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BUÑUEL, Luis. Cinema: instrumento de poesia. Tradução de Teresa Machado.

In: XAVIER,
Ismail. A experiência do cinema: antologia. Rio de Janeiro: Graal/Embrafilme, 1983. p. 333-
337.
No presente capítulo, o autor Luis Buñuel propõe a discussão de problemas relacionados
ao cinema, onde o mesmo seria abordado como uma “expressão artística”, ou de forma mais
concreta como um instrumento de poesia, tomando partida das explicações cabíveis
relacionadas a subversão de realidade e a visão subconsciente do mundo que nos rodeia. Buñuel
faz comparações entre a retina do olho humano e a câmera cinematográfica, deixando a
entender que existem inúmeras possibilidades de o cinema registrar o seu verdadeiro potencial.
Em contrapartida, ele fala que esse poder inerente a essa arte se encontra “dosado e
aprisionado”, pois as infinitas possibilidades que ao cinema são concedidas não são realizadas
como deveriam ser. Nesse meio, o autor comenta como o cinema é capaz de trabalhar a partir
das expressões humanas, resgatando o espectador para um novo universo, que foge de toda a
linearidade de seu mundo e abrigando-o em outro cheio de possibilidades. Mas infelizmente,
esse potencial cinematográfico realmente não é aproveitado, nas telas de cinema
contemporâneas se encontram apenas a mesmice, as tentativas de imitar apenas a realidade sem
ir além, fazendo que o cinema se compadeça no “vazio moral e intelectual”.
Buñuel mostra um pouco do potencial do cinema ao utilizar como exemplo o espectador
atual, que deixa de lado uma ideia que poderia ser encontrada em qualquer livro para encontrar
essa mesma ideia em uma sala escura onde os principais artifícios da sétima arte o fazem aceitar
sem relutância tudo o que é exibido ali. Isso mostra o quanto o cinema é impactante no nosso
cotidiano mesmo sendo aproveitado de uma forma tão rasa. Ele é capaz de transformar
quaisquer perspectivas simples em ideias geniais que podem impactar até a mais culta das
pessoas. Contudo, todo esse poder que o cinema traz, acaba ocultando o poder de reflexão que
o seu espectador possui, pois ao entrar em contato com a tela, quem está assistindo se encontra
em um universo já pronto, no qual ele não necessita se dar ao trabalho de idealizar, tudo o que
está diante dele já é a perspectiva de outro alguém, e comumente o espectador se apropria
daquela perspectiva ali presente ao invés de refletir acerca de qualquer outra ideia que ele possa
construir para si mesmo.
O autor fala também sobre o que falta aos filmes em geral, para ele, os autores e diretores
deixam a desejar quando se trata de mistério, eles preferem deixar o seu público dentro de uma
zona de conforto, sem mostrar ideias complexas que poderiam ser apresentadas talvez com
auxílio da poesia, fazendo com que o espectador entrasse em contato com um mundo que
beirasse o maravilhoso e indescritível, mas ao invés disso, o que se encontra são ideias já
desgastadas sobre o cotidiano humano que são aceitas facilmente por nossa sociedade
acomodada aos padrões de realidade.
Luis Buñuel fala ainda que “nas mãos de um espírito livre, o cinema é uma arma
magnífica e maravilhosa”, isso quer dizer que com um condutor que não esteja alinhando com
os padrões de pensamento atuais, a obra cinematográfica se torna um objeto capaz de exprimir
o mundo com toda a sua essência e resgatar os instintos mais enigmáticos da mente humana.
Fazendo com que a tela tenha uma relação direta com o interior de seu espectador, existindo
uma troca constante dentro daquele universo, naquele inconsciente as imagens aparecem como
um sonho, todas as imagens ali presentes se alternam constantemente e o espaço e o tempo se
tornam apenas um detalhe e ambos acabam se desfazendo da já conhecida realidade para abrigar
um ambiente no qual os valores conhecidos são completamente sem importância. Sendo assim,
é possível dizer que o cinema foi criado com o intuito de descrever o subconsciente, que é
constantemente tratado com a poesia, mas que infelizmente pouco é utilizado para este
propósito tão magnífico.

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