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RECIFE
2017
ANDERSON CLEBER DOS SANTOS FRAZÃO
RECIFE
2017
Dedico essa monografia para Márcia Mendes Pimentel e
aos meus pais, eles me ajudaram a conseguir atingir meus
objetivos e foram minha força.
RESUMO
Nos dias atuais é comum a climatização dos ambientes internos com a finalidade de
lazer, moradia ou de trabalho, aumentando o conforto e possibilitando o controle da
temperatura, umidade e velocidade do ar nos edifícios. A qualidade do ar em
ambientes hospitalares é de suma importância para a saúde pública, pois pode
acarretar o aumento da estadia do paciente hospitalizado, assim como comprometer
o desempenho dos profissionais que atuam no serviço. A falta do controle e
manutenção corretos dos sistemas de climatização pode contribuir para a
disseminação de microrganismos como fungos, bactérias e vírus, assim como o
acúmulo de substâncias poluentes de origem química como aerodispersóides,
monóxido de carbono, dióxido de carbono e ozônio. A presença desses poluentes
desencadeia a SED - Síndrome do Edifício Doente, ocasionando problemas de saúde
imediatos, conforme a permanência da pessoa no ambiente doente, e com o potencial
de tornarem-se crônicos ou até fatais. O acúmulo de tais substâncias nocivas no
interior das edificações é ocasionado por uma troca ineficaz do sistema de
climatização do ar interno, contaminado, pelo ar externo, limpo. Nesse contexto, o
presente estudo objetivou investigar a situação da qualidade do ar interno de
ambientes dos setores de Urgência, Unidades de Tratamento Intensivo, Sala de
Exames Especializados e Centro Cirúrgico de um hospital universitário da cidade do
Recife. Foram utilizados como instrumentos de pesquisa os Relatórios de Qualidade
do Ar de Interiores das unidades supracitadas para avaliar a velocidade do ar,
temperatura, umidade, aerodispersóides, concentração de fungos e concentração de
bactérias. Este estudo identificou que a maioria dos ambientes analisados
apresentavam valores médios recomendados pela legislação vigente, portanto uma
qualidade do ar satisfatória. Poucos ambientes apresentaram algumas distorções
como excesso de umidade, alta concentração de dióxido de carbono e de fungos.
Dentre os microrganismos presentes no ar dos ambientes estudados, nenhum tinha
caráter patogênico ao indivíduo saudável.
Keys Words: Indoor Air Quality, cross infection, Sick Building Syndrome, air pollution.
LISTA DE FIGURAS
CO – Monóxido de carbono
O3 – Ozônio
1.INTRODUÇÃO 01
2.OBJETIVOS 03
3. REFERENCIAL TEÓRICO 04
3.2. Climatização 12
3.3.4. Ozônio 14
3.3.5. Aerodispersóides 14
4. METODOLOGIA 18
5. RESULTADO E DISCUSSÕES 23
5.1 Velocidade do ar 23
5.3 Temperatura 28
5.4 Umidade 29
5.5 Microbiológicos 30
5.6 Aerodispersóides 34
6. CONCLUSÕES 36
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 37
1
1. INTRODUÇÃO
Diante do exposto foi adotada a cidade do Recife como local de estudo, pois apresenta
um polo hospitalar, com várias unidades, públicas e particulares. O hospital escolhido
é um hospital universitário, com 256 leitos. Foram avaliados os laudos técnicos da
inspeção de qualidade do ar de interiores do primeiro semestre do ano 2014 ao ano
2017 realizados por uma empresa terceirizada. As variáveis investigadas foram
temperatura, velocidade do ar, umidade, concentração de CO 2, bioaerossóis e
aerodispersóides, observando-se a resolução RE n°9 de 2003, norma reguladora da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que estabelece os padrões para a
qualidade do ar interior em ambientes climatizados artificialmente.
3
2. OBJETIVOS
3. REFERENCIAL TEÓRICO
Francisco Kulcsar Neto defende que o ser humano permanece de 80% a 90% do seu
tempo em ambientes interiores que podem ser climatizados artificialmente. A
manutenção ineficaz de tais locais pode acarretar agravos a saúde por proliferação
de microrganismos ou liberação de produtos químicos. Este problema é denominado
Síndrome do Edifício Doente (SED), que tem caráter mais danoso no ambiente
hospitalar devido a este ser um ambiente típico de circulação de microrganismos
patógenos e também por causa da baixa imunidade que os pacientes podem
apresentar. Como causa mais provável de poluição interna em um ambiente
climatizado, 68% é referente ao ar condicionado com pouca renovação de ar, filtros e
manutenção inadequados e o controle precário de temperatura e umidade
(KULCSAR, 2009).
Lima de Paula (2003) mostra que, em geral, três tipos de sistemas de ar condicionado
podem ser encontrados em relação ao tipo de tratamento dado ao ar:
“ar condicionado comum, sem controles de troca de ar, assim como ausência de
filtros de alta eficiência;
convencional plenum mixing, com filtros do tipo HEPA, realiza 16-20 trocas de ar
por hora, apresenta pressão positiva de entrada de ar, regulagem
termoigrometrica. Dependendo da contagem de pessoas e suas atividades
físicas, pode apresentar um quantitativo de bactérias no ar de 50 ufc/m³ a 150
ufc/m³, podendo apresentar valores maiores.
ar ultra limpo ou fluxo laminar, que re-circula grandes volumes de ar estéril através
de filtros HEPA, realiza 400-500 trocas de ar por hora, mantem o ambiente com
uma contagem de bactérias menor 10 ufc/m³.”
5
Nível 0 – Área onde o risco não excede aquele encontrado em ambientes de uso
público e coletivo.
Nível 1 – Área onde não foi constatado risco de ocorrência de agravos à saúde
relacionados à qualidade do ar, porém algumas autoridades, organizações ou
investigadores sugerem que o risco seja considerado.
Nível 3 – Área onde existem fortes evidências de alto risco de ocorrência de agravos
sérios à saúde relacionados à qualidade do ar, de seus ocupantes ou pacientes que
utilizarão produtos manipulados nestas áreas, baseadas em estudos experimentais,
clínicos ou epidemiológicos bem delineados.
O ambiente hospitalar apresenta vários setores distintos, desde a recepção que pode
ser enquadrado como nível 0, a sala de indução anestésica como nível 1, a enfermaria
que se encontram no nível 2, até o bloco cirúrgico e a unidade de tratamento intensivo
(UTI) tratando de pacientes em isolamento respiratório com nível 3.
Agente Fonte
Agente Fonte
Grossos G1 50 ≤ Eg < 65
G2 65 ≤ Eg < 80
G3 80 ≤ Eg < 90
G4 90 ≤ Eg
Finos F5 40 ≤ Ef < 60
F6 60 ≤ Ef < 80
F7 80 ≤ Ef < 90
F8 90 ≤ Ef < 95
F9 95 ≤ Ef
Nota:
1.Filtros grossos e finos:
2. Filtros absolutos:
O Quadro 3 mostra a periocidade que deve ser feita a manutenção dos componentes do
sistema de climatização, para dessa forma o sistema poder desempenhar sua função.
Fonte: RE – 09 da ANVISA
12
3.2. Climatização
É um gás inodoro, incolor e toxico, esse gás tem afinidade pela hemoglobina e se
combinando com ela, diminuindo assim a oferta de oxigênio para o corpo, podem
causar problemas principalmente para órgãos que dependem muito do oxigênio, como
coração e o cérebro (SCHIRMER, 2011), em doses pequenas pode apresentar
sintomas como uma gripe, em casos graves de intoxicação pode causar a morte. A
principal produção desse gás se oriunda de veículos automobilísticos, desta forma,
sendo desta forma alheio ao meio interno, mas seu transporte pode ocorrer através
do sistema de condicionamento de ar (BATISTA, 2008).
Esses gases são formados em ambientes com alta pressão e temperatura, unindo a
molécula de nitrogênio com a de oxigênio, oxidando de forma parcial ou total
(QUADROS, 2008). Podem causar complicações respiratórias, competir com o
oxigênio como o CO, podem causar enfisema pulmonar (NO) ou edema pulmonar
(NO2) (SHIMER, 2011).
14
3.3.5. Aerodispersóides
O quantitativo de fungos máximo recomendado deve ser igual ou menor que 750
ufc/cm3, considerando a relação I/E menor ou igual que 1,5 (relação entre os fungos
do meio interior e os fungos do meio exterior) (ANVISA, 2003). As bactérias Gram
negativas não devem ter presença superior no ambiente de 500 ufc/cm 3 (KULCSAR,
1998).
Quadros (2008) sita, no seu estudo, alguns exemplos de doenças causadas por
fungos no sistema respiratório inferior:
• Aspergilose: Infecção pulmonar e/ou sistêmica, causada por espécies do
gênero Aspergillus, que pode se manifestar em pacientes com baixa
imunidade;
• Histoplamose: Hystoplasma capsulatum é o causador dessa doença que se
assemelha a tuberculose;
• Pneumocitose: é uma pneumonia causada pelo Pneumocystis jiroveci, que
está presente nos pulmões de pessoas saudáveis como flora natural, afeta
pacientes com baixa imunidade e crianças desnutridas.
de cigarro são alguns dos fatores que estão relacionados a ocorrência da SED
(HOPPE, 1999, apud GIODA e AQUINO, 2003).
As principais queixas relatadas são: irritação nos olhos, garganta seca, tosse, alergias,
fadiga mental, dores de cabeça e náuseas. Outras doenças graves do trato
respiratório podem ser causadas também, como exemplo a legionelose, causada pela
Legionella pneumophyla, que pode ser fatal, acredita-se que essa bactéria pode ser
desenvolvida nas torres de refrigeração (KULCSAR, 2010). Os sintomas podem durar
algumas semanas, mas irão desaparecer após o indivíduo se afastar por um tempo
do edifício doente. Em ambientes hospitalares os pacientes, funcionários e visitantes
estão expostos as distorcias causadas pela SED, principalmente os pacientes, que
apresentam a imunidade mais comprometida, mas os funcionários estão expostos a
produtos químicos e a agentes biológicos por um longo período de tempo (GIODA,
2003).
Kulcsar defende que para a prevenção da SED deve ser adotado medidas simples
como o uso de filtro de alta eficiência, utilizar ar de diluição externo captado em um
ambiente limpo, utilização de métodos modernos de limpeza e higienização dos
ductos e dos componentes do sistema de climatização, assim como a utilização de
equipamento e mobiliário amigáveis ao ar em interiores, isto é que não liberem
partículas químicas que possam poluir (KULCSAR, 2009).
18
4. METODOLOGIA
Conforme a norma técnica 002 da resolução n09 da ANVISA, que recomenda utilizar
sensor infravermelho não dispersivo ou célula eletroquímica a 1,5 m do piso no centro
do ambiente. Para a medição da concentração de CO2 utilizou-se como analisador de
gases o medidor de CO2 da marca Sem do modelo 535 (Figura 4).
E VELOCIDADE DO AR
Para a coleta das amostras, conforme a norma técnica 004 da NAVISA, foi utilizado
uma Bomba de amostragem – Aerodispersóide da marca Gillian/Sensidyne modelo
BDX-II (Figura 5). Unidade de captação constituída por filtros de PVC, diâmetro de 37
mm e porosidade de 5 mm de diâmetro de poro específico para poeira total a ser
coletada; Suporte de filtro em disco de celulose; Portafiltro em plástico transparente
com diâmetro de 37 mm. Bomba de amostragem, que mantenha ao longo do período
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1 Velocidade do ar
Tabela 3 – Concentração do gás dióxido de carbono durante ointervalo de ano 2014-2017 (ppm)
1800
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
No fim do ano de 2015 foi realizado uma reunião entre as equipes multidisciplinares,
onde estavam presentes o engenheiro de segurança do trabalho e o chefe de gerência
da manutenção. Nela foi debatido a possibilidade de aumentar a renovação do ar com
o meio externo nos setores não conformes. O resultado das ações planejadas e
implementadas foi observado nos anos seguintes com uma redução na concentração
do CO2 nestes ambientes. O controle do quantitativo de ocupantes dos setores não é
algo fácil de ser realizado, pois há uma intensa circulação de pacientes, funcionários
e visitantes, principalmente no setor da urgência.
26
816
784
777
650
28
27
22
20
CO2 OCUPAÇÃO
1554
995
994
56
38
34
28
CO2 OCUPAÇÃO
Este estudo apresentou resultados semelhantes aos estudos de Quadros e Pinto nos
setores de UTI. Seus estudos foram realizados em hospitais na região sul do país.
Quadros encontrou valores máximos de concentração de CO2 nas unidades de UTI e
UTI Neonatal pouco abaixo dos valores encontrados nas UTIs do hospital universitário
estudado. Pinto encontrou resultados próximos ao limite recomendados pela Anvisa.
Schirmer, por outro lado, apresentou valores muito superiores ao valor máximo obtido
em 2017 desse estudo, cujo resultado foi o maior encontrado nas UTIs no intervalo de
tempo estudado. O motivo do valor obtido por Schirmer ser superior ao desse trabalho
28
é devido ao sistema de climatização estudado por ele não ser do tipo central,
dificultando a manipulação da troca de ar com o meio externo.
Nos centros cirúrgicos, os valores obtidos neste estudo se encontram próximos aos
obtidos por Quadros e Machado, principalmente os do ano de 2017, mas o menor
resultado encontrado ainda ficou acima do valor obtido por Pinto (QUADROS, 2008;
MACHADO, 2016; PINTO, 2014; SCHIRMER, 2010).
5.3 Temperatura
5.4 Umidade
O controle dessa umidade deve ser realizado, pois em conjunto com a temperatura e
a velocidade do ar, formam um ambiente climatizado confortável e produtivo para seus
ocupantes, diminuindo acidentes de trabalho, assim como pode contribuir para a
diminuição da proliferação de microrganismos e a incidência de doenças.
5.5 Microbiológicos
No mesmo ano, a relação I/E entre os fungos do meio interno com os fungos do meio
externo também apresentou uma diferença em relação ao valor recomendado pela
ANVISA, que é de 1,5 (Tabela 7).
Em seu estudo Quadros defende que valores acima de 1,0 indicam acúmulo de
contaminantes biológicos. Apenas no ano de 2015 foram observados setores com
valores de I/E igual ou superior a 1,0 (URCT, UTI 2, sala cirúrgica 1 e 2) (QUADROS
2008).
Não foi encontrado no estudo o crescimento de fungos patógenos que possam causar
doenças em pacientes com imunidade íntegra.
HEPA assim como reparos no sistema de refrigeração da sala cirúrgica 4, que estava
avariado, sempre conforme prazos recomendados pela ANVISA. Os resultados
dessas ações foram colhidos durante os anos subsequentes, apresentando valores
abaixo do limite máximo. No ano de 2017 o maior valor encontrado de unidades de
colônia foi de 314 e a relação I/E foi de 0,86, ambos na UTI 2. A Figura 7 ilustra a troca
do filtro A3 HEPA.
5.6 Aerodispersóides
Setor CO2 (ppm) Velocidade do ar (m/s) Temperatura (°C) Umidade (%) Autor
UTI 635 0,16 25 64,7 Quadros 2008
UTI Neo 685 0,09 28,4 51,1 Quadros 2008
CC 917 0,15 25,7 59,1 Quadros 2008
UTI 2156 0,3 24,6 72,9 Schirmer 2010
CC 2848 7,07 27,2 64,4 Schirmer 2010
UTI 938 0,0 27,3 45 Pinto 2014
CC 342 0,0 22,1 48 Pinto 2014
CC 999 -- 28,5 55,1 Machado 2016
VMR 1000 0,25 18-26 40-65
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6. CONCLUSÕES
Na maioria dos setores estudados foi encontrado uma boa qualidade do ar,
favorecendo uma melhor atuação dos profissionais, dessa forma auxiliando na
recuperação dos pacientes. Concluiu-se que o sistema de climatização está
desempenhando sua função de forma adequada. Os resultados observados do ano
de 2017 são satisfatórios, o que permite que a estadia dos pacientes internados não
tenda a aumentar por infecções respiratórias nosocomiais.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CÉSAR RUAS, A., Conforto Térmico nos Ambientes de Trabalho. Fundacentro, Fundação
Jorge Duprat e Figueiredo, São Paulo, 1999.
KULCSAR NETO, F. Sindrome dos Edificios Doentes. Podcast Fundacentro, edição 55,
publicado em 22/07/2009. Disponivel em: <http://www.fundacentro.gov.br/multimidia>.
KULCSAR NETO, F. Sindrome dos Edificios Doentes. Podcast Fundacentro, edição 75,
publicado em 22/07/2010. Disponivel em: <http://www.fundacentro.gov.br/multimidia>.
MILLER, R., Miller, R. M., Ar-Condicionado e Refrigeração. 2ª Ed., São Paulo, LTC, 2014.