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volume 01 Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA DO BRASIL


MINISTÉRIO DE FORMAÇÃO

volume 01

GRUPO DE PERSEVERANÇA DA
RCCBRASIL

Comissão Nacional de Formação da Renovação Carismática Católica

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

Copyright © Escritório Administrativo da RCCBRASIL - 2013

Arte, diagramação e capa


Priscila L. G. F. Carvalho

Revisão desta edição: SUMÁRIO


Comissão Nacional de Formação da Renovação Carismática Católica

Capítulo 1. Nós somos a Renovação Carismática Católica!


1. INTRODUÇÃO 11
2. DESENVOLVIMENTO 11
2.1. O “fim de semana de Duquesne” 13
2.2. O relacionamento com o Espírito Santo ao longo da História da Igreja 11
3. CONCLUSÃO 13

PRÁTICAS ESPIRITUAIS - Parte I 15


I. ORAÇÃO PESSOAL 16

CIP. Brasil. Catalogação na Fonte PRÁTICAS ESPIRITUAIS - Parte II 21
BIBLIOTECA NACIONAL - FUNDAÇÃO MIGUEL DE CERVANTES II. ROSÁRIO 21

PRÁTICAS ESPIRITUAIS - Parte III 25
III. ADORAÇÃO AO SANTISSIMO SACRAMENTO 25

ISBN: 978-85-62740-69-5 CDU:2 PRÁTICAS ESPIRITUAIS - Parte IV 29


IV. SACRAMENTO DA RECONCILIAÇÃO 29
ISBN: CDU:2
Caro leitor, pessoas cristãs, ou simplesmente honestas, não necessitam do jugo da lei para PRÁTICAS ESPIRITUAIS - Parte V 33
fazerem o que é certo. Pensando nisso, a RCCBRASIL está lhe dando cinco bons motivos para V. LECTIO DIVINA 33
não copiar o material contido nesta publicação (fotocopiar, reimprimir, etc), sem permissão
dos possuidores dos direitos autorais. Ei-los: PRÁTICAS ESPIRITUAIS - Parte VI 37
1. A RCC precisa do dinheiro obtido com a sua venda para manter as obras de evangelização VI. JEJUM 37
que o Senhor a tem chamado a assumir em nosso País;
2. É desonesto com a RCC que investiu grandes recursos para viabilizar esta publicação; Capítulo 2. A Importância do perdão para o ser humano
3. É desonesto com relação aos autores que investiram tempo e dinheiro para colocar o
1. INTRODUÇÃO 41
fruto do seu trabalho à sua disposição;
2. DESENVOLVIMENTO 41
4. É um furto denominado juridicamente de plágio com punição prevista no artigo 184 do
3. CONCLUSÃO 43
Código Penal Brasileiro, por constituir violação de direitos autorais (Lei 9610/98);
5. Não copiar material literário publicado é prova de maturidade cristã e oportunidade de
Capítulo 3. A Revelação Pública
exercer a santidade.
1. INTRODUÇÃO 45
2. DESENVOLVIMENTO 45
IMPRESSO NO BRASIL
3. CONCLUSÃO 46
Printed in Brazil

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

Capítulo 4. Introdução à Sagrada Escritura


PARTE I 47
PARTE II 51

APRESENTAÇÃO
Capítulo 5. Sagrada Tradição
PARTE I 57
PARTE II 61

Capítulo 6. O Sagrado Magistério da Igreja


1. INTRODUÇÃO 65
2. DESENVOLVIMENTO 65
3. CONCLUSÃO 67 Perseverar significa ser estável, permanecer, a reunião de todos os membros do Grupo de Ora-
ficar em um lugar com esperança e com feliz expec- ção em torno do Senhor, privilegiando-se ali o Ciclo
Capítulo 7. Credo - Símbolo da Fé tativa, insistir. Muitas pessoas iniciam, mas poucos Carismático, isto é, o louvor, a escuta profética, a
perseveram até o fim. Podemos encontrar o Senhor pregação querigmática e o batismo no Espírito San-
PARTE I 69 nos exortando a perseverar em diversos trechos das to) e e Grupo de Perseverança (que é o “braço” de
PARTE II 73 Sagradas Escrituras, como por exemplo, em: partilha e aprofundamento na fé dos membros do
PARTE III 77 GO que já receberam o Querigma, isto é, já fizeram
Mt. 24,13 – “Entretanto, aquele que perseverar o Seminário de Vida no Espírito e a Experiência de
PARTE IV 81 até o fim será salvo”. Oração).
PARTE V 85 I Tm. 4,16 – “Olha por ti e pela instrução dos ou- Assim, o Grupo de Perseverança é o terceiro
PA
RTE VI 89 tros. E persevera nestas coisas. Se isto fizeres, momento do Grupo de Oração e atua em função
salvar-te-ás a ti mesmo e aos que te ouvirem”. deste. Não é um grupo independente, mas um ser-
viço do Grupo de Oração. O GP é um grupo fechado,
Capítulo 8. Bioética na perspectiva da Igreja Católica Tg. 1,25 – “Mas aquele que procura meditar isto é, supõe o ingresso no início da ministração dos
com atenção a lei perfeita da liberdade e nela conteúdos formativos e não é obrigatório, ou seja,
PARTE I 93
persevera – não como ouvinte que facilmente as pessoas que receberam o querigma são convida-
PARTE II 97 se esquece, mas como cumpridor fiel do pre- das a ingressarem no GP, deixando claro que se não
ceito –, este será feliz no seu proceder”. quiserem participar neste momento, podem e de-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 101 vem continuar participando do Grupo de Oração em
II Jo. 1,9 – “Todo aquele que caminha sem seu segundo momento (Reunião de Oração).
rumo e não permanece na doutrina de Cristo,
não tem Deus. Quem permanece na doutrina, Percebe-se que as pessoas sentem necessida-
este possui o Pai e o Filho”. de de algo mais em suas vidas, além dessa experi-
ência inicial de Deus. Buscam aprofundar a sua fé
Todos nós, sem exceção, somos chamados e crescer no conhecimento de Deus. Os que foram
a perseverar na sã doutrina da salvação da qual a evangelizados querigmaticamente devem ser con-
Igreja é a fiel depositária. E essa perseverança se duzidos aos grupos de perseverança para cresce-
dá através de formação continuada e progressiva, rem na doutrina, na fraternidade, na participação da
uma das grandes tarefas confiadas pela Mãe Igreja Eucaristia e na vida de oração. O início da caminha-
a todas as suas diversas expressões, incluindo aí os da pode ser feito.
Movimentos Eclesiais.
IMPORTANTE: Os conteúdos propostos para o
Grupo de Perseverança não substituem a importân-
O que é um grupo de perseverança? cia do Módulo Básico de Formação; ao contrário, um
é complementar ao outro e ambos são extremamen-
Como bem define a apostila 03 do nosso Mó-
te necessários ao processo formativo proposto pela
dulo Básico, o Grupo de Oração da Renovação Ca-
RCCBRASIL. Este primeiro volume dos subsídios
rismática Católica, célula principal e fundamental
para Grupos de Perseverança pode e deve ser apli-
do Movimento, caracteriza-se por três momentos
cado em nível de Grupo de Oração para as pessoas
distintos e complementares entre si: Reunião de
que receberam o Querigma através do Seminário de
Núcleo (em que pessoas escolhidas para assumirem
Vida no Espírito e da Experiência de Oração.
o pastoreio de todo o Grupo de Oração se reúnem
para louvar o Senhor, escutá-Lo, interceder pelo
Grupo, avaliar o andamento do mesmo e preparar
as Reuniões de Oração), Reunião de Oração (que é

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

O que é participar de um Grupo de O local deve ser apropriado para que haja par- • Saber esperar a resposta. Esperar demonstra esta sequência de subsídios, acerca da doutrina da
Perseverança? tilha, onde não haja fluxo de pessoas estranhas que interesse, deve se dar tempo para a pessoa pensar. Igreja Católica.
possam constranger a partilha. Deve, também, ser Deve-se considerar a aplicação das dinâmicas
• Orientar os momentos de oração, explicar
• É antes de tudo, um convite a começar um um local de silêncio, que permita e facilite a escuta, propostas ou outras correlatas, de modo a enraizar
as atividades, apresentar os formadores e fa-
caminho. De modo geral a pessoa que inicia o de fácil acesso para todos, local onde se possa orar o ensinamento ministrado, além de descontrair o
zer ligação entre os temas e as dinâmicas.
caminho tem: em línguas sem causar escândalos a ninguém, sem encontro. A partilha e a interação são fundamentais
reservas, onde se possa, inclusive, realizar o repou- no Grupo de Perseverança.
• Uma experiência do amor de Deus e do Ba- Qual o objetivo de um GP?
so no Espírito – se assim for conveniente e inspira-
tismo no Espírito Santo; Ao final, ora-se novamente louvando a Deus
do, sem incomodar ninguém.
• Uma atitude de procura, manifestada no de- Fortalecer os servos e os participantes em ge- por seu Amor e pelo ensinamento recebido.
sejo de dar um sentido à sua vida; ral do Grupo de Oração no exercício dos carismas e
Como devem ser os servos indicados no conhecimento de Deus, para que se possa “in-
• Um desejo de dinamizar sua fé pessoal atra- para coordenar e conduzir o grupo de cendiar” a reunião de oração com mais louvor, com
vés de uma relação mais constante e intensa perseverança? mais carismas, com mais testemunhos... Repise-se
com Deus; que o Grupo de Perseverança de modo algum visa a
• Um desejo de transformar o contexto em No exercício desse ministério os servos de- suprimir ou minimizar a necessidade de ministração
que vive; vem contar com o apoio da coordenação do grupo das formações previstas no Módulo Básico de For-
de oração e do Núcleo de Serviço, com quem tem mação (EPA) e aquelas específicas relativas a cada
• Uma necessidade de viver com o outro, e se comunicação frequente. Estes devem estar a par de ministério.
relacionar na amizade e de crescer no serviço. todo o desenrolar de cada encontro.
• Esta motivação aparece mais clara ou não, • Ser pessoa de vida de oração bem ordena- Quais são os frutos do GP? Aplicação dos conteúdos
de acordo com as circunstancia que cada pes- da: orante; propostos
soa vive. A cura interior, a cura emocional, a cura física, a
• Ter visão clara do que é o grupo de perseve- libertação, a amorização, os frutos do Espírito Santo,
rança; conversão, transformação de vida, vivência das vir-
Como organizar um grupo de perseve- Os conteúdos propostos neste pri-
rança? • Ter carisma de pastoreio e de formação; tudes, crescimento na fraternidade, nas amizades, meiro volume e nos outros que se segui-
maior compromisso com o outro, amadurecimento rão devem ser ministrados pelos servos-
Além disso, os servos devem ser instruídos sobre: na fé, crescimento na doutrina, no conhecimento
• Após o Processo de Iniciação (SVES, Experi- formadores responsáveis pelo Grupo de
ência de Oração e Aprofundamento de Dons), • Como conduzir oração; de Deus, visão mais ampliada a partir da formação, Perseverança, com a máxima didática pos-
as pessoas devem ser convidadas a participa- maior compromisso com aqueles que necessitam sível, visando a enraizar o ensinamento no
• Como ordenar uma partilha, para não dei-
rem de grupos menores, entre 15 a 20 parti- de promoção humana. coração e na mente dos participantes. Os
xar que apenas alguns dominem a conversa ou
cipantes constantes – a depender do n.º de Os frutos aparecerão quanto mais a pessoa se ensinos devem ser ministrados num tem-
que o outro fique demasiadamente calado.
participantes do Grupo de Oração, semanal ou abrir ao louvor, a partilha, à oração carismática, à es- po máximo de 40 a 45 minutos, privile-
quinzenalmente, com local, dia e horário defi- • Como levar o grupinho a descobrir ou reno- cuta, ao estudo, à formação. giando-se o ciclo carismático no início da
nidos, onde serão formados. var a ação do Espírito Santo nas suas vidas. reunião e a partilha/dinâmica após cada
• O pastoreio dos participantes do grupinho. ensino.
• Depois de montado esses grupo com o nú- Qual é a espiritualidade do GP?
mero de pessoas eles caminharão pelo perío- Os temas estão divididos em ensinos
• A necessidade de observar as pessoas que
do estipulado sem que ingressem novos mem- É a mesma da RCC, pois o GP é uma expressão da contendo uma média de 6 páginas cada
têm condição de ser tornarem futuros servos.
bros. RCC e faz parte do Grupo de Oração como um todo. um. Entretanto, caso o formador entenda
• Os servos do GP devem ter anotados todos necessário, poderá fracionar os capítulos
• A primeira reunião deverá ser para explicar É a espiritualidade do BES com todas as suas
os dados essenciais de todos os participantes em mais de um encontro, desde que não
a dinâmica do grupo, a fim de que os partici- consequências: descoberta da vida em comunidade,
de acordo com a ficha de pastoreio. descaracterize os conteúdos.
pantes possam entendê-lo melhor. O grupo vida de oração, vida de santidade, vida sacramental,
• Receber cada pessoa de modo acolhedor; mudança radical de vida, testemunho, compromis- Não há prazo definido para se con-
será acompanhado por servos/formadores
so missionário, zelo pelas coisas da Igreja, amor à cluir o estudo dos volumes do GP, embo-
preparados para esse serviço. • Estimular os participantes quanto à frequ-
Palavra de Deus e vivência dos carismas do Espírito. ra tenha que se ter um critério definido
• IMPORTANTE: O Grupo de Perseverança, em ência, a vivência dos temas abordados, a ora-
quanto à periodicidade e desenvolvimen-
hipótese alguma, substitui a Reunião de Ora- ção pessoal e comunitária e o compromisso;
to dos encontros. Trata-se de uma propos-
Como deve ser o roteiro de uma reu-
ção, na qual todos os participantes do Grupo • Reconhecer todas as contribuições e nunca ta de oração, formação e partilha em que
de Oração se reúnem para louvar o Senhor, es- humilhar alguém por estar errado; nião do GP? as pessoas crescerão na graça e no conhe-
cutar Sua Palavra e receberem uma nova Efu- cimento de Jesus Cristo gradualmente.
• Dar oportunidade de todos falarem, incen- O mais simples possível. Deixando sempre o
são do Espírito Santo.
tivando os mais tímidos e novatos com per- Espírito Santo conduzir a reunião.
guntas simples e diretas; Geralmente acontece a oração inicial e fecun-
Horário e local do grupo de perseverança
• Ser flexível. Embora deva seguir o plano ori- da, com exercício dos carismas e a partilha da pa-
O horário e tempo deve ser fixo e pré-determi- ginal e manter-se dentro do horário, não deixe lavra, da escuta, de visualizações, das palavras de
nado. Todos devem saber onde se reunirá o grupo se- os aspectos exteriores prejudicarem o agir do ciência e de sabedoria, da profecia, das interpreta-
manalmente, a que horas se inicia e termina. A experi- Espírito Santo; ções das línguas, etc.
ência nos leva a propor que o grupo de perseverança • Aprender a ouvir. Ouvir olhando sempre Depois surge o momento do ensino, onde tem
tenha entre uma hora e meia a duas horas de duração. para a pessoa sem desviar o olhar. acesso a catequese, com os temas propostos por

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

CAPÍTULO 1

Nós somos a Renovação Carismática


Católica!
1. INTRODUÇÃO
Ao longo dos tempos temos percebido de que sendo também compartilhada com o mundo intei-
forma Deus tem operado significativamente na His- ro. No início dos anos 90, segundo pesquisas feitas
tória da Humanidade através da Renovação Caris- pelo ICCRS (Serviço Internacional da Renovação
mática Católica, que dócil ao Espírito Santo tem sua Carismática Católica), a Renovação alcançou apro-
história e sua experiência cotidiana marcadas pela ximadamente 100 milhões de pessoas em 240 paí-
poderosa ação do Paráclito, o Consolador. A Renova- ses. E aqui estamos nós, podendo clamar a qualquer
ção Carismática Católica é um Movimento da Igreja momento essa Pessoa-Dom: “Vem, Espírito Santo,
Católica Apostólica Romana que busca uma cres- vem!” E Ele vem porque quer se derramar sempre
cente consciência e experiência da presença e ação sobre nós e nos encher continuamente de Sua pre-
do Espírito Santo na vida dos fieis, propiciando a sença renovadora e santificadora.
seus membros uma constante renovação espiritual. A RCC chegou ao Brasil em 1969, através dos
Padres norte-americanos Eduardo Dougherty e Ha-
2.DESENVOLVIMENTO roldo Joseph Rahm. Iniciou-se na cidade de Campi-
nas – SP, alastrando-se rapidamente por todos os
estados brasileiros. Em 1973 fora realizado o 1º
2.1. O “fim de semana de Duquesne” Congresso Nacional da RCC, em que compareceram
cerca de 50 líderes para discernir esta Obra no Bra-
Este maravilhoso Movimento Eclesial surgiu
sil. Em 1974 já foi realizado o 2º Congresso Nacio-
como fruto de um Retiro Espiritual feito por um gru-
nal, em Itaici, que contou com a presença de líde-
po de professores e alunos entre os dias 17 e 19 de
res de Mato Grosso, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo
fevereiro de 1967 na Universidade Duquesne, em
Horizonte, Salvador, Santos, dentre outros. A partir
Pittsburgh, Pensilvânia, Estados Unidos da Améri-
de 1974 a expansão da Renovação Carismática no
ca, não existindo, no entanto, um fundador humano
Brasil ganha grande velocidade e dinamismo.
deste Movimento. Foi o próprio Espírito Santo que
o suscitou. Em clima de oração, fraternidade e im-
pactados pela força das promessas de Deus acerca 2.2. O relacionamento com o Espírito
do derramamento do Espírito Santo, contidas tanto Santo ao longo da História da Igreja
no Antigo quanto no Novo Testamento (cf. Is. 41, 18;
Ez. 36, 25-27; Ez. 37, 1-14; Joel 3, 1-2; Jo. 14, 16- Ao mergulharmos na História da Igreja perce-
17.26; Jo. 15, 26; Jo. 16, 7-11.13-14; At. 1, 4-5.8), bemos que o Espírito Santo ficou um tanto “reser-
bem como por uma bibliografia favorável, simples- vado” aos Sacramentos; fora um tanto instituciona-
mente oraram fervorosamente para que se renovas- lizado; estava de certo modo “esquecido” pelo Povo
se naqueles dias o que acontecera em Pentecostes. de Deus. A devoção a Ele era escassa e esparsa. As
O resultado disso é que foram todos batizados no experiências pentecostais eram reservadas a alguns
Espírito Santo e alguns daqueles jovens participan- místicos, de forma muito peculiar e extraordinária.
tes do retiro que ficou conhecido como “o fim de Isso se deveu a alguns fatores, tais como a neces-
semana de Duquesne” testemunham essa experi- sidade de alicerçar e aprofundar de forma incisiva
ência ainda nos dias de hoje nos diversos Encontros a Teologia sobre Jesus Cristo, que foi alvo de inú-
da RCC. O interessante é que sempre há algo novo meras heresias, o surgimento de algumas heresias
em cada vez que testemunham. (na linguagem de São Paulo a Timóteo: “doutrinas
extravagantes”) sobre a ação do Espírito Santo nos
Esta experiência de um Novo Pentecostes se
homens, dentre outros. Tudo isso levou a um “arre-
alastrou vertiginosamente em pouco tempo por
fecimento” do relacionamento dos cristãos com a
toda a nação estadunidense – em 1968 o primeiro
Pessoa do Espírito Santo e de certa forma o “VEM”
Congresso Nacional nos EUA reuniu cerca de 100
da Igreja se tornou enfraquecido. Durante alguns
participantes, em 1972 já contava com cerca de 12
séculos os cristãos, em geral, não devotaram tanta
mil pessoas e em 1973 com 25 mil carismáticos –,
intimidade com a Pessoa do Espírito Santo.

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

2.2.1 A humilde Beata Elena Guerra quer idade, basta que o queiram, que O invo-
quem, e lhe deem lugar no próprio coração.”
para realizar ou inovar muitas coisas. Porém o Espí-
rito Santo moveu o seu coração para que convocas-
3.CONCLUSÃO
Deus suscitou então, no século XIX, uma sim- se um novo Concílio, o Concílio Ecumênico Vaticano
ples Freira, nascida na cidade italiana de Lucca, de • “A vinda do Espírito Santo no Cenáculo foi e II. Através da Constituição Apostólica Humanae Sa- Tendo o Grupo de Oração (GO) como sua célula
nome Elena Guerra (23 de junho de 1835 – 11 de é como o beijo da reconciliação dado por Deus lutis, com o qual convocou oficialmente o Concílio, fundamental, a RCC continua se expandindo pelos
abril de 1914) que, movida pelos insistentes apelos à humanidade, redimida com o Sangue de Je- o Papa João XXIII antecipa o que este evento sig- 4 cantos do mundo anunciando o Evangelho a toda
do Senhor ao seu coração, escreve 13 Cartas ao San- sus Cristo.” nificará: “Repita-se deste modo, na família cristã, o a criatura e implantando a Cultura de Pentecostes.
to Padre, o Papa Leão XIII, pedindo-lhe que levasse espetáculo dos apóstolos em Jerusalém, depois da O Grupo de Oração é um espaço privilegiado para
• “O que é que pode faltar à alma que pode
a Igreja a entrar novamente no Cenáculo e que con- ascensão de Jesus aos céus, quando a Igreja nascen- a experiência de Pentecostes, experiência essa que
dizer ao Espírito: ‘Vem’?”
vocasse os cristãos modernos a redescobrirem a de- te se viu toda unida em comunhão de pensamento e se faz necessária todos os dias. O Grupo de Oração é
voção ao Espírito Santo do qual o mundo tanto pre- • “Se o ‘Vem’, aquele abençoado ‘Vem’ que de preces com Pedro e ao redor de Pedro, pastor dos o cenáculo de Pentecostes dos dias atuais, de onde
cisa para vencer as forças demoníacas. Estas cartas a partir do Cenáculo a santa Igreja não cessou cordeiros e das ovelhas. E digne-se o divino Espírito não podemos nos afastar.
foram escritas entre os anos de 1895 e 1903, sendo nunca de repetir, se tornasse tão popular com ouvir da maneira mais consoladora a oração que to- O Papa Bento XVI assim ensinou: “A Igreja sem
que em outubro de 1897 Elena Guerra é recebida o ‘Ave’!” dos os dias sobe de todos os recantos da terra: ‘Re- o Espírito Santo é uma organização meramente hu-
em Audiência pelo Papa Leão XIII que a encoraja a nova em nossa época os prodígios, como em novo mana”. Por isso, entendemos ser necessário que
prosseguir o apostolado pela causa do Espírito San- • “O Espírito Santo é a tua vida e tu não podes Pentecostes; e concede que a Igreja santa, reunida continuamente a humanidade faça a experiência da
to e autoriza também a sua Congregação a mudar de fazer nada de bom sem Ele.” em unânime e instante oração junto a Maria, Mãe de Efusão do Espírito Santo, através deste Movimento
nome, para melhor qualificar seu carisma próprio na Jesus, e guiada por Pedro, difunda o reino do divi- Eclesial que tem como sua Identidade a vivência do
Igreja: Oblatas do Espírito Santo. Mais tarde (em 26 2.2.2 O neo-pentecostalismo cristão – no Salvador, que é reino da verdade, de justiça, de Batismo no Espírito Santo com todas as suas conse-
de abril de 1959) Elena Guerra será intitulada pelo O fenômeno da Azusa Street (Rua Azusa) amor e de paz.’ Assim seja!” quências. Somos convidados a semear a cultura de
Papa João XXIII de Apóstola do Espírito Santo dos O Concílio Vaticano II foi, de fato, um novo Pentecostes, a tornar o Espírito Santo mais conhe-
tempos modernos e elevada à dignidade de Beata Diante da oração fervorosa do Romano Pon- Pentecostes para a vitalidade da Igreja. O Concílio cido e amado, a levar os irmãos a um Encontro com
da Santa Igreja. tífice, Deus abre as comportas dos céus e derrama ampliou as possibilidades apostólicas dos leigos, Jesus a partir da experiência do Batismo no Espírito
Deus fala à sua Igreja através do Santo Espí- deliberadamente o seu Espírito sobre a Terra. En- afirmou taxativamente a importância e utilidade Santo.
rito. O Papa Leão XIII se sensibilizou com o apelo tretanto, a Igreja Católica estava de certo modo “fe- dos carismas para a Igreja no mundo, significou uma
feito pela Freira Elena Guerra e, em 1895, escreveu chada” a esse reavivamento espiritual pelo menos profunda renovação eclesial. Ainda colhemos e te-
a Carta Apostólica Provida Matris Charitate, na qual naquele momento. Assim, na noite daquele mesmo remos a colher muitos frutos deste Evento que pos-
pedia aos cristãos que rezassem a Novena Solene dia em que o Santo Padre havia consagrado o sé- teriormente o Papa Paulo VI irá denominar de “hora
do Espírito Santo antes de Pentecostes. Em dezem- culo XX ao Espírito Santo a cristã evangélica Agnes de Deus para a Igreja nesta viragem da história”
bro de 1897 o Papa Leão XIII publicou a Encíclica Di- Ozman, membro de uma Comunidade Evangélica da (Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, 4)
vinum Illud Munus sobre a Pessoa do Espírito Santo, cidade norte-americana de Topeka, recebeu a Efu-
Iniciou-se em 11 de outubro de 1962 e após
o relacionamento do homem com o Espírito Santo, são do Espírito Santo (BES) e começou a falar e orar
4 intensas sessões, encerrou-se em 8 de dezembro
convidando novamente a Igreja a rezar a Novena do em línguas. Em 1906, através do Reverendo William
de 1965, vindo a Renovação Carismática Católica
Espírito Santo, como uma Novena perpétua. Em sua Seymour, acontece na famosa Azusa Street (Rua
(RCC) surgir um pouco mais de um ano depois, a
Carta datada de 15/10/1900, Elena Guerra suplica Azusa), em Los Angeles, Califórnia/EUA um grande
ao Papa: “Santíssimo Padre, que o novo século co- pentecostalismo, que se difunde para todos os con-
partir do “fim de semana de Duquesne” em feverei-
ro de 1967, conforme já visto. Assim entendemos PROPOSTA DE
mece com um Veni Creator Spiritus, cantado no iní- tinentes em 2 anos.
porque o Papa João Paulo II disse que um dos gran-
cio da Missa de meia-noite, ou na primeira Missa ce- No ano de 2006 completou-se o centenário do des frutos do Concílio Vaticano II foi o surgimento DINÂMICA:
lebrada em cada Igreja no primeiro dia do ano. Essa fenômeno de Azusa Street, tendo sido convidadas da Renovação Carismática Católica. Dirigindo-se
é a vontade de Deus.” Em 1º de Janeiro de 1901 o várias expressões pentecostais do mundo, inclusive ao nosso Movimento na Itália, em 14 de março de
Papa entoou o Veni Creator consagrando o Século a Renovação Carismática Católica, que teve como 1. Baixar o vídeo “Vida longa aos caris-
2002, João Paulo II disse: ”No nosso tempo, ávido
XX ao Espírito Santo. um de seus representantes, enviado diretamen- de esperança, fazei com que o Espírito Santo seja máticos” do Papa João Paulo II no You
Eis alguns dos pensamentos e ensinamentos te pelo Vaticano, o Sr. Reinaldo Beserra dos Reis, conhecido e amado. Assim, ajudareis a fazer que Tube e apresentar aos participantes por
da Beata Elena Guerra1: membro permanente de nosso Conselho Nacional tome forma àquela ‘cultura do Pentecostes’, a única meio de data-show ou mesmo em TV-D-
da RCCBRASIL. que pode fecundar a civilização do amor e da convi- VD, se possível.
• “O Pentecostes não terminou; de fato é vência entre os povos”. Aqui compreendemos bem
sempre Pentecostes em todos os tempos e em quem somos: APÓSTOLOS DA EFUSÃO DO ESPÍRITO 2. Partilha: De que forma a Renovação
todos os lugares, porque o Espírito Santo de-
2.2.3 O Papa João XXIII e o Concílio
SANTO. Carismática Católica tem me ajudado a
seja ardentemente dar-se a todos os homens Ecumênico Vaticano II
e, aqueles que o desejam, podem recebê-lo ser um(a) cristão(ã) melhor?
sempre; portanto não temos nada a invejar Com a morte de Pio XII, foi eleito Sumo Pontífi-
aos Apóstolos e aos primeiros cristãos; nós só ce em 28 de outubro de 1958 o Cardeal Ângelo Giu-
temos que nos dispor, como eles, a recebê-lo seppe Roncalli, que assumiu o nome de João XXIII.
bem e Ele virá a nós como veio a eles.” Devido à sua já avançada idade, era considerado
como um Papa de transição, que não teria tempo
• “Não foi somente sobre os Apóstolos que
desceu o Espírito Santo, como mostrou tam-
bém por meio de sucessivas aparições nos dias 1
Extraído de: http://www.elenaguerra.org/elena/index.php?option=com_
que se seguiram a Pentecostes, mas vem para content&view=category&layout=blog&id=35&Itemid=54
todos os fiéis, em todos os lugares, em qual-

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

Práticas Espirituais
Parte I

PREFÁCIO

A missão que o Senhor confiou a seus Discípu- cebe a olho vivo que esta água está desde a raiz até
los e, portanto, a todos nós batizados, é uma missão na ponta das folhas, porém se deixarmos de irrigá
essencialmente espiritual e, para exercê-la, mui- -la o seu destino será secar até morrer... Da mesma
tas vezes será inevitável travar verdadeiras bata- forma, se deixarmos de cultivar a nossa vida espiri-
lhas espirituais. São Paulo nos ensina esta verdade tual, seremos como esta planta: sem frutos... secos...
quando se dirige aos efésios e afirma que: “... não é sem vida.
contra homens de carne e de sangue que temos de
Somente conseguiremos êxito em nossa mis-
lutar, mas contra os principados e potestades, con-
são se estivermos firmes em nossa espiritualidade,
tra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as
se formos verdadeiros Amigos de Deus vivencian-
forças espirituais do mal espalhadas nos ares.” (cf.
do no dia a dia de nossas vidas cada uma destas
Ef. 6, 12). Sabendo desta realidade, o próprio São
práticas espirituais aqui sugeridas. Precisamos ser
Paulo orienta para não vacilarmos em nossa vida de
dependentes do Senhor, que nos diz: “... sem mim
oração (nossa vida espiritual) e recomenda: “Inten-
nada podeis fazer” (cf. Jo 15,5).
sificai as vossas invocações e súplicas. Orai em toda
circunstância, pelo Espírito, no qual perseverai em A vivência contínua destas práticas espirituais
intensa vigília de súplica por todos os cristãos” (cf. irá aos poucos nos tornando parecidos com o modo
Ef 6,18). de ser, de viver, de falar e de agir de Jesus.
Desta maneira, uma vez que o nosso serviço na Quando rezamos, o Senhor nos dá o dom
Renovação Carismática Católica é o meio que o Se- da sabedoria e passamos a perceber verdades que
nhor nos concede para cumprirmos a nossa missão, antes não conhecíamos, passamos a ter soluções
podemos concluir que para exercê-la plenamente novas para problemas que sem oração poderíamos
é necessário cultivarmos e retomarmos uma vida nos destruir. “Invoca-me, e te responderei, revelan-
de intimidade com o Senhor e crescermos em sua do-te coisas misteriosas que ignoras”. (Jr. 33,3).
dependência. Neste sentido, um dos meios bastan- Este é um chamado para toda a Renovação Ca-
te eficazes para alcançarmos esta intimidade com rismática Católica do Brasil. E é com este intuito que
Deus é a vivência das práticas espirituais que se- recomendamos a todos os servos a vivência destas
rão aqui sugeridas: Oração Pessoal (diária), Leitura práticas espirituais para que tenhamos uma visão
Orante da Bíblia (diária), Confissão (mensal), Oração ampliada e assumamos os nossos postos, a fim de
do Terço ou do Rosário (diária), a prática do jejum passarmos da fase apologética para uma fase de
(todas as sextas-feiras) e Adoração ao Senhor no combatividade profética em nossa missão.
Santíssimo Sacramento (semanal).
Oramos para que você faça parte daqueles
Esta vida íntima com o Senhor começa a partir que escutarão este chamado e que buscarão pô-lo
do momento em que nos disciplinamos a exercer em prática a cada dia, pois cada dia é uma aventura
a nossa espiritualidade de forma séria e contínua, na busca por esta maravilhosa fidelidade.
buscando viver a mística dessas práticas espirituais
sem, no entanto, exercê-las como simples “devocio- Agindo assim, com certeza experimentaremos
nalismo”. A espiritualidade é algo cultivado na pes- a presença deste Deus que está tão próximo de
soa, e que se transforma em paixão pela missão. É cada um de nós. Reflitamos a partir de agora sobre
a nossa espiritualidade que mantém viva a força e algumas das práticas espirituais ensinadas e incen-
a qual idade de nossas opções e compromissos. É tivadas pela Mãe Igreja para a edificação de nosso
como a água que mantém viva a planta. Não se per- homem interior.

14 15
Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

I. ORAÇÃO PESSOAL ta e fidelidade à Palavra de Deus, que impulsiona


as específicas missões de falar em nome de Deus. E
O importante é encontrar-se naquela forma
de oração que mais o identifica com sua realidade
Deus no nível mais profundo do coração. O horário
que você escolheu deve ser o melhor tempo de ora-
os salmos são a própria Palavra de Deus que se faz existencial e com seus desejos espirituais de en- ção: “horário nobre”.
oração, pessoal e comunitária, ensinando-nos a orar contro com Deus; assim como deve se priorizar an-
2 – ESCOLHER UM LUGAR:
1. Introdução sempre, em todas as circunstâncias da vida, se ca-
racterizando pela simplicidade e espontaneidade
tes de tudo a fidelidade à oração pessoal, na busca
da união com Deus, e não simplesmente de sentir Uma das coisas que deve pesar na escolha de
num contínuo desejo de Deus, aqui a oração re- a Deus, pois sentir Deus não depende de nós, isto um lugar para a oração é o fato de que ele esteja
flete a vivência da fé nos diversos acontecimentos é graça, dom gratuito, que Deus concede a quem longe de perturbações, um lugar onde você possa fi-
A oração pessoal é um momento de intimida-
da nossa vida. quiser e quando desejar, mas o buscar a Deus, isso car alerta e concentrado. Pode ser em casa, na igre-
de com Deus, um diálogo sincero essencial de amor,
Com a manifestação do Filho de Deus, a ora- depende da minha vontade. “Contudo o sentir Deus ja, no escritório, no jardim…
um encontro espontâneo no sentido do ser. São ca-
ção encontra sua plena revelação em Jesus, que não é ainda o principal na vida espiritual. O princi-
racterísticas necessárias à oração: um tempo reser-
reza com seu coração humano, sendo um coração pal está em querer a Deus por si mesmo. Pois o sen- 3 – ENTRAR EM ORAÇÃO:
vado, fidelidade e perseverança. Este tipo de oração
de Filho. Desse modo a oração possui uma novida- tir Deus não está sempre ao nosso alcance, enquan-
pode ser vocal ou mental, devendo ser observados a) Peça a presença do Espírito Santo: É Ele
de: a oração se manifesta como oração filial, como to o querer Deus sim”, nos alerta frei Clodovis Boff.
alguns aspectos práticos, como o lugar onde se vai quem nos ensina a orar. É Ele quem nos leva
rezar, ter um ambiente acolhedor, um horário, uma um encontro com o Pai. Jesus sendo um homem de A oração pessoal deve concretizar o pedido de à oração e nos revela como nós devemos orar.
postura corporal e um diário espiritual para anotar oração nos mostra toda a força da oração, e sua im- Jesus: “Orai sem cessar”, em todas as circunstâncias
portância na vida humana e nos seus momentos de- da vida, o que equivale a dizer que todas as circuns- b) Examine sua consciência: Considerando
as inspirações do Senhor. A oração pessoal é um dos
cisivos configurando-se segundo o testemunho de tâncias, todos os acontecimentos são meios pelos que a comunicação com Deus é bloqueada
meios mais eficazes de crescimento espiritual, visto
Jesus: como uma entrega humilde e confiante à quais podemos fazê-los oração, aqui vida e ora- pelo pecado, Deus pode em sua oração levá-lo
que é uma necessidade natural do fiel, tanto quanto
vontade amorosa do Pai, como uma adesão amoro- ção se encontram, ambas se cruzam, a vida se faz a “enxergar” seu próprio interior. O Exame de
o comer e o respirar, devendo desta forma, ser natu-
sa do coração ao mistério da vontade do Pai, como oração, e oração se faz nossa vida. Adorar a Deus consciência pode ser um momento maravi-
ral e agradável.
uma ação de graças, que deve vir por primeiro. em espírito e em verdade, este é o ideal proposto lhoso, cheio de graça em que Deus nos ajuda
por Jesus. Comentando esta passagem Monsenhor a jogar por terra todos os bloqueios que nos
2. Desenvolvimento Nos Evangelhos Jesus deixa seu ensinamento
sobre a oração, que deve ser assim compreendida: Jonas Abib ensinava que esta adoração a Deus de- impedem de entrar numa oração profunda. À
medida que o Senhor for revelando seus peca-
como um encontro filial com o Pai, movido pelo ver ser feita no Espírito, que clama em nós Abba Pai,
e em verdade, na verdade de nossa vida, com tudo dos, peça a graça de abandoná-los. Faça um fir-
Espírito Santo, que nasce de um coração humil- me propósito e rejeite o pecado, certo de que
2.1 O que é oração? aquilo que estamos passando em nossa realidade
de e reconciliado com todos, fruto de uma fé ele faz diminuir a sua capacidade de conhecer
viva, e em constante vigilância. A oração, em sua existencial e espiritual, do contrário nossa oração
Segundo o Catecismo da Igreja, a oração é vis- corre o risco de ser mentirosa. e servir a Deus.
ta, nas primeiras passagens bíblicas, como um modo própria essência, requer algumas propriedades: pri-
meiro a persistência; depois a paciência e por fim a A oração pessoal deve ser fruto do nosso amor c) Apresente o “seu problema” a Deus: Mui-
concreto e bonito de relacionamento com Deus que
humildade. A grande novidade que Jesus nos traz, a Deus, pois onde não há amor tudo se torna insigni- tas vezes nossas orações tornam-se ineficien-
se mostra mediante a apresentação de oferendas a
mediante a sua encarnação, é esta: a oração dos ficante, já nos dizia Santa Terezinha: Nada é peque- tes por causa de nossos fardos de ansiedade e
Deus, ou pela invocação do nome de Deus, ou ainda
discípulos deve ser feita, “em seu Nome”, pois Ele no onde o amor é grande, como também deve ser temor. Sem dúvidas, é importante apresentar
como uma caminhada com Deus. À luz dos relatos
é o caminho, a verdade e a vida, nosso Intercessor expressão de um compromisso de vida, algo de fato nossos problemas ao nosso Pai celeste, porém
bíblicos, que nos narram diversas experiências es-
diante do Pai. E por fim no Magnificat aprendemos vital para nós, sem a qual a vida perde sentido, uma não devemos deixar que todo o nosso tempo
pirituais dos grandes homens de Deus, encontrare-
de Maria qual a finalidade última da oração cristã: vez que sem esse comprometimento com Deus e fi- de oração seja tomado por tais divagações. Co-
mos várias noções que nos levam a entender o que
a união com Deus, nossa comunhão com Ele, “ser delidade perseverante à oração pessoal corremos loque, portanto, nas mãos do Pai, suas ansie-
seja a oração. No chamamento de Abraão e na sua
todo dele porque Ele é todo nosso”. o risco de não progredir na fé, de paralisar nos- dades, problemas, preocupações e fardos ao
resposta a Deus, a oração se expressa como uma es-
so crescimento espiritual, e assim não chegarmos à começar a sua oração e permita que Deus seja
cuta atenta e silenciosa do coração à voz de Deus
plena estatura do Cristo, como meta de toda vida soberano em sua oração.
e como uma resposta concreta na obediência a Ele 2.2 Como deve ser a oração pessoal?
(obediência significa em latim, ouvir com atenção), cristã, segundo nos propõe São Paulo. d) Louve a Deus: Faça uma oração verbal de
buscando realizar a vontade de Deus, por meio de A oração pessoal deve antes de tudo ser pes- louvor a Deus, por tudo que Ele é, por tudo o
ações concretas, e que por sua vez requer como fun- soal, onde cada pessoa encontrará seu próprio ca- 2.3 Condições para uma oração pesso- que Ele faz, por toda a Sua obra. Não seja tími-
damento único o dom da fé na fidelidade de Deus. A minho na oração sendo guiado pelo Espírito Santo al eficaz do; não hesite em repetir os louvores de um
oração restaura no homem a semelhança de Deus e e norteado pelos ensinamentos profundos que a cântico, de um salmo, expressando ao Senhor
o faz participar do poder do amor de Deus que salva Igreja nos deixou em sua riquíssima Tradição, a par- Para uma boa oração necessitamos estar aten- toda a alegria que há no seu coração por Ele,
a multidão. Na experiência de Jacó a oração pode tir das diversas experiências dos grandes santos e tos para algumas condições prévias que nos ajudam pela Sua presença na sua vida. Louve a Deus
ser definida como o combate da fé e como a vitória santas da Igreja. Cada um deve encontrar seu méto- a viver a oração como uma experiência de encon- pelo bom e também por aquilo que não está
da perseverança. Na profunda experiência de Moi- do de Oração Pessoal, e a forma de oração pelo qual tro com Deus, ou seja, para uma oração profunda e bom. Se persistir na prática da oração e do
sés a oração revela sua dimensão de intercessão, vai se identificando, passando pela Oração Vocal, de verdadeira necessitamos de uma preparação, que louvor, você se surpreenderá ao ver como até
de diálogo com Deus, que por primeiro vem ao louvor e de intercessão, adentrando nos esquemas servirá de apoio e ajuda para que a oração flua em o mais grave de seus problemas parecerá mí-
seu encontro, revelando sua mais bela face, a da místicos da meditação e da contemplação, como intimidade e profundidade. nimo.
contemplação, pois Moisés falava com Deus face a oração mental, e perpassando pela Lectio Divina,
Maneiras práticas de planejar e entrar em oração: e) Faça perguntas a Deus: Faça perguntas
face. Neste âmbito a oração se apresenta como um leitura orante da Bíblia, ou pela Oração dos Salmos,
a Deus sobre coisas que estão em seu cora-
encontro íntimo com Deus. Por sua vez em Davi a Liturgia das Horas, ou ainda pela Oração do Santo 1 – ESCOLHER A HORA: ção. Traga esses problemas a Deus com total
oração adquire um rosto novo, de louvor e ação de Terço, como devoção mariana, ou passando pela in-
Se não estabelecermos uma hora específica confiança de que ele agirá em seu favor. Seja
graças, expressando sua adesão fiel, sua confiança vocação do nome de Jesus, mediante diversas jacu-
para orar, não seremos capazes de orarmos regular- “aberto” para encontrar uma resposta em sua
e alegria no Senhor. Já na experiência espiritual latórias, sendo que todas elas devem convergir para
mente. Por isso, escolha um momento em que você oração, na Eucaristia, na Palavra de Deus, no
dos Profetas a oração é revelada como uma escu- o sentido último de nossa vida: a adoração.
não esteja esgotado, mas alerta e concentrado em Catecismo ou em outros livros, no conselho de

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

um padre ou de outro conselheiro espiritual.


Deus nos responderá e orientará.
3. Conclusão
f) Interceda com fé e confiança. Peça aquilo
de que você precisa. Peça também pelas pes- Uma vez que a oração nos leva a um encontro
soas que estão necessitadas de oração. Deus com Deus e consigo mesmo, quem não encontra a
dará! Não precisamos de influência ou prestí- Deus também acaba por perder a si mesmo. A fal- Dinâmica:
gio, precisamos da Palavra de Deus em nossos ta de oração deixa o coração fragilizado diante das
corações fornecendo a base para o entendi- angústias e problemas da vida. No livro de Jó temos
mento de nós mesmos e do mundo que está à um testemunho de como a oração é fonte de forta- PALAVRA QUE TRANSFORMA
nossa volta. Peça a Deus os dons e os carismas leza da alma e de firmeza da fé diante das diversas
que ele deseja dar a você. tragédias que podem acontecer nesta vida. Sem a
oração o homem perde o sentido maior desta vida,
Objetivos
g) Anote o que Deus mostra: Antes de termi- e de sua transcendência na direção a Deus. Uma vez Fazer o grupo refletir que a oração pessoal nos faz absorver aquilo
nar sua oração, escreva o que Deus lhe disse que orar é sempre possível, aquele que não reza que a Palavra de Deus tem para realizar em nós.
e mostrou e revise no final de cada dia aquilo perde a oportunidade de direcionar sua vida e os
que escreveu. Isso torna a oração mais pareci- acontecimentos a sua volta, mesmo os mais trági-
da com um diálogo fluente. Material
cos, para Deus e nEle viver a dimensão da aceitação,
Uma bolinha de isopor, um giz, um vidrinho de remédio vazio, uma
mesmo quando não é possível compreendê-los.
2.4 Os efeitos desta prática espiritual. esponja e uma vasilha com água.
A falta de oração enfraquece a alma humana, e a
pessoa que deixa de rezar se torna mais sujeita a
A oração pessoal possibilita aquele que reza perder o autodomínio de si mesmo e de seus im- Descrição
com fé e com perseverança, pois neste assunto não pulsos, assim quem não ora se torna mais propenso a. Explica-se que a água é a Palavra de Deus e que o objeto somos
há imediatismo nem mágicas, e para tanto requer ao pecado. É muito clara a exortação do Catecismo nós.
persistência e fidelidade, angariar no âmbito huma- nº. 2774: “Se não nos deixarmos levar pelo Espírito,
no, como nos ensina frei Clodovis Boff, quem reza e cairemos de novo na escravidão do pecado”. Aquele b. Depois se coloca a água na vasilha, e alguém mergulha o isopor.
medita adquire uma identidade mais sólida. Ganha que não possui uma vida de oração pessoal certa- c. Após ver o que ocorre com o isopor, mergulhar o giz, depois o
em autorrealização, vê mais sentido nas coisas, per- mente se torna mais aberto às seduções desse mun- vidro de remédio e por último a esponja.
cebe mais encanto em seu mundo, sente-se mais do e às tentações do mal.
cheio de serenidade, equilíbrio e felicidade inte-
rior, cresce sua sensibilidade aos valores profundos Como Fazer
da vida, e mais ainda, a oração ajuda a recuperar a 1. Dê um objeto para cada pessoa.
saúde, protege contra a perda da harmonia interior,
propiciando autocontrole e serenidade do coração,
e permite enfrentar os problemas da vida com me- 2. Colocar primeiro a bolinha de isopor na água.
lhores chances de sucesso. Por sua vez no âmbito Para refletir: Refletir: O isopor não afunda e nem absorve a água.
espiritual a oração gera uma confiança filial em
Deus, de quem tudo recebemos, nos impulsiona a a) Como nós absorvemos a Palavra de Deus?
uma fé mais viva, ao mesmo tempo que dela proce- a) Você pratica a oração pessoal diaria- b) Somos também impermeáveis?
de, fortalece nossa vontade na busca pela santidade mente?
de vida, nos leva a uma experiência mais profunda
do amor de Deus, faz iniciar em nós um processo b) Qual a maior barreira que lhe impede 3. Mergulhar o giz na água.
contínuo de cura interior, assim como vai sedimen- de orar? Refletir: O giz retém a água só para si, sem repartir. E nós?
tando em nosso coração as virtudes cristãs, e opera
a libertação interior dos vícios e de seu enraiza- c) Se você ainda não faz oração pesso-
mento em nossas estruturas humanas. Uma vez que al, escolha um horário, combine com o 4. Encher de água o vidrinho de remédio. Despejar toda a água que
não podemos dizer Jesus é o Senhor senão pela mo- Senhor este encontro diário e peça ao ele se encheu.
ção do Espírito Santo, como nos ensina o Catecismo: Espírito Santo que lhe torne fiel e perse- Refletir : O vidrinho tinha água só para passar para os outros, mas
“cada vez que começamos a orar a Jesus é o Espírito verante a Ele. sem guardar nada para si mesmo. E nós?
Santo que, por sua graça preveniente, nos atrai ao
caminho da oração”, assim sendo, o Espírito Santo é d) É importante adquirir um diário espi-
o nosso Mestre interior que move nossa oração, que ritual para ser utilizado no momento de 5. Mergulhar a esponja e espremer a água.
derramado aumenta em nós os seus dons. E dese- sua oração pessoal. Refletir: A esponja absorve bem a água e mesmo espremendo ela
jamos acrescentar o fruto por excelência da oração continua molhada. Assim acontece conosco quando praticamos a oração
cristã que nos faz experienciar a graça da salvação pessoal.
que Jesus veio trazer a todos os que nEle crerem,
pois quem nele crê possui a vida eterna.

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

Práticas Espirituais
Parte II

II. Rosário

1. Introdução 2. Desenvolvimento

Uma oração universal: assim poderia ser defi- 2.1 Definição


nido o Rosário. Afinal, a qualquer hora do dia, em
qualquer lugar do mundo, alguém o reza para louvar A palavra Rosário significa ‘Coroa de Rosas’.
o Senhor ou agradecer-lhe seus dons, para suplicar A Virgem Maria revelou a muitas pessoas que cada
graças ou pedir-lhe perdão dos próprios pecados. A vez que rezam uma Ave Maria lhe é entregue uma
cada momento alguém está contemplando os misté- rosa e por cada Rosário completo lhe é entregue
rios da vida de Jesus. Rezar o Rosário é passear pelo uma coroa de rosas. A rosa é a rainha das flores, sen-
Evangelho em união com Maria Santíssima; É como do assim o Rosário a rosa de todas as devoções e,
falar com uma pessoa amada. Quando amamos al- portanto, a mais importante.
guém, queremos dizer-lhe mil vezes: eu amo você, O Santo Rosário é considerado a oração perfei-
eu amo você, eu amo você. Não é uma repetição, é ta porque junto com ele está a majestosa história de
uma necessidade de coração. Maria é nossa mãe, nossa salvação. Com o Rosário, meditamos os mis-
nosso modelo, é quem nos deu Jesus. O Rosário é térios de gozo, de dor e de glória de Jesus e Maria.
uma oração universal porque nela todos se encon- É uma oração simples, humilde como Maria. É uma
tram. Nos encontramos com o Pai que “tanto amou o oração que podemos fazer com ela, a Mãe de Deus.
mundo que entregou seu Filho Unigênito” (Jo 3,16); Com a Ave-Maria a convidamos a rezar por nós. A
nos encontramos com o Filho, o Emanuel, isto é, o Virgem sempre nos dá o que pedimos. Ela une sua
Deus conosco(cf. MT 1,23); e nos encontramos com oração à nossa. Portanto, esta é mais poderosa, por-
o Espírito Santo que continua sendo derramado so- que Maria recebe o que ela pede, Jesus nunca diz
bre nós, conforme vemos e ouvimos (cf. At 2,33). não ao que sua mãe lhe pede.
Na oração do Rosário encontram-se aqueles que Em cada uma de suas aparições, nos convida a
olham para Maria e lhe dirigem as palavras que o Espí- rezar o Rosário como uma arma poderosa contra o
rito Santo pôs na boca de Isabel: “Bendita és tu entre maligno, para nos trazer a verdadeira paz.
as mulheres e bendito o fruto de teu ventre” (Lc 1,42). O Rosário é composto de dois elementos: ora-
O Rosário é também uma maneira de olhar Ma- ção mental e oração verbal.
ria com o olhar do Pai que a chamou e a enriqueceu No Santo Rosário a oração mental é a medita-
com seus dons, em vista da missão que ela deve- ção sobre os principais mistérios ou episódios da
ria exercer no mistério de Cristo e da Igreja. É uma vida, morte e glória de Jesus Cristo e de sua Santís-
oração contemplativa acessível a todos: grandes e sima Mãe. A oração verbal consiste em recitar quin-
pequenos, leigos e clérigos, cultos e pessoas com ze dezenas (Rosário completo) ou cinco dezenas de
pouca instrução. É vínculo espiritual com Maria para Ave Maria, cada dezena iniciada por um Pai Nosso,
permanecermos unidos a Jesus, para nos confor- enquanto meditamos sobre os mistérios do Rosário.
marmos a Ele, assimilarmos os seus sentimentos e
nos comportarmos como Ele se comportou. Confor- A Santa Igreja recebeu o Rosário em sua for-
me as palavras do Santo Padre João Paulo II: O Ro- ma atual em 1214 de uma forma milagrosa: quando
sário é a oração para este mundo. É arma espiritual a Virgem apareceu a Santo Domingo e o entregou
na luta contra o mal. É uma oração para salvação das como uma arma poderosa para a conversão dos he-
pessoas, para a transformação das famílias, para a reges e outros pecadores daquele tempo. Desde en-
mudança da nossa sociedade e para que o mundo tão sua devoção se propagou rapidamente em todo
seja salvo. o mundo com incríveis e milagrosos resultados.

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

Importante: O Terço era a terça parte do Rosá-


rio; agora é a quarta parte, porque o Papa João Paulo
4 - Em cada uma das três contas pequenas, re-
citar uma Ave Maria
Mistérios gloriosos (quarta-feira e domingo)
3. Conclusão
1º - Ressurreição de Nosso Senhor Jesus
II acrescentou mais um Terço ao Rosário, contem- 5 - Recitar um Glória antes da próxima conta Cristo (Jo 20,1-18)
plando os mistérios da luz ou “luminosos”, da Vida grande. Conforme as palavras do Santo Padre João
Pública de Jesus. Em cada Terço contemplamos uma 2º - Ascensão gloriosa de Jesus Cristo ao Paulo II: O Rosário é a oração para este mundo. Para
etapa da vida de Jesus e o mistério da nossa Salva- 6 - Anunciar o primeiro Mistério do Rosário do céu (At 1,4-11)
dia e recitar um Pai Nosso na próxima conta salvação das pessoas, para a transformação das fa-
ção; logo, o Terço é mais uma oração centrada em mílias. Para a mudança da nossa sociedade e para
grande. 3º - Descida do Espírito Santo sobre os
Cristo do que em Maria. Nossa Senhora reza conos- que o mundo seja salvo. É a oração dos simples, é a
apóstolos (At 2, 1-13)
co o Terço, contemplando também ela os mistérios 7 - Em cada uma das dez contas pequenas (uma oração dos sábios, é a oração dos pobres. É a oração
da nossa salvação e intercedendo por nós. Por isso, dezena) recitar uma Ave Maria enquanto se faz 4º - Assunção gloriosa de Nossa Senhora
de todos!
é muito importante contemplar cada mistério do uma reflexão sobre o mistério. ao céu (Sl 44,11-18)
Terço. O Rosário é uma expressão de amor. É o que É uma maravilhosa terapia: Se você vive cansa-
8 - Recitar um Glória depois das dez Ave Ma- 5º - Coroação de Nossa Senhora no céu do, se você está com insônia, se procura auxílio nos
você irá descobrir se puser em prática esta simples ria. Também se pode rezar a oração ensinada (Ap 12,1-4)
e poderosa oração. calmantes, tente rezar o Rosário. Ele não é tóxico e
por Nossa Senhora, quando de sua aparição em produz um efeito maravilhoso.
Fátima. (Óh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos Mistérios luminosos (quinta-feira)
2.2 Como meditar o Rosário? do fogo do inferno. Levai as almas todas para É uma Oração Simples e Profunda: Até as crian-
1º - O Batismo de Jesus no rio Jordão (Mt
o céu e socorrei principalmente as que mais ças podem rezar o Rosário e colher seus frutos. É
3,13-17)
precisarem.) uma oração simples. Parece que surgiu no meio do
Para meditar o Rosário com verdadeiro provei- 2º - A sua auto-revelação nas bodas de povo mais humilde. Mas mesmo os grandes místicos
to deve-se estar em estado de graça ou pelo menos 9 - Em cada uma das seguintes dezenas é re- Caná (Jo 12,1-12) perceberam nesta oração uma fonte inesgotável de
ter a firme resolução de renunciar o pecado mortal. citada da mesma forma: anunciando o corres- benefícios espirituais. O Rosário é uma oração pro-
3º - Jesus anuncia o Reino de Deus com o
O Santo Rosário nos permite percorrer os gran- pondente mistério, recitando um Pai Nosso, funda.
convite à conversão (Mc 1,15 * Mc 2,3-13
des momentos da obra salvífica de Cristo, acompa- dez Ave Maria e um Glória enquanto se medita
* Lc 7,47-48 * Jo 20, 22-23) É uma Escola de Oração: Precisamos aprender
nhados por nossa Mãe Maria, de quem tomamos o o mistério.
4º - A Transfiguração de Jesus no monte a rezar. Muitas pessoas não sabem como se ache-
exemplo de “guardar todas estas coisas no coração”. 10 - Ao terminar o quinto mistério o Rosário gar a Deus. O Rosário será uma verdadeira e grande
Tabor (Lc 9,28-36)
Além de ter como centro os Mistérios de Cristo, costuma ser concluído com a oração da Salve escola. Ele fortifica a nossa fé, apresenta-nos Maria
Rainha. 5º - A instituição da Eucaristia, expressão
em conexão com a Trindade Santa e a vida de Nossa como Mediadora, dá-nos lições de penitência, faz
sacramental do mistério pascal (Jo 13,1-20)
Senhora, o Rosário torna presentes as circunstân- retornar os dissidentes.
cias de nossa existência: alegrias, esperanças, an- 2.3 Os Mistérios da vida de Cristo me- É uma Oração atual: Cada dia se fala de medi-
gústias, inspirações, bem como dores e decepções. ditados no Santo Rosário. 2.4 Os efeitos desta prática espiritual. tação. Nosso mundo agitado está começando a dar
O Rosário é “composto de quatro blocos de sinais de cansaço. Cresce o interesse pelos méto-
Mistérios, conforme o acréscimo, feito pelo Papa Mistérios gozosos (segunda-feira e sábado) Benefícios do Rosário: dos orientais de oração. O Rosário é de inspiração
João Paulo II, com a edição da Carta Apostólica Ro- • Nos eleva gradualmente ao perfeito conhe- oriental e é cristão. Por que não ensiná-lo às novas
sarium Virginis Mariae”. 1º - O anjo Gabriel anuncia que Maria gerações?
cimento de Jesus Cristo.
será a Mãe do Filho de Deus.(Lc 1,26-38)
• Purifica nossas almas do pecado. É uma oração libertadora: O Rosário liberta,
Como rezar? 2º - Maria visita sua prima Isabel. (Lc porque nos põe em íntimo diálogo com o Libertador
1,39-56) • Permite-nos vencer nossos inimigos. (Jesus). Maria canta: “Derruba os poderosos de seus
Oferecimento do terço:
3º - Nascimento de Jesus em uma gruta, • Facilita-nos a prática das virtudes. tronos e eleva os humildes” (Lc 1,52-53). Entre um
Divino Jesus, nós Vos oferecemos este terço mistério e outro repetimos: “Jesus, socorrei princi-
que vamos rezar, meditando nos mistérios da nos- em Belém (Lc 2,1-21) • Inflama-nos do amor de Jesus Cristo.
palmente os que mais precisarem”. É a opção prefe-
sa redenção. Concedei-nos, por intercessão da Vir- 4º - Apresentação do Menino Jesus no • Obtém-nos de Deus toda classe de graças. rencial pelos pobres presentes no Rosário. A oração
gem Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, as virtudes templo (Lc 2,22-40) • Proporciona a nós com o que pagar todas as do Rosário nos livra dos pensamentos negativos.
que nos são necessárias para bem rezá-lo e a graça nossas dívidas com Deus e com os homens. Nos dá equilíbrio em todas as situações do nosso
5º - Encontro de Jesus no templo entre os
de ganharmos as indulgências desta santa devoção. dia a dia.
doutores da lei (Lc 2,41-52) Bênçãos do Rosário:
Oferecemos, particularmente, em desagravo dos
pecados cometidos contra o Sagrado Coração de É uma oração popular: Na cidade ou no campo
• Os pecadores obtêm o perdão.
Jesus e Imaculado Coração de Maria, pela paz no – religiosos, leigos, bispos, padres, até o Papa, to-
Mistérios dolorosos (terça-feira e sexta-feira) • As almas sedentas são saciadas. dos têm uma simpatia especial pelo Rosário. Não é
mundo, pela conversão dos pecadores, pelas almas
do purgatório, pelas intenções do Santo Padre nos- 1º - Agonia mortal de Jesus no horto das • Os que estão atados veem seus nós desatados. a oração oficial da Igreja, mas sempre foi rezado por
so vigário, pela santificação das famílias, pelas mis- Oliveiras (Mt 26,36-46) toda a Igreja, principalmente pelo povo simples que
• Os que choram encontram alegria. encontra nele uma maneira prática de estar com
sões, pelos doentes, pelos agonizantes, por aqueles 2º - Flagelação de Jesus atado à coluna
que pediram nossas intenções particulares, pelo • Os que são tentados encontram tranquilidade. Deus.
(Mt 27,11-26)
Brasil e pelo mundo inteiro. • Os pobres são socorridos. É uma oração que traz a paz e a união para as
3º - Coroação de espinhos de Jesus pôr famílias: O Rosário sempre foi oração querida das
seus algozes (Mt 27,27-31) • Os religiosos são reformados.
1 - Segurando o Crucifixo, fazer o Sinal da Cruz. famílias e muito favoreceu sua união e seu cresci-
• Os ignorantes são instruídos. mento. Sua oração torna-se motivo e oportunidade
2 - Em seguida, ainda segurando a cruz, rezar 4º - Subida dolorosa de Jesus carregando
o Credo. a Cruz até o Calvário (Jo 19,17-24) • Os vivos triunfam sobre a vaidade. de a família encontrar-se, no corre-corre da vida e
• Os mortos alcançam a misericórdia por via com o pouco tempo que dispõe de estar junto to-
3 - Na primeira conta grande, recitar um Pai 5º - Crucificação e Morte de Jesus (Jo
de sufrágios. mado pelas imagens da televisão. “Retomar a reci-
Nosso. 19,25-37) tação do Rosário em família significa inserir na vida
22 23
Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

diária imagens bem diferentes - as do mistério que


salva: a imagem do Redentor, a imagem de sua Mãe
Santíssima. A família, que reza unida o Rosário, re-
produz em certa medida o clima da casa de Nazaré:
põe-se Jesus no centro, partilha-se com Ele alegrias
e sofrimentos, colocam-se em suas mãos necessi-
Práticas Espirituais
dades e projetos, e d’Ele se recebe a esperança e
a força para o caminho” (RMV, 41). Rezando o Ro-
Parte III
sário pelos filhos e com eles, os pais estarão apre-
sentando as etapas de crescimento de Jesus, desde
a encarnação até a ressurreição como seu ideal de
vida. Ao mesmo tempo, estarão realizando a cate-
quese da oração. Enquanto repetimos as palavras, a
III. ADORAÇÃO AO SANTISSIMO SACRAMENTO
imaginação vai criando em nossa mente o filme da
vida de Cristo. Este modo de rezar é conhecido por
“contemplação”.
O Rosário descontrai, gera confiança, acalma
as tensões, dá ânimo e motivação para o trabalho,
além da alegria, paciência e tolerância. Livra-nos 1. Introdução 2. Desenvolvimento
dos pensamentos negativos. É fonte de bênçãos e
de graças. Tente rezá-lo e você mesmo descobrirá.
A Igreja nos ensina que “A reserva do Corpo de 2.1. O que é adoração?
Cristo para a Comunhão dos enfermos criou entre os
fiéis o louvável costume de se recolherem em ora- “Adorar a Deus é, no respeito e na submissão
ção para adorar Cristo realmente presente no Sacra- absoluta, reconhecer o nada da criatura, que não
mento conservado no sacrário. Recomendada pela existe a não ser por Deus. Adorar a Deus é, como
Igreja aos Pastores e fiéis, a adoração do Santíssimo Maria no Magnificat, louvá-lo, exaltá-lo e humilhar-
é uma alta expressão da relação existente entre a se a si mesmo, confessando com gratidão que Ele
celebração do sacrifício do Senhor e a sua presen- fez grandes coisas e que seu nome é Santo. Adora-
ça permanente na Hóstia Consagrada” (cf. De sacra
Para refletir Communione, 79-100; Ecclesia de Eucharistia, 25;
ção do Deus único liberta o homem de se fechar em
si mesmo, da escravidão do pecado e da idolatria do
Mysterium fidei; Redemptionis Sacramentum, 129- mundo.” (Catecismo n. 2096 e 2097).
141). Sobre este ponto assim se expressa o Romano
a) Medito o Rosário todos os dias? Adorar a Deus é o máximo que podemos fazer
Pontífice em sua Exortação Apostólica Pós-sinodal,
b) Qual o maior obstáculo que me impe- Sacramentum Caritatis, nº66: “De fato, na Eucaris- enquanto passamos pelos caminhos da existência
de de meditar o Rosário? tia, o Filho de Deus vem ao nosso encontro e deseja terrestre. Nossa primeira atitude como criaturas
unir-Se conosco; a adoração eucarística é apenas o diante do Criador é, sem dúvida, a adoração. Pela
c) Partilhe as graças obtidas através da prolongamento visível da celebração eucarística, a adoração exaltamos a grandeza do Senhor que nos
meditação do Rosário. qual, em si mesma, é o maior ato de adoração da fez e a onipotência do Salvador que nos liberta do
Igreja: receber a Eucaristia significa colocar-se em mal. A adoração do Deus três vezes santo e suma-
atitude de adoração d’Aquele que comungamos. mente amável nos enche de humildade e dá garan-
tia a nossas súplicas. No Antigo Testamento pode-
Precisamente assim, e somente assim, é que mos ler frequentes vezes expressões como estas:
nos tornamos um só com Ele e, de algum modo, “Todo o povo se prostrou com o rosto em terra para
saboreamos antecipadamente a beleza da litur- adorar e bendizer no céu aquele que os havia con-
gia celeste. O ato de adoração fora da Santa Missa duzido ao triunfo” (1Mac 4, 55). “Assim vos bendirei
prolonga e intensifica aquilo que se fez na própria em toda a minha vida, com minhas mãos erguidas
celebração litúrgica. Com efeito, “somente na ado- vosso nome adorarei”(Sl 62, 5). “É somente a vós,
ração pode maturar um acolhimento profundo e Senhor, que devemos adorar” (Br 6, 5). “Prostrando-
verdadeiro. Precisamente neste ato pessoal de en- se diante dele, o adoraram”(Mt 2, 11). “...os ver-
contro com o Senhor amadurece depois também a dadeiros adoradores hão de adorar o Pai em
missão social, que está encerrada na Eucaristia e espírito e verdade, e são esses adoradores que
deseja romper as barreiras, não apenas entre o Se- o Pai deseja”( Jo 4, 23). Quando nos prostramos em
nhor e nós mesmos, mas também, e sobretudo, as adoração a Jesus no Santíssimo Sacramento, somos
barreiras que nos separam uns dos outros”. Portan- muito mais felizes que Abraão, Moisés, Davi, os Pro-
to, “O permanecer em oração diante do Senhor vivo fetas... Sem dúvida, eles adoraram a Deus Santíssi-
e verdadeiro no santo Sacramento amadurece nossa mo, ou como é comum na Bíblia, ao Deus três vezes
união com ele: dispõe-nos para a frutuosa celebra- Santo, ou ao Santo, Santo, Santo, o Senhor Deus do
ção da Eucaristia e prolonga as atitudes de culto por universo. Mas como nos diz a Palavra em Hb 11,
ela suscitadas”(Ano da Eucaristia. Nº 13 - 15 de Ou- 13, eles “morreram firmes na fé. Não chegaram a
tubro de 2004)

24 25
Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

desfrutar a realização da promessa, mas puderam Cristo, sugerido pela fé na sua presença e ca- e alimenta a comunhão entre os esposos; tonifica o o adorador deve ser conduzido. Então, podemos
vê-la e saudá-la de longe e se declararam estran- racterizado pela oração silenciosa; ministério dos Pastores da Igreja e a docilidade dos afirmar que “o verdadeiro adorador é alguém que
geiros e peregrinos na terra que habitavam”. Nós, fiéis ao seu magistério; os enfermos experimentam participa plenamente da Ceia do Senhor, onde re-
b) A adoração diante do Santíssimo Sacra-
porém, somos privilegiados. Diante do Santíssimo a comunhão com o sofrimento de Cristo; todos se cebe o Pão da Vida e o toma do Cálice da Salvação.
mento exposto, segundo as normas litúrgicas,
Sacramento, nossa experiência se identifica com a sentem motivados a buscar a reconciliação sacra- Ele consegue, na prece silenciosa diante da Eucaris-
na custódia ou na píxide, de forma prolongada
experiência dos Apóstolos, pois estamos diante de mental para poderem comungar com proveito; a tia, fazer passar pelo coração (recordar) as maravi-
ou breve;
Jesus vivo e operante. No silêncio, ele nos ensina comunhão e a unidade são garantidas entre os lhas de Deus. É alguém que ama verdadeiramente
como Mestre. Encerrado no Sacrário ele nos dá a li- c) A adoração perpétua, a das Quarenta Ho- múltiplos carismas, funções, serviços, grupos e a sua comunidade eclesial e que não recusa jamais
berdade, escondido na Hóstia Consagrada ele nos ras ou noutras formas, que empenham toda a movimentos no seio da Igreja; todas as pesso- o serviço aos irmãos e irmãs, prolongando, assim, a
revela a glória de Deus Pai e o poder do Espírito San- comunidade religiosa, uma associação euca- as empenhadas nas diversas atividades, serviços e Eucaristia na vida”. O verdadeiro adorador busca
to. Assim como no deserto o Senhor Deus libertou rística ou uma comunidade paroquial, e que associações de uma paróquia, são identificadas por profeticamente construir a comunhão e a unida-
seu povo da escravidão do Egito, no Santíssimo Sa- são ocasião de numerosas expressões de pie- atitudes pautadas pelos valores do Evangelho e por de na comunidade onde vive e desenvolve sua fé.
cramento o Senhor Jesus nos liberta de nossa aridez dade eucarística (cf. Diretório, 165). uma espiritualidade de comunhão; e ainda, a ado- Quem pratica com devoção e humildade a adoração
espiritual, de nosso egocentrismo, de nossos vãos ração ao Santíssimo sustenta as relações de paz, de ao Santíssimo Sacramento vive como os primeiros
d) Cada um de nós tem sua criatividade; são
desejos. Ele nos liberta da escravidão do pecado e entendimento e de concórdia na cidade terrena, en- cristãos, como está registrado no livro dos Atos dos
inúmeras as formas que nos ajudarão a adorar
nos conduz à vida da graça. Ele nos aproxima do Pai tre todos os seres humanos. “Prostrando-nos diante Apóstolos, que eram assíduos à oração, com Maria,
profunda e respeitosamente a Jesus Eucarísti-
celestial e de todos os irmãos e irmãs, faz-nos cres- da Eucaristia, aprenderemos de maneira certa o que mãe de Jesus. E que “Unidos de coração frequenta-
co; diversos são os instrumentos que podemos
cer em comunhão, torna-nos solidários com os mais significa comunhão, cultura do diálogo, vida solidá- vam todos os dias o templo” (cf. At 1, 14; 2, 46).
usar para nos ajudarem a rezar com eficácia
carentes e nos abre o coração para acolhermos a ria, serviço aos mais necessitados e respeito à dig-
diante do Santíssimo; temos a Bíblia, espe-
vontade de Deus. No Santíssimo Sacramento, Jesus nidade humana. Graças à iniciativa do Senhor que
cialmente os Salmos, o Rosário é um valioso e
é nosso refúgio e nossa segurança, nossa paz, nosso quis permanecer conosco podemos aprender dele
eficaz instrumento para nossa adoração, existe
caminho, nossa vida e nossa verdade. Ali no taber- as melhores lições.
ainda uma infinidade de livros de orações; mas
náculo Jesus nos aponta para o Tabernáculo eterno.
nunca nos esqueçamos de que se faz muito A busca incessante de muitos homens de hoje Para refletir
Quando estamos em adoração estamos reco- importante o silêncio; a oração silenciosa e em responder às suas grandes perguntas não pode
nhecendo a Jesus como nosso único Senhor e Sal- contemplativa é de um valor sem medida; pre- ser desvinculada da fé que nos faz prostrar diante Definir um dia na semana ou pelo me-
vador. Estar em adoração é despojar-se de si e se cisamos resgatar o silêncio em nossas adora- de Jesus “simples” (Diego Tales). nos no mês para que todos os servos se
entregar a Ele. É fazer-se humilde, como os três reis ções eucarísticas; nós precisamos aprender a reúnam para adorar o Santíssimo Sacra-
Portanto, “Permaneçamos longamente pros-
magos e entregar a Jesus tudo o que temos de mais cultivar o silêncio que nos leva às profundezas mento. O horário para esta adoração deve
trados diante de Jesus presente na Eucaristia, repa-
valor. É dizer sempre “Onde está o Rei? ...viemos do ser, onde podemos realmente ter um en- ser definido de forma que fique melhor
rando com a nossa fé e o nosso amor os descuidos,
adorá-lo!” (cf. Mt 2,2). É assumir ser pecador e di- contro alegre e salvífico com o Senhor. para todos.
os esquecimentos e até os ultrajes que nosso Salva-
zer para Ele: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão dor deve sofrer em tantas partes do mundo” (Mane
de mim!” (Mc 10,47) e confiar em sua misericórdia.
2.3 Os efeitos desta prática espiritual. Nobiscum Domine, n.18). No Documento para o Ano Observações:
É louvar a Deus por todas as graças que Ele derrama da Eucaristia, Nº 6, encontramos este salutar ensi-
em nossa vida: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito Adorar Jesus no Santíssimo Sacramento, além namento: “A Eucaristia nos torna santos, e não pode a. O ideal é que os servos do Grupo de
seja aquele que vem em nome do Senhor! Hosana de nos encher de alegria, também sentimos amadu- existir santidade que não esteja encarnada na vida Oração se reúnam semanalmente para
no mais alto dos céus!” (Mt 21,9). recer nossa união com Ele; somos mais livremente eucarística. “Quem come a minha carne viverá por adorar o Senhor.
conduzidos à celebração da Eucaristia e saudavel- mim” (Jo 6, 57). b. A dinâmica da adoração é livre, po-
2.2 Como devemos adorar o Santíssi- mente crescemos no amor a Deus e ao próximo. Em rém, deve-se privilegiar o silêncio e a es-
mo Sacramento? outras palavras, essa relação pessoal com o Senhor cuta, o louvor e a meditação da Palavra de
favorece um contínuo crescimento na fé e prolonga 3. Conclusão Deus.
É recomendável, para um aproveitamento mais a graça do Sacrifício Eucarístico celebrado especial-
c. No momento da adoração pode-se
eficaz da devoção eucarística, que os adoradores mente no Domingo (Dies Domini).
Podem e devem praticar a adoração ao Santís- orar pelas intenções do Grupo de Oração,
estejam em estado de graça, ou seja, que pratiquem A Eucaristia estimula à conversão e purifica o da RCC e da Igreja.
a confissão sacramental com mais frequência, bus- simo Sacramento todos os que acreditam na presen-
coração. Reaviva nosso coração e nos impulsiona
quem viver uma vida digna, sejam testemunhas ça real de Jesus na Santíssima Eucaristia e querem d. É muito importante privilegiar os
à celebração da Missa Dominical. O ato de adorar
fiéis, sejam assíduos à leitura orante da Bíblia, es- viver uma experiência de intimidade com o Senhor momentos de adoração e contemplação
Jesus no Santíssimo Sacramento nos aproxima de
pecialmente que conheçam os Santos Evangelhos ressuscitado. A adoração eucarística é um prolon- onde todos os servos possam participar.
Deus Pai, abre nosso coração para a ação do Espí-
como também tenham sempre mais interesse pelo gamento da celebração da Missa, de tal forma, que e. A adoração pode ser diante do San-
rito Santo, faz arder nosso coração quando lemos
estudo da doutrina católica, sobretudo pelo que a ficará faltando alguma coisa para quem realiza sua tíssimo Sacramento exposto no ostensó-
as Escrituras, especialmente os Santos Evangelhos,
Igreja ensina através de seu Catecismo e de seus adoração e não participa da Missa, especialmente rio desde que o pároco seja informado e
impulsiona-nos para irmos ao encontro dos irmãos,
documentos. Reconhecendo Jesus na Eucaristia, aos Domingos, pois “A celebração eucarística é, com dê permissão.
especialmente os mais necessitados, firma-nos
precisamos também reconhecê-lo entre nós, em to- efeito, o coração do Domingo”. Poderíamos dizer,
como discípulos e nos faz ardorosos missionários. f. Neste caso a exposição do Santíssi-
das as pessoas e especialmente na pessoa dos mais então, que somente quem celebra o Domingo, com
Nosso “encontro com o Senhor, presente na Euca- mo Sacramento deve ser conforme orien-
sofredores. sua participação na celebração da Missa, pode real-
ristia, amadurece também a missão social, que está ta a Igreja local.
mente adorar o Senhor no Santíssimo Sacramento,
Segundo a tradição da Igreja, a adoração ao encerrada na Eucaristia e deseja romper as barrei-
a não ser que esteja impedido, por algum motivo, g. Se não for possível a exposição do
Santíssimo Sacramento exprime-se de diversas mo- ras não apenas entre o Senhor e nós mesmos, mas
de participar da celebração dominical. A adoração Santíssimo Sacramento, a adoração pode
dalidades: também e, sobretudo, as barreiras que nos separam
eucarística é um exercício espiritual, pessoal ou co- ser realizada diante do sacrário.
uns dos outros” (Bento XVI).
a) A simples visita ao Santíssimo Sacramento, munitário, que nasce da celebração do memorial da
conservado no Sacrário: breve encontro com A adoração ao Santíssimo Sacramento purifica Páscoa do Senhor, a Santa Missa, e a este mistério

26 27
Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

Práticas Espirituais
Parte IV

IV. SACRAMENTO DA RECONCILIAÇÃO

1. Introdução buscada “ao menos uma vez ao ano” (Catecismo, n.


1457). Contudo, não devemos nos contentar com o
mínimo. Jesus mesmo fala, referindo-se à pecado-
ra que sentou-se a seus pés na casa de Simão: “A
Cresce cada vez mais na consciência dos cris-
quem muito amou, muito foi perdoado”. Quanto
tãos a necessidade de viver na graça de Deus. Sa-
mais amamos a Deus, mais somos por Ele perdoa-
bemos pela Palavra de Deus, que a única coisa que
dos. Quanto mais recorremos ao Seu Amor, mais Ele
pode nos afastar do amor de Deus é o pecado, pois
desce a nós e nos faz viver em comunhão com Seu
o pecado é desobediência a Deus, afastamento de
Espírito. Por isso, a Igreja também afirma que “Sem
Deus, desejo humano de ser “como deuses”, conhe-
ser estritamente necessária, a confissão das faltas
cendo e determinando o bem e o mal (Gn 3,5). Mas,
quotidianas (pecados veniais) é, contudo, vivamen-
a misericórdia infinita de Deus não recua diante do
te recomendada pela Igreja” (Catecismo, n. 1458).
nosso pecado: Deus não nos rejeita, mesmo quan-
do voltamos às costas para Ele. Como o pastor que No caso de pecados graves, no entanto, a Igreja
vai atrás da ovelha perdida (Lc 15, 1-7), Deus vai ao assim ensina: “Aquele que tem consciência de haver
nosso encontro, não para condenar, não para punir cometido um pecado mortal, não deve receber a sa-
ou acertar as contas, mas para salvar e amar. Nisso grada Comunhão, mesmo que tenha uma grande
reside o mistério da misericórdia divina. contrição, sem ter previamente recebido a absol-
vição sacramental; a não ser que tenha um motivo
Como nos ensina o Catecismo (n. 1846), “o
grave para comungar e não lhe seja possível encon-
Evangelho é a revelação, em Jesus Cristo, da mise-
trar-se com um confessor” (Catecismo, n. 1457).
ricórdia de Deus para com os pecadores”. Desde o
anúncio da vinda de Jesus, já se destaca sua tarefa A confissão é um meio extraordinariamente
de reconciliador entre Deus e os homens. Lemos no eficaz para progredir no caminho da perfeição. Com
início do Evangelho de São Mateus o que o anjo dis- efeito, além de nos dar a graça “medicinal” própria
se a José: “Por-lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele do sacramento, faz-nos exercitar as virtudes fun-
salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1, 21). damentais de nossa vida cristã. A humildade acima
de tudo, que é a base de todo o edifício espiritual,
depois a fé em Jesus Salvador e em seus méritos
2. Desenvolvimento infinitos, a esperança do perdão e da vida eterna,
o amor para Deus e para o próximo, a abertura de
nosso coração à reconciliação com quem nos ofen-
2.1. O que é o sacramento da Reconci- deu. Enfim, a sinceridade, a separação do pecado e
liação? o desejo sincero de progredir espiritualmente.

O sacramento da Penitência, ou Reconciliação,


2.2. Preparando-se para a confissão
ou Confissão, é o sacramento instituído por Nosso
Senhor Jesus Cristo (cf. Jo 20, 22-23) para apagar A preparação para o sacramento da reconcilia-
os pecados cometidos depois do Batismo. É, por ção começa pelo exame de consciência, pelo qual
conseguinte, o sacramento de nossa cura espiritual, revemos nossas ações, pensamentos e atitudes e os
chamado também sacramento da conversão, porque comparamos com aquilo que Deus quer. A vontade
realiza sacramentalmente nosso retorno aos braços de Deus e seus mandamentos devem ser a nossa
do Pai depois de que nos afastamos com o pecado. referência de vida e, portanto, a baliza de nosso
A Igreja nos ensina que a confissão deve ser exame de consciência. Deus respeita nossa cons-

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

ciência, Ele não nos invade, mas nos convida a nós 2.3. Os efeitos desta prática espiritual. também hoje nos toca ou nos cura; e, como fez com
mesmos reconhecermos nossa pequenez e limita- a menina que jazia morta nos toma pela mão repe-
ção, derramando nossa alma na presença do Senhor O maior benefício da confissão é voltar a vi- tindo aquelas palavras: “Talita kumi, menina, eu te
(1Sm 1,15). ver “de acordo com Deus”, como santo Agostinho digo, levante-te!” (Mc 5, 41).
O exame de consciência leva ao arrependi- escreveu: “Aquele que confessa os seus pecados e
mento sincero ou contrição. Quando percebo que os acusa, já está de acordo com Deus. Deus acusa
minhas atitudes e ações não correspondem ao que os teus pecados; se tu também os acusas, juntas-te
Deus quer, o Amor de Deus acende em nós aquela a Deus. O homem e o pecador são, por assim dizer,
saudade de viver perto de Deus. É esta saudade de duas realidades distintas. Quando ouves falar do
Deus que nos leva ao arrependimento. Vale a pena homem, foi Deus que o criou: quando ouves falar
rezar o Salmo 50, para compreender a dinâmica de do pecador, foi o próprio homem quem o fez. Des-
um coração arrependido. trói o que fizeste, para que Deus salve o que fez. [...]
Quando começas a detestar o que fizeste, é então Para refletir
Acima de tudo, o exame de consciência e o que começam as tuas boas obras, porque acusas as
arrependimento devem estar assentados numa ati- a. Quem nega a validade do sacramento
tuas obras más. O princípio das obras boas é a con-
tude interior, como nos ensina o Catecismo: “Como da Confissão, está negando a própria Igre-
fissão das más. Praticaste a verdade e vens à luz”
já acontecia com os profetas, o apelo de Jesus à ja, a qual recebeu do Senhor o poder de
(Cf. Catecismo, n. 1458).
conversão e à penitência não visa primariamente perdoar.
as obras exteriores, ‘o saco e a cinza’, os jejuns e as A confissão opera em nós duas reconciliações,
mortificações, mas a conversão do coração, a peni- o restabelecimento de dois laços: com Deus e com b. Quem diz que só se confessa dire-
tência interior: Sem ela, as obras de penitência são a Igreja, como já dissemos, mas é preciso sublinhar tamente a Deus, dispensando o sacerdo-
estéreis e enganadoras; pelo contrário, a conversão novamente. De fato, “toda a eficácia da Penitência te, não entendeu o que significa a insti-
interior impele à expressão dessa atitude com si- consiste em nos restituir à graça de Deus e em unir- tuição deste Sacramento. “Dar-te-ei as
nais visíveis, gestos e obras de penitência” (Cate- nos a Ele numa amizade perfeita. O fim e o efeito chaves do Reino dos Céus. Tudo o que,
cismo, n. 1430). deste sacramento são, pois, a reconciliação com
ligardes na terra será ligado no céu” (Mt
Deus” (Catecismo, n. 1468). Por outro lado, “este
Portanto, “a conversão é, antes de mais, obra 16,19;18,18).
sacramento reconcilia-nos com a Igreja. O pecado
da graça de Deus, a qual faz com que os nossos cora- abala ou rompe a comunhão fraterna. O sacramento
ções se voltem para Ele” (Catecismo, n. 1431). Esta c. Santa Terezinha do Menino Jesus di-
da Penitência repara-a ou restaura-a. Nesse sentido,
disposição de voltar-se para Deus constitui o ele- zia: “Os nossos pecados por mais feios
não se limita apenas a curar aquele que é restabele-
mento fundamental da preparação para a confissão. e numerosos que sejam, desaparecem
cido na comunhão eclesial, mas também exerce um
efeito vivificante sobre a vida da Igreja que sofreu diante da bondade de Deus, como uma
Após o exame de consciência devemos confes-
sar os nossos pecados a um sacerdote. Inicie dizen- com o pecado de um dos seus membros” (Catecis- gotinha de água no oceano imenso.”
do o tempo transcorrido desde a última confissão. mo, 1469).
Acuse (diga) seus pecados com clareza, primeiro
os mais graves, depois os mais leves. Fale resumi-
damente, mas sem omitir o necessário. Devemos
confessar os nossos pecados e não os dos outros.
3. Conclusão
Porém, se participamos ou facilitamos de alguma
forma o pecado alheio, também cometemos um pe- O Sacramento da Penitência é um meio extra-
cado e devemos confessá-lo. ordinariamente eficaz para progredir no caminho
da perfeição. Com efeito, além de nos dar a graça
Passos para confessar-se: “medicinal” própria do sacramento, faz-nos exerci-
a. Exame de consciência: Lembrar os peca- tar as virtudes fundamentais de nossa vida cristã.
dos cometidos. A humildade acima de tudo, que é a base de todo o
edifício espiritual, depois a fé em Jesus Salvador e
b. Arrependimento: Ter pena e verdadeira
em seus méritos infinitos, a esperança do perdão e
dor de ter ofendido a Deus e detestar o peca-
da vida eterna, o amor para Deus e para o próximo,
do.
a abertura de nosso coração à reconciliação com
c. Propósito: Desejar e prometer não pecar quem nos ofendeu. Enfim, a sinceridade, a separa-
mais. ção do pecado e o desejo sincero de progredir es-
d. Confissão: Contar todos os pecados (mor- piritualmente.
tais, obrigatoriamente; os veniais, facultativa- Quem tem dificuldades para confessar-se deve
mente) ao padre, para ele, em nome de Deus, considerar que o sacramento da Penitência é um
nos perdoar. dom maravilhoso que o Senhor nos deu. No “tribu-
e. Rezar o ato de contrição: (ex: Oh Jesus, nal” da Penitência o culpado jamais é condenado,
meu bom Jesus! Perdão, porque pequei. Eu não mas sempre absolvido. Pois quem se confessa não
quero mais pecar. Amém!) se encontra com um simples homem, mas com Je-
sus, o qual, presente em seu ministro, como fez um
f. Satisfação: Executar a penitência que o pa-
tempo com o leproso do Evangelho (Mc 1, 40ss.)
dre impuser.

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

Práticas Espirituais
Parte V

V. LECTIO DIVINA

1. Introdução 2. Desenvolvimento
“Encontramos Jesus na Sagrada Escritura, lida 2.1. O que é a Lectio Divina
na Igreja. A Sagrada Escritura, “Palavra de Deus
escrita por inspiração do Espírito Santo”, é, com a A “Lectio Divina” é uma expressão latina já
Tradição, fonte de vida para a Igreja e alma de sua presente e consagrada no vocabulário católico, que
ação evangelizadora. Desconhecer a Escritura é pode ser traduzida como “Leitura Divina”, “Leitura
desconhecer Jesus Cristo e renunciar a anunciá Espiritual”, ou ainda como ocorre hoje em nosso País
-lo.” (Documento de Aparecida, n. 247). e em vários escritos atuais, como “Leitura Orante da
Aqui está a chave para tomarmos a Palavra de Bíblia”. Ela é um alimento necessário para a nossa
Deus como fonte de inspiração para as nossas vidas. vida espiritual. A partir deste exercício, conscientes
Para o Povo de Deus, a Bíblia é lugar privilegiado no do plano de Deus e a Sua vontade, pode-se produ-
qual encontra-se a sua história e experiência pes- zir os frutos espirituais necessários para a salvação.
soal com Deus. Este conjunto de Livros modificou A Lectio Divina é deixar-se envolver pelo plano da
a estrutura da história humana, tamanha é a pro- Salvação de Deus.
fundidade e o irresistível conteúdo contido nestas Os princípios da Lectio Divina foram expressos
sagradas páginas. por volta do ano 220 e praticados por monges cató-
Deus deseja revelar a importância da medita- licos, especialmente as regras monásticas dos san-
ção na Sua Palavra dentro da caminhada cristã. Uma tos: Pacômio, Agostinho, Basílio e Bento. O tempo
simples leitura rápida não permite que o Espírito diário dedicado à lectio divina sempre foi grande e
Santo gere e produza em nós tudo aquilo que a Pa- no melhor momento do dia. A espiritualidade mo-
lavra de Deus pode e deseja gerar e produzir. O pri- nástica sempre foi bíblica e litúrgica. A sistemati-
meiro processo que Deus usa para que a Sua Palavra zação do método da lectio divina nós encontramos
cumpra o Seu propósito em nós é a meditação. nos escritos de Guigo, o Cartucho, por volta do sé-
culo XII.
Neste sentido, a Lectio Divina nos ajuda com
passos definidos a guardar a Palavra e a colocá-la O Concílio Vaticano II, em sua Constituição
em nossas vidas, a fim de sustentar um relaciona- Dogmática Dei Verbum n.º 25, ratificou e promoveu
mento pessoal com Deus vivo e com sua vontade com todo o peso de sua autoridade, a restauração
salvífica e santificadora. Por meio da Lectio Divina, da Lectio Divina, que teve um período de esqueci-
a Palavra de Deus pode ser transferida para a vida, mento por vários séculos na Igreja. O Concílio exor-
iluminando-a com a sabedoria do Espírito Santo. ta igualmente, com ardor e insistência, a todos os fi-
éis cristãos, especialmente aos religiosos, que, pela
Vossa palavra constitui minha alegria e as delí-
frequente leitura das divinas Escrituras, alcancem
cias do meu coração, porque trago o vosso nome, ó
esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo
Senhor, Deus dos exércitos! (Jr. 15,16)
(Fl 3,8). Porquanto “ignorar as Escrituras é ignorar
Cristo” (São Jerônimo).
A Lectio Divina é normalmente realizada indi-
vidualmente, relembrando a mais antiga das tradi-
ções católicas, de que conhecer a Sagrada Escritura
é conhecer o próprio Cristo. A leitura orante deve

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

ser realizada de modo que cada pessoa se adapte, tivo de estudá-la, etc. Aqui você se coloca como o (cf. Jo 3,1-21), a Samaritana e seu desejo de culto
se sinta bem e consiga meditar e entender a Palavra. Discípulo atento à Palavra do Senhor. verdadeiro (cf. Jo 4,1-12), o cego de nascimento e
Porém podemos seguir alguns passos de rea- Responda então a essa Palavra com Amor, agra- seu desejo de luz interior (cf. Jo 9), Zaqueu e sua
lização: decimento, etc. O Espírito Santo mesmo lhe guiará vontade de ser diferente (cf. Lc 19,1-10)... Todos
nessa oração. Muitas vezes é aquilo que estamos eles, graças a este encontro, foram iluminados e re-
1° Oração antes da leitura: Devemos invocar criados porque se abriram à experiência da miseri-
o Espírito Santo para que Ele possa orientar precisando ouvir mesmo.
córdia do Pai que se oferece por sua Palavra de ver-
nossa leitura. 2º. Por uns 30 minutos pelo menos, escute o dade e vida. Não abriram seu coração para algo do
2° Ler atentamente o texto sagrado: Escolha Senhor falando com você através do texto. Respon- Messias, mas ao próprio Messias, caminho de cres-
uma passagem e leia com calma e atenção. Se da a essa Fala com amor, no silêncio de seu coração. cimento na ‘maturidade conforme a sua plenitude’
necessário, releia quantas vezes for preciso. Quando sentir que não tem mais nada a dizer, fique (Ef 4,13), processo de discipulado, de comunhão
Leia tentando identificar os acontecimentos, uns instantes em adoração silenciosa. Termine com com os irmãos e de compromisso com a sociedade.”
personagens envolvidos... Como se estivesse um Pai Nosso ou Ave Maria. (DA 249).
presente na cena. Pratique uma vez por dia, se possível. Em breve
você verá maravilhas em sua vida!
3° Meditar a Palavra: É o momento de perce-
ber e internalizar a mensagem que o texto traz Ao final, agradeça a Ele pelas luzes e graças re-
3. Conclusão
para o seu dia a dia. Não é simplesmente “es- cebidas.
tudar” a palavra. É senti-la. Procurando esta- A Bíblia deve ter um lugar de destaque em nos- Para refletir
belecer relações do que está escrito na Bíblia, 2.3. Os efeitos desta prática espiritual. sa vida, portanto, o ideal é que seja lida diariamen-
com aquilo que você vive. te e principalmente que todos os cristãos a leiam e a. Quanto tempo temos disponibilizado
4° Fazer do texto uma oração: Ao fazer o pro- A Lectio Divina é um alimento necessário para tenham por ela apreço e respeito. Com isso teremos
para meditar a Palavra de Deus?
cesso de meditação, naturalmente, algo nos a nossa vida espiritual. A partir desta oração, cons- cristãos mais apaixonados e conscientes do valor da
toca. Seja para pedir perdão, interceder, agra- cientes do plano de Deus e sua vontade, podemos Sagrada Escritura. Lutemos por dedicar um tempo b. Que atenção damos à Palavra de
decer, louvar, pedir seus dons... É falar aquilo produzir os frutos espirituais em nossa vida. É dei- para a leitura da Bíblia no nosso dia-a-dia, a fim de Deus no nosso grupo de oração?
que passa no seu coração pra Deus. É ter uma xar-se envolver pelo plano amoroso e libertador de que ela seja lembrada o ano todo e não apenas em
conversa com Ele. Deus. Santa Teresinha do Menino Jesus dizia, em Setembro durante o mês da Bíblia. c. A Palavra de Deus tem inspirado a mi-
seu período de aridez espiritual, que quando os li- nha vida pessoal e meu testemunho nos
5° Contemplação da Palavra: Momento de Diz São Jerônimo: “A carne do Senhor é verda-
vros espirituais não lhe diziam mais nada, ela bus- lugares onde frequento (família, trabalho,
permanecer em silencio diante de Deus, dei- deira comida e o seu sangue verdadeira
cava no Evangelho o alimento da sua alma.
xando-O agir, falar, curar... É um momento que bebida; é esse o verdadeiro bem que nos é re- escola, faculdade, Igreja, etc)?
você não terá controle nenhum! Deixe Deus Por meio desta prática espiritual, a Palavra
servado na vida presente: alimentarmo-nos da sua
agir. pode ser transferida para a vida, iluminando-a com d. Faça a Lectio Divina de Naum 2,1-2
carne e beber o seu sangue, não só na Eucaristia,
a sabedoria do Espírito Santo. É exatamente aí que utilizado todos os passos que aprende-
6° Colocar a Palavra em pratica: A hora de mas também na leitura da Sagrada Escritura.
a Palavra de Deus entra, modificando tudo em nós mos nesta formação. Conclua com o Sal-
gerar frutos, colocar a palavra no dia a dia... A Palavra de Deus ilumina a nossa vida e está
que não está conforme a vontade do Senhor. A prá- mo 94.
Pedindo perdão, mudando alguma atitude... presente na comunidade reunida em
tica da Lectio Divina nos faz encarnar a Palavra de
Fazendo aquilo que Deus tocou no seu coração
maneira que a deixamos penetrar as profundezas diversas ações: catequese, liturgia e grupo de
a realizar.
de nossa alma, de nossa existência, santificando- oração, nos sacramentos, nos cursos e encontros de
Para finalizar sua Lectio Divina, faça uma ora- nos e purificando-nos de todas as nossas manchas. formação, etc. Afastar-se dela é perder um impor-
ção vinda do coração, espontânea... Lembre-se sem- tante alimento para a nossa vida interior e de cres-
“Porque a palavra de Deus é viva, eficaz, mais
pre de orar o “Pai nosso”. cimento na escola da fé.
penetrante do que uma espada de dois gumes e
É importante lembrar que a leitura orante deve atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e O discípulo missionário do século XXI precisa
ser um processo vindo do coração... Não se prenda a medulas, e discerne os pensamentos e intenções do estar fundamentado nas Sagradas Escrituras, sua
passos, faça aquilo que o Espírito Santo falar. coração. Nenhuma criatura lhe é invisível. Tudo é nu missão vai ser proclamar àquilo que lê, crê e ce-
e descoberto aos olhos daquele a quem havemos lebra a partir do seu encontro pessoal com Jesus
2.2. Praticando a Lectio Divina: de prestar contas”. (Hb 4, 12-13) Cristo. O anúncio do Evangelho atinge o coração do
Ele mesmo, o Verbo, a Palavra, fará com que se- ser humano quando nos abrimos à experiência do
1º. Tome o Texto Sagrado com reverência e in- jamos guardados de toda mancha. Não existe outra amor de Deus e da misericórdia contida na Palavra
voque o Espírito Santo. Pode-se escolher as leituras maneira de sermos santificados senão pela ação da de Deus.
da Missa do dia, se quiser. Nas Livrarias católicas Palavra em nossas vidas. Se nossa experiência com Deus não parte da
existem livrinhos com essas leituras. Leia o Texto,
“Esta leitura orante, bem praticada, conduz ao Sagrada Escritura perdemos uma fonte sagrada que
de preferência umas três vezes, devagarzinho, sa-
encontro com Jesus-Mestre, ao conhecimento do nos leva a Santidade, além é claro, de dirigirmos
boreando cada palavra.
mistério de Jesus-Messias, à comunhão com Jesus- nossa vida pela nossa vontade humana e não pela
Quando se sentir atraído por determinada pa- Filho de Deus e ao testemunho de Jesus- Senhor vontade divina.
lavra, pare, não reflita sobre a palavra, mas mante- do universo. Com seus quatro momentos (leitura,
nha uma posição de escuta. Atento ao que o Senhor meditação, oração, contemplação), a leitura oran-
lhe quiser falar. te favorece o encontro pessoal com Jesus Cristo
Não se trata aqui de refletir sobre a Palavra de semelhante ao modo de tantos personagens do
Deus. Isso poderá ser feito outra hora, com o obje- evangelho: Nicodemos e sua ânsia de vida eterna

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Práticas Espirituais
Parte VI

VI. JEJUM

1. Introdução possibilidades de nosso tempo, dos diversos países


e da condição dos fiéis (...). Tenha-se como sagrado
o jejum pascal que há de celebrar-se em todos os
A Igreja reconhece o valor e o significado lugares na Sexta-feira da Paixão e Morte do Senhor
profundo do jejum para a espiritualidade cristã. O e ainda estender-se segundo as circunstancias, ao
quinto mandamento da Igreja nos orienta a “Jejuar Sábado Santo, para que deste modo cheguemos à
e abster-se de carne, conforme manda a Santa Mãe alegria do Domingo da Ressurreição com ânimo ele-
Igreja” (Catecismo, 2043). vado e grande entusiasmo” (Sacrosanctum Conci-
lium, n. 110).
Entre os chamados Padres da Igreja, os pri-
meiros teólogos das origens cristãs, Santo Agos- Para o Papa Bento XVI, “jejuar significa aceitar
tinho reconhece o valor espiritual e moral do jejum: um aspecto essencial da vida cristã. É necessário re-
“a abstinência purifica a alma, eleva a mente, subor- descobrir também o aspecto corporal da fé, a absti-
dina a carne ao espírito, cria um coração humilde e nência do alimento é um desses aspectos” (Joseph
contrito, espalha as nuvens da concupiscência, ex- Ratzinger, no livro A Fé em crise?).
tingue o fogo da luxúria e acende a verdadeira luz
da castidade” (Sermão sobre a oração e o jejum).
2. Desenvolvimento
Em nosso tempo, a Igreja ainda recomenda a
prática do jejum. O jejum é citado no Catecismo
da Igreja Católica em 9 parágrafos específicos. Os 2.1 O que é o Jejum?
parágrafos são: 575, 1387, 1430, 1434, 1438, 1755,
1969, 2043 e 2742. Síntese desse ensinamento é Jejum é uma palavra usada para definir o ato
a mensagem de que os gestos exteriores (saco e de alguém optar por diminuir sua dieta alimentí-
cinzas, jejuns e mortificações) não devem ser cia o mais próximo do zero, idealmente atingindo
vazios, mas devem ser acompanhados da conver- o zero, por um período de tempo, geralmente pré-
são do coração ou da penitência interior: é por essa determinado. Jejum é disciplina. É uma forma de
razão que o jejum é associado ao Sacramento da Re- domínio próprio, de autocontrole e de temperança.
conciliação. Jejuar é vacinar-se ou medicar-se contra a gula. É
Além do jejum, a oração e a esmola aparecem domar espiritualmente os nossos apetites pecami-
como as principais formas de expressão da peni- nosos e caminhar na direção do contentamento e
tência interior. Assim, o jejum, a oração e a esmola da generosidade. O jejum é um recurso espiritual
representam a conversão em relação a si mesmo, a através do qual lutamos contra a gula, mortificamos
Deus e aos outros (Catecismo, 1434). Como afirmou a nossa carne e dominamos o nosso desejo. Jejuar é
o Papa Bento XVI, na homilia da celebração da Quar- pregar na cruz de Jesus os nossos apetites doentios
ta-Feira de Cinzas de 2012, “em relação harmoniosa oferecendo nossas vidas a Deus como oferta agra-
com a oração, também o jejum e a esmola podem dável. Jejuamos para nos esvaziarmos de nós mes-
ser considerados lugares de aprendizagem e prática mos e nos enchermos de Deus.
da esperança cristã”. Na Bíblia encontramos diversas passagens que
O Concílio Vaticano II assim nos ensina: “A pe- revelam a prática do jejum associada à vida espiritu-
nitência do tempo quaresmal não deve ser somente al. Eis apenas alguns exemplos: Lv 16,29; Nm 29,7;
interna e individual, mas também externa e social. 1Rs 21,9; Esd 8,21; Tb 12,8; Jl 1,14, 2Sm 12,16. No
Fomente-se a prática penitencial de acordo com as livro do Gênesis pode-se encontrar uma primeira

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

referência ao jejum, ainda que indireta, na ordem de b) Mental e psicológica: 2.3 Como praticar o Jejum? a pessoa se priva voluntariamente de alguma coi-
Deus: “Podes comer do fruto de todas as árvores, do • Mantém a mente descansada, mais aberta sa, oferecendo essa prática como sacrifício está se
jardim, mas não comas do fruto da árvore da ciência e sensível às coisas espirituais, atividades e à mortificando. As mortificações são práticas válidas
O jejum deve estar associado a uma visão
do bem do mal, porque no dia em que dele comeres, criatividade intelectual em diversas áreas; e agradam ao Senhor, além de proporcionarem a
positiva da vida espiritual, o que impede que seja
morrerás indubitavelmente” (Gn 2, 16-17). autodisciplina e o autodomínio. “Ai de vós, douto-
• Aumenta a estabilidade mental e psicoló- compreendido como uma pena ou sacrifício ruim.
Na cultura judaica, o jejum era cumprido rigo- res da lei, que tomastes a chave da ciência, e vós
gica através do domínio das emoções, torna Deve, portanto, expressar a alegria, a fé e a esperan-
rosamente, o que é atestado pelos constantes de- mesmos não entrastes e impedistes aos que vinham
o corpo leve, ativo e incansável (a história de- ça. É Jesus mesmo quem nos ensina a esse respeito:
sencontros de Jesus com os fariseus a respeito do para entrar.” (Luc 11,52)
monstra que os filósofos pagãos, na Grécia an- “Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como
tema (Mc 2,18; Lc 5,33). tiga, para um melhor desempenho intelectual, os hipócritas, que mostram um semblante abatido Algumas advertências
Jesus jejuou durante quarenta dias e quaren- jejuavam espontaneamente antes de entra- para manifestar aos homens que jejuam. (...) Quan- a) Algumas pessoas não podem, de forma al-
ta noites, depois do seu batismo (Mt 4,2). O jejum rem em debates públicos). do jejuares, perfuma a tua cabeça e lava teu rosto guma, praticar o jejum, por razões de nature-
de Jesus precede o início da pregação de Jesus (Mt Assim não parecerá aos homens que jejuas, mas so- za física. Irmãos e irmãs que tenham doenças
4,17), a escolha dos primeiros discípulos (Mt 4, 18- c) Moral e religiosa: mente a teu Pai, que vê no segredo” (Mt 6,16-18). como o diabetes, pressão arterial alterada, do-
22), as primeiras curas (Mt 4,23-25) e o sermão so- • Supera as dependências e apegos às coisas Todos podem fazer jejum. Sejam idosos ou es- enças cardíacas, úlceras, câncer, hemopatias,
bre as bem-aventuranças (Mt 5,1-12). materiais supérfluas e amplia a consciência do tejam cansados ou doentes; sejam gestantes, mães doenças pulmonares ativas, gota, doenças do
O jejum é necessário para o apostolado. Au- ser; que amamentam, jovens ou adultos. Todos podem fígado e dos rins, enfarto recente, doenças
menta nossa intimidade com Deus Pai e potencia- jejuar sem que isso lhe faça mal, mas, pelo contrá- cerebrais, gravidez ou idade avançada sem a
• Fortalece a vontade, renova a força moral e
liza nossa oração (Mt 17,14-20; Mc 9,29). Com rio, lhes faça bem. prática constante do jejum durante a vida. Em
consolida os verdadeiros valores e a fé;
efeito, Jesus declarou certa ocasião: ”Quanto a suma: Não devemos jejuar sem a aprovação
Muitas pessoas não jejuam, porque não sabem
• Estimula a partilha com generosidade e médica ou sob tratamento médico.
esta espécie de demônio, só se pode expulsar à for- fazê-lo. Imaginam que jejuar seja uma coisa muito
abre o nosso coração à caridade, oferecendo
ça de oração e de jejum”. O Livro de Atos registra difícil e dolorosa que elas não vão conseguir fazer. b) A volta da alimentação normal, depois de
aos necessitados, os que sofrem, aquilo que
os crentes jejuando antes de tomarem importantes jejuarmos, deve ser feita através de pequenas
vem a sobrar em nossas despensas: “Boa coisa Abordamos aqui o aspecto prático do jejum.
decisões (Atos13:4; 14:23). São Paulo dá um senti- porções de alimento. Após jejuns médios e
é a oração acompanhada de jejum, e a esmola Existem várias modalidades de jejum, trataremos,
do mais amplo ao jejum, inserindo-o nas práticas longos, é aconselhável:
é preferível aos tesouros de ouro escondidos” no entanto, somente de quatro tipos que poderão
que nos ajudam a viver segundo o Espírito e não • Não adicionar sal aos alimentos, pois o pa-
(Tb12,8) ser de grande proveito para você.
apenas segundo a carne: “Portanto irmãos, não so- ladar será mais sensível, preferindo alimentos
mos devedores da carne, para que vivamos segundo • Traz o domínio sobre a presunção, a indo- a) Jejum da Igreja: pode ser praticado por simples, integrais e naturais;
a carne. De fato, se viverdes segundo a carne, haveis lência espiritual e moral e intensifica a genuí- toda igreja, inclusive doentes e idosos, pois se
de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as na piedade. baseia em 03 refeições - café da manhã, uma • Continuar a beber muita água – um litro ou
obras da carne, vivereis, pois todos os que são con- refeição completa e um lanche. Neste jejum mais por dia;
duzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” d) Vida de fé: são evitadas balas, doces, chocolates, biscoi- • Comer devagar utilizando a mastigação por
(Rm 8, 13-14). • Prepara para uma intensa participação nos tos, refrigerantes, bebidas alcoólicas e os ca- mais tempo.
mistérios da Fé, nos Sacramentos, em particu- fezinhos.
c) O jejum não é uma forma de “pressionar”
2.2 Efeitos desta prática espiritual lar da Penitência ou Confissão e da Eucaristia. b) Jejum a Pão e Água: consiste em comer Deus, nem de obrigá-lo a nos abençoar.
pão quando se tem fome e beber água quando
Os benefícios do jejum vão além da vida espi- E produz: se tem sede e nunca comer pão e beber água
ritual. Eles cobrem muitos aspectos da vida huma-
• Maior qualidade de vida interior, vida na
ao mesmo tempo, porque esta mistura geral- 3. Conclusão
na. Além do domínio dos vícios, o jejum enobrece mente gera dores de cabeça.
graça e união íntima, real, natural, pessoal e
a mente, auxilia alcançar as virtudes da sabedoria,
constante com Deus; c) Jejum a base de líquidos: neste tipo de je- O jejum não deve ser praticado em demasia e
da prudência e temperança, promove o bem-estar, jum a alimentação é líquida. Exemplo: sucos
• Docilidade e abertura às inspirações do Es- exagero, pois isso causa prejuízo ao corpo, consti-
recupera as perdas espirituais e nos prepara para a de frutas e de legumes (não é vitamina),chá,
pírito Santo; tuindo-se nesse caso um mal e não um bem. É pre-
batalha do dia-a-dia da fé; por isto é eficaz em qua- água de coco, soro caseiro, caldo (não é canja, ciso bom senso e equilíbrio. No Código de Direito
tro áreas fundamentais. • Maior silêncio, busca da meditação, con- nem sopa). Canônico, a Igreja nos ensina que “os dias e tempos
a) Alimentar e física: fiança e disposição para a adoração; penitenciais, em toda a Igreja, são todas as sextas-
d) Jejum Completo: é indicado para aqueles
• Maior disponibilidade para servir, para a que através de treino e disciplina já passa- feiras do ano e o tempo da quaresma” (Cân. 1250). E
• Disciplina a forma desordenada e irregular
missão e para o próximo; ram pelos outros tipos. A pessoa deve ingerir ainda: “Observe-se a abstinência de carne ou de ou-
de comer e o mau hábito de beliscar entre as
apenas água, ou seja, não pode comer/beber tro alimento, segundo as prescrições da conferência
refeições, fumar, tomar café, chás, doces lan- • Libertação a partir da renúncia à gula, luxú-
nenhum tipo de alimento sólido ou líquido. O dos Bispos, em todas as sextas-feiras do ano, a não
ches e refrigerantes, a todo instante; ria, preguiça e demais pecados capitais;
fundamental é ingerir água várias vezes ao dia. ser que coincidam com algum dia enumerado entre
• Elimina o reprovável desperdício e ensina • É uma poderosa arma contra as tentações as solenidades; observem-se a abstinência e o jejum
a conhecer o valor nutritivo dos alimentos Importante: nenhum jejum exclui o café da na quarta-feira de Cinzas e na sexta-feira da Paixão
do Inimigo; manhã, este deve ser tomado como de costume, se
vegetais e animais e a importância dos produ- e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Can. 1251).
tos naturais, orgânicos; • Portanto não deve ser visto como um dever, você não possui este hábito um copo de água morna
mas um direito que nos abre à Graça. pela manhã é o bastante para evitar dores de estô- Há também a orientação da Igreja para o jejum
• Torna o corpo mais saudável através do mago, irritabilidade e dor de cabeça. que prepara a participação na Eucaristia: “Quem
bom funcionamento do sistema digestivo e (Livro Alegra-te quando jejuares de Lício Ne- vai receber a Santíssima Eucaristia abstenha-se de
pomuceno, Editora Rccbrasil) Esclarecimento: Deixar de consumir doces, qualquer comida ou bebida, excetuando- se somen-
possibilita aumento a expectativa de vida.
sorvete, bebida alcoólica, chocolate ou ainda deixar te água e remédio no espaço de ao menos uma hora
de ver televisão não caracterizam jejum. Quando antes da sagrada comunhão” (Can. 919).

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

Conforme o ensinamento da Igreja, no Códi-


go de Direito Canônico, “todos os fiéis, cada qual
a seu modo, estão obrigados por lei divina a fazer
penitência; mas, para que todos estejam unidos CAPÍTULO 2
mediante certa observância comum da penitência,
são prescritos dias penitenciais, em que os fiéis se
dediquem de modo especial à oração, façam obras
de piedade e caridade, renunciem a si mesmos,
A Importância do perdão para o ser
cumprindo ainda mais fielmente as próprias obri-
gações e observando principalmente o jejum e a humano
abstinência, de acordo com os cânones seguintes”
(Can. 1249).
A Igreja também ensina que “estão obrigados à
lei da abstinência aqueles que tiverem completado 1. INTRODUÇÃO
catorze anos de idade; estão obrigados à lei do je-
jum todos os maiores de idade até os sessenta anos des queixa contra outrem. Como o Senhor
começados. Todavia, os pastores de almas e os pais vos perdoou, assim perdoai também vós”
cuidem que sejam formados para o genuíno sentido Perdoar é uma ordem de Deus para que seja- (Col. 3,13);
da penitência também os que não estão obrigados mos felizes, para que nosso coração esteja verda-
à lei do jejum e da abstinência em razão da pouca deiramente livre para o amor, livre para Deus. A fe- • “Finalmente, tende todos um só cora-
idade” (Can. 1252). licidade do cristão está em amar. E a ação de amar ção e uma só alma, sentimentos de amor
exige de nós, imediatamente, outra atitude concre- fraterno, de misericórdia, de humildade.
ta: perdoar. Um coração cheio de amor está sempre Não pagueis mal com mal, nem injúria
disposto a perdoar. O amor cristão, longe de ser coi- com injúria. Ao contrário, abençoai, pois
sa humana, é algo sobrenatural, um poder invencí- para isto fostes chamados, para que se-
vel, algo a que não se consegue resistir, é o amor do jais herdeiros da bênção” (I Pd. 3,8-9).
próprio Deus derramado em nossos corações pelo Jesus nos manda amarmos como Ele próprio
Espírito Santo que nos foi dado. A marca do cristão amou.
é o amor. É pelo amor que somos distinguidos no
3.1 Para refletir O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que
mundo secular. Trata-se de um amor que se doa por
inteiro ao outro, um amor perene (que brota sem “durante sua vida pública, Jesus não só perdoou os
cessar), amor gratuito (que não espera retorno) e pecados, mas também manifestou o efeito desse
O jejum era uma prática comum en- perdão: reintegrou os pecadores perdoados na co-
tre os grandes servos do Senhor, pois sa- efetivo (concreto, constante, incondicional), amor
que tudo supera, que procura compreender além munidade do povo de Deus, da qual o pecado os ha-
biam que era uma forma de reabastecer- via afastado ou até excluído. Um sinal evidente dis-
daquilo que se apresenta, que tudo perdoa. É esse
se, de renovar as forças para enfrentar as so é o fato de Jesus admitir os pecadores à sua mesa
o padrão de amor a que somos chamados por Jesus.
difíceis batalhas que tinham pela frente e, mais ainda, de Ele mesmo sentar-se à mesa deles,
em seus ministérios e até mesmo na vida gesto que exprime de modo estupendo ao mesmo
cotidiana. 2. DESENVOLVIMENTO tempo o perdão de Deus e o regresso ao seio do
povo de Deus” (Catec. 1443). Duas palavras-chave
Nesta semana procure meditar com ecoam deste trecho: Jesus perdoou e reintegrou,
a Palavra de Deus sobre o jejum: A Palavra de Deus está repleta de ensinamen- isto é, concedeu seu perdão e os acolheu com amor.
Mt 4,1-11 tos acerca da necessidade de perdoar sempre, não Uma das passagens do Evangelho que mais
como um mérito humano, mas à luz de Deus, que nos levam a refletir sobre o perdão é: “E Jesus di-
Mt 17,14-20
deu Seu perdão por Cristo a cada um de nós de ma- zia: Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fa-
At 13,1-5 neira pessoal. Podemos aqui citar textos bíblicos zem” (cf. Lc. 23,34a). Jesus exclamou isso do alto
como: da Cruz, ou seja, no ápice de sua dor moral e física,
• “Então Pedro se aproximou dele e dis- de seu sofrimento. Em meio a toda a humilhação,
se: Senhor, quantas vezes devo perdoar a todo o descaso, desprezo, desamor, às palavras
a meu irmão, quando ele pecar contra duras, ao deboche, à traição, à agressão, ainda aí o
mim? Até sete vezes? Respondeu Jesus: amor atuante falou mais alto em forma de perdão. A
Não te digo até sete vezes, mas até seten- “opção” (atitude) de Jesus foi nos comunicar o per-
ta vezes sete” (Mt. 18, 21-22); dão. E que poder conteve esta “opção”!!! O perdão
de Jesus fez os infernos tremerem, aquilo que era
• “Antes, sede uns com os outros bondo- maldição foi substituído por bênção recaindo sobre
sos e compassivos. Perdoai-vos uns aos toda a humanidade, aquele gesto confundiu Sata-
outros, como também Deus vos perdoou nás. Também nós somos chamados a fazermos esta
em Cristo” (Ef 4,32); “opção” poderosa pelo perdão a todos aqueles que
• “Suportai-vos uns aos outros e perdo- nos ofenderam ou que continuam a nos ofender, por
ai-vos mutuamente, toda vez que tiver- pior ou maior que seja a ofensa. Deus sempre per-

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

doa nossas faltas e pecados e pede que façamos o vou esquecer, vou guardar para sempre essa lição, dos serão perdoados. Se um homem alimentar
mesmo ao próximo. Diante do exemplo que Jesus vou ficar de pé atrás com ele(a)...”, esse não é o a cólera contra outro, como poderá pedir ao
nos deixou, podemos afirmar que perdoar é sempre perdão verdadeiro porque o verdadeiro perdão vai Senhor a cura?”
possível, com a ajuda Dele. apagando gradativamente de nossa memória o mal Uma proposta de reflexão para o Perdão em fa-
Deus nos quer felizes, mas quando estamos que nos foi feito, não como que numa Amnésia, mas mília (Reconciliação, restabelecimento da paz entre
com falta de perdão, sentimo-nos abatidos, tristes, pela graça de Deus ante a decisão de amar-perdoar. as partes, conciliar coisas opostas):
feridos, magoados, muitas vezes incapazes até mes- Na oração do Pai-Nosso fazemos um compro- – Ore para recuperar a paz;
mo de orar. Para sair desta situação, para sermos misso com Deus Pai para podermos ser atendidos
curados e libertos, precisamos tomar a decisão de por Ele: “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim – Analise com franqueza os motivos de discórdia;
perdoar com a ajuda de Jesus a todos os irmãos que como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. E – Converse com amor, nunca com raiva;
nos ofenderam, maltrataram, magoaram, agrediram, no mesmo capítulo lemos: “Com efeito, se perdo- – Considere as qualidades do outro;
desrespeitaram, etc. ardes aos homens as suas faltas, vosso Pai celeste
também vos perdoará; mas, se não perdoardes aos – Perdoe como decisão, nunca como condição;
Perdoar é uma decisão livre tomada por uma
pessoa. Por pior que seja a ofensa, por mais dolo- homens, também vosso Pai não vos perdoará vossa – Trate os outros com consideração em vista da
rosa que seja a ferida causada, por mais incompre- faltas” (Mt 6,14-15). sua dignidade de filho(a) de Deus;
ensível que seja a atitude do ofensor, podemos e Vejamos os três níveis de perdão (reconciliação): – Recuse-se a reter mágoas e ressentimentos;
devemos decidir perdoar sempre. Assim como eu • Reconciliar-se com Deus – Quando passa- – Peça ao Espírito Santo que lhe inspire atitu-
decido não falar mais com alguém, posso igualmen- mos por períodos difíceis de nossa vidas, perda des de gentileza, pequenos gestos de cortesia, pois
PROPOSTAS DE DINÂMICA
te decidir perdoá-lo. Assim como eu decido despre- de pessoas muito queridas, acidentes sérios, ninguém resiste ao amor. Brigas constantes esva- a. Dinâmica: A passagem de Mateus
zar alguém, posso decidir também perdoá-lo. Assim perda inesperada de emprego, roubos, doen- ziam o amor. O que nos incomoda no outro nunca 18, 21-22 nos ensina a perdoar sempre.
como eu decido me vingar de uma pessoa, posso ças graves na família, muitas pessoas pergun- é mais do que 20%. Não nos prendamos aí, mas es-
decidir, igualmente, perdoá-la. Verdadeiramente, Faça um momento de silêncio para medi-
tam: Será que Deus está me castigando? Por forcemo-nos para apreciar os 80% restantes.
este é um desafio, mas quem o supera – com Jesus que Deus permitiu que acontecesse tal desgra- tar: Como eu estou aplicando o perdão às
– bebe de fonte inesgotável de paz, alegria, bem-es- ça? Que mal eu fiz a Deus? As Escrituras nos pessoas mais próximas, da minha convi-
tar, liberdade no Espírito. ensinam que “ninguém, quando for tentado, 3.CONCLUSÃO vência diária? Partilha e oração entre os
Uma vez mais é preciso esclarecer que esta diga: ‘É Deus quem me tenta’. Deus é inacessí- membros do grupo.
decisão não configura uma força meramente huma- vel ao mal e não tenta a ninguém” (Tg 1,13). O
na, um poder mental, uma disposição alheia a Deus. sofrimento pode ser encarado de duas manei- O Salmo 33,15 nos propõe: “Afasta-te do mal e b. Dinâmica: ler o texto de Cl 3,13
Não! Ao contrário, é algo sobrenatural; Jesus mes- ras: 1) De modo errado encarando-o como cas- faze o bem; busca a paz e vai ao seu encalço.” Ir ao “Suportai-vos uns aos outros, e se alguém
mo nos ajuda nesse desafio, Jesus mesmo trabalha tigo vindo do céu e gerando mágoa de Deus; 2) encalço é o mesmo que buscar com empenho”. tiver algum motivo de queixa contra ou-
na situação, Ele fica entre o ofensor e ofendido, o De modo equilibrado, lembrando do sofrimen- Também em Ef. 4,26.29 temos a seguinte di- tro perdoai-vos mutuamente; assim
próprio Espírito Santo nos capacita e impulsiona a to injusto do Senhor Jesus aceito por amor de reção: “Mesmo em cólera, não pequeis. Não se po- como o Senhor vos perdoou,fazei o mes-
este gesto concreto de amor. Ele cria um clima de nós e para nossa salvação. Ao compreender o nha o sol sobre o vosso ressentimento. Nenhuma mo também vós.” Pedir a presença e ação
amor em nossa vida, em nossas faculdades, mostra- sentido maior desse sacrifício com que Deus palavra má saia da vossa boca, mas só a que para do Espírito Santo nos membros do grupo
nos os benefícios do perdão. No entanto, Deus não pensou e até hoje pensa em nós, ficamos livres a edificação, sempre que for possível, e benfazeja e orar pedindo juntos o dom do perdão,
suprime nosso livre arbítrio; precisamos QUERER da mágoa e nos reconciliamos com Ele. aos que ouvem.” São Paulo mostra que ter raiva não uns para com os outros, para que tudo
PERDOAR!!! Assim, se eu quiser perdoar àquele que • Perdoar a si mesmo – Quando cometemos significa estar em pecado. Não se deve deixar que que separa seja apagado, perdoado.
me ofendeu, àquele que me fez tanto mal, que me faltas, agindo mal, falando o que não deví- ela permaneça por muito tempo.
agrediu, que me tirou algo ou alguém muito caro, amos, nos omitindo, ofendendo os irmãos, Lembremo-nos: O amor pode ser reacendido
Deus mesmo irá favorecer-me com seu poder so- mais tarde percebemos que cometemos erros como uma brasa que aparenta estar apagada.
brenatural e miraculoso. Trata-se de uma realidade que geram consequências. O resultado disso
espiritual: quando me abro ao perdão, libero a bên- Que o Espírito Santo nos confirme na decisão
é que ficamos tristes, nos fechamos, ficamos
ção para mim e para quem me ofendeu. Por outro de perdoar a todas as pessoas que um dia nos ofen-
decepcionados ao perceber como foi possível
lado, quando me fecho ao perdão, torno-me insen- deram, ainda que mortalmente; também àqueles
que tais coisas acontecessem. Acusamo-nos
sível à bênção divina, crio um obstáculo à graça, à que, de alguma forma, nos ofendem constantemen-
e rejeitamo-nos. Quantas vezes não nos de-
paz, à alegria, à liberdade no Espírito. te, porque como nós, são filhas e filhos de Deus, me-
preciamos diante de um espelho ou coisa do
recedores da bênção e do amor fraterno.
Quando somos perdoados por Deus e perdo- gênero? Vemo-nos como que um projeto que
amos porque essa é a ordem dada por Deus, o aba- não deu certo. TEMOS VALOR, O ESPÍRITO SAN-
timento, a tristeza, as mágoas e desavenças cedem TO MORA EM NÓS; SOMOS FILHOS AMADOS DE
lugar à paz, e a alegria retorna ao nosso coração. DEUS! Precisamos nos perdoar. Ao nos reconci-
Conseguiremos perdoar com a ajuda poderosa da liarmos conosco mesmos, recuperamos a har-
graça de Deus. O perdão libera as pessoas da ação monia interior, nos sentimos curados e livres;
do inimigo. nossa autoestima se eleva e passamos a lutar
São João Maria Vianey escreveu que o bom para viver como filhos amados de Deus, sem-
Deus é tão solícito em conceder-nos o perdão pre perdoados por Ele. O perdão é uma chave
quando o pedimos, quanto uma mãe está pronta a vital para sermos pessoas livres.
retirar seu filho do fogo. E ao nos conceder o Seu • Perdoar o próximo – No livro do Eclesiástico
perdão, apaga de sua memória as nossas faltas e 28, 2-3 lemos: “Perdoa a teu próximo a injusti-
pecados. Quando dizemos “Eu perdoei, mas nunca ça cometida; então, quando orares, teus peca-

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

CAPÍTULO 3

A Revelação Pública

1. INTRODUÇÃO

Deus quis Se revelar ao Homem, quis que o modo e professe o mesmo Credo. Chama-se “reve-
Homem O conhecesse para ter intimidade com Ele, lação”, porque nela Deus foi Se dando a conhecer
para ter um relacionamento filial com Ele e experi- progressivamente aos homens, até ao ponto de Ele
mentasse Seu amor. O acesso ao Pai está permanen- mesmo Se tornar homem, para atrair e reunir em Si
temente aberto por Jesus Cristo, no Espírito Santo. próprio o mundo inteiro por meio do Filho encar-
A esse respeito, o Catecismo da Igreja Católica nos nado, Jesus Cristo. Não se trata, portanto, de comu-
diz que “pela razão natural, o homem pode conhe- nicações intelectuais, mas de um processo vital em
cer Deus com certeza, a partir das suas obras. Mas que Deus Se aproxima do homem. Tal processo en-
existe outra ordem de conhecimento, que o homem volve o homem inteiro e, por conseguinte, também
de modo nenhum pode atingir por suas próprias for- a razão, mas não só ela.
ças: a da Revelação divina. Por uma vontade absolu- No que diz respeito às revelações privadas, o
tamente livre, Deus revela-Se e dá-Se ao homem. Catecismo nos ensina que “no decurso dos séculos
E fá-lo revelando o seu mistério, o desígnio bene- tem havido revelações ditas ‘privadas’, algumas das
volente que, desde toda a eternidade, estabeleceu quais foram reconhecidas pela autoridade da Igre-
em Cristo, em favor de todos os homens. Revela ja. Todavia, não pertencem ao depósito da fé. O seu
plenamente o seu desígnio, enviando o seu Filho papel não é ‘aperfeiçoar’ ou ‘completar’ a Revela-
bem-amado, nosso Senhor Jesus Cristo, e o Espírito ção definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais
Santo” (Catec. 50). Em Jesus Cristo, o Pai disse tudo; plenamente, numa determinada época da história.
não há mais nada a ser dito (cf. Catec. 65). A revela- Guiado pelo Magistério da Igreja, o sentir dos fieis
ção, portanto, está consumada em Jesus Cristo. sabe discernir e guardar o que nestas revelações
constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos seus
santos à Igreja. A fé cristã não pode aceitar «reve-
2. DESENVOLVIMENTO lações» que pretendam ultrapassar ou corrigir a
Revelação de que Cristo é a plenitude” (Catec. 67).
Fica claro, portanto, que a Igreja de modo algum
A doutrina da Igreja distingue “revelação pú-
descarta as revelações privadas, como as locuções
blica” de “revelações privadas”, estas últimas reco-
interiores, as visualizações, as Palavras de Profecia,
nhecidas pela Igreja mediante discernimento, não
de Ciência ou de Sabedoria, o pensamento inspira-
podendo contradizer de forma alguma a primeira.
do, ou coisas do gênero, já reconhecidas pelo senso
Entre estas duas realidades existe uma diferença
comum dos fieis, pela canonização de diversos ho-
importante a ser estudada. A revelação pública de-
mens e mulheres místicos e, sobretudo pelo Sagra-
signa a ação reveladora de Deus que se destina à
do Magistério da Igreja ao longo dos tempos. Entre-
humanidade inteira e está expressa harmonicamen-
tanto, nenhuma revelação privada pode pretender
te no todo da Sagrada Escritura, na Sagrada Tradição
aperfeiçoar e muito menos contradizer uma só letra
da Igreja e no Sagrado Magistério. Podemos dizer,
da Revelação Pública.
então, que a totalidade da Revelação Pública ba-
seia-se numa tríade abençoada (que será estudada Como visto, a Revelação Pública baseia-se
nos próximos capítulos) que foi e é a responsável numa tríade abençoada: Sagrada Escritura, Sagrada
pelo desenvolvimento progressivo – mas não con- Tradição e Sagrado Magistério da Igreja. Nossos ir-
traditório – e pela conservação intacta do depósito mãos protestantes não possuem Sagrada Tradição
da fé cristã católica nestes vinte e um séculos da e tampouco Sagrado Magistério. Martinho Lutero, o
Cristandade. Essa tríade assegura ao longo dos sé- Reformador, introduziu o princípio da “Sola Scrip-
culos a unidade integral dos fieis numa só fé, asse- tura” (somente a Escritura), num primeiro momento
gurando que a Igreja ore no mundo inteiro de igual no sentido de que as Escrituras teriam primazia em

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

relação à Tradição, princípio esse que foi ainda mais


restritivo posteriormente, abandonando às inteiras
a Sagrada Tradição. Por esse princípio “a Escritura
interpreta a própria Escritura”. Nossa amada Igreja CAPÍTULO 4
Católica, no entanto, nutre sua fé e sustenta e sua
doutrina nesta tríade. A esse respeito ensina-nos o
Concílio Vaticano II: “Fica claro que a Sagrada Escri-
tura, Sagrada Tradição e Sagrado Magistério da Igre-
Introdução à Sagrada Escritura
ja estão de tal maneira entrelaçados e unidos que Parte I
um perde a sua consistência sem os outros e que,
juntos cada qual a seu modo, sob a ação do Espírito
Porque a palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante que uma espada de dois
Santo, contribuem eficazmente para a salvação das
gumes e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os
almas (Constituição Dogmática Dei Verbum, 10).
pensamentos e intenções do coração. Nenhuma criatura lhe é invisível. Tudo é nu e
Cabe-nos então, definir em poucas linhas o descoberto aos olhos daquele a quem devemos prestar contas.( Heb 4, 12-13).
que vem a ser Sagrada Escritura, Sagrada Tradição
e Sagrado Magistério da Igreja, títulos que serão
abordados de forma bem mais aprofundada nos
próximos capítulos:
• Sagrada Escritura – Palavra de Deus dirigida
ao Homem por inspiração do Espírito Santo e 1. INTRODUÇÃO
escrita, formando o que a Igreja denomina li-
vros canônicos;
• Sagrada Tradição – Depósito do ensina-
mento e do exemplo de Jesus e dos Apóstolos, As reflexões que se seguirão visam dar uma vi-
transmitido de forma oral ou escrita e perpetu- são geral e ampla da Bíblia, Palavra de Deus sempre a Bíblia teve esse formato encadernado que vemos
ado de maneira intacta na Igreja pela sucessão atual e atuante em nossas vidas. É uma oportunida- hoje. Era escrita em pergaminhos, espécie de rolo.
apostólica; de de refletindo sobre a Palavra de Deus, abrir hori-
• Sagrado Magistério – Pela autoridade dada zontes para o amadurecimento da fé. Conhecendo a
Bíblia fica mais fácil viver e crescer na fé, pois: “Tua
2. DESENVOLVIMENTO:
por Jesus à Igreja, cabe a ela a interpretação
autêntica da Palavra de Deus escrita ou oral. palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o
meu caminho” (Sl. 118,105). A Palavra de Deus é A Bíblia possui diversas nomenclaturas como:
alimento eficaz para todo o nosso ser; por ela so- Sagrada Escritura, Bíblia Sagrada, Escrituras, Palavra
3. CONCLUSÃO mos forjados por Cristo-Palavra, crescemos em san- de Deus. São expressões que se referem à mesma
tidade e nos tornamos perfeitos, capacitados para coisa: um conjunto de 73 (setenta e três) livros, es-
toda espécie de boa obra (cf. II Tm. 3,17). critos sob a inspiração do Espírito Santo.
Vamos estudar, portanto, cada um desses pila- A Palavra é o próprio Cristo. Sem Jesus Cristo a
res que constituem a Revelação Divina e sustentam A palavra Bíblia vem do grego bíblos, que sig-
Bíblia não passaria de uma fonte literária interessan- nifica livro. O diminutivo do termo é bíblion, livri-
a nossa fé, tal qual a recebemos de Jesus. Trata- te e instigante, como, aliás, é vista por alguns. Mas
se do precioso depósito da fé a que temos amplo nho, que no plural faz bíblia, livrinhos. O diminutivo
não, ela é a Palavra de Deus plenamente revelada perdeu sua força própria com o passar do tempo, de
acesso, um banquete completo que a nós católicos por Jesus Cristo. Ele é a Revelação por excelência, a
é oferecido gratuitamente. Por que então abrirmos modo que bíblia ficou sendo simplesmente o mes-
Revelação do Pai todo. “Nele (em Cristo) o Pai disse mo que livros ou conjunto de livros. A Bíblia é, pois,
mão desse banquete? Como nos apartar desta ri- tudo. Não haverá outra Palavra além dessa” (Catec.
queza e completude que a Mãe Igreja nos oferece? etimologicamente falando, uma coleção de livros.
n. 65). O Antigo Testamento prepara a vinda de Je- Quem usou pela primeira vez a palavra Bíblia para
É necessário, entretanto, que conheçamos estas ri- sus Cristo e o Novo Testamento contém a Boa-Nova
quezas para que as desfrutemos. se referir às Sagradas Escrituras foi São João Crisós-
trazida por Ele, o legado da Nova e Eterna Aliança. tomo, no séc. IV d.C.
A Bíblia é, portanto, o principal livro do cris- Porém, é muito mais do que isso! A Bíblia é a
tão. Ela é fonte de nossa fé. Ela é para nós como um Palavra de Deus, é o Verbo que existia desde o prin-
coco de casca dura. Esconde e protege uma água cípio e que estava com Deus (“No princípio era o
que mata a sede do romeiro cansado. Romeiros e Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era
peregrinos somos nós. E cansados também! Então Deus” – Jo. 1,1); é o próprio Jesus Cristo, Cristo-Pa-
vamos procurar o facão que quebre a casca deste lavra. É Deus que se revela aos homens. Mais do que
coco. O Livro do Profeta Ezequiel retrata bem que a falar de Deus, é o próprio Deus quem fala através
Palavra de Deus é alimento para o nosso ser: “Filho das Escrituras. É também a palavra do homem fa-
do homem, falou-me, come o rolo que aqui está, e, lando com Deus, consigo mesmo e com os demais
em seguida, vai falar à casa de Israel. Abri a boca, e homens. Na Bíblia, o homem se expressa com toda
ele mo fez engolir. Filho do homem, falou-me, nutre a sua generosidade e sua limitação, com toda a sua
o teu corpo, enche o teu estômago com o rolo que grandeza e miséria.
te dou. Então o comi, e era doce na boca, como o
mel” (Ez. 3, 1-3). É que, como veremos, nem sempre A Bíblia leva a uma verdadeira relação entre

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

Deus e o homem. Ela foi escrita para mim, para você! des que o autor humano não conhecia, mas antes de tas comunidades fundadas ou visitadas pelo após- inspirados os Livros escritos em hebraico. Por isso, a
É a carta do Pai apaixonado por seus filhos amados. tudo, algo vivido e experimentado, algo contextua- tolo Paulo. bíblia protestante possui 66 livros e não os 73 con-
lizado e ratificado pelo Espírito Santo. Os costumes, a cultura, a religião, a situação tidos no Cânon Bíblico Católico.
1. Nascimento, escrita e organização Não foi uma única pessoa que escreveu a Bí- econômica, social e política de todos estes povos Além da tradução grega, houve traduções la-
da bíblia blia. Foram homens e mulheres, jovens e velhos, deixaram marcas na Bíblia e tiveram a sua influên- tinas da Bíblia, por causa da necessidade dos cris-
pais e mães de família, agricultores, pescadores e cia na maneira de a Bíblia apresentar a mensagem tãos que falavam o latim e não mais o grego. A mais
O nascimento da Bíblia radica-se em fatos operários de várias profissões, gente que sabia ler de Deus aos homens. importante delas, porém, é a Vulgata, nome dado
concretos, em acontecimentos salvíficos, na ação e escrever e gente que só sabia contar as histórias A Bíblia, como a temos hoje é graças a vá- desde o século XIII à versão latina feita por São Je-
concreta de Deus no mundo em favor dos homens vividas e testemunhadas dos portentos de Deus. rias traduções como: Hebraica (conhecida como rônimo (347 – 420).
por Ele amados. Antes de serem escritos, os ensina- Gente viajada e gente que nunca saiu de casa. Sa- massorética ou da Escola de Massorah - tradição) Outra observação importante é a de que todas
mentos de vida contidos nas Escrituras eram já uma cerdotes e profetas, reis e pastores, apóstolos e Setenta (Septuaginta), Vulgata (S. Jerônimo – Séc. as edições da Bíblia trazem os mesmos 150 salmos.
realidade vivida e experimentada pelo homem. A evangelistas. Todos contribuíram, cada um do seu IV), Vetus Latina (oriunda do texto grego da Tradu- Sua numeração, porém, varia: existe a do texto he-
Bíblia é rica da experiência do povo de Israel com jeito. Gente de toda classe, mas todos unidos na ção dos Setenta – séc. II). Cabe-nos salientar ainda a braico e a da versão dos setenta (e também da Vul-
seu Deus. Por detrás de cada escrito bíblico, encon- mesma fé e amor. Eram pessoas que faziam parte de grande contribuição dada pelo Concílio Ecumênico gata de S. Jerônimo – séc. IV). Aconteceu o seguinte:
tra-se a ação salvífica de Deus que se entregou na uma comunidade, de um povo em formação onde a Vaticano II que quis cada povo celebrando em sua a versão dos setenta juntou em um só os salmos 9 e
História da humanidade para convertê-la em Histó- fé em Deus e a prática da justiça eram ou deviam ser língua pátria a Palavra de Deus. 10, bem como os salmos 114 e 115, mas dividiu em
ria da Salvação. o eixo da vida. 2 os salmos 116 e 147 do texto hebraico. Assim, há
Aqui é importante esclarecer um fato histórico
A Encarnação do Filho de Deus (O Verbo que A Bíblia começou a ser escrita de forma siste- que gera consequências até os dias de hoje: por vol- a diferença de um número entre uma edição e outra.
se fez carne – João 1,1) – o mais importante de to- mática no tempo de Moisés – se bem que já existiam ta do ano 100 d.C. rabinos judeus se reuniram em
dos os acontecimentos da salvação – foi preparada, escritos esporádicos anteriores a esse Patriarca –, Jamnia (hoje Yavneh), na costa sudoeste de Israel,
anunciada e figurada de muitas formas no Antigo que viveu por volta do ano 1.250 a.C. (Séc. XIII a.C) numa espécie de concílio (mas não católico) para
Testamento. Depois do acontecimento salvífico em e a última parte no final da vida do Apóstolo S. João, decidirem os rumos do judaísmo após a destruição
si, acontecia a Tradição Oral, que é a transmissão por volta do ano 100 d.C.; portanto, a Bíblia foi es- do Templo de Jerusalém no ano 70 d. C.; daí o termo
verbal através de Poemas, Cantos ou Pregações so- crita num período de aproximadamente 1.350 anos. rabinos de Jamnia ou concílio de Jamnia ou ainda
bre aquele acontecimento. Cada qual, como o ha- Moisés foi o primeiro codificador sistemático Sínodo de Jamnia. Ali estabeleceram exigências ca-
via experimentado ou ouvido dos antepassados. De das tradições orais e escritas de Israel. Com o passar racterísticas do texto sagrado para sua “aceitação” PROPOSTA DE DINÂMICA:
manhã e à noite, em casa ou em viagem, em todos dos séculos e continuidade desta sistematização, pelo Judaísmo: não ter sido escrito fora da terra de
os momentos importantes da família e da Nação passo a passo foi se formando a biblioteca sagrada Israel, somente seriam considerados textos escri- a. Ler, refletir e partilhar em grupo as se-
(conforme a ordem do Senhor em Dt 6, 4-7) recor- de Israel, culminando com o surgimento dos livros tos na língua hebraica e não posteriores ao Profeta guintes passagens bíblicas: Josué 1, 7-8;
dava-se e revivia-se o que o Senhor havia feito em cristãos no Séc. I d.C., os quais se apresentavam Esdras (458-428 a.C.), período em que começou o
favor do seu povo. Continuamente repetiam o que Isaías 55, 10-11; Mateus 13, 4-9.18-23;
como continuação dos livros sagrados, mas que o exílio. Evidentemente, não aceitaram quaisquer dos Hebreus 4, 12-13a.
haviam aprendido (cf. Salmo 104). judaísmo tentou impedir. Livros Cristãos.
À medida que as circunstâncias sociais, polí- A cultura onde a Bíblia foi gerada precisa ser Considerando que a cidade de Alexandria (Egi-
ticas e culturais o permitiram, começaram-se a es- levada em consideração. Trata-se de um povo de to) já contava com uma considerável colônia judai-
crever, consignar por escrito a rica e variada expe- linguagem vigorosa, que gosta de expressar-se por ca, vivendo em terra estrangeira e falando língua
riência do povo de Deus, conforme a inspiração do contrastes extremos. Usa uma linguagem emocio- estrangeira, os judeus ali erradicados não adotaram
Espírito Santo. nal, detalhada, não a fria objetividade dos relató- os critérios nacionalistas dos rabinos de Jamnia,
Graças a homens inspirados pelo Espírito San- rios científicos. Faz-se necessário lembrar que ela considerando, portanto, inspirados Livros inspira-
to, o núcleo essencial da Tradição Oral foi sendo es- não foi escrita num mesmo lugar, mas em muitos dos em grego. Paralelamente a tal fato, entre os séc.
crito, compilado. Encontramos unidos intimamente lugares diferentes. A maior parte do Antigo Testa- III e I a.C. rabinos desta colônia judaica erradicada
os fatos sucedidos e a transmissão oral, e por detrás mento (AT) e do Novo Testamento (NT) foi escrita na em Alexandria traduziram vários livros sagrados,
dela o acontecimento Histórico – salvífico, o plano Palestina, a terra onde o povo vivia, por onde Jesus posteriores a Esdras, do hebraico para o grego, lín-
de amor de Deus. Temos nela o divino e o humano. passou e onde nasceu a Igreja. Porém, algumas par- gua corrente em todo o Mediterrâneo daquela épo-
A Bíblia foi escrita por homens inspirados por tes do AT foram escritas na Babilônia, onde o povo ca, dando origem à chamada Septuaginta ou Versão
Deus, denominados hagiógrafos. Portanto tem a viveu no cativeiro no séc. VI a.C, outras partes foram dos Setenta, pois setenta e dois rabinos (6 de cada
embalagem humana e os costumes da pessoa que escritas no Egito para onde muita gente tinha emi- uma das 12 tribos de Israel) trabalharam nela.
escreveu no contexto de sua história, mas ela é grado depois do cativeiro. A Septuaginta (Versão dos Setenta) foi utiliza-
TODA Palavra de Deus, pois Deus é seu autor. “Pois A maior parte do AT foi escrita em hebraico, da como base para diversas traduções da Bíblia e
em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes pois era a língua que se falava na Palestina antes do inclui alguns livros não encontrados na bíblia he-
que desapareça um jota, um traço da lei” (Mt 5,18). cativeiro; apenas os Livros de Sabedoria, II de Maca- braica, dentre eles: Tobias, Judite, I e II de Macabeus,
A inspiração bíblica reflete, portanto, a iluminação beus e trechos de Daniel e Ester foram escritos em Eclesiástico, Sabedoria e Baruc, além de alguns tre-
da mente do escritor sagrado humano para que pos- grego, e uma parte pequena foi escrita em aramai- chos dos Livros de Daniel e de Ester. Esses Livros
sa, com os dados de sua cultura religiosa e profana co. Todo o NT foi escrito em grego, pois era a nova são denominados deuterocanônicos, isto é, catalo-
escrever uma mensagem fidelíssima ao pensamen- língua do comércio que invadiu o mundo naquela gados em 2ª instância, posteriormente, ao contrá-
to de Deus que recebera por inspiração sobrena- época, menos o Evangelho de Mateus, escrito em rio dos veterocanônicos, ou seja, catalogados desde
tural. Pode-se falar, assim, em páginas humanas e hebraico. sempre, em primeiro lugar. Durante a Reforma Pro-
divinas, no sentido de que o escritor sagrado teve O NT tem partes que foram escritas na Síria, testante, no sec. XVI, Martinho Lutero, em contesta-
uma participação fundamental. Importante é frisar na Ásia Menor, na Grécia e na Itália, onde havia mui- ção à Igreja Católica adotou o Cânon (catálogo) da
que a inspiração bíblica não é a revelação de verda- Palestina, isto é, aquele que somente considerava

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

Introdução à Sagrada Escritura


Parte II

1. Material utilizado
para a escrita da Bíblia

No tempo que foi escrita a Bíblia não existia


papel como hoje, muito menos as máquinas impres-
soras ou os computadores. A Bíblia foi escrita à mão,
e em diversos materiais, como a cerâmica, o papiro
e o pergaminho.

CERÂMICA: conhecida como a


arte mais antiga da humanidade. O
barro servia para fazer desde vasos,
até chapas nas quais se escrevia.
Muitos textos bíblicos foram escri- PERGAMINHO: feito de couro curtido de carnei-
tos nesses “tijolos”. ro. Começou a ser usado como “papel” na cidade de
Pérgamo, pelo rei Éumens II 200 a.C.; Pérgamo era
uma importante cidade da
PAPIRO é uma erva da família
Ásia Menor. O pergaminho
das ciperáceas (Cyperus papyrus), própria das mar-
se espalhou rapidamente
gens alagadiças do rio Nilo, na África, cujas compri-
para outras regiões.
das folhas forneciam hastes das quais se obtinha o
papiro, material sobre o qual se escrevia. O papiro Os pergaminhos, assim
era ainda usado na fabricação de barcos e cestos. como as folhas de papiro,
Dizem que em 3.000 a.C os egípcios já escreviam não eram “encadernados”
no papiro. Tais folhas eram escritas só de um lado num livro como fazemos
e depois guardadas em rolos. Era assim o processo: hoje. Os antigos ligavam
umas folhas às outras e fa-
ziam “rolos”.

2. Gêneros literários
contidos nas Escrituras
Na Bíblia encontram-se vários gêneros literá-
rios: leis, histórias, crônicas (narração que segue a
ordem temporal), poesias, cânticos, contos de amor,
provérbios, epopeias (apresenta atos com relevante
conceito moral, atos heroicos), parábolas, alegorias
(comparação com aspectos temporais para se fazer
entender; exemplo: a videira e os ramos), genealo-
gias, etc.
Para entendermos a Bíblia devemos colocar-
nos no tempo e no ambiente em que cada livro foi

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

escrito, dentro da mentalidade, costumes e cultura Levítico: chama-se assim porque traz as leis do Pessoa de Jesus, o que Ele fez, e tudo o que ensi- mens e de almas, narra 16 parábolas.
daquele povo, tendo em mente que cada gênero ou culto e as obrigações dos sacerdotes e levitas. nou. Os 04 evangelhos ocupam lugar de destaque João: “o discípulo que Jesus amava”. Cuidou
estilo literário tem sua interpretação de forma pró- Números: começa com a contagem do povo de em toda a Bíblia, é o seu coração. São chamados de de Maria após a Ascensão de Jesus. Escreveu para
pria. Nesse sentido, o Concílio Vaticano II, em sua Israel, faz um recenseamento. Sinóticos (olhar em conjunto) os Evangelhos de Ma- os cristãos o Evangelho espiritual.
Constituição Dogmática Dei Verbum (sobre a reve- teus, Marcos e Lucas por conterem grande quanti-
lação divina), assim nos ensina: “Para descobrir a Deuteronômio: traz as reflexões sobre a relei- dade de histórias em comum, na mesma sequência, Atos dos Apóstolos: Retrata a origem e expan-
intenção dos hagiógrafos, devem-se levar em conta, tura da Lei e sua nova proclamação. Convida a uma e algumas vezes, utilizando exatamente a mesma são do Cristianismo, a partir da inauguração da Igre-
entre outras coisas, também os gêneros literários. vida de conversão, penitencia e fidelidade. estrutura de palavras. ja na manhã de Pentecostes. Narra a perseguição de
Pois a verdade é apresentada e expressa de manei- Herodes, a conversão de Paulo e algumas viagens
Já o Evangelho de João – quarto Evangelho Ca- missionárias.
ras bem diferentes nos textos de um modo ou outro 2) Livros Históricos: são 16 livros que narram nônico – relata a história e o ensinamento de Jesus
históricos, ou proféticos, ou poéticos, bem como em histórias do Povo e seus líderes. São os Livros de de um modo substancialmente diferente, mas não Epístolas: Livros Doutrinais/didáticos: Paulo
outras modalidades de expressão. Ora, é preciso Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 contraditório, pelo que não se enquadra nos sinó- escreve para pessoas ou comunidades específicas
que o intérprete pesquise o sentido que, em deter- Crônicas, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, 1 e ticos. (14). Estas são chamadas de Cartas Paulinas
minadas circunstâncias, o hagiógrafo, conforme a 2 Macabeus. As que foram escritas pelos Apóstolos Tiago,
situação de seu tempo e de sua cultura, quis expri- Pequeno perfil de cada evangelista:
Pedro, João (3) e Judas, são chamadas de universais
mir e exprimiu por meio de gêneros literários então Mateus: Coletor de impostos, Apóstolo. Redi-
3) Livros Sapienciais ou de Sabedoria e Poéti- ou católicas.
em uso” (DV, 12). giu em aramaico.
cos: são 7 livros onde encontramos a expressão da Apocalipse: Livro de revelação.
sabedoria e dos sentimentos do Povo: ditados, poe- Marcos: Discípulo de Pedro e companheiro de
Assim, eis a nossa Biblioteca Sagrada; eis o
3. A organização da sias, cantos, orações, hinos, provérbios, nos quais o
povo registra seus sentimentos e expressa sua sa-
Paulo “Eco da voz de Pedro”.
acervo mais precioso do mundo:
Lucas: Companheiro de Paulo: Médico de ho-
Bíblia bedoria tirada da experiência da vida. São os Livros
de Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos
cânticos, Sabedoria, Eclesiástico.
A Bíblia Católica possui 73 Livros (vimos que
a bíblia protestante possui apenas 66, dado que 4) Livros Proféticos: são 18 livros que trazem
Martinho Lutero adotou tão somente o Cânon da a vida e a mensagem de Deus pelos profetas, nar-
Palestina), estando 46 deles no Antigo Testamento ram a formação do Povo da Bíblia com a vida, nome,
(AT) e 27 no Novo Testamento (NT). O que separa o lutas e a fé de seus heróis e do próprio povo. São
Antigo do Novo Testamento é a Encarnação de Nos- os Livros de Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc,
so Senhor Jesus Cristo, Salvador do mundo. Todo o Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas,
Antigo Testamento irá antever e preparar a vinda do Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias
Messias, do Salvador dos homens. Já o Novo Testa- e Malaquias.
mento retrata todo o ensinamento de Jesus e per-
petua toda a sua revelação. O AT era o livro lido por Jesus e pelas primeiras
Como já visto, o AT é um livro que se formou comunidades cristãs.
num período de tempo de aproximadamente de No Novo Testamento temos:
1250 anos. Era a Bíblia de Jesus e seus Apóstolos.
Mas no tempo de Jesus o AT ainda não tinha sido • Evangelhos : Mateus, Marcos, Lucas, João
fixado na sua extensão definitiva. Só no Sínodo ju- • Atos dos Apóstolos
daico da Jammia (cerca do ano 100 d.C ) chegou-se • Cartas à Paulinas: Romanos, 1 e 2 Coríntios,
a formação do cânon veterotestamentário (AT). Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2
O AT, além de ser a parte mais importante da Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemon,
literatura hebraica, pertence aos documentos mais Hebreus
veneráveis da humanidade. Não pode ser compre- à Católicas: Tiago, 1 e 2 Pedro, 1 a 3 João, Judas
endido se se prescinde da história do povo de Is-
rael, da legislação que regulava sua vida e das suas • Apocalipse de São João
formas de expressão. Nele está uma variedade de
literaturas. Contém 46 livros divididos em 4 gran- Aceita-se a seguinte divisão do NT, para fins
des grupos: didáticos:
Livros Históricos: 4 Evangelhos + Atos dos
1) Pentateuco - palavra grega que significa Apóstolos.
cinco livros. São chamados também de Torá (Lei)
porque contém a Lei da Antiga Aliança. Fazem parte Livros Doutrinais: 21 Epístolas (Paulo, Tiago,
do Pentateuco os seguintes Livros Sagrados: Pedro, João e Judas).
Gênesis: traz reflexões sobre as origens do Livro Profético: Apocalipse
mundo, do homem, do pecado e do povo de Deus. Evangelho significa Boa Nova – palavra de ori-
Êxodo: reflete sobre a saída do povo hebreu do gem grega. Antes de ser um livro, foi uma palavra
Egito sob a liderança de Moisés. pregada, antes de ser lido, foi ouvido... Retrata a

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

4. Representação de Gn 1,15-16ab - significa que a citação abrange


no versículo 16 apenas as duas primeiras frases.
6. POR QUE LER E ORAR A primeiro verso já diz tudo: toda a Bíblia é comuni-
cação! Deus é comunicativo, quer falar conosco em
Capítulos e Versículos Ainda pode acontecer que a citação tenha após BÍBLIA? (ler Jos. 1,8; Dt 17,19) nossas mais diversas realidades e situações.
da Bíblia o versículo um número seguido de vírgula; Toda Bíblia é Comunicação (Pa-
nesse caso se trata de referência a capítulo: A Bíblia é um poderoso instrumento de con- dre Zezinho)
Quando os livros da Bíblia foram escritos, não Gn 1,15-2,4a - significa que a citação vai do versão e de salvação. Dentre infindáveis efeitos, ci- Toda bíblia é comunicação, de um
traziam, como hoje, títulos e subtítulos, numa divi- versículo 15 do capítulo 1 ao versículo 4 do tamos aqui alguns deles: Deus amor, de um Deus irmão.
são em capítulos e versículos. A divisão em capítu- capítulo 2, primeira frase. 1º - tornará você um cristão mais forte e lhe É feliz quem crê na revelação,
los foi organizada em 1214 d.C. pelo arcebispo de dará a certeza da Salvação; Quem tem Deus no coração.
Cantuária, na Inglaterra, Stephen Langton. Já a divi- 2º - lhe dará confiança e poder na oração; Jesus Cristo é a palavra, pura
são dos capítulos em versículos, como se encontra
hoje na Bíblia, foi organizada por Robert Estienne,
5. HERMENÊUTICA 3º - proporcionará a você uma profunda ex- imagem de Deus Pai.
um tipógrafo e editor de origem francesa que vivia
na Itália, em 1551 d.C., influenciado pelo que os
BÍBLICA periência do Amor de Deus e a certeza do Seu
perdão;
Ele é vida e verdade, a suprema
caridade.
massoretas (judeus da Escola de Massorah – tradi- 4º - lhe trará a paz e a alegria verdadeira; Os profetas sempre mostram a
ção) já haviam feito com o Antigo Testamento reco- O nome deste subtítulo pode denotar algo de orientando você nas decisões da vida; verdade do Senhor.
nhecido. difícil entendimento, mas não é bem assim. A her- 5º - dará a capacitação para testemunhar Je- Precisamos ser profetas para o mun-
Costuma-se representar os livros pelas duas menêutica bíblica se preocupa em estudar os prin- sus Cristo e ser um missionário do evangelho. do ser melhor.
primeiras consoantes ou uma ou duas consoantes e cípios de interpretação das Sagradas Escrituras, evi-
uma vogal de seu nome (para evitar confusão com tando-se assim o fundamentalismo, o subjetivismo,
outro), por exemplo: os desvios de conceito e até mesmo as heresias. O
principal objetivo da hermenêutica bíblica é o de 7. COMO CONHECER A
Gn. para Gênesis; Ex. para Êxodo; Cro. (ou Cr.)
para Crônicas. Cuidado para não confundir com
descobrir a intenção original do autor bíblico.
BÍBLIA?
abreviaturas das Cartas de São Paulo aos Coríntios - A Constituição Dogmática Dei Verbum (sobre a
(Cor ou Co). E assim por diante. Revelação Divina), do Concílio Vaticano II, nos apon-
ta três princípios ao lermos a Palavra de Deus: Assim como você aprendeu a falar, falando, a
Os capítulos são representados pelo seu nú- andar, andando, aprenderá a conhecer a Bíblia e a
mero seguido de vírgula: A. Deve-se considerar o conteúdo e a unida- viver sua palavra, estudando-a, lendo a Bíblia todos PROPOSTA DE DINÂMICA:
de da Escritura inteira, isto é, verificar o sen- os dias (cf. Dt 17,19).
tido da história, o sentido da relatividade das
Gn. 1, - significa capítulo 1 do livro de Gênesis. Assim como se alimenta todos os dias, deve- A. Ler juntos as “Instruções Gerais da
palavras, o bom senso e o senso crítico. A Bí-
se alimentar da santa Palavra, em clima de oração. Bíblia” contidas no início das principais
Eclo. 51 – significa o capítulo 51 do livro do blia não se contradiz em momento algum. Por-
É um encontro VIVO ente pessoas VIVAS. Muitos já edições. Tirarão muitas dúvidas.
Eclesiástico tanto, há que se olhar o texto como um todo
experimentaram, e você?
harmônico;
Ap. 3 – significa o capítulo 3 do livro do Apo- Deus está interessado em ouvi-lo, mas, aci- B. Pedir que abram a Bíblia em diversas
B. Deve-se ler as Escrituras à luz da Tradição
calipse. ma de tudo em falar com você, em levá-lo a plena citações para que aprendam a manusear
viva da Igreja, isto é, à luz do ensinamento oral
verdade (cf. Jo 8,31b-32; 14,23b-24a). Como nos com desenvoltura as Escrituras.
Já os versículos vem geralmente após a vírgu- e escrito dos Apóstolos que se perpetua viva-
ensina o Catecismo da Igreja Católica: “Na Sagrada
la do capítulo: mente nos costumes da Igreja e são assegura-
Escritura, a Igreja encontra incessantemente seu
dos pelos sucessores dos Apóstolos, isto é, os
Gn 1,2 - significa livro de Gênesis, capítulo 1, alimento e sua força, pois nela não acolhe somente
Bispos.
versículo 2. uma palavra humana, mas o que ela é realmente: a
C. Deve-se fazer analogia da fé, isto é, as Sa- Palavra de Deus. Com efeito, nos Livros Sagrados, o
gradas Escrituras não se contradizem. Isto sig- Pai que está nos céus vem carinhosamente ao en-
Quando se pretende representar todos os ver- nifica que nenhuma passagem das Escrituras contro de seus filhos e com eles fala” (Catec. 104).
sículos a que se refere, usa-se separá-los por um hí- pode ser interpretada de tal forma que o sig-
fen (com o significa de = até): nificado alcançado seja conflitante em relação

Gn 1,15-20 - significa livro de Gênesis, Capítu-


ao ensino claramente exposto pela Bíblia em
outras passagens. Assim, por exemplo, se um
2. CONCLUSÃO
lo 1, a partir do versículo 15 até o 20. versículo da Bíblia pode apresentar duas in-
terpretações diferentes, sendo que uma delas As Sagradas Escrituras são um poderoso meio
Colocando-se um ponto após o último versícu- é contrária ao ensino da Bíblia como um todo pelo qual o Senhor se comunica conosco; é uma
lo e colocando-se outro número significa que enquanto a outra está em harmonia com este fonte inesgotável de sabedoria, de orientações, de
se deve saltar do versículo para o outro: ensino, então esta última deve ser adotada e a instruções e de salvação. Não podemos desprezar
anterior descartada. as Escrituras, pois como nos ensina o doutor da Igre-
Gn 1,15-20.25-26 - significa que após o versí-
culo 20 deve-se saltar para o 25 e ler até o 26. ja, São Jerônimo (autor da Tradução da Vulgata), “ig-
norar as Escrituras é ignorar Cristo”.
Pode acontecer que um versículo se componha
Com certeza, muitos já escutaram uma famo-
de várias frases, designando-se então cada
sa canção católica, composta pelo Pe. Zezinho, cujo
uma delas por uma letra do alfabeto:

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

CAPÍTULO 5

Sagrada Tradição
Parte I

1. INTRODUÇÃO

A Igreja trilha o caminho da unidade, porque


é o Corpo Místico de Cristo, e Cristo é o Caminho, a
Verdade e a Vida (Jo. 14,6a). Nosso vínculo de uni-
dade é Jesus, Seu ensinamento, Sua doutrina. Por samento e ensinamento católicos, desde os primór-
isso, a Igreja não se perde nas vicissitudes da histó- dios da Igreja, desde a Igreja dos primeiros séculos,
ria humana, porque se alimenta da Sagrada Escritu- as quais foram enriquecidas, aprofundadas e confir-
ra, inspirada pelo Espírito Santo, da Sagrada Tradi- madas ao longo dos seus vinte séculos de história.
ção e do Sagrado Magistério. Consideraremos aqui Como dito, a Sagrada Tradição é via imprescin-
a importância deste segundo elemento da Revela- dível para a unidade. E só conseguimos progredir na
ção, a Sagrada Tradição ou Tradição Apostólica, para unidade se professamos a Verdade. Não é possível,
nos aprofundarmos neste maravilhoso caminho de portanto, relativizar o que é verdade. Nestes tem-
unidade. A Sagrada Tradição é um tesouro de todos pos de especial atração por tudo o que é relativo,
nós, católicos, é a via imprescindível para a unidade. precisamos mergulhar na riqueza da Sagrada Tradi-
ção que é uma espécie de fio condutor desta Verda-
de no decorrer dos séculos. A Igreja é um Edifício
2. DESENVOLVIMENTO sólido, o Corpo Místico de Cristo; ela não é uma tor-
re de babel! A Verdade Se revelou, e deixou ao ser
humano uma Instituição, a Igreja. Nós partilhamos
Como visto em capítulo anterior, Deus, o de um histórico de interpretações das verdades re-
Todo-Poderoso, infinito, eterno, onisciente, onipre- veladas, o qual não se contradiz. E nós só contribui-
sente e onipotente, Se revelou sem reservas ao ser remos para o crescimento da unidade se aderirmos
humano, frágil e limitada criatura. Esta realidade com fidelidade ao que Jesus, a Verdade, revelou.
está expressa no início do Evangelho de São João:
“E o Verbo se fez Carne, e habitou entre nós...” (João 2.1. Definição de Sagrada Tradição ou
1,14a). Contudo, sempre precisamos que o próprio
Espírito de Deus nos socorresse em todas as etapas Tradição Apostólica
desta Revelação; caso contrário, os homens não te-
A Tradição Apostólica é um dos componentes
riam conseguido captar com fidelidade a mensagem
da Revelação. Mas, o que seria uma definição de Tra-
de Deus, e muito menos teriam a capacidade de in-
dição Apostólica ou Sagrada Tradição? Nosso amado
terpretá-la corretamente ao longo da história.
Papa emérito, Bento XVI, explica que a Igreja pode ser
Certa é a inspiração e unção dos escritores compreendida como uma realidade de Comunhão, e
(hagiógrafos) dos Livros da Bíblia. Assegurada é que esta comunhão, ao longo da história da Igreja,
também a unção e autoridade dos filhos da Igreja é a Tradição (BENTO XVI, 2011). Em outras palavras,
(os Bispos em comunhão com o Sucessor de Pedro) Bento XVI expressou: “Nesta transmissão dos bens
para continuar interpretando o que foi revelado to- da salvação, que faz a atualização permanente, na
talmente em Cristo. E esta fé também é confirmada comunhão original, da comunidade cristã, na força
pela razão! Não podemos admitir múltiplas possi- do Espírito, consiste a Tradição Apostólica da Igreja.”
bilidades de interpretação dos textos bíblicos, pois (BENTO XVI, 2011). O mesmo autor define que “... a
o Espírito de Deus não se contradiz (cf. Nm. 23,19), Tradição é a história do Espírito que age na história
nem tampouco ignorarmos nossas raízes sólidas da Igreja através da mediação dos apóstolos e dos
e vitais que continuam nos transmitindo uma sei- seus sucessores, em fiel continuidade com a experi-
va nutritiva, saudável e pura ao longo dos séculos. ência das origens.” (BENTO XVI, 2011). Alguns elemen-
Precisamos, portanto, reverenciar as raízes do pen- tos destas definições serão discutidos nos itens a seguir.

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

Ainda, o Catecismo da Igreja Católica nos ensi- A Boa Nova indica como algumas características do 2.3. O Espírito faz a atualização per- revelação, e também de progredir na compreensão
na que Deus quer que todos os homens sejam sal- Amor: “... tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo manente, pela Sagrada Tradição. das verdades reveladas. Não há o que “reinventar”
vos e, por isso, é preciso que Cristo seja anunciado suporta.” (I Cor 13, 7). Portanto, a Igreja professa a sobre a Revelação Divina. Há o que aprofundar em
a todos os povos, a todos os homens e que a Reve- religião da tolerância e do diálogo sim! O que não Quando pensamos na palavra tradição, logo compreensão e prática. E este aprofundamento só é
lação chegue às extremidades do mundo. Portanto, podemos aceitar é a aplicação destas expressões somos induzidos a fazer relação desta realidade possível se reconhecemos que o Espírito de Deus já
Jesus ordenou a seus Apóstolos que o Evangelho da forma como tem sido feita com frequência nos com a de algo antigo, com “fichas de arquivo”, com teceu uma longa história de inspiração, de tal forma
fosse pregado a todos os homens como fonte de tempos atuais. Em muitos discursos atuais sobre to- elementos puramente históricos ou de museu, com que já existe uma compreensão acumulada das ver-
toda a verdade salvífica e de toda a disciplina de lerância e diálogo, é possível reconhecer uma pro- algo ultrapassado, ou até mesmo obscurantista. A dades reveladas, e que esta compreensão não está
costumes. Essa transmissão do Evangelho foi feita posta sincretista e anticristã. SANAHUJA, em 2012, nossa Sagrada Tradição é valorizada na Igreja desde esgotada.
de duas maneiras: oralmente, pelo que os Apósto- mostra claramente que alguns textos ou discursos o seu nascimento, todavia não é velha, nem é ultra- Vimos BENTO XVI afirmar que pela Sagrada
los, por suas pregações, exemplos e instituições, atuais trabalham a perspectiva religiosa do ponto passada, nem mesmo é uma “coleção de objetos, de Tradição, o Espírito faz “ a atualização permanente”.
transmitiram as coisas que receberam das palavras de vista da inexistência da verdade absoluta, “... im- palavras, como uma caixa que contém coisas mor- Jesus em um dos momentos em que prometeu o
ou da convivência direta com Jesus ou, ainda, que pondo à humanidade um processo sem fim de busca tas...” (BENTO XVI, 2011). Segundo BENTO XVI, em envio do Espírito Santo, disse: “Muitas coisas ainda
aprenderam das sugestões do Espírito Santo; por de consensos sobre princípios morais que perma- 2011, “a Tradição é o rio da vida nova que vem das tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar ago-
escrito, pelo que os Apóstolos, sob a inspiração do necerão até que aqueles perdurem...” (SANAHUJA, origens, de Cristo até nós, e nos envolve na história ra. Quando vier o Paráclito, o Espírito da verdade,
Espírito Santo, puseram-se a escrever a mensagem 2012). O católico precisa reconhecer que a Verdade de Deus com a humanidade.” ensinar-vos-á toda a verdade... e anunciar-vos-á as
da salvação (cf. Catec. 74-76). é Jesus, e que todos os ensinamentos verdadeiros coisas que virão.” (João 16, 12-14). É bíblico, por-
Não podemos confundir Tradição com funda-
Ensina-nos, ademais, que para que o Evan- brotam d’Ele e foram e são integralmente trans- tanto, que o Espírito ainda continuaria instruindo a
mentalismo, nem mesmo com tradicionalismo. Ca-
gelho sempre se conservasse inalterado e vivo na mitidos por meio da sucessão apostólica na Igreja comunidade dos fiéis. O Espírito continuará sempre
minhar segundo a Tradição não significa caminhar
Igreja, os apóstolos deixaram como sucessores os Católica. Neste sentido, não podemos ceder a esta instruindo os filhos da Igreja. E esta instrução, ao
sem dar razão à fé (FIDES ET RATIO, 1998), nem mes-
bispos, pois a pregação apostólica devia ser conser- tendência de relativizar princípios, especialmente mesmo tempo em que envolve fatos novos, signifi-
mo significa estar fechado a novidades, pois o mes-
vada por uma sucessão contínua até a consumação no campo da fé. Precisamos, ao contrário, reconhe- ca o aprofundamento das verdades já reveladas. Um
mo Espírito que não se contradiz é aquele que “...
dos tempos (cf. Catec. 77). cer que a Revelação nunca se contradisse, e, uma fato histórico novo não pode ser interpretado à luz
sopra onde quer...” (João 3, 8a). É possível ser uma
vez reconhecidos os livros que compõem o Cânon de uma suposta “nova revelação bíblica”. Não exis-
“Esta transmissão viva, realizada no Espírito pessoa moderna, aberta a inovações, e ao mesmo
Bíblico, houve e continua havendo uma linha incon- tem possibilidades de novas Revelações Bíblicas.
Santo, é chamada de Tradição enquanto distinta da tempo, ciente de que as inovações significativas só
testável sobre a qual a Verdade foi e é reconhecida. Tudo o que acontece na história humana encontra a
Sagrada Escritura, embora intimamente ligada a ela. podem surgir porque há um acúmulo de contribui-
Por meio da Tradição, ‘a Igreja, em sua doutrina, vida Mais uma vez invocamos as palavras do Papa ções da história. As inovações e a modernidade não sua resposta na Bíblia. Um exemplo: os desafios mo-
e culto, perpetua e transmite a todas as gerações Bento XVI: “Entre o Filho de Deus feito homem e a surgem por “geração espontânea”. E o novo sem- rais e éticos associados à Engenharia genética, es-
tudo o que ela é, tudo o que crê’” (Catec. 78). O Ca- sua Igreja, existe uma profunda, inseparável e mis- pre tem que ser avaliado face ao que já existiu. Na pecialmente em se tratando do ser humano (formas
tecismo diz-nos ainda o seguinte: “quanto à Sagra- teriosa continuidade, em virtude da qual Cristo está história da Igreja, percebe-se que aqueles que mais de concepção, manipulação de embriões, longevi-
da Tradição, ela transmite integralmente aos suces- presente hoje no seu povo.” (BENTO XVI, 2011). Je- amaram as raízes foram os que mais propuseram dade, por exemplo). Em nenhum outro momento da
sores dos apóstolos a Palavra de Deus confiada por sus é o Cristo, e há uma Igreja que Ele fundou, e entre novidades sólidas. Basta mergulharmos nos ensina- história a Igreja precisou responder a este desafio, o
Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos apóstolos, estas duas realidades há uma “profunda, insepará- mentos dos Padres da Igreja, testemunhas eloquen- qual brotou dos avanços científicos e tecnológicos,
para que, sob a luz do Espírito de verdade, eles, por vel e misteriosa continuidade”! E essa continuidade tes da Tradição. Aqui é importante frisar que em mas também foi marcado pelo clima de relativismo
sua pregação, fielmente a conservem, exponham e de profunda comunhão é gerada pela transmissão qualquer situação, há novidades que precisam ser moral e religioso reinante nos tempos atuais. A res-
difundam” (Catec. 81). Em suma, a Sagrada Tradição fiel de toda a mensagem do Evangelho ensinado rejeitadas; caso contrário, perde-se o referencial. posta que a Igreja deu oficialmente a este desafio
é, de fato, essa espécie de fio condutor da Verdade por Jesus Cristo. Professamos que houve uma pri- atual é uma resposta bíblica, pautada na solidez da
A princípio as palavras “tradição” e “renova-
revelada, por onde a mensagem do Evangelho passa meira liderança da Igreja, a qual foi instituída por tradição de ensinamentos de 20 séculos de nossa
ção” supõem um aparente contraste. Este contraste
na íntegra e se perpetua ao longo dos séculos por Jesus. Professamos que estes primeiros líderes, sob história como Igreja: A vida humana precisa ser res-
não é verdadeiro, pois, de forma geral, não é difí-
meio da sucessão apostólica. Trata-se de uma imen- a chefia de Pedro, zelaram pelo reconhecimento de peitada em todas as suas fases, e todas essas fazes
cil reconhecer que só é possível propor novidades
surável conservação do depósito da fé, de forma uma nova geração de líderes, e que, geração após possuem um valor imensurável, pois o ser humano
significativas, em qualquer área, se o proponente
integral e sagrada, para que a nós chegasse a men- outra, o Espírito continua socorrendo a Igreja. Há é obra-prima do Criador! Portanto, o termo “atua-
primeiramente se aplica em reconhecer o valor das
sagem evangélica não mutilada. um sucessor atual de Pedro que juntamente com os lização” para nós é compreendido como “falar de
contribuições anteriores. Em uma empresa, um ge-
outros sucessores dos Apóstolos (os Bispos) trans- forma nova algo que já foi revelado; aprofundar a
rente não conseguiria propor inovações se antes
mitem fielmente o depósito maravilhoso da fé que compreensão da Verdade Absoluta revelada”.
2.2. Sagrada Tradição: Via de Comu- não tivesse passado intensamente pela experiência
receberam dos primeiros apóstolos. Não estamos à
nhão na Igreja. do funcionamento e da história daquela organiza-
mercê das vicissitudes, inconstâncias e rupturas da 2.4. A Sagrada Tradição apresenta a
ção. No mundo da ciência, as inovações científicas e
história humana.
Bento XVI, em 2011, citando 2 Jo, 9-11, co- tecnológicas surgem porque pessoas estudam pro- via bíblica da cruz para crescermos em
menta: “... não é possível a comunhão com quem se Para crescermos em comunhão, é preciso, por- fundamente o que já há de contribuição acumulada unidade
afastou da doutrina da salvação.” Precisamos neste tanto, enfatizar a importância de aderirmos cada naquela área. Caso contrário, qualquer esforço po-
sentido refletir a aplicação de algumas expressões vez mais fielmente a esta Sagrada Tradição, pois não deria resultar em uma tentativa de “reinvenção da Para que caminhemos e cresçamos na unida-
nos tempos atuais. SANAHUJA, em 2012, mostra que se gera comunhão quando estamos afastados deste roda”. Quando falamos da Igreja, que é o Corpo Mís- de, precisamos zelar pelo discernimento constante,
é muito comum, atualmente, falar-se sobre a neces- componente da Revelação. E para permanecermos tico de Cristo, esta realidade é incomparavelmen- de tal forma a nunca abandonarmos o “estreito ca-
sidade da “tolerância e diálogo”, inclusive no cam- dentro da verdade Revelada e interpretada de for- te mais profunda. O mesmo Deus que dá aos seres minho”, apresentado por Jesus e transmitido viva-
po religioso. Aqui é preciso resgatar uma distinção ma correta, precisamos olhar para a história: tudo o humanos a capacidade intelectual, que resulta nos mente por via da sucessão apostólica. A obediên-
feita por aquele autor: há um significado original e que contradisser esta história sólida da nossa Igreja, avanços da ciência e em novas invenções, revelou- cia às verdades bíblicas, as quais são ensinadas na
verdadeiro para “tolerância e diálogo” – especial- não pode ser aceito! Somos, portanto, convocados Se ao ser humano e continua descortinando essa Sagrada Tradição, brota em um coração que assume
mente em se tratando da questão religiosa – e há pelo Senhor a conhecer e amar mais fervorosamen- Revelação gradualmente. Portanto, Deus também as próprias cruzes, e desta forma, prega o próprio
o emprego anticristão destas mesmas expressões. te as raízes da nossa fé. deu ao ser humano a capacidade de perceber esta orgulho humano nestas cruzes. Onde o orgulho não

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

é vigiado e rebaixado, surgem paixões por ideias


supostamente verdadeiras e renovadoras, mas que
escondem o veneno de desviarem do “estreito ca-
minho”. Precisamos distinguir os impulsos verda-
deiramente renovadores daqueles que introduzem
a confusão, pois negam as verdades da Sagrada Tra-
Sagrada Tradição
dição. É pela efusão do Espírito que o cristão cresce
em discernimento, em aceitação das cruzes, e con-
Parte II
sequentemente, em disposição para a obediência.
O núcleo da espiritualidade da RCC é a valorização
da Efusão do Espírito; portanto, agradeçamos a
Deus por termos aprendido que não podemos ca-
minhar sem a ajuda deste Doce Hóspede!
1. O relativismo como
Na Jornada Mundial da Juventude de 2011, o
Papa Bento XVI declarou: “Bem sabeis que, quando ameaça à Sagrada
não se caminha ao lado de Cristo, que nos guia, ex-
traviamo-nos por outras sendas como a dos nossos Tradição:
próprios impulsos cegos e egoístas, a de propostas
lisonjeiras, mas interesseiras, enganadoras, volú-
veis, que atrás de si deixam o vazio e a frustração...
Há muitos que, julgando-se deuses, pensam que Vejamos, como exemplo, as palavras do Papa atuais, surge como uma séria ameaça à preservação
não tem necessidade de outras raízes nem de ou- Bento XVI, um dia após sua eleição: “Nós estamos de todas as tradições, e em especial à Tradição Apos-
tros alicerces para além de si mesmo...” (Papa Bento caminhando para uma ditadura do relativismo que tólica, ou Sagrada Tradição. Monsenhor Sanahuja
XVI. JMJ, Madri. 18/08/2011. www.zenit.org) não reconhece nada como definitivo e tem como va- denuncia que, nas últimas décadas, as organizações
lor máximo o ego e os desejos individuais. Ter uma fé internacionais têm trabalhado com a ideia dos “con-
clara, segundo o credo da Igreja Católica, é rotulado ceitos evolutivos”, apresentados na forma de eufe-
como fundamentalista, enquanto que o relativismo mismos perniciosos, os quais solapam progressiva-
entrega-se a qualquer doutrina, que aparece como a mente as verdades absolutas reveladas (SANAHUJA,
única atitude louvável nos tempos atuais, é preciso 2012). Como exemplo, a expressão “Saúde reprodu-
abandonar uma atitude de criança, andando ao sa- tiva da mulher” foi adotando significados progressi-
bor de ventos, das várias correntes e ideologias . O vamente mais relaxados nos fóruns internacionais,
pequeno barco do pensamento dos numerosos cris- a tal ponto de hoje em dia significa, para muitos,
tãos é agitado por estas vagas, que oscilam entre o suposto “direito da mulher em decidir se deve
um extremo e outro: do marxismo ao liberalismo, manter uma gravidez ou não”. Este é um discurso
até à libertinagem, do coletivismo ao individualis- sedutor, pois é apresentado na forma de “direito da
mo radical, do ateísmo a uma vaga mística religiosa mulher”, “saúde reprodutiva”, “direito à liberdade”
. Ser adulto não significa apenas seguir as modas, etc., e ainda considerando um pressuposto: Seria
mas ter algo mais profundo . Só esta fé pode criar bom para a humanidade que nascessem menos se-
unidade” (Bento XVI, Homilia sobre a fé, um dia de- res humanos, para que o ambiente seja preservado!
pois de ser eleito.) www.zenit.org Esta afirmação é profundamente anticristã, pois os
A Igreja reconhece que há verdades absolutas problemas ambientais brotam do desequilíbrio do
que foram reveladas em um momento histórico. ser humano ao usar o ambiente, e este desequilí-
Deus absoluto e onipresente serviu-se de seres hu- brio tem uma origem bíblica: o pecado individual,
manos, situados em um momento histórico, e sujei- antes mesmo do social! São as atitudes pecamino-
tos a todo tipo de limitação humana, inclusive ao sas as grandes inimigas do ambiente, pois o pecado
pecado. Entretanto, é preciso afirmar sempre o ca- está na origem de toda ganância e descontrole. Não
ráter absoluto e verdadeiro da Revelação; por isso podemos sacrificar vidas humanas, pois o vilão não
mesmo, não podemos limitar nossas interpretações é a vida humana e sim o pecado!
sobre os textos bíblicos como se fossem dependen- Voltemos à discussão de que a Revelação Divi-
tes de cada momento histórico. O fato de que Deus na apresenta a VERDADE ABSOLUTA, utilizando-se
tenha escolhido revelar-Se entrando na realidade de vias humanas. É exatamente por isso que preci-
histórica humana não significa que Ele tenha que- samos, mais do que nunca, valorizar e amar a nossa
rido revelar realidades relativas a cada momento Sagrada Tradição! Do contrário, estaremos susce-
histórico e obsoletas em outros. A Revelação apre- tíveis aos argumentos de que a compreensão tra-
senta Jesus, Verdade absoluta, e todas as situações dicional que a Igreja sempre preservou dos textos
históricas do ser humano devem ser compreendidas bíblicos pode estar equivocada, pelo simples fato
à luz desta Revelação, pois Jesus Cristo é o mesmo de que foram pessoas os seus autores e intérpretes.
ontem, hoje e sempre. Há uma experiência sólida de 20 séculos, e in-
O relativismo, tendência filosófica dos tempos verdades não se sustentam por 20 séculos! Pode-

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

mos acreditar na Sagrada Tradição, a qual transmite guir, a Bíblia relata a experiência dos primeiros cris- O zelo em defender a comunidade cristã nas- de atacá-lo. Buscam a conquista da confiabilidade
as verdades Reveladas integralmente, sendo possí- tãos, incluindo os recém-convertidos: “Persevera- cente dos desvios de doutrina, além de ser carac- das pessoas de uma casa, para que possam ocupar
vel reconhecer e atestar esta linha de ensino que vam eles na doutrina dos apóstolos...” (Atos 2, 42a). terística dos pastores da igreja de todos os 20 sé- cargos de confiança, e muitas vezes, de vigilância.
não se contradiz. Deus decidiu dar provas da confia- Não é coincidência que, assim que nasceu a Igreja, o culos, foi característica marcante da pregação dos As heresias podem roubar a nossa fé, de forma sutil,
bilidade da Sagrada Tradição da Igreja, inspirando Espírito inspirou o autor bíblico a colocar em relevo pastores dos primeiros séculos, e também dos auto- ardilosa, profundamente inteligente e sedutora, se
cristãos de tempos muito diferentes a mergulharem a importância da PERSEVERANÇA em UMA DOUTRI- res bíblicos, antes do término do primeiro século da não conhecermos e amarmos a Sagrada Tradição.
na mesma comunhão da Verdade. NA, A DOS APÓSTOLOS! Os próximos capítulos do era Cristã. Os apóstolos insistentemente exortaram Neste sentido, precisamos tomar muito mais
Livro dos Atos dos Apóstolos trazem relatos da or- as primeiras comunidades a não se desviarem da sã cuidado com as confusões doutrinárias que sur-
1.2. A Sagrada Tradição mostra a força ganização das primeiras comunidades, da vivência doutrina (Hebreus 2, 1-4; Colossenses 2, 4-7). Ou gem internamente na própria Igreja. Não tenhamos
extraordinária da intervenção divina por milagres e seja, o mesmo Espírito que orienta a Igreja nos ca- dúvida: A Igreja nunca ficou sem a percepção clara
indestrutível da Igreja, desde as origens! pela unção das pregações e ações. Em Atos 4, São minhos da Sagrada Tradição, já inspirava o zelo dos das linhas que definem os ensinos verdadeiros, mas
Amamos o sopro renovador do Espírito de Lucas mais uma vez ressalta a união dos fieis em autores das cartas apostólicas em defender a comu- também o ser humano nunca ficou completamente
Deus. E veremos agora que continuaremos cami- torno dos Apóstolos, rezando pela libertação des- nidade dos erros de doutrina. Portanto, pela Sagra- livre da vaidade intelectual. Além disso, a Verdade é
nhando seguramente guiados por este sopro re- tes e rezando com eles pedindo o alargamento da da Tradição, compreendida como esta comunhão aceita generosamente em um coração que se esme-
novador do Espírito se amarmos cada vez mais as intervenção extraordinária de Deus (Atos 4, 23-31). doutrinal, na Igreja dá-se continuidade à tarefa dos ra com a vivência da graça. A oração, os sacramentos,
raízes, os primórdios de nossa Igreja, o precioso Quando pela segunda vez São Lucas relata a união autores das cartas apostólicas, como a exemplo de os sacrifícios, a leitura orante da Palavra, o estudo
depósito da fé transmitido pela via da Sagrada Tra- dos primeiros fieis, ele afirma: “Com grande cora- Paulo quando exortou os Tessalonissences: “Assim, da sã doutrina (encíclicas, documentos oficiais do
dição. Os primeiros séculos de nossa história são gem os apóstolos davam testemunho da ressurrei- pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamen- Vaticano) são alguns remédios eficazes para quem
especialmente amados e estudados por nossa Igre- ção do Senhor Jesus...” (Atos 4, 33b). Portanto, fica tos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja pretende continuar a caminhada na fidelidade à Ver-
ja. Devemos aprender com o testemunho de muitos clara, nos primeiros relatos da Igreja nascente, a re- por carta nossa.” (II Tessalonissences 2, 15). dade, o que significa fidelidade à Sagrada Tradição.
santos, a exemplo de Tomás de Aquino. Quando pas- lação direta entre a PERSEVERANÇA NA DOUTRINA É com este zelo que vemos a Igreja sempre
DOS APÓSTOLOS e A EXPERIÊNCIA INICIAL DE CO- A princípio pode parecer impossível ao ser
seava em Paris com um confrade, este o interrogou distinguindo a Verdade das heresias, pela sua fi- humano reconhecer a Verdade. Seria realmente im-
se ele gostaria de ser dono daquela cidade. E São MUNHÃO. Esta doutrina foi pessoalmente ensinada delidade à Sagrada Tradição. A heresia nega uma
por JESUS; portanto os apóstolos mereceram e con- possível se não tivéssemos os socorros do Espírito
Tomás respondeu: “Seria melhor que me ofereces- verdade da fé, de forma sutil e elaborada. As ideias Santo, o Paráclito. Veremos, mais abaixo, alguns
sem um pergaminho de São João Crisóstomo com tinuam merecendo crédito, da mesma forma que os do Padre Ário, do século 3, por exemplo, foram, des-
seus sucessores. exemplos destes socorros, como os martírios, os
seus comentários às Epístolas de Paulo” (Citado em de os primórdios, reconhecidas pela Igreja como a documentos oficiais da Igreja etc. Neste sentido, é
BOGAS et al., 2011). São João Crisóstomo morreu Os apóstolos já falavam da importância de ser heresia ariana. Em linhas gerais, nas propostas do preciso trazer uma palavra de consolo: A Verdade se
em 407. Ofereceu à Igreja primitiva um acervo ri- fiel em guardar a Tradição dos verdadeiros ensina- Padre Ário, Jesus não podia ser Deus, apesar de ser destaca claramente a quem A busca com sincerida-
quíssimo, como 17 tratados, mais de 700 homilias mentos; assim, as raízes que fundamentam a pró- o Seu Filho. Esta ideia contraria a verdade da San- de, e conta com as ajudas do Paráclito.
e 241 cartas (BENTO XVI, 2012), e “Transmitiu...a pria Tradição estão registradas em textos Bíblicos. tíssima Trindade, e foi veementemente refutada por
doutrina tradicional e segura da Igreja numa época São Paulo afirma: “Eu vos transmiti primeiramente o Santo Atanásio, logo que surgiu. A Igreja nunca ficou Assim, por exemplo, muitos cristãos deram
de controvérsias teológicas suscitadas, sobretudo, que eu mesmo havia recebido...” (I Cor 15, 3a). E em livre da necessidade de se defender das heresias. testemunho de fidelidade à Sagrada Tradição, e com
pelo arianismo, isto é, pela negação da divindade outra carta: “... toma por modelo os ensinamentos Para o Católico dos tempos atuais, pós-modernos, é isso pagaram com a própria vida. Os martírios nos
de Cristo.” (BENTO XVI, 2012). O nosso amado Papa salutares que recebeste de mim sobre a fé e o amor imprescindível saber que a Verdade continua sen- atingem continuamente, como fontes inesgotáveis
Emérito comenta que as homilias de Crisóstomo se a Jesus Cristo. Guarda o precioso depósito, pela vir- do contestada; o Corpo Místico de Cristo continua de graças. A força dos martírios, a exemplo do de
desenvolviam entre dois polos: “a grande Igreja e a tude do Espírito que habita em nós.” (II Tm 1, 13- convivendo com o joio, o qual cresce junto ao trigo. Santo Estevão, brota da força do sacrifício de Jesus
pequena Igreja, a família, em relação recíproca.”. E 14). No rodapé da Bíblia “Ave-maria”, há o seguinte na cruz.
Jesus se referiu à mesma realidade acima usan-
BENTO XVI concluiu: “... esta lição de Crisóstomo so- comentário sobre o versículo 14: “Precioso depósi- do outras figuras: o Bom Pastor e o ladrão. Em João São inúmeros os martírios, e profunda a rela-
bre a presença autenticamente cristã dos fieis na fa- to: a fé e a tradição dos apóstolos.” 10, veja que o discurso de Jesus começa, na verda- ção deles com a defesa da Sagrada Tradição. Aqui
mília e na sociedade é hoje mais atual que nunca...” É compreensível, portanto, que tão logo sur- de, pela apresentação do ladrão: “... quem não entra será citado um único exemplo, para despertar nosso
(BENTO XVI, 2012). Outro testemunho: Santa Teresa gissem os primeiros desvios desta sã doutrina dos pela porta no aprisco das ovelhas... é ladrão e sal- interesse pelo estudo: “Inácio foi enviado a Roma
valorizava a leitura das obras de São Jerônimo e de apóstolos, os mesmos se pusessem a exortar as co- teador.” (João 10, 1). Este capítulo frequentemente para ser lançado às feras, por causa do testemu-
Santo Agostinho (BOGAS et al., 2011). São Jerônimo munidades, inflamados de zelo. Mais compreensível é refletido do ponto de vista das características do nho por ele dado a Cristo. Realizando a sua viagem
morreu em 420, e durante 34 anos, fez a revisão da ainda é o zelo que a Igreja, após a sucessão dos pri- Bom Pastor: “... expõe a sua vida pelas ovelhas...” através da Ásia, sob a vigilância severa dos guardas,
versão latina da Bíblia (vulgata), por ordem do Papa meiros apóstolos, teve em conservar este tesouro (João 10, 11b); “...Conheço as minhas ovelhas...” nas várias cidades por onde passava, com prega-
São Dâmaso (AQUINO, 2009). doutrinal: os sucessores dos apóstolos foram infla- (João 10, 14b). Mas olhemos do ponto de vista da ções e admoestações, ia consolidando as Igrejas;
É fundamental que reconheçamos as origens mados pelo Espírito para conservar incorruptas as sequência do texto bíblico: Jesus põe em relevo a sobretudo exortava, muito fervorosamente, a evitar
bíblicas da Sagrada Tradição no próprio nascimen- verdades transmitidas pelos apóstolos, pois foram figura do ladrão (João 10,1), para depois falar das as heresias, que na época começavam a pulular e
to da Igreja! Jesus conviveu intensamente com os eles que conviveram diretamente com Jesus. E as- características do verdadeiro Pastor. Há aí um alerta recomendava que não se separassem da tradição
apóstolos, quando os preparou para continuarem sim, a Igreja valoriza a realidade da sucessão apos- claro: As ovelhas de todos os tempos também iriam apostólica.” (Eusébio de Cesaréia – historiador do
a Sua obra de evangelização. Os apóstolos foram tólica, pois aos sucessores das diferentes gerações conviver com ladrões! Vemos, por acaso, o anúncio IV século, citado em Bento XVI, 2012)
obedientes e esperaram o cumprimento da promes- foi dado um dom especial pelo Espírito para que de um “Congresso dos ladrões”, no qual esta classe Desta forma, podemos afirmar que, ainda
sa; portanto receberam o Espírito Santo. Temos o compreendessem e transmitissem com fidelidade se propôs a discutir melhorias em nossas vidas? Por que existam fortíssimas confusões doutrinárias, não
registro histórico da primeira pregação após Pente- as verdades reveladas. É também verdade o fato do acaso os ladrões andam pelas ruas com crachás de é a Igreja que as propõe, e, além disso: A Verdade,
costes, a qual foi feita pelo primeiro Papa, São Pedro Espírito inspirar cada cristão individualmente. Uma identificação, nos quais é possível reconhecer que apresentada pela Igreja de todos os tempos, é in-
(Atos 2, 14-36). Deste fato histórico já compreende- realidade não exclui a outra. O cristão, também in- eles são ladrões, da mesma forma que alguns padres finitamente mais poderosa do que qualquer nega-
mos que existe uma hierarquia na evangelização: o dividualmente, é chamado a aprofundar a compre- podem ser identificados pelo uso do “clergyman”? ção dos elementos da Sagrada Tradição. Podemos
impulso evangelizador e missionário da Igreja após ensão da Revelação, e este aprofundamento, para A verdade é que os ladrões agem no silêncio, são ar- confiar em Jesus que prometeu sobre a Igreja: “...
pentecostes nasceu pelas palavras do Primeiro ser verdadeiro, deve estar de acordo com o que é dilosos e observadores. Muito frequentemente, se as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”
Papa, e não por qualquer outro discípulo. Logo a se- proveniente da Tradição Apostólica. instalam dentro do sistema para conhecê-lo, antes (Mateus 16, 18b).

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2. CONCLUSÃO
A Verdade é, pois Deus disse: “Eu sou Aquele
que sou.” (Êxodo 3, 14b), e “No princípio era o Ver- CAPÍTULO 6
bo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era
Deus.” (João 1, 1). As ondas de graça que brotam da
Verdade, as quais são o “rio de água viva” da Sagra-
da Tradição, são invencíveis. As ondas poderosíssi-
O Sagrado Magistério da Igreja
mas de graça da Sagrada Tradição nos atingem por
meio dos martírios, pelos documentos riquíssimos
que nossa Igreja produziu durante os Concílios,
pelas Cartas Encíclicas dos Santos Padres, pelos
escritos dos fiéis consagrados e leigos de todas as
épocas, e em especial, dos primeiros séculos, etc. 1. INTRODUÇÃO
Não podemos reclamar de falta de socorro e muito
menos de descaracterização do depósito da fé ao
longo dos séculos; não podemos esmorecer sim-
plesmente porque vivemos em tempos difíceis para Ler, conhecer, aprofundar-se e mesmo orar
a fé cristã, ou dizendo nas palavras de BENTO XVI: com os Documentos do Sagrado Magistério da Igre-
“tempos de forte cristofobia”. ja é algo necessário e salutar para todo cristão cató- Apóstolos que tem por Cabeça o Papa (sucessor de
lico. Não há dúvidas de que no Sagrado Magistério Pedro) e tem a missão de ensinar em continuidade
está a Palavra viva de Deus, está também a Sagrada a doutrina dos Apóstolos, na qual a Igreja persevera
Tradição da Igreja, que juntos formam um entrela- (cf. At. 2, 42) até que Cristo venha pela segunda vez.
çamento perfeito a que a própria Igreja denomina
Revelação Pública, isto é, tudo aquilo que Jesus veio Neste sentido, o Catecismo da Igreja Católica
nos revelar acerca do Pai e de seu Reino, não haven- nos ensina que “para que o Evangelho sempre se
do mais nada a ser dito ou revelado. conservasse inalterado e vivo na Igreja, os após-
PROPOSTA DE DINÂMICA tolos deixaram como sucessores os bispos, a eles
Portanto, fica claro que a Revelação Pública ‘transmitindo seu próprio encargo de Magistério”
trazida por Jesus não se encontra somente nas Sa- (Catec. 77) e que “o Magistério da Igreja empenha
gradas Escrituras e tampouco na Sagrada Tradição plenamente a autoridade que recebeu de Cristo
A.Partilhe sobre a importância das tradi-
ou somente nestas duas, mas o Sagrado Magistério quando define dogmas, isto é, quando, utilizando
ções familiares na formação do ser huma-
da Igreja é com as duas primeiras, fonte precisa des- uma forma que obriga o povo cristão a uma adesão
no e do aprendizado transmitido de pai ta Revelação, não podendo ser ignorado ou relega- irrevogável de fé, propõe verdades contidas na Re-
para filho. do a segundo plano pelos católicos. velação divina ou verdades que com estas têm uma
A Igreja é a fiel depositária dos tesouros de conexão necessária” (Catec. 88).
Deus, da sã doutrina de Cristo (cf. II Tm. 1, 13-14) Nosso Catecismo ainda nos ensina que “o en-
e como tal tem a missão de transmiti-la fielmente à cargo de interpretar autenticamente a Palavra de
humanidade. Um dos maiores títulos dados à Igreja Deus, escrita ou contida na Tradição, foi confiado
foi aquele recordado pelo Papa João XXIII: “Mater só ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade é
et Magistra” (Mãe e Mestra). Mãe que vela por seus exercida em nome de Jesus Cristo, isto é, aos bispos
filhos para que não se machuquem e Mestra que en- em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de
sina, exorta, mostra o caminho, inspira confiança e Roma. Todavia, este Magistério não está acima da
segurança na longa caminhada. Ensina-nos por seu Palavra de Deus, mas sim ao seu serviço, ensinando
Magistério, cuida de nós como uma mãe solícita que apenas o que foi transmitido, enquanto, por man-
se ocupa da caminhada de seus filhos. dato divino e com a assistência do Espírito Santo, a
ouve piamente, a guarda religiosamente e a expõe
2. DESENVOLVIMENTO fielmente, haurindo deste depósito único da fé tudo
quanto propõe à fé como divinamente revelado. Os
fiéis, lembrando-se da palavra de Cristo aos Apósto-
A grande garantia da unidade e continuida- los: ‘Quem vos escuta escuta-me a Mim’ (Lc 10, 16),
de da Igreja Católica ao longo dos séculos é a sua recebem com docilidade os ensinamentos e as dire-
apostolicidade, isto é, a sucessão apostólica. Os trizes que os seus pastores lhes dão, sob diferentes
Apóstolos de Jesus Cristo ordenaram Bispos, seus formas” (Catec. 85, 86 e 87).
legítimos sucessores, para que a Igreja cumprisse a São Jerônimo (autor da Tradução da Vulgata)
missão que o Mestre lhes confiou: guardar o precio- ensinava que não se podia ler as Escrituras de for-
so depósito da fé e ensinar a sã doutrina da Salva- ma livre, mas obedecendo antes de tudo ao Magis-
ção a todos os povos, pregando o Evangelho a toda tério da Igreja. Nosso querido Papa Emérito Bento
a criatura. Sobre nossos Bispos então, recai a auto- XVI, recordando tal santo, assim se manifestou na
ridade dos Apóstolos. Eles compõem o Colégio dos Audiência Geral de 14.11.2007: “Para Jerônimo

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

um critério fundamental de método na interpreta- O teólogo católico Andrés Torres Queiruga en- seu rigor e com todo o seu vigor. Atraiçoar em qual-
ção das Escrituras era a sintonia com o magistério sina que “a Igreja Católica ‘não tira só da Sagrada Breve Papal – documento curto e não solene, quer ponto a integridade da mensagem é esvaziar
da Igreja. Nunca podemos sozinhos ler a Escritura. Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas trata de questões privadas como a autorização para a própria catequese... Assim a nenhum catequista
Encontramos demasiadas portas fechadas e facil- reveladas’ (DV 9), querendo isto dizer que as Tradi- uso de oratório doméstico com a Eucaristia, autori- verdadeiro é lícito fazer, por seu próprio arbítrio,
mente caímos no erro. A Bíblia foi escrita pelo Povo ções oral e escrita ‘devem ser recebidas e veneradas zação para vender bens da Igreja, dispensa de irre- uma seleção no depósito da fé, entre aquilo que
de Deus e para o Povo de Deus, sob a inspiração do com igual espírito de piedade e reverência’... Além gularidades de direito canônico. considere importante e rejeitar o resto” (Catechesi
Espírito Santo. Só nesta comunhão com o Povo de disso, o Magistério da Igreja, ao meditar e estudar Tradendae, 30).
Deus podemos realmente entrar com o ‘nós’ no nú- a imutável Revelação divina, apercebeu-se pro- Documentos Sinodais – Sejam de Conselhos
cleo da verdade que o próprio Deus nos quer dizer. gressivamente de certas realidades reveladas que Episcopais Continentais (exemplo: CELAM – Con-
Para ele uma interpretação autêntica da Bíblia devia
estar sempre em concordância harmoniosa com a fé
antes não se tinha apercebido explicitamente, con-
tribuindo assim para um gradual desenvolvimento
selho Episcopal Latino-americano – Documento de
Puebla, de Santo Domingo, de Medellín, de Apare- 3. CONCLUSÃO
da Igreja católica. (…) Em particular, dado que Jesus da doutrina católica, que se vai aperfeiçoando ao cida) ou de Conferências Episcopais Nacionais (Ex.: Dúvidas não há de que o Sagrado Magistério
Cristo fundou a sua Igreja sobre Pedro, cada cristão longo dos séculos.” Esse ensinamento é bastante CNBB) da Igreja constitui uma inesgotável fonte de graça
concluía ele deve estar em comunhão ‘com a Cáte- interessante, pois retrata bem a função do Sagrado Tipos de Documentos do Magistério Extraordi- e de Revelação, juntamente com a Sagrada Escritu-
dra de São Pedro. Eu sei que sobre esta pedra está Magistério: o gradual desenvolvimento da doutrina nário: ra e a Sagrada Tradição, em pé de igualdade. Como
edificada a Igreja’ (Ep. 15, 2). Consequentemente, católica, que é imutável de acordo com a Revelação católicos, é nosso direito bebermos dessa fonte de
A Igreja passou por 21 Concílios Ecumênicos, água sempre pura continuamente, mas também
sem meios-termos, declarava: ‘Eu estou com todo Divina, mas cuja amplitude e perfeição é descorti-
dentre os quais os de maior relevância foram o de constitui nosso dever a veneração e reverência ao
aquele que estiver na Cátedra de São Pedro’ (Ep. nada mais e mais a partir do “mergulho” contínuo
Nicéia I e Constantinopla que geraram o Grande Sagrado Magistério da Igreja, como nos exorta o Ca-
16)”. E confirma ainda mais a autoridade da Igreja nas verdades reveladas.
Credo (Credo Nicenoconstantinopolitano – que será tecismo da Igreja Católica: “A Lei de Deus, confiada
Católica quando diz: “No verdadeiro Evangelho eu
estudado nos próximos capítulos); Trento que de-
não creria, se a isso não me movesse a autoridade 2. Tipos de Magistério à Igreja, é ensinada aos fieis como caminho de vida
clarou a Vulgata isenta de erros teológicos, além de e de verdade. Os fieis tem, portanto, o direito de se-
da Igreja Católica”.
- Ordinário: exercido continuamente pelos produzir o maior volume de documentos dogmáti- rem instruídos sobre os preceitos divinos salvíficos
Portanto, o Sagrado Magistério da Igreja retra- bispos em colegiado e pelo Papa através de Docu- cos (a respeito de fé e moral), Vaticano I que definiu que purificam o juízo e, com a graça, curam a razão
ta a função de ensinar que é própria da autoridade mentos de diversos tipos. Deve ser reverenciado muitas questões doutrinárias da Igreja produzindo humana ferida. E tem o dever de observar as cons-
da Igreja, na pessoa do Papa e dos Bispos em comu- pelos fieis. Tal magistério torna-se infalível quando um grande volume de Documentos e Vaticano II que tituições e decretos emanados da autoridade legí-
nhão com ele, e que, por isso, deve ser conhecido, o Colégio Episcopal e o Papa concordarem e emiti- foi uma verdadeira reabertura e exposição da Igreja tima da Igreja. Mesmo que sejam disciplinares, tais
observado e aplicado por todos os católicos, sem rem sentença definitiva sobre fé e moral aplicável a à luz do Sol. Eis as principais modalidades de Docu- determinações requerem docilidade na caridade”
exceção. toda a Igreja. mentos Conciliares: (Catec. 2037).
Decreto – propõe caminhos, modos, emite
1. Funções do Sagrado Magistério - Extraordinário: exercido somente em situa-
ções pontuais e necessárias pelo Papa ou por todo princípios, mostra pontos principais. Ex: Decreto
Ensina-nos o Catecismo que “a missão do Ma- o episcopado reunido em torno do Papa, num Con- Ad Gentes (Sobre a atividade missionária da Igreja);
gistério está ligada ao caráter definitivo da Alian- cílio Ecumênico. Tem o caráter de infalibilidade. (cf. Decreto Apostolicam Actuositatem (sobre o aposto-
ça instaurada por Deus em Cristo com o seu povo. Lumen Gentium, 25) lado dos leigos).
Deve protegê-lo dos desvios e falhas, e garantir-lhe Constituição – forma jurídica com o fim de pro-
Tipos de Documentos do Magistério Ordinário:
PROPOSTA DE DINÂMICA
a possibilidade objetiva de professar, sem erro, a por verdades, disciplinas, doutrinas novas. Exprime
fé autêntica. O múnus pastoral do Magistério está, Bula Papal ou Carta Apostólica – nome dado relacionamentos da Igreja com o mundo e as pesso- A. Criar um cronograma de leitura e meditação
assim, ordenado a velar por que o povo de Deus a uma constituição apostólica relativa a assuntos as. Pode ser Dogmática quando propõe verdades de de Documentos do Sagrado Magistério da Igreja,
permaneça na verdade que liberta” (Catec. 890). novos e solenemente importantes: criação de uma fé e doutrinas novas (Lumen Gentium, Dei Verbum) como por exemplo:
Já vimos também que o Magistério tem o ofício de diocese, definição de um Dogma, proclamação de ou Pastoral quando propõe disciplinas pastorais
interpretar autenticamente a Palavra de Deus e a um Ato Solene. Exemplos: Bula Munificentissimus (Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo de hoje). MÊS 1 à 1ª Parte do Catecismo – pará-
Tradição da Igreja. Já a Constituição Dogmática Dei Deus, de 1950, por meio da qual Pio XII definiu o Declaração – emite um juízo certo sobre deter- grafos de 1 a 421
Verbum (sobre a Revelação Divina), do Concílio Va- Dogma da Assunção de Maria; Carta Apostólica Por- minado problema (Declaração Dignitatis Humanae
ticano II, nos ensina que “a Igreja não tira só da Sa- MÊS 2 à 1ª Parte do Catecismo – pará-
ta Fidei, por meio da qual Bento XVI proclamou o que emite juízo sobre a Liberdade Religiosa; Decla-
grada Escritura a sua certeza a respeito de todas as grafos de 422 a 747
Ano da Fé, por ocasião do cinquentenário de aber- ração Nostra Aetate, sobre as relações da Igreja com
coisas reveladas” (DV. 9). tura do Concílio Vaticano II. as Religiões não-cristãs) MÊS 3 à 1ª Parte do Catecismo – pará-
Desta forma, podemos sem medo de errar de- Encíclica – Ensino por carta circular dirigida a Importante é ressaltar que todo esse depósito grafos de 748 a 1050
finir um pequeno quadro que retrata minimamente toda a Igreja, acerca de um assunto social relevante de fé está à nossa disposição para nos edificar inte-
algumas funções essenciais do Sagrado Magistério MÊS 4 à Constituição Dogmática Dei
para os católicos. Ex: Rerum Novarum, do Papa Leão riormente e nos dar a razão da nossa fé e esperança;
da Igreja: Discernir e ensinar o caminho do Verbum (CV II)
XIII, acerca da postura social da Igreja; Fides et Ra- para nos capacitar para o mais arrojado apostolado
Senhor para a Igreja; tio, do Papa João Paulo II; Deus Caritas Est, do Papa com audácia apostólica e combatividade profética; MÊS 5 à Constituição Dogmática Lumen
Dirimir dúvidas pastorais e de fé; Bento XVI; Lumen Fidei, do Papa Francisco. para fundamentar e atestar aquilo que ensinamos Gentium (CV II)
Exortação Apostólica – geralmente emitida às nossas ovelhas; para ser o nosso balizador, ou
Interpretar autenticamente a Pa- MÊS 6 à Decreto Apostolicam Actuosita-
Funções do após um Sínodo dos Bispos (reunião de reflexão), seja, para ser o nosso “norte”, o nosso padrão de
lavra de Deus e evitar desvios e tem (CV II)
Magistério: com o intuito de exortar a ação pastoral de toda a ensino. Nesse sentido, o Papa João Paulo II já nos
subjetividades;
Igreja ou de uma parcela dela. Ex.: Evangelli Nun- admoestava na Exortação Apostólica Catechesi Tra-
Definir doutrina à luz da autori- dendae: “Para ser verdadeira a oblação da fé, aque- MÊS 7 à Constituição Pastoral Gaudium
tiandi (sobre o anúncio do Evangelho), do Papa Pau- et Spes (CV II)
dade dada por Cristo aos Sagrados lo VI, Verbum Domini (sobre a Palavra de Deus), do les que se tornam discípulos de Cristo têm o direito
Pastores; Papa Bento XVI. de receber a palavra da fé não mutilada, falsificada
Exortar acerca da ação pastoral. ou diminuída, mas sim plena e integral, com todo o
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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

MÊS 8 à Decreto Ad Gentes (CV II)

MÊS 9 à Exortação Apostólica Evangelli


Nuntiandi (Papa Paulo VI) CAPÍTULO 7
MÊS 10 à Encíclica Redemptoris Missio
(Papa João Paulo VI)

MÊS 11 à Encíclica Deus Caritas Est


CREDO – Símbolo da Fé
(Papa Bento XVI) Parte I
MÊS 12 à Exortação Apostólica Verbum
Domini (Papa Bento XVI)

MÊS 13 à Encíclica Lumen Fidei (Papa


Francisco)

1. INTRODUÇÃO
OBS.: pode-se também dividir o grupo de acor-
do com o número de Documentos escolhido e cada
um lê e medita no Documento que lhe couber, fa-
zendo um pequeno resumo e partilhando com os
irmãos nas próximas reuniões. Deus, em seu infinito amor, deseja ir ao en- Para falar do Credo, precisamos conhecê-lo
contro do homem. Por isso ao criá-lo à sua ima- pelo nome, ou melhor, pelos nomes que ele possui.
gem, dá por vocação ao homem o anseio de Ele recebeu o nome de Credo devido à primeira pa-
conhecê-Lo e amá-Lo. É nesta perspectiva de en- lavra que o inicia: Creio. Mas ele também é conhe-
contro, desejado e ansiado, que mergulharemos cido por Profissão de fé por resumir a fé que os cris-
no Símbolo da nossa fé católica, que é o Credo, tãos professam, onde professar significa reconhecer
uma vez que este nos dá a oportunidade de, como publicamente, abraçar, adotar, aderir. E também co-
homens e mulheres criados por Deus, respon- nhecido por Símbolo da fé por possuir a coletânea
der a esse chamado de amor. É conhecendo mais das principais verdades da fé.
profundamente o nosso Deus, que poderemos Independentemente do nome, a Igreja reuniu
amá-Lo ainda mais e de maneira mais perfeita. o “essencial de sua fé em resumos orgânicos e ar-
Como o assunto é vasto não podemos esgo- ticulados” (Catec 186), ou seja, em sínteses que em
tá-lo em um só encontro. Serão necessários seis sua totalidade formam a doutrina da fé. O Símbolo
encontros para que possamos mergulhar em Deus. está dividido em três partes relacionadas à San-
Peçamos ao Espírito Santo, que possamos sair deste tíssima Trindade. Assim são tratadas: da “primeira
módulo, completamente encharcados e apaixona- Pessoa divina e da obra admirável da criação; em
dos por nosso Deus e por sua Igreja. seguida, da segunda Pessoa divina e do Mistério da
Neste primeiro encontro iremos nos alicerçar Redenção dos homens, e finalmente da terceira Pes-
na rocha firme, a fim de construir o edifício espiri- soa divina, fonte e princípio de nossa santificação”
tual que nos auxiliará a responder ao chamado de (Catec 190).
Deus. Para isso aprofundaremos no conhecimento Muitos são os Símbolos da fé, porém dois de-
do Credo. Que o Espírito Santo possa nos abrir ao les tem lugar de destaque na vida da Igreja. O Sím-
dom da inteligência que nos auxilia a compreender bolo dos Apóstolos, que recebeu esse nome por ser
as verdades reveladas. considerado o resumo fiel da fé dos apóstolos, e o
Símbolo Niceno-constantinopolitano, que tem sua
autoridade pautada no resultado de dois Concílios
2. DESENVOLVIMENTO Ecumênicos (325 – Concílio de Niceia I e 381 – Con-
cílio de Constantinopla I). Ambos professados por
Este encontro com Deus se dará através da nós nas Santas Missas, sendo mais comum o dos
Igreja, que nos orienta a como buscar o conheci- Apóstolos. O outro é professado nas principais so-
mento de Deus. Certa vez um padre disse que a voz lenidades litúrgicas como, por exemplo: Natal e Ma-
de Deus para a criança é a voz de seus pais, e que ria – mãe de Deus.
a voz de Deus aos adultos é a voz da Igreja. Como “Recitar com fé o Credo é entrar em comunhão
adultos, ouçamos a Igreja através do Catecismo da com Deus Pai, Filho e Espírito Santo. É também
Igreja Católica e de todo o Sagrado Magistério onde entrar em comunhão com a Igreja inteira, que nos
estão reunidos os ensinos da doutrina católica. transmite a fé” (Catec 197).

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

1. No coração do homem está gravado lizados, fez para si um bezerro de ouro para adorar.
o desejo de Deus E Deus lhes deu em troca os dez mandamentos para
guiar o proceder do povo a fim de que possa viver
na felicidade. Conduziu-os a terra prometida e lá ti-
Os homens nascem, crescem, relacionam-se veram reis que conquistaram vitórias sobre os que
entre si. Aprendem uns com os outros e geram ami- se colocavam contra eles. Pelos profetas, falou-lhes
zades verdadeiras. Mas como o coração do homem ao coração com palavras de esperança e da reali-
foi feito para o infinito, essas experiências não são zação de uma nova Aliança. Mesmo quando caíram
suficientes para satisfazê-los completamente e por nas mãos dos opressores, deu-lhes livramento e en-
causa disso ele procura Deus. Santo Agostinho vai sinou-lhes que não há felicidade longe de Deus.
dizer: “Senhor, criaste-nos para Ti e o nosso coração
vive inquieto enquanto não repousar em Ti” (Con- Mas, como visto em capítulos anteriores, é
fissões 1,1). em Jesus que essa revelação se torna completa. Ao
dizer: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9b), Ele nos
Deus criou o homem com a capacidade de re- mostra que ao se revelar, o próprio Deus se revela
lacionar-se com Ele, de buscá-Lo, de querer estar ao mundo. Com seu comportamento, pensamento,
com seu Criador, e de poder reconhecer a Sua obra, palavras, o nosso Deus se mostra de forma concreta,
na qual está refletido. “As faculdades do homem sem necessidade de mediadores. Em Jesus vemos
o tornam capaz de conhecer a existência de Deus um Deus amoroso que entrega o próprio Filho por
pessoal. Mas, para que o homem possa entrar em amor ao homem. Um Deus misericordioso, que vai
sua intimidade, Deus quis revelar-se ao homem e ao encontro e acolhe os necessitados. Um Deus po-
dar-lhe a graça de poder receber esta revelação na deroso que faz prodígios e milagres. Jesus aproxi-
fé. Contudo, as provas da existência de Deus podem ma Deus do homem ao revelá-lo como Pai. Um Pai
dispor à fé e ajudar a ver que a fé não se opõe à próximo, terno, amoroso que quer se fazer presente
razão humana. A Santa Igreja, nossa mãe, sustenta e na história do homem. Ele nos ensina a chamá-lo de
ensina que Deus, princípio e fim de todas as coisas, “Aba” – papaizinho.
pode ser conhecido com certeza pela luz natural da
razão, a partir das coisas criadas. Sem essa capaci- Jesus, o Verbo, “é a Palavra única, perfeita e in-
dade, o homem não poderia acolher a revelação de superável do Pai. Nele o Pai disse tudo, e não haverá
Deus. O homem tem esta capacidade, por ser criado outra palavra senão esta” (Catec 65). Jesus ao reali-
‘a imagem de Deus’” (Catec 35-36). zar a Aliança nova e definitiva, encerra as revelações
públicas até sua volta. Deus permite revelações pri-
vadas, que auxiliam a viver a Revelação definitiva
2. Deus se revela a nós em sua plenitude. Elas não podem ultrapassar ou
corrigir a Revelação da qual Cristo é a perfeição.
Assim como o coração do homem tem desejo Para que a salvação chegue a todos, Jesus Cris-
de estar com seu Deus, do mesmo modo o coração to deve ser anunciado a todos os povos e nações. Os
de Deus deseja o homem ao seu lado, caminhando apóstolos são escolhidos para a missão de pregar o
com Ele. Por isso, Deus está sempre disponível para Evangelho e comunicar os dons de Deus pelo pró-
os que o buscam. “Aprouve a Deus, na sua bondade prio Jesus: “Ide por todo mundo e pregai o evange-
e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer lho a toda criatura. Quem crer e for batizado será sal-
o mistério da sua vontade” (DV 2). vo, mas quem não crer será condenado” (Mc 16, 15).
Podemos professar nossa fé, pois Deus quis se A mensagem de salvação tem por fontes a Tra-
revelar. E essa Revelação tem início na criação, pois dição e a Sagrada Escritura. A primeira garante que
criando cada coisa com o poder de sua Palavra, Ele a mensagem não será alterada e será conservada
se manifesta ao homem. Este é inclinado ao peca- até a segunda vinda de Jesus. Pela Sagrada Escritu-
do e afasta-se do Criador, porém Deus é fiel e não ra, Deus vem “carinhosamente ao encontro de seus
se esconde e nem se cala, providencia vestes ao filhos e com eles fala” (Catec 104), pois nela estão
homem e promete a vinde do Salvador. Disposto a as verdades de Deus, que pela ação do Espírito San-
continuar a amizade com o homem, Deus faz alian- to inspirou homens e mulheres a escrever o que
ça com ele. Primeiramente com Noé e depois com Deus queria. No Antigo Testamento Deus se revela
Abraão, que ganha este nome, pois se tornaria o pai e prepara a primeira vinda de Jesus. Seus livros dão
de uma multidão de nações. testemunho da “divina pedagogia do amor salvífico
Passando pela história dos patriarcas, Deus de Deus” (Catec 122). O Novo Testamento traz a ver-
formou um povo, Israel. Ele o tirou do Egito, do dade definitiva da Revelação. “Seu objeto central é
tempo da escravidão, fazendo-os atravessar o mar Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado, seus atos,
Vermelho. No deserto, deu-lhe o maná para comer ensinamentos, paixão e glorificação, assim como os
e água potável para beber. A cada ação, Deus foi se inícios de sua Igreja sob a ação do Espírito Santo”
revelando, foi falando de si. Porém o povo era mur- (Catec 124).
murador e impaciente, e seu coração fechou-se a fé
no Deus de seus pais. Esquecendo os prodígios rea-

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3. CONCLUSÃO

CREDO - Símbolo da Fé
Visto que recebemos a capacidade de conhe-
cer nosso Deus e que Ele deseja se revelar a nós.
Para esse encontro temos a Igreja e a Sagrada Es-
critura para nos guiar e apresentar quem é verda- Parte II
deiramente Deus. Nelas podemos ao conhecê-Lo,
seguramente nos achegar até Ele no nosso dia-a- Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e
dia, para que Deus nos dê força e vigor para viver da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis
segundo sua vontade.

1. INTRODUÇÃO

Neste encontro começaremos a construir nos- minha adesão pessoal e assentimento a toda verda-
so edifício espiritual adentrando nas verdades de de revelada. Neste sentido, Bento XVI em sua Carta
fé, procurando desenvolver o que é mais impor- Apostólica afirma que “a fé é decidir estar com o Se-
tante para o crescimento de nossa comunhão com nhor, para viver com Ele” (Porta Fidei, n.10).
Deus e com a Igreja. Utilizaremos o Símbolo nice-
A fé é ainda “companheira de vida, que permi-
no-constantinopolitano, porém ao longo dos en-
te perceber, com um olhar sempre novo, as mara-
contros, traremos particularidades do Símbolo dos
vilhas que Deus realiza em nós” (Porta Fidei, n.15).
Apóstolos que são importantes nesta construção
Ela não engessa nosso olhar diante das promessas
de conhecimento. Para isso teremos como fontes: o
de Deus e nem permite que desistamos no meio
Catecismo da Igreja Católica, a Sagrada Escritura e a
do caminho. Ela nos faz firmes para irmos adiante,
Carta Apostólica Porta Fidei do Papa Bento XVI.
mesmo em meio às adversidades. A fé não necessi-
Iniciaremos falando do que é crer e como a fé ta de fatos, pois por ela tomamos posse antecipada
se manifesta em nossa vida, para então vermos em daquilo que esperamos. Crer é “uma certeza a res-
quem cremos: um Deus único que se manifesta em peito do que não se vê” (Hb 11,1).
três pessoas distintas. Ele é todo-poderoso, pois não
Tomemos dois exemplos de pessoas que se
há impossível para ele, mas também é Pai e por isso
submeteram inteiramente ao Senhor e confiaram
vem ao encontro de seus filhos. Um Deus que criou
em sua palavra. O primeiro é Abraão que pela fé em
o mundo visível e invisível como projeto de amor.
Deus largou toda a sua segurança para caminhar
errante pelo mundo a procura da terra prometida.
2. DESENVOVIMENTO Sem filhos e com idade avançada acreditou que se-
ria pai de nações e tornou-se pai de todos os que
haveriam de crer (Rm 4, 11-12). Pela fé ainda, levou
Este encontro vem nos trazer a primeira sínte- seu filho para o holocausto a Deus e não eximiu-se
se da nossa fé, iniciemos pela fé que nos permite de levantar sobre ele sua faca, mas o Deus fiel parou
aderir ao que Deus vai revelando de si ao homem sua ação e deu-lhe um cordeiro para ser sacrificado.
que tanto ama. Ele se apresenta para ter intimidade Maria é o outro exemplo, que crendo na pro-
conosco, para fazer parte de nossa vida. messa do salvador, acolheu o anuncio do anjo, pois
sabia que nada era impossível para Deus. Assentiu
2.1. Creio... O que é crer? dizendo “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em
mim segundo tua palavra” (Lc 1, 38). Ela não deixou
de crer no cumprimento da palavra nem diante da
Segundo o Catecismo da Igreja Católica (142 e morte de seu filho. Enquanto Abraão é o modelo de
144) crer é a resposta adequada ao convite de co- obediência de fé, Maria é sua mais perfeita realiza-
munhão com Deus, onde o homem se submete in- ção (cf Catec 144).
teiramente, inteligência e vontade, a Ele. Pela obe-
diência, o homem se submete livremente a palavra A fé tem por característica ser uma graça, uma
ouvida, ou seja, a Revelação, visto que sua verdade virtude sobrenatural e um ato humano. Ao nos criar
é garantida por Deus. com capacidade de conhecê-lo, Deus nos deu o dom
da fé, onde Ele nos move para cremos nas coisas
A profissão de fé é feita na primeira pessoa criadas e nas palavras reveladas. Pela graça de Deus,
do singular: creio, pois é um ato pessoal, fruto da cremos como Abraão, contra toda esperança e como

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Maria, que acreditou na Palavra de Deus que permi- 2.2. Cremos em um só Deus Crer em um único Deus nos possibilita: co- ao Pai, isto é, que ele é no Pai e com o Pai o mes-
tiu que o sobrenatural acontecesse. Essa fé nos abre nhecer a grandeza e majestade de Deus; viver em mo Deus único. A missão do Espírito Santo, enviado
para a certeza do cumprimento da promessa de ação de graças, já que tudo que somos e temos vem pelo Pai em nome do Filho e pelo Filho ‘de junto do
Deus se revela como Único: “Ouve, ó Israel: o
Deus, mesmo quando não há indícios de seus acon- dele; conhecer a unidade e a verdadeira dignidade Pai’ (Jo 15,26), revela que o Espírito é com eles o
Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Se-
tecimentos ou quando tudo parece na contramão da dos homens, feito a Imagem e Semelhança de Deus; mesmo Deus único. ‘Com o Pai e o Filho é adorado e
nhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua
promessa. Ela nos torna firmes para entrarmos na usar corretamente as coisas criadas, usufruindo na glorificado’” (Catec 262 – 263).
alma e de todas as tuas forças.” (Dt 6, 4-5); “Volvei-
terra prometida, na vitória de Deus em nossa vida. medida em que me aproximam de Deus e desape- São Gregório de Nazianzeno transmite a seus
vos para mim, e sereis salvos, todos os confins da
Também no-la deu como virtude para que possamos gando na medida em que me afastam dele, e confiar catecúmenos: “Dou-vos uma só Divindade e Poder,
terra, porque eu sou Deus e sou o único” (Is 45, 22).
crer através de “auxílios internos do Espírito Santo, em Deus em qualquer circunstância, mesmo na ad- que existe Uma nos Três, e que contém os Três de
que move o coração e o converte a Deus, abre os Ele revela seu nome e desvendar o nome é versidade (Catec 222-227). maneira distinta. Divindade sem diferença de subs-
olhos da mente e dá a todos suavidade no consentir deixar-se conhecer, é entregar-se, tornar-se aces-
“Cremos e afirmamos simplesmente que há tância ou de natureza, sem grau superior que eleve
e crer na verdade” (Catec 153). sível. Ao chamar Moisés do meio da sarça, Deus se
um só verdadeiro Deus eterno, imenso e imutável, ou grau inferior que rebaixe... A infinita conaturali-
apresenta: “Eu sou, ajuntou ele, o Deus de teu pai,
Por fim, fomos dotados de capacidade para incompreensível, todo poderoso e inefável, Pai, Fi- dade é de Três infinitos. Cada um considerado em si
o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó”
crer através de nossa inteligência e aderir por nossa lho e Espírito Santo: Três Pessoas, mas uma Essên- mesmo é Deus todo inteiro... Deus os Três conside-
(Ex 3, 6). Deus atrai Moisés, por ser fiel e compassi-
vontade. Primeiramente é preciso esclarecer que cia, uma Sustância ou Natureza absolutamente sim- rados juntos” (Catec 256).
vo, ele não esqueceu seu povo nem suas promessas,
não cremos porque pela razão a Revelação pare- ples” (Catec 202). Todo o plano divino é obra das três pessoas
vem para libertar seus descendentes da escravidão
ce coerente, mas devido a “autoridade Deus que divinas, contudo cada uma cumpre a obra segundo
do Egito. Moisés perguntou seu nome e Ele respon-
revela e que não pode enganar-se e enganar-nos”
(Catec 156). Deus dá provas exteriores de sua Reve-
deu “EU SOU AQUELE QUE SOU”, “EU SOU”, o nome
para sempre, Iahweh - “Javé” (cf Ex 3, 13 – 15).
3. Deus é Pai sua propriedade pessoal. São as missões divinas da
encarnação do Filho e do dom do Espírito Santo que
lação. “Por isso, os milagres de Cristo e dos santos, manifestam as propriedades das pessoas.
as profecias, a propagação e a santidade da Igreja, Ele é o Deus do presente (Eu sou), que está
sua fecundidade e estabilidade ‘constituem sinais sempre junto ao povo para salvá-lo; o Deus do pas- Para falar de Deus como Pai, precisamos aden- Toda a vida cristã é comunhão com cada uma
certíssimos da Revelação, adaptados à inteligência sado “sou o Deus de vossos pais” (Ex 3, 6), e o Deus trar no mistério da Santíssima Trindade. A Trindade das pessoas divinas, sem separá-las. “Quem ren-
de todos’, ‘motivos de credibilidade’ que mostram do futuro “eu estarei contigo” (Ex 3,12). Não há mu- é um mistério inefável, pois “supera infinitamente de glória ao Pai o faz pelo Filho no Espírito Santo;
que a assentimento da fé não é ‘de modo algum um dança, nem sombra de variação, “toda dádiva boa e tudo o que nós podemos compreender dentro do quem segue a Cristo, o faz porque o Pai o atrai e o
movimento cego do espírito’” (Catec 156). todo dom perfeito vêm de cima: descem do Pai das limite humano” (Catec 251). Ela é o mistério central Espírito o impulsiona” (Catec 259).
luzes, no qual não há mudança, nem mesmo aparên- da fé e vida cristã, assim como fonte e luz para os Vimos que Jesus nos revelou que Deus é eter-
Ainda falando da inteligência, vou tocar em outros mistérios de fé. Nós só podemos conhecer o
cia de instabilidade” (Tg 1, 17). Ele não tem limite, namente Pai em relação a seu Filho único. Mas em
dois pontos importantes. O primeiro é que ao saber mistério por revelação do alto. “Deus deixou vestí-
pois é completo, nem é temporal, pois é eterno. Ele Jesus nos tornamos filhos adotivos graças ao Espí-
em que coloquei minha esperança, as adversidades, gios de seu ser trinitário em sua obra de criação e
é a plenitude do Ser e de toda perfeição, não tem rito de adoção filial que reproduz a imagem de seu
as dificuldades as perdas não trazem dúvidas quan- em sua Revelação ao longo do Antigo Testamento.
origem e nem fim, Ele é o seu próprio ser, diferente Filho em nós. “Porquanto não recebestes o espírito
to ao que Deus revelou. Podemos passar por cada Mas a intimidade de seu Ser como Santíssima Trin-
do homem que recebe de Deus seu ser e seu ter. de escravidão para viverdes ainda no temor, mas re-
uma dessas coisas na tristeza ou na angústia, mas dade constitui um mistério inacessível à pura razão
Enfim, Ele é “Aquele que é” “desde sempre e para cebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos:
também na certeza de que isso vai passar, pois co- e até mesmo à fé de Israel antes da encarnação de
sempre, e é assim que permanece sempre fiel a si Aba! Pai! O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso
nhecemos o Deus que vem ao nosso encontro em Jesus e da missão do Espírito Santo” (Catec 237).
mesmo e às suas promessas” (Catec 212). espírito de que somos filhos de Deus” (Rm 8, 15-16).
todos os momentos. O segundo diz respeito a ra-
zão e a fé: mesmo esta estando acima da outra não No deserto, quando o povo faz para si um be- Em Israel, Deus é chamado de Pai enquanto
zerro de ouro para adora, pela intercessão de Moi- Criador. É Jesus que revela que Deus é Pai “não o
pode haver desarmonia entre elas, pois “o mesmo
Deus que revela os mistérios e infunde a fé dotou sés, Deus mostra sua fidelidade, apesar da infideli- é somente enquanto Criador, mas é eternamente 4. Um Pai todo-poderoso
o espírito humano da luza da razão; e Deus não po- dade do povo. É um Deus de ternura e compaixão, Pai em relação a seu Filho único” (Catec 240). Je-
deria negar-se a si mesmo, nem a verdade jamais que sempre perdoa, “Javé, Javé, Deus compassivo e sus anuncia o envio do Espírito Santo. Se antes Ele
misericordioso, lento para a cólera, rico em bonda- falava pelos profetas, agora Ele está junto dos dis- Deus criou tudo e a criação dispõe de sua von-
contradizer a verdade. Portanto, se a pesquisa me-
de e em fidelidade” (Ex 34,6). Deus se revela como cípulos para ensiná-los e conduzi-los “a verdade tade. Ele tudo governa: é o Senhor do Universo, pois
tódica, em todas as ciências, proceder de maneira
a Verdade, suas palavras não podem enganar e suas inteira” (Jo, 16, 13). Ele é enviado aos apóstolos e à estabeleceu sua ordem e é o Senhor da história,
verdadeiramente científica, segundo as leis morais,
promessas sempre se realizam. “Agora, ó Senhor Igreja tanto pelo Pai, em nome do Filho, como pelo pois governa o coração e acontecimentos. Deus que
na realidade nunca será oposta à fé: tanto as reali-
JAVÉ, vós sois Deus, e vossas palavras são a mesma Filho em pessoa, depois de voltar ao Pai (cf Catec tudo pode é chamado de Poderoso de Jacó, Senhor
dades profanas quanto ao da fé originam-sedo mes-
verdade” (II Sm 7, 28). 244). Fala-se da Santíssima Trindade desde as ori- dos Exércitos, o Forte, o Valente. Tudo isso quer di-
mo Deus.” (Catec 159).
gens da fé da Igreja, encontrando sua expressão no zer que não há impossível para Deus.
Por fim, ninguém deve ser forçado à fé e à con- Deus é Amor (I Jo 4, 8.16), ou seja, o próprio ser
mandato de Jesus que pedia para batizar em nome Mas esse Deus que pode tudo é amor. É Pai
versão. Ela deve ser um ato de liberdade por ter de Deus é Amor. Por amor gratuito que não desiste
do Pai e do Filho e do Espírito Santo. todo-poderoso e demonstra isso na maneira com
reconhecido a Revelação de Deus e por ter experi- de salvar e de perdoar as infidelidades do homem.
Seu amor é pessoal,”eis que estás gravado na palma Ao dizer que a Trindade é uma, diz-se que não cuida das nossas necessidades, de como nos quer
mentado essa Revelação em sua vida. Lembremos
de minha mão, tenho sempre sob os olhos tuas mu- há três deuses, mas um só Deus em Três pessoas. como filhos. Em sua infinita misericórdia move-se
que para obter a salvação é necessário crer em Je-
ralhas” (Is 49, 16); é eterno, “mesmo que as monta- Elas não se dividem entre si, mas cada uma delas livremente a perdoar os nossos pecados e restabe-
sus Cristo e naquele que o enviou. É a fé genuína
nhas oscilassem e as colinas se abalassem, jamais é Deus por inteiro. Porém as pessoas são distintas lecer sua amizade conosco mediante a graça.
que nos faz saborear por antecipação a alegria de
um dia vermos Deus face-a-face (cf. I Cor, 12). meu amor te abandonará” (Is 54, 10a) e de longe entre si por suas relações de origem, ou seja, no que “Somente a fé pode aderir aos caminhos mis-
me aparecia o Senhor: amo-te com eterno amor, e se referem uma as outras. É o Pai que gera, o Filho teriosos da onipotência de Deus” (Catec 273) Viven-
A fé, como vimos, é um ato pessoal, porém é é gerado e o Espírito Santo que procede. O Pai é a
por isso a ti estendi o meu favor” (Jr 31, 3), e é como do em um mundo marcado pela experiência do mal
igualmente um ato comunitário, por ser transmitida fonte e origem de toda divindade.
o de uma pai para com seu filho, “Israel era ainda e do sofrimento, por vezes pode parecer que Deus
e vivida com outros. Nós recebemos a fé da Igreja e
criança, e já eu o amava, e do Egito chamei meu fi- “A Encarnação do Filho de Deus revela que está ausente ou é incapaz de impedir o mal. Mas ao
temos a missão de vivê-la e testemunhá-la a todos
lho” (Os 11,1). Deus é Pai eterno, e que o Filho é consubstancial entregar seu Filho para morrer na cruz, manifestou
que conosco convivem.
seu grande poder. Na ressurreição e na exaltação de
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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

Cristo, o Pai desdobrou o vigor de sua força e ma- pais ocorreu devido a sedução de um anjo destro-
nifestou que extraordinária grandeza reveste seu nado, Satanás. Ele era um anjo bom, mas tornou-se
poder para nós, que cremos (cf Catec 272). mal por sua própria iniciativa. Eles rejeitaram radi-
cal e irrevogavelmente a Deus e seu Reino e isso

5. Criador do céu e da ter-


fez com que seu pecado não pudesse ser perdoado,
apesar da infinita misericórdia de Deus. Sua mais
CREDO - Símbolo da Fé
ra, de todas as coisas visí- grave obra foi levar o homem a desobedecer a Deus.
Porém seu poder não é infinito, pois é uma criatura,
Parte III
veis e invisíveis incapaz de impedir a edificação do Reino de Deus.
“O homem, tentado pelo Diabo, deixou mor-
rer em seu coração a confiança em seu Criador e Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, filho unigênito de Deus nascido do Pai
A criação é o primeiro passo para realizar seu abusando de sua liberdade, desobedeceu o man- antes de todos os séculos: Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus ver-
plano de amor, por isso ela dá testemunho do amor damento de Deus” (Catec 397). Esse foi o primeiro dadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai. por Ele todas as coisas foram
todo-poderoso de Deus. Ela é obra da Santíssima pecado do homem e deste virão muitos outros. O feitas. e por nós homens, e para nossa salvação, desceu dos céus. e se encarnou
Trindade, pois Deus criou por meio do Verbo pela pecado retira a grã da santidade original e passam a pelo Espírito Santo, no seio da virgem Maria, e se fez homem. também por nós foi
ação do Espírito Santo. ter medo de Deus. A harmonia é destruída e a morte crucificado sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado. ressuscitou ao terceiro
e o sofrimento entram no mundo. Não só para os dia, conforme as escrituras, e subiu aos céus, onde está sentdo à direita do Pai. e
Com a criação do mundo Deus queria manifes- de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu Reino
tar a sua glória e comunicá-la. Ele cria do nada um Adão e Eva, mas neles para toda a humanidade.
não terá fim.
mundo ordenado e bom, que está em um “estado Mas Deus não nos deixa abandonados e nos
de caminhada” (Catec 302). Cria desta forma para promete um salvador que trará vitória sobre o mal.
que o homem possa cooperar para que chegue a “Assim como pela desobediência de um só homem
perfeição última. Mas Deus não o deixa sozinho, Ele
permanece junto da criação para sustentá-la com
foram todos constituídos pecadores, assim pela 1. INTRODUÇÃO
obediência de um só todos se tornarão justos. So-
sua Divina Providência, cuidando de tudo, até das breveio a lei para que abundasse o pecado. Mas
pequenas necessidades. onde abundou o pecado superabundou a graça. As-
Ele criou céu e terra, mundo invisível e visível. sim como o pecado reinou para a morte, assim tam-
Visto como o nosso Deus é Pai amoroso, pode- nome dado aos homens pelo qual devamos ser sal-
No mundo invisível estão as criaturas espirituais bém a graça reinaria pela justiça para a vida eterna,
mos dar o próximo passo. Este encontro é com Jesus vos” (At 4, 12). Ao nome de Jesus todo poder no céu,
que são imortais e dotadas de inteligência e vonta- por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor.
Cristo, segunda pessoa da Santíssima Trindade, ver- na terra e nos infernos, “Por isso Deus o exaltou so-
de. São os anjos, servidores e mensageiros do pro- beranamente e lhe outorgou o Noé que está acima
dadeiro homem e verdadeiro Deus.
jeto de salvação de Deus. “Bendizei o Senhor todos
os seus anjos, valentes heróis que cumpris suas or-
2. CONCLUSÃO Em seu infinito amor Deus entrega seu Filho
de todos os nomes, par que ao nome de Jesus se
dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos”
dens, sempre dóceis à sua palavra” (Sl 102, 20). para morrer e por nós pecadores para a nossa sal- (Fl 2,9-10). Por isso os espíritos maus temem seu
vação. Mergulhar na vida de Jesus nos dá a opor- nome e os discípulos de Jesus realizam milagres em
O mundo visível é rico em diversidade e desi- Cremos em um Deus que é Trino, que é família. tunidade de encontro com Ele e com seu amor por seu nome.
gualdade para que possam complementar-se. Nele Um Deus que tudo fez, céus e terra, por amor, e cha- nós. Reanima e reafirma nossa fé em sua pessoa e
estão as criaturas corporais, o mundo terrestre e a ma-nos a ser seus filhos adotivos. Crer em um Deus CRISTO em hebraico quer dizer Messias, sua
em sua autoridade em nossa vida e em todas as cir-
criatura humana, sendo o homem sua mais impor- que é Pai todo-poderoso consolida nossa fé e nossa tradução em grego é ungido. O Messias deveria ser
cunstâncias. E nos relembra que grande obra é essa
tante criação. Ele foi criado a sua imagem e seme- esperança de que nada é impossível para Deus. ungido pelo Espírito do Senhor para uma tríplice
de redenção. Se pelo pecado de Adão todos nós pe-
lhança, por isso é capaz de conhecer e amar seu função: ser sacerdote, profeta e rei para a salvação
camos e nos afastamos de Deus, por meio de Jesus
Criador. Diferente dos anjos que são apenas espiri- da humanidade. Recebeu a unção de Deus na oca-
Cristo somos redimidos e já poderemos ver Deus
tuais e as outras criaturas corporais que são apenas sião de seu batismo no Jordão e a partir daí após o
face-a-face.
corporais, o homem é ao mesmo tempo corporal e tempo de deserto, iniciou a sua vida pública. “Vós
espiritual, sendo esta imortal. “O espírito e a maté- sabeis como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Es-
ria no homem não são duas naturezas unidas, mas a
união deles forma uma única natureza” (Catec 365).
2. DESENVOLVIMENTO pírito Santo e com o poder, como ele andou fazendo
o bem e curando todos os oprimidos do demônio,
Este encontro traz para nós a Boa Nova: Jesus
Homem e mulher foram criados um para o ou- porque Deus estava com ele” (At 10, 38).
Cristo enviado do Pai se faz homem e habita entre
tro não de forma incompleta ou pela metade, mas nós. Filho Único do Pai, Ele nos ensina sobre Deus Jesus é o Filho único de Deus, assim Ele mes-
para viverem juntos em auxilio mútuo. Ele “foram e como viver para Ele. Por obediência entrega-se mo fala de si, “Com efeito, de tal modo Deus amou o
constituídos em um estado ‘de santidade e de jus- na cruz cancelando todo documento que pesava mundo que lhe deu seu Filho único, para que todo o
tiça original’. Esta graça de santidade original era contra nós e ressuscitando abre-nos a porta do céu. que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”
uma participação da vida divina” (Catec 375). Em Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. (Jo 3, 16). Se em Israel ao falarem de filiação de
intimidade divina, o homem não morreria ou sofre- Deus era para designar intimidade, Pedro por reve-
ria. A harmonia interior da pessoa humana, entre lação de Deus responderá “Tu és o Cristo, o Filho
homem e mulher e com a criação era denominado 2.1. Jesus, Filho de Deus e nosso Senhor
do Deus Vivo!” (Mt 16,16). João ao falar do verbo
de “justiça original” que foi perdida pelo pecado divino diz que “vimos sua glória, a glória que o Filho
original. JESUS em hebraico quer dizer “Deus salva”. único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verda-
Para falar em pecado original, temos que falar Em Jesus, Deus recapitula a história de salvação em de” (Jo1,14).
da queda dos anjos e de como isso contribuiu para favor dos homens. É o único nome divino que traz
Na versão grega do Antigo Testamento, o nome
a queda do homem. A desobediência dos primeiros a salvação e pode ser invocado por todos, pois se
que Deus se apresenta Iahweh é traduzido como
uniu aos homens na encarnação. “Não existe outro

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

Kyrios que quer dizer Senhor. Chamar Jesus de Se- naturezas que não mudam, não se dividem, nem se Deus dizendo que ele é para todos os homens, para do mentira. Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo pelo
nhor é reconhecer Jesus como próprio Deus. Este separam. Jesus Cristo ao ser crucificado na carne é os pobres e pequeninos que humildemente o aco- sofrimento; se ele oferecer sua vida em sacrifício
título expressa que o poder, a honra e a glória de- verdadeiramente Deus. lhem e para os pecadores. Falou sobre o Reino atra- expiatório, terá uma posteridade duradoura, pro-
vidos ao Pai cabem também a Jesus. Voltamos ao Jesus assumiu a natureza humana, e foi dotado vés de parábolas e suas palavras sempre vinham longará seus dias, e a vontade do Senhor será por
mistério da Santíssima Trindade visto no encontro de conhecimento humano, que é limitado. Precisou acompanhadas de sinais desse Reino, pois os mila- ele realizada. Após suportar em sua pessoa os tor-
anterior, pois o credo niceno-constantinopolitano crescer na graça e na sabedoria, porém tinha dentro gres fortificam a fé em Jesus que lhes fala. “Ao liber- mentos, alegrar-se-á de conhecê-lo até o enlevo. O
deseja afirmar a divindade de Jesus devido as he- de si o conhecimento íntimo de seu Pai e a penetra- tar certas pessoas dos males terrestre da fome, da Justo, meu Servo, justificará muitos homens, e to-
resias com relação à pessoa divina de Jesus. Assim ção divina para saber o que tinha no íntimo do cora- injustiça, da doença e da morte, Jesus operou sinais mará sobre si suas iniquidades” (Is 53,4-5.8-11).
vemos que Jesus é nascido do Pai antes de todos ção dos homens. Ele possui duas vontades, humana messiânicos; não veio, no entanto, para abolir todos José de Arimateia pede-lhe o corpo e faz seu
os séculos, ou seja, que ele está na Trindade desde e divina, na qual a vontade humana segue a vontade os males da terra, mas para libertar os homens da sepultamento às pressas. Com sua morte, acaba-se
sempre, pois é Deus que vem de Deus “No princípio divina em tudo. “Aba! (Pai!), suplicava ele. Tudo te mais grave das escravidões, o do pecado” (Catec a sua existência terrestre, porém Jesus não era um
era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Ver- é possível; afasta de mim este cálice! Contudo, não 549). Confia a Pedro, a quem institui chefe da Igre- cadáver comum, pois a morte não podia retê-lo em
bo era Deus. Ele estava no princípio junto de Deus” se faça o que eu quero, senão o que tu queres” (Mc ja, a chave do Reino para que possa “defender esta seu poder e “a virtude divina conservou o corpo de
(Jo 1,1-2), Luz da Luz “[O Verbo] era a verdadeira luz 14, 36). fé de todo desfalecimento e confirmar nela seus ir- Cristo da corrupção” (Catec. 627).
que, vindo ao mundo, ilumina todo homem” (Jo 1, mãos... designa a autoridade para governar a casa
9). Jesus é Deus verdadeiramente. O cumprimento da promessa de um salvador de Deus, que é a Igreja... o poder de ‘ligar e desli- Esse foi um tempo de sofrimento silencioso
se dá na anunciação do Anjo Gabriel a Maria. Sobre gar’... para absolver os pecados pronunciar juízos para os seguidores de Jesus. Porém o Símbolo dos
Ele foi gerado pelo Pai, não criado. Jesus não é ela veio o Espírito Santo, que santificou seu ventre e Apóstolos nos ensina que Jesus desceu a mansão
uma criatura, mas o próprio Deus que se revestiu de doutrinais e tomar decisões disciplinares na Igreja”
fecundou-a divinamente, fazendo com que ela con- (Catec 552-553). Porém, é pela cruz que esse Reino dos mortos, também conhecido como Morada dos
humanidade “Sendo ele de condição divina, não se cebesse o Filho de Deus. O mesmo Espírito ungiu Mortos, Infernos, sheol, Hades. Ele foi até lá também
prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniqui- será estabelecido definitivamente.
Jesus ainda no ventre de Maria e participou de toda como Salvador, proclamar a Boa Nova aos espíritos
lou-se a si mesmo, assumindo a condição de escra- a vida dele. “Vós sabeis como Deus ungiu a Jesus ali aprisionados e privados da visão de Deus, esta-
vo e assemelhando-se aos homens” (Fl 2, 6-7). Ele é de Nazaré com o Espírito Santo e com poder” (At 2.3. Foi crucificado, padeceu e foi se- do em que estão todos os mortos, justos ou maus,
consubstancial ao Pai, isso significa que ele é no Pai 10,38). pultado que esperam o Redentor. Ele não foi libertar os con-
e com o Pai o mesmo Deus único. Por Ele todas as coi- denados, mas os justos que o precederam. “Cristo
sas foram feitas, Ele participou na criação e no proje- Para ser mãe do salvador, Maria foi escolhida
desde toda a eternidade e por isso foi enriquecida Jesus passou pelo mundo fazendo o bem, desceu, portanto no seio da terra, a fim de que ‘os
to de salvação de Deus por nós se fez homem “Tudo curando os doentes, expulsando os demônios, con- mortos ouçam a voz do Filho de Deus e os que a ou-
foi feito por ele, e sem ele nada foi feito” (Jo 1, 3). com dons espirituais. Pelos méritos de Jesus, Ela foi
preservada da mancha do pecado original, assim solando os aflitos, amparando os que sofrem. Porém virem vivam’ (Jo5, 25). Jesus, ‘o Príncipe da vida’,
como de todo pecado pessoal ao longo de sua vida. nem todos conseguiram entender suas obras. Os fa- ‘destruiu pela morte o dominar da morte, isto é o
2.2. Jesus se fez homem Pelo o anuncio do Anjo de que conceberia pelo po- riseus, sacerdotes e escribas juntaram-se para ma- Diabo, e libertou os que passaram toda a vida em
der do Espírito Santo, Maria, sabendo que não ha- tá-lo. O acusam de blasfêmia, por perdoar pecados estado de servidão, pelo temor da morte’ (Ap 1,18)”
“O Verbo divino se fez carne e habitou entre via impossível para Deus, pode dizer o seu sim: “Eis e crimes religiosos contra a Lei ao curar no sábado, (Catec 635). Ou seja, descer a mansão dos mortos
nós” (Jo 1,14a). O Verbo se fez carne para salvar- aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a apesar de Jesus dizer que não veio para revogar a quer dizer que Jesus realmente morreu e por sua
nos, reconciliar-nos com Deus, uma vez que “nossa tua palavra” (Lc 1, 38). Começa deste sim o mistério Lei, mas dar-lhe pleno cumprimento. Identifican- morte venceu a morte e o diabo por nós. Ao descer
natureza precisava ser curada; decaída, ser reer- da vida de Jesus. É importante ressaltar que a vida do-se com o Templo, anuncia a sua destruição que a morada dos mortos, Jesus abriu as portas do Céu
guida; morta, ser ressuscitada. Havíamos perdido a de Jesus é um mistério de Recapitulação, pois tudo manifestará a entrada em uma nova era da História aos justos que o haviam precedido.
posse do bem, era preciso no-la restituir. Enclausu- o que Ele fez, disse e sofreu foi para restabelecer da Salvação, devido a isso decretam sua morte. Isso
rados nas trevas, era preciso trazer-nos à luz; cati- o homem caído. Santo Irineu nos diz: “Quando ele ocorreu, pois o coração desses homens, tementes a 2.4. Jesus ressuscitou
vos esperávamos um salvador; prisioneiros, um so- se encarnou se fez homem, recapitulou em si mes- Deus, estava endurecido pela incredulidade.
corro; escravos, um libertador” (Catec 457). Ele se mo a longa história dos homens e, em resumo, nos Não podendo condenar Jesus à morte após de- As mulheres encontraram o túmulo vazio, Pe-
fez carne para conhecermos a Deus, para ser nosso proporcionou a salvação, de sorte que aquilo que clará-lo culpado por blasfêmia, entregaram-no aos dro e João correram para lá e só encontraram os pa-
modelo de santidade, e para tornar-nos participan- havíamos perdido em Adão, isto é sermos à imagem romanos acusando-o de revolta política. E Jesus foi nos que cobriam-lhe o corpo. Eles não acreditaram
tes da natureza divina (cf Catec 457 - 460). e à semelhança de Deus, o recuperamos em Cristo condenado a morte e morte de cruz. Nossos pecados nas mulheres, mas ali estava a prova: Cristo Ressus-
Pela Encarnação do Verbo, Deus assumiu uma Jesus” (Catec 518). o levaram a esse tipo de morte, “nossos crimes que citou! Eles voltaram e confirmaram o que haviam
natureza humana para realizar nesta natureza a nos- O mistério de sua vida passa pela preparação arrastaram Nosso Senhor Jesus Cristo ao suplício da dito as mulheres. Ainda assim nem todos conse-
sa salvação. O que isso significa? São Paulo respon- de João Batista que o anunciava sua vinda e sua cruz, com certeza os que mergulham as desordens guiram acreditar. Bateram na porta onde estavam,
de em sua carta aos Filipenses: “Sendo ele de con- missão. Nasceu em um estábulo, foi visitado pelos e no mal ‘de sua parte crucificam de novo o Filho eram os discípulos de Emaús. Eles voltavam para a
dição divina, não se prevaleceu de sua igualdade pastores e pelos reis do oriente. Foi apresentado no de Deus e publicamente o escarneceram’ (Hb 6,6)”. sua cidade, pois a morte de Jesus havia sido dura
com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo Templo e reconhecido como o Messias por Simeão Essa morte estava no plano de Deus, pois de mais para eles, porém no caminho o Senhor lhes
a condição de escravo e assemelhando-se aos ho- e Ana. Sobre a sua infância, pouco foi dito, mas ele aconteceu segundo as Escrituras: “Em verdade, ele apareceu abrasando-lhes o coração, voltaram para
mens” (Fl 2, 6-7). cresceu em graça e sabedoria e aos doze anos se tomou sobe si nossas enfermidades, e carregou os Jerusalém, pois era preciso contar aos outros: Jesus
Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. perdeu em Jerusalém na Festa da Páscoa e foi en- nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um está vivo!
Confessamos “um só e mesmo Filho, Nosso Senhor contrado falando das coisas de seu Pai aos doutores castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi Eles ainda falavam da experiência e Jesus
Jesus Cristo, o mesmo perfeito em divindade e per- da lei. Era obediente aos pais e voltou com eles a castigado por nossos crimes, e esmagado por nos- apareceu: “A paz esteja convosco!” (Lc 24,36). Es-
feito em humanidade, o mesmo verdadeiramente Nazaré. Já adulto apresentou-se a João Batista para sas iniquidades; o castigo que nos salva pesou so- pantados pensaram ser um fantasma, porém mais
Deus e verdadeiramente homem, composto de uma ser batizado. É levado pelo Espírito Santo ao deser- bre ele; fomos curados graças às suas chagas. Por uma vez o Senhor vem em socorro a sua falta de fé,
alma racional e de um corpo, consubstancial ao Pai to, jejuou durante quarenta dias e foi tentado pelo um iníquo julgamento foi arrebatado. Foi-lhe dada “Vede minhas mão e meus pés, sou eu mesmo; apal-
segundo a divindade, consubstancial a nós segun- demônio. sepultara ao lado de facínora e ao morrer achava- pai e vede: um espírito não tem carne nem ossos,
do a humanidade, ‘semelhante a nós em tudo, com Iniciou sua vida pública, fez discípulos e os en- se entre malfeitores, se bem que não haja cometido como vedes que tenho” (Lc 24, 39). Jesus mostrou-
exceção do pecado’” (Catec 467). Jesus possui duas sinou a viver a vontade do Pai. Anunciou o Reino de injustiça alguma e em sua boca nunca tenha havi- lhes as marcas do martírio e crucificação, contudo,

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

seu corpo também possui novas propriedades por 6. Jesus voltará a terra para julgar os
ser um corpo glorioso: “não está mais situado no es- vivos e os mortos
paço e no tempo, mas pode tornar-se presente a seu
modo, onde e quando quiser... Jesus ressuscitado é
soberanamente livre de aparecer quando quiser:
sob a aparência de um jardineiro ou ‘de outra for-
Jesus elevado ao céu e glorificado e perma-
nece na terra através de sua Igreja que constrói o CREDO - Símbolo da Fé
ma’” (Catec 645). Reino de Deus, mas sua consumação se dará na se-
gunda vinda de Jesus. Vivemos no tempo do Espíri- Parte IV
A Ressurreição de Jesus é um fato histórico, to e do testemunho, que é um tempo de expectativa
mas não é igual as ressurreições de Lázaro ou da e vigília. Sabemos, então, que Jesus pode voltar a
filha de Jairo. Nestas foi uma volta a vida terrena, qualquer momento dependendo do reconhecimen-
que em determinado tempo voltariam a morrer. Je- Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida e procede do Pai e do Filho; e
to do Messias por toda Israel. com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos profetas.
sus ressuscitou para nunca mais morrer, seu corpo
“é repleto do poder do Espírito Santo; participa da “Antes do advento de Cristo, a Igreja deve
vida divina no estado de sua glória” (Catec 646). passar por uma provação final que abalará a fé de
muitos crentes. A perseguição que acompanha a
A Ressurreição de Jesus vem confirmar suas peregrinação dela na terra desvendará o ‘mistério e
palavras e ensinamentos. Confirmam o cumprimen- iniquidade’ sob a forma de uma impostura religiosa
to das promessas do Antigo Testamento e a verdade
da divindade de Jesus. Se por sua morte, Jesus nos
que há de trazer aos homens uma solução aparente 1. INTRODUÇÃO
a seus problemas, á custa da apostasia da verdade.”
liberta do pecado, por sua ressurreição Ele abre as (Catec 675).
portas para uma nova vida. O sepulcro vazio e os
panos de linho no chão significam que o corpo de No último dia, o dia do juízo, Jesus voltará em
Cristo escapou da morte e da corrupção pelo poder glória para realizar o triunfo definitivo contra o mal. Para estar em contato com Cristo, e preciso
Nosso Senhor Jesus Cristo voltou para junto
de Deus. Ela é o princípio da nossa ressurreição. Virá julgar os vivos e mortos, revelando a disposição primeiro ser tocado pelo Espírito Santo. É Ele que
do Pai e a promessa se cumpriu, o Espírito Santo
“Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos dos corações e retribuindo a cada um segundo suas suscita em nós a fé. Por nosso batismo, “a Vida, que
foi derramado sobre os apóstolos no dia de Pente-
que morreram! Com efeito, se pro um homem veio a obras e segundo o que tiver acolhido ou rejeitado te sua fonte no Pai e nos é oferecida no Filho, nos é
costes. Ele falou pelos profetas e continua a falar e
morte, por um homem vem a ressurreição dos mor- sua graça. “Quando o Filho do homem voltar na sua comunicada intimamente e pessoalmente pelo Es-
conduzir o povo de Deus, veremos como exemplo a
tos. Assim como em Adão todos morrem, assim em glória e todos os anjos com ele, sentar-se-á no seu pírito Santo”. (Catec 683).
Beata Helena Guerra.
Cristo todos reviverão” (I Cor 15, 20-22). A Liturgia trono glorioso. Todas as nações se reunirão diante
Preparou Maria para a vinda de Cristo, Ungiu O Espírito Santo é a Pessoa Dom porque nos
bizantina professa na Páscoa: “Cristo ressuscitou dele e ele separará uns dos outros, como o pastor
Jesus para a missão. Pela paixão e ressurreição, Je- é dado pelo Pai e pelo Filho: “Entretanto, digo-vos
dos mortos. Por sua morte venceu a morte, aos mor- separa as ovelhas dos cabritos. Colocará as ovelhas
sus comunica o Espírito Santo sobre a Igreja. E este a verdade: convém a vós que eu vá! Porque, se eu
tos deu a vida” (Catec 638). à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o
tem por missão construir, animar e santificá-la para não for, o Paráclito não virá a vós; mas se eu for, vo
Rei dirá aos que estão à direita: ‘Vinde, benditos de
o dia da volta de Jesus. -lo enviarei” (Jo 16,7) e, “Se vós, pois, sendo maus,
meu Pai, tomai posse do Reino que vos está prepa-
2.5. Jesus volta ao Pai rado desde a criação do mundo, porque tive fome e
sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais
vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho
me deste de comer; tive sede e me destes de beber;
Permaneceu com os discípulos por quarenta era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; 2. DESENVOLVIMENTO pedirem” (Lc 11,13).
dias falando-lhes das coisas do Reino. Pediu-lhes enfermo e me visitastes; estava na prisão e visitas-
que não se afastassem de Jerusalém, pois a pro- tes a mim’” (Mt 25, 31- 36). Diante do acolhimento 1. Creio no Espírito Santo
Chegada a plenitude dos tempos, vindo ao en-
messa de que seriam batizados no Espírito Santo se ao próximo acolheram o próprio Jesus. Quanto aos
contro da grande esperança de redenção prometida
cumpriria em poucos dias, “descerá sobre vós o Es- da esquerda que recusaram o próximo, e neles Je- Creio no Espírito Santo! “Crer no Espírito é
pelos profetas, o Pai de Amor envia seu Filho Uni-
pírito Santo e vos dará força; e sereis minhas teste- sus, este lhes diz: “Retirai-vos de mim, malditos! Ide professar que o Espírito Santo é uma das Pessoas
gênito ao mundo para nos salvar (redimir, resgatar,
munhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus da Santíssima Trindade, consubstancial ao Pai e ao
perdoar, libertar) através de Sua morte e ressurrei-
e até os confins do mundo” (At 1, 8) e elevou-se ao anjos” (Mt 25, 41). Filho, ‘adorado e glorificado com o Pai e o Filho’”
ção. Assim Ele vem dar acesso do homem ao céu e
céu e ocultou-se em uma nuvem. Estas simbolizam (Catec 685). Portanto, nós que somos a Igreja, que-
refazer criação que estava desfigurada pelo pecado.
a entrada de sua humanidade na glória divina, onde remos uma vez mais proclamar categoricamente
está sentado à direita do Pai. 3. CONCLUSÃO Mas Jesus sabia que a Obra da Salvação por Ele
conquistada só se tornaria vital, visível e palpável
para o mundo uma verdade absoluta que ecoa em
No céu, Jesus é nosso intercessor junto ao Pai, nossos corações: o Espírito Santo é Deus, Senhor
ao homem pela ação do Espírito Santo, Aquele que
levando a salvação a todos que buscam a Deus. Je- que dá a vida e procede do Pai e do Filho; com o Pai
Temos um intercessor junto ao Pai: Jesus Cris- transforma o coração de pedra em coração de carne
sus nos precede no Reino Glorioso, onde Ele prepa- e o Filho é igualmente adorado e glorificado! E mais,
to. Louvamos a Ele porque é nosso Senhor, nosso (cf Ez 36, 26), Aquele que faz brotar no deserto um
rará para nós nossa morada eterna. Ao entrar defini- queremos proclamar que Ele foi enviado pelo Pai –
Mestre, nosso Rei, nosso amigo, nosso companheiro, vergel (cf Is 32,15), Aquele que restaura os sonhos
tivamente no santuário do céu, Jesus intercede por em cumprimento à Sua promessa – para ficar eter-
nosso Deus, nosso alimento, nosso consolo, nosso e amplia a visão (cf Joel 3,1-2); Aquele que ensina
sem cessar por nós junto ao Pai como mediador que namente conosco (cf Jo, 14,16); para dar testemu-
abrigo, nossa esperança... Esse encontro nos encheu e recorda todas as coisas (cf. Jo 14,26), Aquele que
nos garante permanentemente a efusão do Espírito nho de Cristo em nós, levando-nos a tomar posse da
da alegria do céu. Por isso nosso coração exclama: convence a respeito do pecado, da justiça e do juízo
Santo. Estar sentado à direita do Pai significa que salvação conquistada por Jesus (cf Jo 15, 26); para
Maranatha; vem, Senhor Jesus! (cf Jo 16,7-8), Aquele que nos dá força para sermos
Jesus tem a glória e a honra de Deus. nos impulsionar a difundir o Reino de Deus neste
testemunhas (cf At 1,8), Aquele que dá vida (cf Rm
mundo (cf At 1,8).
8, 11), Aquele que intercede por nós (cf Rm 8,26-
27); Aquele que revela (cf I Cor 2, 10.12), Aquele Para nos aprofundarmos nesta verdade de fé,
que nos permite reconhecer Jesus Criso como Se- vejamos o que Santo Agostinho, ao se dedicar a uma
nhor (cf I Cor 12, 3). teologia do Espírito Santo conclui que “O Espírito

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

Santo é algo de comum ao Pai e ao Filho; essa co- contínua do Espírito Santo sobre a terra. Portanto do mesmo Espírito. Tornam os fieis dóceis para obe-
munhão é consubstancial e coeterna... Por conse- esta solenidade não é só a comemoração de um decer prontamente às inspirações divinas (cf Catec
guinte, eles não são mais do que três: um (o Pai) acontecimento realizado nos tempos passados, mas 1830-1831). São dons que nos ajudam no processo
amando aquele que recebe o ser dele, o outro (o é a garantia de uma contínua realidade sempre viva de santificação ordinária. São chamados de dons in-
Filho) amando aquele de quem recebe o ser, e esse entre nós, isto é, a presença do Espírito Santo: dado fusos, hierárquicos ou simplesmente dons de san-
(Espírito Santo) o próprio amor. E se esse amor não que Ele está entre nós não menos do que esteve no tificação.
é nada, então como Deus é Amor (cf I Jo 4, 8.16)?” Cenáculo no dia de Pentecostes, embora esteja ina- “Mas a graça compreende igualmente os dons
(De Trinitate, VI, 5, 7). cessível aos nossos sentidos. O Salvador assegura- que o Espírito nos concede para nos associar à sua
É certo que das três Pessoas, o Espírito Santo nos esta presença e permanência”; - “O mistério de obra, para nos tornar capazes de colaborar com a
é a de maior complexidade de entendimento, mas Pentecostes é um mistério permanente; o Espírito salvação dos outros e com o crescimento do corpo
não de acolhimento, até porque “Espírito” é termo continua a vir sobre todas as almas que verdadei- de Cristo, a Igreja” (Catec 2003). Tratam-se dos “ca-
ou atributo que convém também ao Pai e ao Filho; ramente o desejam”; - “A solenidade de Pentecos- rismas”, do grego “khárisma”, que quer dizer graça,
de outro lado o atributo “Santo” igualmente o é: o tes não é uma simples comemoração de tão grande favor, benefício, dom gratuito.
Pai é Santo e igualmente o Filho. Assim, ao ser-nos mistério: é a verdadeira renovação porque o mesmo
Espírito que visivelmente desceu sobre Igreja nas- Tanto os dons de santificação quanto os ca-
revelado como “Deus sem rosto”, podemos falar, rismas estão ordenados à graça santificante. Estão
com esteio na teologia católica , em uma “kénosis” cente, continua a descer invisivelmente sobre os fi-
éis para acender nos seus corações o fogo do divino ordenados ainda a esta mesma graça as virtudes,
(esvaziamento de si, dar-se inteiramente) da Ter- disposições habituais e firmes para fazer o bem (cf
ceira Pessoa da Santíssima Trindade que se revela Amor”.
Catec 1803) e os frutos do Espírito, perfeições que
a nós de modo inefável, íntimo, concreto, por Sua Por isso, renovemos o clamor que sobe aos o Espírito Santo modela em nós como primícias da
ação em nós. céus no precioso Hino Veni Creator Spiritus: “Vin- glória eterna (cf Catec 1832).
O Papa Leão XIII, a quem a Beata Elena Guerra de, Espírito criador, visitai as vossas almas; enchei
escreveu 13 cartas, assim dispôs em seu Magistério: com a graça do alto os corações que criastes. (...) Fa-
zei-nos conhecer o Pai, e revelai-nos o Filho; para
“Aquela divina missão que, recebida do Pai em be-
nefício do gênero humano, tão santamente desem- acreditar sempre em Vós, Espírito que de ambos 3. CONCLUSÃO
penhou Jesus Cristo, tem como último fim fazer que procedeis”.
os homens cheguem a participar de uma vida bem Das Três Pessoas da Santíssima Trindade, o Es-
-aventurada na glória eterna; e, como fim imediato, 2. Justificação e graça pírito Santo é a de maior dificuldade de personifi-
que durante a vida mortal vivam a vida da graça di- cação, uma vez que é o Deus sem rosto. Entretanto,
vina, que ao final se abre florida na vida celestial. A graça do Espírito Santo que nos é dada tem como professamos, é Deus com o Pai e o Filho, igual-
(...) segundo seus altíssimos decretos, não quis Ele o poder de nos justificar, isto é, de purificar-nos de mente adorado e glorificado. É Deus mesmo agindo
(o Verbo – Jesus) completar por si só incessante- nossos pecados e comunicar-nos a justiça de Deus em nossos corações, mudando nossas mentalida-
mente na terra tal missão, mas que, como Ele mes- pela fé em Jesus Cristo e pelo batismo (cf Catec des, convertendo-nos para que um dia cheguemos
mo a tinha recebido do Pai, assim a entregou ao Es- 1987). Por Ele participamos da Paixão de Cristo ao céu. Tem uma missão árdua: convencer o homem
pírito Santo para que a levasse a perfeito término”. morrendo para o pecado e da ressurreição nascen- a respeito do pecado, da justiça e do juízo (cf. Jo 16,
Essa operacionalização continuada da salvação em do para uma vida nova (cf Catec 1988). “A graça é 8). Somos, pois, convidados a ser dóceis ao Divino
nós é o que podemos chamar de “Vida no Espírito” antes de tudo e principalmente o dom do Espírito Espírito para que Ele nos santifique, nos dirija e aja
ou “Nascer de novo” ou ainda “Renascer da água e que nos justifica e nos santifica” (Catec 2003). livremente através de nós pelos carismas.
do Espírito”.
Graça é favor, socorro gratuito que Deus nos dá
“No dia de Pentecostes a Páscoa de Cristo para respondermos a seu convite (cf Catec 1996). É
completou-se com a efusão do Espírito Santo que participação na vida divina; introduz-nos na intimi-
se manifestou, se deu e se comunicou como Pessoa dade da vida trinitária (cf Catec 1997). A Graça, dom
divina: da sua plenitude, Cristo Senhor derrama em gratuito de Deus, infundida pelo Espírito Santo em
profusão o Espírito. Neste dia, revelou-se plena- nossa alma, para curá-la do pecado e santificá-la é
mente a Santíssima Trindade. A partir deste dia, o chamada de Graça Santificante ou Deificante e é re-
Reino anunciado por Cristo abre-se aos que n’Ele cebida através do Sacramento do Batismo (cf Catec
creem” (Catec 731-732). Esta é a maravilhosa obra 1999) e como o próprio nome diz, ela é a fonte de
completada pelo Espírito Santo em nós. A esse res- toda a obra santificadora em nós.
peito a Beata Elena Guerra assim proclamou: “É o
Espírito Santo que faz os santos. Aspirar a tão gran- “A graça santificante é um dom habitual, uma
de destino e não ser devoto do Espírito Santo é uma disposição estável e sobrenatural para aperfeiçoar
contradição” . a própria alma e a tornar capaz de viver com Deus,
agir por seu amor.” (Catec 2000).
E o Espírito Santo, simbolizado de diversas
maneiras nas Escrituras, água, fogo, pomba, nuvem, Pela graça do Espírito Santo recebemos os
óleo da unção, luz, mão de Deus, dedo de Deus, selo seus sete dons: sabedoria, entendimento (inteli-
(cf Catec 694-701), age contínua e poderosamen- gência), prudência (conselho), coragem (fortaleza),
te em nosso meio e o faz tanto mais quanto nos ciência, temor de Deus e piedade (cf Is 11, 1,4a).
abrimos a Ele. Portanto, como nos ensinam alguns Estes dons do Espírito Santo são o sustento da vida
pensamentos da Beata Elena Guerra, Pentecostes moral dos cristãos; são disposições permanentes
é: - “O Pentecostes recorda aos cristãos a presença que tornam o homem dócil para seguir os impulsos

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CREDO - Símbolo da Fé
Parte V

Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica

1. INTRODUÇÃO

A Igreja é Mãe e Mestra. Mãe que vela dia e noi- Filho e do Espírito Santo e ensinar a observar tudo
te por todos os seus filhos para que não resvalem o que Jesus prescreveu (cf Mt 28, 19-20). Se a Igreja
e caiam, para que não sejam seduzidos por falsas nasceu do coração transpassado de Jesus, é o Espíri-
doutrinas de pretensa Revelação, para que vivam to Santo quem vai manifestá-la no dia de Pentecos-
às inteiras a dignidade de filhos de Deus. É Mestra tes. É o Espírito quem vai dirigir a Igreja e dar-lhe os
porque guarda com fidelidade o precioso depósito dons para cumprir a missão dada por Jesus.
da fé e o anuncia com precisão e inteireza a todos E essa missão se dará até o dia que Jesus vol-
quantos estão dispostos a ouvi-la e a obedecê-la, tar. Até lá caminha por meio de perseguições do
como um sacramento (sinal) de Jesus Cristo na terra. mundo e consolações de Deus (cf Catec 769). Mas
caminha firme e confiante, pois Jesus prometeu que
as portas do inferno não prevaleceriam sobre ela (cf
2. DESENVOLVIMENTO Mt 16, 18).
A Igreja se distingue de outros agrupamentos
Igreja significa convocação e designa a assem- religiosos, étnicos, políticos ou culturais da história,
bleia do povo geralmente religiosa. Os primeiros porque é o povo adquirido por Deus, onde as pesso-
cristãos ao tomarem para si esta denominação, re- as tornam-se membros não pelo nascimento físico,
conheceram-se herdeiros do povo que Deus cha- mas pelo nascimento do alto que ocorre pelo Batis-
mou para si. Ela designa a assembleia litúrgica, a co- mo. Tem por chefe Jesus Cristo e a mesma Unção, o
munidade local ou toda a comunidade universal dos Espírito Santo.
crentes (cf Catec 752). Assim a Igreja é o povo que
se reúne em torno da Palavra e do Corpo de Cristo, 2.1. A Igreja é povo de Deus, Corpo de
tornando-se este último. Cristo, Templo do Espírito Santo
A Igreja já era plano de Deus desde as origens,
pois Deus desejava convocar todos os homens em Jesus foi constituído sacerdote, profeta e rei,
Cristo para comunhão consigo. Para isso Deus cha- nós também participamos dessas funções de Cristo
mou Abraão e formou um povo. Ao longo de sua his- assumindo a missão contida nessas funções. Somos
tória fez alianças com esse povo, porque eles afas- sacerdotes, pelo Batismo, pois somos consagrados
tavam-se de seu Criador. Mas a estes foi anunciada para ser morada espiritual e um sacerdócio santo (I
por seus profetas uma nova e definitiva aliança, que Pd 2, 9). Profetas pela fé vivida, transmitida e tes-
foi realizada pelo sacrifício de Jesus Cristo. temunhada e Reis, pois somos chamados a servir, a
A missão do Filho era realizar o plano de salva- nos colocarmos a disposição da obra de Deus.
ção, que incluía a instituição da Igreja, que é o “Rei- A Igreja é Corpo de Cristo. Jesus “anuncia uma
no de Cristo já misteriosamente presente” (Catec comunhão misteriosa e real entre o seu corpo e o
753). Ele fundamenta a Igreja ensinando o que é o nosso: ‘Quem como a minha carne e bebe o meu
Reino de Deus e como é possível vivê-lo. Chamando sangue permanece em mim e eu nele’ (Jo 6,56)”
os doze discípulos e colocando Pedro como chefe, (Catec 787). Se nós somos membros dessa Igreja,
fazendo deles pedras de fundação dessa nova Igre- temos por cabeça o Senhor Jesus que nos une a sua
ja. Estes, junto com outros discípulos, são enviados Páscoa e provê nosso crescimento. A Igreja é a espo-
a anunciar o evangelho, batizar em nome do Pai, do sa de Cristo, que espera ansiosa a volta de seu ama-
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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

do. “O Senhor mesmo designou-se como ‘o Esposo’ como irmãos no Senhor” (Catec 818). Os elementos santificada e dirigida pelos apóstolos até a volta de sem estar totalmente sem mancha de pecado, pre-
(Mc 2, 19). O apóstolo apresenta a Igreja e cada fiel, de santificação e de verdade são encontrados fora Jesus. Mas o apostolado, atividade do “Corpo Místi- cisam ser purificados para ver Deus face-a-face. Os
membro de seu Corpo, como uma Esposa ‘desposa- da Igreja católica: “a palavra escrita de Deus, a vida co” que procura estender o reino de Cristo em toda triunfantes são aqueles que já estão junto de Deus.
da’ com Cristo Senhor, para ser com Ele um só Espí- da graça, a fé, a esperança, a caridade, outros dos terra, só poderá ter êxito se estiver unidade com Por formarem uma só Igreja, é possível orar
rito. Ela é a Esposa imaculada do Cordeiro imacula- interiores do Espírito Santo” (Catec 819). A Igreja Cristo pelos vivos e pelos mortos. Por isso, podemos in-
do, a qual Cristo ‘amou, pela qual se entregou, a fim procura aperfeiçoar a unidade do Corpo de Cristo A Sede da Igreja é em Roma, pois Pedro mor- terceder uns pelos outros, assim como crer na in-
de santificá-la’ (Ef 5, 26), que associou a si por uma procurando diálogo, formação ecumênica, oração reu lá. O Papa, sucessor de Pedro e chefe da Igreja tercessão dos santos, que intercedem por nós junto
Aliança eterna e da qual não cessa de cuidar como em comum e colaboração entre cristãos. é Bispo de Roma. Ele possui na Igreja poder pleno, de Deus. Por fim, a Igreja nos ensina a orar pelos fa-
de seu próprio Corpo” (Catec 796). A Igreja é Santa, pois a Trindade a ama como supremo e universal. Ele recebe, por força de seu lecidos. “Nossa oração por eles pode não somente
A Igreja também é Templo do Espírito Santo, esposa. Jesus por ela se entregou para santificá-la. cargo, com o carisma da infalibilidade em matéria ajudá-los, mas também tornar eficaz sua interces-
pois Este também é responsável pela unidade do A Igreja é Povo Santo e seus membros são chamados de fé e costumes. Ele conta com o colégio episco- são por nós” (Catec 958).
Corpo, tanto entre si como com Jesus, a Cabeça. Por santos. Jesus santifica a Igreja e esta se torna santi- pal, formado pelos Bispos, que juntos cumprem as
isso Ele faz dela o “Templo do Deus Vivo” (II Cor 6, ficante através de suas obras que buscam a “santi- tarefas de ensinar, santificar e reger, dirigir a Igreja.
16). “Ele opera de múltiplas maneiras a edificação ficação dos homens e a glorificação de Deus” (Ca- Quanto aos leigos, estes são todos aqueles
do Corpo inteiro na caridade”: pela palavra de Deus, tec 824). A Igreja está ornada de santidade, porém
pelo Batismo, pelos sacramentos, pela graça conce- imperfeita devido seus membros que ainda procura
que são incorporados a Cristo pelo Batismo e não
sejam membros de Sagradas Ordens ou do estado
3. CONCLUSÃO
dida aos apóstolos, pelas virtudes, pelos carismas. adquirir a santidade. “A Igreja reune pecadora que religioso reconhecido na Igreja. Eles têm por voca-
Estes tornam os fieis aptos ao serviço na Igreja (Ca- foram alcançadas por Jesus em via de santificação” ção procurar o Reino de Deus através de funções Diante do mandato de Jesus, sua Igreja se co-
tec 798). (Catec 827). temporais. “A eles, portanto, cabe de maneira espe- loca a serviço na construção do Reino de Deus. Ela
A Igreja é católica, universal quanto a totali- cial iluminar e ordenar de tal modo todas as coisas tem por fundador Jesus Cristo e vive guiado pelo
2.2. A Igreja é Una, Santa, Católica e dade e a integralidade. “Nela subsiste a plenitude temporais, às quais estão intimamente unidos, que Espírito Santo que lhe coloca a seu dispor variados
Apostólica do Corpo de Cristo unido à sua Cabeça, o que im- elas continuamente se façam e cresçam segundo dons para o cumprimento da missão.
plica que ela recebe dele ‘a plenitude dos meios Cristo e contribuam para o louvor do Criador e Re-
Como Igreja, peçamos ao Espírito que venha
A Igreja é Una, Santa, Católica e Apostólica, que de salvação’ que ele quis: confissão de fé correta dentor” (Catec 898). “Eles têm a obrigação e gozam
em socorro a nossas fraquezas para que diante das
são os quatro atributos que são ligados entre si e e completa, vida sacramental integral e ministério do direito, individualmente ou agrupados em asso-
lutas diárias possamos responder com vigor e vigi-
a Igreja procura realizar. Ela é una por sua fonte: a ordenado na sucessão apostólica. Neste sentido ciações, de trabalhar para que a mensagem divina
lância o chamado de ir pelas nações.
Trindade; por fundador: Jesus Cristo com a missão fundamental, a Igreja era católica no dia de Pente- da salvação seja conhecida e recebida por todos os
de restabelecer a união de todos os povos, e por sua costes e o será sempre, até o dia da Parusia” (Catec homens e por toda terra”. (Catec 900).
alma: o Espírito Santo, que habita em seus mem- 830). Ela é católica porque é enviada em missão por Os leigos recebem pelo Batismo o múnus de
bros, reúne os fieis e os liga a Jesus. Jesus a universalidade do gênero humano. Jesus, sendo sacerdote pelas obras, orações, apos-
Dentro dessa unidade se congregam pessoas As Igrejas particulares (diocese, comunidade tolado, vida conjugal, trabalho, provações. Se tudo
de diversas culturas e raças. “Neste corpo, a vida de fiéis cristãos em comunhão da fé e nos sacra- for feito no Espírito, “se tornam ‘hóstias espirituais,
de Cristo se difunde por meio dos crentes que os mentos com seu Bispo) são católicas, por serem for- agradáveis a Deus por Jesus Cristo’ (I Pd 2,5), hós-
sacramentos, de forma misteriosa e real, unem a madas à imagem da Igreja universal e porque estão tias que são piedosamente oferecidas ao Pai com
Cristo sofredor e glorificado.” (Catec 790). Existe em comunhão com a Igreja de Roma. Fora da Igreja a oblação do Senhor na celebração da Eucaristia”
apenas um corpo, mas que não é uniforme. Há di- não há salvação, isso quer dizer que toda salvação (Catec 901). São profetas ao testemunhar a fé e
versidade de membros e funções, pois o Espírito vem de Jesus por meio da Igreja, que é seu Corpo. evangelizar e colaborar com a formação catequéti-
Santo distribuiu dons variados para o bem da Igreja. “Apoiado na Sagrada Escritura e na Tradição, [o Con- ca. Por fim participam do múnus régio ao governar
Essa unidade produz e estimula o amor entre seus cílio] ensina que esta Igreja peregrina é necessária sua própria vida fugindo do pecado, assim como ao
membros e vence as divisões humanas. “Já não há para a salvação. O único mediador e caminho da sal- colaborar com os próprios pastores no serviço a co-
judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem ho- vação é Cristo, que se nos torna presente em seu munidade a que pertencem.
mem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Corpo, que é a Igreja...Por isso não podem salvar-se
Jesus” (Gl 3, 28). aqueles que, sabendo que a Igreja católica foi fun- 2.3. Comunhão dos Santos
dada por Deus por meio de Jesus Cristo como insti-
A unidade é assegurada pela profissão de uma tuição necessária, apesar disso não quiserem nela
única fé, pela celebração comum do culto divino e entrar ou nela perseverar” (Catec 846). A Igreja é a assembleia de todos os santos, vi-
pela sucessão apostólica, que garante que o Bispo vos ou mortos, onde os bens de Cristo são comu-
da nossa diocese foi, se percorrermos a sucessão Ser católico é estar em missão. A Igreja tem um nicados a todos os membros por meio dos sacra-
dos Bispos, em sua origem, ordenado por um dos mandato missionário, ela responde ao mandato de mentos da Igreja. Ela é comunhão dos santos pelas
apóstolos de Cristo. Jesus que a envia ao mundo para instaurar o Reino coisas santas e pela comunhão das pessoas santas
de Deus. “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; bati- em Cristo. Como coisas santas estão, em primeiro
Houveram cismas nessa unidade e “o que hoje zai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
em dia nascem em comunidades que surgiram de lugar a eucaristia, a fé, os sacramentos, os carismas,
Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis a caridade.
tais rupturas “e estão imbuídos da fé em Cristo não que estou convosco todos os dias, até o fim do mun-
podem ser arguidos de pecado de separação, e a do” (Mt 28, 19-20). Para falar da comunhão de todos os fiéis de
Igreja católica os abraça com fraterna reverência Cristo, precisamos lembrar que a Igreja é constitu-
e amor... Justificados pela fé recebida no Batismo, A Igreja é apostólica por ser fundada sobre os ída dos peregrinos, padecentes e triunfantes. Pe-
estão incorporados em Cristo, e por isso com razão apóstolos, por ter sido e ser construída sobre o fun- regrinos somos todos nós que vivemos na terra e
são honrados com o nome de cristão e merecida- damento dos apóstolos (cf Ef 2,20), por conservar procuramos viver segundo o chamado de Deus para
mente reconhecidos pelos filhos da Igreja católica e transmitir com ajuda do Espírito Santo o ensina- nós. Os padecentes são os defuntos que morrendo
mento dos apóstolos. Ela continua a ser ensinada,

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CREDO - Símbolo da Fé
Parte VI

Professo um só batismo para a remissão dos pecados.


e espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo

1. INTRODUÇÃO

tismo, pois Jesus envia seus discípulos pelo mundo


Pelo Batismo morremos com Cristo para o pe-
pregar o Evangelho e dize-lhes que “quem crer e for
cado original, isto é, a ponte entre o ser humano e o
batizado será salvo, mas quem não crer será conde-
Pai é restabelecida de uma vez por todas, de modo
nado” (Mc 16, 16). “O Batismo é o primeiro e princi-
que ninguém pode mais nos roubar o céu a não ser
pal sacramento do perdão dos pecados, porque nos
por nossa própria liberalidade e decisão. Ao mesmo
une a Cristo morto por nossos pecados, ressuscita-
tempo, assim como Cristo ressuscitou ao terceiro
do para nossa justificação, para que ‘nós também vi-
dia para nunca mais morrer – por que Ele é a Vida
vamos vida nova’ (Rm 6,4)” (Catec 977). No Batismo,
– aguardamos ansiosos o dia em que à voz do Filho
o perdão recebido é pleno apagando todos os pe-
do Homem todos os homens de todas as épocas res-
cados, mas é preciso combater para não cair no pe-
surjam de seus túmulos para ingressarem na Nova
cado, pois a fraqueza humana permanece. A Igreja
Jerusalém, onde não haverá mais choro nem lágri-
também dispõe do sacramento da penitência para
mas, onde não haverá mais tristeza ou doença, onde
perdoar os pecados cometidos ao longo da vida.
todos viverão eternamente na presença de Deus,
adorando-O e glorificando-O. Os Bispos e presbíteros exercem essa função
na pessoa de Jesus, pois só este é o autor e dispen-
Essa nossa certeza deve gerar em nós uma pro-
sador da nossa salvação. Só ele pode apagar nossas
funda alegria e expectativa quanto à manifestação
iniquidades e dar-nos a graça da justificação. Santo
da glória de Deus. Não se trata de algo distante ou
Agostinho fala-nos sobre a autoridade que a Igreja
pouco provável; ao contrário, é uma promessa que
recebeu de Jesus para perdoar os pecados: “A Igreja
deve ecoar em nossos corações todos os dias, de
recebeu as chaves do Reino dos Céus para que se
modo que estejamos preparados tais quais as vir-
opere nela a remissão dos pecados pelo sangue de
gens com óleo em suas lamparinas (cf. Mt. 25).
Cristo e pela ação do Espírito Santo. É nesta Igreja
que a alma revive, ela que estava morta pelos pe-
2. DESENVOLVIMENTO cados, a fim de reviver com Cristo, cuja graça nos
salvou” (Sto. Agostinho, Serm. 214,11).
Não há pecado que a Igreja não possa perdoar,
2.1. Professamos um só Batismo por isso quem se arrependeu de seus atos pode pro-
curá-la, pois Jesus, que morreu por todos nós, dese-
ja que “em sua Igreja, as portas do perdão estejam
Cristo confiou aos apóstolos o poder de per- sempre abertas a todo aquele que recua do pecado”
doar os pecados quando lhes deu o Espírito Santo. (Catec 982).
“Soprou sobre eles dizendo-lhes: ‘Recebei o Espíri-
to Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, A expressão de fé “um só Batismo” retrata,
ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiver- igualmente, o princípio de unidade que marca to-
des, ser-lhes-ão retidos’” (Jo 20, 22-23). dos os cristãos. Pelo Batismo morremos com Cristo
para o pecado original e ressurgimos com Ele para a
O perdão está intimamente ligado à fé e ao Ba- nova vida. Nesse sentido todos os batizados olham

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para a mesma cruz – ponto máximo de unidade para lhão fatal na luta que contra a vida travou.Venceu o Único em quem o homem pode ter a vida e a fe-
onde converge o mundo inteiro –, adoram o mesmo o Príncipe da paz que em seu combate triunfal a licidade para as quais foi criado e às quais aspira”
Deus e ressurgem pelo poder do mesmo Espírito morte derrotou”..” (música que de Valdeci Faria). (Catec 1035). Os ensinamentos sobre o Inferno nos
que rege e unifica a Igreja em torno de seu autor e Ele transformou a maldição da morte em benção. A auxiliam a refletir em nossa responsabilidade com
consumador. morte cristã passa a ter um novo sentido, São Paulo o livre-arbítrio que recebemos de Deus visando o
nos diz: “Porque para mim o viver é Cristo e o mor- destino eterno.
2.2. A ressurreição dos mortos rer é lucro” (Fl 1, 21). É isso que nos faz crer que só Após a ressurreição da carne, diante de Cristo
morremos uma vez (Hb 9, 27) e por isso não existe será desvendada a relação do homem com Deus. O
reencarnação. Juízo Final revelará todo o bem feito ou deixado de
Cremos que da mesma maneira que Cristo res-
suscitou e voltou a viver, nós também ressuscitare- fazer durante sua vida (cf Catec 1039). Ele aconte-
mos e viveremos para sempre. Cremos, pois é o pró- 2.3. Novos céus e nova terra cerá por ocasião da volta de Jesus e revelará que
prio Senhor Jesus quem nos anuncia: “Ora, esta é a a justiça de Deus triunfa sobre as injustiças come-
vontade daquele que me enviou: que eu não deixe “Só tu tens palavra de vida eterna”. Pedro tidas pelos homens e seu amor é mais forte que a
perecer nenhum daqueles que me Du, mas que os encontrou o mestre que desejava seguir, pois suas morte. (cf Catec 1040). “A mensagem do Juízo Fi-
ressuscite no último dia. Esta é a vontade de meu palavras davam esperança ao seu coração. Se não nal é apelo à conversão enquanto Deus ainda dá
Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele crê, tenha fomos criados para morrer, nosso coração encontra aos homens ‘tempo favorável, o tempo da salvação’
a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo alento e conforto com as palavras de Jesus. Isso é (II Cor 6, 2). O Juízo Final inspira o santo temor de
6, 39-40). tão forte no homem que já aqui na terra, o homem Deus” (Catec 1041).

São Paulo assim nos diz: “Se o Espírito daque- procura meios para prolongar sua existência: plás- Virão novos céus e nova terra, pois o Reino
le que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, ticas, remédios, estilo de vida, pois pensam que a de Deus chegará a sua plenitude. Depois do Juízo
ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, tam- eternidade é aqui. Para nós que cremos no Senhor Final, os justos reinarão para sempre com Cristo e
bém dará a vida aos vossos corpos mortais, pelo Jesus sabemos que a vida eterna só é possível junto todo o universo será renovado. Conclui-se o proje-
seu Espírito que habita em vós” (Rm 8,11). Pode- de Deus e para chegar até ela passamos pela morte to de amor de Deus: reunir, sob um só chefe, Cristo,
mos concluir que pela morte, a alma é separada do unida a de Jesus. as coisas do céu e da terra. Na “Jerusalém Celeste,
corpo, mas na ressurreição Deus restituirá a vida ao Logo após sua morte, em um Juízo Particular, Deus terá sua morada entre os homens. ‘enxugará
nosso corpo unindo-o novamente à nossa alma. Mas cada homem recebe a retribuição eterna, uma vez toda lágrima de seus olhos, pois nunca mais have-
como o corpo de Cristo, nosso corpo será transfor- que Deus nos salva conosco. Sua vida é colocada rá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá
mado em corpo espiritual (cf I Cor 15, 44a). “em relação mais. Sim! As coisas antigas se foram!’ (Ap 21, 4)”
(Catec 1044). Assim na vida eterna Deus será tudo
É o próprio Jesus, no último dia, no dia da à vida de Cristo, seja por meio de uma purifi- em todos (cf I Cor 15, 28).
ressurreição dos mortos, quem ressuscitará todos cação, seja para entrar de imediato na felicidade do
aqueles que seu Pai lhe confiou, pois Ele diz que é a céu, seja para condenar-se de imediato para sem-
ressurreição e a vida. Que todos os que nele crerem,
se mortos viverão; se vivos jamais morrerão (cf Jo
pre” (Catec 1022).
Ao morrer e ressuscitar, Jesus abriu as portas
3. CONCLUSÃO
11, 25-26). do Céu para nós, por isso viver no Céu é viver com
São Paulo nos afirma: “irmãos, é que nem a Cristo, em comunhão com a Trindade, com Maria, os AMÉM!!! Esta é a fé que de todo o coração e
carne nem o sangue podem participar do Reino de anjos e santos. Os que morrem na graça e na ami- livremente professamos, fé que nos sustenta todos
deus; e que a corrupção não participará da incor- zade com Deus e estão totalmente purificados vêm os dias numa certeza inquebrantável de que Deus
ruptibilidade. Eis que vos revelo um mistério: nem Deus face-a-face no Céu. “O que os olhos não viram, está conosco, vela por nós e nos ama com amor eter-
todos morreremos, mas todos seremos transforma- os ouvidos não ouviram e o coração do homem não no. Nestas linhas, estudamos a fé da Igreja, da qual
dos, num momento, num abri e fechar de olhos, ao percebeu, isso Deus preparou para aqueles que o não podemos nos afastar e tampouco descaracteri-
som da última trombeta (porque a trombeta soará). amam” (I Cor 2, 9). zar de acordo com nossos interesses ou impressões
Os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós se- Para os que morrem na graça e na amizade com particulares. Vivendo essa fé até às últimas conse-
remos transformados. É necessário que este corpo Deus, mas não estão totalmente purificados, garan- quências, com fidelidade até o fim, teremos a coroa
corruptível se revista da incorruptibilidade, e que tem a vida eterna, mas passam por uma purificação da vida (cf. Ap. 2, 10a). Desta fé, não podemos e não
este corpo mortal se revista da imortalidade” (I Cor para adquirir a santidade necessária para viver na queremos abrir mão.
15, 50-53). presença de Deus. Essa purificação em preparação
Eu costumo usar o ditado que diz: quem não para o ingresso no Céu é chamada de Purgatório, um
morre, não vê Deus. Acredito que foi nesse sentido estado de alma.
que São Francisco chamou a morte de irmã, pois ela Os que não fizeram sua livre escolha de amar a
lembra que somos peregrinos. Fecha o ciclo de nos- Deus, cometendo pecados graves contra Ele, contra
sa vida terrena onde estamos em meio ao pecado, o próximo e contra ele mesmo não podem unir-se a
ao sofrimento e à dor e abre as porta das promessas Deus. Resta-lhes o Inferno que é estar totalmente
de Deus de vida eterna. ausente da presença de Deus e inteiramente vazio
A morte nos assusta tanto, pois nós não fomos da graça, em tormento eterno. “E é este estado de
criados para morrer, ela é consequência do peca- auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus
do, como vimos no segundo encontro. Mas há uma e com os bem-aventurados que se designa com a
grande esperança para nós: Jesus transformou a palavra ‘inferno’” (Catec 1033). “A pena principal
morte! “A morte já não mata mais perdeu seu agui- do Inferno consiste na separação eterna de Deus,

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CAPÍTULO 8

Bioética na perspectiva da Igreja Católica


Parte I

1. INTRODUÇÃO

Após nos aprofundarmos em nossa Profissão


de Fé – o Credo Católico, nada mais coerente do que 2. DESENVOLVIMENTO
nos debruçarmos sobre alguns desafios relativos
ao campo da Bioética, uma vez que o crescimen-
to considerável do poder técnico da humanidade Bioética é a Ciência biológica que estuda o bio
pede uma consciência viva e renovada dos valores ciclo por que passa o ser vivo do nascimento até a
últimos (cf. Encíclica Fides et Ratio, 116), dentre os morte, usando a apreciação da conduta moral do ser
quais o da vida humana desde os primeiros até os úl- humano, os princípios que o norteiam para o bem
timos instantes sob o olhar atento do Pai, o Criador. ou para o mal. A Igreja nos fala sobre Bioética desde
Muitas vezes a Igreja, Mãe e Mestra, “rema con- o papado de Pio XII, mais precisamente em 1949,
tra a maré” na defesa dos valores fundamentais en- quando se iniciavam os estudos sobre ela, embo-
sinados por Jesus Cristo na mensagem evangélica, ra seu ensinamento sobre a defesa inegociável da
e o faz não sem ter sido alertada previamente por vida venha de seus primórdios, considerando-se
seu Divino Mestre. É que tais valores são inaliená- que “entre a religião e a ciência, o verdadeiro e o
veis e irrenunciáveis por todo e qualquer cristão verificável, não há contradição”, conforme o ensina-
verdadeiramente católico. Se professamos a nossa mento do geneticista Jérôme Lejeune.
fé, conforme o Credo Católico, precisamos ser co- A Bioética nos ensina a conhecer e a nos en-
erentes a esse Símbolo em todas as áreas da nossa cantarmos com a maravilha que é a vida do ser hu-
vida e do conhecimento. Acerca do estudo a seguir mano, desde o embrião até à pessoa em final de
uma premissa é importante: “Sabe-se por experiên- vida. A Igreja reconhece a utilidade e os inúmeros
cia que, se os meios técnicos à disposição de nossas benefícios alcançados pela Ciência. Acerca disso o
sociedades são ordenados a um fim puramente ma- Papa João Paulo II, em sua Exortação Apostólica so-
terialista, eles manifestam rapidamente sua eficácia bre as Famílias, de 1981, já nos exortava: “De fato
ao serviço da destruição do gênero humano” (Keys o progresso científico-técnico que o homem con-
to Bioethics, Manual de Bioética para jovens da JMJ temporâneo amplia continuamente no domínio so-
2013, Introdução). bre a natureza, não só desenvolve a esperança de
Jérôme Lejeune, médico e pesquisador ge- criar uma humanidade nova e melhor, mas também
neticista, pai de família católico e leigo engajado, uma sempre mais profunda angústia sobre o futuro.
afirma que a qualidade de uma civilização se mede Contra o pessimismo e o egoísmo que obscurecem
pelo respeito que esta consagra aos mais fracos de o mundo, a Igreja está ao lado da vida: e em cada
seus membros. Em outras palavras, uma civilização humana sabe descobrir o esplendor daquele “Sim”,
é verdadeiramente grandiosa quando reverencia e daquele “Amém” que é o próprio Cristo.” (Familiaris
defende a vida humana, criada por Deus, e sua má- Consortio, 30)
xima dignidade em todas as suas fases. A vida é um Aqui trataremos de forma objetiva das gran-
direito sagrado, inalienável, algo a ser protegido des questões da Bioética com as quais somos con-
como um bem único e irrenunciável; a dignidade frontados constantemente e que demandam de nós
dos filhos e filhas de Deus é algo que não pode ser uma resposta à luz da nossa fé, pois precisamos es-
visto como um valor subjetivo ou somente religio- tar prontos a responder a todo aquele que nos pedir
so, mas algo fundamental à existência humana. a razão da nossa esperança (cf. I Pd. 3, 15b).
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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

2.1. O aborto e se encontrar prontas a agir. O ser humano deve ser homem, segundo a Bíblia, são acompanhados das ções sobre o embrião humano quando respeitarem
respeitado e tratado como uma pessoa desde sua seguintes palavras da mulher genetriz: ‘Adquiri um a vida e a integridade do embrião e não acarretam
a sua concepção”. Essa é uma das justificativas fra- homem com o favor de Deus’ (Gn 4,1)”. para ele riscos desproporcionados, mas visem à sua
Aborto é a morte prematura do embrião ou do
gilíssimas que citamos, pois sendo a gestação uma É importante saber que uma vez realizado o cura, à melhora de suas condições da saúde ou à sua
feto durante o desenvolvimento. O aborto é consi-
etapa da existência humana, como não se poderia aborto virá a chamada “Síndrome Pós Aborto” e sobrevivência individual” (Catec. 2275). Tratam-se
derado espontâneo quando há a morte não provo-
considerá-la como vida humana propriamente dita, outros distúrbios psicológicos: depressão, perda de intervenções, muitas vezes cirúrgicas, ainda no
cada do embrião ou do feto, e provocado quando a
como ser humano não em potencial, mas total? da autoestima, acusação e culpa, remorso, pesade- ventre materno, que visam resolver problemas gra-
vida uterina é interrompida voluntariamente, isto é,
Esta mesma Encíclica denuncia o seguinte no los, transtornos sexuais, etc. Essa síndrome pode se ves de saúde e de desenvolvimento. Como defende
por vontade e/ou permissão materna.
número 59: “A mulher, não raro, é sujeita a pressões estender à família: aos pais, cônjuge, outros filhos Jérôme Lejeune, é legítimo “suprimir a doença, não
Por embrião entenda-se que é o ser vivo orga- o doente”. O Salmo 138, 16 assim diz: “Ainda em-
tão fortes que se sente psicologicamente constran- já nascidos do casal. Cabe esclarecer, contudo, que
nizado de modo a desenvolver-se por si próprio de brião, teus olhos me viram.” Poderíamos nós inter-
gida a ceder ao aborto: não há dúvida que, neste para todo aquele que se arrepende verdadeiramen-
modo contínuo, não sendo um mero conglomerado ferir em algo que Deus pôs os olhos?
caso, a responsabilidade moral pesa particularmen- te, Deus aí está para nos perdoar as faltas. Enquanto
de células, pois já possui um patrimônio genético
te sobre aqueles que direta ou indiretamente a for- a mãe viver, há tempo para arrepender-se, confes-
único e irrepetível; é a vida desde a concepção até a
çaram a abortar.” sar-se e levantar a cabeça.
8ª semana. A partir da 8ª semana de gestação o em-
brião passa a se chamar feto, pois já possui cérebro Como relação de ajuda e defesa incansável da As mulheres estéreis sofrem por não poderem PARA REFLETIR:
e outros órgãos individualizados. vida, a mãe precisa ser ouvida, e muitas vezes so- se realizar na sua própria natureza que é de ser mãe.
corrida em suas necessidades materiais e pessoais, Nesses casos a adoção oferece uma alternativa de A) Qual é a minha atitude quanto às
Costuma-se mascarar esta violência com ter-
levando-se em conta o medo, o sentimento de soli- vida. Ao contrário do aborto se oferece à criança a crianças que nascem com deficiências?
mos menos chocantes como “interrupção voluntá-
dão e de desamparo. Precisa ser assistida para que chance de viver ao invés de ser assassinada. Têm direito à vida? Por quê?
ria da gravidez” (em hipóteses de estupro, gravidez
a dita Interrupção Voluntária da Gravidez não seja
precoce, pobreza extrema, etc.) e “interrupção mé-
a sua derradeira solução. A mãe que sofre estupro,
dica da gravidez” (em casos em que a vida da mãe
por exemplo, necessita de acompanhamento cons-
corre risco ou quando o feto apresenta anomalia). PARA REFLETIR:
tante, fraterno e solidário para ultrapassar o trau-
Estima-se que anualmente ocorram cerca de 50 mi-
ma da agressão. Porém, matar a criança não apaga a
lhões de abortos no mundo inteiro, sendo que 10
agressão sofrida. Ela não deve ser morta para repa- A) Sobre o aborto, que posição temos
milhões entre eles são considerados legais nos pa-
rar o crime que outra pessoa cometeu. Uma violên- tomado?
íses de regime totalitário de governo ou nos ditos
cia não justifica outra, um mal não paga outro mal.
desenvolvidos. Importante é esclarecer que o fato B) Como pode ser ajudada a mãe que é
de alguma coisa ser legal não significa o mesmo que O Quinto Mandamento da Lei de Deus deter- pressionada a praticar o aborto?
ser moral. mina: “NÃO MATARÁS.” (Ex. 20,13). O Catecismo nos
C) Se o pai não quer assumir seu papel e
ensina que “a vida humana é sagrada porque desde
Madre Teresa de Calcutá nos leva a refletir so- a mãe se sentir sozinha?
sua origem ela encerra a ação criadora de Deus e
bre um terrível paradoxo entre um mundo que pro- D) Se houver dificuldades para o susten-
permanece para sempre numa relação especial com
move inúmeras manifestações como passeatas pela to da criança?
o Criador, seu único fim. Só Deus é o dono da vida, do
paz, conferências que discutem meios para se en-
começo ao fim; ninguém, em nenhuma circunstân- E) Como ajudar uma mulher que come-
contrar a paz, políticas de paz, camisas com dizeres
cia, pode reivindicar para si o direito de destruir di- teu aborto?
de paz e uma violência constante cometida à luz de
retamente um ser humano inocente” (Catec. 2258)
justificativas fragilíssimas: “Sinto que o maior des-
truidor da paz no mundo de hoje é o aborto, pois é A criança não é um problema; é uma criatura
uma guerra declarada contra a criança, um homicí- de Deus, sempre inocente. Não é um inimigo ou
dio puro e simples da criança inocente, um assassi- agressor injusto. Ela não está à mercê da mãe para
2.2. Diagnóstico Pré-Natal (DPN)
nato da criança pela própria mãe. Se aceitarmos que que esta decida se pode nascer ou não.
a mãe tenha o direito de matar o próprio filho, como Estatísticas determinam que 60% das gravide-
poderemos dizer aos outros que não se matem.” Quanto ao Diagnóstico Pré-Natal (DPN), trata-
zes indesejadas terminam em aborto. Entende-se
se de exames feitos no feto, isto é, ainda no útero
O Catecismo da Igreja Católica nos exorta que erradamente que a mãe pode dispor do seu próprio
da mãe, para verificar se existe algum tipo de má
“desde o primeiro momento de sua existência, o ser corpo; entretanto, não é dona da outra pessoa que
formação. Faz previsão de problemas e/ou anoma-
humano deve ver reconhecidos os seus direitos de carrega em seu útero como hóspede temporário,
lias por meio de diagnósticos que feitos a tempo
pessoa, entre os quais o direito de todo ser inocen- criatura de Deus para manifestar a glória Dele neste
podem ser resolvidos. No entanto, por vezes tam-
te à vida” (Catec. 2270). Já a Palavra de Deus nos mundo. Matar não pode ser considerado meio de li-
bém levam os pais à escolha do aborto se o feto tem
atesta: “Desde o seio materno Iahweh me chamou, bertação ou de realização pessoal da mulher. As po-
problemas como, por exemplo, Síndrome de Down
desde o ventre de minha mãe pronunciou o meu líticas ditas de controle da natalidade tem incutido
ou Anencefalia (falta do cérebro). Estes dois os ca-
nome” (Is. 49,1). incisivamente a mentalidade de que seja o aborto a
sos os mais comuns. Entretanto, o DPN não deve ser
solução para a gravidez não planejada.
A Encíclica Evangelium Vitae nº 60, de João usado para qualificar o feto e eliminá-lo se não for
Paulo II, denuncia o seguinte: “Alguns tentam justifi- A Carta Apostólica Mulieris Dignitatem, n.º 18, do agrado dos pais, da família ou da sociedade. Essa
car o aborto, defendendo que o fruto da concepção, do Papa João Paulo II nos ensina: “A maternidade “seleção diabólica” é chamada de Eugenismo (me-
pelo menos até um certo número de dias, não pode implica desde o início uma abertura especial para lhora da raça humana). Matar um ser humano, ainda
ser considerado uma vida humana pessoal. Desde a a nova pessoa e precisamente esta é a ‘parte’ da que haja um diagnóstico ruim e que faça os pais so-
fecundação, tem início a aventura de uma vida hu- mulher. Nessa abertura, ao conceber e dar à luz o frerem, não aliviará tal sofrimento.
mana, cujas grandes capacidades, já presentes cada filho a mulher se encontra por um dom sincero de
Acerca do DPN o Catecismo esclarece que:
uma delas, apenas exigem tempo para se organizar si mesma. A concepção e o nascimento de um novo
“Devem ser consideradas como lícitas as interven-

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

Bioética na perspectiva da Igreja Católica


Parte II

1. INTRODUÇÃO

Continuemos, pois, a nos aprofundar naquilo


que é valor inalienável do Evangelho de Nosso Se- denota claramente cada período do ciclo feminino.
nhor Jesus Cristo, defendido e ensinado pela Mãe O Método Billings, além de ser totalmente natural
Igreja como fiel guardiã do depositum fidei (depó- (não utiliza quaisquer drogas medicamentosas),
sito da fé), devendo ser acolhido e observado pelos gera grande temperança (autodomínio) no casal
católicos por ser valor que transmite vida em abun- que não poderá ter relações sexuais em determi-
dância. nado período (período fértil) do ciclo menstrual se
não quiser engravidar, ampla participação masculi-
3. Contracepção na no tocante ao planejamento familiar responsá-
vel, maior aproximação e cumplicidade do casal e
autoconhecimento da parte da mulher, não possui
Os métodos contraceptivos artificiais são mui-
quaisquer efeitos colaterais. É, sem dúvidas, um
tas vezes vistos como meios eficazes de se evitar o
método libertador. Longe está de ser aquilo que o
cometimento de aborto posteriormente. Favorece a
mundo por vezes prega acerca de suposta falibili-
chance de que aconteçam relações sexuais “com li-
dade, insegurança e obsolescência. Utilizar método
berdade”, sem maiores responsabilidades ou impli-
natural com disciplina, conhecimento e responsa-
cações, por vezes com vários parceiros em relações
bilidade não é ingenuidade, é compromisso com o
instáveis, sem a preocupação de gerar filhos.
Evangelho.
As pílulas anticoncepcionais clássicas (com-
Neste tópico cabe-nos também incluir a utili-
binadas ou estroprogestativas), que agem como
zação dos preservativos masculinos ou femininos.
contraceptivos quando bloqueiam a ovulação e
Visam proporcionar a relação sexual sem qualquer
modificam o muco cervical para que este seja hostil
risco de contração de Doenças Sexualmente Trans-
aos espermatozoides, por vezes, favorecem abortos
missíveis (DST), livre de responsabilidades poste-
precoces aos quais a mãe não chega sequer a perce-
riores, sugerindo a busca do prazer pelo prazer, sem
ber. Isso acontece quando a ovulação não é bloque-
que isso gere maiores consequências. Por trás disso
ada, atuando assim um terceiro efeito que é a mo-
o que se vê é um profundo egoísmo, o uso do outro
dificação da mucosa uterina para impedir a nidação
como objeto de prazer, a falsa liberdade sexual.
do embrião (fixação do embrião na parede uterina),
o que gera a sua morte. As pílulas chamadas “do dia
seguinte”, os adesivos, as injeções contraceptivas 4. Reprodução Assistida
tem idêntico efeito, mas de modo muito mais forte.
Não são 100% seguras. Denomina-se Reprodução Assistida (RA) ao
Ao contrário, Igreja orienta a utilização de conjunto de técnicas que permitem a procriação
métodos naturais de planejamento familiar e nata- fora do processo natural. Sobre esse tema, o YOU-
lidade responsável. Um destes métodos é o Billin- CAT (Catecismo Jovem da Igreja Católica), n.º 423
gs, criado pelos médicos Dr. John Billings e Evelyn é categórico: “Como a igreja encara a ‘barriga de
Billings, a partir de estudos de inúmeros casos con- aluguel’ e a inseminação artificial? Tudo o que na
cluído nos anos 70. Feito de maneira séria possui investigação e na medicina ajuda a concepção de
grande índice de sucesso. Esse método compreen- uma criança deve terminar quando a comunhão dos
de o acompanhamento diário do muco cervical, que pais é destruída por uma terceira pessoa ou quando
a concepção se torna uma ação técnica exterior à
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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

união sexual.” O filho não constitui um direito abso- dos seres humanos afetados por graves patologias porque faz da existência de um ser humano – ainda O doente merece ser tratado e cuidado ainda
luto dos pais, isto é, um filho a qualquer custo. e deficiências... doença e a deficiência pertencem à que em estado embrionário – um mero instrumento que por meios paliativos que permitam ao pacien-
Em se tratando de Reprodução Assistida (RA) condição humana e dizem respeito a todos.” (Ins- para usar e destruir. É gravemente imoral sacrificar te alguma comunicação, autonomia, capacidade de
artificial, existem duas técnicas principais: a Inse- trução Dignitas Personae, 22 – Congregação para a uma vida humana a uma finalidade terapêutica. se autogovernar. O doente merece assistência psi-
minação Artificial que consiste em se introduzir um Doutrina da Fé – 08 de setembro de 2008) A Igreja recusa, pois, veementemente essa prá- cológica, espiritual, solidariedade, espaço adequa-
espermatozoide em um óvulo diretamente no colo tica: “A clonagem humana é intrinsecamente ilícita, do para permanecer, ter suas dores aliviadas por
uterino e a Fecundação In Vitro, na qual os ovóci- 5. Células-tronco enquanto, ao levar ao extremo a negatividade ética medicação. Da mesma forma, o Catecismo reforça:
tos da mãe colhidos são postos em contato com das técnicas de fecundação artificial, pretende dar “Mesmo quando a morte é iminente, os cuidados
espermatozoides em laboratório, acontecendo a origem a um novo ser humano sem relação com o comumente devidos a uma pessoa doente não po-
São células-mãe (de onde são criadas outras) dem ser legitimamente interrompidos. Os cuidados
fecundação e o desenvolvimento de diversos em- isoladas e cultivadas para serem usadas em pesqui- ato de recíproca doação entre dois cônjuges e, mais
briões. De cerca de 10 embriões criados, apenas radicalmente, sem nenhuma ligação com a sexua- paliativos constituem uma forma privilegiada de
sas e tratamento de algumas doenças. Se forem ob- caridade desinteressada. Por isso devem ser enco-
de um a três são transferidos para o útero da mãe; tidas por meio de células de embriões eliminados lidade. Tal circunstância dá lugar a abusos e a ma-
os demais são congelados por determinado tem- nipulações gravemente lesivas da dignidade huma- rajados” (Catec. 2279).
em aborto ou fertilização in vitro a pesquisa é consi-
po ou destruídos posteriormente. Estudos relatam derada imoral porque provém da destruição desses na... Da particular relação existente entre Deus e o A dignidade do paciente, sua essência de ser
que devido ao congelamento, os embriões podem embriões. Quando são usadas em terapia celular, as homem, desde o primeiro momento da existência, humano, exige que ele venha a morrer sendo res-
sofrer alterações genéticas. Acerca disso o Catecis- células-tronco servem para reconstruir ferimentos, deriva a originalidade de cada pessoa, que obriga peitado e não submetido à eutanásia. Acerca disso a
mo da Igreja Católica afirma que “É imoral produzir queimaduras, recuperação do sangue na leucemia e a respeitar a sua singularidade e integridade, inclu- Palavra de Deus nos alenta: “Já não haverá ali crian-
embriões humanos destinados a serem explorados alguns tecidos de medula óssea. sive a biológica e a genética. Cada um de nós en- cinhas que vivam apenas alguns dias, nem velho
como material biológico disponível” (Catec. 2275). contra no outro um ser humano que deve a própria que não complete a sua idade; com efeito, o menino
Existem hoje milhões de embriões congelados em As células obtidas de cordões umbilicais de existência e as próprias características ao amor de morrerá com cem anos” (Is. 65,20).
todo o mundo. recém-nascidos restauram veias. Estão sendo es- Deus, do qual só o amor entre os cônjuges constitui
O Conselho Federal de Medicina do Brasil au-
tudadas para o tratamento de doenças cerebrais. uma mediação conforme o desígnio do Criador e Pai 2.8. Doação de órgãos
Existem atualmente no Brasil aproximadamente celeste.” (Instrução Dignitas Personae, 28/29 – Con-
toriza a doação de gametas (células reprodutoras) 70 mil cordões umbilicais reservados em bancos
por terceiros: seja de óvulos ou de espermatozoi- gregação para a Doutrina da Fé – 08 de setembro de Consiste na doação de órgãos vitais sadios do
de conservação. Em torno de 18 mil estão em ban- 2008).
des. Autoriza as “barrigas de aluguel”, isto é, mulhe- corpo de uma pessoa com morte cerebral atestada
cos públicos à disposição da população. Os demais
res que se dispõem, mediante pagamento ou não, a ou perda da condição respiratória, com a finalida-
estão em bancos particulares à disposição das fa-
ceder seu útero para que o feto seja gestado e en- de de substituição de um órgão deficiente por ou-
mílias que os reservam para necessidades futuras.
trega a criança aos pais quando esta nasce. O que não se pode admitir à luz do Evangelho é a
PARA REFLETIR: tro igual que visa a melhorar a condição de vida ou
salvar da morte uma pessoa doente. Os órgãos são
Aqui cabe refletir ainda sobre o chamado Diag- destruição dos embriões para a utilização de suas A. A utilização de células-tronco em- cedidos com autorização da família do doador, em
nóstico Pré-implantação (DPI ou PGD), que consiste células-tronco.
brionárias e a clonagem humana nos le- caso de morte cerebral ou perda do sistema respira-
na técnica de seleção de embriões utilizada pelos
2.6. Clonagem vam a que conclusões sobre a criação do tório, podendo ser transplantados os rins, o coração,
casais férteis preocupados com uma doença gené-
ser humano? Tais técnicas teriam a pre- os pulmões, o fígado, as córneas e a pele. Alguns
tica hereditária. Após se criar vários embriões, se-
Clonagem é a produção de indivíduos (racio- tensão de “competir” com a missão cria- destes órgãos podem ser doados por pacientes vi-
leciona-se “o melhor” que será implantado no úte-
nais ou irracionais) geneticamente iguais. Nesse dora de Deus? vos, com consentimento das duas partes, desde que
ro materno. Os embriões portadores de doença ou
sentido, a clonagem humana é a cópia genetica- não haja risco para o doador.
que não possuam a característica genética desejada
serão destruídos. É comumente utilizado para gerar mente idêntica de um ser humano. “A clonagem é Acerca desta prática a Encíclica Evangelium
uma espécie de “bebê medicamento”, cujo embrião proposta com dois fins fundamentais: reprodutivo, Vitae, n. 86 esclarece que: “Entre estes gestos, me-
é selecionado por DPI a partir de uma Fecundação isto é, para obter o nascimento de uma criança clo- recem particular apreço à doação de órgãos feita,
In Vitro para tratar posteriormente de um irmão nada, e terapêutico ou de investigação. A clonagem 2.7. Eutanásia segundo formas eticamente aceitáveis, para ofe-
mais velho que sofra de uma doença genética gra- reprodutiva seria, em teoria, capaz de satisfazer al- recer uma possibilidade de saúde ou até de vida a
ve. É necessário “produzir” cerca de 100 embriões gumas particulares exigências, tais como o controle doentes, por vezes já sem esperança.”
Eutanásia é a prática do abreviamento do so-
para se obter o nascimento de um “bebê medica- da evolução humana, a seleção de seres humanos
frimento, alívio da dor pela morte do paciente in- Nosso querido Papa Emérito Bento XVI assim
mento”. Os outros 99 são eliminados. O primeiro com qualidades superiores, a pré-seleção do sexo
curável e/ou terminal. Não possui qualquer amparo se manifestou: “O ato de amor que é expresso com a
“bebê medicamento” nasceu nos Estados Unidos do nascituro, a produção de um filho que seja a ‘có-
legal no Brasil. É uma ação deliberada para causar doação dos próprios órgãos vitais permanece como
no ano 2000. pia’ de um outro, a produção de um filho por um ca-
a morte do paciente suspendendo seu tratamento, um testemunho genuíno de caridade que sabe olhar
sal afetado por formas de esterilidade não curáveis.
Portanto, não há dúvidas de que o Diagnóstico desligando máquinas e aparelhos ou permitindo além da morte para que vença sempre a vida. Do va-
A clonagem terapêutica, ao contrário, foi proposta
Pré-implantação é uma forma de eugenismo (me- que seja ministrado medicamento que provoque lor deste gesto deveria estar bem consciente quem
como instrumento de produção de células estami-
lhora da raça humana, uma seleção artificial e arbi- sua morte. Acerca disso o Catecismo é claro: “É mo- o recebe. O que recebe, de fato, ainda antes de ser
nais (células-tronco) embrionárias com patrimônio
trária). A Igreja é taxativa ao afirma que “tratando o ralmente inadmissível. Assim, uma ação ou omissão um órgão é um testemunho de amor que deve sus-
genético pré-determinado, de modo a superar o pro-
embrião humano como simples ‘material de labora- que, em si ou na intenção gera a morte a fim de su- citar uma resposta de igual modo generosa, a fim de
blema da rejeição (imuno-incompatibilidade). Esta
tório’, opera-se uma alteração e uma discriminação primir a dor, constitui um assassinato gravemente incrementar a cultura da doação e da gratuidade.”
está, portanto, ligada à temática do emprego das cé-
também no que se refere ao próprio conceito de contrário à dignidade da pessoa humana e ao res-
lulas-tronco embrionárias. A clonagem reprodutiva
dignidade humana. A dignidade pertence de forma peito pelo Deus vivo, seu Criador” (Catec. 2277). 2.9 Suicídio
ainda não foi realizada e é ilegal em muitos países.”
igual a cada ser humano e não depende do projeto A Encíclica Evangelium Vitae nº 46, de João
parental, da condição social, da formação cultural, O fim terapêutico da clonagem implica em
Paulo II, esclarece o seguinte: “O homem não é se- Vejamos o que nos diz a Palavra de Deus: “E
do estado de desenvolvimento físico... hoje assiste- criar embriões com o propósito de os destruir, mes-
nhor nem da vida nem da morte: tanto uma quanto agora, vede bem; eu, sou eu, e fora de mim não ou-
se a uma não menos grave e injusta discriminação, mo com a intenção de ajudar os doentes, o que é
outra, deve abandonar-se totalmente à vontade do tro Deus! Sou eu que mato e faço viver, sou eu que
que leva a não reconhecer o estatuto ético e jurídico totalmente incompatível com a dignidade humana,
Altíssimo, ao seu desígnio de amor.”

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Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

firo e torno a curar e da minha mão ninguém se li-


vra” (Dt 32,39). Deus nos deu a vida e é o Senhor
da vida. Ele decidiu soprar nas narinas do homem o PARA REFLETIR: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
seu próprio hálito – seu Ruah –, deu-lhe o sopro que
fez dele um ser vivente diferente dos seres criados A. O que, por vezes, leva uma pessoa a
até então. cometer suicídio? Como ajudar uma pes-
O Catecismo assim nos exorta: “Devemos rece- soa que esteja na iminência de cometer
ber a vida com reconhecimento e preservá-la para tal ato?
sua honra e a salvação de nossas almas. Somos os B. Como ajudar a família de uma pessoa ches. Bíblia e Palavra de Deus: Introdução ao estudo
BÍBLIA: a Bíblia Sagrada. Edição Pastoral-cate-
administradores e não os proprietários da vida que que cometeu suicídio? da bíblia. Volume 2. São Paulo: Editora Ave-maria,
quética. São Paulo: Ave-Maria, 1998.
Deus nos confiou. Não podemos dispor dela. O sui- 1996.
cídio contradiz a inclinação natural do ser humano
a conservar e perpetuar a própria vida. É gravemen- JOÃO XXIII. Constituição Apostólica Humanae
te contrário ao justo amor de si mesmo.” (Catec. Salutis. 1961 BETTENCORT, Dom Estevão Tavares. Curso Bí-
2280/2281) blico. Escola Mater Ecclesiae, 1998.
O homem é o ser criado por Deus à Sua imagem
PAULO VI. Exortação Apostólica Evangelii Nun-
e semelhança. Por amá-lo muito e ver que era mui-
tiandi, 1976. São Paulo: Paulinas. AQUINO, Prof. Felipe. Escola da fé: Sagrada Es-
to bom, Deus deu-lhe um presente: a liberdade, o
critura, 2003: Canção Nova.
livre arbítrio, a faculdade das decisões. Precisamos
nos perguntar diariamente o que estamos fazendo CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo:
com nossa liberdade, com o nosso livre arbítrio. Por Loyola, 1998. MACHADO, Helena Rios. Espírito Santo: graças,
vezes achamos que estamos vivendo em liberdade virtudes, dons e frutos. Editora Santuário. 37 p. 8ª
quando na verdade estamos escravos de nosso pró- edição. 2002.
prio livre arbítrio. JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Rosarium Vir-
Precisamos ter a certeza de que nenhum pro- ginis Mariae, 2003. São Paulo: Paulinas.
PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA – A interpreta-
blema ou vicissitude temporal são maiores do que
ção da Bíblia na Igreja. Editora Paulinas. 162p. 5ª
o Amor de Deus por cada um de nós. Nada nem nin- BENTO XVI. Exortação Apostólica Sacramentum ed., 2002
guém é motivo para que subtraiamos nossa vida. Caritatis, 2007. São Paulo: Paulinas.
Ao contrário, precisamos vivê-la para manifestar
diariamente a glória de Deus o proclamar que Seu AQUINO. , Prof. Felipe. Riquezas da Igreja. 323p.
Nome é Santo com a nossa própria vida. JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Mane Nobis- 2ª ed., Ed. Canção Nova. 2009.
Padre Jorge Tadeu Hermes, pregador de Reti- cum Domine, 2004. São Paulo: Paulinas.
ros, ensina-nos que para tudo na vida há solução. Às
BENTO XVI. Os apóstolos e os primeiros discípu-
vezes olhamos para os lados, para frente, para trás e CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO los de Cristo – Nas origens da Igreja. 182p. 1ª edição.
para baixo e não encontramos saída. A saída é para -AMERICANO E DO CARIBE. Documento de Apareci- Editora Paulus. 2011
cima, a saída é Deus! Em Jesus Cristo temos solução da, 2007. São Paulo: Paulinas.
até para a morte, pois Ele a venceu e ressuscitare-
mos com Ele no último dia. BENTO XVI. Os padres da Igreja – de Clemente
Portanto, diante das diversas situações da vida CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Conciliar Romano a Santo Agostinho. 230p. 1ª ed. Editora
que tanto nos machucam, nos maltratam, nos en- Pastoral Sacrosanctum Concilium, 1997. São Paulo: Paulus. 2012
tristecem, precisamos buscar a solução lá em cima, Paulus.
em Deus. O suicídio é negar esta solução infalível, é
negar o Poder de Deus, é uma ofensa gravíssima ao BOGAS, A. S.; COUTO, M. A.; HANSEN, J. H. Pa-
RATZINGER, Joseph. A fé em crise, 1985. São trística – Caminhos da Tradição Cristã. 214p. 3ª edi-
Amor de Deus.
Paulo: Loyola. ção. Editora Paulus. 2011
Ainda acerca do suicídio, o Catecismo da Igre-
ja Católica esclarece que: “A cooperação voluntária
ao suicídio é contrária à lei moral. Não se deve de- NEPOMUCENO, Lício. Alegra-te quando jejua- JOÃO PAULO II. Encíclica Fides et ratio, 1998.
sesperar da salvação das pessoas que se mataram. res, 2009. Pelotas: Ed. RCCBRASIL São Paulo: Paulinas.
Deus pode, por seus caminhos que só ele conhece,
dar-lhes ocasião de um arrependimento salutar.
CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO. São Paulo: JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Catechesi
A Igreja ora pelas pessoas que atentaram contra a
Loyola, 1995. Tradendae, 1980. São Paulo: Paulinas.
própria vida” (Catec. 2282/2283).

CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Conciliar BENTO XVI. Carta Apostólica Porta Fidei, 2012.
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ARTOLA, Antônio M. CARO, José Manuel Sán- LEÃO XIII. Encíclica Divinum Illud Munus, 1897.

100 101
Apostila - Grupos de Perseverança Renovação Carismática do Brasil - RCCBRASIL

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CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Ins-


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Apostila - Grupos de Perseverança

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