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Psicoterapia Breve Psicoolnâmica: um percurso de 50 anos

Joaquim Gonçalves Coelho Filho


Maria Leonor Espinosa Enéas

Embora as primeiras discussões sobre atendimentos de curta duração


-possam ser encontradas já no início do século, nos primeiros trabalhos de
Freud e de seus seguidores, a Psicoterapia Breve Psicodinâmica, na atual
configuração, teve o seu início após a 11 Grande Guerra. Nessa época, fins da
"
década de 40 e nos anos 50, em função do aumento da demanda por
psicoterapia, alguns psicanalistas voltaram-se para uma diversificação nos
atendimentos prestados, bem como para pesquisar alternativas de tratamento
mais compatíveis com a procura.
Um dos primeiros núdeos a responder a tal demanda foi o do Instituto
de Psicanálise de Chicago, chefiado por Franz Alexander, que reuniu em uma
publicação os princípios norteadores fundamentais desta nova proposta de
trabalho (Alexander e French, 1946). Este texto, inspirado em conceitos de
Ferenczi e Rank, destacava a participação mais ativa do terapeuta e a
importância da relação terapêutica como promotora de mudanças no padrão
relacional anterior, com a possibilidade de adequar a duração da terapia e a
freqüência das sessões às necessidades do paciente. O principal aspecto das
sugestões por eles oferecidas residia no controle das manifestações
transferenciais, evitando-se assim as regressões excessivas que provocavam o
alongamento do processo terapêutico.
Observa-se nesta época, então, o início de um movimento visando
diversificar as intervenções terapêuticas, o que levou a incluir atitudes desde
um extremo mais expressivo até um outro mais suportivo.
Este movimento continuou com o trabalho e a pesquisa de outros
grupos ainda durante a década de 50, visando a sistematização da nova
modalidade de tratamento que estava surgindo. Destacam-se, aqui, os estudos

Coelho Filho, J. G. & Enéas, M. L. E. Psicoterapia


breve psicodinâmica: um percurso de 50 anos.
Jornal Psiconews, Ano 2 - n° 5 - setembro /
1996, p. 1-5.
de Balint (sucedido por Malan), na Clínica Tavistock em Londres, e de
Sifneos no Massachussets General Hospital, em Boston. A publicação destes
c"orreu na década de 60 (Malan, 1963; Sifneos, 1969), juntamente com outras
propostas de atendimento desenvolvidas principalmente na Europa e Estados
Unidos.

A característica principal destas propostas era o estabelecimento de


critérios de indicação e de contra-indicação, na tentativa de avaliar os
recursos da nova técnica diante" de tipos específicos de pac ntes.
Desenvolveram-se, assim, técnicas mais adequadas para o atendimento da
população.
Esta década caracteriza-se, portanto, ,elo surgimento de diversos
autores e proponentes da chamada segunda geração da Psicoterapia Breve
(Yoshida, 1990; Crits-Christoph e Barber, 1991), atribuindo uma identidade
,
própria às Psicoterapias Breves Psicodinâmicas.
A década seguinte, anos 70, foi marcada pela solidificação destes
achados, com os trabalhos de Mann (1973), Davanloo ( 1978) e
posteriormente GilIieron (1983), fazendo com que a Psicoterapia Breve
assumisse seu caráter focal, bem como pela difusão de seus conceitos em
outras partes do mundo. Tem-se como exemplo, o início do estudo
sistematizado da Psicoterapia Breve na Noruega (Heiberg, 1975), na
Argentina (Fiorini, 1973) e no Brasil com os trabalhos do grupo ligado à
Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul e de Knobel e Simon em São
Paulo. Os dois últimos estudiosos dedicaram-se também à formação de
terapeutas de orientação breve, contribuindo para a expansão da prátic"a da
Psicoterapia Breve em nosso meio.
Nos anos 80 encontra-se a terceira geração de PB e uma divulgação
maior da prática, realizada através do intercâmbio dos estudos, o que
promoveu o surgimento de novos grupos voltados para o desenvolvimento
desta modalidade terapêutica. A maior abrangência na aplicabilidade da PB,
surgida de uma revisão dos critérios de indicação anteriormente vigentes,
levou a uma configuração mais definida de cada proposta.
Neste contexto surgiram os primeiros manuais de tratamento em
,"

Psicoterapia Breve, com as publicações de Luborsky (1984) e Strupp e


Binder (1984). O primeiro autor dedicou-se a circunscrever o tratamento
expressivo-suportivo, fundamentado na terapia psicanalítica, mas utilizando
intervenções que favoreciam a expressividade de sentimentos ou então
intervenções apenas de apoio. Já Strup e Binder ocuparam-se em apresentar
uma perspectiva interpessoal na terapia breve dinâmica, visando propiciar ao
paciente recursos que permitissem uma reavaliação do padrão de relações
objetais mantido por ele.
Nessa mesma década, os destaques brasileiros ficaram por conta de
grupos de estudiosos no Rio de Janeiro, Rio "Grande do Sul e São Paulo.
Liderado por Vera Lemgruber, um grupo voltava-se para a formação de
terapeutas de orientação breve na UFRJ. O Departamento de Psiquiatria e
Medicina Legal da UFRS, em nítida preocupação com a formação do
profissional, promoveu inúmeras discussões teóricas e metodológicas,
culminando com a publicação de um texto, (Eizirik e cols.,1989). Em São
Paulo, as contribuições vieram da Divisão de Psicologia do Instituto Central
do Hospital das Clínicas, sob o comando de Mathilde Neder, e também, do
NEPPB - Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicoterapia Breve. Este último
foi criado em 1987 por um grupo de psicólogos autônomos que se dedicaram
a pesquisar a técnica e a formar terapeutas nessa modalidade, através da
prática advinda de atendimentos extensivos a comunidade.
Os anos 90 são marcados pela maior aproximação entre a teoria da
técnica breve e a sua prática clínica, através do aumento do número de
pesqUIsas voltadas para o processo terapêutico. Visa-se, assim, uma
padronização de procedimentos e o desenvolvimento de medidas que
permitam uma compreensão mais profunda e precisa dos processos envolvidos
na relação terapeuta-paciente (Yoshida, 1996).
No Brasil, embora esta década já conte com núcleos voltados para
pesquisa e análise intensiva de processos terapêuticos breves (Coelho Filho e
Enéas, 1996), o maior movimento ainda se concentra na formação de
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terapeutas na técnica breve. Alguns cursos de graduação já exibem


discussões sobre esta modalidade em disciplinas como Teorias e Técnicas
Psicoterápicas, além da sua adoção nos estágios de formação nas clínicas-
escola. Esta é a evidência de que a técnica breve deixou de ser vista,. de
forma geral, como um trabalho paliativo, como seria o uso de placebo. Ela
está aí como mais uma opção de trabalho para tratamentos compatíveis com
os seus pressupostos básicos, por exemplo, a circunscrição do pro blema e a
viabilização de objetivos. Obviamente nem todos os casos são passíveis de
tratamento por esta técnica. A indicação para tratamentos breves ou para
processos longos e/ou psicanalíticos dependerá de uma boa entrevista por
\o

profissional categorizado para decidir-se pelo melhor encaminhamento. Da


mesma forma, a sua aplicação em clínicas-escola dependerá da formação
específica de seus supervisores, a fim de que novos profissionais sejam
conscientizados da necessidade de formação adequada que, a exemplo de
outras técnicas, também esta exige, evitando-se, assim, a incorrência em
equívocos.
Um bom reflexo da busca por formação especializada na técnica breve é
o surgimento da oferta de cursos de especialização e de encontros de
profissionais da área, como a Conferência Internacional de Psicoterapia
Breve, que aconteceu em São Paulo em julho último. O crescimento da
procura registrada no NEPPB por seus cursos também demonstra uma maior
conscientização de que a técnica breve demanda uma formação capacitada, o
que exige constante revisão e acompanhamento dos trabalhos realizados na
área.

A literatura internacional desta década sobre Psicoterapia Breve,


observa um crescimento que já mereceu um periódico especializado -
International Journal of Short- Term Psychotherapy - embora outros também
publiquem farto material sobre o tema. Em levantamento recente (Yoshida e
cols., 1996) identifica-se os Estados Unidos como o país que mais publica na
área, enquanto a Noruega desponta como o país que mais publica artigos
baseados em pesquisa. Tratando-se de um centro que vem se dedicando a
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Psicoterapia Breve desde a década de 70, sua produção destaca-se por


refletir a sistematização de sua prática. Neste mesmo levantamento, o Brasil
aparece em 10° lugar em volume de publicação, o que reflete a
despreocupação existente em divulgar o trabalho que vem sendo realizado "em
veículos de abrangência internacional, e também nacional.
A maior divulgação das práticas realizadas em nosso país pode, assim,
contribuir para a melhora na adequação da técnica à demanda da nossa
população.
Como se vê, o percurso histórico de 50 anos mostra um
desenvolvimento crescente da Psicoterapia Breve, mas somente agora os
estudos têm permitido chegar a uma efetiva formulação da técnica, o que
possibilita novas perspectivas para a sua aplicação e o vislumbrar do embrião
do que virá a ser a 48 geração da Psicoterapia Breve.

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YOSHlDA, E.MoPo;GATfI. A.L; ENÉAS, MoLE.; COELHO FILHO, JoGo;BOBROW, M.MoOoLevantamento de artigos
. publicados sobre psicoterapias breves: 1990 a 1994. 488 Reunião Anual - SBPC - Sociedade Brasileira para o
Progresso da Oência. São Paulo-SP: julho de 1996.

Joaquim Gonçalves Coelho Filho CRP 06/35.761.9 -


Mestre em Psicologia Clínica pela PUCCAMP (1995); doutor em Psicologia
PUCCAMP (1999); doutorando em Filosofia UNICAMP; docente da
Universidade São Marcos; especialista na técnica da Psicoterapia Breve pelo
Núcl~ de Estudos e Pesquisa em Psicoterapia Breve; psicoterapeuta.
Rua Píimeiro de Janeiro, 419 - Vila Mariana - Telefone: 5581-1020
Maria Leonor Espinosa Enéas - CRP 06/10.739.7
Mestre em Psicologia Clínica pela PUCCAMP (1993); doutora em Psicologia
PUCCAMP (1999); docente da Universidade" Mackenzie; especialista na
técnica da Psicoterapia Breve pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa em
Psicoterapia Breve; psicoterapeuta.
Rua Paulo Virgínio, 16 - Vila Mariana - Telefone: 573-6054

Referência deste artigo:

COELHO FILHO, J.G. & ENÉAS, M.LE. Psicoterapia breve psicodinâmica: um percurso de
50 anos. Psiconews. Ano 11,n° 5, p.4. 1996.

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