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Apesar dos tratados serem aceitos TRATADO ULTRECHT (11 de abril 1713)
reciprocamente (Tratado Provisional e Ultrecht), o Determinava que o rio Oiapoque seria o limite
período trouxe sempre uma questão preocupante entre o Brasil e a Guiana Francesa.
aos governos (Brasil e França). É nesse contexto
que as ações administrativas são concentradas AGRAVAMENTO DA QUESTÃO FRONTEIRIÇA
no sentido de fortificar a região, garantindo a A França, em 10 de agosto de 1797, voltou
vida dos povoados e a contenção de uma a reclamar a posse de parte das terras situadas
possível invasão estrangeira. entre os rios Araguari e Oiapoque. O imperador
Ouvindo o conselho ultramarino, baseado Napoleão Bonaparte, sustentado pelo poderio
nos relatos do Governador-Geral do Pará, Dom militar francês, determinou o limite entre o Brasil
João V emitiu carta régia para que fosse instalado e a Guiana, pelo rio Calçoene. A ambição
um forte à margem esquerda do rio Amazonas, imperialista francesa não parou por aí. Anulou os
para vigiar o movimento dos franceses e garantir tratados anteriores e impôs outros,
a posse da terra. Coube a Francisco Xavier de estabelecendo, em 1801, o rio Araguari como o
Mendonça Furtado, governador do estado do limite entre as duas nações.
Grão-Pará e Maranhão, a missão de elevar o Entre Portugal e Inglaterra havia uma forte
povoamento de Macapá à categoria de vila, e aliança, o que levou a nação ibérica, em 1807, a
assim, no dia 04 de fevereiro de 1758, no ser invadida por tropas napoleônicas. A Família
transcurso de uma solenidade, Mendonça Furtado Real fugiu para o Brasil, e como represália em
elevou-a a condição de vila de São José de outubro de 1809, Caiena foi ocupada por tropas
Macapá. luso-brasileiras, com apoio naval inglês.
A organização da expedição repressiva foi
FORTIFICAÇÃO DA FOZ DO AMAZONAS em Belém, às ordens do governador José Narciso
de Magalhães e Menezes, que armou uma tropa
Em 1761, o projeto de fortificar Macapá foi de aproximadamente 600 homens, entre os
adiado pelo então governador, porque era quais, muitos macapaenses e mazaganenses, sob
preciso poupar os recursos da colônia. o comando dual do tenente-coronel Manoel
Foi em 1764, em visita a vila de São José de Marques e do capitão James Lucas Yeo, que em
Macapá, que o governador Capitão-General apenas duas horas, conquistou a cidade de
Fernando da Costa Ataíde Teive, em companhia Caiena, e estendeu, por sete anos o domínio
do engenheiro Henrique Antônio Galúcio, deu português sobre a Guiana Francesa.
início à construção da Fortaleza. Após a deposição de Napoleão Bonaparte
A Fortaleza só foi inaugurada em 19 de foram iniciados entendimentos diplomáticos
março (dia do padroeiro) de 1782, porém a entre Portugal e França, para devolução da
grandiosa obra de galúcio ficou incompleta, pois Guiana Francesa, ficando estabelecido, em 1815,
após a morte de D. José I (1777), sua filha D. no Congresso de Viena, no rio Oiapoque como o
Maria I herdeira do trono determina a suspensão limite para essa restituição. Todavia, essa
de recursos, o que paralisa a obra. providência somente foi concretizada em 28 de
Foram na realidade, 18 anos de trabalho em agosto de 1817, através da Convenção de Paris,
algo que se constituía em uma necessidade que estabeleceu, ainda, que essas duas nações
premente para época, assim 18 anos após a deveriam tomar providências para fixação
colocação da pedra fundamental, a fortaleza de definitiva desse limite. Os Portugueses se
São José era solenemente declarada inaugurada, mobilizaram para cumprir o acordo, enquanto os
sem que se tivesse concluído diversas obras franceses, pouco caso fizeram do mesmo e a
externas. questão retornou ao impasse.
A REAÇÃO BRASILEIRA
A proibição do acesso de brasileiros aos
garimpos da região do Contestado, imposta pelo
representante francês e a atuação arbitrária de
Trajano eram resoluções e atitudes
premeditadas, visando criar condições políticas
favoráveis à França para anexa-la à Guiana.
Todavia, a tramóia foi de imediata percebida e
tomada providências para anula-la.
Na vila de Cunani, enquanto isso, Trajano, represália, assassinaram velhos, mulheres e
desconhecendo a autoridade do crianças num total de 38 pessoas e feriram
Triunvirato, continuava cometendo outras 22 algumas com gravidade. Ainda
abusos: extorquia, torturava e insultava
brasileiros, apoiado por uma milícia de 30 atearam fogo em várias casas e saquearam
guianenses. Chegou a rasgar e pisar a estabelecimentos comerciais.
Bandeira Nacional e a içar o pavilhão As tropas invasoras retiraram-se lavando
francês. Trajano, e como prisioneiros Marcílio Beviláqua,
João da Luz, João Lopes Pereira (1º vice-
Cabralzinho que, em fevereiro de 1895, substituiu
presidente do Triunvirato) e o comerciante
o cônego Domingos Maltêz na presidência
do Triunvirato, no dia 25 de abril ordenou português, Manoel Gomes Branco. Os dois
a prisão de Trajano. Para cumprimento da últimos, a bordo da canhoneira Bengali, foram
ordem, foram escolhidos o major Félix assassinados e seus corpos atirados ao mar.
Antonio de Sousa, o capitão Luis Barreto O comerciante Manoel Gomes Branco foi
Bentes e o tenente Sabino Leite, os quais
aprisionado antes de começar os combates.
à frente de numerosos milicianos,
seguiram à vila de Cunani. À aproximação Havia também hasteado uma Bandeira Nacional
das tropas do Exército Defensor do Amapá em frente a sua casa que, após a derrota sofrida
os capangas de Trajano o abandonaram. pelos franceses, foi invadida e assassinados sua
Reagiu, mas foi aprisionado e conduzido à mulher, Ana Vieira Branco e quatro filhos
Vila do Espírito Santo. Foram apreendidas
menores, inclusive uma criança de dois meses,
armas e uma bandeira da França.
traspassada à baioneta, no colo da mãe.
MASSACRE E HEROÍSMO
O FIM DO LITÍGIO
A criação do Triunvirato e as resoluções
A invasão francesa à vila do Espírito Santo
tomadas por essa junta governativa foram
do Amapá e o massacre de civis causaram
consideradas afrontosas pelo governador da
comoção nacional. As relações diplomáticas entre
Guiana Francesa, M. Charvein, que planejou
o Brasil e a França ficaram estremecidas. Mas,
represália. Sob o comando do capitão Lunier,
em 10 de abril de 1897 decidiram solucionar o
enviou uma expedição militar, constituída de 80
centenário litígio pelo arbitramento, escolhendo o
legionários à Vila do Espírito Santo do Amapá
Governo da Suíça para analisar os argumentos
para libertar Trajano, aprisionar Cabralzinho, e
das partes e pronunciar sentença.
conduzi-los à Caiena.
O diplomata José da Silva Paranhos Junior, o
Os invasores franceses, no alvorecer do dia
Barão do Rio Branco, em 22 de novembro de
15 de maio de 1895, transportados pela
1898 foi nomeado para defender os direitos do
canhoneira Bengali e navegando pelo rio Amapá
Brasil nessa disputa. Elaborou sua defesa,
Pequeno, aproximaram-se da Vila, furtivos e
preparando-se para a mediação e a arbitragem,
silenciosos. No local denominado de Encruzo,
embora tivesse preferência pela última, porque
ancoraram e se fizeram transportar por escales.
havia a possibilidade de interpretação rigorosa do
Somente foram notados quando começavam a
Tratado de Ultrecht, assinado em 1713, no qual
desembarcar no cais do povoado.
fundamentava seus argumentos.
Cabralzinho foi alertado da invasão e
A defesa brasileira elaborada por Rio-
preparou-se para resistir. Hasteou a Bandeira
Branco, no dia 5 de abril de 1899, foi entregue ao
Nacional em frente a sua casa, enquanto
Governo Suíço, constando ainda de
milicianos do Exército Defensor do Amapá, num
documentações cartográficas, títulos e de dois
total de 13 brasileiros e 1 norte-americano
volumes do livro “L’Oiapoc et L’Amazone” de
posicionavam-se para repelir a invasão.
autoria de Joaquim Caetano da Silva. O diplomata
O capitão Lunier, à frente das tropas
brasileiro sustentava que Brasil e França agiram
invasoras, caminhou para a casa de Cabralzinho,
corretamente quando em 1713, definiram suas
que foi ao seu encontro. Travaram áspera
fronteiras na América do Sul pelo rio Oiapoque ou
discussão. O oficial tentou agredi-lo, mas foi
Vicente Pinzon, porque sabiam serem dois nomes
dominado, desarmado e morto. Teve início um
para um mesmo rio.
intenso tiroteio e, após algum tempo de combate,
A chancelaria francesa, por sua vez, insistiu
os milicianos brasileiros, sem munição, mas
na suposição de que o rio Oiapoque não era o
ilesos retiraram-se para a orla da mata, deixando
mesmo Vicente Pinzon, mas defendia esse
6 invasores mortos e 22 feridos.
posicionamento sem provas substanciais e
A baixa sofrida pelos invasores deixou
irrefutáveis. Deteve-se, sobremaneira, em sugerir
enfurecida a soldadesca sobrevivente. Em
ao Governo Suíço que pronunciasse sentença – Guaporé (hoje Rondônia),
conciliatória, dividindo a região do Contestado desmembrado dos Estados do
pelo rio Calçoene, solução essa que já havia sido Amazonas e Mato Grosso;
– Ponta-Porã (extinto em 1946),
sugerida pelo Brasil, mas rejeitado por Napoleão desmembrado do Estado do Mato
III, em 1856. Grosso;
Rio-Branco parte para a réplica. Reuniu – Iguaçu (extinto em 1946),
novas provas dos arquivos europeus, desmembrado dos Estados de
principalmente do português, e, oito meses Santa Catarina e Paraná; e
– Amapá, desmembrado do Estado
depois apresentou uma segunda defesa, do Pará, constituído das terras dos
fundamentando ainda mais o ponto de vista que municípios de Macapá, Amapá e
sustentava. Ademais, reforma ao Governo da Mazagão.
Suíça que havia sido escolhido para pronunciar
sentenças, proclamando o direito de um dos • Os Territórios Federais criados pelo
presidente Getúlio Vargas, também,
litigiantes.
visavam a formação de áreas que
O Conselho Federal Suíço, em 1º de protegessem as fronteiras brasileiras,
dezembro de 1900, pronunciou sentença arbitral, numa época que a Segunda Guerra
o Laudo Suíço, acolhendo os argumentos Mundial estava em seu ápice. Dentro
brasileiros, confirmando a atualidade jurídica do desse contexto, o Território do Amapá,
destacava-se dos demais por sua posição
Tratado de Ultrecht, no seu artigo 8º que
geográfica estratégica e por terem os
estabeleceu o rio Oiapoque como a fronteira norte-americanos, em 1941, construído na
entre o Brasil e a Guiana Francesa, e que esse rio área, uma imponente base militar aérea,
era o mesmo Vicente Pinzon, encerrando assim que servia de ponto estratégico para
com a disputa que perdurava por quase dois incursões até ao norte de África, durante o
conflito e proteção da Amazônia, onde
séculos.
novamente a exploração da borracha
ressurgia como principal produto, em
CRIAÇÃO DOS TERRITÓRIOS FEDERAIS decorrência das tropas japonesas
ameaçarem os seringais asiáticos, que
O Governo Federal, no início do século XX, abasteciam os mercados dos Estados
criou o Território do Acre. Em 1920, as Unidos e Europa.
populações dos municípios de Macapá e
Mazagão, conjuntamente, pleitearam essa • Os Territórios Federais criados pelo
condição jurídica. Mas, a criação de novos presidente Getúlio Vargas, também,
Territórios Federais somente começou a se visavam a formação de áreas que
configurar, quando da promulgação das protegessem as fronteiras brasileiras,
Constituições de 1934 e 1937. Através dessas numa época que a Segunda Guerra
Cartas Magnas, proclamou-se a criação de Mundial estava em seu ápice. Dentro
áreas territoriais administradas pelo Governo desse contexto, o Território do Amapá,
Federal, compostas de terras desmembradas destacava-se dos demais por sua posição
do Estado que revelasse incapacidade geográfica estratégica e por terem os
financeira para administra-las e promover- norte-americanos, em 1941, construído na
lhes o desenvolvimento. área, uma imponente base militar aérea,
que servia de ponto estratégico para
• Embora a redivisão de alguns Estados incursões até ao norte de África, durante o
fosse obrigatória, não se providenciava conflito e proteção da Amazônia, onde
sua execução na celeridade que a questão novamente a exploração da borracha
exigia. Somente em 10 de dezembro de ressurgia como principal produto, em
1940, iniciaram-se ações políticas para decorrência das tropas japonesas
criar essas unidades federadas, quando o ameaçarem os seringais asiáticos, que
presidente Getúlio Vargas, em Manaus, abasteciam os mercados dos Estados
afirmou que, a partir daquela data, a Unidos e Europa.
recuperação da Amazônia seria uma
prioridade de seu governo, inclusive com • A nomeação do primeiro governador do
a redivisão territorial da região. Território Federal do Amapá ocorreu no
• Essa redivisão, no entanto, viria a ocorrer dia 27 de dezembro de 1943, com a
quase três anos depois, ou seja, no dia 13 escolha recaindo sobre o capitão do
de setembro de 1943, com a edição do Exército, Janary Gentil Nunes, que
decreto-lei 5.812, que criou os seguintes contava com 31 anos.
Territórios Federais: • Tornava-se o primeiro governante dos
amapaenses devido a méritos militares,
– Rio Branco (hoje Roraima), associados a reivindicações do
desmembrado do Estado do amapaense, general João Álvares de
Amazonas; Azevedo Costa, quando também concorria
ao cargo, o capitão Emanoel de Almeida
Morais, que havia sido prefeito de Manaus
por duas vezes e governado
interinamente, o Estado do Amazonas.