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verve
Revista Semestral do Nu-Sol — Núcleo de Sociabilidade Libertária
Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais, PUC-SP
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2003
VERVE: Revista Semestral do NU-SOL - Núcleo de Sociabilidade Libertária/
Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais, PUC-SP.
Nº4 (outubro 2003 - ). - São Paulo: o Programa, 2003-
Semestral
1. Ciências Humanas - Periódicos. 2. Anarquismo. 3. Abolicionismo Penal.
I. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Estudos
Pós-Graduados em Ciências Sociais.
ISSN 1676-9090
Editoria
Nu-Sol – Núcleo de Sociabilidade Libertária.
Nu-Sol
Acácio Augusto S. Jr., Andre R. Degenszajn, Edson Lopes Jr., Edson Passetti
(coordenador), Eliane Knorr de Carvalho, Francisco E. de Freitas, Guilher-
me C. Corrêa, Heleusa F. Câmara, José Eduardo Azevedo, Lúcia Soares da
Silva, Martha C. Lossurdo, Natalia M. Montebello, Rogério H. Z. Nascimen-
to, Salete Oliveira, Thiago M. S. Rodrigues, Thiago Souza Santos.
Conselho Editorial
Adelaide Gonçalves (UFCE), Christina Lopreato (UFU), Clovis N. Kassick
(UFSC), Guilherme C. Corrêa (UFSM), Guilherme Castelo Branco (UFRJ),
Margareth Rago (Unicamp), Rogério H. Z. Nascimento (UFPB), Silvana Tótora
(PUC-SP).
Conselho Consultivo
Alexandre Samis (Centro de Estudos Libertários Ideal Peres – CELIP/RJ),
Christian Ferrer (Universidade de Buenos Aires), Dorothea V. Passetti
(PUC-SP), Francisco Estigarribia de Freitas (UFSM), Heleusa F. Câmara
(UESB), José Carlos Morel (Centro de Cultura Social – CSS/SP), José Maria
Carvalho Ferreira (Universidade Técnica de Lisboa), Maria Lúcia Karam,
Paulo-Edgard de Almeida Resende (PUC-SP), Plínio A. Coelho (Editora Ima-
ginário), Silvio Gallo (Unicamp, Unimep), Vera Malaguti Batista (Instituto
Carioca de Criminologia).
ISSN 1676-9090
verve
revista de atitudes. transita por limiares e ins-
tantes arruinadores de hierarquias. nela, não
há dono, chefe, senhor, contador ou progra-
mador. verve é parte de uma associação livre
formada por pessoas diferentes na igualdade.
amigos. vive por si, para uns. instala-se numa
universidade que alimenta o fogo da liberda-
de. verve é uma labareda que lambe corpos,
gestos, movimentos e fluxos, como ardentia.
ela agita liberações. atiça-me!
Vivendo e revirando-se:
heterotopias libertárias na sociedade de controle
Edson Passetti 32
Arte e religião
Max Stirner 67
Clevelândia (Oiapoque).
Colônia penal ou campo de concentração?
Carlo Romani 112
Medida e desmesura
Marianne Enckell 132
Malatesta e a violência
Luce Fabbri 186
Malatesta e sua concepção
voluntarista de anarquismo
Maurício Tragtenberg 195
As idéias-força do anarquismo
Jaime Cubero 265
RESENHAS
Existência anarquista
Acácio Augusto 296
Alfabetizar todos?
Francisco E. de Freitas 304
***
300
a prisão (que é a imagem do terror), a colônia penal,
o campo de concentração e de extermínio (clevelândia),
a prisão domiciliar (como mussolini impôs a malatesta),
304
o banimento, são maneiras variadas de tentar manter
a ordem política e econômica da continuidade das desi-
311 gualdades: todo prisioneiro é um preso político.
a prisão está também no cotidiano que uniformiza,
impedindo que se ouça outra música (john cage, ficha-
do no brasil), que cada um se reinvente, faça do desvio a
315 transgressão prazerosa, dispense a arte do aprisiona-
mento no objeto, cometa desmesuras.
os libertários apreciam os revolucionários da lingua-
gem. verve 4 caminha com haroldo de campos, morto
em agosto de 2003 e lhe dedica uma peça de thiago r.
verve é uma revista libertária, semestral e auto-
gestionária, realizada pelo nu-sol.
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o bicho-homem
dorme:
no seu sonho
uma florada verdeclaro
(primavera!)
primaverdece
Haroldo de Campos
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O indivíduo, a sociedade mercantilista, bélica e o anarquista
edgar rodrigues
Apresentação
Edgar Rodrigues é um dos mais importantes pesqui-
sadores da história do anarquismo no Brasil e em Por-
tugal. Chega ao Brasil em 1951, fugindo da ditadura de
Salazar. No Rio de Janeiro, cidade onde se instala, pu-
blica dois livros que já havia escrito: um sobre a ditadu-
ra em Portugal (Na Inquisição de Salazar,1957) e outro
sobre a situação social desse país (Fome em Portugal,
1958).
Seu interesse pelas práticas anarquistas surge por
influência de seu pai que atuava no movimento em Por-
tugal, pela leitura de manifestos, jornais e, em especi-
al, da obra de Kropotkin. No Brasil toma contato com
diversos anarquistas e torna-se amigo de José Oiticica
e Edgard Leuenroth, passando a colaborar na imprensa
libertária. Autodidata, empenha-se na pesquisa de te-
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RESUMO
ABSTRACT
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Haroldo de Campos
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pietro ferrua*
*
Professor emérito do Lewis Clark College, Portland, fundador do CIRA
(Centre International de Recherche sur Anarchisme), viveu no Brasil de 1963
a 1969.
verve, 4: 20-31, 2003
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Je te salue, camarade
je n’ai pas Oublié tes blagues
même cHez les dictateurs
elles nous oNt faire rire.
Aujourd’hui nous te
regrettoNs, mais tu nous ses
d’A guillon pour les luttes
en faveuR de l’anarchie
que tu as preChée et que nous,
avec ou sans cHampignons
dans l’ I ndetermination
avec les Sons de tes jeux de mots
compTons construire
au jour lE jour.
Já te saúdo, camarada
eu não Olvidei tuas troças
mesmo na cHoça dos ditadores
elas Nos fizeram rir.
Conseguiram alguns reter
o âmAgo-medular
sendo enerGizado pelas
marcas imEnsas que os esperavam
Agora sua falta
se Ntimos, mas você serve
de inspirAção para as lutas
em favoR da anarquia
que você Quer e que nós
com ou sem cog Umelos
na Indeterminação
com os Sons de tuas palavras em dança
consTruiremos
dia-A -dia.
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John Cage, anarquista fichado no Brasil
Notas
1
Traduzido por Carolina Besse e Thiago Rodrigues.
2
Este camarada foi o único a não ser preso, entre os oficialmente indiciados no
momento da acariação sobre o estatuto do Centro de Estudos Professor José
Oiticica. Ele figurava como bibliotecário da instituição, mas ninguém conhecia
– ou fingia não conhecer – o verdadeiro nome que se escondia por trás deste
pseudônimo.
3
Carlos M. Rama vinha periodicamente ao Brasil visitar uma de suas filhas que
veio morar no país depois de se casar com um brasileiro. Uma de suas viagens
coincidiu com nosso curso e ele teve a bondade de me substituir para falar
sobre os anarquistas na Revolução espanhola de 1936-39, assim como havia
feito Ideal Peres na semana anterior para nos mostrar a Revolução russa. Carlos
Rama, no dia de sua conferência, foi até entrevistado pela imprensa local. Mais
tarde eu mesmo o avisei, estando em Montevidéu, das prisões ocorridas. Ele
evitou as tempestades da ditadura brasileira, mas entrou em conflito com o
governo uruguaio, refugiou-se no Chile de Allende e em seguida teve que se
exilar na Espanha, onde morreu muito jovem.
4
O processo dos anarquistas, assim como os acontecimentos que se desencade-
aram foram relatados por Edgar Rodrigues em seu livro O anarquismo no banco
dos réus (1969-1972) (Rio de Janeiro, VJR, 1993). Eu mesmo forneci ao autor
uma parte da documentação, mas ele também utilizou documentos oficiais. Na
época das prisões o camarada Rodrigues foi preservado das perseguições duran-
te algum tempo, o que lhe permitiu manter contato com os camaradas que
estavam livres, ajudar as famílias daqueles que estavam presos, encontrar advo-
gados para a defesa e se tornar útil sob diversos planos.
5
Diego Abad de Santillán, que eu encontrava de vez em quando em Buenos
Aires, com quem me correspondia regularmente e que me havia fornecido
material para o curso, se espantou ao receber uma cópia do anúncio de nossas
conferências, assim como a possibilidade de distribuir este tipo de material
durante uma ditadura militar. Eu lhe respondi que não era mais permitido no
Brasil do que na Argentina, mas que o fazíamos assim mesmo.
6
A taxa a pagar era modesta. Nenhum pro labore era destinado aos palestrantes
e o dinheiro recebido contribuía para pagar o aluguel da sala e a impressão dos
cartazes.
7
John Cage. M: Writings ’67-72. Middletown, Wesleyan University Press, 1974,
p. 59.
8
Eu tinha me inscrito para a compra de um telefone, para o qual pagava
mensalidades regularmente, mas após seis anos ele ainda não tinha sido instala-
do. Eu me tornei proprietário de um apenas quando estava no exílio.
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Em seu apartamento no bairro do Leblon, onde na ocasião ela morava com
seu marido, o diretor de orquestra Eleazar de Carvalho.
10
O First International Symposium on Anarchism deu-se em Portland entre os dias
17 e 24 de fevereiro de 1980. Foram oito dias de conversas, conferências,
discussões, transmissões, projeções, espetáculos, recitais, concertos, etc. A par-
te mais bem sucedida foi aquela consagrada às expressões artísticas: dança,
música, cinema. Nesta ocasião nos deleitamos escutando Jocy de Oliveira,
tanto quanto pianista e animadora ao interpretar “Descrições automáticas.
Embriões desidratados. Velhos sequins e velhas armaduras” de Erik Satie,
como quando ela nos ofereceu a apresentação de um extraordinário e inesque-
cível espetáculo “Probabilistic Theater n. 1” sua composição para músicos,
atores e dançarinos, que foi muitíssimo aplaudida.
11
John Cage. M: Writings ’67-72, op. cit., p. 60.
12
John Cage. Composition in retrospect. p. 43.
13
Idem, p. 126.
14
Ibidem, p. 93.
15
Ibidem, p. 34.
16
John Cage. M: Writings ’67-72, op. cit., p. 101.
17
Ele tinha tanta confiança em Kostelanetz que permitiu que ele palpitasse
sobre seus escritos e que fizesse uma montagem, para um artigo que apareceu
na revista Social Anarquism (nº 14 de 1989. pp. 13-29) com suas idéias sobre
educação. John Cage se limitou a adicionar algumas palavras, aqui e ali, entre
parênteses.
18
Citação: “Last Words on Anarchy. An Interview with John Cage by Max
Bletchman” in Drunken Boat, n° 2, pp. 221-225. A revista apareceu em setem-
bro de 1994 mas a entrevista aconteceu em 24 de julho de 1992, menos de um
mês antes da morte do compositor.
19
John Cage. A Year from Monday, p. 53.
20
John Cage. Composition in retrospect, op. cit., p. 32.
21
John Cage. “Interview with Jeff Goldberg” in The transatlantic Review, nº 55-
56 de maio de 1976.
22
Citado por Piero Santi em “Método e caso in Cage” in Spirali nº 42 de junho
de 1982, pp. 43-45.
23
Idem, p. 33.
24
Ibidem, p. 33.
PS: John Cage tinha sido convidado para participar do programa musical do
Primeiro Simpósio Internacional sobre o Anarquismo de Portland, mas não pôde
comparecer devido a contratos assinados anteriormente com o coreógrafo
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John Cage, anarquista fichado no Brasil
Merce Cunningham, mas ele nos permitiu colocar no programa seu Imaginary
Landscape n. 4, incrivelmente interpretado pelo Lewis Clark Chamber Choir
dirigido por Gilbert Seeley.
RESUMO
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edson passetti*
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Coordenador do Nu-Sol, Professor no Departamento de Política e no PEPG-
Ciências Sociais, PUC-SP.
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Outro livro
Cosmópolis é um livro de Dom Delillo (São Paulo, Com-
panhia das Letras, 2003) que trata de um dia na vida de
um homem bem sucedido, poderoso, que do interior de
sua limusine comanda, sai para dar ordens e trepar com
mulheres, receber seus asseclas e atuar segundo as
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Heterotopias de percurso
Michel Foucault afirmou em seu pequeno artigo “Ou-
tros espaços”1, escrito na Tunísia, em 1967, que as
heterotopias são encontradas em todas as culturas, ape-
sar de não haver uma heterotopia universal. É o avesso
da utopia ocidental que pretende a universalidade, um
posicionamento sem lugar real. As heterotopias são
contraposicionamentos, lugar real de realização de uma
utopia. Em poucas palavras Foucault recupera os prin-
cípios que podem ser extraídos das emergenciais
heterotopias que nos remetem a lugares da crise (mo-
mentos ritualísticos vividos por adolescentes, mulhe-
res e velhos nas sociedades primitivas, mas também
que atravessam nossa cultura, como na vida temporá-
ria nos colégios, no serviço militar e até nas viagens de
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Notas
1
Michel Foucault. Estética: literatura e pintura, música e cinema. Manoel B. da Motta
(org.), Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2001, Ditos e Escritos vol. 3.
2
Os seis princípios, brevemente apresentados, são: 1. toda cultura constitui
heterotopias e não há uma heterotopia universal; 2. cada heterotopia que não
deixou de ocorrer tem funcionamento preciso e determinado no interior de
uma sociedade (cemitério); 3. as heterotopias podem justapor espaços incom-
patíveis como o teatro e o cinema; 4. heterotopias estão ligadas a recortes de
tempo, por exemplo: museus e bibliotecas no século XIX, ou com o que há de
mais fútil no tempo, as heterotopias crônicas (feiras, cidades de veraneios...); 5.
as heterotopias supõem sistemas de aberturas e fechamentos que as isolam e
tornam impermeáveis (caserna e prisão) ou que parecem simples aberturas mas
escondem reclusões (os quartos de hóspedes das fazendas brasileiras no século
XIX ou os motéis norte-americanos no século XX); 6. heterotopias têm fun-
ções de espaço de ilusão (os bordéis) ou de compensação (as colônias dos
descobrimentos ou a perfectibilidade dos jesuítas).
3
Michel Foucault, op.cit., p. 419.
4
Friedrich Nietzsche, em Humano demasiado humano, São Paulo, Companhia das
Letras, 2000, [638], distinguia o viajante do andarilho enquanto maneira de se
atingir ou não a meta final.
5
No volume 2 de Verve procurei deter-me nas heterotopias anarquistas, ainda
consideradas segundo os lugares. Edson Passetti, “Heterotopias anarquistas” in
Verve, São Paulo, Nu-Sol, 2002, vol. 2, pp. 141-172.
6
Para uma noção da sociedade de controle, ver Gilles Deleuze. Conversações.
Rio de Janeiro, 34 Letras, 1991.
7
Gilles Deleuze. Foucault. São Paulo, Brasiliense, 1988, p. 141.
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Notas
1
Critique cinquante ans 1946-1996, n° 591-592, Août-Septembre 1996.
2
Michel Foucault. “Theatrum Philosophicum” in Critique, nº 282, novembre
1970.
3
Judith Revel. “Foucault lecteur de Deleuze: de l’ecart à la différence” in
Critique, nº 591-592, Août-Septembre, 1996, pp. 727-735.
4
Michel Foucault. “Colloqui con Foucault”, entretien avec D. Trombadori,
Paris, fin 1978, Il Contributo, 4º anné, nº 1, janviers-mars 1980, pp. 23-84; trad.
fr. Dits et écrits, sous la direccion de F. Ewald et D. Defert, Paris, Gallimard,
1994, vol. 4, texto nº 281.
5
J. Revel, op. cit., pp. 729-730.
6
Idem, p. 731.
7
Michel Foucault. “La prose d’actéon”, dans La nouvelle revue française, nº 135,
mars 1964, repris dans Dits et écrits, op. cit., vol. I, texte nº 21.
8
J. Revel, op. cit., p. 731.
9
Michel Foucault. “Préface à la transgression”, Critique “Hommage à Georges
Bataille”, nº 195-196, Août-Septembre 1963, in Dits et écrits vol. I, pp. 233-
250.
10
J. Revel, op. cit., pp. 731-2.
11
Michel Foucault. “Préface à la transgression”, op. cit., p. 238.
12
Idem. [Nota dos Editores: “Seria também necessário aliviar essa palavra de
tudo o que pode lembrar o gesto do corte, ou o estabelecimento de uma
separação ou a medida de um afastamento, e lhe deixar apenas o que nela pode
designar o ser da diferença”. Tradução de Inês Autran Dourado Barbosa in
Michel Foucault. Estética: literatura e pintura, música e cinema. Manoel Barros da
Motta (org.), Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2001, Ditos e escritos vol. III,
p. 33.]
Michel Foucault. “Présentation” a George Bataille, Oeuvres complétes 1970,
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Michel Foucault, Dits et écrits vol. IV, op. cit., p. 57.
Gilles Deleuze. “Qu’est qu’un dispositif (“O que é um dispositivo?”)” in
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RESUMO
ABSTRACT
This article aims, from the study of the 50th anniversary issue of
the magazine Critique, to face Michel Foucault’s thought concerning
the investigation of difference in his work, taking as reference the
importance of the work of George Bataille, founder of the magazi-
ne that gave opportunity to an entire generation of French
intelectuals.
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thomas mathiesen*
Sonho impossível?
Muitos anos atrás, viajei de Oslo para Estrasburgo,
via Londres, e estava envolvido com um trabalho de pes-
quisa. Foi nos velhos tempos, quando os aviões voavam
baixo, de modo que se podia ver alguma coisa pelo cami-
nho. Eu vi as colinas, as planícies e os contornos das
cidades grandes — e até de algumas cidades pequenas
— da Europa. O sol estava claro e brilhante e o céu azul.
Eu me lembro ter pensado que, durante minha vida, iria
experimentar uma Europa sem prisões ou, pelo menos,
virtualmente sem prisões.
Não foi assim que ocorreu. Nas décadas de 1960 e
1970 um conjunto complexo de fatores políticos criou
*
Abolicionista penal, integrante e fundador da Associação Norueguesa para a
Reforma Penal (KROM) e professor de Sociologia do Direito na Universidade
de Oslo.
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A irracionalidade da prisão
Para um abolicionista, é animador mostrar que a abo-
lição de sistemas penais inteiros, de fato, é possível. Mas,
como eu disse, hoje em dia, as condições são completa-
mente diferentes. Se a Inquisição quisesse, ela poderia
ter se voltado completamente contra o povo. E completa-
mente contra os meios de comunicação de massa, que
não existiam — exceto pelos livros publicados. A mu-
dança cultural na Inquisição, vitória de uma parte de
uma cultura alternativa e a compreensão dentro do sis-
tema, foi, portanto, uma condição suficiente para a abo-
lição. Hoje em dia, uma mudança cultural no sistema
penal e uma mudança na direção de um senso de res-
ponsabilidade pessoal por parte daqueles que lá traba-
lham é muito necessária. Mas não seria uma condição
suficientemente plena porque o sistema penal atual,
elaborado por políticos, é muito mais dependente no con-
texto geral daquilo que chamamos de “opinião pública”
e meios de comunicação de massa.
Retornarei a este ponto importante mais tarde. Meu
ponto de partida é esse: a prisão, sobre a qual eu res-
trinjo minha análise, é “um gigante sobre um solo de
barro”. A expressão é traduzida do norueguês e quer di-
zer um sistema aparentemente sólido com pilares defi-
cientes, muito semelhante à escravidão, ao Império
Romano e à legislação Soviética em seus estágios fi-
nais.
O calcanhar de Aquiles, o solo de barro da prisão é
sua total irracionalidade em termos de seus próprios objeti-
vos estabelecidos, um pouco como as caças às bruxas
sem provas. Em termos de seus próprios objetivos, a pri-
são não contribui em nada para nossa sociedade e nos-
so modo de vida. Relatórios após relatórios, estudos após
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Notas
1
Conferência publicada com a autorização da Association for Humanist
Sociology. Proferida no Brasil, na PUC/SP, em ocasião do Seminário Interna-
cional de Abolicionismo Penal e publicada em Edson Passetti e Roberto Baptista
Dias da Silva (orgs.). Conversações abolicionistas: uma crítica do sistema penal e da
sociedade punitiva. São Paulo, IBCcrim/PEPGCS-PUC/SP, 1997, pp. 263-
287. Tradução de Jamil Chade.
2
Nils Christie. Crime control as industry — towards gulags, western style?. London,
Routledge, 1994. [N. do E. — Publicado no Brasil como: Nils Christie. A
indústria do controle do crime: a caminho do gulags em estilo ocidental. Rio de Janeiro,
Forense Universitária, 1998.]
3
Sebastian Scheerer. “Towards abolitionism” in Contemporary Crisis, 1986, p. 7.
4
Gustav Henningsen. Heksenes advokat (The witches advocate). Copenhagen,
Delta, 1981.
5
Henry Charles Lea. A History of the Inquisition of Spain. New York, AMS Press,
Inc. 1906, 2nd. ed. 1966.
6
Andrew Rutherford. The dissolution of the training schools in Massachusetts.
Columbus, Academy for Contemporary Problems, 1974.
7
Henry Charles Lea. Op. cit., vol IV, p.234.
8
Lloyd W. McCorkle and Richard R. Korn. “Resocialization within walls” in
Annals of American Academy of Political and Social Science, 1954, p. 88.
9
Karl F. Schumann et al. Jugendkriminalität und die Grenzen der Generalprävention
(Delinqüência juvenil e os limites da prevenção geral). Cologne, Luchterhand,
1987.
10
Idem.
Alfred Blumstein et al (eds). Criminal careers and career criminals. Washington
11
109
4
2003
110
verve
A caminho do século XXI — abolição, um sonho impossível?
RESUMO
ABSTRACT
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2003
carlo romani*
Gaetano Salvemini.
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Clevelândia (Oiapoque). Colônia penal ou campo de concentração?
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Clevelândia (Oiapoque). Colônia penal ou campo de concentração?
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Clevelândia (Oiapoque). Colônia penal ou campo de concentração?
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Clevelândia (Oiapoque). Colônia penal ou campo de concentração?
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Clevelândia (Oiapoque). Colônia penal ou campo de concentração?
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verve
Clevelândia (Oiapoque). Colônia penal ou campo de concentração?
Notas
1
Carl Levy. “Italian anarchism, 1870-1926” in David Goodway (org.). For
anarchism. Londres, Routledge, p. 25.
2
As informações sobre esse episódio vêm através das memórias históricas ou da
história contada por aqueles que a viveram, como é o caso por exemplo, de
Everardo Dias. Bastilhas Modernas: 1924-1926. São Paulo, Editora de Obras
Sociais e Literárias, 1926 (livro de memórias das passagens pelas prisões que traz
o relato do tenentista Lauro Nicácio, confinado em Clevelândia, pp. 237-49).
Também são fontes as cartas deixadas por Pedro Catalo e outros ativistas anar-
quistas como Pedro Carneiro, Domingos Passos e Domingos Braz e publicadas
por Edgar Rodrigues. Novos rumos. Rio de Janeiro, Mundo Livre, s/d. Outros
trechos estão disponíveis nas obras Os companheiros, vol 1. Rio de Janeiro, VJR,
1994; Os companheiros, vol 2. Rio de Janeiro, VJR, 1995; Os companheiros, vol 3 e
4. Florianópolis, Insular, 1997; Os companheiros, vol 5. Florianópolis, Insular,
1998. Notícia e correspondências sobre o tema foram publicadas em jornais
libertários, principalmente A Plebe, de São Paulo, mas também em O Syndicalista,
de Porto Alegre e até A Batalha, de Lisboa. Na historiografia, a triste história de
Clevelândia somente mereceu algum destaque quando passou a ser contada por
John Foster Dulles, Anarquistas e comunistas no Brasil. Rio de Janeiro, Nova
Fronteira, 1977 (no item Oiapoque, livro VI, 8); posteriormente Paulo Sérgio
Pinheiro. Estratégias da Ilusão. São Paulo, Companhia das Letras, 1992, dedicou-
se ao assunto no capítulo 5, “Desterro e campos de internamento”. Uma matéria
sobre o tema foi publicada no artigo “Clevelândia, o Gulag brasileiro”, Utopia.
Rio de Janeiro, n.º. 3, verão de 1990. Contudo, o mais amplo e detalhado trabalho
sobre o assunto foi publicado recentemente por Alexandre Samis. Clevelândia.
São Paulo. Imaginário/Achiamé, 2002. Antes deste trabalho, foi publicado, tam-
bém por Alexandre Samis. Moral pública e martírio privado. Rio de Janeiro, Achiamé,
1999. Além destes trabalhos já publicados encontra-se em andamento com pre-
visão de conclusão para dezembro de 2003, minha tese de doutorado: Aqui
começa o Brasil! IFCH/Unicamp. Nesta tese, pesquisei como ocorreu o processo
de ocupação da região da fronteira do Oiapoque entre 1900 e 1927 a partir da
perspectiva dos diversos trânsitos e confinamentos gerados pelas populações do
127
4
2003
lugar, das relações estabelecidas entre elas e dos confrontos e interações estabele-
cidos entre essas populações e o Estado.
3
Segundo o artigo “Movimento revolucionário”, A Plebe, a. 7, n º. 244. São
Paulo, 25/07/1924.
4
Marília Xavier. “Antecedentes criminais de nossa polícia política” in DOPS: a
lógica da desconfiança. Rio de Janeiro, Secretaria de Estado da Justiça/Arquivo
Público do Estado, 1993, p. 33.
5
Angela de Castro Gomes. A Invenção do trabalhismo. Rio de Janeiro, IUPERJ,
1988.
6
Padre Rogério Alicino. Clevelândia do Norte. Rio de Janeiro, Biblioteca do Exér-
cito, 1971. “O certo é que os primeiros colonos chegaram à Clevelândia durante
a terceira década do mês de maio de 1921”, p. 88.
7
Idem, pp. 94-95.
8
Foram publicados em diversos números de A Plebe, durante o ano de 1927 e
também nos jornais operários: A Batalha, de Lisboa; O Syndicalista de Porto
Alegre, La Antorcha, de Buenos Aires, além de alguns jornais da imprensa burgue-
sa.
9
Carta de Manuel Ferreira Gomes. Utopia, op. cit.
10
P.S. Pinheiro, op. cit, p. 104. O relatório também foi trabalhado por Alexandre
Samis, op. cit., pp. 172-8. O documento encontra-se no Arquivo Público Minei-
ro, Fundo Arquivo Artur Bernardes, AAB.
11
Padre Alicino, op. cit, p. 96.
12
Idem, p. 98.
13
Edgar Rodrigues. Os Companheiros vol. 2. Rio de Janeiro, VJR, 1995, p. 25. Esse
conjunto de cinco livros do historiador do anarquismo, compondo pequenas
biografias, traz breves relatos de centenas de militantes anarquistas, alguns deles
prisioneiros em Clevelândia como foi o caso de Domingos Passos.
14
Sobre o assunto ver: Pier Carlo Masini. Storia degli anarchici italian. Da Bakunin
a Malatesta. Milão, BUR, 1974; Carlo Romani. Oreste Ristori. Uma aventura anar-
quista. São Paulo, Annablume, 2002; Amedeo Borghi. Ricordi del domicilio coatto.
Turim, Seme Anarchico, 1954; Giorgio Sacchetti, “Controllo sociale e domicilio
coatto nell’Italia Crispina” in Rivista Storica dell’Anarchismo. Pisa, BFS, ano 3 n º.
1, jan/jul/1996; Zagaglia (L. de Fazio) I coatti politici in Italia. Salerno, Galzerano
Editori, 1987.
15
Sobre as prisões na Patagônia Argentina, ver a obra completa, os quatro volu-
mes de Osvaldo Bayer. La Patagônia trágica. Entre seus livros, tratam do tema,
Severino Di Giovanni, el idealista de la violencia. Buenos Aires, Legasa, 1989 e Radowitzky
mártir o asesino?. Buenos Aires, Legasa, 1984.
128
verve
Clevelândia (Oiapoque). Colônia penal ou campo de concentração?
16
Paulo Sérgio Pinheiro, op. cit., utilizando-se de variadas informações, dentre
elas merece destaque a obra do historiador José Maria dos Santos. A política geral
do Brasil. São Paulo, 1930.
“A verdade sobre a deportação para a Clevelândia”. Discurso publicado em A
17
Notícia, 4/2/1928.
18
José Maria dos Santos, op. cit., p. 414.
19
Conforme mostra a pesquisa de Carlo Romani, Aqui começa o Brasil!..., op. cit.
20
Carlo Spartaco Capogreco. “I campi di internamento fascisti per gli ebrei (1940-
1943)” in Storia contemporânea, ago/91.
21
Giorgio Sacchetti. “Resistenza e guerra sociale” in Rivista Storica dell’Anarchismo.
Pisa, BFS, ano 2, nº 1, jan/jun/1995.
22
Idem, p. 9. Os depoimentos sobre as condições de vida dos internados foram
obtidos por Sacchetti e publicados em “Renicci: um campo di concentramento
per slavi e anarchici” in I. Tognarini (org.). Guerra di sterminio e resistenza. La
provincia di Arezzo 1943-1944. Napoli, 1990.
23
“Vendetta insaziabile (I coatti a Port’Ercole)”, artigo publicado em Lota di
Classe. Milão, 2 e 3/03/1895, apud Pier Carlo Masini. Storia degli anarchici italiani
nell’epoca degli attentati. Milão, BUR, 1982, p. 60.
Carta de Atílio Lebre ao deputado Adolfo Bergamini. Câmara dos Deputados.
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RESUMO
ABSTRACT
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Haroldo de Campos
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medida e desmesura
marianne enckell *
marianne enckell*
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Medida e desmesura
Notas
1
Jean Bodin. La République. 1576.
2
Encyclopédie, ou Dictionnaire raisoné des sciences des arts et des métiers, tomo X,
“Mesure”, (apud Witold Kula. Les mesures et les hommes. Paris, Maison des
Sciences de l´Homme, 1984)
3
Lewis Mumford. Technique et civilization. Paris, Seuil, 1950, p. 243.
4
Bronislaw Backo. “Rationaliser révolutionnairement” in Les mesures et l´histoire.
Paris, CNRS, 1984, p. 57.
5
Denis Guedj. La Méridienne. Paris, Seghers, 1987, p. 13.
6
Paul Valéry. Variétes, III, (apud Kula, op. cit.).
7
Corpo de segurança constituído por homens a cavalo, durante o Antigo Regi-
me francês. (Nota do tradutor da versão portuguesa.)
8
Paul Virilio. Vitesse et politique. Paris, Galilée, 1977, p. 27.
9
Lewis Mumford, op. cit., p. 25.
10
Georges Balandier. Le temps et la montre en Afrique noire. Bienne, FUS, 1963.
11
Witold Kula, op cit, p. 9.
12
Idem, p.25.
13
Bronislaw Backo, op. cit., p. 59.
14
Bulletin de la Féderation Jurassienne. Sonvilier, 1.5., 1873.
15
Encyclopédie anarchiste.
16
Elisée Reclus. L´Homme et la Terre. Paris, 1905, tomo I, em particular p. 326-
327, e Nouvelle proposition pour la supression de l´ère chrétienne. Bruxelas, 1905.
17
Jean-Marc Lévy-Leblond. L´esprit de sel: science, culture, politique. Paris, Fayard,
1981, p. 92.
143
4
2003
RESUMO
ABSTRACT
144
verve
Economia e política, problematizações libertárias
natalia montebello *
Um pensar libertário
Era o ano de 1936. Rudolf Rocker, anarquista alemão,
estava nos Estados Unidos com Milly. Os dois percorre-
ram lugares, fronteiras ideológicas, totalitarismos que
lhes eram intoleráveis. Práticas autoritárias reverbe-
ram na fé daqueles que acreditam na fatalidade de seus
lugares, de seus costumes e tradições: uma verdade que
fala por eles, e que se inscreve numa história que é
maior do que eles. Rudolf e Milly inventam espaços. Aos
Estados Unidos chegaram, não para fugir, mas para vi-
ver; nunca para abraçar uma autoridade mais demo-
crática, mas para inventar a vida, pensando-a
libertariamente. Não se tratava de achar um lugar. O
lugar é sempre uma crença coletiva, uma miragem com-
partilhada que persiste nos olhos que a vêem. Se o lu-
gar e seu tempo estão no pensar, o pensar está vivo quan-
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Economia e política, problematizações libertárias
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Economia e política, problematizações libertárias
Política e economia
A guerra abre caminho, passando dos campos de ba-
talha, das trincheiras e linhas de frente, para o con-
fronto em áreas urbanas, diante de alvos civis, até che-
gar à guerra sem campo, sem áreas nem tempos, sem
povo-alvo. A guerra segue, hoje, os ditames do catecis-
mo terrorista: não há alvo, pois todos o são, não há es-
tratégia, pois a surpresa é o elemento chave, não há
tempo de paz, pois a ameaça é constante. Ao Estado não
cabe mais ditar a disposição de seus exércitos, a menos
que estes pretendam estar em todo lugar, a qualquer
momento.
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Economia e política, problematizações libertárias
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Economia e política, problematizações libertárias
Determinismo econômico
Sabemos o quanto já se disse — e ainda se insiste
em dizer — a respeito da preponderância dos motivos
econômicos sobre a história ou sobre o presente das
sociedades — de todas, não importa onde ou quando.
Ouvimos, ainda, seguras afirmações de futuros, como
cálculos infalíveis baseados em variáveis econômicas.
Em raras ocasiões, entretanto, encontramos dissonân-
cias, ou melhor, invenções nesta música de fundo do
pensamento. As ocasiões são raras, mas interessam aos
ouvidos ainda não adormecidos. Para falar sobre elas,
gostaria, antes, de me deter nestas primeiras conside-
rações.
O tema da preponderância das motivações econômi-
cas se repete, invade o ar e parece deslizar-se, comoda-
mente, entre aqueles que escutam. Mais ainda: foi com
louvor que o determinismo econômico deu ao pensar
sobre as sociedades aquele ar de ciência exata que, bu-
rocraticamente falando, sempre lhe caiu tão bem. En-
contraremos principalmente no século XIX o cenário
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Economia e política, problematizações libertárias
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Crítica radical
O XIX é, também, o lugar de dissonâncias que até
hoje incomodam. Destoam, por vontade de afirmação,
criativamente, das questões de grau e dos caminhos
certos. Diversas problematizações anarquistas têm em
comum a urgência de pensar a economia como lugar
privilegiado de relações livres, sempre que destituídas
das intermediações dos idealismos políticos. Para os
anarquismos, o problema do Estado nunca foi um pro-
blema de grau ou de transição. Deste ponto de vista,
eles acionam uma reinvenção da política que é, ao unís-
sono, uma demolição, de suas instituições e seus di-
versos catecismos, e uma afirmação de vida e pensares
políticos, justamente porque afirmativos.
Nos anarquismos não há concessões para a política,
que realiza a mágica de dar a alguns a voz de muitos.
Desta forma, se o agir em nome de todos é sempre o
exercício da autoridade sobre todos — e não importa se
a ação é adornada pela benevolência sobre todos ou ape-
nas apresentada como vontade do Senhor —, não se tra-
ta de administrar a ação do Estado, mas de inventar re-
lações sem ele. Demolindo esta política, as relações eco-
nômicas são urgências que o pensar interessado deve
resolver, não segundo este ou aquele princípio
distributivo geral, sobre este ou aquele princípio de jus-
tiça geral, sobre esta ou aquela ideologia geral, mas so-
bre esta e aquela condições específicas, dissonantes,
surpreendentes. Daí que o federalismo, a descentrali-
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Economia e política, problematizações libertárias
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Notas
1
Rudolf Rocker. Nacionalismo y cultura. Buenos Aires, Americalee, s/d.
2
Idem, p. 32.
3
Observemos, entretanto, que, para o Estado, uma vida produtiva, economica-
mente ativa, ou potencialmente produtiva, não tem valor algum, a não ser
como resultado estatístico. De outra forma, o quanto vale, ou produz, uma
vida vadia? Não digo, é claro, que encontremos respostas em nossos bons e
justos textos oficiais, mas certamente as encontraremos em todas as institui-
ções, instâncias e práticas que do Estado reverberam e que repetem seu princí-
pio de ordem e progresso — do sistema jurídico e penal à tal da opinião pública,
da escola à família, passando por qualquer instituição de observação e controle,
ou seja, por qualquer reclusão, entre quatro paredes ou a céu aberto. A moral do
Estado é eloqüente.
4
John Maynard Keynes. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo,
Abril Cultural, 1983.
5
No seu conto Tigres azuis, Borges nos lembra, ao narrar a história de pedras
que subvertem as matemáticas, que foram as pedras gregas que legaram à
humanidade, como primeiros algarismos, a palavra “cálculo”. O cálculo, aqui,
é a pedra. Cf. Jorge Luis Borges. La memoria de Shakespeare. Madrid, Alianza
Editorial, 1997.
6
Rudolf Rocker. Anarcosindicalismo: teoría y práctica. Barcelona, Ediciones Picazo,
1978.
7
Idem, p. 5.
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Economia e política, problematizações libertárias
RESUMO
ABSTRACT
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quando se vive sob a espØcie da viagem o que importa nªo Ø a viagem mas o come o da
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Infiltrações burguesas na doutrina socialista
errico malatesta*
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Infiltrações burguesas na doutrina socialista
Nota
1
Texto originalmente publicado no jornal Il Pensiero, n º 10 em 16 de maio de
1905; extraído do livro “Anarquistas, Socialistas e Comunistas”, publicado
pela Ed. Cortez, 1989, edição esgotada. Tradução de Plínio A. Coêlho.
169
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max nettlau*
De 1871 a 1889
Ao meio-dia da sexta-feira, 22 de julho de 1932, mor-
reu em Roma, Errico Malatesta. A morte o libertou de
uma cruel doença, mas também de uma refinada priva-
ção de liberdade que somente os ex-socialistas autori-
tários sabem impor, com o desejo de inutilizar suas víti-
mas libertárias a partir do isolamento.
Lênin isolou Kropotkin em um povoado e soube evi-
tar que fosse se recompor em um clima propício.
Mussolini, ex-socialista, isolou Malatesta em sua pró-
pria casa, e quando o velho tentou refrescar-se no mar,
uma perseguição policialesca o forçou em poucos dias a
voltar à cidade calorenta, ardente. Outros socialistas
elegeram o deserto como residência aos seus adversá-
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Em memória de Errico Malatesta
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Em memória de Errico Malatesta
Notas
1
Este é o primeiro escrito de uma série de três publicados por Max Nettlau em
memória de Malatesta. Tradução de Gabriel Passetti, de Max Nettlau. “En
memoria de Errico Malatesta” in E. Malatesta. Escritos. Fundación Anselmo
Lorenzo, Madri, Colección Clásicos Anarquistas 1, 2002.
2
Errico Malatesta nasceu a 14 de dezembro de 1853 no povoado de Santa
Maria Capua Vetere, próximo a Nápoles. Malatesta. Etineraire, une vie, une pensée.
Paris, 1989, no 5/6. [N. do E.]
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malatesta e a violência1
luce fabbri*
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Malatesta e a violência
Da República à Internacional
Nascido no seio de uma família abastada do reino de
Nápoles — mais precisamente em Santa Maria Capua
Vetere — em 1853, isto é, sob essa dinastia Bourbon à
qual restava sete anos de vida, cresceu na atmosfera
ardente criada pela expedição de Garibaldi, que em 1860
produziu a união de todo o Sul ao reino da Itália. A expe-
dição havia sido conduzida com entusiasmos republica-
nos e teve um desenlace monárquico. Errico, como gran-
de parte da juventude de estudantes napolitanos, no
marco dessa desilusão, começou como partidário de
Mazzini, o grande republicano, apóstolo da Jovem Itália
e da Jovem Europa, que tanto havia contribuído com o
processo de independência e de unificação e o tinha visto
terminar de forma tão oposta a seus ideais. Aos quatorze
anos, Malatesta foi preso pela primeira vez por ter es-
crito uma carta, julgada ofensiva ao rei Victor Manuel
II, mas em 1870 já estava afiliado à Primeira Internaci-
onal. Nunca quis ser um teórico. Costumava dizer que
seus motivos eram absolutamente primários: combater
a injustiça, contribuir para melhorar a situação dos que
sofrem opressão e exploração. “Violaria todos os princí-
pios, se fosse necessário, para salvar a vida de um só
homem”, o ouvi dizer mais de uma vez. “O amor — es-
crevia em 1892 — é o fundo moral do nosso programa”3.
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Malatesta e a violência
Momentos
Certa vez fugiu escondido numa caixa, que o policial
que o vigiava se ofereceu gentilmente a transportar.
Outra vez, procurado, ocultou-se numa prisão de Nápo-
les, de cujo diretor fizera-se amigo numa detenção an-
terior.
Durante uma manifestação na qual ele figurava
como orador, no norte da Itália, chegou uma companhia
de carabineiros com o objetivo de interromper o evento
na primeira palavra considerada subversiva: temeu-se
um conflito. Mas ele falou, como napolitano que era, das
condições de miséria em que se encontrava o sul da
Itália, de onde procediam todos os carabineiros (e ainda
procedem); o capitão teve que sair rapidamente com seus
homens, com os olhos cheios de lágrimas.
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Malatesta e a violência
O pensamento
O caráter distintivo de Malatesta no espectro das múl-
tiplas tendências socialistas do fim do século foi a rejei-
ção do determinismo difuso entre todas elas — inclusi-
ve as libertárias — graças ao cientificismo positivista e
de uma interpretação primária do marxismo. As idéias
de Malatesta foram voluntaristas, baseadas na reivin-
dicação dos direitos dos trabalhadores do campo e da ci-
dade, mas orientadas para uma sociedade centrada no
homem enquanto tal em seus dois aspectos, individual
e social, uma sociedade liberada da opressão econômi-
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Malatesta e a violência
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Nota
1
Luce Fabbri. “Errico Malatesta y la violencia”. Jacques, Montevideo, 1984, no
39. Tradução de Natalia Montebello.
2
A autora se refere ao filme Malatesta, de 1970, do diretor alemão Peter
Lilienthal e escrito por ele, Michael Koser e Helthcote Williams (N. do E.).
3
En dehors, Paris, 17/8/1892.
194
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Malatesta e sua concepção voluntarista de anarquismo
maurício tragtenberg *
*
Foi professor no Departamento de Política e na Pós-graduação em Ciências
Sociais da PUC-SP, na Unicamp e na FGV.
verve, 4: 195-227, 2003
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Malatesta e sua concepção voluntarista de anarquismo
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Malatesta e sua concepção voluntarista de anarquismo
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Questão de organização
Uma das maiores preocupações de Malatesta dizia
respeito à organização operária e sindicalismo. Dava ele
à discussão a respeito de organização a importância
máxima, pois via na anarquia uma organização
libertária em substituição a uma organização autoritá-
ria.
Em 1886, na Argentina, via-se nascer as primeiras
organizações operárias por sua obra. Exerceu imensa
influência nos fundadores do anarco-sindicalismo fran-
cês, Pelloutier e Pouget, que visitavam-no por ocasião
de seu exílio em Londres. A partir de 1897, sua propa-
ganda em favor do anarco-sindicalista na Itália cresce
e influencia Armando Borghi, o grande organizador ope-
rário de Bolonha.
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Malatesta e sua concepção voluntarista de anarquismo
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Malatesta e sua concepção voluntarista de anarquismo
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Malatesta e sua concepção voluntarista de anarquismo
A organização anarquista
Malatesta polemizou muito contra aqueles anarquis-
tas individualistas que negam a necessidade de uma
organização. Para ele a organização não é somente a
prática da cooperação e da solidariedade, condição de
existência da vida social, ela constitui um fato que se
impõe a todos.
O homem só é verdadeiramente homem na socieda-
de, contando com a cooperação de seus semelhantes.
O erro maior dos inimigos de qualquer forma de or-
ganização consiste no fato de acreditarem que não pode
haver organização sem autoridade, preferindo renunci-
ar a qualquer tipo de organização para não aceitar a mais
mínima autoridade.
O homem conheceu várias alternativas de sociabili-
dade: sofrer a autoridade dos outros (escravos), impor
sua vontade aos outros (ser a autoridade) ou viver com
os outros mediante um acordo fraternal (ser um associ-
ado). Ninguém pode eximir-se dessa necessidade social
e os anti-organizadores radicais não deixam de sofrer
os resultados da organização geral da sociedade em que
vivem; inclusive na sua rebelião contra a organização
se organizam com aqueles que estão de acordo e utili-
zam os meios de que a sociedade dispõe.
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Parlamento
Um dos temas fundamentais dos escritos de
Malatesta é o tema do Parlamento, o sentido da luta par-
lamentar, como obstáculo à formação da consciência
social do trabalhador, como “fábrica de ilusões”. Ao Par-
lamento liga-se o eleitoralismo, que acaba dominando
nos partidos acima de qualquer ideologia ou propaganda
política.
O Parlamento é parte integrante de um regime polí-
tico individualista onde vigora a chamada “soberania
popular”, onde a lei é feita por quem o povo elegeu, teo-
ricamente ela representa a vontade de maioria, na prá-
tica “ela é o resultado de uma série de transformações
e de ficções que falsificam a expressão autêntica da von-
tade popular”, diz Malatesta.
Num artigo de 16 de maio de 1906, Malatesta critica
todos quantos cultivam o “fetichismo parlamentar”, isto
é, enchem o povo de ilusões de que tem amigos no Par-
lamento; isso leva-o a esperar que algo ocorra. Por outro
lado, muitos socialistas parlamentares em seus discur-
sos eleitorais acentuam o Parlamento não servir para
nada, daí a pergunta de Malatesta: “por que eles se es-
forçam para fazer com que ele sirva para alguma coi-
sa”?
Critica ele aqueles que são revolucionários na cam-
panha eleitoral, e após as eleições voltam ao regaço con-
servador após “fazerem discursos eleitorais que pareci-
am apelo às armas”. Manifesta-se contra a autoridade à
medida que é a violência do pequeno número contra o
grande número, também seria contra a autoridade se
ela fosse conforme “a utopia democrática, a violência
da maioria sobre a minoria”.
Salienta ele que o Parlamento acaba por criar uma
categoria de “político” com seus interesses específicos,
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Notas
1
Texto originalmente publicado como introdução ao livro Anarquistas, Socialis-
tas e Comunistas; uma coletânea de diversos artigos de Errico Malatesta, publi-
cado pela Ed. Cortez, 1989. Tradução de Plínio A. Coêlho. Edição esgotada.
2
Luigi Fabbri. Malatesta. Buenos Aires, Editorial Americalee, 1945, p. 192.
3
Errico Malatesta. A Anarquia. Brasília, Novos Tempos, 1988, p. 71. [Reeditado
na Coleção Escritos Anarquistas, vol. 1. [N. do E.].
4
Idem, pp. 75-6.
5
Ibidem, p. 77.
6
Umanità Nuova, 1 de junho de 1920.
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7
Idem, 3 de setembro de 1921.
8
Ibidem, 20 de julho de 1920.
9
Ibidem, 25 de agosto de 1920.
10
Idem, 1 de maio de 1920.
11
Ibidem, 3 de outubro de 1920.
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Descontinuidades
Até a influência de Bakunin a partir de 1868, a AIT
(Associação Internacional de Trabalhadores), fundada
em 1864, tem como seus principiais elementos consti-
tutivos os sindicalistas britânicos e os mutualistas fran-
ceses unidos pelo desejo de “melhorar” as condições da
classe operária no seio da sociedade existente e no des-
prezo, principalmente entre os franceses, pela luta polí-
tica. As razões dessa “melhoria das condições” podem
ser buscadas naquela “prudência” própria a Proudhon e
que deve ser atribuída à sua concepção de progresso. A
correspondência que jogou Proudhon e Marx em cam-
pos inimigos ressalta não apenas a diferença de cará-
ter entre os dois socialistas, como também a posição de
ambos em relação ao socialismo. Marx, em sua carta,
manifestou a necessidade do que chamou de um coup
de main, o “momento de ação” ou choque revolucioná-
rio; Proudhon lhe respondeu que “nossos proletários têm
tal sede de compreensão que seríamos por eles muito
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A ação
Malatesta conheceu e conviveu com uma galeria de
grandes homens. Garibaldi, Mazzini, Marx e Bakunin
foram os primeiros mestres de sua juventude; ingres-
sou na seção napolitana da Internacional aos dezessete
anos, da qual se tornou secretário no inverno de 1872.
Mas foi de Bakunin que recebeu uma forte influência.
No mesmo ano, foi a Zurique encontrar a delegação
espanhola que regressava do congresso de Haia, e tam-
bém com o próprio Bakunin. Durante inúmeras discus-
sões, funda com ele e outros companheiros a Aliança
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O pensamento
Malatesta é considerado, com unanimidade, o mais
realista entre aqueles pensadores anarquistas interna-
cionais; a atualidade e a contemporaneidade de suas
idéias está nesta perspectiva, como se constata nas inú-
meras polêmicas que travou dentro e fora do movimen-
to anarquista sobre individualismo, comunismo,
antimilitarismo, sindicalismo, parlamentarismo, disci-
plina, violência, greve, etc. Em todos esses assuntos,
seus interlocutores eram surpreendidos pela ducha fria
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Vontade anarquista
Exceto os seus numerosos artigos, aos quais sempre
foram escritos tendo por objetivo debater e orientar o
público anarquista, serão seus cinco ensaios conside-
rados os mais representativos de seu pensamento: “En-
tre Camponeses”, “No Café”, “Em Tempo de Eleições”, “A
anarquia” e “Nosso Programa”; destes cinco ensaios, os
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Notas
1
Pierre-Joseph Proudhon. Las Confesiones de un revolucionario para servir a la
Historia de la Revolucion de febrero de 1848. Buenos Aires, Editorial Americalee,
s/d, p. 137.
2
Pierre-Joseph Proudhon. O que é a propriedade?. Lisboa, Editorial Estampa,
s/d, p. 13.
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3
Max Nettlau. Socialismo Autoritario y Socialismo Libertário: estúdios y sugerencias
sobre la accion internacional del anarquismo en la lucha contra la reaccion mundial.
Barcelona, Guilda de Amigos del Libro, s/d, p. 47.
4
Rudolf Rocker. As idéias absolutistas no socialismo. São Paulo, Ed. Sargitário,
1946, p. 65.
5
Idem.
6
Émile Zola. Germinal. São Paulo, Circulo do Livro, s/d, p. 251.
7
Cf. Marinice da Silva Fortunato. A categoria solidariedade humana no pensamento
de Kropotkin. São Paulo, Tese de Doutorado, Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo, 1998, p. 107.
8
Piotr Kropotkin. Etica (parte primera). Origen y evolucion de la moral. Buenos
Aires, Editorial Argonauta, 1925, p. 19.
9
Jaime Cubero. As idéias-força do anarquismo. Centro de Cultura Social, datilo,
1991.
10
Menoridade enquanto ausência de pretensões à maioridade, permanecer me-
nor. A esse respeito ver Edson Passetti. Éticas dos amigos — invenções libertárias
da vida. São Paulo, Imaginário/CAPES, 2003.
11
Mauricio Tragtenberg. “A atualidade de Errico Malatesta” in Folha de São Paulo,
16/01/1973, p. 06-07.
12
Cf. Armand Cuvillier. Proudhon. México, Fondo de Cultura Econômica, 1986,
p. 138.
13
Peter Heintz. Problemática de la autoridad en Proudhon – ensayo de una crítica
inmanente. Buenos Aires, Editorial Proyección, 1963, p. 54.
Mikhail Bukunin. Confesión ao Zar Nicolás I. Barcelona, Ed. Labor, 1976, p.
14
69.
15
Jacques Freymond (dir.). La Primeira Internacional, Tomo I. Madri, Edita Zero,
1973, p. 16.
16
Cf. Juan Gomes Casa. Nacionalimperialismo y Movimento obrero en Europa – hasta
después de la segunda Guerra Mundial. Madrid, CNT-AIT, 1985, p. 66.
17
Idem, p. 71.
18
Prosper-Olivier Lissagaray. História da Comuna de 1871. São Paulo, Ensaio,
1995, p. 285.
19
Idem, p. 284.
20
É conhecida a posição de Marx-Engels diante da guerra franco-prussiana;
Marx, que chamava a seção internacionalista franco-suíça de “asnos proudho-
nianos”, escrevia a Engels em 20/07/1870: “Os franceses precisam de umas
chicotadas. Se os prussianos saem vitoriosos, a centralização do poder do
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40
Ibidem, p. 130.
41
Idem. p. 140.
42
Júlio Carrapato. “Breve posfácio” in Errico Malatesta e Francesco Saverio
Merlino. Democracia ou Anarquismo? A célebre polêmica sobre as eleições, o parlamen-
tarismo, a liberdade, o anarquismo e a ação revolucionária que apaixonou a Itália rebelde.
Faro, Edições Sotavento, 2001, p. 257.
43
Max Nettlau. La anarquía a través de los tiempos. op. cit., p. 144.
44
Max Nettlau. “En memoria de Errico Malatesta” in Errico Malatesta, op.
cit., p. 379.
45
Errico Malatesta. Escritos revolucionários. Brasília, Novos Tempos, 1989, p.
130.
46
Errico Malatesta. Pensiero e volontà. 01/07/1925.
47
Idem, p. 56.
48
Errico Malatesta. Escritos. op. cit., p. 21.
49
Francesco Saverio Merlino. Il messaggero. 29/01/1897. Errico Malatesta e
Francesco Saverio Merlino. op. cit., pp. 10-11.
50
Errico Malatesta. Il messaggero. 07/02/1897. Idem, p. 13.
51
Errico Malatesta. Il risveglio. 26/07/1930. Ibidem, pp. 214-215.
Errico Malatesta. A anarquia e outros escritos. São Paulo/Brasília, Centro de
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2003
assinado:
Edgard Leuenroth
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As idéias-força do anarquismo
as idéias-força do anarquismo1
jaime cubero*
Apresentação
A inauguração do Centro de Cultura Social de São
Paulo é anunciada pela A Plebe, com a publicação do
anúncio: “Sábado, 14 de janeiro de 1933, às 20:00hs, no
salão da Quintino Bocayuva, 80. A Comissão convida para
este ato”.
Remanescente da grande atividade “anarco-sindica-
lista” e assim como os sindicatos, o CCS é uma organi-
zação pública do movimento anarquista destinada a es-
tudar e debater os problemas sociais tendo por objetivo
“promover nos meios populares, principalmente entre
os trabalhadores, onde as possibilidades de cultura são
limitadas por toda sorte de empecilhos, o estudo de uma
nova ordem de coisas baseadas em princípios de justiça
e de equidades sociais, que facultem a cada indivíduo e
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Notas
1
Tema da segunda palestra no Curso de Anarquismo, em 11 de maio de 1991.
² Ricardo Mella. Ideario, Ediciones CNT, 1975, pp. 32-33.
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As idéias-força do anarquismo
RESUMO
ABSTRACT
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4
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enquanto os mortais
aceleram urânio
a borboleta
por um dia imortal
elabora seu vôo ciclâmen
Haroldo de Campos
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verve
Hibridações, desarranjos, fusões e fissuras
Resenhas
*
Professor no Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências Sociais da
PUC-SP, autor – junto com Edson Passetti – de Proudhon. São Paulo, Ática,
1986.
verve, 4: 279-296, 2003
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Considerações finais
Atenta aos desdobramentos do movimento operário
na primeira metade do século XIX, a obra de Proudhon
coloca em destaque a insuficiência da política, os limi-
tes do pacto social na sociedade do capital e as poten-
cialidades da sociedade do trabalho. É um crítico dos
formalismos de participação, que ao invés de consolida-
rem a sociedade, esmeram-se no seu governo, com re-
posição da autoridade. Permanecem as garantias rela-
cionadas com a inferioridade do trabalho em relação ao
capital. No decorrer de sua volumosa obra, cabe sobre-
tudo ressaltar sua visada de um regime econômico que
é o contrário do regime governamental, característica
recorrente de todo discurso anarquista de crítica ao co-
munismo e, por extensão, ao marxismo. Não obstante,
são afirmações que não se fecham em círculo enquanto
proposta de um sistema clauso de idéias ou projetos. O
sistema da humanidade se dá a conhecer, segundo sua
teoria das séries, enquanto tendência, movimento, di-
reção da história através das lutas do presente contra a
tríplice transcendência: da religião sobre as mentes, do
capital sobre o trabalho, do Estado sobre a sociedade. Fi-
losofia da miséria não apenas nos situa no grande deba-
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4
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*
Estudante de Ciências Sociais na PUC-SP, bolsista de iniciação científica
CNPQ e integrante do Nu-Sol.
verve, 4: 296-299, 2003
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Existência anarquista
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Existência anarquista
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*
Professor no Departamento de História da USP e pesquisador do Núcleo de
Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (Neip).
verve, 4: 300-304, 2003
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As drogas à luz do dia: o controle social e o uso dos psicoativos
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As drogas à luz do dia: o controle social e o uso dos psicoativos
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2003
*
Professor no Departamento de Metodologia do Ensino no Centro de Educa-
ção na Universidade Federal de Santa Maria-RS, mestre em História pela
UFSC-SC e pesquisador no Nu-Sol.
verve, 4: 304-311, 2003
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Alfabetizar todos?
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Alfabetizar todos?
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Alfabetizar todos?
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Uma história de amor e prisão
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Uma história de amor e prisão
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Thiag
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espaço
quando
brilha
se
admira
dos
nadas
que
Thiago Rodrigues
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4
2003
NU-SOL
Publicações do Núcleo de Sociabilidade Libertária, do Programa de
Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP.
hypomnemata
Boletim eletrônico mensal, 1999-2003
vídeos
Libertárias, 1999
Foucault-Ficô, 2000
Um incômodo, 2003
CD-ROM
Um incômodo, 2003 (artigos e intervenções artísticas do
Simpósio Um incômodo)
anarquistas C.N.T.
4. municipalismo libertário Murray Bookchin
5. reflexões sobre a anarquia Maurice Joyeux
316
verve
Cubero
15. surrealismo e anarquismo Joyeux, Ferrua, Péret,
Doumayrou, Breton, Schuster, Kyrou, Legrand
Berthet, Valenti
18. análise do estado - o estado como paradigma do
poder Eduardo Colombo
Raynaud
22. a instrução integral Mikhail Bakunin
23. o bairro, o consumo, a cidade... espaços libertários
Livro
Pierre Joseph Proudhon. Do Princípio Federativo. São Paulo,
Ed. Imaginário/Nu-sol, 2001, 134 pp.
317
4
2003
verve
Revista Semestral do Nu-Sol
Nas livrarias e em www.nu-sol.org
letralivre
Revista de Cultura Libertária e Literatura
Assinaturas: letralivre@gbl.com.br
e Caixa Postal 50083
20062-970 Rio de Janeiro/RJ
libertários
Revista de expressão anarquista
Nas livrarias e bancas de jornais.
Assinaturas: ed.imaginario@uol.com.br
utopia
Revista Anarquista de Cultura e Intervenção
www.utopia.pt
Novos Tempos
Nas livrarias e bancas de jornais.
Assinaturas: ed.imaginario@uol.com.br
318
verve
Libertários
Revista de expressão anarquista
Editora Imaginário
Tel. 3864-3242
Rua Ciro Costa, 94 cj. 1,
Perdizes, São Paulo - SP 05007-060
ed.imaginario@uol.com.br
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4
2003
ÚLTIMOS LANÇAMENTOS
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Revista MargeM
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4
2003
Caderno Metrópole
Publicação do Núcleo de Estudos de Pesquisas Urbanas
(NEPUR), EDUC/FAPESP.
NEPUR
Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências
Sociais, PUC-SP.
Rua Ministro Godói, 969, 4o andar, sala 4E-18
São Paulo-SP 05015-001
Tel. (11) 3670-8517
322
verve
323
4
2003
I) Para livros:
Nome do autor. Título do livro. Cidade, Editora, Ano,
página.
Ex: Max Stirner. O falso princípio de nossa educação.
São Paulo, Imaginário, 2001, p. 74.
II) Para artigos ou capítulos de livros:
Nome do autor. “Título” in Título da Obra. Cidade, Edi-
tora, ano, página.
Ex: Michel de Montaigne. “Da educação das crian-
ças” in Ensaios, vol. I. São Paulo, Nova Cultural, Coleção
Os pensadores, p.76.
III) Para citações posteriores:
a) primeira repetição: Idem, p. número da página.
b) segunda e demais repetições: Ibidem, p. número
da página.
c) para citação recorrente e não seqüencial: Nome
do autor, ano, op. cit., p. número da página.
IV) Para resenhas
As resenhas devem identificar o livro resenhado, logo
após o título, da seguinte maneira:
Nome do autor. Título da Obra. Cidade, Editora, ano,
número de páginas.
Ex: Pierre-Joseph Proudhon. Do Princípio Federativo.
São Paulo, Ed. Imaginário, 2001, 134 pp.
V) Para obras traduzidas
Nome do autor. Título da Obra. Cidade, Editora, ano,
número de páginas. Tradução de [nome do tradutor].
Ex: Michel Foucault. As palavras e as coisas. São Paulo,
Martins Fontes, 2000. Tradução de Salma T. Muchail.
324
verve
Revista Verve
Núcleo de Sociabilidade Libertária (Nu-Sol), Programa
de Estudos Pós-graduados em Ciências Sociais da PUC-
SP. Rua Ministro Godói, 969, 4o andar, sala 4E-18,
Perdizes, CEP 05015-001, São Paulo/SP.
www.nu-sol.org
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