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Introdução
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como um rio.
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
[…] Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
[…] E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio
Fernando Pessoa, Poesias-heterónimos, Porto Editora, 2010
1. Explica o sentido das imagens “como um rio” e “um mar muito ao longe”.
As imagens permitem “visualizar” o rio com seu curso sempre constante e o mar infinito, cuja extensão é
imensurável, para transmitir a ideia da transitoriedade da vida e de um destino que não controlamos.
2. Explicita o efeito produzido pelo eufemismo e pela perífrase presentes nos dois últimos versos.
Estes recursos expressivos atenuam a ideia da morte inevitável.
Para responder cabalmente a este tipo de questões em que se procura que os alunos comentem ou
interpretem o sentido ou o efeito dos recursos expressivos, é necessário conhecê-los, assim como
compreender a sua funcionalidade no texto. Os recursos expressivos são procedimentos literários que
permitem ornamentar o discurso e tornar a expressão mais eficaz.
Recurso expressivo – processo linguístico que atribui beleza e expressividade à informação apresentada nos
textos literários (géneros narrativo, dramático e lírico) e não literários (produzidos na vida quotidiana, na
publicidade, no desporto, na política…) estruturando a linguagem.
As figuras de substituição
Estas figuras substituem um termo por outro ou uma expressão com o mesmo sentido. Estes
recursos expressivos acentuam pormenores significativos ou sublinham as relações lógicas de proximidade
ou poéticas entre dois elementos.
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As figuras de oposição
Estes recursos põem em relação termos de sentido contrário.
As figuras de repetição
Estas figuras de construção jogam com os sons, o vocabulário e a sintaxe. Longe de mostrar pobreza de
vocabulário, estas figuras revelam a intenção de intensificar uma ideia, de marcar o espírito do destinatário.
Definição Exemplo Comentário
A anáfora é um procedimento de É urgente o amor O exemplo de anáfora que se
amplificação rítmica que consiste É urgente um barco no mar. desenvolve na base da repetição
na repetição sucessiva de uma É urgente destruir certas palavras da mesma estrutura sintática
palavra ou expressão no início de (Eugénio de Andrade) pretende dar mais peso à ideia da
versos ou frases para salientar a urgência do amor entre as
mensagem. pessoas.
O paralelismo consiste na Ou é porque o sal não salga, ou O exemplo de paralelismo assenta
repetição sucessiva da mesma porque a terra não se deixa na repetição da mesma estrutura
estrutura frásica. O paralelismo salgar. Ou é porque o sal não sintática “ou é porque”
está associado a outras figuras, salga, e os pregadores não procurando insistentemente as
como a anáfora e a aliteração. pregam a verdadeira doutrina. causas possíveis para a
(Padre Antº Vieira, Sermão de Santo Antº degradação da terra.
aos Peixes)
O quaismo é uma construção 1. Ó minha menina loura No 1º exemplo, os dois primeiros
simétrica no interior de uma frase Ó minha loura menina, versos repetem “menina” e
ou de um parágrafo que procura Dize quem te vê agora “loura”, sugerindo uma espécie
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Na língua portuguesa há mais de cem recursos estilísticos ou figuras de estilo. Ficam aqui mais alguns
exemplos dos mais utilizados.
As Figuras de Estilo ou Recursos Estilísticos são geralmente agrupados segundo a sua função no texto:
Recursos Fonéticos
Assonância
– Repetição intencional da vogal tónica e ou de vocábulos com as mesmas consoantes e com vogais
diferentes.
Ex:
Repetição de vogais : “Pássaro da Lua; que queres cantar; nessa terra tua; sem flor e sem mar?” (Cecília
Meireles)
Rima
– Repetição de sons em locais determinados ao longo do texto, a Rima é também uma forma de
Assonância. A rima pode ser colocada no interior ou no final dos versos podendo ainda ser alternada,
cruzada ou interpolada (ver tipo de rimas) ou emparelhada dependendo da localização do verso dentro da
estrofe.
Onomatopeia
– Imitação de uma voz, som, ruído ou animal como por exemplo as palavras “Atchim”(espirro) ou “Buá”
(choro).
Ex:
“E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano.”
(Machado de Assis)
“Crac, zigue-zague, pumba”
Recursos Sintáxicos
Assíndeto
– Exclusão dos elementos que ligam as frases ou orações como é o exemplo comum da conjunção “e”.
Ex:
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Elipse
– Omissão de uma frase ou uma ou mais palavras que estão subentendidas no contexto.
Ex:
“A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos” (Carlos Drummond de Andrade)
“As rosas florescem em maio, as margaridas em agosto.”
Polissíndeto
– É o contrário do assíndeto. O polissíndeto caracteriza-se pela repetição dos elementos que ligas as frases
ou orações.
Ex:
Ora, há dez anos, neste chão de lava,
E argila e areia e aluviões dispersas,
Entre espécies botânicas diversas,
Forte, a nossa família radiava!
(Cesário Verde, O Livro de Cesário Verde)
Enumeração
- Exposição de pelo menos dois elementos do mesmo valor na frase.
Ex:
“O naturalismo; esses livros poderosos e vivazes, tirados a milhares de edições; essas rudes análises,
apoderando-se da Igreja, da Realeza, da Burocracia, da Finança, de todas as coisas santas (…)”
(Eça de Queirós, Os Maias)
Gradação
– Exposição de uma sequencia de palavras ou frases segundo uma ordem lógica crescente ou decrescente.
Ex:
“Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião, uns cingidos de luz, outros ensanguentados (…)” (Machado de
Assis)
“Por uma omissão perde-se uma inspiração; por uma inspiração perde-se um auxílio; por um auxílio, uma
contrição.”
Pleonasmo
– Reforço de uma ideia que já está expressa através de uma palavra ou expressão com o mesmo sentido.
Ex: “Eu canto um canto matinal” (Guilherme de Almeida) // “Subir para cima…. Descer para baixo…”
Anacoluto
– Desvio da estrutura ou sentido da frase. O tipo mais comum de anacoluto é aquele em que o sujeito inicial
é abandonado a meio ficando sem nenhuma ação na frase.
Ex: “O relógio da parede eu estou acostumado com ele, mas você precisa mais de relógio do que eu”. (Rubem
Braga)
“A minha roupa, levo-a sempre àquela lavandaria.”
Hipérbato ou inversão
– Alteração da ordem mais comum das palavras numa frase. Esta pode também ser feita através do
intercalar de outros sintagmas na frase.
Ex:
“Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infiéis vençam,
A bênção como espada,
A espada como bênção!”
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Recursos Semânticos
Imagem
– Trecho de texto que descreve ou evoca vividamente aspetos sensoriais. É frequente a imagem conter
outros recursos de estilo como comparações e metáforas
Ex: “Os teus olhos são dois lagos encantados onde o céu se mira como num espelho!” (Carlos Queirós,
Desaparecido)
“Para os vales, desciam bandos de arvoredos, tão copados e redondos, de um verde tão moço, que eram
como um musgo macio onde apetecia rolar.”
Alegoria
– Conjunto de metáforas e ou comparações que formam uma imagem ou conjunto de ideias com um
sentido ou contexto final mais extenso e determinado.
Ex:
“Os dias da nossa idade, ou seja curta ou comprida, são como as marés, que ora enchem, ora vazam:
enchem nos rios da vida, vazam no mar da morte.“ (António das Chagas, Cartas Espirituais)
Animismo
– O animismo atribui vida ou movimento a objetos inanimados. Ao contrário da personificação ele não lhes
confere características próprias de seres humanos.
Ex:
“E assim nas calhas de roda,
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.”
(Fernando Pessoa, Autopsicografia)
Paradoxo
– Utilizar palavras ou expressões opostas ou contraditórias como parte da mesma ideia.
Ex:
“Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer”.
(Camões)
Sinestesia
– Misturar diversas perceções para exprimir uma ideia englobando assim os diferentes sentidos (tato;
olfato; visão; audição, e paladar).
Ex:
“(…) água de que se exala um hálito verde envolvido nas ondas.” (Raul Brandão, Os Pescadores)
“Cheira a mel e sabe a vento”
Hipálage
– Atribuir a um substantivo um adjetivo, característica ou qualidade que pelo contexto se subentende que
pertence a outro.
Ex:
“(…) precisava de vexar aquela tipa, que, de perna cruzada, baforava um fumo feliz.” (Vergílio Ferreira, Aparição)
“…uma tímida fila de janelinhas.” (Eça de Queirós, Os Maias)
APLICA / TREINA…
1. Lê o texto.
Alma minha gentil, que te partiste Tão cedo desta vida descontente,
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Coluna A Coluna B
1. Leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita.
(Camões)
2. Deixa as praças, vai às praias, deixa a terra, vai-
(A) Pleonasmo
se ao mar. (Pde. Antº Vieira)
3. Os Lusitanos combateram o Mouro enraivecido. (B) Comparação
4. Os espaços, a estrada parecia banhada de uma
claridade quente que faiscava. (Eça de Queirós) (C) Metáfora
5. Fachadas de casas, caladas e pálidas, surgiam,
de entre as árvores… (Eça de Queirós) (D) Quiasmo
6. Tu és aluz dos meus olhos.
7. Falar e ninguém responder, é a tristeza mais (E) Antítese
triste que alguma vez senti.
(F) Aliteração
8. Toda a noite o rouxinol chorou, gemeu, rezou,
gritou perdidamente. (Florbela Espanca) (G) Paralelismo de construção
9. Vistos do alto, os automóveis pareciam um
formigueiro. (H) Hipálage
10.O silêncio pesava como chuva.
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(T) Trocadilho
(U) Anástrofe
(V) Antonomásia
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