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ENTREVISTA | Deputado Newton Lima Michael Kain

O dilema europeu

GestãoPública
Uma revista a serviço do País

governo sociedade & Desenvolvimento

O PAPEL DAS CARREIRAS


DE ESTADO NA PROMOÇÃO
DO DESENVOLVIMENTO

• Meritocracia no serviço
53

público é meio eficaz de


9 770103 742012
ISSN 0103-7323

combate à corrupção
• Máquina pública deve
ser equilibrada, com
servidores eficientes
Ano XXI - Nº 53 - Maio 2012 - R$ 14,80

Pedro Delarue, presidente do Fonacate

GESTOR E CARREIRAS UNIÃO SISTEMAS E INOVAÇÃO


Polícia Civil do DF propõe novos Governo avalia o atendimento Municípios ganham reforço para
critérios para a ascensão funcional em hospitais e emergências melhorar gestão tecnológica
Artigo

RUY DE ALENCAR MATTOS


Psicólogo organizacional e mestre em Ciência Política

Fortalecer a democracia
participativa no Brasil
O
Estado-Nação, construção grega que já possui democrático, com seu estado de direito construído a par-
mais de 2.400 anos, vem se aprimorando continu- tir de um equilíbrio dinâmico entre os poderes Executivo,
amente para lidar com as demandas da sociedade, Legislativo e Judiciário, de um lado, e, de outro, as insti-
de onde deriva. Entretanto, a máxima democrática, rever- tuições, associações e organizações da sociedade.
berada ao longo dos séculos, de que o poder deve emanar Proudhon nos alerta que um interesse público pode se
do povo e em seu nome ser exercido, visando a satisfa- criar distinto do interesse popular, e isto em nome mesmo
ção de suas necessidades, tem sido um grande princípio da soberania popular que o mandata. “Neste interesse,
ou valor, porém nem sempre respeitado pelos agentes ele faz dos funcionários públicos, que são por natureza
públicos, eleitos ou designados para representar o povo, funcionários da sociedade trabalhadora, suas próprias
administrando este patrimônio político que lhes foi dele- criaturas. Decorre disto a criação de uma casta burocrá-
gado. A Constituição Brasileira de 1988 assume este tica de onde resulta o despotismo, a corrupção.” Como é
princípio logo em seu primeiro artigo ao declarar que: atual esta situação em nosso país, não é verdade?
“todo poder emana do povo, que o exerce por meio de Mesmo no âmbito dos regimes democráticos pode-
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta mos sentir a tensão contínua entre Estado e sociedade.
Constituição” (Art. 1o. par. único). Enquanto o primeiro se percebe atendendo aos anseios
Como podemos ver, nossa e necessidades da sociedade por
Constituição nasce com uma meio de suas políticas públi-
ambiguidade: ser uma democracia cas, esta o vê como um sistema
representativa ou uma democracia burocrático pesado, lento e auto-
participativa, ou ser uma com- -referente, por vezes corrupto e
binação de ambas? A relação dilapidador dos bens por ela cria-
criador/sociedade/criatura-Estado dos. Mais uma vez Proudhon nos
apresenta diversos estágios, con- adverte de que “é este Estado ofi-
figurando um contínuo de poder, cial, pertencendo de fato a uma
que vai desde o extremo da coação minoria controladora do apare-
máxima, onde o Estado opres- lho estatal que, para aumentar os
sor (monárquico, oligárquico ou números de seus servidores, para
ditatorial) anula a dinâmica e a fazer crescer sua potência extra
própria existência social, até o popular, tende a multiplicar inde-
outro extremo, onde a sociedade finidamente seus empregados.
não reconhece a legitimidade do O socialismo governamentalista
poder estatal, assumindo em suas pretende empregar o governamen-
mãos o poder político (anarquia, talismo contra o capitalismo.” O
colegialidade). No meio deste con- aparelhamento do Estado, com as
tínuo podemos encontrar o regime milhares de funções comissionadas

40 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio 2012


e o crescimento exagerado do número de funcionários Destacaremos seis indicadores sociais que, jun-
públicos, nesta última década, são exemplos eloquentes tos, darão um sentido mais objetivo ao que significa
desta realidade, em nosso país. o direito fundamental à uma vida digna e segura:
O Brasil apresenta exemplos claros do peso do Estado Índice de miséria, índice de mortalidade infantil,
sobre a sociedade. Em nossa história colonial, a nas- índice de subnutrição, índice de doenças endêmicas,
cente sociedade brasileira se insurgiu contra um Portugal índice de assassinato de jovens e índice de mortali-
predador, por este lhe exigir 1/5 da riqueza produzida, dade no trânsito
isto é, 20% do PIB da época. Hoje, nossa sociedade vem
manifestando a cada ano maior insatisfação, diante do
contínuo crescimento da carga tributária promovida pelo
Estado brasileiro, nos últimos 20 anos. No dia 1º de junho
do ano de 2010, esta carga, (que é a terceira mais elevada
do mundo) alcançou a cifra recorde de meio trilhão de
reais, correspondente a 36% do PIB atual. Isto significa,
grosso modo, que cada brasileiro, independente de sua
idade, renda ou classe social, deverá contribuir anual-
mente com cerca de R$ 5.422,44 para manter este pesado
aparelho de Estado, em seus três níveis estruturais: fede-
ral, estadual e municipal.
Para se ter uma ideia do peso do Estado brasileiro
sobre a sociedade, em seis décadas, o peso da carga tri-
butária triplicou, saindo de 13,8% do PIB em 1947 para • Índice de miséria – Com base no documento
34,7% do PIB em 2001. E para 36%, em 2010, e segue Radar Social 2005 divulgado pelo Ipea “temos ainda
crescendo. 22 milhões de indigentes, que representam 12,9% da
população brasileira, com renda per capita menor que
As políticas públicas e os um quarto do salário mínimo.”
direitos fundamentais De que modo um país que ostenta o sexto PIB mun-
Os poderes Executivo e Legislativo, no sentido de dial consegue conviver com esta indignidade? É sabido
cumprir o que ordena a Constituição, estabelecem meca- que o Executivo vem empreendendo ações com vistas
nismos e sistemas de ação com a finalidade de intervir a reduzir esta chaga nacional. O Programa Fome Zero
sobre a sociedade, buscando o bem comum. De modo constitui um exemplo disso, porém ainda estamos dis-
mais específico, “as políticas públicas podem ser concei- tante de cumprir adequadamente o direito fundamental
tuadas como instrumentos de execução de programas à vida, que é alimentar-se. E o que vem fazendo o Poder
políticos baseados na intervenção estatal na sociedade Judiciário diante da lentidão das soluções governamentais
com a finalidade de assegurar igualdade de oportunida- frente a este problema? Afinal, “é na área de intervenção
des aos cidadãos, tendo por escopo assegurar as condições do Estado na economia, através das políticas econômicas,
materiais de uma existência digna a todos os cidadãos.” que surgem as grandes questões para as quais se faz indis-
O Executivo, ao estabelecer suas políticas públicas, tem a pensável o controle judicial, especialmente no tocante
garantia de elas serão concretizadas, de fato, ou não passarão aos serviços públicos essenciais.” E combater a miséria
de declarações programáticas, divulgadas em forma de cam- de modo efetivo é um dos serviços públicos, certamente,
panhas midiáticas ou de propaganda política? mais essenciais.
A sociedade não pode ficar à mercê de intenções, • Índice de mortalidade infantil – Apesar
que não se concretizam, de ilusões políticas, frus- da melhora obtida nesta década passada, reduzindo
trando suas expectativas de resolver problemas com em 65% o índice de mortalidade infantil (saindo de
os quais convive secularmente, tais como o próprio 57 para 20, em grupo de 1 mil crianças de até 1 ano),
direito à uma vida digna e segura, ainda tão distante o Brasil ainda é o país com o terceiro maior índice de
de sua consecução em nosso país. mortalidade infantil na América do Sul. A informação

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Artigo

Fortalecer a democracia participativa no Brasil

consta do Relatório sobre a Situação da População relação às gerações futuras de brasileiros? Continuarão
Mundial/ 2008 divulgado pelo Fundo de População condenados à esta fome endêmica? Constitucionalmente,
das Nações Unidas. “De acordo com o estudo, a esti- o Poder Executivo está obrigado a resolver esta questão
mativa para aquele ano (2008), é que, em cada grupo de econômica e social, o que não vem sendo feito a contento.
mil crianças nascidas vivas no país, 23 morram antes Diante desta clara ineficácia dos sucessivos
de completar um ano de idade. O índice brasileiro só governos brasileiros, o Poder Judiciário, que também
não é maior do que o da Bolívia, com 45 mortes, e o está submetido à ordem Constitucional, vem exercendo
do Paraguai, com 32.” Fica no ar a pergunta: as políti- o seu papel diante da omissão do Executivo, frente ao que
cas públicas de saúde estão sendo efetivas? Diante do estabelece a Constituição? Pelo menos em tese, “a vio-
sofrível índice apresentado, poderá o Poder Judiciário lação da Constituição, sempre abrirá as portas da tutela
pressionar o Poder Executivo a cumprir a Constitui- jurisdicional a qualquer questão, por mais política que
ção, garantindo o direito à vida a 23 pessoas/por mil, seja”. A quem recorrer, quando a omissão se dá nos
que equivale a 4 milhões e 370 mil pessoas que mor- três poderes?
rem anualmente no Brasil, antes de completarem um • Índice de doenças endêmicas – Este é
ano de vida? mais um fator determinante do direito fundamen-
É fundamental recordarmos que “embora a formu- tal à vida, que vem sendo negligenciado pelo Estado
lação de uma política pública seja responsabilidade dos brasileiro, omitindo-se ao cumprimento do art. 5º.
poderes Executivo e Legislativo, a sua execução demanda da Constituição. É o que podemos depreender de
um tratamento isonômico que será assegurado pelo declarações emitidas durante recente seminário sobre
Poder Judiciário através de uma concepção substancial saúde pública, que aqui sintetizamos: “devido às bai-
acerca do papel da Constituição.”. Diante da evidente xas condições de moradia do país, cerca de 6 milhões
falta de tratamento isonômico em relação às populações de pessoas estão infectadas pela doença de chagas.
das diversas regiões e classes sociais brasileiras, caberia, (...) Outra doença que não fica de fora da lista dos
portanto, ao Juiz, provocado pelo Ministério Público, problemas emergenciais de saúde pública do país
assegurar o cumprimento deste direito fundamental que é a malária. O Brasil é o país com maior número de
é garantia à vida. casos nas Américas e o terceiro do mundo.” Em pleno
• Índice de subnutrição – O Estado brasileiro século XXI nosso país ainda apresenta mazelas de
tem deixado fora de sua população economicamente saúde pública típicas de séculos atrás, denunciando
ativa um considerável contingente de pessoas, pois a o descompasso entre as ações de saúde preventiva
subnutrição afeta tanto o crescimento físico quanto em relação ao grande avanço da medicina curativa,
o desenvolvimento da inteligência, conforme já com- que é equivalente ao praticado no primeiro mundo,
provado pela própria OMS. Além disso, uma pessoa tanto nos hospitais particulares, quanto nos hospitais
subnutrida em sua infância levará para o resto de sua públicos. Este estado de coisas denuncia o equívoco
vida uma série de deficiências que certamente afeta- do modelo de saúde brasileiro, que há décadas vem
rão a sua qualidade de vida, suas relações sociais e, estabelecendo políticas públicas orientadas predo-
portanto, o exercício de sua cidadania. Portanto este minantemente para o tratamento de doenças, com o
é mais um aspecto do direito à vida que vem sendo patente descaso do Estado para com a prevenção da
negligenciado historicamente pelas políticas públi- saúde.
cas brasileiras. Com base em pesquisas do Programa A Constituição-cidadã, que nos foi outorgada pela
Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PAM), “o Assembleia Constituinte de 1988, criou um divisor de águas
Brasil é o país da América do sul com o maior número entre o Direito tradicional, refém da legalidade formal e o
de subnutridos. São 15,6 milhões de pessoas, ou 9% da Direito moderno, que combina a interpretação da legalidade
população. (...) A situação brasileira, apesar da fome constitucional com as exigências da legitimidade e da efi-
atingir “apenas” 9% da população é considerada das cácia do ato administrativo, orientando-se pela realidade e
mais críticas e paradoxais, porque o país é um dos pelo bem comum. Neste sentido, cabe ao Poder Judiciário
maiores produtores de alimentos do mundo” atuar como estuário final de demandas da sociedade origi-
Mais uma vez perguntamos o que será feito em nadas pela frustração de seus direitos mais fundamentais.

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• Índice de assassinato de jovens – Este é letra morta. Esta é mais uma porta que se abre para a
um indicador típico da vida moderna, que nasce da ação enérgica do Judiciário perante um Executivo que se
escalada da violência urbana, promovida por uma mostra inepto para lidar com esta questão, deixando de
série de fatores, tais como baixa escolaridade, desem- assegurar uma vida segura para seus cidadãos.
prego, precárias condições de moradia, despreparo
técnico e material da polícia, entre outros. O assas- A responsabilidade do Estado
sinato de jovens representa um sofrimento humano e o regime de governo
agudo não só para as famílias que perdem seus filhos, Constatamos, ao longo da rápida análise que fizemos
como também para a sociedade que assiste, impotente, com base nos seis indicadores que, a nosso ver, sinteti-
à quebra abrupta de suas potencialidades econômicas zam os direitos mais fundamentais do homem, que são
e de suas promessas de inovações sociais e culturais, o direito à vida e a segurança, que o Estado brasileiro
representadas por contingentes humanos jovens que não tem sido capaz de dar solução aos problemas vitais
não terão futuro. É aterrador saber que “o índice mais candentes. Ele tem demonstrado grande eficá-
de assassinatos de jovens entre 15 e 24 anos no Brasil cia para orientar e estimular o crescimento econômico,
aumentou 48% na última década, deixando o país em inclusive diante de crises econômicas que têm abalado
terceiro lugar no ranking da Unesco, que considera até mesmo países do chamado primeiro mundo. Entre-
um universo de 60 países com dados comparáveis. Os tanto, nos indagamos se basta termos alcançado o sexto
primeiros países no ranking da Unesco são Colômbia
e Porto Rico. Na população em geral, essa mesma taxa
(número de homicídios por 100 mil habitantes) cres-
ceu 29% no mesmo período.”
Diante desta realidade, o art. 5º da Constituição está
sendo solenemente ignorado, principalmente se salientar-
mos que o assassinato de jovens vem aumentando numa
impressionante taxa de 48% na última década. A omis-
são do Estado, considerando seus três Poderes, é patente.
Suas políticas públicas, cujos destinatários são os jovens,
não têm apresentado resultados consistentes, como pode-
mos depreender com estes indicadores estatísticos.
• Índice de mortes em acidentes de trânsito – Este cons-
titui mais um indicador típico da vida brasileira, cuja PIB do mundo, e estarmos exibindo um crescimento eco-
urbanização tem ocorrido num ritmo muito intenso, nômico razoável, menor apenas do que o ritmo da China,
sem as correspondentes ações governamentais que (segundo a OCDE), e ao mesmo tempo sermos avaliados,
seriam necessárias para evitar este verdadeiro “estado numa relação de 182 países, como o 75º país, em relação
de guerra não declarada” nas cidades e nas estradas. ao IDH - Índice de Desenvolvimento Humano (que com-
O Brasil figura entre os países que possui um dos bina a análise da riqueza com os índices de educação e
trânsitos mais violentos do mundo. E vem mantendo esperança média de vida), segundo recente relatório da
esta indesejável liderança representada pelo elevado ONU-PNUD.
número de mortes provocadas por acidentes de trân- Somos um país cada vez mais rico e mais injusto. Este
sito, que apresentou um incremento de 9% em três é o resultado que obtivemos até hoje em nossa história
anos, segundo dados de avaliação do Ministério da de nação. Uma história recheada de paradoxos e ambiva-
Saúde. “De acordo com o levantamento, 32.753 pes- lências que nos fazem conviver com os piores índices de
soas morreram em consequência dos acidentes em qualidade de vida e de segurança de seus cidadãos, con-
2002, enquanto o número subiu para 35.753 em 2005.” seguindo combinar a concentração da riqueza em alguns
Diante de tamanho descaso com a vida humana, a grupos sociais com a exclusão sistemática de grandes
inviolabilidade do direito à vida e à segurança, preconi- massas populacionais, situadas em regiões, como o norte
zada pelo art. 5o. da Constituição, transformou-se em e o nordeste, e na periferia das grandes cidades.

Maio 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 43


Artigo

Fortalecer a democracia participativa no Brasil

É este o país que queremos deixar de legado para seus direitos fundamentais, por meio da definição e da
nossos filhos e netos? Diante do fraco desempenho das implementação de políticas públicas efetivas, cujos resul-
políticas públicas traduzido por estes seis indicadores tados serão facilitados com a participação da sociedade
de vida e segurança, além de muitos outros não abor- nos processos decisórios do Estado.
dados neste texto, será que, no fundo, estamos diante de
uma grave crise política, ainda pouco percebida em sua Vantagens da democracia participativa
real magnitude? Uma crise que exigirá uma mudança de Em nosso entender, para superar esta situação cala-
segunda ordem, isto é, uma mudança de natureza qua- mitosa, faz-se necessário complementar a prática da
litativa, que reveja princípios, valores e mecanismos de Democracia Representativa, com o uso de mecanismos
nossa democracia, redefinindo as relações mantidas entre viabilizados pela democracia participativa, como já
Estado e sociedade, de modo que esta deixe de se colo- vem sendo feito com sucesso pela Confederação Suíça,
car numa atitude passiva ou meramente reativa, sempre desde 1848. Aquele país tem conseguido combinar, de
esperando um “grande pai” e passe a ser também prota- modo harmonioso, o instituto da representação polí-
gonista de seu futuro? tica com a participação direta de seus cidadãos. Será
É inegável que inúmeras pesquisas têm constatado este o segredo da Suíça para exibir o 7º. IDH mundial,
indícios de falência do regime democrático represen-
tativo em nosso país. Porém, à semelhança do que
ocorre com pessoas que estão prestes a sofrer uma
isquemia cerebral, e continuam a ignorar os sintomas
que seu corpo está lhe informando, tais como fraqueza
em uma perna ou um braço, tontura, visão dupla, difi-
culdade de falar, entre outros e, diante de tal quadro de
risco, por ele considerado apenas um “incômodo pas-
sageiro,” ainda insiste em continuar achando que está
em ótimo estado de saúde, o mesmo pode estar ocor-
rendo com nossa nação, empurrando os problemas
para o próximo presidente, para a próxima legislatura, combinado com o 7º. maior PIB em paridade de poder
para o próximo mandato do Judiciário e assim conti- de compra per capita (PIB-PPP) do planeta (US$
nua a postergar o enfrentamento de situações críticas, 43.193,00), enquanto o Brasil combina seu fraco 75º.
tais como estas que analisamos até aqui, sintetizadas IDH a um, também fraco, PIB-PPP (US$ 10.466,00)
nesta vergonhosa relação 6º PIB/75º IDH, uma equa- que se mantém no 77º. lugar do mundo?
ção insustentável sob todos os aspectos. Os cidadãos suíços não abrem mão do direito de inter-
Enfim, tudo demonstra que já é tempo de se repen- ferir nas decisões de Estado e, até mesmo, de definir, por
sar a relação da sociedade brasileira com o seu Estado, conta própria, como os recursos públicos serão aplicados,
tendo em vista a patente incompetência deste em resol- quais os problemas que deverão ser resolvidos, enfim,
ver os graves problemas nacionais. E isto inclui o Poder como construirão seus futuros, solidariamente, em com-
Judiciário, parte do Estado, com sua tão propalada moro- plemento às decisões legislativas e executivas.
sidade na prestação jurisdicional. Vale aqui ressaltar que “a democracia participativa
Diante da patente incompetência do Estado brasileiro não revoga os fundamentos da democracia representa-
para lidar com estas questões humanas essenciais, além tiva, mas apenas amplifica os instrumento de proteção
do sentimento de angústia e frustração, pode-se perceber direta deste valor constitucional” que está preconizado
uma sensação de impotência e de desalento social, tradu- no art. 1º da Constituição Brasileira: “todo poder emana
zida na lamentação de que “não tem jeito mesmo, só nos do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos
resta esperar”. ou diretamente, nos termos desta Constituição (Art. 1o
Porém, em que pese a tendência cultural “macu- § único).
naímica” à acomodação, cabe à sociedade brasileira Este sistema misto ainda é um tabu político no Brasil,
construir mecanismos que garantam a real satisfação de apesar de já encontrarmos diversos exemplos isolados,

44 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio 2012


tais como os Conselhos Tutelares, os Conselhos de Saúde, Estado para a realização dos direitos fundamentais (e dos
os Conselhos de Direitos Humanos, as Organizações demais direitos) estabelecidos na Constituição brasileira,
Sociais, a prática do Orçamento Participativo em alguns depende de uma mudança de paradigma político. Mudança
municípios, entre outros. esta que irá promover uma nova relação entre a sociedade e
Na Confederação Suíça, a combinação democra- o Estado brasileiro, de modo que aqueles que exercem pode-
cia representativa/participativa já se encontra no “DNA res delegados, em todos os níveis, possam ser controlados
da nação”, desde 16 de novembro de 1848. O Conselho em última instância pelos possuidores originários do poder
Federal (composto pelos sete ministros que irão dirigir fundamental, os indivíduos singulares.”
colegiadamente o país, alternando anualmente sua coor- Afinal os cidadãos criaram o Estado, não para se livrar
denação entre os representantes dos diversos partidos de suas responsabilidades, mas para melhor viabilizar a
majoritários) é eleito pela Assembleia Federal. solução de problemas que a sociedade enfrenta no pre-
A Suíça combina esta estrutura de gestão estatal colegiada sente e enfrentará no futuro.
com uma grande autonomia política de seus 26 Cantões, e Os políticos profissionais precisam entender estas
com a manutenção de duas casas parlamentares (o Conse- questões fundamentais: o Estado não pode continuar
lho Nacional e o Conselho dos Estados) cujos parlamentares sendo loteado, como um grande latifúndio; o mandato
não são profissionais, isto é, não têm dedicação exclusiva à não pode ser um escudo institucional para acobertar prá-
atividade política, pois “a maioria dos deputados e senado- ticas ilícitas; a função pública não pode continuar sendo
res exerce outra profissão na vida privada. Em função do um meio de enriquecimento rápido às custas do erário
mandato que exercem na capital, Berna, eles recebem inde- público; o emprego público não pode continuar sendo
nização de 75 mil francos por ano e por pessoa. Além destes um meio para se conseguir uma gorda e precoce aposen-
mecanismos de controle, os suíços mantém um legislativo tadoria; o gestor público não pode continuar se isolando
comunal, formado diretamente por seus cidadãos, que se em “torres de marfim” burocráticas, apartando-se da
reúne em assembleia pelo menos uma vez por ano, nas 3.000 sociedade que o mantém e para quem trabalha.
Comunas. Em nível dos Cantões, os suíços exercem pelo A solução para estas “doenças políticas” brasileiras
menos quatro vezes por ano o poder deliberativo, típico de é o FORTALECIMENTO DA DEMOCRACIA PARTI-
uma Democracia Direta, comprometendo o povo em deli- CIPATIVA, de modo que a sociedade assuma, de fato,
berações sobre as principais questões nacionais, inclusive o poder que lhe cabe.
encaminhando iniciativas populares de
mudança constitucional e participando
de referendos sobre atos do parlamento
federal.
Será que estamos diante de uma
miragem ou de uma utopia política?
Certamente não, pois ao contrá-
rio de algo “sem lugar”, ou “em lugar
algum”, (utopia deriva do termo grego
“topos”, isto é, “lugar”), o modelo
suíço de democracia representativa/
participativa está bem localizado nos
Alpes europeus e já possui uma histó-
ria de 162 anos (diante dos 122 anos
da República Brasileira), e seus resul-
tados, em forma de PIB ou de IDH,
falam por si mesmos.
A questão central que queremos
realçar é a de que a eficácia das políti-
cas públicas, enquanto instrumentos do

Maio 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 45

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