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Abel M.

Mateus, Macroeconomia Page 1 11/05/2018

II. Macroeconomia de longo prazo: crescimento e análise estrutural

6. Factos estilizados do crescimento económico europeu

Os seis factos estilizados de Kaldor-Solow. Os onze factos estilizados de Romer. A


experiência europeia.

Se olharmos para a escala planetária e para o que aconteceu nos últimos dois
séculos verificamos três factos importantes. Primeiro, que no último século a maior
parte dos países do mundo teve um crescimento económico substancial, sobretudo
quando comparado com a sua trajectória de séculos anteriores. Os rendimentos reais
cresceram de geração para geração, e estes rendimentos mais elevados permitiram às
pessoas consumir maiores quantidades de bens e serviços que os seus antecessores.
Os níveis mais elevados de consumo permitiram um nível de bem-estar mais elevado.
Segundo, este processo de crescimento sustentado do PIB per capita teve origem num
período relativamente recente se considerarmos a história da humanidade. A maioria
dos economistas localiza na Revolução Industrial o fenómeno que originou o
aparecimento do moderno crescimento. Como veremos, a razão principal deste
fenómeno está na incorporação sistemática do progresso técnico no processo
produtivo - a acumulação de inovações e alterações institucionais que ocorreram
depois daquela Revolução e que se acentuou desde finais do século XIX. O terceiro, é
que apesar deste processo de crescimento ter alastrado aos vários continentes,
permanecem grandes diferenças no rendimento per capita entre os países. Cerca de
dois terços da humanidade continua a viver em países subdesenvolvidos, a pobreza
ainda aflige cerca de 27% da população mundial, concentrando-se nas populações
destes países, embora os progressos na sua redução tenham sido notáveis. Dos 1,3 mil
milhões de pobres, cerca de 0,5 vivem na Ásia do Sul e 0,4 na Ásia do Leste 1. O fosso
entre os países ricos e países pobres, medido pelo rácio entre o rendimento per capita
do mais rico e mais pobre tem-se alargado substancialmente. (O país mais rico é o
Luxemburgo com 35 mil USD de 1996, e o mais pobre a Etiópia com 450, em PPP).
Ora porque é que uns países se tornaram desenvolvidos e outros permanecem
subdesenvolvidos? Ou ainda com maior interesse para nós, como é que países como
Portugal e os Tigres Asiáticos passaram de subdesenvolvidos a desenvolvidos desde
os anos 1960 aos anos 1990 (em 30 anos!), enquanto que outros países que tinham o
mesmo nível de rendimento per capita à partida ficaram para trás.

A performance de um país em termos de desenvolvimento mede-se pela


média das taxas de crescimento do PIB (ou PNB) per capita em termos reais (ou
seja, a preços constantes) para um período relativamente longo – por exemplo, em
cada década ou abarcando todo um ciclo económico. Reparemos que é insuficiente
considerar apenas a taxa de crescimento do PIB, porque uma duplicação do PIB
acompanhada por uma duplicação da população leva a que o nível de rendimento ou
de bem-estar se mantenha constante, pois em termos per capita o PIB mantem-se
constante.
O nível de desenvolvimento de um país mede-se pelo Produto Nacional
(ou Interno) Bruto per capita. Mas suponhamos que nos é dito que o PNB per capita
de Portugal é de 2 000 contos por ano, e que o dos EUA é de 28 mil dólares. Qual é o
1
A maior concentração da pobreza, entre os países com mais de 10 milhões de pobres encontram-se no Nepal,
Peru, Kenya, Mexico, Paquistão, Ethiopia, Filipinas, Indonésia, Nigéria, Brasil e China, compreendendo cerca de
80% da pobreza mundial. Só a India tem 36% dos pobres do mundo.

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maior? Não podemos comparar porque estão designados em moedas diferentes. A


única forma de os comparar é converter os PIBs para uma moeda comum.
Suponhamos que utilizamos a taxa de câmbio do mercado do escudo por USD actual,
que é de 240 escudos por USD. Então o PIB per capita em Portugal seria de 8 333
USD. Mas se tomássemos a taxa de câmbio de 170 escudos por USD que vigorava há
três anos o PIB per capita já seria de 11 765 USD. Por isso a utilização da taxa de
câmbio de mercado não é a mais indicada para comparações de nível de vida. Para
resolver este problema os economistas desenvolveram o chamado método da
Paridade do Poder de Compra,2 que é utilizado pela OCDE, Banco Mundial e
Comissão Europeia para comparar os níveis de rendimento per capita. Primeiro
define-se um cabaz de bens e serviços tipo. Depois os organismos estatísticos de cada
país colectam dados sobre os preços para adquirir esse cabaz. Dividindo a despesa
com o cabaz em Portugal pela despesa nos EUA do mesmo cabaz temos a taxa de
câmbio em PPC.3

O Quadro 2.1. dá-nos o PNB per capita, a população e o PNB total dos 40
países mais ricos do mundo, e o Quadro 2.2. os mesmos indicadores dos mais pobres
do mundo.

D:\Desenv\Ricos96.xls
Pobres98.xls

Por outro lado, o Quadro 2.3. dá-nos os países de maior sucesso em termos de
crescimento do PIB per capita nos últimos anos.

D:\Desenv\Paises-sucesso.xls

O objectivo deste capítulo e dos seguintes é estudar o processo de crescimento


sustentado. Este fenómeno pode ser estudado comparando uma amostra transversal de
países em dado momento (estudo “cross section”), ou de um mesmo país ao longo do
tempo (estudo temporal ou das séries cronológicas).
Em toda a análise anterior supusemos que o nível da capacidade produtiva se
mantinha fixo. Os modelos de crescimento que vamos estudar permitem-nos analisar
como é que a capacidade produtiva se expande ao longo do tempo. Passamos duma
metodologia baseada na estática, em que a economia era estudada como se fosse uma
fotografia no momento, para o estudo da dinâmica, em que vemos um filme a
desenrolar-se ano após ano. Neste estudo surge como particularmente importante o
modelo de Solow.
O segundo objectivo é estudar as políticas económicas que influenciam o nível
e crescimento do nível de vida. Uma das questões centrais de toda a teoria económica
que iremos tratar é: que parte do rendimento nacional deve ser consumido, e que parte
deve ser poupado? Como a poupança de uma economia iguala, por definição, o seu
investimento, a poupança influencia o stock de capital, ou a capacidade produtiva, que
determina a produção futura. Ora o montante de poupança nacional depende das
políticas económicas dos governos. Para avaliar estas políticas temos que
compreender quais os benefícios e custos que elas impõe sobre a sociedade ao darem
origem a alterações nas taxas de poupança.
2
 PPC em português, ou Purchasing Power Parity em inglês.
3
Uma fonte aconselhada para obter estimativas do PIB per capita por países são os Atlas publicados anualmente
pelo Banco Mundial.

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Noção teoria do crescimento

A teoria do crescimento procura explicar o processo pelo qual uma


economia mantém um crescimento sustentado, no longo prazo, do rendimento
per capita. Assim, o objectivo do crescimento é identificado como a melhoria
do nível de bem-estar, como por exemplo o valor actualizado da soma das utilidades
presente e futuras de todas as famílias ou tipos de família na economia. Aqui surgem,
pois, várias gerações. Torna-se necessário agregar o bem-estar de vários indivíduos
ou famílias presentes em determinado momento e agregar as famílias presentes em
diferentes momentos. Embora não exista um tratamento satisfatório para nenhum
destes problemas costuma agregar-se no mesmo momento de tempo, seguindo uma
aproximação Bentamista (de Bentham) em que se somam as utilidades de cada
agente. Poderia também considerar-se que a sociedade tem uma certa aversão à
desigualdade social, como se considera na teoria do imposto de rendimento óptimo,
mas isso implica modelos mais elaborados. Já na agregação intertemporal se
considera normalmente uma taxa de desconto dos consumos ao longo do tempo que
dá um menor peso quanto mais longe do momento actual se encontra a geração.

Nos factores explicativos do crescimento desempenha um papel central o


processo de acumulação do capital. Embora tradicionalmente se tenha reconhecido
que a poupança e o investimento em capital físico, ou seja as máquinas, material de
transporte, edifícios e infra-estruturas de uma economia, eram o principal factor
de crescimento, hoje considera-se que o capital humano é tão ou mais importante. O
capital humano, que é o conjunto de conhecimentos que uma dada sociedade
dispõe, adquire-se através da escola, da formação profissional, learning-by-doing e
“on-the-job training”. Outro factor importante que veio a caracterizar o crescimento
económico moderno iniciado pela Revolução Industrial é o progresso técnico. Este
veio a corresponder ao processo de progresso científico e técnico que se origina nas
invenções em laboratórios, fábricas ou outros centros, se incorpora no processo
produtivo através de inovações e seguidamente se difunde no tecido económico,
bem assim como as melhorias institucionais e alterações organizacionais que
sustentam o aumento da produtividade. Pode envolver novos produtos, melhoria
da qualidade dos existentes, maior diversidade de produtos, novos processos de
fabrico ou melhoria das técnicas de produção ou distribuição e transporte, bem assim
como novas formas de organização ou novas instituições. Por exemplo, vários
economistas dizem que a protecção à propriedade privada introduzida no Reino Unido
e vários países da Europa Continental em finais do século XVIII, bem assim como a
protecção aos benefícios das invenções, estão na base do fluxo contínuo de inovações
que se passou a verificar a partir daquela época --- esta é a escola institucionalista do
desenvolvimento4. Iremos concentrar-nos nesta parte na análise da chamada escola
do crescimento neo-clássica, que procura uma caracterização do crescimento a partir
de modelos quantitativos.

Em termos diagramáticos temos:

Crescimento económico = Crescimento sustentado do PNB per capita

4
 Alguns importantes economistas desta escola são Douglas North e R. Feiwel.

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Depende

1. Acumulação Factores Produtivos

Capital Físico (equipamentos, edifícios, infraestruturas)

Capital Humano (conhecimentos de uma sociedade)

2. e do Progresso Técnico resultante das

Invenções
Inovações
Transferência de tecnologia

Em termos de: novos produtos, produtos de melhor qualidade, maior


variedade de produtos, novas técnicas, melhores organizações,
melhores instituições

Vamos estudar modelos simples que formalizam este processo.


Os modelos matemáticos assumem um papel fundamental como metodologia
na teoria do crescimento porque nos ajudam a identificar canais de causalidade e a
formular modelos que depois se podem testar com dados quantitativos e a formular
políticas económicas. Os modelos de crescimento primitivos tratavam sobretudo de
modelos agregados, normalmente de um sector. Os modelos mais recentes são multi-
produtos e multi-sectores.

Normalmente considera-se que a teoria do crescimento tem a sua aplicação


privilegiada nas economias industrializadas, pois não considera as transformações
sociais e culturais profundas que acompanham a passagem de uma economia
subdesenvolvida a desenvolvida.

As metodologias de base utilizadas na teoria do crescimento são a construção


de teorias que permitam definir as características de uma trajectória de crescimento
sustentado e equilibrado (steady state), das principais variáveis macro-económicas.
Porquê? Primeiro porque o que nos interessa é o longo prazo - a evolução em décadas
ou séculos de evolução. Segundo porque não sabendo quando é que devemos
terminar o horizonte de estudo se parte da hipótese de um horizonte sem fim definido,
ou seja, infinito. Terceiro, nesta perspectiva de horizonte infinito quando as variáveis
não crescem a uma mesma taxa então as que têm uma taxa superior à média tendem
para infinito enquanto as que crescem abaixo da média tendem para zero. Ora o
interesse de tal modelo é bastante limitado pois o que nos interessa é discutir
trajectórias que tenham significado económico: que interesse teria estudar um modelo
em que o capital tende-se para infinito ou para zero enquanto que a mão-de-obra
tende-se para zero?

O modelo de Solow, que estudaremos detalhadamente é o principal modelo da


teoria do crescimento exógeno. O crescimento do produto per capita depende do
progresso técnico. Na sua ausência, a produtividade marginal decrescente do capital

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levaria à estagnação da economia. Esta teoria de evolução da economia no longo


prazo foi depois desenvolvida por Cass, Uzawa e muitos outros ao estendê-la para
modelos de crescimento óptimo, modelos multi-sectoriais, com diferentes vintages de
capital, etc..

As novas teorias de crescimento elaboradas por Romer e outros permitem aproximar


as teorias do crescimento – que explicam o crescimento sustentado do PIB 5 – das
teorias de desenvolvimento – que explicam a alteração estrutural que
acompanha a passagem de um país subdesenvolvido a desenvolvido 6. Assim,
vemos que as externalidades geradas pelo capital humano são uma “máquina do
crescimento” que era reconhecida já por muitos teóricos e práticos do
desenvolvimento, mas que não fazia parte dos textos de teoria do crescimento até
finais da década de 80. O progresso técnico passa também a ser uma variável
endógena que pode ser explicado pelo investimento em investigação e
desenvolvimento. Também recentemente Krugman e outros sublinham a importância
do ciclo de pobreza que pode ser gerado pelas externalidades das infra-estruturas
físicas e que era central nas teorias de Rosenstein-Rodan e Nurkse dos anos 1950.
Assim, era necessária a coordenação de investimentos que permitissem criar uma
onda de investimentos privados que tornassem rentáveis a instalação de determinada
infra-estrutura. Young e outros economistas começam a modelizar o processo
orgânico de criação destrutiva de Schumpeter, bem como chamam a atenção para o
processo de imitação e transferência de tecnologia que é essencial ao
desenvolvimento dos países do Terceiro Mundo. Depois de mais de um século de
divórcio, as teorias do crescimento voltam a confundir-se com as teorias do
desenvolvimento e vice-versa. Um último caso é a teoria estruturalista de Furtado e
Alfredo de Sousa de que a desigualdade da distribuição do rendimento poderia levar
ao bloqueamento do processo de desenvolvimento por causa da reduzida dimensão do
mercado. Ora esta teoria tem o tratamento formal adequado recentemente com
Murphy, Vishny e Schleifer, utilizando um modelo de crescimento endógeno.

Factores de crescimento e o processo dinâmico

O processo de crescimento é essencialmente um processo dinâmico e de longo


prazo (décadas e séculos). Por trás das teorias concebidas existem sempre três
factores fundamentais: (i) tecnologia e progresso técnico que determina a deslocação
das isoquantas - ao longo do tempo, e com a mesma quantidade de factores é sempre
possível produzir uma maior quantidade de output, (ii) o capital físico e humano e a
acumulação destes factores, (iii) força de trabalho, que corresponde aos seres
humanos que habitam uma dada economia. Não nos podemos esquecer que são estes
que fazem mover toda a máquina da economia.

Os seis factos estilizados de Kaldor-Solow

5
 O economista que lançou a teoria neo-clássica do crescimento foi Robert Solow.
6
A teoria do desenvolvimento aparece nos anos 1950 e 1960 quando os economistas se começam a preocupar
como desenvolver os biliões de seres humanos que vivem na pobreza nos países subdesenvolvidos. Alguns
economistas proeminentes que lançaram as bases desta teoria foram Arthur Lewis, que recebeu o prémio Nobel, e
Chenery no Banco Mundial.

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No seu famoso artigo de 1961, Nicholas Kaldor7 afirmava que o teórico deve
começar por estudar quais os factos estilizados que são mais relevantes para a
construção da sua teoria. Para a teoria do crescimento, segundo Kaldor, tendo estes
sido retomados mais tarde por Solow são:

1. A produtividade por trabalhador mostra um crescimento contínuo “sem tendência


para uma queda da taxa de crescimento da produtividade no longo prazo”.
2. O capital por trabalhador mostra uma taxa de crescimento constante.
3. A rentabilidade do capital mantém-se constante no longo prazo8.
4. O coeficiente capital-produto mantém-se constante no longo prazo.
5. O trabalho e o capital recebem proporções constantes do rendimento total.
6. Existem grandes diferenças na taxa de crescimento da produtividade entre países.

A teoria do crescimento exógeno tenta sobretudo explicar estes factos.

Os onze factos estilizados de Romer


A estes seis, P. Romer9 acrescentaria os seguintes:
7. Em estudos transversais (cross section), as taxas de crescimento médias não
mostram qualquer variação uniforme com o nível de rendimento per capita. Assim, a
crença que por vezes é comum de que os países mais desenvolvidos crescem menos
não tem verificação nos dados estatísticos.
8. A taxa de crescimento do volume de comércio externo está positivamente
correlacionada com o crescimento do produto.
9. As taxas de crescimento populacional estão negativamente correlacionadas com o
nível do rendimento per capita. Reparemos que nos países mais desenvolvidos
europeus as taxas de crescimento da população são quase nulas – e não são nulas, por
vezes, devido à forte imigração.
10. As taxas de crescimento dos factores produtivos não são suficientemente elevadas
para explicar a taxa de crescimento do produto; quer dizer, a contabilidade do
crescimento encontra sempre um elevado resíduo. Não é possível manter uma taxa de
crescimento sustentada no longo prazo se não houver progresso técnico gerado no
país e/ou através da importação de tecnologias mais avançadas dos países mais
desenvolvidos.
11. Tanto os trabalhadores qualificados com não qualificados tendem a migrar para os
países de mais elevado rendimento.

A teoria do crescimento endógeno tenta explicar estes factos adicionais. Em


particular, para Romer o facto 10 é fundamental na nova teoria do crescimento.

As nossas investigações acrescentariam mais três factos estilizados:

O que está implícito nos factos 1-6 é apenas a acumulação do capital, e o factor
trabalho também entra, mas como o seu crescimento é em geral lento, não
desempenha um papel fundamental na explicação do crescimento. Porém,
modernamente chegou-se à conclusão de que era importante a acumulação de capital
humano. Não é que antes não houvesse essa consciência, mas devido à dificuldade de
7
 N. Kaldor (1961), Capital accumulation and economic growth, em F. A. Lutz e D. C. Hague (eds.), The
Theory of Capital, New York: St. Martin´s Press, pp. 177-222.
8
Repare-se que aqui está em flagrante contradição com os ensinamentos marxistas sobre a evolução capitalista.
9
Capital Accumulation in the Theory of Long-run Growth, em R. Barro, Modern Business Cycle Theory, Harvard
Un. Press, 1989

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quantificação deste factor através da contabilidade nacional ele foi largamente


ignorado nas construções teóricas. Assim, acrescentaríamos:

12. A acumulação de capital humano é um processo essencial no crescimento do


rendimento per capita. De facto, por trás da aceleração do crescimento na Europa
deste século, por trás do milagre dos Tigres Asiáticos, estão fortes subidas do nível de
capital humano, devidas em parte à subida das taxas de escolarização das populações
destes países. É fundamental para explicar o crescimento económico a iteração entre o
capital humano e a evolução da tecnologia. A importação de novas tecnologias através
dos equipamentos e da formação técnica dos países mais avançados, combinados com
trabalhadores locais com maior nível de conhecimentos e de capacidade técnica,
explicam grande parte do êxito dos países subdesenvolvidos que tiveram mais sucesso
nas últimas décadas no processo de catching-up.

Mas mais ainda, combinando o facto 8. com o que acabamos de constatar, podemos
dizer que é a iteracção capital humano-evolução da tecnologia-abertura ao exterior
que é o ciclo fundamental explicativo do processo de desenvolvimento de uma nação.

Por outro lado, estudos mais recentes permitem-nos avançar com os seguintes factos
adicionais:

13. A proporção da população em pobreza absoluta (abaixo do limiar de pobreza)


tende a diminuir com o nível de rendimento per capita. E pode-se mesmo dizer que,
em geral, a desigualdade na distribuição pessoal do rendimento tende a diminuir com
o nível de rendimento per capita.

14. Nos países subdesenvolvidos o crescimento económico baseia-se sobretudo na


expansão dos factores produtivos, isto é o factor residual é mais reduzido. Nos países
desenvolvidos o factor residual – progresso técnico – adquire uma importância
fundamental.

15. Nos países subdesenvolvidos a melhoria da produtividade processa-se sobretudo


pela transferência e difusão da tecnologia dos países desenvolvidos. O progresso
técnico na fronteira tecnológica é sobretudo originada nos países desenvolvidos e é a
principal componente do factor residual. Um país só se torna verdadeiramente
desenvolvido quando participa neste processo mundial de deslocações da fronteira dos
conhecimentos.

Por fim, a maioria dos dados estatísticos não confirma o facto 5. Ou seja, os dados
demonstram que nos países subdesenvolvidos a proporção recebida pelo trabalho é
menor (sendo também importante os rendimentos da terra), e que nos países
desenvolvidos a proporção do capital é maior.

Diferenças entre a antiga teoria do crescimento (exógena) e as novas teorias do


crescimento (endógena)

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A teoria do crescimento tal como concebida por Solow baseia-se numa função
de produção com uma dada tecnologia. Ora, devido à lei dos rendimentos marginais
decrescentes dos factores produtivos (e, sobretudo, do que pode ser reproduzido e
acumulado) o rendimento que se pode obter dessa tecnologia vai tender para a
estagnação. Assim, o fim do processo de crescimento é a estagnação da economia.
Mas como é que então se pode gerar um processo de crescimento sustentado? Por um
lado, pelo crescimento natural da mão-de-obra. Mas como sabemos, este crescimento
nalgumas sociedades está em vias de extinção. Por outro lado, através da alteração da
tecnologia ao longo do tempo - pela introdução do progresso técnico. Mas este surge
de uma forma “ex-machina”, ou seja, de uma forma exógena. Ou, ainda de outra
forma, o seu processo de evolução - do progresso técnico - não é explicado pelo
modelo. Sendo este um fenómeno fundamental para o crescimento como é que não é
explicado pela própria teoria.
A nova teoria do crescimento surge como reacção e procura endogeneizar o
progresso técnico. Ou seja, este passa a ser gerado pelo próprio modelo. Como? De
diferentes maneiras. Para Romer e Lucas pela existência de externalidades no
conhecimento científico e nas descobertas constantes que têm sido feitas de uma
forma mais ou menos aleatória (este caracter de aleatoridade ainda não foi
reconhecido de uma forma fundamental pela teoria, mas é reconhecido pela história
económica). Outras externalidades são as que decorrem do “learning by doing” seja
ao nível da fábrica ou da sociedade, as que resultam do capital físico e as que
resultam do processo de educação e aprendizagem. Aliado à existência de
externalidades podem gerar-se economias de escala que estão fundamentalmente
associadas com os principais processos produtivos industriais (químicos, fabricação
de máquinas, produtos alimentares, têxteis, e tantos outros). Assim, a própria
acumulação de capital físico e humano gera crescimento. A afectação de tempo à
educação e treino, a afectação de recursos à acumulação de capital determinam uma
constelação de parâmetros que permite manter um certo ritmo de crescimento “ab
eternum”.

A nova teoria do crescimento reconhece que o progresso técnico se pode gerar


de duas maneiras:

- criação de novos produtos


- melhoria da qualidade dos produtos existentes

A crítica de Romer às teorias de crescimento neoclássico vai mesmo mais


longe. Este economista considera que a função de produção deve formular-se em
termos de bens e ideias (bits de informação). Mas as ideias são a “argamassa” que
liga os bens e forma as tecnologias. Como a combinação das ideias é infinita isso
significa que não há limite ao progresso técnico nem rendimentos marginais
decrescentes a este processo.

Crescimento constante “steady state”


Interessam-nos em geral trajectórias das variáveis macro-económicas que
exibem crescimento constante a uma dada taxa. De facto, a observação de muitas
séries estatísticas permite identificar (por exemplo em logaritmos) que muitas séries
do PIB, stock do capital e população exibem uma taxa de crescimento constante em
décadas ou mesmo séculos. Por exemplo, o PIB nos EUA cresce a uma taxa próxima

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de 3,5% ao ano no último século, enquanto que o PIB per capita cresce a cerca de 2%.
Em Portugal o PIB cresce também a cerca de 3,5%, em média desde 1910 a 1996.

Perante uma série cronológica é necessário extrair as diversas componentes


(cíclica, sazonal, tendência, errática, etc.). A componente da série cronológica que
interessa ao economista do crescimento é a tendência. Esta pode ser medida de uma
forma aproximada achando médias das taxas de crescimento em longos períodos
como em décadas. Uma forma mais científica é aplicar filtros de extracção de
tendência como o de Prescott.

Crescimento equilibrado
No caso de um sistema económico com diversas variáveis, estas devem
crescer à mesma taxa para que se verifique a constância dos chamados “grandes
rácios” como a do coeficiente capital/produto. Para que tal se verifique interessa-nos
estudar estruturas de crescimento equilibrado.

Estática comparada: Quando se estuda um modelo que não é dependente do tempo


temos uma solução de um modelo estático. Quando se comparam duas situações
deste modelo perturbado por uma alteração de uma variável exógena dizemos que
estamos a fazer estática comparada.
Dinâmica: Quando se formula um modelo em que as variáveis dependem do
tempo ou estão indexadas ao tempo temos um modelo dinâmico.
Dinâmica comparada: Quando se perturba um modelo dinâmico alterando uma das
variáveis exógenas dizemos que estamos a proceder a dinâmica comparada.

Reparemos que ao definirmos duas trajectórias diferentes devida a essa


perturbação é necessário estudar a passagem, no tempo, da primeira situação para a
segunda situação. Neste caso estamos a proceder ao estudo da transição da economia.

Equação dinâmica fundamental das quantidades (stock-flow)


A equação dinâmica fundamental tem a ver com a acumulação do capital
físico ou humano. Suponhamos que temos um determinado stock inicial de capital
físico, K(0), e que durante o período seguinte se procede à realização de uma série de
investimentos que aumentam esse capital, I(0). Por outro lado, recordemos que o
capital está sujeito a um processo de depreciação física ou económica (note-se que há
vários conceitos de amortização ou depreciação desde o físico ao fiscal, passando pelo
económico, tendo este último a ver com a reposição óptima do ponto de vista da
rentabilidade do capital). Seja d a taxa de amortização do capital, que deve ser
aplicada ao capital existente no início do período. Então temos a seguinte equação,
em termos discretos:

K(1) = K(0) + I(0) - d K(0).


Esta equação pode escrever-se também em termos contínuos.
Podemos escrever uma equação similar para o capital humano.

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7. Modelos de crescimento económico (Solow, crescimento endógeno)

Formulação gráfica e algébrica do modelo sem e com progresso técnico de Solow.


Integração do capital humano e hipótese da convergência global. Críticas e modelo de
crescimento endógeno. A importância do progresso técnico, economias externas, capital
humano, e economias de escala.

O modelo de Solow mostra como o crescimento do PIB resulta da interacção entre o


crescimento do stock de capital, da força de trabalho e dos avanços tecnológicos. De
uma forma sintética, o modelo de Solow pode descrever-se da seguinte forma: uma
economia em crescimento que regularmente põe de parte uma porção previsível da
sua produção para acumulação do capital tem tendência para se ajustar a um estado
em que as necessidades de depreciação do capital e de equipar uma força de trabalho
crescente absorvem todos os recursos disponíveis para acumulação. Tal estado, uma
vez atingido, tende a perpetuar-se. O capital é considerado maleável, pelo que não é
necessário distinguir a sua utilização para diversos fins.
Vamos construir o modelo de Solow em três fases: primeiro vamos considerar
a tecnologia e a força de trabalho constantes, depois vamos considerar a força de
trabalho crescente, e finalmente vamos considerar os avanços tecnológicos. É
importante sublinhar que se trata de uma construção metodológica, uma vez que já
referimos várias vezes que não é possível explicar o crescimento sem ter todos os
ingredientes.
Supomos que toda a poupança das famílias é absorvida pelas empresas
para acumulação de capital, e que a taxa de poupança é constante. Tomando o output
como numerário, a estrutura de equilíbrio geral é tal que, a flexibilidade perfeita de
preços dos bens finais e os preços dos factores ajustam para assegurar o pleno
emprego.

Função de produção

A produção é função do capital e do trabalho:

Y  F ( K , L)

Onde o output ou produção, Y, é função do stock de capital, K, e da força de trabalho,


L. Esta função satisfaz as seguintes condições:

(a) rendimentos constantes à escala, o que significa que se multiplicarmos cada um


dos factores produtivos por um múltiplo  , o output também vem multiplicado pelo
mesmo factor:

 Y   F ( K , L )  F ( K ,  L )

esta propriedade permite-nos passar de um problema com 3 para 2 dimensões. Assim,


podemos tomar   1 / L , e assim obter:

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Y K
y  F ( ,1)  f (k )
L L

em que y é a produtividade por trabalhador e k o coeficiente de intensidade


capitalística, ou coeficiente capital-trabalho.

(b) f (0) = 0 que representa a essencialidade dos factores, ou seja, que a


quantidade zero de qualquer dos factores implica que o output seja nulo. Esta
propriedade implica que quando desenhamos a função de produção partimos sempre
do zero.

(c) f' (k) > 0, para um valor de k positivo, o que significa que a economia é
produtiva. Ou seja, que a produtividade marginal do capital (e do trabalho) são
positivas para qualquer k desde que este seja positivo. De facto, pouco interesse teria
representar uma economia em que a produtividade marginal dos factores fosse
negativa, pois significaria simplesmente que não se estavam a empregar os factores
eficientemente. Geometricamente esta propriedade significa que a função de produção
é sempre crescente.

(d) f'' (k) < 0, para um valor de k positivo. Esta propriedade significa que a
função é côncava, ou seja que a função tem a concavidade voltada para baixo. Esta
propriedade é conhecida como a lei dos rendimentos marginais decrescentes. E
significa que para valores de k pequenos a produtividade marginal do capital é
elevada, e à medida que o k cresce a produtividade vai baixando. Geometricamente
sabemos que a produtividade marginal do capital é dada pela inclinação da tangente
num dado ponto. Ora o que esta condição refere é qual o andamento desta inclinação à
medida que o coeficiente de intensidade capitalística sobe. Conforme a Figura 7.1.
mostra, a função de produção tem uma inclinação que baixa à medida que nos
movemos para direita.

Outras condições menos conhecidas dizem que a produtividade marginal do


capital é infinita junto à origem (repare-se que o capital é necessário para a produção)
e tende para zero quando k tende para infinito. Estas condições apenas asseguram uma
certa curvatura para a função de produção e são importantes para assegurar que existe
uma solução para o modelo que iremos expor.

A taxa de crescimento da população, ou do trabalho, supondo a taxa de


actividade fixa, é dada exogenamente. Numa primeira fase do modelo vamos supor
que a taxa de crescimento é nula, ou seja, que a população se mantém fixa. O trabalho
é pois dado pelo valor inicial L(0)  L0 .

O stock de capital evolui de acordo com a equação dinâmica fundamental, em


termos contínuos

K  I  K

onde I é o investimento bruto e  é a taxa de amortização. Por exemplo, se a


duração média dos bens de capital for de 20 anos, então a taxa de amortização média

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é de 0,05, ou seja, 5%. O stock de capital também parte de um valor inicial específico:
K ( 0)  K 0 .

Como em todos os modelos macroeconómicos temos que ter a condição do


equilíbrio geral, que vamos escrever em termos per capita:

yci

em que temos uma economia fechada e sem sector estatal. Como sabemos esta
equação pode também escrever-se:

yci

como equilíbrio entre poupança e investimento.

No modelo de Solow admite-se uma função consumo bastante simples. Ou em


termos da função simétrica, a função poupança é uma função linear com taxa de
poupança fixa:

sy  i

Esta equação é conhecida por função à Kuznets, o primeiro a verificar a sua


aderência empírica no longo prazo em países desenvolvidos.

Equação dinâmica fundamental do stock de capital

Temos os dois ingredientes fundamentais do modelo e Solow: a função de


produção e a função poupança. Estamos pois prontos para analisar como é que o stock
de capital evolui ao longo do tempo. Como já referimos anteriormente, o stock de
capital evolui segundo os dois factores seguintes:

(i) o Investimento, que representa adição ao stock de capital através de novos


bens de capital instalados na economia;
(ii) a Depreciação que representa o uso e destruição de bens de capital que o
processo produtivo origina, mesmo pela simples passagem do tempo.

Podemos representar a variação do stock de capital, em termos per capita, por:

Variação stock capital = Investimento - Depreciação

k  i  k

que passamos a representar em termos discretos. Agora temos que exigir que o
equilíbrio macro se verifique, o que significa que o investimento tem que ser igual à
poupança:

k  sf ( k )  k

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Esta é a equação dinâmica fundamental do crescimento. Qual o significado desta


equação? Suponhamos uma economia constituída por 100 trabalhadores, cada um
equipado com um computador e que produzem cada um 10 livros por ano. Admitamos
a hipótese de que a taxa de amortização dos computadores é de 10% ao ano. Neste
caso, o PIB é igual a 1000 livros por ano, o stock de capital é de 100 computadores, a
produtividade média é de 10 livros por trabalhador e 10 livros por computador, e o
coeficiente de intensidade capitalística é 1. Quantos computadores a economia tem
que investir num ano para poder manter o rácio de computadores por
trabalhador? – é esta a questão posta pela equação dinâmica fundamental, e repare-
se que a manutenção do rácio de computadores por trabalhador implica fazer k  0
na equação anterior. Tem que investir em 10 computadores para substituir os que se
gastaram.10 Repare-se que o PIB, stock de capital e produtividade ou rendimento per
capita estão todos a crescer à taxa zero, que é a trajectória de crescimento constante
neste caso – repare que a população está constante.

É importante estudar o andamento da equação dinâmica fundamental em termos


gráficos. A Figura 7.1. apresenta esta equação. Na primeira parte do gráfico está
desenhada a função de produção multiplicada pela fracção, s, que é a taxa de
poupança, e que é uma função côncava. A recta representa a segunda parte da
expressão da equação dinâmica do capital. Como se pode ver, a equação dinâmica do
capital é representada pela diferença entre a curva e a recta, o que se encontra na
segunda parte do gráfico. O ponto k* é o ponto de equilíbrio estável. Qualquer ponto
à esquerda representa uma situação em que a acumulação de capital é superior às
necessidades de capital para repor o capital obsoleto, pelo que o coeficiente de
intensidade capitalística sobe. O inverso ocorre à direita de k*. O único ponto em
que k se mantém constante é, pois, o ponto de equilíbrio.

No caso do modelo de determinação do rendimento o equilíbrio era estático e era


representado por um certo nível de rendimento. Agora, estamos a estudar a evolução
de uma economia ao longo do tempo, pelo que nos interessa o equilíbrio dinâmico.
Assim, só nos interessam construir modelos de uma economia que tende no longo
prazo para um equilíbrio, que é definido por

 as variáveis que descrevem a economia crescem à mesma taxa, e


 essa taxa de crescimento é constante.

Qual a razão? É que só nos interessam modelos que adiram à realidade. Ora, o que
observamos é que as economias crescem a taxas de crescimento constante, como os
factos estilizados de Kaldor indicam. Não nos interessam modelos que produzam
economias a crescer a taxas sempre crescentes, pois acabavam por tender para
infinito, nem decrescentes, porque acabavam por entrar em colapso (tender para zero).
E se, por exemplo, o PIB crescesse a um ritmo superior ao stock de capital, aquela
variável tendia ser arbitrariamente grande em relação à segunda, pelo que o rácio
entre as duas acabaria também por tender para infinito. Ora, como os factos
10
 Como a economia só produz livros, uma hipótese é esta economia vender o equivalente em livros a um país
estrangeiro para comprar 10 computadores.

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estilizados de Kaldor nos dizem o coeficiente capital/produto é constante no longo


prazo.

Definição: O ponto k* é um ponto de equilíbrio para o sistema se k  0 .

Figura 7.1

..\Desenv\solow2.dsf

( n+  ) k
f( k)

sf( k)

k* k

k* k

Figura 7.2

A Figura 7.2 reproduz no painel superior a figura anterior e no painel inferior


deduz a evolução do coeficiente de intensidade capitalística. Vejamos um exemplo
numérico de aproximação ao estado estacionário. Neste exemplo, a função de
produção é dada por

Y  K 1/ 2 L1 / 2

e em termos per capita simplifica para

y  k 1/ 2

A taxa de poupança supõe-se igual a 20%, e a taxa de amortização a 6%. Finalmente


supomos que o stock de capital inicial é igual a 9 e a população igual a 1.
Começamos por calcular, como base no coeficiente de intensidade capitalística
inicial, o PIB inicial através da função de produção. Seguidamente vemos como o PIB

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se distribui entre consumo e poupança através da função poupança que tem uma
constante fixa. A amortização é dada pela taxa de depreciação vezes o stock de capital
inicial. Daqui é possível calcular, finalmente, o acréscimo de capital dado pela
equação dinâmica fundamental do capital, que corresponde à última coluna, e nos dá
o acréscimo do coeficiente de intensidade capitalística que é igual ao investimento
total realizado menos as amortizações.
Com estes números podemos passar ao período seguinte, em que o coeficiente
de intensidade capitalística neste período é igual ao do período anterior mais o
acréscimo calculado para o fim desse mesmo período. E o processo de cálculo
recomeça. No quadro seguinte estão reproduzidos os primeiros 5, depois 10, 50 e 100
períodos. Quando é que atingimos o estado estacionário? Quando for nulo o
acréscimo do coeficiente de intensidade capitalística. Ou seja

k  sf (k )  k  0
donde

k s

f (k ) 

e como escolhemos uma função de produção relativamente simples, temos

k  (3,333) 2  11,111

Numa folha de Excel este estádio atinge-se no período 271. O estado estacionário
verifica-se nos cálculos porque a partir daquele período todos os valores se repetem.

Hipóteses Y=K^(1/2)L^(1/2) ou seja y=k^(1/2) s=.2 d=0.06 k inicial= 9

Período k y c I dk Vk

1 9.000 3.000 2.400 0.600 0.540 9.060


2 9.060 3.010 2.408 0.602 0.544 9.118
3 9.118 3.020 2.416 0.604 0.547 9.175
4 9.175 3.029 2.423 0.606 0.551 9.231
5 9.231 3.038 2.431 0.608 0.554 9.284

10 9.485 3.080 2.464 0.616 0.569 9.532

50 10.617 3.258 2.607 0.652 0.637 10.631

100 11.002 3.317 2.654 0.663 0.660 11.006

271 11.111 3.333 2.667 0.667 0.667 11.111

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A folha de cálculo Excel Mod-solow-0 .xls apresenta as trajectórias de convergência


para o estado estacionário, podendo-se observar claramente nos gráficos a fase de
transição e a trajectória de crescimento constante. Como o stock de capital inicial é
baixo a convergência é feita a partir da esquerda do ponto de estado estacionário,
como poderá ser observado graficamente. A folha de cálculo Mod-solow-b.xls apresenta
o caso de convergência pela direita. A função de produção é do tipo: Y  AL K (1  ) .
Dado o valor inicial de capital e do trabalho, começamos por calcular o valor da
produção. Com base no PIB e utilizando a taxa de poupança calculamos a poupança =
investimento bruto, e com o stock de capital qual a depreciação. A diferença entre
estes dois termos dá-nos o acréscimo do stock de capital que vamos adicionar ao stock
de capital deste período para ter o stock de capital do período seguinte. E os cálculos
recomeçam.
Ao fim de quantos anos se atinge o estado estacionário, ou de crescimento
constante? Este estado é representado, como se viu, pela situação em que todas as
variáveis crescem a uma taxa constante e igual. No exercício referido, e com o grau
de precisão da folha de cálculo, a partir do ano 284. Qual é o coeficiente de
intensidade capitalística, k*, de equilíbrio?
A solução é dada através da equação dinâmica fundamental, igualando a
variação do stock de capital a zero:

0  sf (k *)  k *
ou resolvendo esta equação obtemos 86,9, que é de facto o valor que se obtém quando
nos aproximamos do steady state.

Crescimento populacional

Na secção anterior supusemos que o crescimento populacional era nulo. É


muito fácil incorporar crescimento populacional no modelo. Para isso basta-nos
retomar a equação fundamental. A economia ao poupar e investir destina uma parte
desse investimento à substituição de capital depreciado, e outra parte para equipar o
acréscimo de mão-de-obra que entra no mercado. Só o restante é que aumentará o
coeficiente de intensidade capitalística. Por conseguinte, a equação dinâmica
fundamental pode reescrever-se substituindo a taxa de depreciação pela soma da taxa
de depreciação mais a taxa de crescimento populacional, n :

k  sf ( k )  (n  )k

Toda a análise anterior se mantém agora com a alteração referida, ou seja substituindo
a taxa de amortização pela soma da taxa de amortização e crescimento populacional.
Suponhamos uma economia constituída por 100 trabalhadores, cada um
equipado com um computador e que produzem cada um 10 livros por ano.
Suponhamos ainda que a taxa de amortização dos computadores é de 10% ao ano e
que o crescimento da mão-de-obra é de 5% ao ano. Então, em quantos computadores
a economia tem que investir num ano para poder manter o rácio de computadores por
trabalhador? Primeiro, tem que investir em mais 10 computadores para substituir os
que se gastaram. Segundo, tem que adquirir mais 5 computadores para equipar os

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novos trabalhadores que entretanto entraram. A resposta é, pois 15 computadores.


Contudo, repare-se que o PIB desta economia está a crescer a 5% - apenas os novos 5
trabalhadores produzem mais 50 livros para adicionar aos 1000 que estavam a ser
produzidos. Mas o PIB per capita mantém-se – produz-se 10 livros por computador e
por trabalhador. Ainda não há crescimento do PIB per capita.
A folha de cálculo Mod-solow.xls apresenta um caso em que para além do
modelo anterior se supõe que a taxa de crescimento da população é de 1%. O que é
novo neste modelo é que agora todas as variáveis em steady state crescem à mesma
taxa – a taxa de crescimento populacional.
Qual o efeito de um aumento da taxa de crescimento populacional? Por um
lado, se olharmos para a evolução no longo prazo verificamos que faz aumentar a taxa
de crescimento do PIB – há mais pessoas a trabalhar com a mesma produtividade.
Contudo, olhando para o gráfico que nos dá a situação de steady state, o aumento da
taxa de crescimento populacional faz rodar a recta do segundo termo da equação
dinâmica fundamental para cima, o que dá uma solução de steady state com menor
coeficiente de intensidade capitalística e menor rendimento per capita – “há mais
bocas para alimentar”.
O “ideal” para o crescimento é que aumente mais o número de trabalhadores
do que a população, porque assim cresce o factor produtivo trabalho, e o bolo tem que
ser repartido por “menos bocas”. É isso que se tem passado nas sociedades
desenvolvidas. E em Portugal também? Nos últimos 40 anos a taxa de actividade em
Portugal subiu de 38 para 50%, sobretudo devido à maior participação das mulheres
no mercado de trabalho. Embora esta maior participação tenha sido compensada por
um decréscimo do número de horas trabalhadas por semana de cerca de 46 para 39,
terá havido um acréscimo de cerca de 12% do total de horas trabalhadas, que compara
com um crescimento populacional de cerca de 15%, o que significa que as duas taxas
são bastante próximas. Assim, nos últimos 40 anos, como uma grande parte do
aumento da taxa de actividade foi compensada pela redução do horário de trabalho,
não houve um aumento das horas trabalhadas significativamente acima da
população11.

Progresso Técnico incorporado no trabalho

Porém, ainda não conseguimos fazer subir o nível de vida no nosso modelo.
Repare-se que mesmo com a introdução de crescimento populacional, o que
conseguimos foi que todas as variáveis crescessem à mesma taxa, mas o nível de
rendimento per capita mantém-se constante. Para obtermos crescimento no longo
prazo temos que incorporar o progresso técnico.
Vamos supor que o progresso técnico é todo incorporado no factor trabalho, ou
seja, é “labor augmenting”. Em certo sentido, o que supomos é que o progresso
técnico faz aumentar o trabalho, não em termos quantitativos mas qualitativos. Isto é,
o trabalho vai-se tornando mais eficiente.

Y  F ( K , LxE )

11
Nos cálculos de Young para Singapura este autor determinou um forte aumento do número de horas trabalhadas.
Será por isso que os asiáticos têm um maior rendimento per capita? Trabalham mais membros da família e não
reduzem o horário de trabalho – afinal estará aí um dos segredos do chamado milagre asiático! A ética do trabalho
é central ao espírito asiático.

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Abel M. Mateus, Macroeconomia Page 18 11/05/2018

onde E é um factor multiplicativo que representa a eficiência do trabalho.


Agora o factor exógeno que é o trabalho cresce no tempo por duas razões: (i)
porque aumenta o número de trabalhadores em termos de pessoas existentes, e (ii)
porque melhora a eficiência dos trabalhadores – por exemplo, porque têm um maior
nível educacional. Sejam n e  as taxas de crescimento da população e do progresso
técnico. Então a equação fundamental de acumulação do capital pode reescrever-se
substituindo a taxa de crescimento populacional pela soma da taxa de crescimento da
população e a taxa de progresso técnico:

k  sf ( k )  ( n    )k

A folha de cálculo Mod-solow-progres.xls apresenta um modelo em que o trabalho


físico cresce à taxa de 1% ao ano e em que o progresso técnico cresce à taxa de 2,5%,
ou seja, o trabalho em unidades de eficiência cresce à taxa de 3,5%. Repare-se que em
termos líquidos (descontando a deterioração do capital), a taxa de crescimento do
produto é igual à soma da taxa de crescimento natural da população mais o progresso
técnico. Mesmo que a taxa de crescimento populacional seja nula - como acontece
em vários países desenvolvidos - a economia cresce à taxa de crescimento do
progresso técnico.12
Voltemos ao nosso exemplo da economia dos computadores e suponhamos
agora que o facto de os trabalhadores se tornarem mais eficientes através de maior
experiência leva a que em cada ano se produzam mais 7% de livros. Neste caso, o PIB
já se expandia à taxa de 5+7=12%. Ou seja, produziam-se mais 120 livros por ano.
Agora o PIB per capita já crescia 7%. Tanto o PIB como o stock de capital crescem à
mesma taxa de 12%, o que significa que é necessário investir em 22 computadores
por ano (Porquê?), enquanto o número de trabalhadores cresce apenas 5%, e o
coeficiente de intensidade capitalística cresce à taxa de 12-5=7%, e a produtividade
do trabalho cresce também à taxa de 7%.13
Todas as proposições anteriores têm, assim, que ser reformuladas substituindo
a taxa de crescimento da população pela taxa de crescimento da população mais a taxa
de progresso técnico.

Regra de ouro: qual a taxa de poupança óptima?

Vamos comparar diversas trajectórias de crescimento constante e procurar


determinar qual a taxa de poupança que conduz à maximização do consumo per
capita14. Este problema é interessante porque qualquer decisor de política gostaria de
saber qual a trajectória em que maximiza o consumo dos seus cidadãos. Ora a partir
do equilíbrio macroeconómico temos:

c  y i

12
O gráfico anterior agora permanece o mesmo, mas substituímos as variáveis per capita por variáveis
divididas pelo trabalho em unidades de eficiência.
13
Repare-se que se supõe que só os trabalhadores se tornam mais eficientes, o que se chama “progresso
técnico que aumenta o trabalho”. Na prática pode não ser assim. Por exemplo, os computadores
também se podem tornar mais eficientes por causa de novas descobertas. Neste caso o progresso
técnico seria também “aforrador de capital”.
14
Repare-se que nada se diz sobre a situação de partida da economia.

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e substituindo estas variáveis pelas trajectórias que correspondem a steady-states,


temos:

c*  f (k *)  (n     )k *
pelo que o consumo de uma trajectória de crescimento constante é igual à diferença
entre o PIB de crescimento constante e o investimento necessário para manter a
trajectória de crescimento constante. Esta equação mostra que ao aumentar o stock de
capital aumenta o nível de produção e a longo prazo faz aumentar o consumo. Mas
para aumentar o capital, substituindo o capital depreciado e equipando os novos
trabalhadores, temos que ter maior investimento, o que implica menor consumo.
Existe, pois, um trade-off. O Gráfico 7.2 mostra o consumo de crescimento constante
como a diferença entre as curvas da função de produção e a recta correspondente ao
segundo termo da equação anterior.

Gráfico 7.3

..\Desenv\solow-ouro.dsf
c

( n+ +  ) k*

f( k* )
f´ ( k* )

sf( k* )

kouro k

Conforme se pode observar no gráfico, o consumo per capita máximo atinge-


se no ponto em que a tangente à função de produção é paralela à recta cuja inclinação
é dada por n     . É de facto este o ponto em que a diferença entre a curva e a recta
são máximas. Mas a tangente à função de produção mede a produtividade marginal do
capital. Qual é taxa de poupança óptima? É aquela que passa pelo k ouro. Então,
podemos enunciar a seguinte regra:

Regra de Ouro (Phelps - 1966) da acumulação de capital, diz que a taxa de


poupança óptima é aquela em que o stock de capital de uma trajectória de crescimento
constante é tal que, nessa trajectória, a produtividade marginal líquida (bruta) do
capital é igual à taxa de crescimento da população mais a taxa de crescimento do
progresso técnico ( mais a taxa de depreciação).

Em termos económicos é, pois, uma taxa em que se dá o mesmo montante de


consumo tanto aos membros da geração actual como futura - não se obrigam as
gerações futuras a consumir menos do que a presente.

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A folha de cálculo Mod-solow-rouro.xls apresenta um exemplo em que a taxa de


poupança óptima é de 60% do PIB.
Note-se que em termos de poupança líquida:

(n  )k * f ´(k*)k * rk *
s  
f (k*) f (k*) y
ou seja, a taxa de poupança deve ser igual à proporção do capital no rendimento
nacional, ao longo da trajectória da regra de ouro. No exemplo anterior note-se que o
expoente do capital é a parte do capital no rendimento nacional, o que confirma esta
regra, como se pode ver pela fórmula.

Vejamos agora como uma economia que não está na trajectória correspondente
à regra de ouro se deve aproximar dessa trajectória. Suponhamos primeiro o caso mais
simples, que é aquele em o stock de capital está acima da regra de ouro. Estamos
numa situação de sobrecapitalização, pelo que é necessário reduzir o stock de capital.
Para o reduzir é necessário fazer baixar a taxa de poupança ou, da mesma forma, fazer
subir o nível de consumo. O gráfico seguinte dá-nos a ideia de uma trajectória
possível:

Figura 7.4

ouro2.dsf

Stock capital

PIB

Consumo

o consumo começa por subir acentuadamente e depois vai regredindo por causa de a
taxa de poupança se reduzir e no longo prazo isso implicar um menor nível de
rendimento e consumo. Contudo, este movimento de regressão nunca atinge o nível

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inicial de rendimento e consumo, situando-se sempre acima do consumo e PIB


iniciais.
Suponhamos agora que o nível de stock de capital é inferior à situação de
óptimo, que é geralmente o caso mais relevante na prática, pelo que o país tem que
fazer um esforço adicional de poupança para acumular mais capital. Agora, ao subir a
taxa de poupança, e nos anos que se lhe seguem, o consumo tem que cair por causa do
esforço adicional que é necessário fazer para elevar o nível de rendimento. Só
passados alguns anos é que aquele esforço inicial começa a dar frutos e o consumo e
rendimento sobem acima do nível de partida, assim como o rendimento, como o
gráfico seguinte mostra:

Figura 7.5

ouro3.dsf

Stock capital

PI B

Consumo

Agora o problema que os governos confrontam é o seguinte: no curto prazo é


necessário sacrificar a população para que no longo prazo se tenha um nível de vida
mais elevado. Se os governos tiverem uma visão míope, ou seja, se na sua decisão
pesarem mais os valores de curto do que do longo prazo (quer ganhar as próximas
eleições em 3 ou 4 anos) é evidente que nunca irá implementar uma política desta
natureza. Ora a regra de ouro não faz distinção entre diferentes gerações – todos os
indivíduos pesam na mesma maneira na função de decisão. Aliás é daí mesmo que
apareceu o nome de “regra de ouro” – este nome é inspirado na regra de ouro bíblica:
“faz ao teu próximo o que gostarias que te fizessem a ti próprio”. Sendo assim, o
acréscimo de consumo que se obtém é para todas as gerações futuras, ab eternum,
pelo que o sacrifíco das presentes é largamente compensado. Daí que seja sempre
óptimo passar para a trajectória da regra de ouro. Se não seguirmos a regra de ouro, o
problema da avaliação das diferentes trajectórias torna-se mais complexo.
Suponhamos, por exemplo, que damos mais peso aos consumos actuais ou nos tempos
mais próximos em detrimento dos futuros – nesse caso teríamos que introduzir uma

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taxa de desconto intertemporal – e a taxa de poupança óptima dependeria da taxa de


desconto intertemporal.
Munidos desta teoria é agora possível perguntar: em Portugal está-se a poupar
e investir pouco ou muito, tomando como referência a regra de ouro? Repare-se que
em qualquer ponto para a esquerda da regra de ouro a tangente à função de produção
tem uma inclinação maior que a inclinação da recta do segundo termo da equação
dinâmica fundamental, ou seja, a produtividade marginal do capital é superior à soma
de n  g   , e o contrário acontece para a direita do stock de capital correspondente á
regra de ouro. Para Portugal verificam-se as seguintes relações:

k  2,7 y
k  0,09 y
PMK . x.k  0,35 y

que quere dizer que o stock de capital é cerca de 2,7 vezes o PIB, as amortizações
correspondem a cerca de 9% do PIB, e por último a proporção no rendimento
nacional que beneficia o capital, e que é igual à produtividade marginal do capital
vezes o stock de capital corresponde a 35% do PIB.
Finalmente, a taxa de crescimento da população mais a taxa de crescimento da
produtividade por trabalhador têm sido cerca de 3,5% ao ano nos últimos 60 a 80
anos. Substituindo na segunda relação o stock de capital obtém-se que a taxa de
amortização é de 0,03. E substituindo na terceira relação o stock de capital, a
produtividade marginal do capital vem igual a 13%. Donde que a produtividade
marginal líquida do capital, que é igual a 10% é claramente superior aos 3,5%
correspondentes a n  g . Por conseguinte, conclui-se que em Portugal os governos
poderiam aumentar significativamente o consumo por pessoa no longo prazo se
fizessem subir a taxa de poupança e investimento. Mas para isso teriam que ter uma
visão de muito longo prazo, dando às gerações dos nossos filhos, netos, bisnetos, etc.
o mesmo peso que às gerações presentes (que são as únicas que votam).15

Dinâmica da Transição e Dinâmica Comparada

No modelo de Solow L é uma variável exógena e s, n ,  e  são


parâmetros. Podemos perguntar qual o impacto que tem na solução de “steady-state”
a variação de qualquer daqueles elementos. Como veremos, uma alteração da taxa de
poupança apenas leva a uma aceleração temporária da taxa de crescimento da
economia (trajectória de transição), mas que termina com um nível mais elevado de
rendimento per capita e do coeficiente da intensidade capitalística. Só um aumento da
taxa natural de crescimento16, n, ou um aumento da taxa de crescimento do progresso
técnico,  , se pode verificar um aumento da taxa de crescimento da economia.

15
Evidentemente que o governo teria que adoptar a visão de longo prazo se os votantes também agissem no
interesse da “família perpétua”, ou seja, se ao votarem escolhessem o governo que não só maximizasse o consumo
para si mas para todos os membros da família vindouros. Actuarão os eleitores desta forma?
16
Note-se que esta taxa de crescimento é a taxa de expansão da mão-de-obra. Em economias onde exista um
aumento substancial da taxa de actividade (como tem sido o caso de Singapura ou Portugal), esta taxa pode ser
significativamente superior à taxa de crescimento da população.

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Na Figura 7.6 representa-se uma situação em que a taxa de poupança sobe de


s1 para s2.

Figura 7.6

log Y
s
2

s
1

t
y

s f
2

s f
1

n+ +

k* k* k
1 2

111aa
22

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Como vemos, o impacto no modelo é fazer subir o coeficiente de intensidade


capitalística de k1* para k 2*, pois com o maior investimento equipa-se o mesmo
trabalhador com maior capital, o que faz subir a produtividade média, ou o
rendimento per capita, mas uma vez atingida essa nova situação de “steady-state” a
economia volta a crescer à taxa n     . A evolução do produto, y, e do consumo,
C, seria pois representada pela Figura 7.7 Repare-se que no início da transição, t> ts,
se dá uma redução do consumo per capita, para possibilitar um aumento da poupança,
mas que depois aquele vai subindo até atingir o novo “steady-state”. Todas as
variáveis crescem à mesma taxa, dada pela inclinação das rectas de Y e C, que estão
em logaritmos.

Figura 7.7

lo g C

s2

s
1

ts t

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Da mesma forma, uma deslocação (rotação) da função de produção, provocada


por alguma descoberta, não teria efeito sobre a taxa de crescimento da economia.

Vamos agora estudar a dinâmica da transição. Tomando a equação dinâmica


fundamental e dividindo por k obtém-se:

k sf ( k )
kˆ    (n    )
k k

que representa o andamento do coeficiente de intensidade capitalistica. Na Figura 7.8


representa-se esta equação.

Figura 7.8

^k,n,,

^
k>0
n + +
^
k< 0
f(k)
s. k

kP0 
| |
kR0 k*  k

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Assim, para a esquerda de k*, kˆ  0 (sobe) e o coeficiente de intensidade


f (k )
capitalística sobe, para a direita de k*, kˆ  0 (baixa). Notemos que s é uma
k
curva decrescente, enquanto que n     é uma recta, independente de k.
P
O que acontece no caso de um país pobre com k 0 substancialmente inferior
ao coeficiente de intensidade capitalística de um país rico, k 0R ? Neste caso, olhando
para o gráfico verificamos que k̂ é significativamente maior para o país pobre, ou
seja, o modelo de Solow diz-nos que no país pobre (como s é a mesma), a
produtividade marginal do capital tem de ser significativamente superior à do país
rico. Porém, se todos os parâmetros forem os mesmos em ambos os países, as
economias do país rico e do país pobre convergem para o ponto de equilíbrio k*.

Modelo de Harrod-Domar

Um dos modelos de crescimento mais utilizados no passado era o modelo de Harrod-


Domar, em virtude da sua simplicidade. Em contraste com o modelo de Solow que
exibe rendimentos marginais decrescentes no factor acumulado, este modelo tem
rendimentos marginais constantes, o que implica uma alteração radical nos resultados.
Senão vejamos. Vamos partir da equação dinâmica fundamental do capital e dividir
por K(t)

K (t  1)  K (t ) I (t ) K (t )
 
K (t ) K (t ) K (t )

ora o equilíbrio macroeconómico exige que o investimento bruto seja igual à


poupança bruta

I (t )  S (t )  s * Y (t )

por outro lado, vamos definir o rácio entre o stock de capital e o PIB por coeficiente
capital-produto,  . Assim, dividindo o numerador e denominador do primeiro termo
do lado direito pelo PIB, temos

K (t  1)  K (t ) s
 
K (t ) 

Finalmente, como numa trajectória de crescimento constante o PIB e o stock de


capital têm que crescer à mesma taxa (para que se mantenha constante a taxa de
utilização da capacidade produtiva), temos

s
Yˆ  Kˆ    .

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Repare-se, que ao contrário do modelo de Solow, que fazia tender a taxa de


crescimento do PIB, sem progresso técnico para zero, agora temos uma taxa de
crescimento constante. Retirando as amortizações, a taxa de crescimento da economia
é dada pelo rácio entre a poupança e o coeficiente capital/produto. Assim, uma maior
taxa de poupança (e investimento) faz subir a taxa de crescimento da economia, ao
contrário do modelo anterior em que apenas tinha um efeito de nível e não sobre a
taxa de crescimento. Por outro lado, se o capital (investimento) for mais produtivo
também o coeficiente capital-produto se torna mais baixo e sobe a taxa de
crescimento da economia.
Esta estrutura de base do modelo Harrod-Domar é retomada nos modelos de
crescimento endógenos, que deixam de exibir rendimentos marginais decrescentes.
Repare-se que a função de produção que está subjacente ao modelo Harrod-Domar é
do tipo Leontief

K L
Y  min  , 
  

e em que se considera apenas o capital como o factor restritivo da produção. Devido à


abundância de trabalho os economistas do desenvolvimento não consideravam que
este factor travasse o crescimento – e também não consideravam o capital humano.
Não se admite pois substituibilidade entre capital e trabalho como é característico das
chamadas funções de produção neoclássicas.

Exercício: Mostre que no modelo Harrod-Domar com crescimento populacional, n, a


taxa de crescimento da economia per capita é dada em termos aproximados por

s
n

Introdução à teoria do crescimento endógeno

O grande economista Alfred Marshall dizia “Enquanto que a natureza … mostra


tendência para rendimentos marginais decrescentes, o homem … mostra tendência
para rendimentos crescentes … O conhecimento é a nossa mais poderosa máquina de
crescimento” (Principles of Economics). Ora a teoria do crescimento endógeno
procura capturar exactamente o poder inesgotável da combinação de ideias, que se
sobrepõe à lei dos rendimentos marginais decrescentes do modelo exógeno.
Suponhamos a seguinte função de produção bastante simples:

Y  AK

introduzida pelo nosso economista conterrâneo Sérgio Rebelo (por isso alguns
economistas já chamaram a este modelo Sobelo – de Solow mais Rebelo), onde Y é o
output, K é o stock de capital e A é uma constante que mede a quantidade de output
produzida por cada unidade de capital. Note-se que esta função de produção exibe
rendimentos constantes à escala, mas não exibe rendimentos decrescentes no capital –

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o factor acumulável. De facto a produtividade marginal do capital é exactamente igual


a A . Esta é a diferença fundamental, que torna o crescimento endógeno.
Voltando a escrever a equação dinâmica fundamental de acumulação do
capital e substituindo pela função de produção temos:

K  AK  K
 s     sA  
K  K  K

ou seja, a taxa de crescimento do stock de capital, que numa trajectória de


crescimento constante tem que ser igual à taxa de crescimento do PIB, é igual à
diferença entre sA e  . Se esta diferença for positiva – se a economia for produtiva
– então a taxa de crescimento é uma constante, e esta taxa é completamente
determinada pelas variáveis do modelo (daí o nome teoria endógena). Assim, quanto
mais elevada for a taxa de poupança ou o nível de desenvolvimento tecnológico mais
elevada será a taxa de crescimento da economia.
Quão verosímel é esta hipótese de termos apenas um factor produtivo, capital.
Embora não tenhamos falado do trabalho este pode se supor igual a 1, por questão de
normalização. É que, segundo os economistas que expuseram esta teoria pela primeira
vez, o stock de capital aqui significa não só capital físico, como no modelo anterior,
mas também capital humano. Assim agregamos equipamentos, edifícios com o
volume de conhecimentos que uma economia possui. Assim já parece mais plausível
que quanto maior for o volume deste capital maior será o rendimento per capita de
uma economia.
Mas alguns economistas foram mais longe, como o Prémio Nobel Robert
Lucas, em tentar explicar como é que a economia evolui, seja em termos de
acumulação de capital físico, seja em termos de capital humano. Suponhamos dois
sectores da economia, um sector de produção de bens e serviços e um sector de
educação e investigação, cujas tecnologias são dadas pelas seguintes funções de
produção:

Y  F  K , (1  e)hL 
h  ( e)h
K  sY  K

em que e é a proporção da força de trabalho, L , que se dedica à educação e


investigação, e (1  e ) é a proporção que se dedica à produção de bens e serviços
directamente. Por sua vez, o grau de eficiência do trabalho depende da produção de
capital humano, h , que é produzido nas escolas, institutos de pesquisa e laboratórios,
para além do “learning by doing” e “on the job training”.
Como anteriormente, supomos que no caso de se duplicar o volume de stock
de capital e o número de trabalhadores, então produz-se o dobro do output.
Contudo, também multiplicando pelo dobro o capital humano produzido nas
escolas e investigação, aumentamos a eficiência do trabalho e associado a uma
duplicação do capital físico faz duplicar o produto, mesmo com o número de
trabalhadores fixo. Assim, este modelo tem possibilidade de gerar crescimento
endógeno.
Repare-se que se definirmos o capital como o agregado do capital físico e
humano caímos no caso anterior do modelo tipo AK.

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Supondo agora que a proporção do trabalho dedicado à produção se mantém


constante, e supondo que a eficiência do trabalho cresce à taxa  , a produtividade da
economia cresce também à mesma taxa – geramos crescimento endógeno. Esta é a
mesma taxa que consideramos anteriormente no modelo com progresso técnico
incorporado no trabalho. O resto do modelo é idêntico ao modelo de Solow.
Assim, este modelo é mais completo que o modelo de Solow, e permite
generalizar a teoria anterior. Também vemos agora que para a economia crescer mais
rapidamente é necessário que suba a taxa de poupança, e/ou aumente a proporção do
trabalho dedicado à escola e investigação para aquisição do conhecimento e/ou suba a
taxa de crescimento do progresso técnico. Assim, é importante que o ensino e
investigação se tornem mais produtivas – que a educação tenha mais qualidade ou que
a investigação produza mais novos produtos ou produtos de melhor qualidade.

Políticas de desenvolvimento

Os modelos teóricos anteriores permitem-nos identificar mais rigorosamente quais são


os factores mais importantes para promover o desenvolvimento económico.
Observemos, preliminarmente, que se tratam de políticas estruturais, de longo prazo,
pelo que só surtirão efeito pleno no longo prazo. Daí que politicamente as medidas a
tomar podem não ser obviamente palatáveis, pois podem trazer sacrifícios no curto
prazo e os efeitos positivos só se colhem no longo prazo.
Tanto o modelo de Solow como os modelos de crescimento endógeno
enfatizam a importância da poupança e investimento no processo de desenvolvimento.
Assim, as políticas de promoção da poupança nacional e do investimento são
fundamentais seja para atingir um maior nível de rendimento per capita, seja para
acelerar o processo de crescimento. Quais são as políticas que se podem adoptar para
promover a poupança? Em primeiro lugar é necessário manter taxas de juro reais
positivas – que reflictam a escassez relativa do capital. Vários países têm adoptado
políticas repressivas, de controles administrativos, dos mercados de capitais e
monetário (por exemplo, fixando limites máximos às taxas de juro, que muitas vezes
em situação de inflação intensa resultam em taxas de juro reais negativas), com vista a
“incentivar o investimento”. Contudo, estas políticas acabam por reprimir a poupança
e estiolar o próprio investimento, para além de levarem a uma afectação ineficiente de
recursos. Na medida em que a decisão de levar para a frente um projecto de
investimento requer que a taxa de rentabilidade do investimento seja maior ou igual
ao custo do capital, um custo do capital dado por uma taxa de juro negativa implica
que haja projectos de investimento não eficientes (a produtividade marginal do capital
ou rentabilidade interna é inferior à eficiência marginal do capital em toda a
economia) a ser concretizados17.
Outras medidas que podem ser adoptadas são a deslocação da pressão fiscal da
poupança-investimento para impostos sobre consumo. Assim, por exemplo, o IVA é
um imposto cuja incidência final recai sobre o consumo, sendo um imposto que tem
não só características de menor distorção a nível micro como ter a propriedade acima
indicada. Também por este motivo em geral os países evitam lançar impostos sobre as

17
Estes aspectos mereceram já vários livros de análise destas situações desde países da Ásia até à Europa,
passando pela América Latina e África. São conhecidas as contribuições de Gurley and Shaw, McKinnon e Anne
Kruger.

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transacções financeiras que afectam o processo de poupança e a intermediação


financeira para o investimento.
Uma importante medida para promoção da poupança é através da redução do
déficit orçamental. De facto, como vimos, o déficit orçamental existe quando as
despesas são superiores às receitas, o que significa uma poupança pública negativa.
Este valor negativo faz reduzir a poupança nacional. De facto, o déficit faz aumentar a
taxa de juro e o “crowding out” do investimento, o que resulta numa menor
acumulação de capital, que é um peso para as gerações futuras através do pagamento
da dívida pública. Inversamente, no caso de haver um excedente orçamental, o Estado
pode reduzir a dívida pública e assim estimular o investimento através da redução da
taxa de juro.
Outras políticas mais focalizadas que podem ser adoptadas para promover a
poupança podem ser os benefícios fiscais atribuídos à poupança financeira, como por
exemplo, os Planos Poupança Reforma, que permitem abater ao rendimento
colectável a aplicação financeira que o contribuinte faz num fundo, desde que essa
aplicação se mantenha por um número mínimo de anos.
Finalmente, uma das importantes políticas relativas à poupança e que está
actualmente na ordem do dia é a Reforma da Segurança Social. Muitos economistas
defendem que ao passar de um sistema “pay-as-you-go” (ou contributivo), como o
que existe actualmente, em que se colectam impostos sobre quem trabalha para pagar
aos reformados, não incentiva à poupança. Isto porque o trabalhador quando se
reforma recebe um benefício definido, independentemente se contribuiu mais ou
menos para o financiamento da Segurança Social, pelo que tem um incentivo em
pagar o mínimo possível (fuga ao imposto). Por outro, “como o Estado poupa por
ele”, não tem incentivo em poupar para a velhice. Ora, num sistema de capitalização
as pessoas recebem o valor acumulado do que foram descontando ao longo da vida
para a sua reforma. Daí que haja uma ligação estrita entre a poupança durante a vida
activa e o rendimento monetário durante a reforma, o que incentiva claramente a
poupança. É evidente que por razões de equidade terá que haver sempre uma reforma
mínima. Esta reforma mínima terá que continuar a ser financiada por impostos sobre a
geração dos actuais trabalhadores.18
No que respeita às políticas de promoção de investimento, podem delinear-se
esquemas fiscais que favorecem este tipo de aplicação. Por exemplo, no chamado
sistema de impostos “baseado no consumo”, ou tipo “cash-flow”, a empresa pode
abater aos seus impostos o investimento realizado. Por vezes este esquema é
parcialmente seguido permitindo a dedução apenas de uma parte do investimento – é
a atribuição do crédito fiscal ao investimento.
Embora no modelo de Solow só se fale de capital físico, as modernas teorias
do crescimento vieram enfatizar o capital humano. Entende-se por capital humano o
stock de conhecimentos de uma economia. Este stock pode resultar de vários factores:
 do grau de escolarização da mão-de-obra (normalmente medido pelo número
médio de anos que a população ou a mão-de-obra frequentou a escola),
 do processo de “learning-by-doing”, ou seja, pelo aumento de produtividade dos
trabalhadores devido à experiência, e à melhoria que vão introduzindo nos
processos e métodos à medida que vão executando as mesmas tarefas, e
18
O principal problema desta reforma põe-se na transição de um sistema para outro. Quem paga as reformas dos
trabalhadores que estão prestes a reformar-se, descontaram toda a vida para os que se encontram na reforma, e
agora têm que acumular uma pensão? E quem paga aos actuais reformados? No caso do Chile estes pagamentos
resultaram da acumulação de fundos vindos das privatizações.

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 ao processo de aperfeiçoamento profissional (“ont the job training”) de que os


trabalhadores vão beneficiando ao longo da sua vida activa.

É bem conhecido que devido a razões de equidade e às externalidades que derivam da


aquisição dos conhecimentos de base, que o Estado deve ser o promotor da educação
básica (primária e secundária). Embora a produção desta educação possa ser feita por
escolas públicas ou privadas, já o acesso, devido aos factores que acabámos de citar,
devem ser gratuitos. O mesmo não diríamos em relação ao chamado ensino terciário
devido à rentabilidade privada ser em geral superior à rentabilidade social.
Fruto dos múltiplos estudos empíricos que se têm feito, é hoje um ponto
assente entre a maioria dos economistas do desenvolvimento que a escolarização
básica, e de qualidade, é o factor mais importante para lançar as bases do crescimento
económico. Devido ás necessidades tecnológicas, uma parte importante do esforço de
educação terciária terá que ser dedicada à formação profissional e na vertente técnica
(engenharias, matemática e ciências), o que permite aos trabalhadores desenvolverem
as tecnologias de um país.

Finalmente, temos as políticas em prol do progresso técnico. No modelo de Solow


este é o factor mais importante, pois é o único que assegura o crescimento económico
no longo prazo, pois é o único que determina o crescimento da produtividade ou,
equivalentemente, do rendimento per capita. O modelo tradicional de Solow não
considera o capital humano, e os modelos de crescimento endógeno vieram mostrar
que uma parte significativa do “factor residual” é devido ao crescimento do capital
humano, seja pela educação, “learning-by-doing” e formação profissional. Os outros
factores que influenciam o progresso técnico têm a ver com o processo de
investigação e desenvolvimento que levam à introdução de novos produtos ou de
melhor qualidade de produtos existentes, através da inovação. Nos países
desenvolvidos, este processo de investigação e desenvolvimento (I&D) é fundamental
para a liderança tecnológica, e é levado a cabo nas universidades, laboratórios e numa
grande variedade de instituições públicas e privadas. Por exemplo, o Japão gasta 2,9%
do PIB em I&D, os EUA 2,7%, a UE 1,9% e Portugal apenas 0,7%19. Mas as maiores
diferenças são no peso das despesas da I&D das empresas: 2,2% no Japão, 2,1% nos
EUA, 1,2% na UE e apenas 0,2% em Portugal.
A institucionalização da I&D é reconhecido como um dos principais factores
que fez surgir o crescimento económico moderno nos últimos séculos. Esta I&D deu
origem recentemente às novas tecnologias de informação e comunicação, à
biotecnologia, aos novos fármacos e técnicas médicas, à exploração espacial, aos
novos metais e compostos, e tantos outros produtos que estão por trás da melhoria do
nível de vida nas últimas décadas. É bem conhecido que a investigação fundamental
leva a novas descobertas científicas que são um bem público. Ou seja, uma vez
efectuada a descoberta, qualquer outro cientista pode ter acesso a esse novo
conhecimento sem ter que investir em tempo e esforço de investigação. Esta
investigação está normalmente disponível através de revistas científicas, seminários e
cursos. Por conseguinte, devido à externalidade existente neste processo, são
necessários subsídios para o seu financiamento para evitar que haja sub-produção.
Quanto à investigação aplicada, ou seja, aquela que pode resultar em produtos
ou processos que podem ser explorados comercialmente, surge o mesmo problema.
19
Dados da OCDE para 1997.

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Ou seja, uma vez feita a descoberta, a sua utilização pode ser feita por outro indivíduo
ou empresa, sem qualquer custo de investigação. Para proteger o investimento e
esforço feito na investigação é que existe os sistema de patentes e direitos de autor
(copyright). Este sistema cria uma situação de monopólio atribuída legalmente. Para
evitar que este conhecimento seja subtraído ao resto da comunidade científica e que
possa dar origem, pela fertilização cruzada, a novas ideais, a patente para exploração
comercial exclusiva expira passado um período fixo. A empresa que detém a patente
ao obter as rendas acumuladas durante esse período consegue ressarcir-se dos custos
incorridos com a investigação.
No caso dos países menos desenvolvidos o progresso técnico dá-se em grande
parte pela imitação das inovações produzidas nos países mais desenvolvidos. Este
processo também envolve o dispêndio de recursos, seja na compra de licenças,
pagamento de royalties, aquisição de conhecimento e formação profissional sobre o
processo e operação das máquinas, instrumentos e produtos. Este processo de
transferência de tecnologia tem a forma da importação de bens de capital que
incorporam tecnologias mais avançadas, na aquisição de licenças e patentes, no envio
de técnicos nacionais para formação no exterior e no investimento directo estrangeiro,
entre outros.

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