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Maio e a ideia da Revolução

Aos dezoito anos, em 1965, li um pequeno volume


publicado pela Zahar em 1964, titulado "Três Táticas
Marxistas", de Stanley Moore. Ali descobri uma
simplificação teórica sedutora
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Por Tarso Genro


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Revolucao/4/40097
03/05/2018 12:40

Aos dezoito anos, em 1965, li um pequeno volume publicado pela


Zahar em 1964, titulado "Três Táticas Marxistas", de Stanley Moore.
Ali descobri uma simplificação teórica sedutora, não só a respeito das
intricadas questões da teoria marxista como súmula da revolução -
simplificação que me acompanharia por um largo tempo de vida
militante- mas também que me ajudaria na movimentação, nem
sempre cordial, dos debates filosóficos da esquerda pensante.
O autor apontava como as " três táticas" (na verdade seria melhor
dizer três estratégias para o socialismo), as que se apoiavam nas
teses marxianas da tendência à "miséria crescente" que desgastaria a
legitimidade do sistema capitalista, levando-o a sua derriocada, as
que se fundamentavam na disputa dos "sistemas concorrentes" entre
o capitalismo e a suposta superioridade do socialismo soviético, e a
terceira "tática", que concebia -dada a eterna "crise final" do sistema
do capital- o transcrescimento de uma "revolução permanente", que
acabaria, por saltos, em definitivo com a sociedade opressora.

Lembrei-me deste livro e da segurança emocional -traduzida em


empáfia juvenil- que me causou a sua leitura, porque ele se ligou ao
choque cultural e político que me causou -alguns anos depois- a
revolução de Maio de 68, que agora completa 50 anos. Quando
aquele movimento cresceu tentei enquadrar o que chamávamos de
"nova revolução proletária em andamento", numa das hipóteses
táticas analisadas por Moore. Era uma vã tentativa de classificar a
força demolidora dos fatos em andamento, principalmente em Paris,
na tese da "revolução permanente", ou na disputa entre os "sistemas
concorrentes", ou ainda num derradeiro apelo à emergência da
"miséria crescente".

Meu objetivo era, a partir da opção por uma das táticas, sustentar
que se erguia no horizonte a luz da nova revolução mundial, já
prevista, desta feita num país capitalista de proa, depois da gloriosa
exceção da Petrogrado de Lenin e Tróstky. O "Quartier Latin" traria o
verdadeiro marxismo "às falas", afinal ali estavam Sartre, Simone de
Beauvoir, Albert Camus, misturados ao legado de Politzer e da
Rresistência comunista à ocupação nazista. A revolução faria as pazes
com a civilização na sua ponta mais avançada, como queria Marx.
Para o meu desespero epistemológico, todavia, nenhuma das teses
"táticas" conseguia enquadrar o que ocorria naquele maio insano para
a burguesia francesa e, no mínimo libertário e anarco-democrático,
para juventude francesa e depois mundial. A movimentação não
vinha do revolucionarismo "permanente", cuja eficácia exigiria a força
de uma vanguarda proletária, que dirigisse e operasse a estabilidade
de um novo poder ditatorial de classe, nos moldes trotstkistas, que
inclusive mais tarde militarizaria os sindicatos; a suposta "revolução"
também não estava se dando pelo confronto dos dois sistemas que
"concorriam", pois França renascia da ocupação nazi, com um
estranho vigor capitalista, que começava a dar saúde, viço e estudos,
para aquela juventude revolucionária supostamente ingrata com o
General De Gaulle.

Era uma revolução que tinha como uma das suas consignas "é
proibido proibir", em que os proletários ficavam estáticos -na sua
amplíssima maioria- dentro das fábricas, aguardando a linha dos
seus sindicatos -indiferentes aos convites dos jovens para fazerem a
revolução-; uma revolução na qual a revolta mirava mais os vetustos
professores e o conservadorismo da classe média francesa,
atravessada pela solidariedade com a revolução vietnamita, mas que
dizia -ao mesmo tempo- "faça amor, não a guerra". Esta revolução
poderia ser tudo, mas não poderia ser propriamente enquadrada
como uma revolução "soviética", pois nesta -em qualquer hipótese
das três táticas- o assalto ao poder deveria ser comandado pelo o
Partido e a classe básica -esteio do novo poder- seria o proletariado
fabril, não o generoso e politicamente viril, estudantado maoista e
anarquista.

Maio de 68, todavia, foi o apogeu e a crise da ideia da revolução, nos


moldes soviéticos. A URSS tentava, neste período -de forma artificial-
ao mesmo tempo que preservar o stalinismo como uma "crua
necessidade", libertar-se dele, preparando timidamente as condições
para recuperar a democracia soviética, utopia de curta duração,
fulminada pelas urgências da Guerra Civil. No entanto, o fuzilamento
das melhores cabeças do Partido pela Polícia de Stalin, a instauração
do partido único durante um longo tempo, o sacrifício do povo
trabalhador na produção, para enfrentar a besta nazista,
proporcionou que a Revolução Russa salvasse o mundo do nazismo,
mas o fez com a perda -nas brumas da sua história- do seu
sentido impossível. Maio de 68, portanto, foi o espasmo brilhante
que testemunhou o esgotamento das energias utópicas da revoluções
do Século passado e abriu um caminho para a imaginação, não para
novas revoluções.

Gravo muitos nomes de Maio, mas quatro deles mantenho na retina


da memória: De Gaulle, majestoso e autoritário, falando em nome da
suposta salvação da nação burguesa contra a ideia do caos, ensejada
por todas as revoluções; Daniel Cohn-Bendit, revolvendo a memória
do anarquismo, para extrair dele algo que apontasse para a um novo
poder estudantil-proletário, inalcançável e etéreo, como formulação
revolucionária; André Malraux, antigo revolucionário chamando a
ordem a se movimentar, em nome da "paz" social e da cultura; e,
como efeito reflexo -dois anos depois- lembro-me da foto de Jean
Paul Sarte, vendendo nas esquinas de Paris, o jornal proibido da
extrema-esquerda proletária, "La Cause du Peuple".

Em maio de 1970, este jornal maoista tinha cassada a sua circulação,


por Decreto do Ministro do Interior Raymund Marcellin, e seus
diretores foram presos. Quando Sarte assumiu a direção do jornal,
em solidariedade aos militantes e jornalistas que dirigiam aquela
iniciativa de resistência, De Gaulle é perguntado. numa entrevista, se
também Sarte "seria preso", ao que o velho General respondeu: "on
ne met pas Voltaire en prison". Estas são as minhas memórias de
Maio de 68, o ano que que revolução morreu. E também renasceu,
com outros horizontes, cuja definição pode estar, simbolicamente,
tanto na ousadia de Sarte vendendo o "Cause de Peuple", como na
respeitosa resposta de Gaulle -reverente à cultura democrática da
nação- afirmando que um país minimamente sério não põe Voltaire
na cadeia.

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