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Comportamentalismo Radical
Mundo, homem e ética
Copyright © desta edição:
ESETec E ditores A ssociad os, Santo A ndré, 2012.
Todos os direitos reservados
L opes, C.E.
C o n v er sas Prag ma tis tas sobre C o m p o rta ment alism o R a d i c a l, C arlos Eduardo
L o p e s . C a r o l i n a L a u r e nt i e J o s é A n t ô n i o D a m á s i o A b i b . 1. ed, S u m o A n d r é . SP:
E S E T e c F d ii o r e s Associados. 10) 2.
176p. 2 1 cm
1. Pragm atism o
2. C o m p o rtam en talism o R adical
3. A n álise do C o m p o rtam ento
C D D 155.2
CD U 159 .9 .0 1 9 .4 IS B N 97 8 8 5 7 9 1 8 0 3 8 5
Comportamentalismo Radical
Mundo, homem e ética
ESETec
2012
A Miryam Mager,
Apresentação.................................................................................9
Introdução.....................................................................................15
Capítulo 1
Da Ação ao Comportamento........................................................ 19
Capítulo 2
Visão de Mundo Pluralista............................................................43
Capítulo 3
Homem Complexo........................................................................85
Capítulo 4
Ética sem Absoluto.....................................................................131
Referências.................................................................................167
No Rastro de Aristóteles
James (1907/1988) diz o seguinte sobre a origem do teimo
pragmatismo: “uma olhadela na história da ideia mostrará melhor
o que significa pragmatismo. O termo é derivado da mesma palavra
grega Jipay^ia, que significa ação, da qual vêm nossas palavras
‘prática’ e 'prático” ’ (p. 26). James está dizendo que os termos
22 Carlos Eduardo Lopes, Ca rol ina Laurenti e José Antônio Damásio Abib
é diferente da ação. Uma ação que vise à felicidade como um fim, e
não como meio para outro fim, só pode ser uma ação feliz. A ação
prática é um fim em si, e como o fim pode ser bom ou mau, a ação
também pode ser boa ou má. A ação prática boa é a sabedoria
prática, que Aristóteles atribui a “Péricles e a homens como ele,
porque percebem o que é bom para si e para os homens em geral:
pensamos que homens dotados de tal capacidade são bons
administradores de casas e de Estados” (p. 144).
O princípio racional deliberativo é, enfim, a fonte da ação
produtiva (Aristóteles, s.d./l 979). De modo similar à ação prática,
a ação produtiva é mover-se com um fim em vista. É o que diz
Aristóteles em uma passagem sobre a deliberação. Ela, a deliberação,
“vale também para o intelecto produtivo, já que todo aquele que
produz alguma coisa o faz com um fim em vista” (p. 142). Mas a
ação produtiva não é um fim cm si: ela tem um fim que é diferente
de si mesma. Passando a palavra a Aristóteles: “ao passo que o
produzir tem uma finalidade diferente de si mesmo, isso não acontece
com o agir, pois que a boa ação é o seu próprio fim” 1(p. 144). Na
ação produtiva, o fim é externo à ação, o fim é restrito, pois é
dependente de produções particulares, o que se deseja é o fim. Na
ação prática, o fim é interno à ação, o fim é irrestrito, pois não
depende de produções particulares, o que se deseja é a própria
ação. Na ação produtiva o intelecto é produtivo; na ação prática o
intelecto é prático. Eis o que diz Aristóteles: “só o que se pratica é
um fim irrestrito, pois a boa ação é um fim ao qual visa o desejo” (p.
142). O fim na ação prática não é externo à ação. O fim na ação
produtiva é externo à ação.
O próximo passo de Aristóteles (s. d./1984b) consiste em
diferenciar a episteme da doxa: a doxa refere-se à opinião e à crença,
Pragmatismo
Joas (1993) declara que o pragmatismo concebe a ação
humana como ação criativa. O pragmatismo seria desse modo uma
filosofia da ação criativa. Mas se trata de criatividade situada. Em
suas palavras, a “criatividade está sempre encerrada em uma
* Talvez nem isso. Koyré (1957/1979) assinala que a revolução científica moderna,
que ocorreu nos séculos XVI e XVII, originou uma crise na consciência europeia que
consistiu, entre outras coisas, na passagem da scientia contemplativa à scientia activa.
Essa transição “transformou o homem de espectador da natureza em seu possuidor
e mestre” (p. 7). Segundo Rossi (1989), a defesa das artes mecânicas entre 1400 e
1700 im plicava “o abandono da concepção de ciência com o desinteressada
contemplação da verdade” (p, 17). Referindo-se à tecnociência, Sibilia (2003) afirma
que “existiria um ‘programa tecnológico oculto’, como assinala Hermínio Martins, de
maneira que a sua fecundidade nessa área não seria um mero subproduto da ciência...
mas o seu objetivo primordial” (pp. 47*48). Rorty (1990/1993) declara que o abandono
da versão contemplativa do conhecimento significa o “abandono da distinção aparência/
realidade” (p. 9). No entanto, ressaltamos que Aristóteles (s.d ./l979, s.d./1984b,
s.d./1985) referiu-sc a contemplar coisas invariáveis e a contemplar coisas variáveis.
Comportamentalismo
A noção de ação situada transforma o conceito de ação
porque limita a vontade soberana do sujeito na explicação da ação.
A ação é, portanto, comportamento, se for situada. Se não for, não
Epílogo
O pragmatismo configura-se como uma filosofia original
da ação ao transformá-la em comportamento. Skinner radicalizou
o conceito de comportamento ao elevá-lo ao papel de protagonista
do debate do homem com o mundo ao mesmo tempo em que
deslocou os processos mentais e neurais para o papel de
coadjuvantes. O solo estava preparado por James, Dewey e Mead.
Não é o Sol que gira em tomo da Terra. É a Terra que gira em
tomo do Sol.
9 Essa conclusão parece reiterada quando alguns trechos do próprio texto jamesiano são
considerados de modo descontextualizado, como por exemplo: “quanto ao termo
‘pragmatismo’, eu mesmo tenho apenas usado-o para indicar um método de levar uma
discussão abstrata” (James, 1909/1970, p. 51); ou ainda: “é somente um método”
(James, 1907/1988, p. 28).
CON VER SAS Pragmatistas sobre Com porta mental ismo Radical 47
Pragmatismo e visão de mundo
Seguindo o método pragmático, essa questão deveria ser
compreendida pautando-se nas possíveis consequências práticas
envolvidas na adoção de uma visão de mundo. Trata-se de indagar
sobre a utilidade de uma visão de mundo. Será que acreditar que o
mundo é de uma forma ou de outra faz diferença? Talvez uma
pergunta anterior seja esta: é possível agir de modo efetivo no mundo
sem qualquer crença sobre o mundo?
Para responder essa questão é preciso trazer à baila a noção
de crença, em especial, a relação entre crença e hipótese na proposta
jamesiana (James, 1897/1912). Embora o assunto seja complexo,
para os propósitos deste texto basta saber que crença é uma hipótese
viva, uma hipótese que se apresenta como real para uma pessoa, o
que quer dizer que ela desperta, nessa pessoa, uma disposição para
agir de determinada maneira; por outro lado, uma hipótese morta é
aquela que gera indiferença, não sendo, portanto, acompanhada por
qualquer disposição de agir. Nesse sentido, há uma íntima relação
entre crença e ação, de modo que não há crença que não envolva
ação. É isso que James (1897/1912) parece querer dizer quando
afirma que: “[as condições de morte e de vida de uma hipótese] são
medidas pela disposição do indivíduo para agir. O máximo de vida
em uma hipótese significa disposição irrevogável para agir. Em termos
práticos, isso significa crença; mas há alguma tendência de acreditar
sempre que há alguma disposição para agir” (p. 3).
Isso conduz a uma segunda constatação, a de que as
crenças estão na base das ações motivadas. A crença é a motivação
para agir de uma determinada maneira. Dessa forma, as decisões
tomadas, no sentido de agir de uma maneira ou de outra, são
condicionadas por crenças, por hipóteses vivas. Essas ações
motivadas produzem, por sua vez, resultados que, se forem
satisfatórios, mantêm a hipótese viva, e, se forem frustrantes,
enfraquecem a hipótese, podendo, no limite, matá-la completamente.
"James tenta evitar que isso o conduza ao idealismo absoluto (Conant, 1997/2010).
Se, por um lado, projetamos nossas ações no mundo, por outro, o mundo mais cedo
ou mais tarde oferecerá alguma resistência a nossas ações. A questão importante é:
como entendemos essa resistência? Ou, que importância damos a ela? Muitas ve?es
nossa visão dc mundo é tão enraizada, é tão dogmática, que agimos ignorando essa
resistência; olhamos para o mundo como se nossa visão não tivesse qualquer oposição.
N esse contexto, a proposta do pragmatismo c tentar “olhar também para o outro
lado”, buscar uma visão de mundo mais inclusiva, menos dogmática (James, 1907/
1988, 1909/1970). Discutiremos esse ponto no decorrer do texto.
15 Na segunda meditação, Descartes (cf. 1641/1973. pp. 104-106) apresenta esse argumento
mostrando que mesmo que todas as propriedades sensíveis de um pedaço de cera possam
mudar (cor, formato, cheiro, gosto etc.), a cera continua existindo como tal. Disso o
filósofo conclui que a verdadeira cera só pode ser conhecida pelo entendimento e não pela
percepção ou pela imaginação: “só concebemos os corpos pela faculdade de entender em
nós existente e não pela imaginação nem pelos sentidos, e não os conhecemos pelo fato de
os ver ou de tocá-los, mas somente por os conceber pelo pensamento” (p. 106).
CON VER SAS Pragmatistas sobre Com porta mental ismo Radical 67
Elas continuam sendo teorias! Quando se olha para o mundo vivido
destacando suas regularidades, uma parte igualmente real é também
ignorada. Afinal, nada seria encontrado se se olhasse para o mundo
em busca de descontinuidades, de tragédias, de erros, de
imprevisibilidade, desvios, rupturas?
Novamente, na raiz do problema encontra-se uma visão
de mundo monista. Como foi discutido alhures, o monismo considera
o mundo uma grande unidade, sem rupturas, desvios, ruídos. O
problema é que o mundo vivido não se ajusta completamente a
essa unidade, levando o monista a afastar-se cada vez mais dele em
favor da integração teórica. Assim, quanto maior a exigência de
integração, menos o mundo vivido pode ser considerado. Ora, o
monismo não é outra coisa senão a exigência de integração total, o
que tem como contrapartida um rebaixamento ontológico do mundo
vivido: ele não é real, ele encobre o mundo real.
Dc um-ponto de vista comportamentalista, seguir o
monismo seria sinônimo de considerar as regras como mais
importantes ou reais do que as contingências. Seria retirar a
efetividade do comportamento modelado por contingências, em
favor de regras precisas e necessárias. A efetividade dc uma regra
depende, entre outras coisas, de sua clareza, de sua não
ambiguidade, de uma especificação mais clara possível da relação
entre ação c consequência. Por outro lado, a contingência opera no
campo das possibilidades, probabilidades, tendências. Se a regra
descreve uma relação “se..., então..,”, a contingência parece dizer
“se..., então, provavelmente,...”. Nesse sentido, é interessante notar
que a própria noção de contingência opõe-se filosoficamente a uma
interpretação monista, na medida em que, pelo menos desde
Aristóteles, contingente quer dizer não-necessário (cf. Ferrater
Mora, 1994/200la, pp. 567-568).
Crítica à imutabilidade
A conciliação pluralista entre regularidade e variabilidade,
negando, consequentemente, a existência de princípios absolutos,
parece encontrar guarida no modelo de explicação de seleção pelas
consequências (Skinner, 1981). Em primeiro lugar, entende-se que
a regularidade observada no comportamento é produto de um
processo de seleção de variações, e nesse sentido a regularidade
deriva da variabilidade, e não o contrário18. Isso inviabiliza a defesa
de um mundo completamente regular e previsível, no qual a mudança
seria mero acidente de algo imutável mais primordial, uma substância
(i) Uma espécie particular não tem olhos para que seus
membros vejam de maneira mais eficiente; ela os tem
porque certos membros, passando por variação, puderam
ver melhor e, como consequência, tiveram mais chances
de transm itir a variação, (ii) As consequências do
com portam ento operante não são a finalidade do
comportamento atual; elas são simplesmente semelhantes
às consequências que m odelaram e m antiveram o
co m p o rtam e n to , (iii) A s p e sso a s não exercem
determinadas práticas para que o grupo tenha maiores
chances de sobreviver; elas as exercem porque grupos
que induziram seus membros a exercê-las sobreviveram
e as transmitiram, (p. 479)
Em suma, no com portam entalism o skinneriano o
funcionamento do comportamento parece ter notáveis afinidades
com uma visão de mundo pluralista. O comportamento não é descrito
com referência a um princípio imutável regulador, uma substância
atemporal que percorreria o tempo. Nem recorre a um início pré-
determinado, a um agente iniciador, ou a uma força propulsora que
*******
CON VER SAS Pragmatistas sobre Com porta menta lismo Radical 81
acontecimentos como: guerras, sustentadas pelo desenvolvimento
bélico, que massacram países inteiros; doenças decorrentes do uso
abusivo de vacinas e antibióticos; montanhas de lixo produzidas
por indústrias e usinas nucleares; acidentes ambientais? Será que
isso tudo é mero desvio de um claro e verdadeiro desenvolvimento?
Se a resposta for não, então estamos do lado do pluralismo. É
preciso admitir que esses “refugos” do desenvolvimento são reais,
ver o mundo não como uma sucessão linear e progressista, mas
admitir que seja também desvio, erro, imprevisibilidade. Não se
trata, portanto, de pensar o futuro como um desenrolar linear do
presente, mas de considerar sua complexa dinâmica, na qual um
elemento de imprevisibilidade é insuperável. Essa recomendação
pluralista é compartilhada por Morin (1981/2010), que fomece uma
bela descrição da relação entre presente e futuro:
Rorty
2: Em seu livro Behaviorismo radical: crítica e metacrítica, Carrara (cf. 2005, pp.
J47-361) arrola essas críticas e avalia uma a uma a pertinência delas.
25O termo natural será empregado aqui no sentido amplo de oposição à sobrenatural.
26 Skinner (cf. 1989, p. 28) invocou a metáfora das máscaras para dar relevo à ideia de
que uma pessoa e nada mais que um conjunto de repertórios comportametitais
construídos ao longo da vida do indivíduo; “ao vestir diferentes máscaras, ele [o ator]
poderia interpretar diferentes papéis, Contingências de reforçamento operante têm
efeitos bastante similares” (p. 28). Contudo, tendo em vista as afinidades entre a
metáfora das máscaras e o substancialismo, por um lado, e a crítica skinneriana a essa
filosofia, por outro, pode-se concluir que aquela nào é uma boa metáfora para entender
a pessoa como uma pluralidade de padròes comportamentais. A noçào de rostos, e
nâo a de máscaras, parece ser mais apropriada para esclarecer a acepção de pessoa em
uma perspectiva comportamentalista radical.
27 Vaie lembrar que Skinner (cf. 1953, pp. 35-42; 1971, pp. 217-218) considera
causalidade, causa e efeito termos bastante desgastados na ciência. É provável que as
aspas, usualmente empregadas quando cita essas palavras, justiflquem-se pelo fato
de ele defender uma relação de dependência entre tipos de eventos distinta. Skinner
(1953) propõe a substituição de causalidade por relação funcional, e dc causa c efeito
por variável independente e dependente, respectivamente.
100 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Damásio Abib
Homem e mundo: antinomia?
Asseverar a liberdade, a atividade e a responsabilidade
do homem em uma perspectiva comportamentalista radical pode
soar contraditório. Ora, como defender a ideia de um homem livre,
ativo e responsável, na teoria skinneriana, diante de enunciados tais
como aqueles citados no início deste capítulo? Vale recuperar alguns
deles agora: “... é o ambiente que age sobre quem o percebe, e não
a pessoa que percebe que age sobre o ambiente” (Skinner 1971,
p. 188); ou ainda: “uma pessoa não age sobre o mundo, o mundo
age sobre ela” (p. 211).
Considerando a critica de Skinner (1971,1981,1989) à
teoria do homem autônomo, talvez esses trechos adquiram outro
significado. Cabe ressaltar que no contexto da discussão skinneriana
o que está sempre em jogo é uma teoria específica de homem, a de
homem autônomo ou agente iniciador, e não a concepção de homem
per se. Convém chamar a atenção para o movimento “dialógico”
que caracteriza o já mencionado capítulo, O que è o homem?.
Skinner (1971) inicia o texto apresentando uma tese que será
criticada por ele: o homem autônomo origina o comportamento.
Na sequência apresenta outra: “o agente autônomo, ao qual o
comportamento foi tradicionalmente atribuído é substituído pelo
ambiente” (Skinner, 1971, p. 184). Ele dá vários exemplos que
ilustram como o ambiente pode assumir a função do homem
autônomo na explicação de uma série de fenômenos psicológicos,
tais como: agressão, traços de caráter, atividades cognitivas
(atenção, percepção, discriminação, abstração, generalização,
memória, pensamento, conhecimento, consciência), sentimentos,
motivação, intenção e propósito, moralidade e ética, e a própria
noção de Eu (cf. Skinner, pp. 185-199).
Tudo leva a crer que a proposta skinneriana restringir-se-
á a isto: a substituição do homem autônomo pelo ambiente, e a
102 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Damásio Abib
À semelhança de James, Skinner (1971) articula homem e
mundo em uma perspectiva inteiramente relacional: não há homem
sem m undo, tam pouco m undo sem hom em . A qui, o
comportamentalismo skinneriano mostra seu caráter radical: o homem
é definido na relação comportamental. O que é o homem, então, se
não for o homem autônomo? O homem é processo, ainda que exiba
regularidade; é livre, mesmo dependendo do mundo; é ativo, embora
não inicie o comportamento; é responsável, malgrado não seja o
causador exclusivo de seus próprios atos.
O conceito de homem no comportamentalismo radical
parece ainda suportar outras acepções. Há dimensões mais concretas
do homem que podem ser divisadas na teoria skinneriana. Há faces,
rostos, e não máscaras. Nesse caso, o mote não é buscar aquilo que
se esconde por detrás do que aparece, aquilo que perdura nas
mudanças, tal como faz o substancialismo. Diferente disso, a filosofia
skinneriana busca as faces do homem na relação com o mundo.
104 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Damásio Abib
Inscrito em um mundo físico-natural, o homem assume
uma estrutura física constituída por elementos subatômicos, átomos,
moléculas - embora não possa ser entendido exclusivamente com
base nessa condição. Complementando Skinner (1981), o homem
parece estar, antes de tudo, situado em um mundo cósmico,
compartilhando com o universo os elementos constituintes da matéria
terrestre e universal, bem como a sua característica de ordem e
desordem, regularidade e variabilidade (Peirce, 1892/1992). Nessa
dimensão o homem já apresenta uma face física.
Mundo vivo-natural
Homem orgânico
Situado agora em um mundo vivo-natural, o homem
adquire outras faces. O homem é um “macaco nu” (Skinner, 1971,
p. 196), no sentido de que é um organismo, com uma constituição
genética e estrutura anatomofísiológica, e com um repertório inato
de comportamento (reflexos incondicionados e instintos). Esse
organismo bioquímico e comportamental segue uma ascendência
comum com outros animais, especialmente símios. Todo esse
conjunto é usualmente chamado de “natureza humana”. Skinner
(1971) tem ressalvas com respeito a essa expressão, e também
com a de “constituição genética” (Skinner, 1974). Elas podem sugerir
a ideia que são algo que o organismo possui. Na perspectiva
skinneriana, o organismo humano compartilha com outras espécies
uma história evolutiva que não é armazenada; essa história “muda
um organismo, mas não é armazenada nele” (p. 196). Quando
fisiologistas e anatomistas esquadrinham um organismo humano, “não
vão encontrar um macaco, ou um touro, e nem mesmo instintos.
Encontrarão, sim, características anatômicas e fisiológicas que são
produto de uma história evolutiva” (p. 196) - enfim, o que eles
veem não é essa história, mas o produto dela.
106 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Damásio Abib
aspectos mais estáveis e constantes do ambiente criou condições
para o surgimento de comportamentos sociais, que se verificam
não só em humanos, mas também em outras espécies sociais. Skinner
(1981) exemplifica: “muito do comportamento estudado por
etólogos - a corte, o acasalamento, o cuidado dos filhotes, a
agressão intraespecífíca, a defesa do território, e assim por diante -
é social” (p. 501). Isso quer dizer que o ambiente social não é uma
exclusividade humana.
A relação das espécies, não-humanas e humanas, com o
ambiente natural e social tomou-se diferenciada com a fabricação e o
uso de instrumentos. Por exemplo, a obtenção de alimentos, bem
como a defesa do território contra outras espécies, poderiam ser
mais efetivas por meio do uso de ferramentas, como varas, paus e
pedras, e, posteriormente, com o emprego de foices, martelos, e
machados pela espécie humana. O potencial transformador do uso
de instrumentos se faz notar de modo evidente com a tecnologia
produzida pelo homem. Em um contexto mais recente de evolução
da cultura, a ação produtiva tomou o homem capaz de responder a
pequeníssimas coisas de seu mundo com o uso de um microscópio
eletrônico, ou responder a objetos de dimensões cósmicas com o
emprego de telescópios; pode agir sobre o mundo com a “precisão
delicada de um micromanipulador ou com o poder e alcance de um
foguete espacial” (Skinner, 1971, p. 202). Com barcos, carros,
aviões, e outros meios de transporte, o homem pode acelerar a
realização de tarefas cotidianas. Nesse sentido, pode-se dizer que o
homem é homo faber, ação produtiva, na medida em que sua ação
transforma mecanicamente, ou melhor, tecnologicamente, o mundo.
Não obstante, na perspectiva skinneriana, não é a
tecnologia que diferencia os homens das demais espécies. O avanço
tecnológico só se tomou possível por meio do comportamento que
emergiu quando a musculatura vocal passou a sofrer influência do
108 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Damàsio Abib
comportamento verbal, novas “coisas”, ou mais especificamente,
novas relações do homem com o mundo também são criadas, como
se verá adiante. O homem é, pois, ação verbal. Não obstante, a
analogia do comportamento verbal com o uso de instrumentos pode
ser enganadora: o comportamento verbal não é um instrumento ou
ferramenta no sentido de ser empregado para expressar algo, como
uma ideia, intenção, estado ou sentimento. A palavra água não é uma
ferramenta utilizada pelo homem para expressar um estado de sede
com vistas a conseguir um copo de água, à semelhança de alguém
usar um instrumento de alcance para obtê-lo. A teoria skinneriana do
comportamento verbal não é uma teoria de expressão de ideias.
A teoria do comportamento verbal também não é uma teoria
referencialista ou semântica do significado, pois o comportamento
verbal não se refere ou alude a algo além das relações do homem
com o mundo, como uma ideia, pensamento, ou sentimento
decorrentes de uma substância mental, ou mesmo um objeto no mundo
extemo, entendido como expressão de uma substância material. Trata-
se, pois, de uma teoria funcional do significado, no sentido de que o
significado de uma ação verbal encontra-se nas consequências que
ela produz (cf. Skinner, 1957, pp. 13-14). Desse modo, o significado
da palavra água não se refere a um estado mental ou fisiológico (a
depender da interpretação) de sede. A ação verbal “água”, mesmo
ocorrendo sob um estado motivacional de privação de líquidos, não
é explicada exclusivamente por esse estado, mas principalmente
porque sua emissão produziu consequências no mundo: a obtenção
de um copo d’ água no passado. O significado de uma ação verbal
está, pois, na relação com o mundo.
Homo sapiens-demens
Com o comportamento verbal, as pessoas tomaram-se
capazes não só de mostrar aos outros o que fazer - algo que, em
110 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Damásio Abib
também responde às condições mais ou menos específicas de seu
próprio corpo, que, por sua vez, são efeitos colaterais da relação
do homem com o mundo. A constituição de uma sensibilidade a
essas condições corporais parece ter sido fundamental para a
sobrevivência do organismo. Mas, com o comportamento verbal,
o homem toma-se capaz de responder verbalmente às suas
condições corporais, ele pode descrevê-las ou “introspectá-las”.
Nesse sentido, Skinner (1974, 1990a) não nega a introspecção;
nega uma concepção tradicional daquilo que é “introspectado”, pois
o que é introspectivamente observado não é uma mente imaterial.
Presumivelmente também não é o cérebro, pois o homem não dispõe
de “nervos sensoriais indo até partes importantes do cérebro; um
cirurgião pode operar sem anestesia” (Skinner, 1990a, p. 1207). O
que o homem vê quando “introspecta” é o seu corpo se comportando
(Skinner, 1974); ou “é mais provável que o que vemos por meio da
introspecção sejam os estágios iniciais do nosso comportamento,
os estágios que ocorrem antes que o comportamento comece a
agir sobre o meio” (Skinner, 1990a, pp. 1207-1208).
O processo de ensino da discriminação verbal dessas
condições corporais foi um tema recorrente na obra skinneriana
(cf. Skinner, 1945/1984, 1953, 1957, 1969, 1974). Com essa
discussão, Skinner (1974) tentou mostrar como seria possível tratar
questões tradicionalmente subjetivas de forma não mentalista,
respondendo, assim, a críticas que consideravam sua proposta
incapaz de fazê-lo. Como mencionado alhures, o ponto de partida
desse debate é a defesa de que o que “vemos” introspectivamente
não é de uma natureza especial, não é sobrenatural. Trata-se de
condições corporais. Na origem do processo de discriminação
verbal dessas condições corporais está uma série de perguntas feitas
pela comunidade verbal, que organiza condições para que o homem
fale sobre o que está acontecendo com seu corpo enquanto se
112 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Damásio Abib
verbalmente o comportamento dos outros c dc si mesmo e, com
isso, toma-se capaz de planejar, calcular, julgar situações de sorte
que mude os outros e a si próprio.
O homem c sapiens, mas também é demens. É loucura,
intuição, fé, impulso. Na perspectiva skinneriana, a loucura pode
ser entendida como uma tendência a se comportar sob controle
exclusivo de reforçadores básicos, como comida e sexo (Skinner,
1974). Desse ponto de vista, não há uma oposição irredutível entre
razão e loucura: “eles [os reforçadores básicos] não precisam ser
suprimidos pela razão; ao contrário, eles podem tornar-se
amplamente mais efetivos” (p. 131). Já a intuição c a fc dizem respeito
a contingências não analisadas (Skinner, 1974). Respondendo aos
seus detratores sobre esse assunto, Skinner declara: “mas se
comportar de modo intuitivo, no sentido de se comportar como o
efeito de contingências não analisadas, é o exato ponto de partida
de uma análise comportamentalista” (p. 132). E sobre a fé enuncia:
“é uma questão da força do comportamento resultante de
contingências que não foram analisadas” (p. 133). Já o impulso ou
“comportamento impulsivo é o efeito direto de contingências” (p.
133), isto é, um comportamento que não sofre influência de regras,
um comportamento exclusivamente modelado por contingências
(Skinner, 1969). O homem é, pois, ação consciente e ação irrcfletida.
Sapiens e demens remetem a repertórios comportamentais distintos,
mas inseparáveis: sapiens analisa demens, e, por vezes, demens
são os motivos de sapiens.
Eu
Com o comportamento verbal, a sociedade produz
consciência, autoconhecimento e, cm última instância, o próprio Eu.
Em uma dada acepção, o Eu é entendido como um conjunto de
condições corporais sentido ou introspecti vãmente observado: “o
Eu”, aqui, “é como a pessoa sente'' (Skinner, 1989, p. 28). Mas o
Mundo individual
Pessoa biográfica
Universo, natureza e cultura ainda não sao capazes de
elucidar o humano. Há ainda outra dimensão mundana na qual o
homem está situado: o mundo de sua história individual, a sua
114 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Damásio Abib
biografia. É certo que sem a evolução da espécie e da cultura não
haveria indivíduo, mas também sem indivíduo não haveria nem
espécie nem cultura. Uma passagem longa, mas esclarecedora,
resume o ponto:
Uma espécie não existe exceto como uma coleção de
indivíduos, do mesmo modo que não existe uma família,
tribo, raça, nação, ou classe. Uma cultura não existe à
parte do comportamento dos indivíduos que mantêm suas
práticas. É sempre um indivíduo que se comporta, que
age sobre o ambiente e é modificado pelas consequências
de sua ação, e que mantém as contingências sociais que
são uma cultura. O indivíduo é o veículo tanto de sua
espécie quanto de sua cultura. Práticas culturais, assim
como traços genéticos, são transmitidos de indivíduo para
indivíduo. Uma nova prática, como um novo traço
genético, aparece primeiro em um indivíduo e tende a
ser transmitido se contribuir tanto para sua sobrevivência
quanto para o indivíduo. (Skinner, 1971, p. 209)
Nesse contexto, emerge a face pessoal e singular do
homem: “em uma análise comportamentalista, uma pessoa [itálicos
nossos] é um organismo, um membro da espécie humana que
adquiriu um repertório de comportamento” (Skinner, 1974, p. 167);
ou uma “personalidade”, que é, “na melhor das hipóteses, um
repertório de comportamento compartilhado por um conjunto
organizado de contingências” (p. 149). Sendo assim, um homem
pode exibir diferentes pessoas ao longo de sua vida, ou mesmo
contemporaneamente.
Essa possibilidade gera conflitos, ou as conhecidas crises
de identidade, principalmente quando as situações nas quais esses
repertórios emergem se interpenetram (cf. Skinner, 1971, p. 199).
Por exemplo, um repertório comportamental constituído no ambiente
familiar pode gerar consequências aversivas quando o indivíduo muda
de cidade e vai morar longe dos pais, sozinho ou com outras
Pessoa corporal
E também no âmbito da história de vida que se constitui a
pessoa como um corpo próprio. No decurso dessa história, desde
muito cedo, o organismo passa a responder de maneira diferencial
aos limites de sua própria estrutura física. Nessa situação, um corpo
próprio é então constituído, contribuindo para a emergência de outra
dimensão do homem. Trata-se, de um homem pré-verbal, que surge
mesmo antes da comunidade verbal ensinar esse indivíduo a falar.
Cria-se, assim, uma face corporal, graças a uma contingência
discriminativa bastante estável, a qual o organismo está exposto
praticamente desde o seu nascimento. Nas pal avras de Skinner (1971):
116 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laureníi e José Antônio Damásio Abib
comporta, percebe e sente o corpo agindo. Essa vinculação entre
corpo e comportar-se cria uma primeira identificação entre indivíduo
e seu corpo, dando origem ao que se pode chamar de uma face
corporal. No entanto, vale destacar que, nesse ponto, o corpo não
tem uma pessoa, o corpo é uma pessoa: “o quadro que resulta de
uma análise científica não retrata um corpo com uma pessoa dentro,
mas sim um corpo que é uma pessoa, no sentido de que exibe um
complexo repertório de comportamento” (Skinner, 1971, p. 199).
A emergência da pessoa no interstício do universo, da
natureza e da cultura é assunto da psicologia, e, por conseguinte, da
Análise do Comportamento. Nesse contexto, delineia-se o assunto
da psicologia: intencionalidade, “personalidades”, “identidades”,
mudanças, diferenças, conflitos, crises, sentimentos, e também o
corpo. Ressalta-se, aqui, que a face corporal não se identifica
necessariamente com a face orgânica: esta é tema da fisiologia, aquela
da psicologia. Com efeito, problemas corporais, tais como, transtorno
dismórfico corporal, bulimia, anorexia, não devem ser entendidos
exclusivamente em termos de disfunções orgânicas, fisiológicas,
cerebrais ou genéticas, mas, principalmente, em termos de formas de
relações tecidas ao longo da história do indivíduo, que construíram
um corpo que lhe causa dano e sofrimento.
Pessoa intencional
A face pessoal c explicada por contingências estáveis que
selecionam padrões comportamentais estáveis; nesse ponto cria-se
também uma identificação entre o indivíduo e o que ele faz. Em
outras palavras, a pessoa também se constitui como um conjunto
de crenças, ideologias, filosofias, gostos, e humor particulares, que
nada mais são do que padrões comportamentais relativamente
persistentes. Da mesma maneira que o corpo, a pessoa não possui
esse conjunto, ela é esse conjunto de tendências, que foi construído
no curso de sua vida (Skinner, 1971).
118 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
ser-para-a-morte. A morte, para o individualista, significa “o projeto
da aniquilação pessoal” (Skinner, 1971, p. 210). Ele não encontra
conforto diante da possibilidade de uma contribuição subsistir a
ele; seja uma contribuição para o outro do presente ou do futuro.
Situar o homem no mundo exige o enfrentamento de sua
condição terrena. O homem é um ser finito. Como lidar com essa
limitação? Buscar condições para viver mais e melhor é uma coisa,
viver a qualquer custo parecc ser outra. Enfrenta-se a finitude
buscando a vida eterna? O Santo Graal? A obsessão pela
longevidade não seria uma reedição da visão do homem como
imagem e semelhança de Deus? À similitude de seu Criador, o
Homem não deveria conquistar a eternidade? O Homem não seria
superior aos outros animais, pois, diferente deles será um dia capaz
de resistir à própria morte?
Skinner (1971) parece sugerir que essa condição passageira,
efêmera, temporal reclama do homem um “sentido de limite” ou
“sentimento de finitude”30. Ainda que não esgote a condição humana
na natureza e tampouco na cultura, mesmo que reserve à história do
indivíduo um importante papel na definição das particularidades do
humano, Skinner (1971) logo situa o homem em sua condição terrena:
“mas o indivíduo, contudo, permanece meramente como um estágio
em um processo que teve início muito antes de ele ter nascido e que
perdurará muito tempo depois dele” (p. 209).
Enfrentar a finitude humana envolve o reconhecimento de
uma diversidade de coisas que diferem do humano e que precisam
ser respeitadas; exige o reconhecimento de que este mundo subsistirá
ao homem contemporâneo, e que, portanto, as consequências de
suas ações afetarão não só as pessoas do presente, mas também as
do futuro. Há, então, uma maneira de lidar com a morte, com a
120 Ca rios Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
É preciso considerar o destino multifacetado do humano.
Uma coisa parece ser ponto pacífico: é preciso que o homem mude
seu modo de relação com o mundo para que garanta a sua própria
existência e a do próprio mundo. Enfim, é preciso que se mude o
comportamento humano. Isso não é tarefa fácil. O homem é capaz
de enviar humanos e não humanos à lua, almejando até habitar outros
planetas, mas é ainda incapaz de garantir moradia a todos na Terra;
a tecnologia de alimentos avança a ritmo galopante, mas a fome
ainda assola milhões de pessoas no mundo todo; o homem é capaz
de gerar riqueza de fontes abstratas, como o próprio conhecimento
e a informação, mas milhões de famílias ainda sc encontram em
uma condição degradante abaixo da linha da miséria.
Do que o homem precisa para mudar seu comportamento?
É necessária uma nova teoria sobre cie? Seria uma concepção
científica de homem a solução para os problemas humanos? Skinner
(1971) conta que a física e a biologia avançaram quando formas
tradicionais de explicação de seus fenômenos foram abandonadas:
abdicaram de invocar espíritos, essências, forças, planos, para
recorrer a fenômenos naturais traduzidos em conceitos e leis. As
ciências humanas estariam dispostas a fazer o mesmo no tocante ao
homem? Isso pode soar ultrajante, conduzindo ainda “a uma vaidade
ferida, a sentimentos de desesperança e nostalgia” (Skinner, 1971,
p. 215).
Não obstante, Skinner (1971) pondera: “mas nenhuma
teoria muda o seu objeto; o homem continua a ser o que sempre
foi” (p. 215). O arco-íris, comenta Skinner, não deixou de ser belo
depois da teoria da luz de Newton. “O passarinho continua comendo
minhoca” (I. Pessotti, comunicação pessoal, 9 de setembro de
2011), mesmo depois de ser batizado de Philohydor lictor. O
homem continua a ser o que sempre foi mesmo depois de ser
designado como homo sapiens. Skinner (1971) esclarece:
122 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
A ênfase demasiada no indi víduo é uma faca de dois gumes:
de um lado, poderia ser usada a favor da libertação política, religiosa
e econômica. Por exemplo, um governante despótico poderia ser
derrubado apenas convencendo o indivíduo de que aquele é a fonte
de poder coercitivo responsável pela sua condição de dominação
(Skinner, 1978). Por outro lado, a centralização no indivíduo pode
gerar o seu “excessivo engrandecimento” (p. 54), legitimando o direito
de satisfazer suas necessidades de riqueza, bem-estar, prazer, e
felicidade a qualquer custo, às expensas dos recursos naturais, em
detrimento dos outros do presente e, principalmente, da geração futura.
Assim, no contexto da teoria do homem autônomo, a
reivindicação dos indivíduos pelos seus direitos pode se traduzir,
como se testemunha na sociedade contemporânea, no seu direito
de consumir; o homem toma-se homo consumens. Liberdade,
altcridadc, c respeito podem dar lugar, respectivamente, à liberdade
de consumo, à diversidade de consumo, à estima pelo objeto de
consumo. A política dos direitos da vida, humana e não humana,
pode ceder espaço à política dos direitos do consumidor. As relações
éticas podem se converter em relações de consumo: o outro não é
mais humano, é objeto, precisa ser consumido e depois descartado
como lixo.
Além disso, Skinner (1978,1981) sempre insistiu neste
ponto: a noção de homem autônomo contribui para que o indivíduo
desvie o olhar do contexto social, justamente aquilo que pode
encerrar relações sociais de libertação ou de dominação. Skinner
(1978) com a palavra: “o erro bastante antigo é procurar pela
salvação no caráter de homens e mulheres autônomos, ao invés de
buscá-la nos ambientes sociais que surgiram na evolução das culturas
e que agora podem ser explicitamente planejados” (Skinner, 1978,
pp. 54-55). A teoria do homem autônomo pode subsidiar uma
ideologia que culpabiliza o indivíduo pelo seu sucesso ou fracasso
124 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
homem pode, por um momento, deixar de ser homo empiricus
para ser homo imaginarius. Foi isso que Skinner fez.
126 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
ocidentais e orientais. Desse modo, “a evolução de ambientes sociais
produziu não uma única cultura, mas muitas, que frequentemente
conflitam” (Skinner, 1990a, p. 1207). Há, aqui, outrossim, a
convivência da regularidade com a diversidade.
Em escala individual essa coexistência também se verifica:
a história do indivíduo gera uma pessoa, uma regularidade ou padrão
comportamental; mas essa história pode engendrar uma diversidade
de pessoas a depender da pluralidade de contextos com os quais
interage de maneira consistente ao longo da vida. Com efeito, os
processos comportamentais que caracterizam uma história individual
produzem “não um repertório único e coerente, mas milhões de
repertórios menores, que se confrontam e cujos conflitos de alguma
maneira terão de ser resolvidos” (Skinner, 1990a, p. 1207).
A inserção em um mundo pluralista engendra, igualmente,
um homem plural - um homem que admite distintas definições. Após
Skinner (1971, 1974,1989) desbancar o homem uno, autônomo,
in iciad o r, o hom em insu rg e na tram a c o n ce itu a i do
comportamentalismo radical com diferentes faccs. Destoando da
tradição substancialista, o homem c processo. O homem compartilha
com o mundo uma natureza pluralista caracterizada pela existência
conjunta da regularidade (seleção) e da mudança (variação). O
homem é, pois, um ser mundano.
Mas, por outro lado, em razão de sua própria natureza
pluralista, o mundo dá abertura para que receba o toque de mãos
humanas; o mundo também é, em certa medida, humano. A
possibilidade de mudança do mundo dá ensejo para a existência de
um homem livre: a inserção humana no mundo não sela o seu destino.
O homem pode alterar o curso das coisas com sua ação: o homem
é ativo, é ação. O homem é ativo sem ser o agente iniciador do
comportamento. O homem não e iniciador porque é tecido na trama
comportamental. Mesmo não sendo iniciador, o homem é
128 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
conflito: é a instância do embate entre natureza, indivíduo e cultura;
entre instinto, desejo e dever. O homem pode ser ambíguo e
incoerente, como no caso das várias “pessoas”, discutidas por
Skinner (1989), que podem coexistir sob a mesma pele: o Eu
observado e o observador, o Eu controlado e o controlador, o Eu
racional e o irracional, o Eu responsável e o irresponsável, o Eu
confiante e o inseguro, o Eu que ama a si mesmo e o que se deprecia.
Não há, portanto, uma natureza ou essência humana. O
homem não se define por nenhuma dessas faccs isoladamente. A
problemática do homem na perspectiva comportamentalista radical
não parece compactuar com soluções balizadas pelo pensamento
dicotômico. Em outras palavras, não se trata nem do homem
epistemológico do racionalismo, nem do homem pulsional do
romantismo; o homem não é moralidade incorruptível, nem puro
instinto e desejo. O homem está entre essas alternativas, e vive
todos os problemas dessa posição intermediária. Esta é uma
condição humana: uma condição de complexidade. O filósofo e
sociólogo francês Edgar M orin (1921- ) capta bem essa
complexidade humana com sua designação de homo complexus:
130 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
C ap ítu lo 4
Ética sem A b so lu to
Rorty
132 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Damásio Abib
que é Mau, Altruísmo de Egoísmo, Virtude de Pecado? Se não
houver uma espécie de plataforma arquimediana moral, a
pergunta “por que o homem deveria ser moral? ” nãofaria sentido
algum!Assim seguem os argumentos contra uma ética pragmatista.
Do mesmo modo que nâo inviabiliza o empreendimento
científico ao dispensar as noções de realidade intrínseca, de
determinismo, e de leis imutáveis, o pragmatismo também não coíbe
o delineamento de uma proposta ética ao abdicar de princípios morais
universais. Como isso é possível? Quais seriam as características de
uma ética pragmatista? Este capítulo tenta esboçar algumas respostas
a essas questões no intuito de situar o comportamentalismo radical
nessa problemática. As afinidades da filosofia skinneriana com o
pragmatismo sc generalizariam ao domínio ético? Seria possível
defender uma ética pragmatista no comportamentalismo radical? Esse
é o horizonte da discussão que segue.
Ética pragmatista
Moralidade versus prudência: uma desconstrução pragmatista
Rorty (2000), seguindo Dewey, discutc a ética pragmatista
contrastando-a com a filosofia ética tradicional, entendida, aqui,
como as teorias éticas platônica e kantiana31. Embora essas duas
134 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abíb
de tipo entre moralidade e prudência: a primeira está calcada no
racional, universal, imutável e necessário, ao passo que a prudência
no irracional, relativo, variável e contingente (Rorty, 2000).
A dicotomia entre moralidade e prudência na teoria ética
tradicional parece conduzir a uma diferença, de tipo também, entre
homens e animais. O homem compartilharia com o restante dos
animais a prudência, mas não a moralidade. Ambos comportam-se
de modo a lidar de maneira eficaz em seu ambiente, evitando perigos
e buscando formas de sobrevivência nas situações cotidianas. Há
um interesse pessoal que se sobrepõe ao coletivo na luta pela
preservação da própria vida. Se a prudência aproxima, a moralidade
marcaria uma ruptura qualitativa entre homem e natureza. Como a
fonte da moralidade é a razão, e os outros animais são desprovidos
dela, só o homem seria capaz de dominar seus instintos egoístas -
que priorizam a sobrevivência individual - para agir em prol do
bem comum na ação moral.
A diferença de tipo entre prudência e moralidade perpetua,
ainda, uma oposição considerada irredutível entre natureza e cultura.
A natureza, situada ao lado da prudência, é entendida como fonte
de competição, destruição, agressividade e aniquilamento alheio em
função da sobrevivência pessoal. A cultura, por seu turno, associada
à moralidade, é enaltecida como o veículo de libertação dessa
herança malquista, assumindo a heróica tarefa de encontrar, pela
razão, práticas que iriam de encontro a essa natureza egoísta. Em
virtude dos laços da prudência com a natureza, o homem prudente,
afeito aos seus instintos, seria necessariamente egoísta, voltado para
o interesse pessoal. A saída para os problemas humanos seria, então,
a moralidade, entendida, nessa perspectiva, como a vitória da razão
sobre o sentimento, da moral sobre a prudência, do altruísmo sobre
o egoísmo, enfim, da cultura sobre a natureza.
Invocando as afinidades eletivas do pragmatismo com o
danvinismo, Rorty (2000) discute que a diferença entre moralidade e
32 Essa tese ganha vigor e atualidade com as pesquisas dos primatologistas Wrangham
e Peterson (1996/1998) e do etólogo e primatologista holandês Frans dc Wall (2009/
2010). De acordo com Wrangham e Peterson, embora os chimpanzés sejam violentos
- os m achos matam os membros de sua própria espécie, atacam, torturam e mutilam
seus sem elhantes, sem motivo aparente (nem alimentação, nem defesa de território
estão e n v o lv id o s), matam ex-am igos» estupram as próprias irm ãs - tam bém
compartilham “amizade, generosidade e alegria, rolando uns de encontro aos outros
em tardes sonolentas, rindo juntos em brincadeiras infantis... oferecendo um naco de
carn e... fazendo as pazes depois de uma rusga, afagando-se durante muitas horas” (p.
31). Investigando o comportamento dos chim panzés, D e Waal faz observações
similares. Tão próxim os de nós quanto os chimpanzés são os bonobos (D e Waal)
que, segundo Wrangham e Peterson, indicam um triplo caminho para a paz que
consiste na redução da violência “nas relações entre os sexos, nas relações entre os
m achos, e nas relações enlre as com unidades” (p. 251). De Waal faz observações
similares e conclui que “muitos animais sobrevivem cooperando e compartilhando os
recursos, e não aniquilando-se uns aos outros ou conservando tudo para si mesmo.
Isso se aplica aos animais que vivem cm bando, com o os lobos e as orcas, mas
também aos nossos parentes mais próximos, os primatas” (p. 19). De Waal explica os
136 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
vínculo mais estreito com a natureza, como quer a filosofia tradicional,
então, elas não prezariam necessariamente o interesse pessoal,
podendo também abarcar os anseios coletivos. Separar natureza de
ação moral, como supõe a filosofia ética tradicional, implicaria em
afastar as possibilidades altruístas oferecidas pela filogênese. Se a
natureza disponibiliza uma pluralidade de tendências filogenéticas,
sendo algumas delas altruístas, a cultura poderia incrementar essas
disposições por meio de práticas que prolongariam as tendências
altruístas da natureza na sociedade. Com efeito, na perspectiva
pragmatista, prudência e moralidade estão inscritas na natureza33.
Do mesmo modo, prudência e moralidade não acompanham
a distinção entre ajustamento e conhecimento: a primeira não mais se
reduz a práticas que permitem aos homens se ajustar às mudanças
contingentes da vida; a segunda não mais envolve princípios
com portam entos m enos violentos, m enos egoístas, m enos com petitivos e mais
cooperativos com o conceito de autonomia funcional: “o comportamento não se
deixa restringir necessariamente pelas razões que são relevantes do ponto de vista da
evolução” (p. 67). Segundo D e Waal (2009/2010), a autonomia funcional envolve, dc
um lado, uma explicação biológica e, de outro, uma explicação psicológica. A explicação
biológica busca a “causa última” (a razão original) e a explicação psicológica busca a
“causa próxim a” (a razão no “aqui e agora”) (p. 323). D e Waal vale-se dos dois tipos
de explicação e relata que foi com certa tensão que se encontrou com o famoso etólogo
inglês, Richard Dawkins (1941 - ) , autor do clássico O gene egoísta. De Waal considerou
o resultado do encontro bastante estimulante. Com efeito, ele comenta que “Dawkins
concordou que todos os tipos de comportamento, incluindo os atos de gentileza
genuínos, podem ser produzidos p elos genes selecionados para beneficiar seus
portadores” (p. 64). Isso significa que “ainda que determinado comportamento tenha
evoluído por razões egoístas, estas não precisam fazer parte daquilo que motiva um
indivíduo a colocá-lo em prática, do m esm o modo com o uma aranha não precisa estar
determinada a apanhar m oscas no m om ento em que está tecendo sua teia” (p. 324). O
cnconlro teve um final feliz: “no conjunto, tivem os um esplêndido bate-papo,
tentando desenvolver essa abordagem de dois níveis” (p. 64),
O que está em jogo aqui é uma noção pluralista de natureza. Embora a filogênese
envolva seleção, a variabilidade ainda c preservada em algum grau. Em outras palavras,
a seleção natural não iem com o produto uma essência imutável (Mayr, 2001/2009).
130 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Damásio Abib
compoitam-se de maneiras determinadas, em parte, pelos seus efeitos
sobre os outros” (p. 195). Esse ambiente social evoluiu graças a outro
acontecimento que, na perspectiva skinneriana, consiste na única
diferença entre homens e animais, qual seja, o controle operante da
musculatura vocal, que deu origem ao comportamento verbal.
Skinner (1981) entende que características usualmente
invocadas para atestar a unicidade do ser humano, tais como práticas
éticas, autogoverno ético e intelectual, auto conhecimento ou
consciência, devem-se a nada mais do que essa ampliação do
controle operante à musculatura vocal. Nas palavras do autor: “há
muito tempo, diz-se que essas características conferem à espécie
humana sua posição única, embora seja possível que tal singularidade
seja simplesmente a extensão do controle operante à musculatura
vocal” (Skinner, 1981, p. 502). A extensão desse controle,
juntam ente com um conjunto de respostas vocais menos
comprometidas com estímulos eliciadores e liberadores, permitiram
o surgimento do comportamento verbal, bem como de ambientes
verbais cada vez mais complexos (Skinner, 1987, cf. pp. 75-92).
Nesse ponto, vale m encionar que essas condições para a
emergência do comportamento verbal são, em última instância,
produto de contingências de seleção natural (Skinner, 1981). Em
outras palavras, elas têm sua raiz na evolução biológica.
É certo que o comportamento verbal ampliou as relações
do indivíduo com o ambiente, gerando, no limite, práticas que podem
ir contra a sobrevivência da própria espécie (Skinner, 1971 ). Mas
isso não significa que com o comportamento verbal o homem
adquiriu a capacidade de descobrir princípios universais. A linguagem
e o comportamento verbal, a despeito de suas especifícidades34,
140 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
Diferenças pragmatistas entre moralidade e prudência
Recorrendo novamente a Dewey, Rorty (2000) define
prudência como sinônimo de hábito ou costume; isto é, prudência
remete a relações sociais comuns, rotineiras, que envolvem ações
incontroversas e familiares, que não requerem qualquer deliberação,
e, por isso, são quase automáticas. Por exemplo, assim como é
prudente (habitual, comum, familiar, automático) um homem se afastar
quando avista uma cobra venenosa na grama, parece ser prudente
(habitual, comum, familiar, automático) confiar mais em pessoas da
própria família do que em estranhos; mais em vizinhos do que naqueles
que habitam um lugar longínquo; mais em sua comunidade do que em
grupos que não partilham de características comuns; mais em seu
país do que em território estrangeiro (Rorty, 2000).
Por outro lado, a moralidade surge no contexto de relações
que envolvem um grau diferente de complexidade, nas quais está
presente um elemento de novidade, imprevisibilidade, conflito e,
consequentemente, de deliberação. A moralidade emerge quando
ações habituais deixam de funcionar; quando, por exemplo, o
interesse do indivíduo conflita com o da família, e o da família com
o dos vizinhos, e o dos vizinhos com o das comunidades, e o das
comunidades com o do país, e o interesse do país com o de outras
nações (Rorty, 2000). Diante dessa situação, a moralidade emerge
como ações novas que permitem lidar de maneira efetiva com esse
contexto novo e imprevisível. Com efeito, “a moralidade é
simplesmente um costume novo e controverso. A obrigação especial
que sentimos quando usamos o termo moral é simplesmente a
necessidade de agir de uma maneira relativamente nova e ainda não
testada” (Rorty, 2000, p. 104)35.
35Essa distinção entre prudência e moralidade lembra a diferença que Rorty (1979/
1980) faz entre epistcm ologia e hermenêutica. Baseado na distinção feita por Thomas
Kuhn entre discu rsos “norm ais” e discursos “anorm ais”, Rorty afirma que a
epistcm ologia é o estudo de discursos “normais” e que a hermenêutica c o estudo de
142 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
categórico kantiano), que, uma vez alcançados, teriam validade em
todo tempo e lugar.
A resolução de um conflito moral não coloca quem o
solucionou mais próximo da Verdade, nem o coloca em contato
com o que é inquestionavelmente correto, apenas o livra de uma
disputa até o surgimento do próximo dilema. Por esse motivo, o
diálogo ético nunca finda, sendo solicitado toda vez que há conflito
de interesses, A ética pragmatista é uma ética do diálogo e não de
normas. E uma ética que frustra as expectativas daqueles que se
engajam no debate ético pretendendo, ao final, encerrar a disputa
formulando preceitos universais e definitivos; é, pois, uma ética da
contingência e não da necessidade.
Como já foi mencionado, Skinner (1974) explica o
comportamento moral como qualquer outro comportamento. O que
diferenciaria, então, a moralidade da prudência na perspectiva
skinneriana? Essa diferença poderia ser encaminhada em termos
de comportamento governado por regras, e comportamento
modelado por contingências, respectivamente? Se esse fosse o caso,
o comportamento prudente seria aquele cujas consequências
modelaram e mantêm um comportamento útil, sem a participação
de regras; enquanto que o comportamento moral dependeria de
certas normas e regras formuladas pela comunidade. Não obstante,
Skinner (1974) parece retirar das regras o poder de explicar por
que o homem se engaja em comportamentos morais:
as pessoas puniam umas às outras muito antes de o
comportamento ser considerado bom ou mau e antes de
as regras serem formuladas, e uma pessoa pode ter sido
“socializada” por essas contingências punitivas sem
intervenção de regras... O comportamento social não
e x ig e que as con tin gên cias que o geraram sejam
formuladas em regras ou, se foram formuladas, que uma
pessoa deva conhecer essas regras, (pp. 192-193)
144 Carlos Eduardo Lopes, Ca rol í na Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
contexto. O campo da moralidade envolve pensamento produtivo,
um processo do qual participam ações precorrentes, que aumentam
as chances de a solução ser produzida. De acordo com Skinner
(1968), há uma série de técnicas de manipulação do ambiente que
podem ajudar na resolução heurística de problemas36; mas essas
técnicas não prescrevem ações específicas, fixas e rígidas, são apenas
form as de aum entar a probab ilid ad e de o co rrên cia de
comportamento exploratório, de aumentar a variabilidade
comportamental, de modo que uma ação original, nova, criativa,
possa aparecer. Há, pois, aqui, um elemento de criatividade na
moralidade: ela envolve arranjos no ambiente que maximizem a
probabilidade de que respostas originais aconteçam e resolvam o
problema ético.
Além da criatividade, a resolução heurística de problemas
depende também de liberdade, o que reafirmaria sua independência
das regras. O sucesso desse processo de resolução de problemas
requer um comportamento que esteja sob controle “das coisas”
(Skinner, 1968). Nesse contexto, isso significa independência de
estímulos verbais, capacidade de agir sem que os outros lhe digam o
que e como fazer (regras). Nas palavras de Skinner (1968): “um
homem que pode executar adequadamente um comportamento ainda
não é livre se for preciso que alguém lhe diga o que e quando fazer.
Para ser livre de direção pessoal deve ser ‘dependente das coisas’”
(p. 173). No âmbito ético, o comportamento deve ficar sensível às
relações sociais que caracterizam o conflito ético naquela situação
particular, e não ficar sob controle exclusivo de preceitos previamente
formulados em contextos passados. Se, por um lado, a solução de
146 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásío Abib
Os problemas éticos que um indivíduo pode encontrar
não podem, é claro, ser todos previstos; a cultura pode
precisar ensinar um tipo de resolução de problema ético
que permite ao indivíduo chegar aos seus próprios
preceitos de acordo com as exigências da ocasião.
Algum as v ezes isso se faz ensinando preceitos de
segunda ordem ou uma heurística ética. (p. 193)
,
Razão sentimento e ação moral: uma conciliação pragmatista37
Na teoria ética tradicional, a moralidade é entendida como
ações pautadas por um conjunto de princípios universais e
incondicionais, que devem ser aplicados a todas as pessoas,
independentemente de seu contexto histórico. Isso garantiria uma
ação moral, voltada para o bem comum, a despeito das restrições
pessoais que, inevitavelmente, imporiam ao indivíduo. Alçar esses
princípios só seria possível sem a interferência de sentimentos, como
afeto, paixão, ou emoção. Caso as ações fossem reguladas por
sentimentos, e não pela razão, elas tenderiam apenas ao interesse
particular. Isso porque o sentimento, dada a sua herança instintiva,
estaria à mercê das concupiscências e desejos do corpo, que são,
nessa ótica, necessariamente egoístas.
Dessa maneira, subjaz à ética tradicional a noção de um
sujeito moral essencialmente racional, não-empírico, desprovido de
paixões, sentimentos e volições. A insensibilidade do eu moral na
ética tradicional é tal que Rorty (2000) o compara a um psicopata,
148 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurentí e José Antônio Dam ásio Abib
Nesse sentido, Rorty (2000) argumenta que é “só quando nos
retratamos, de maneira sadomasoquista... sentimos a necessidade de
nos punirmos, amedrontando-nos diante de imperativos divinos, ou
diante do tribunal kantiano da razão prática” (Rorty, 2000, p. 105).
Nota-se que a teoria ética tradicional divide o homem em
dois eus - um insensível e altruísta, outro sensível e egoísta
tomando inconciliável razão e sentimento na ação moral. A dissolução
pragmatista da dicotomia entre sentimento e razão no reino da
moralidade põe em dúvida a cisão entre eu moral insensível e eu
prudente sensível. O eu moral, tal como o eu prudente, é encarnado,
e, portanto, é sensível. Em uma ética pragmatista, a moralidade não
está ancorada em um eu transcendente, em uma alma imortal
apartada do corpo; tampouco depende de um eu transcendental,
um ego puro universal que ultrapassa os limites da história. O eu
moral é um eu empírico, carnal, sensível, temporal, finito.
Mas, se o sentimento participa tanto da ação prudente
quanto da moral, qual é a diferença entre elas? No caso da prudência,
o sentimento não parece assumir um papel preponderante,
justamente porque as ações prudentes, como já foi discutido, são
quase automáticas, ocorrendo em situações incontroversas. O
sentimento, aqui, quando presente, parece ser um sentimento do
familiar, um sentimento maternal ou paternal, que pode acompanhar
ações de fazer o bem aos próprios filhos, alimentá-los, atentar às
suas necessidades. Já no caso da moralidade, o sentimento parecc
exercer um papel capital. O campo da moralidade inaugura-se
quando nos deparamos com situações em que surgem sentimentos
atípicos, quando nos importamos com algo que, a princípio, não
nos afetaria diretamente: quando me preocupo com o preconceito
contra homossexuais, mesmo sendo heterossexual; quando fico
indignado com o tratamento desigual dado a uma mulher, mesmo
sendo homem; quando uma criança que passa fome me mobiliza,
mesmo que não seja meu filho ou um membro da minha família.
150 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Oamásio Abib
conhecida e transmitida por meio de práticas sociais. Não obstante,
dificilmente o isolamento de uma comunidade é total. Em uma
comparação com a evolução das espécies, Skinner (1971)
argumenta que esse é um dos principais pontos de diferença na
evolução das culturas: “as espécies são isoladas umas das outras
pela não transmissibilidade de traços genéticos, mas não há nenhum
isolamento comparável no caso das culturas. Uma cultura é um
conjunto de práticas, mas não é um conjunto que não possa ser
misturado com outros” (p. 131). Além disso, considerando que na
base de uma cultura encontra-se um extenso e complexo conjunto
de contingências, naturais e sociais, a completa estabilidade de
práticas dependeria da estabilidade de todas essas contingências, o
que é praticamente impossível de ocorrer por muito tempo. Skinner
(1971) elucida:
152 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
o projeto ético pragmatista tem como alvo o alargamento da
sensibilidade de modo a incluir o outro estranho. A ação moral
supõe a am pliação da sensibilidade do homem a pessoas
marcadamente diferentes em esferas distintas: geográficas,
psicológicas, sociais, culturais. A primeira vista, isso pode sugerir a
ideia de que o outro estranho seria justamente aquele que despertaria
em nós sentimentos como medo e desconfiança. O outro estranho
não seria ameaçador? Não seria preciso resgatar, aqui, a ideia de
sacrifício ou aflição na ação moral? De Botton (2011) ironiza essa
imagem do estranho como alguém necessariamente perigoso,
mostrando como ela é frívola:
154 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
pergunta essencial sobre a natureza da moralidade: a
Igreja tem razão ao afirmar que existe uma espécie de
estrutura da existência humana capaz de servir de ponto
de referência moral, ou nós, os seres humanos, não temos
obrigações morais, além da obrigação de nos ajudar
reciprocamente a satisfazer nossos desejos, atingindo
assim a melhor felicidade possível? Concordo com John
Stuart Mi 11, o grande filósofo utilitarista, sobre o fato de
que esta última é nossa única obrigação moral. (p. 13)
156 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
pode proporcionar a sensibilidade do homem ao outro. Trata-se de
mais um exemplo da possibilidade de o homem ficar sensível a outras
identidades.
Nesse caso, a sensibilidade aos demais não é uma questão
de obrigação e obediência no sentido da ética tradicional, segundo
a qual o eu moral precisa, por intermédio da razão, e do jugo dos
princípios morais universais, se esforçar para fazer o bem alheio.
Enfim, agir moralmente não é obedecer. Na ótica pragmatista, a
ação moral é inserida em uma perspectiva mais otimista e menos
estóica, pois a noção de obrigação não precisa necessariamente
demandar sacrifício ou anulação do interesse pessoal. O esforço
não resulta, então, da tentativa de subjugar a natureza à cultura,
mas do desafio colocado à razão para sondar possibilidades de
ampliação da sensibilidade a situações novas, até então nunca
pensadas ou realizadas. Se há esforço, ele é imaginativo, criativo e
não aflitivo.
Com efeito, a educação da sensibilidade requer imaginação
e criatividade humanas para que o homem identifique-se como tal
na relação com o outro, É no contato com o outro que o homem se
escreve, e se reescreve na medida em que se relaciona com pessoas
cada vez mais diferentes dele (Rorty, 2000). O projeto é, pois, da
construção de uma identidade cosmopolita, que nunca finda, mas
sempre está aberta a integrar diferentes e estranhas identidades já
que imersa nas relações contingentes, e não necessárias, da vida.
Rorty (2000) resume o ponto ao dizer que “desenvolvimento moral
no indivíduo e progresso moral na espécie humana como um todo
são uma questão de reconstruir as identidades humanas de maneira
a conseguirmos expandir a diversidade de relacionamentos que
constituem essas identidades” (p. 107).
Com efeito, é possível uma ética sem absolutos. A ética
pragmatista é um exemplo: dispensa incondicionais, fundamentos,
sem, com isso, abdicar de valores para pensar o progresso moral.
39N o projeto de uma ética da sensibilidade podemos assimilar o que diz Umbcrto Eco
(1 9 3 2 -) sobre a ética. O filósofo escreveu um ensaio moral intitulado Quando o outro
entra em cena no qual afirma que a ética começa, precisamente, quando o outro entra cm
cena. Em defesa de sua tese, argumenta que as leis morais regulam relações interpessoais,
e que se houvesse no mundo apenas um Adão bestial e solitário, tais leis não seriam
necessárias. Eco prossegue afirmando que o outro não se refere apenas ao outro de nossa
comunidade tribal ou de nossa etnia. O outro não se refere somente aos nossos parentes,
aos nossos amigos, aos nossos conhecidos. Se o outro se referir apenas ao outro familiar,
ou ao outro que se pareça conosco, o outro não familiar, ou o outro diferente de nós, é o
bárbaro, é o desumano. O outro assim, bárbaro, desumano, estranho, é massacrado,
canibalizado, é o que tem o seu corpo humilhado. Eco (1997/1998) escreve que se os
“direitos do corpo” tivessem sido respeitados, “não teríamos lido o massacre dos Inocentes,
os cristãos no circo, a Noite de São Bartolomeu, a fogueira para os hereges, os campos de
extermínio, a censura, as crianças nas minas, os estupros na Bósnia” (p. 94).
158 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
Sensibilidade e democracia: a ética e a política a favor do
futuro da humanidade
O homem complexo, como já discutido no capítulo
anterior, não é um homem harmônico. O eu moral também não, já
que deve lidar com uma diversidade cada vez maior de interesses
diferentes dos seus. Como, diante de conflitos de interesses, ficar
sensível ao interesse de outro estranho? Trata-se de buscar por
algo comum a todos os homens, um princípio universal que
inscreveria os homens como irmãos?
A filosofia ética tradicional parece buscar esse princípio.
Mas o que seria um princípio moral universal? Há vários candidatos,
que, para Rorty (2000, cf. p. 120), até o momento, não conseguiram
justificar um princípio notadamente humano. Não obstante, a
estratégia investigativa desse princípio universal é a de buscar uma
semelhança comum a todas as pessoas, independentemente de
época, lugar, raça, e religião. A ideia parece ser, mais uma vez, a de
aniquilar as diferenças e encontrar aquilo que é igual, comum, normal.
Nessa perspectiva, a sensibilidade pelo outro estranho seria
encorajada pela anulação de diferença (ou estranheza) desse outro
em favor de um aspecto comum universal captado, é claro, pela
razão.
O pragmatismo não subscreve essa prática, pois não existe
algo como um princípio universal de igualdade. Rorty (2000) marca
esse ponto dizendo que “os pragmatistas sugerem que devemos
simplesmente desistir da busca filosófica pela semelhança’’(p. 120).
A resolução de conflitos não deve ser orientada por uma plataforma
arquimediana moral, que independa dos grupos envolvidos nessa
disputa. Diferente disso, o pragmatismo, argumenta Rorty, encoraja
o diálogo que busca minimizar as pequenas desigualdades e ressaltar
os pontos em comum nesses grupos específicos em seus contextos
particulares. Vale ressaltar que esses pontos em comum não remetem
160 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio D am ásio Abib
Sobre esse assunto, Skinner (1974) diria que para as pessoas agirem
de modo moral, “o que se faz necessário é uma restauração do
ambiente social em que as pessoas ajam de maneiras que chamamos
morais” (p. 196).
Essa tese dá relevo à importância de uma educação para
a sensibilidade. Ela mira um homem sensível e cosmopolita. Um
homem sensível à diferença, de modo a ser capaz de transitar em
diferentes lugares, enfim, um diplomata, que, sem anular seus gostos
particulares, busca reconciliar práticas sociais distintas. Mas não se
trata de um cosmopolitismo espúrio, chauvinista, que tenta reconciliar
“diferenças'’entre iguais, ou diferenças que não fazem diferença. A
moralidade encerra ações que promovem um cosmopolitismo
democrático, no qual a cooperação é uma atividade de fazer dialogar
diferenças entre práticas, culturas, contextos os mais heterogêneos
possíveis. E no diálogo que a deliberação e o sentimento se imbricam
na tentativa de lidar com as diferenças, e não em uma atividade
isolada de um eu moral.
A compreensão desse cosmopolitismo democrático,
defendido pelo pragmatismo, pode ajudar na interpretação do valor
ético de sobrevivência das culturas, proposto por Skinner (1971).
Em primeiro lugar, o plural empregado na expressão deve ser
ressaltado: não se defende como valor ético a sobrevivência de
uma cultura, mas da diversidade cultural. Isso parece inviabilizar
“diálogos” que têm no horizonte a aniquilação da diferença, o
consenso a qualquer custo, a imposição, a violência. Diferente disso,
trata-se de um diálogo virtuoso, no qual se almeja o enriquecimento
das culturas em contato, a possibilidade de aprender com o outro,
de tomar-se sensível a outros contextos e pessoas. Dessa forma,
considerar a sobrevivência das culturas como um valor ético é admitir
que a pluralidade ou diversidade cultural não é um estado
temporário, que será sucedido por uma integração homogênea; é,
162 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
Alguém terá de infiltrar, gentil e pacientemente, a política
igualitária na linguagem de tradições que insistem numa
distinção entre uns poucos racionais ou inspirados e os
muitos desorganizados ou confusos. Alguém terá de nos
persuadir a modificar nosso hábito de basear decisões
políticas na diferença entre pessoas como nós, os seres
humanos paradigmáticos, e casos duvidosos de
humanidade como estrangeiros, infiéis, intocáveis,
mulheres, homossexuais, mestiços, e pessoas deformadas
ou aleijadas. Tais distinções estão estabelecidas em
nossas tradições culturais, e dessa forma em nossos
vocabulários de deliberação moral. (Rorty, 2000, p. 140)
Novamente, isso tudo parece que pode ser abarcado no
valor ético de sobrevivência das culturas. Defender pluralidade,
multiplicidade, diversidade, sem a pretensão de uma redução,
integração ou unificação, não quer dizer impossibilidade de mudança.
O diálogo é o motor dessa mudança. Com ele práticas são pensadas,
corrigidas, e eventualmente abandonadas, mas isso não quer dizer
que caminhamos na direção de um estado de integração. De um
ponto de vista pragmatista, o progresso ético parece descrever
exatamente o contrário: quanto maior o contato, quanto mais
dialogarmos, mais plural e complexa se toma a ética, pois mais
pontos de vista precisam ser considerados, mais pessoas devem
participar, mais sensibilidade é demandada.
Não obstante, essa mudança é factível? Para que essa
transformação aconteça, Rorty (2000) alega que é preciso
abandonar a tendência filosófica que pensa que “nada pode mudar
a não ser que tudo mude” (p. 136). Ele destaca que essa filosofia
também se verifica nos pós-m odernos de vanguarda, que
condicionam a realização de seus ideais em mudanças radicais na
cultura. “Essa insistência na radical idade”, arremata Rorty (2000),
“é o fundacionismo de cabeça para baixo” (p. 136). Isso sugere, tal
como o faz a filosofia tradicional, de que a mudança só pode ser
164 Carlos Eduardo lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Damásio Abib
Considerações finais
E dispensando fundamentos, incondicionais (Perfeição,
Bondade, Lei M oral, Imperativo Categórico) e oposições
inconciliáveis (moralidade versus prudência, razão versus
sentimento) que a ética pragmatista se constrói. E resistindo a
classificações estanques (fundacionismo, relativismo) que a ética
pragmatista se faz entender. A proposta ética no comportamentalismo
radical talvez exija movimento semelhante.
A ética pragmatista, assim como a comportamentalista, é
uma ética da ação, da ação situada, do comportamento. Mais
uma vez pragmatismo e comportamentalismo radical podem se
envolver em um diálogo profícuo para, agora, problematizar a ética.
Mostram a possibilidade de uma ética que se delineia na relação de
um homem complexo com um mundo pluralista. E nessa relação
humana - carnal, sensível, mundana, como um campo das
possibilidades, de contingências - que o eu moral se constitui. Ele
emerge quando, em situações controversas, uma ação criativa e
livre, que envolve sensibilidade, produz satisfação, felicidade, deleite
(ágape) com o outro estranho. Enfim, é quando o outro estranho
entra em cena que o sujeito moral aparece.
Diante do estreitamento das fronteiras planetárias, as éticas
pragmatista e comportamentalista reclamam uma educação para a
moralidade. Isso significa criar condições para que a sensibilidade
ao outro estranho seja ampliada. Essas condições encerram o cultivo
do diálogo: é na conversa face a face que as pequenas diferenças
podem ser debatidas e resolvidas. É no contexto desse diálogo que
os valores que orientarão a resolução de conflitos éticos podem ser
construídos. Valores provisórios, contingentes àquela situação
controversa.
166 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
R e fe rê n c ia s
168 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
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174 Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti e José Antônio Dam ásio Abib
S ob re os au to res
Carolina Laurenti
Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de
Londrina. Fez mestrado e doutorado em Filosofia na Universidade
Federal de São Carlos. Atualmente é professora adjunta no
Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade
Estadual de Maringá, e integrante do Laboratório de Filosofia e
Metodologia da Psicologia (LAFIMEP).
Comportamentalismo Radical e o
Pragmatismo, principalmente na
qu atro c a p ítu lo s , os a u to r e s
procuram demonstrar o
comprometimento da obra
skinncriana com o pensam ento
Os autores dispõem de
amplo conjunto de conhecim entos,
c u i d a d o s a me n t e bem
P rofessor Adjunto no
Departamento de
P s i c o l o g i a da
Universidade Federal de
Santa Catarina
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