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A leitura do texto de Camillo Boito, Os restauradores, apresentado na

Conferência feita na Exposição de Turim, em 1884, mostra claramente o quanto a


teoria da Restauração evoluiu a partir de duas teorias fundamentalmente
antagônicas: a de Viollet-le-Duc e a de John Ruskin. O amadurecimento é claro
e é perceptível a proximidade dos princípios usados na época (fins do XIX e
começo do XX) e os de hoje.
Em Os restauradores, Boito chama a atenção para o fato de que restauração e
conservação não são a mesma coisa, sendo, com muita freqüência, antônimas. Os
conservadores são tidos como “homens necessários e beneméritos” ao passo que
os restauradores são quase sempre “supérfluos e perigosos”. Dessa forma,
dirige seu discurso sobretudo aos últimos, pregando a precedência da
conservação sobre a restauração e a limitação desta ao mínimo necessário. Há
abordagem em relação a formas de restauração de diversas artes: escultura,
pintura e arquitetura, cada uma tendo suas particularidades e complexidades. A
regra geral para a escultura era a de que não houvesse completamentos,
excetuando-se quando fossem devidamente documentados (1), pois os mesmos
poderiam desfigurar a obra, levando-a por um caminho totalmente diferente do
que aquele previsto por seu autor.
Todas as adições (restaurações sucessivas) deveriam ser descartadas. Em
relação à pintura, preconizava que se deveria saber o momento de parar e ser a
intervenção menor possível. Sobre a arquitetura recaía, em sua opinião, a
maior complexidade: distanciava-se de Ruskin e de le-Duc: do primeiro, à
medida que não aceitava a morte certa dos monumentos e, do segundo, não
aceitando levá-los a um estado que poderia nunca ter existido antes. Alertava
para o perigo da forma de agir de le-Duc em função da arbitrariedade que a
mesma continha e ao que poderia ser sua inevitável conseqüência: o triunfo do
engano. Ao afastar-se das duas teorias, cria, ao mesmo tempo, uma teoria
intermediária entre ambas. Cita e concorda com Mérimée ao dizer sobre as
restaurações: “nem acréscimos, nem supressões”, ficando evidente o respeito
que os acréscimos ao longo da história deveriam ter e orientando, ao mesmo
tempo, a mínima intervenção. Boito admitia contradições em suas próprias
teorias, uma vez que o assunto era contemporâneo e as mesmas estavam, ainda,
em formação.
Em outros aspectos, muitas vezes as idéias apresentadas aproximavam-se das de
Ruskin, principalmente ao apontar para a pouca intervenção que deveria existir
no monumento. Na verdade, esta aproximação refere-se ao mesmo princípio
fundamental, não alteração substancial do monumento, à medida que Boito
acreditava na necessidade de certas restaurações (2). Outra característica
presente em Ruskin que se desenvolve nessa teoria é a valorização das ruínas
como tal e por isso deve-se entender o reconhecimento de sua beleza, de seu
aspecto pictórico, na qualidade mesma de ruína. Não há, por parte da teoria
aqui analisada, a vontade de que as mesmas voltassem ao aspecto original do
edifício e sim a de que permanecessem, de fato, como ruínas. Afasta-se aqui um
possível completamento com elementos novos, princípio com certeza adotado por
Viollet-le-Duc. Também o medo em relação à restauração como o grande perigo
distancia o pensamento de Boito dos escritos de le-Duc, aproximando-o, mais
uma vez, a Ruskin.
Em outros momentos, tangenciando le-Duc, o texto mostra exatamente como a nova
forma de pensar a intervenção sobre o legado do passado é a resultante de
equilíbrio entre as proposições deste e outras, um tanto radicais, de Ruskin.
Dessa forma, ao não aceitar a morte inevitável dos monumentos, propunha, em
casos necessários, restaurações que, por serem mínimas, acabavam eliminando a
arbitrariedade de certas ações. A aceitação de todas as fases históricas
presentes numa obra também espraiava os juízos de valores, na maioria das
vezes subjetivos, em relação ao que permaneceria ou não. Não se desejava mais
levar o edifício a um estado inicial e, fundamentalmente, a um que jamais
houvesse existido antes.
Seu discurso representa uma evolução da teoria da restauração a partir da
mesma origem e para o mesmo caminho posteriormente traçado pela Carta de
Atenas de 1931: a revisão e adaptação dos escritos de Ruskin e de Viollet-le-
Duc. A partir do pensamento de Boito, foi feita a separação precisa do que
significava restaurar e do que significava conservar. A importância dada ao
contexto das obras artísticas é percebida sobretudo quando fala da escultura
e, no final do texto, da saída de obras do local de origem.
O texto traz, de forma geral, um amadurecimento dos princípios do restauro,
pondo um fim ao maniqueísmo vigente até então e servindo como grande
contribuição para a reflexão contemporânea sobre o mesmo. Questões como o
embasamento pela documentação e o respeito às fases de uma obra permeiam todas
as intervenções contemporâneas, tendo, portanto, grande importância em sua
práxis.
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