém em si po~sam sobre o princípio de co~tradi~ão, mas,tambem ~o servem, ~a~
mesma. orno as proposições idênticas, a ca~~la do m~todo e nao como prm
Antes de tudo precisa-se observar que proposições matemáticas ípios, por exemplo, a = a, o 'todo e igual a Si mesmo, ou (a + b) a,
em sentido próprio são sempre juízos a priori e não empíricos porque isto é o todo é maior do que a sua parte. Embora valham se~~do
trazem consigo necessidade, que não pode ser tirada da experiência. impÍes conceitos, contudo, mesmo essas proposições são a~ml~~as
Se não se quer conceder isso, pois bem, então limito minha proposição na Matemática somente porque podem ser apresentadas na ~nt:l1~ao.
à matemática pura, cujo conceito já traz consigo que ela não contém que nos faz aqui crer comumente que ~ predicado. d~ tais }UlZO~
conhecimento empírico, mas só conhecimento uro a p-riori. Na ver- apodíticos já esteja contido em nosso conceito e que o ]UlZO_ seja po~
dade, dever-se-ia de início pensar que a proposição 7 + 5 = 12 é uma tanto analítico, é simplesmente a ambigüidade da expres~ao. Isto e,
proposição meramente analítica que resulta do conceito de uma soma elevemos pensar um certo predicado acrescido a um c~nce~to ?ado, e
de sete mais cinco, segundo o princípio de contradição. Mas quando sta necessidade já inere aos conceitos. Mas a questao ~ao e o que
se observa mais de perto, descobre-se que o conceito da soma de 7 e elevemos pensar acrescido ao conceito dado, mas o que ef~tlvamente pen-
? nada mais contém que a união de ambos os algarismos num único, samos nele, embora de modo apenas obscuro, e ~om iSSO se ~ostra
mediante o que não é de maneira alguma pensado qual seja este único que na verdade o predicado adere àqueles conceitos de .maneIT~ ne-
algarismo que reúne ambos. O conceito de doze não é absolutamente essária, mas não como pensado no próprio conc~ito, e Sim mediante
pensado pelo fato de eu apenas pensar aquela união de sete mais uma intuição que se precisa acrescentar ao conceito.
cinco, e por mais que eu desmembre o meu conceito de uma tal possível
soma, não encontrarei aí o conceito de doze. É preciso sair desses 2. A ciência da Natureza (];2hysica) contém em si juíz~s sintéticos a
conceitos tomando como ajuda a intuição correspondente a um deles, priori como princír..ios , A título de exemplo, quero menClOnar apenas
por exemplo os seus cinco dedos ou (como Segner na sua Aritmética) algumas proposições tais como a seguinte: em todas as ~ud~nças do
cinco pontos, e assim acrescentar sucessivamente as unidades do cinco mundo corpóreo a quantidade da ma~éria per~ar:ece lmutavel, ou,
dado na intuição ao conceito de sete. Com efeito, tomo primeiro o ('m toda comunicação de movimento açao e reaçao tem .que ser sempre
número 7 e, na medida em que para o conceito de cinco recorro ao i uais entre si. Em ambas é clara não apenas a neceSSidade, por .c~n-
auxílio dos dedos de minha mão como intuição, ponho agora as uni- guinte a sua origem a priori, mas t~~bém o fat~ de serem P:OP?SlçOeS
dades que antes reuni para perfazer o número 5 sucessivamente na- r:
Kintéticas. Pois no conceito de matena ];2enso ao a ];2ermanenCla, mas
quela minha imagem acrescentando-as ao número 7, e vejo assim surgir ti mente sua resença no es aço pelo preenc~e.nto do mesmo. Por-
o número 12. Pensei já no conceito de uma soma 7 + 5 que 5 devesse oto, vou efetivamente além do conceito de matena para pensar acres-
ser acrescentado a 7, mas não que esta soma fosse igual ao número ·
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OS PENSADORES KANT

cido a priori ao mesmo algo que não pensara nele. A proposição não seus olhos o nosso problema na sua universalidade, ja~ais ~eria in-
é portanto analítica, mas sintética e não obstante pensada a priori, e cidido em semelhante afirmação destruidora de toda fIlosofIa pura,
assim nas restantes proposições da parte pura da Ciência da Natureza. uma vez que teria então compreendid~ ~ue segund.o seu argumento
também não poderia haver uma ma~e~ahca pura, pOlS esta certamente
3. Na Metafísica que se encare como uma ciência até agora apenas contém proposições sintéticas a pnon, e n~ste ca_so o seu bom senso
tentada não obstante indispensável devido à natureza da razão hu- talvez o teria preservado de semelhante ahrmaçao. .
mana, devem estar contidos conhecimentos sintéticos a priori, e de maneira Na solução do problema precedente está ao mesmo tempo m-
alguma lhe cabe apenas desmembrar conceitos que nos fazemos a cluída a possibilidade de o uso puro da. razão fu~d.ar e le,:ar. a cabo
priori de coisas e por meio disso elucidá-los analiticamente, mas que- todas as ciências que contêm um conheClmento teonco a pnon de ob-
remos ampliar o nosso conhecimento a priori; para tanto, temos de jetos, isto é, responder às per,g untas:
servir-nos daqueles princípios que ao conceito dado acrescentam algo Como é possível a matemiítica pura?
não contido nele e que por meio de juízos sintéticos a priori venhamos Como é possível a ciência pura da natureza? .
quiçá a ir tão longe que a própria experiência não pode nos seguir Ora, visto que essas ciências são realmente dadas, parece, p~rti:
até tal ponto, por exemplo na proposição: o mundo tem de ter um nente perguntar como são possíveis, pois qu~ têm q~~ ser pOSSIV;IS e
primeiro começo, em outras ocasiões ainda, e destarte a Metafísica provado pela sua realidade. 1 No ~ue tange a Me~afíslca, o seu m~sero
Relo menos segundo o seu fim, consiste em meras Rroposições sintéticas progresso. até . aqui e o fato de nao se poder dIzer, com. respeito a
-ª-.12riori. nenhuIri dos sistemas até hoje expostos, que realmente eXIsta ~o que
concerÍle ao seu fim essencial, dão a cada um razões para duvIdar de
VI. Problema geral da razão pura sua possibilidade. . . ,
Não obstante, essa espécie de conheclmen!o tambe~ po~e ser con-
Ganha-semuitíssimo quando se pode submeter grande quanti- sider.ada dadiLem certo sentido, e embora nao como Clez:tCla, a Me~a­
dade de investigações à fórmula de um único problema. Pois assim física é contudo real como disposiçª-o natural (metaphy~lc~ natura~ls) .
não se facilita só .o próprio trabalho na medida em que se o determina . Com efeito, sem ser movida pela mera vaidade da erudlçao, ?,as. Im-
exatamente, mas também o juízo de qualquer outra pessoa que quiser pelida pela sua própria necessidade, a razão humana p~ogrlde Irre-
examinar se realizamos a contento o nosso propósito ou não. Ora, o sistivelmente até perguntas que não podem ser.re:P?ndld~s por ne-
verdadeiro problema da razão pura está contido na pergunta: como nhum uso da razão na experiência nem por prmClpl~s daI to~ado~
são possíveis juízos sintéticos a priori? emprestados, e assim alguma metafísica sempre eXlstiu_e continuara
Que até hoje a Metafísica permaneceu numa situação tão vaci- a existir realmente em todos os homens, tão logo a razao se estenda
lante entre incertezas e contradições, deve atribuir-se apenas à causa neles até a especulação. Com respeito a ess~ me~a!ísica cab~ agora. a
de não se ter antes deixado vir à mente esse problema e talvez mesmo pergunta: como é possível a metafísica como dlsposl~ao natural. ou seja,
a giiere!lç~ntre juízos analíticos e sintéticos. Sobre a solução desse como surgem da natureza da razão humana ~~ver~al as perguntas
problema ou sobre uma prova satisfatória de que de fato absolutamente que a razão pura levanta para si mesma e que e Impelida a responder,
não ocorre a possibilidade que a Metafísica exige saber explicada, re- tão bem quanto pode, por sua própria necessidade?
pousa a ascensão e queda da Metafísica. David Hume, que dentre todos Já que em todas as tentativas feitas até agora para responder a
os filósofos mais se aproximou desse problema sem contudo sequer essas perguntas naturais, por exemplo se o mundo tem u.m c?~eç.o
de longe pensá-lo determinado o suficiente e em sua universalidade, ou se é desde toda a eternidade etc. encontram-se sempre m.evIta::ls
mas se detendo apenas na proposição sintética da conexão do efeito contradições, não se pode então contentar-se com a mera dIsposIçao
\fcom suas causas (principium causalitatis), creu estabelecer que tal pro-
o posição a priori fosse inteiramente impossível; §gg!!ndo suas conclu- I Alguns ainda poderiam duvidar desta última coisa relativa à ciência pura da natureza. Tod~~ia,
sões tudo o g.ue denominamos Metafísica desembocaria em mera ilu- basta ver as diversas proposições que ocorrem no começo da Física pr?priamente d~ta (empmca)
são de uma ]2retensa _compr~nsão racioné!l daquil,Q que de fato_ foi _ como a da permanência da mesma quantidade de matéria, a da mérCla, a da Igualdade de
ação e reação etc. _ para logo se convencer de que perfazem uma physicam pura", (ou ra_clOnaI)
simRJesmente tomado emprestadQ Q.a_eJSperiência e..,gue pelo hábito que, como ciência especial, bem merece ser erigida separadamente em toda a sua extensao, seja
§.e revestiu da aparência de necessidade. Se tivesse tido diante dos esta restrita ou vasta.

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OS PENSADORES

natural para a metafísica, isto é, com a própria faculdade pura da


razão, da qual sempre resulta alguma metafísica (seja qual for), mas VII. Idéia e divisão de uma ciência especial sob o nome
com tal disposição tem que ser possível alcançar uma certeza quanto de uma Crítica da razão pura
ao saber ou não-saber dos objetos, isto é, ou decidir sobre os objetos
de suas perguntas ou sobre a capacidade ou a incapacidade da razão De tudo isso resulta a idéia de uma ciência es ecial gue ode
julgar algo a respeito deles, portanto ou ampliar com confiança a nossa denominar-se Crítica da razão pura. Pois a razão é a faculd~de que
razão pura ou impor-lhe limites determinados e seguros. Esta última fornece os princípios do conhecimento a priori. Por isso a razao pura
pergunta, decorrente do problema geral precedente, seria com direito é aquela que contém os princípios par~ conhecer. algo absolutamer:te
a seguinte: como é possível a Metafísica como ciência? a priori. Um órganon da razão pura sen~ um conjunto daq~el.es pnn-
Portanto, a crítica da razão conduz por fim necessariamente à cípios segundo os quais todos{Qs co:meClmentos l?urc:.s a pnon podem
ci~ncia;_o u~o dogmátic? da r~zão sem crítica conduz, ao contrário, a ser adquiridos e efetivamente reah~ados. A aph~açao detalha~a de
ahrmaçoes Infundadas as quaIS se pode contrapor outras igualmente um tal órganon proporcionaria um SIstema da raza~ pura. ~as ja que
\\ aparentes, por conseguinte ao ceticismo. isso é pedir muito e que ainda é ince~to_se tambem aqUI e ~m que
Esta ciência tampouco pode ser de uma vastidão desencorajante, casos chega a ser possível uma amphaçao do nosso conhe~Imento,
pois tem que lidar não com os objetos da razão, cuja multiplicidade podemos encarar uma ciência do simples iu!g~mento . da razao pu~a,
é infinita, mas somente com a própria razão, isto é, com problemas das suas fonteS e seus limites,..J:.O.m.Q.a.propedeutlaLa.QS1Ste m a ~a razao_
que surgem inteiramente do seu seio e não lhe são propostos pela pura IJina tal ciência teria que se den~~inar nã~ uma doutnna, mas
natureza das coisas, as quais são diferentes dela, mas pela sua própria somente Crítica da razão pura, e sua utihdade sena realmente are~as
natureza. Em tal caso, quando a razão aprendeu a conhecer comple- n~ativa com respeito à especulação, servind.? não para a al~.pha~ao,
tamente a sua própria faculdade no tocante aos objetos que podem mas apenas para a purificação da nossa raz~o e ara m~nte-Ia livre
lhe ocorrer na experiência, tem que se tornar fácil determinar completa de erros, o que já significaria um ganho notavel._Denorruno tran.scen-
e seguramente o âmbito e os limites do seu tentado uso acima de dental todo conhecimento que em geral se ocupa nao tanto com objetos,
todos os limites da experiência. mas com nosso modo de conhecimento de obiet~s na me?ida em qu.e
Portanto, todas as tentativas feitas até agora para realizar dog- este deve ser possível a priori. Um sistema de taIS. conc~It~s ?enorru-
maticamente uma metafísica podem e têm que ser encaradas como não nar-se-ia filosora transcendental. Para o iní.cio ~ssa f~losoha e amda de-
ocorridas. Com efeito, o que numa ou noutra há de analítico, isto é, masiada. Com efeito, uma vez que tal ClenCla tena que conter c~m:
um simples desmembramento dos conceitos que residem a priori em pletamente tanto o conhecimento analítico quan~o o sintét~co a pnon,
nossa razão, não chega a constituir ainda o fim, mas apenas uma no tocante ao nosso propósito ela é de um âmbIto dem~sIado vasto~
promoção com vistas à verdadeira Metafísica, isto é, a ampliar sinte- já que só nos é permitido impulsionar a aná~se na .m~d~da em ~ue e
ticamente o seu conhecimento a priori; tal desmembramento é impres- imprescindivelmente necessária pa:a .disce~rur os prmCl'p lOs da smtese
tável para o último por apenas mostrar o que está contido nestes con- a priori em toda a sua extensão, a uruca COIsa que nos mter~s~a. Com
ceitos, não porém como chegamos a priori a tais conceitos para que essa investigação ocupamo-nos agora. Não podemos deno~na-Ia pro-
segundo isso também podermos determinar o seu uso válido com priamente doutrina, mas somente crítica transcendental, pOIS tem como
respeito aos objetos de todo o conhecimento em geral. O abandono pro12ósito não a amplia ão dos róprios conhecimentos, m~s al2§1ªs
de todas essas 'pretensões também requer pouca abnegação, uma vez s~ retificação, devendo fornecer a pedra de to ue g~e .deClde so?re
que as inegáveis e também inevitáveis contradições da razão consigo o valor ou desvalor de todos os conhecimentos a T!.non. Na ~edIda
mesma no procedimento dogmático privaram há tempo de sua repu- do possível, por conseguinte, urna tal crítica é uma prepar:çao para
tação toda metafísica precedente. Será necessária maior firmeza para um órganon e, se este não tiver êxito, pelo menos para um canor:e dos
que a dificuldade interior e a resistência exterior não nos dissuada de conhecimentos a priori, segundo o qual talvez possa algum dIa ser
finalmente promover, por abordagem completamente oposta a até ago- apresentado tanto analítica quanto sintetic~mente o sist.em! completo
ra adotada, o crescimento próspero e frutífero de uma ciência indis- da filosofia da razão pura, quer este conSIsta na. amph~çao, q~er na
pensável à razão humana, da qual se pode cortar cada ramo despon- m era limitação de seu conhecimento. Pois que ISSO seja~ po~sIvel, e
tado, mas não exterminar as raízes. inclusive que um tal sistema não possa ser de grande ambIto para
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o.S PENSADo.RES KANT

que se tenha esperanças de levá-lo. co.mpletamente a termo., po.de-se 1I\I'I\ t nenhum co.nceito. co.ntendo. algo. empírico. seja admitido. nela,
avaliar já antecipadamente pelo. fato. do. o.bjeto. não. consistir aqui na na- III I que o. co.nhecimento. a priori seja inteiramente puro.. Po.r isso., embo.ra
III I rincj pio.s supremo.s e o.S co.nceito.s fundamentais da mo.ralidade
tureza das co.isas, que é inesgo.tável, mas no. entendimento., que julga
I' lIn co.nhecimento.s a priori, não. pertencem à filo.so.fia transcendental
so.bre a natureza das coisas, e este também, po.r sua vez, só no. to.cante
ao. seu co.nhecimento. a priori, pelo. fato. de não. precisarmo.s procurá-la l" lI'ljue eles mesmo.s na verdade não. to.mam co.mo. fundamento. do.s
fo.r~ ~e nós, não. po.de permanecer o.culta e é, segundo. todas conjeturas, ' I'U preceito.s o.S conceito.s de prazer e des razer, de dese'o.s e incli-
sufiCientemente pequena para ser completamente abarcada, julgada co.n- JI \ ' f S etc. que são. to.do.s de o.rigem emp-írica, to.davia, na co.mpo.sição.

fo.rme a seu valo.r o.U desvalo.r e submetida a uma avaliação. co.rreta. do Histema da mo.ralidade pura têm necessariamente que envo.lvê-Io.s
Meno.s ainda se po.de esperar aqui uma crítica do.s livros e sistemas da IlO o.nceíto. de dever, seja co.mo. o.bstáculo. a ser vencido. o.U seja co.mo.
:r;azão. pura, mas sim a da própria faculdade da pura razão.. So.mente l'lll mulo. que não. deve ser trilnsformado. em mo.tivo.. A filo.so.fia trans-
so.bre a base desta crítica se po.ssui urna pedra de to.que segura para l'I'ndental é po.rtanto. uma sabedoria mundana da razão. pura mera-
avaliar o. conteúdo. filo.sófico. de o.bras antigas e no.vas neste ramo.s; caso. IIwnte especulativa. Po.is to.do. o. prático., na medida em que co.ntém
co.ntrário., o. histo.riógrafo. e juiz inco.mpetente julga afirmações infundadas lI\oLivo.s, refere-se a sentimento.s, o.S quais pertencem à fo.ntes empíricas
de o.utro.s mediante suas próprias, que são. igualmente infundadas. do co.nhecimento..
A filo.so.fia transcendental é a idéia de uma ciência para a qual
Se se quiser estabelecer a divisão. desta ciência desde o. po.nto.
a .Crítica da razão. pura deverá pro.jetar o. plano. co.mpleto., arquiteto.- II : vista universal de um sistema em geral, então. a divisão. que ago.ra
II po.mo.s precisa co.nter primeiro. uma doutrina dos elementos, segundo.
rucamente, isto. é, a partir de princípio.s, co.m plena garantia da co.m-
pletude e segurança de to.das as partes que perfazem este edifício.. Ela IIma doutrina do método da razão. pura. Cada uma dessas partes prin-
é o. sistema de to.do.s o.S princípio.s da razão. pura. Que esta Crítica já 1'1 pais teria sua subdivisão. ~ujas razões ainda não. po.dem, to.davia, ser
não. se deno.mina ela mesma filo.so.fia transcendental repo.usa simples- " po.stas aqui. Co.mo. intro.dução. o.U advertência parece necessário. dizer
mente no. fato. de que, para ser um sistema completo., precisaria co.nter 'penas que há do.is tronco.s do. co.nhecimento. humano. que talvez bro.-
também uma análise detalhada de to.do. o. co.nhecimento. humano. a I 'ln de uma raiz comum, mas desco.nhecida a nós, a saber, sensibilidade
priori. Ora, é verdade que no.ssa Crítica certamente tem que pôr diante (' entendimento: pela primeira o.bjeto.s são.-no.s dados, mas pelo. segundo.
I o. pensados. Ora, na medida em que a sensibilidade devesse co.nter
do.s o.lho.s também uma enumeração. co.mpleta de to.do.s o.S co.nceito.s
I' 'presentações a priori, as quais perfazem a co.ndição. so.b a qual no.s
primitivo.s que perfazem o. referido. co.nhecimento. puro.. Só que é dado.
à Crítica abster-se da análise detalhada desses mesmo.s co.nceito.s bem o. dado.s o.bjetos, pertenceria à filo.so.fia transcendental. A do.utrina
co.mo. da co.mpleta recensão. do.s daí derivado.s, em parte po.rque esse transcendental do.s sentido.s teria que pertencer à primeira parte da
desmembramento. não. seria co.nveniente na medida em que não. apre- li ncia do.s elemento.s, po.is as co.ndições so.b as quais unicamente o.S
senta a dificuldade enco.ntrada na síntese, em vista da qual propria- objetos do. co.nhecimento. humano. são. dado.s precedem aquelas so.b as
mente existe a Crítica inteira, em parte po.rque co.ntrariaria a unidade luais o.S mesmo.s são. pensado.s.
do. plano. o.cupar-se co.m a respo.nsabilidade da co.mpletude de uma
tal análise e derivação., da qual bem se po.deria estar dispensado. no.
que tange ao. no.sso. pro.pósito.. Essa co.mpletude tanto. do. desmembra-
mento. quanto. da derivação. a partir do.s co.nceito.s a priori a serem
fo.rnecido.s futuramente é, entretanto., fácil de co.mpletar, co.ntanto. que
esses co.nceito.s estejam primeiramente aí co.mo. princípio.s detalhado.s
da sín~ese e que nada falte co.m respeito. a esse propósito. essencial.
. A ~rítica da razão. pura pertence, portanto., tudo. o. que perfaz
a filo.so.fia transcendental, e ela é a idéia completa da filo.so.fia trans-
cendental, mas não. ainda esta ciência mesma, po.is a Crítica avança
na análise apenas até o. quanto. é requerido. para o. julgamento. co.mpleto.
do co.nhecimento. sintético. a priori.
O principal alvo., na divisão. de uma tal ciência, é que abso.luta-
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