Vous êtes sur la page 1sur 3
A Face Estética do Selt— teoria e clinica 60 segundo li- ‘ro de Gilberto Safra,fruto de Um trabalho clinica intenso © ‘consistente, e de pesquisas que ‘vem desenvolvende em um lon- ‘90 percurso académico. Otex- to, escrito em linguagem bela e lara, revela aoleitoraartioula- ‘940 de uma trajetéria impar e Inovadora. Para além do esfor- {0 concsitual, o grande mérito do ivroesté em transmit, oom @xito, que a fungao humaniza- dora 6 primordial no trabalho analttico, sendo que esta é perpassada pelos fendmenos ‘ostéticos, Para que se possa com- Preender 0 sofrimento humano aalualidade, Safra aoredtana necessidade de abertura do ‘campo psicanalitico para além dos aspectos referentes & psi- candlise classica, isto 6, para além das quest6es rlativas a0 recalque, &estruturagao edpica fe Acastracao. Paraoautoréa questo ontolégica que seim- et na construgao da subjeti- vidade 6 preciso primeiramente adauiriro senso de um simes- ‘moquepermanega ao longo do tempo e que configure gradual- ‘mente uma reaidade psiquicae tum corpo préprio. A partir da inauguragao do self, o desejo poderd entao advire integrar- se a ele, razendo complexida- deaodevirhumano. ‘Safra desenvolve mais do que um enfoque ou vértce, com Vistas ao seifao denominar seu ‘campo de trabalho como Psica~ nélise do Selfintroduz muitas rupturas com outras aborda- {gens dentro do campo teérico e clinico da psicandlise.O leitor poderd estranhar que o autor ao se situe em relagso & evo- |ugdo no campo das idéias ps: canaliticas ou que, a0 menos, clucide pontos de concordénci- ‘as oudivergéncias com concei- Face estética, face humana Resenha de Gilberto Safra, A Face Estética do Self: Teoria e Clinica, Sao Paulo, Editora Unimarco, 1999, 168 p. tos da psicandlise froudiana. Poroutrolado, ampli eenrique- ‘ce seupensamento inspirando- 80 em autores de outros cam- pos, como filsofos e antrops- logos, ainda que em fungao ds- 0 corra 0 isco de um certo ecloismo. O feito porém, este 6autromérito do vo, éamplii= car aspectos que poderiam es- ccapar 8 escuta clinica, produ- zindo rassonancias que em ‘mo podem beneficiaroencon. ttoanaltic. Naintrodupao eno prime ro capitulo, Saframapela ocam- po om que vai trabalhar e que datitulo ao lvro: a constituigao do self tomado como criagao etética © 08 elementos senso- rials que fomecertio matéria- prima para a sua composicao. Nos capitulos seguintes trata 'é, separademente, reportando ‘sempre aclinica & sua elabora- ‘0 te6rica, cada un destes ole- rents: 0 tempo, 0 espago, 0 movimento, a sonoridade, a rmateralidade nae da constitu (0 do self. Nos dois citimos ccapltulos abordara especifica mente sua evolugdo, compreen- ‘dida como maturagao @ cons- tante devir,e que se dé, do ini- cio da vida até a morte, mergu 123 thada na cultura. A divisao en- tres elementos sensoriais que constitu a base do self é ‘meramente didética e Safra re faz omesmo traletote6rico em relagdo a cada um deles, que ‘sobrepostos formam um todo indissaciavel. ‘O pensamento de Satra cireula com desenvoltura pelas questbes da cultura @ da cons- ttuigdo da subjetividade: 0 au- tor constr6i um arsenal teérico ‘em que procura explcitar esta Conjungao com simplicidade e vio ne contato com 0 outro, que portanto tem uma fungdo fun- ‘damental na constituigdo do sell (Os conceitos de lusdo, objeto ‘ransicional econsequentemen- to a importancia da senso- Fialidade que tanto um quanto outro conceto implicam s20 pro- fundamente considerados em sua construgao teérica. Safra toma de Susanne Langer, de Cassirer e de pen- sadores russos, importantes ContibuigSes sobre a detinigao cdo campo estético e da espect ficidade dos simbolos que 0 ‘acompanhiam. Recor tarém ‘a pensadores que, como Hanna ‘Arendt, Simone Weil © mais, atualmente, Milton Santos, problematizam quest6es sobre © enraizamento, 0 trabalho e © cotidiano na cultura ociden- talmederna, ‘Ainda na introdugao, 0 au- tor ilustra com uma classi- cca passagem da clinica de M. ‘A Schehaye um momento fun- dante no psiquismo:a constitu. (ode um objeto subjetivo atra- ‘vés do fenémeno da iluséo, 0 LEITURAS que dard entrada ao estabele- ‘cmento do se iusto, segun- {do autor, um fendmeno que cartega uma qualidade esttica 6 omomento em quea apercep- ‘20 coincide com apercepeao, Criando o objeto. Aquilo que o bobé anseia, que sente om sou corpo, mas que ainda nao tern ‘Rome,nem forma, nemtempo.ou duragao, © que esté a ponto de precipitar-se.. aparece-lhe! No exato momento! Se 0 desejo pressupde uma falta, um hato, ‘aqui é a experiéncia primeira, 0 tencontro, que é instauradora. Desse modo o sujeito cra uma forma que, amparada no mun- do, veicula uma sensagao (encanto, teror, grado, repul- a etc.). Os fendmenos estéti- C08 esto na origem dos pro cesses de simbolizagao que surgitao ao longo do desenvol- vimento do beb8. No caso rela tado, através da concretude do oferecimento de uma maga & Paciente foi possivel acontecer arealizagao simbolca, na qual uma experiéncia de satisagao da ilusdo produziu como coro- lério um objeto subjtivo seio- ‘maga-boca, Objet este que vern za-se de uma bela passagem de A. Bosi que condensa vari= (08 aspectos de sua teoria: “O signo vern marcado, em toda sua laboriosa gestacao, pelo escavamento do corpo...) ‘Quando osigno consegue vir luz, plenamente articulado eau dive, js travou, nos antros @ labirintos do corpo, uma uta si- ‘nuosa do ar contra as paredes elésticas do diafragma, as es- Ponjas dos pulmoes, dos brénquis o bronquiolos, 0 tubo ‘aneladoe viloso da traqueia, as obras retesadas da laringa (as, cordas vocals), 0 oricoestreto da glote, a valvula do véu pa latino que dé passagem as fos- ‘sas nasals ou & boca, onde to- paaré ainda com a massa mével ‘viscida da lingua e as frontei- ras duras dos dentes ou bran- {das dos labios. O som do signo ‘quarda, na sua aérea e ondu- lante matéra, o calor 0 sabor {de uma viagem noturna pelos ‘corredores do corpo. O percur- 50, feito de aberturas © ‘aperturas, dé ao som final um proto-sentido, organico e laten- te pronto a ser trabalhado pelo ser humano na sua busca de signficar. O signo éa forma de expresso de que 0 som do corpo foi poténcia, estado vir- tual (p. 112), A corporeidade, transtigue rada pela presenga de um ou- tro, imagem dessa presenca, {ganharé a possiblidade de vel- Cular-se em sonoridade @ sig nos. O escavamento do corpo 6 uma conquista ligica de su- portaro vazio através da tran- sicionalidade, Alinguagem dis- coursiva, ent, velculard“simul- taneamente por meio das ima- gens, sintaxe © vocabulirios, ‘empregatis, da entonagao e do ‘andamento daala, oideograma do self (p. 114), adimenséo da historicidade daquele ser, sua densidade © complexidade. O idioma do seifé ao mesmo tem- po representagao (discurso) © 125 aparigdo (imagem de corpo). coisa viva, atualizada a cada ‘momento, ao mesmo tempo his ‘rica e pontual (icone). Nesta, perspectva, o processo analt= Co visa propicar a sustentacao da fungao postica-constitutiva dosujeto. ‘Safra conclu self nfo & uma organizagao mental (ego) ‘ou uma representagao de si ‘mesmo (eu), mas.0modo como Cindividuo organiza-seno tem- Po, no esparo, no gesto, apar- tirde sua corporeidade, Eneste sentido saif 6 corpo. E também tnico e étnico “pois medida que obedé toma ‘corpo materno como préprio, ‘organiza-se segundo os aspec- tos étnicos da comunidade em ‘que nasceu’e pode, "parado- xalmente, criar todo o mundo humano ja all presente, @ seu réprio modo" (p. 139). Através da materialidade dos objetos eda sensoviaidade © solfse constitu, através de- les ele se cura. Objetos tran- sicionais, énicos,liricos,artis- ticos oureligiosos pormtom uma passagem. A imigragio, uma ‘constanta no mundo modemo, {gra fendas que isolam o sujel- toda sensorialidade peculiar— luminosidade, cheio, sonorida- de ~ de soupais de origem. Ob- Jetos de setfrecuperados, como uma panela de cobre no caso {de uma paciente, podem restau rara capacidade crativa, ore toro da vitalidade, Nouitimo capitulo —O self eomorrer~ oaparecimento da angiistia de morte érelaciona- do a0 fato de se ter construldo (ou no uma singularidade no mundo. A marca que esta singularidade deixa é sua obra, ue so toma, entdo, espaco potencial Aintengéo de seu traba- tho 6 de grande amplitude © pro- funda complexidade: apresen- tar um mado de conceber a Constituigso do sujeito entre- rmeada com a constituigso da cultura, num recorte que privle- gia asbases sensorais e mato ‘iais da existéncia Atarefa no 6 pequena. Satra procura aptesentévia de forma harmoni- (088 @redonda, oferecendo-nos (8 olos principais de seu pen- ‘samento. Ocampo estéaberto. ImbricagSes, questionamentos, lacunas e desdobramentos in- cctam ao trabalho, insigam para {que se continue a obra, Pedem esciarecimentos, por exemplo, a questéo da transposigo da sensorialidade ‘em imagens, a do estatuto da imagem enquanto icone e en- ‘quanto representagao e sua to- Pografia, se 6 que dentro de sua lgica cabe a questao topogré- fica, Ainda nesta dirego, como se articulama instancia egdiea, 0 selfe oeu, eoque essa dle renciagao suscita na compro fensao dos diversos quadros clinioas? Indo além, como pen= sar aquilo que nos move, em nossa cultura, & coisiicagao daexisténciae &impossibiida- ded encontro? lett, certamente dese- Joso deste nstigante dialogo, fea nha expectativa de que o autor ppossa fazer um mergulho mais, Vertical, expondo melhor as flgranas de seu pensamento postico-conceitual, aprofun- dando também a articulagao entre os distintos campos da psicandlse, da antropologia © a filosofia, ‘Luciana Cartoce! ¢ pslosnaist, ‘momo do Departments do Int- {uo Sedes Sapien, proassora Go curso Pscopatloga Pacanall tia # Clintea Contemporinea 60 ‘osm Insti, Noras 1. Pats tanto, ver seu prime tiv, ‘Moment mutates em atcand tay Ca do Pita, 199, 2 pm x pas.

Vous aimerez peut-être aussi