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05/03/2010
A leitura e a escrita não são características genéticas da espécie humana e, portanto, sua
aquisição requer esforço e a existência de um ambiente estimulante.
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
b)compreensão da linguagem falada: os objetos que adquiriram significado são associados aos
seus nomes.Exemplo: o nome mamadeira ao ser repetido pela mãe, frente ao objeto, torna-se,
por si só, um estímulo que evoca o objeto.Sempre que o nome mamadeira for dito, evocará a
imagem do objeto que se encontra armazenado na memória da criança.
c)expressão da palavra falada: apesar da criança já ter adquirido o significado dos objetos e a
compreensão da palavra falada, os sons emitidos por ela pouco se assemelham aos sons
emitidos pelos adultos.O som /ca/ pode querer dizer mamadeira.É à partir dessa fase, que o
comportamento vocal (fala) da criança começa a se assemelhar à fala do adulto, pois a criança
compara os sons que emite aos sons falados pelos adultos e imita-os.A fala se desenvolve por
imitação.
Observamos que as etapas que envolvem a compreensão são anteriores às que envolvem a
expressão.Assim, as crianças compreendem o que os pais falam para depois expressarem-se
através dela (escrita).Primeiro a criança aprende a ler para depois aprender
a escrever.Crianças que não compreendem a palavra impressa podem até realizar a cópia das
palavras e frases mas, dificilmente, conseguirão realizar um ditado ou uma redação.Neste caso,
a cópia não pode ser considerada escrita mas, a mera reprodução (sem sentido) de letras e de
palavras já que estas crianças não entendem o que estão escrevendo.Exemplificando: uma
criança que apresente dificuldades para expressar-se verbalmente, a leitura e a escrita também
serão afetadas; uma criança que apresente dificuldades para ler, sua escrita também será
comprometida; uma criança que não tenha adquirido a aquisição dos significados, dificilmente
compreenderá a palavra falada, dificilmente se expressará oralmente e, apresentará sérias
dificuldades para ler e escrever.
LEITURA
Este ato é o inverso da leitura.Se na leitura se estabelece uma relação entre palavra impressa-
som-significado, na escrita a relação estabelecida é entre o som-significado-palavra impressa
(que é o que se escreve).
De acordo com Nieto (1975) ao copiar, iniciamos por fazer uma discriminação visual de todos
os detalhes das letras e do formato da palavra que está servindo como modelo.Daí
relacionamos os símbolos impressos (a letra e a palavra) aos respectivos sons, aos
movimentos articulatórios (mesmo que a criança não pronuncie em voz alta), aos movimentos
gráficos (traçado gráfico a ser executado), aos significados (conceitos) e, só então,
reproduzimos graficamente a palavra modelo.
Para melhor compreender este processo, peço que você copie as frases abaixo na ordem
proposta:
A grande maioria dos leitores têm pouco contato com as duas primeiras frases.Então, a frase
mais fácil de ser copiada foi a última, que a mais difícil foi a segunda e, se compararmos a cópia
da primeira com a de em português, a primeira acarretou maior dificuldade para ser realizada.
Este fato aconteceu porque se desconhece o significado que as duas primeiras
frases encerram.Mas, se antes de ser realizada a cópia da frase em francês, eu tivesse dito o
significado, facilitaria o processo da cópia? Não!!! Pois a dificuldade sentida em reproduzir
graficamente as palavras visualizadas continuaria porque a resposta não é apenas o
conhecimento ou não do significado mas algo anterior a este conhecimento, ou seja, se consigo
ou não ler a frase que está na minha frente.
Se conseguimos relacionar os símbolos gráficos (letras) aos respectivos correspondentes
sonoros (sons) e, agora sim, atribuir-lhes um significado, ao se visualizar a frase pode-se até
antecipar e até prever as letras ou as palavras que vão surgir à medida que os olhos se
deslocam ao longo da linha.O processo é rápido (as palavras são copiadas em sua totalidade e
não letra por letra ou sílaba por sílaba) e, passa a ter um significado para aquele que realiza tal
atividade.
Se apenas se discriminam visualmente as letras e logo se parte para a reprodução gráfica das
mesmas, a cópia é lenta, cansativa e sem qualquer significado.Pode-se afirmar que as
sensações sentidas frente à cópia das duas primeiras frases, são as mesmas sensações que uma
criança sente durante a cópia de uma frase em português mas, que ela não sabe ler! Nas duas
primeiras frases eu discriminei visualmente as letras e as reproduzi.Pulei o restante do
processo envolvido no comportamento da cópia.
No ditado, as palavras ditadas oralmente devem ser discriminadas e diferenciadas
auditivamente, depois são associadas aos significados, à sua forma gráfica (letras e sílabas que
compõem a palavra ouvida e seus respectivos traçados) e, são escritas, devendo-se respeitar a
orientação têmporo-espacial.
Eis aqui outro exemplo que demonstra como a leitura também impregna esta atividade
gráfica…imaginemos que o professor dita-nos uma palavra: encilhador.Só que é a primeira vez
que ouvimos essa palavra e nunca vimos escrita em nenhum lugar.Assim, um de nós poderia
ter escrito ensilhador, enciliador, ensiliador, etc.Por que isso aconteceria? Alguns poderiam
dizer que isso ocorre devido ao fato de se desconhecer o significado dessa palavra.Essa palavra
significa “aquele que encilha um animal”.O fato de se conhecer agora o significado dá-nos
certeza de como escrevê-la corretamente? Não!!! O que ocorre é que existe o desconhecimento
da forma gráfica da palavra e, o único apoio que se tem para escrevê-la é a pronúncia
do professor.Daí os alunos desenvolvem tentativas para escrever a palavra ouvida (tentativa
ortográfica).
Esse processo de levantar hipóteses ortográficas é comum e, todos nós, inclusive as crianças, o
realizamos quando nos deparamos com uma situação similar.
É através do processo da leitura que a forma gráfica das palavras vai ficando registrada na
memória visual.Assim escrevo casa, caça e exemplo e não escrevo caza, cassa e exemplo
porque li essas palavras em algum lugar e retive suas formas gráficas.Se algum dia for
solicitado a escrevê-las, posso recordar sua forma gráfica e escrevê-las corretamente, caso
contrário, farei hipóteses ortográficas como no caso da palavra encilhador.
Na redação, as palavras são elaboradas mentalmente, associada aos respectivos sons, aos
significados, à forma gráfica e escritas.É através da leitura de textos, frases, palavras, que se
aprendem palavras novas, diferentes daquelas usadas em nosso linguajar corriqueiro.É através
da leitura que se percebe como se articulam as regras gramaticais e se aprendem novos estilos
de escrita.
A criança precisa saber ler para poder escrever.Se a criança lê com dificuldade ou ainda não
aprendeu a ler, de pouco lhe adiantam os exercícios escritos já que as palavras que ela escreve
não têm correspondente sonoro e, não são compreendidas.A escrita torna-se um processo sem
significado, cansativo e desgastante e que exige muito esforço para ser realizado.
Quando se fala em Distúrbios de Aprendizagem envolvendo leitura e escrita, é indispensável
que se analise a leitura oral e silenciosa antes de se avaliar a escrita (cópia, ditado e redação),
visto serem as dificuldades de escrita, decorrentes de uma leitura lenta, analítica, impregnada
de trocas de sílabas ou palavras, sem pontuação nem ritmo e, incompreensível.
Deve ficar claro que a aprendizagem da leitura e escrita é um processo complexo que envolve
vários sistemas e habilidades (lingüísticas, perceptuais, motoras, cognitivas) e, não se pode
esperar, portanto, que um determinado fator seja o único responsável pela dificuldade para
aprender.