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PROCESSO Nº: 0815067-47.2017.4.05.

8100 - MANDADO DE
SEGURANÇA
IMPETRANTE: LARICE RAMOS MEDEIROS VELLOSO
ADVOGADO: Luciano Alves Daniel
IMPETRADO: SUPERINTENDENTE REGIONAL DE POLÍCIA
FEDERAL NO ESTADO DO CEARÁ e outro

SENTENÇA

1. Relatório

Trata-se de mandado de segurança, com pedido liminar, impetrado por


LARICE RAMOS MEDEIROS VELLOSO em face do
SUPERINTENDENTE REGIONAL DA POLÍCIA FEDERAL NO
ESTADO DO CEARÁ, objetivando a suspensão e a anulação da Portaria nº
935/2017-SR/PF/CE, bem como de todos os atos subsequentes praticados
pela Primeira Comissão Permanente de Disciplina no Processo
Administrativo Disciplinar nº 001/2017-SR/PF/CE, determinando o seu
arquivamento.

Devidamente notificada, a autoridade impetrada apresentou informações.

Desnecessária a oitiva do Ministério Público Federal, ante a vigência da Lei


nº. 13.105/2015 (Novo Código de Processo Civil), que estabelece a
necessidade de manifestação do Parquet a fim de elaborar parecer somente
nos casos estritos constantes dos incisos do art. 178 do CPC (I - interesse
publico ou social; interesse de incapazes ou III - litígios coletivos pela posse
de terra rural ou urbana), o que não se observa na presente ação.

É o relato necessário.

2. Fundamentação

Na questão de mérito trazida aos autos, busca-se em síntese o trancamento


do Processo Administrativo Disciplinar nº 001/2017-SR/PF/CE, instaurado
com o objetivo de apurar suposta responsabilidade funcional da servidora
LARICE RAMOS MEDEIROS VELLOSO, Agente de Polícia Federal, pela
publicação de mensagens de conteúdo ofensivo ao cargo de Delegado de
Polícia Federal, postadas na rede social FACEBOOK.

Analisando, então, a matéria, observa-se, com base na documentação


acostada aos autos, que o referido Processo Administrativo Disciplinar foi
instaurado com base no art. 43, l, da lei 4878/65, que dispõe sobre o regime
jurídico peculiar dos funcionários policiais civis da União e do Distrito
Federal:

(...)

CAPÍTULO VII

Dos Deveres e das Transgressões

(...)

Art. 43. São transgressões disciplinares:

I - referir-se de modo depreciativo às autoridades e atos da administração pública,


qualquer que seja o meio empregado para esse fim;

(...)

Segundo o art. 144, §1º, da Constituição Federal, a Polícia Federal é "órgão


permanente, organizado e mantido pela União". Seus membros então são regidos
pela Lei nº 4.878/65.
Uma análise isolada e descontextualizada da lei levaria certamente ao
reconhecimento da legalidade do ato administrativo que instaurou o
processo administrativo para apurar os atos praticados pela impetrante.
Porém, é fundamental que as referidas regras jurídicas sejam lidas em
conformidade com a Constituição, em especial com o direito fundamental à
liberdade de expressão.

O fato motivador da instauração do processo administrativo foram algumas


postagens publicadas pela impetrante no FACEBOOK, em que critica os
delegados de polícia federal. As críticas, vale mencionar, se dirigem ao cargo
de um modo geral, sem se referir a nenhuma autoridade em particular. São
críticas relacionadas ao papel desempenhado pelos delegados federais, à
relação dos delegados federais com a mídia e com as estratégias corporativas
e remuneratórias adotadas pela referida carreira.

Algumas críticas são, realmente, bastante ácidas e de cunho desagregador,


revelando a disputa interna e o desgaste que existe atualmente entre as
categorias funcionais que compõem a Polícia Federal.

Porém, mesmo que se considere que as críticas são equivocadas, injustas e


talvez até mesmo ofensivas, não se pode negar que as referidas manifestações
estão claradamente inseridas no âmbito de proteção da liberdade de
expressão, consagrado no artigo art. 5º, inciso IV, da CF/88, em cujo
conteúdo insere-se o direito de crítica a carreiras e instituições públicas.

A esse respeito, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o HC 83.127-7,


entendeu que "a liberdade de expressão constitui-se em direito fundamental
do cidadão, envolvendo o pensamento, a exposição de fatos atuais ou
históricos e a crítica" (STF, HC 83.1237-7/DF, rel. Min. Marco Aurélio, j.
16/9/2003). No referido caso, o que estava em jogo era a possibilidade de
punição de um escritor que escreveu um livro chamado "Feridas da Ditadura
Militar", contendo vários fatos históricos e comentários que poderiam ser
considerados como "capazes de ofender a dignidade ou abalar crédito das
Forças Armadas ou a confiança que estas merecem dos público" (art. 219, do
CPM). O STF, conforme dito, determinou o trancamento da ação penal
invocando, entre outros fatores, a liberdade de expressão e o direito de
crítica.

De modo semelhante, no julgamento do ARE 722.744/DF, o STF proferiu


decisão cujos fundamentos também se aplicam ao presente caso, embora o
que estivesse em jogo era a responsabilidade civil por críticas publicadas pela
imprensa contra autoridades públicas. Na referida decisão, o STF deixou
claro que o direito de crítica é um direito constitucional plenamente
oponível aos que exercem qualquer atividade de interesse da coletividade em
geral, pois "o interesse social, que legitima o direito de criticar, sobrepõe-se a
eventuais suscetibilidades que possam revelar as figuras públicas,
independentemente de ostentarem qualquer grau de autoridade". Mais
ainda: consignou que a liberdade de crítica funcionaria como "verdadeira
excludente anímica, apta a afastar o intuito doloso de ofender" (STF, ARE
722.744/DF, rel. Min. Celso de Mello).

Dentro desse contexto, é de se reconhecer que a impetrante estava no


exercício de seu direito de crítica, ainda que suas palavras possam ser
consideradas injustas, exageradas e deselegantes.

Porém, o ponto central da liberdade de expressão é este: para reconhecer o


direito à liberdade de expressão e o direito de crítica não é preciso concordar
com as ideias veiculadas, nem mesmo com o meio ou a forma escolhida pelo
autor da expressão. O direito fundamental à manifestação do pensamento
não pode ser restringido apenas porque as ideias são desagradáveis ou
porque incomodam. Afinal, ideia não se combate com força, nem mesmo
com ameaça de condenações, mas com outras ideias. Isso vale tanto para
ideias boas quanto para ideias ruins, para argumentos fortes ou fracos, para
tons amistosos ou desagregadores, ou expressões agradáveis ou desagradáveis.
Independentemente de tudo isso, a manifestação de pensamento merece
proteção constitucional.

Diante disso, considerando que as críticas realizadas pela impetrante, sejam


elas corretas ou não, estão indiscutivelmente protegidas pela liberdade de
expressão, a segurança deve ser concedida.

3. Dispositivo

Pelo exposto, CONCEDO A SEGURANÇA para, em razão da ausência de


justa causa, declarar nula a Portaria nº 935/2017-SR/PF/CE, bem assim
todos os atos subsequentes praticados pela Primeira Comissão Permanente
de Disciplina no Processo Administrativo Disciplinar nº 001/2017-
SR/PF/CE, por ela instaurado, determinando-se seu imediato
arquivamento.

Custas, as de lei. Sem condenação em honorários (art. 25 da Lei nº.


12.016/09).

Sentença publicada e registrada eletronicamente.


Intimem-se.

Expedientes de plantão.

Com o trânsito em julgado, arquivem-se os autos com as cautelas de estilo.

Fortaleza (CE), data do sistema.

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