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Ler e Escrever: analisando e

produzindo textos acadêmicos1

No contato como um texto ou teoria qualquer,


Sérgio Martins Pereira 2 buscamos identificar:

Certa vez, o convite para integrar um jornal I. “Quem faz?” – Quem de fato “é” o autor, ou seja,
qual a sua formação, a sua relação com as questões
estudantil fez-me refletir sobre quem seriam os relevantes de sua época e o seu possível “diálogo” com
leitores em potencial de meus “artigos” e, outros autores e teorias.
sobretudo, de que forma o fariam. Logo
constatei que minhas idéias seriam II. “O que faz?” – Quais são os objetivos analíticos
inevitavelmente submetidas à análise crítica de e/ou teóricos propostos pelo autor.
meus colegas, quaisquer que fossem meus III. “Como faz?” – De que forma seus objetivos são
objetivos, argumentos ou estilo. Estudantes buscados (comparações, estudos de caso, etc.), bem como
universitários, em geral, não lêem um texto de que elementos o autor se utiliza para o suporte de seu
“como se lê romances ou notícias de jornal”. empreendimento (material empírico, estatísticas, outros
Deste modo, não me surpreendi ao terminar por trabalhos, etc.).
refletir sobre a própria forma como eu mesmo
IV. “A que resultados chega?” – Quais as conclusões
faço, ou tenho a intenção de fazer, a leitura de do autor e de que forma estas respondem a propostas ou
um texto qualquer e, principalmente, dos textos objetivos iniciais.
acadêmicos. Assim, finalmente acreditei ter
chegado a um bom tema para o artigo: a nossa V. “O que achamos disto?” – Que comentário
forma de “ler”. pessoal crítico pode ser feito sobre o trabalho analisado,
seja em seu conjunto ou pontualmente, como se achar
Como parte do trabalho intelectual que cabível.
realizamos, somos sempre estimulados, e
principalmente exigidos, em nossa capacidade
de expor, oralmente ou por escrito, não apenas Na medida em que este “olhar” peculiar vai
uma análise crítica, mas sobretudo a própria sendo adquirido, não só nossa “vida” acadêmica
compreensão dos mais diversos textos, livros e vai sendo “facilitada”, mas a própria
teorias. A ênfase na “compreensão” deve ser compreensão e o posterior diálogo crítico com
dada devido ao fato de que quanto mais qualquer texto ou autor, inclusive aqueles
equilibrada esta for, mais consistentes serão ligados a outros gêneros, tornam-se mais claros e
seus desdobramentos, ou seja, maior será a consistentes. Mas é este o ponto em que “mora o
qualidade da análise que iremos produzir. perigo”! Contos, notícias, panfletos e tudo o
Em vez de uma mera exposição de como eu mais que nos chega como informação mais ou
supostamente realizo minhas leituras, ou menos sistematizada, e não apenas na forma
acredito ser o modo correto de fazê-lo, prefiro escrita, passam a sofrer essa espécie de
apresentar, de uma forma mais ou menos investigação crítica. Não posso negar que isto
sistematizada no quadro ao lado, o certo “olhar” contribua para um êxito na nossa “vida
que, em maior ou menor grau, é tanto cobrado acadêmica”, mas que por vezes sinto saudades
quanto adquirido no decorrer de cursos de da época em que lia tudo “como se lê
Metodologia em Ciências Sociais. romances”, isso é bem verdade.

sempereira@bol.com.br

1
Artigo escrito em 1999. Torná-lo conhecido em 2003 foi uma forma de homenagear a memória da Profª. Ana Maria
Galano M. Linhart, a quem devo as idéias contidas neste texto.
2
Doutorando em Sociologia e Antropologia do PPGSA/IFCS/UFRJ.

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