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Meu objetivo era, a partir da opção por uma das táticas, sustentar
que se erguia no horizonte a luz da nova revolução mundial, já
prevista, desta feita num país capitalista de proa, depois da gloriosa
exceção da Petrogrado de Lenin e Tróstky. O "Quartier Latin" traria o
verdadeiro marxismo "às falas", afinal ali estavam Sartre, Simone de
Beauvoir, Albert Camus, misturados ao legado de Politzer e da
Rresistência comunista à ocupação nazista. A revolução faria as pazes
com a civilização na sua ponta mais avançada, como queria Marx.
Para o meu desespero epistemológico, todavia, nenhuma das teses
"táticas" conseguia enquadrar o que ocorria naquele maio insano para
a burguesia francesa e, no mínimo libertário e anarco-democrático,
para juventude francesa e depois mundial. A movimentação não
vinha do revolucionarismo "permanente", cuja eficácia exigiria a força
de uma vanguarda proletária, que dirigisse e operasse a estabilidade
de um novo poder ditatorial de classe, nos moldes trotstkistas, que
inclusive mais tarde militarizaria os sindicatos; a suposta "revolução"
também não estava se dando pelo confronto dos dois sistemas que
"concorriam", pois França renascia da ocupação nazi, com um
estranho vigor capitalista, que começava a dar saúde, viço e estudos,
para aquela juventude revolucionária supostamente ingrata com o
General De Gaulle.
Era uma revolução que tinha como uma das suas consignas "é
proibido proibir", em que os proletários ficavam estáticos -na sua
amplíssima maioria- dentro das fábricas, aguardando a linha dos
seus sindicatos -indiferentes aos convites dos jovens para fazerem a
revolução-; uma revolução na qual a revolta mirava mais os vetustos
professores e o conservadorismo da classe média francesa,
atravessada pela solidariedade com a revolução vietnamita, mas que
dizia -ao mesmo tempo- "faça amor, não a guerra". Esta revolução
poderia ser tudo, mas não poderia ser propriamente enquadrada
como uma revolução "soviética", pois nesta -em qualquer hipótese
das três táticas- o assalto ao poder deveria ser comandado pelo o
Partido e a classe básica -esteio do novo poder- seria o proletariado
fabril, não o generoso e politicamente viril, estudantado maoista e
anarquista.