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InfectologiaHoje

Boletim de atualização da Sociedade Brasileira de Infectologia – Ano III – nº 10 – Abr/Mai/Jun 2009 www.infectologia.org.br

Linfomas: diagnóstico e tratamento


Uma reciclagem e a interface com a Infectologia
Por Gisele W. B. Colleoni, Mauro José Costa Salles, Riguel Jun Inaoka e Thaís Guimarães

O
Os linfomas constituem um grupo
heterogêneo de doenças neoplásicas
que se originam de células do sis-
tema imunológico, a grande maio-
uma minoria, em células T. Tradi-
cionalmente são divididos em
linfomas de Hodgkin (LH) e
linfomas não-Hodgkin (LNH),
mente a 20% e 80% dos casos.
Veja abaixo, no Quadro 1, a clas-
sificação recente da Organização
Mundial de Saúde para as doen-
ria tem origem nas células B e que correspondem respectiva- ças linfoproliferativas.

Quadro 1
Doenças linfoproliferativas - classificação da Organização Mundial da Saúde

80-90% 10-20%

Neoplasias de células B Neoplasias de células T


Indolentes
Leucemia linfóide crônica (LLC) Linfoma de grandes linfócitos granulares
Linfoma linfocítico de pequenas células Linfoma de células T do adulto, tipo smoldering
Linfoma folicular (grau I e II) Micose fungóide
Linfoma da zona marginal/MALT
Linfoma da zona marginal esplênico
Leucemia de células pilosas
Plasmocitoma/mieloma

Moderadamente agressivas
Leucemia pró-linfocítica Leucemia linfóide crônica/ pró-linfocítica
Linfoma de células do manto Linfoma de células T do adulto, tipo crônico
Linfoma folicular (grau III) Linfoma angiocêntrico
Linfoma angioimunoblástico

Agressivas
Linfoma difuso de grandes células B Linfoma de grandes linfócitos granulares, tipo NK
Linfoma de células T-periférico
Linfoma intestinal de células T
Linfoma de células T do adulto, tipo agudo
Linfoma anaplásico de grandes células

Altamente agressivas
Precursor B-linfoblástico Precursor T-linfoblástico
Linfoma de Burkitt
Linfoma de alto grau de células B, Burkitt like

Linfoma de Hodgkin
2 InfectologiaHoje Ano III – nº 10 – Abr/Mai/Jun 2009

Aspectos Epidemiológicos nhecida. Existe maior incidência de mesmo sem tratamento. Os subtipos
Os LH correspondem a 1% de LNH em indivíduos que manipu- de linfoma indolente mais comu-
todas as neoplasias humanas e apre- lam solventes orgânicos, como pin- mente encontrados são: os linfomas
sentam uma incidência estável. Os tores, mecânicos, trabalhadores foliculares (LF) graus I e II; o
LNH correspondem a 4% de todas rurais e das indústrias química, de linfoma folicular grau III, que deve
as neoplasias humanas, e a sua petróleo, de borracha e de plásticos. ser tratado como o linfoma difuso
incidência vem aumentando em Há também maior incidência em in- de grandes células B; o linfoma
todo o mundo. Algumas das possí- divíduos que manipulam substân- linfocítico de pequenas células e o
veis causas do aumento da incidên- cias químicas como organofos- linfoma de zona marginal (nodal,
cia são: maior número de diagnósti- forados, benzeno, tetracloreto de extranodal ou esplênico).
cos precoces de linfomas indolen- carbono, preservantes de madeira e Os linfomas agressivos são aque-
tes, aumento da população de tintura de cabelo ou que se subme- les que apresentam linfadenome-
imunodeprimidos (secundariamen- teram à quimioterapia (QT) e galia ou tumoração extranodal com
te a transplantes de órgãos e à in- radioterapia (RT) no passado. Al- evolução rapidamente progressiva,
fecção pelo HIV) e envelhecimen- guns agentes infecciosos desem- podendo levar ao óbito em sema-
to da população. A incidência dos penham papel importante na pato- nas ou meses se não forem rapida-
LNH é pouco maior no sexo mas- gênese de determinados tipos de mente tratados. Os subtipos de
culino do que no feminino, sendo a LNH e encontram-se descritos no linfoma agressivo mais comumente
idade mediana para apresentação Quadro 2 abaixo. encontrados são: o linfoma difuso
em torno de 50 anos. Em geral, a de grandes células B (LDGCB), o
incidência em caucasianos é maior Classificação evolutiva linfoma de células do manto, o
do que em negros ou asiáticos. Do ponto de vista clínico, os linfoma de células T periféricas e o
Os últimos dados sobre linfomas LNH podem ser divididos em dois linfoma anaplásico de grandes cé-
no Brasil foram publicados pelo Ins- grandes grupos: indolentes e agres- lulas, tipo T/null.
tituto Nacional do Câncer (INCA) sivos. Os chamados linfomas de
em 2004, revelando mais de 3.000 baixo-grau ou indolentes são aque- Quadro clínico
mortes, o que corresponde a uma les que apresentam evolução lenta Os principais sinais e sintomas do
média de oito óbitos por dia. com linfadenomegalia não-doloro- linfoma incluem a presença de mas-
sa de crescimento progressivo, sas tumorais comprometendo estru-
Aspectos etiológicos esplenomegalia e freqüente com- turas nodais (60 a 75% dos casos)
Muito se têm estudado a respeito prometimento da medula óssea, re- ou extra-nodais (25 a 40% dos
dos fatores etiológicos e/ou fatores sultando em citopenias no sangue casos), além de fadiga, prurido
de risco para o desenvolvimento periférico. Os pacientes acometidos cutâneo e sintomas B: febre, ema-
dos LNH. Porém, na maioria dos por esse tipo de linfoma costumam grecimento > 10% do peso em seis
casos, a doença é de causa desco- apresentar sobrevida de vários anos meses e sudorese noturna.
Os linfomas de Hodgkin (LH)
acometem predominantemente
Quadro 2
linfonodos, baço e medula óssea en-
Agentes infecciosos associados aos tipos de linfoma quanto os linfomas não-Hodgkin
(LNH) podem apresentar manifes-
Agentes infecciosos Tipo de LNH relacionado tações extra-nodais em aproxima-
Vírus Epstein-Barr (EBV) Linfoma de Burkitt endêmico na África
damente 25% dos casos, mais comu-
Linfoma de Burkitt esporádico
Linfomas associados à Aids Quadro 3
Linfoma T nasal
Linfomas de Hodgkin Quando devemos
suspeitar de linfoma?
HTLV-I Leucemia/linfoma de células T do adulto
Quando o paciente
Herpes vírus humano tipo 8 (HHV8) Linfoma de cavidade ou apresentar
primary effusion lymphoma linfonodomegalia:

Vírus da hepatite C (HCV) Linfoma linfoplasmocitóide associado à ✔ > 2 cm de diâmetro


crioglobulinemia mista tipo II ✔ firme
Linfoma de zona marginal esplênico ✔ indolor
✔ não associado a processo
Helicobacter pylori Linfoma MALT (mucosa associated
infeccioso
lymphoid tissue) do estômago
✔ que persiste por mais
Chlamydia psittaci Linfomas MALT de anexos oculares de quatro semanas
Ano III – nº 10 – Abr/Mai/Jun 2009 InfectologiaHoje 3

mente no estômago, pele, cavidade da suspeição desta patologia pelo serão utilizados em diversas reações
oral, intestino delgado e sistema infectologista. Veja no Quadro 4, de imunohistoquímica para identi-
nervoso central. abaixo, as principais doenças cau- ficar a presença de proteínas no
sadoras de linfonodomegalias que citoplasma ou núcleo das células
Diagnóstico diferencial compreendem o diagnóstico dife- tumorais capazes de definir: o tipo
Estes sintomas são também fre- rencial. de tumor (linfoma ou carcinoma),
qüentes em muitas doenças infec- o tipo de linfoma (LNH ou LH), a
ciosas prevalentes em nosso meio Diagnóstico origem celular do LNH (células B
e por isso o diagnóstico de linfoma O diagnóstico dos LNH se ba- ou T) e o subtipo de LNH. Veja as
deve figurar entre os diagnósticos seia na biópsia do linfonodo ou da principais recomendações para o
diferenciais das linfonodomegalias massa tumoral extranodal, deven- diagnóstico dos linfomas no Qua-
febris. Daí, também a importância do o material ser examinado por dro 5 ilustrativo abaixo.
patologista experiente que irá clas- A punção aspirativa por agulha
sificar a doença de acordo com cri- fina (PAAF) é extremamente útil
Quadro 4 térios morfológicos e imunohisto- no diagnóstico diferencial de
Diagnóstico químicos. adenomegalias, principalmente na
diferencial O patologista faz a suspeita de diferenciação de linfonodomega-
LNH a partir da análise inicial dos lias reacionais, doenças linfopro-
● Doenças virais cortes histológicos obtidos da liferativas e metástase de carcino-
Mononucleose (EBV, CMV), biópsia de linfonodo, corados pelo ma. Porém, a PAAF nunca pode
vírus respiratórios método de hematoxilina e eosina. A substituir a biópsia de linfonodo
superiores (adenovírus, partir daí, deverá dispor de um pai- no diagnóstico e classificação do
influenza), HIV, rubéola nel de anticorpos monoclonais que LNH.
● Doenças bacterianas
Streptoccus, Staphylococcus, Quadro 5
Salmonella, Brucella, Exames para o diagnóstico dos linfomas
Listeria, doença da
arranhadura do gato ✔ Biópsia do linfonodo
● Doenças fúngicas (ou da massa extra-nodal)
histoplasmose, blastomicose
✔ Patologista experiente
● Micobactéria
tuberculose, hanseníase ✔ Classificar a doença
● Clamídia de acordo com critérios:
linfogranuloma venéreo, – morfológicos
tracoma – imuno-histoquímicos

● Espiroquetas HE, 400X


● tipo de tumor
sífilis, leptospirose (linfoma ou carcinoma)
● Parasitas ● tipo de linfoma (LNH ou LH)
toxoplasmose – origem celular do LNH
(células B ou T)
● Protozoário
– subtipo de LNH
malária
● Hematológica
LNH, LH, LLC, LLA, LMC, LMA,
MW, distúrbios histiocíticos
CD45Ro, 400X
● Metastática
mama, TGI, cabeça e pescoço,
pulmão, próstata, testículo,
melanoma, sarcoma

● Inflamação
AR, LES, S. Sjögren,
dermatomiosite

● Outras
sarcoidose
CD20+, 400X
4 InfectologiaHoje Ano III – nº 10 – Abr/Mai/Jun 2009

O tipo histológico do LNH é o principal determinante


da sobrevida e potencial de cura desse grupo de
doenças. Porém, algumas características detectadas
no diagnóstico são capazes de prever a sobrevida
após o tratamento inicial.

Estadiamento de Ann Arbor (estádio I a IV) com


Uma vez estabelecido o diagnós- A = ausência de sintomas gerais; B Autores:
tico, o paciente deverá ser submeti- = febre inexplicada, sudorese no-
do ao estadiamento para determi- turna e perda > 10% do peso em Gisele W. B. Colleoni – Gradua-
nação da extensão da doença. Para seis meses. da em Medicina e com mestrado e
isso, deverá ser realizado um exa- doutorado pela Universidade Fe-
me físico detalhado com caracteri- Prognóstico deral de São Paulo, é docente do
zação de tamanho, consistência e O tipo histológico do LNH é o Departamento de Oncologia Clí-
aderência a planos profundos dos principal determinante da sobre- nica e Experimental da Unifesp
linfonodos cervicais, axilares, sub- vida e potencial de cura desse gru- desde 1997. Realizou Pós-Douto-
mandibulares, infraclaviculares, po de doenças. Porém, algumas ca- rado na área de Patologia Mole-
epitrocleares, ilíacos, poplíteos e racterísticas detectadas no diagnós- cular em doenças linfoproli-
exame da cavidade oral, bem como tico são capazes de prever a sobre- ferativas no Memorial-Sloan
palpação de baço e fígado, pesqui- vida após tratamento inicial. Kettering Cancer Center, Nova
sa de alterações neurológicas e le- Estas características foram agru- York, USA (1998/99).
sões de pele; exames de imagem, padas em um sistema de escore co-
mais comumente, tomografia de tó- nhecido como Índice Prognóstico Mauro J. C. Salles – Médico da
rax, abdome e pelve; e biópsia de Internacional (IPI), elaborado por Santa Casa de Misericórdia de
medula óssea (unilateral). instituições americanas e européi- São Paulo; professor da Faculda-
Outros exames importantes que as para linfomas agressivos trata- de de Ciências Médicas da Santa
podem auxiliar na avaliação geral dos com esquema contendo do- Casa; possui mestrado em Biolo-
do paciente são: exame laboratorial xorrubicina. Este índice é baseado gia Molecular de Doenças Infec-
completo envolvendo hemograma, nos seguintes critérios (quanto ciosas, University of London
função renal, função hepática e maior o número de fatores, maior (1998). Atualmente é o primeiro-
provas de atividade inflamatória a chance de progressão e menor a secretário da SBI.
VHS, DHL e B-2-microglobulina; sobrevida geral):
sorologia para HIV (principalmen- ● sexo masculino Riguel Jun Inaoka – Médico com
te em linfoma difuso de grandes cé- ● idade = ou > 45 anos formação pela Universidade Fe-
lulas e Burkitt), para HTLV-I ● estádio IV deral do Rio Grande do Norte,
(linfomas de células T cutâneos e ● albumina sérica < 4 g/dL concluiu residência médica em
presença de hipercalcemia), para ● hemoglobina < 10,5 g/dL Hematologia e Hemoterapia pela
HCV (linfoma da zona marginal ● leucocitose > 15.000/mm3 Unifesp em 2005, onde atualmen-
esplênico) e para HBV; exame do ● linfopenia < 600/mm3 e/ou < 8% te cursa Doutorado em Hema-
líquor em linfomas com alto risco Para pacientes com LF, subtipo tologia e Hemoterapia.
de infiltração do SNC, como: mais freqüente de LNH indolente,
LDGCB em estádio IVB, linfoma existe um índice prognóstico espe- Thaís Guimarães – Médica
em pacientes HIV ou HTLV-I po- cífico - FLIPI (Follicular Lymphoma infectologista da CCIH do Hos-
sitivo e linfomas comprometendo International Prognostic Index). Este pital do Servidor Público Estadual
testículo, regiões paravertebrais e índice utiliza os seguintes parâme- de São Paulo e do Hospital Santa
seios paranasais. tros clínicos obtidos no diagnósti- Cruz, presidente da Subcomissão
O mapeamento com gálio e a co (em negrito os fatores que de Controle de Infecção Hospita-
tomografia por emissão de pósi- influenciam negativamente o prog- lar do Instituto Central do Hospi-
trons, utilizando o radiotraçador 18- nóstico): tal das Clínicas de São Paulo, dou-
fluordeoxiglicose (PET-FDG), ● idade (> 60 anos) toranda em Doenças Infecciosas
também podem ser utilizados em al- ● DHL paciente/normal (> 1) e Parasitárias pela Unifesp. Atu-
gumas situações. Feitos os exames, ● hemoglobina (< 12g/dL) almente é a coordenadora de Di-
deve-se classificar a extensão da ● estádio (III/IV) vulgação da SBI.
doença, de acordo com os critérios ● número de sítios nodais (> 4)
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Opções de terapias dos linfomas


O
O surgimento dos anticorpos mo-
noclonais modificou a abordagem
dos pacientes com linfoma agressi-
vo. O Groupe d’Etude de Lymphome
maram este benefício em determi-
nados grupos de pacientes com
LDGCB. Os estudos US Inter-
group Trial e RICOVER-60 avalia-
guir são detalhadas cada uma das
situações:
1. Doença localizada
A abordagem atual do paciente
d’Adultes (GELA) conduziu o pri- ram o uso do rituximabe e quimio- com LDGCB localizado (estádio I
meiro estudo randomizado de- terapia em pacientes idosos, enquan- ou II) recomenda o uso de R-
monstrando o benefício da adição to o estudo MInT avaliou o seu uso CHOP por quatro ciclos. Se o
do rituximabe, um anticorpo mono- em pacientes jovens (< 60 anos) com paciente estiver em remissão com-
clonal IgG1 quimérico anti- CD20, perfil de bom prognóstico. pleta nesse ponto, deve ser subme-
ao regime quimioterápico CHOP Um estudo populacional realiza- tido à radioterapia (RT) de cam-
(RCHOP) em pacientes idosos (ida- do posteriormente também demons- pos envolvidos ou dois ciclos adi-
de > 60 anos) com LDGCB no diag- trou o benefício da adição do cionais de R-CHOP, baseado na
nóstico. rituximabe à quimioterapia em to- preferência do paciente e localiza-
Uma atualização dos resultados dos os pacientes com diagnóstico ção da doença. Em pacientes com
deste estudo, após cinco anos de se- novo de LDGCB na província de grande massa tumoral “bulky”
guimento, demonstrou que a melho- British Columbia, Canadá. A abor- (>10cm em seu maior diâmetro)
ra na resposta ao tratamento obser- dagem de pacientes com LDGCB com doença localizada, é aconse-
vada com a adição do rituximabe pode ser dividida em três situações lhável oferecer seis ciclos de R-
mantém-se ao longo do tempo distintas: pacientes com doença lo- CHOP, seguidos de RT em cam-
(sobrevida global em cinco anos de calizada, pacientes com doença dis- pos envolvidos.
58% vs 45%, p = 0,0073). Três ou- seminada e aqueles que apresentam 2. Doença disseminada
tros estudos randomizados confir- recidiva após remissão inicial. A se- Na década de 70, o regime CHOP

Quadro 6
Tratamento

85% dos casos são curáveis

Linfoma de Hodgkin

Estádio IA ou IIA Estádio IB, IIB, III ou IV

Quimioterapia/radioterapia* Quimioterapia

Remissão Refratário

Quimioterapia
Seguimento Recidiva
de salvamento

Quimioterapia Transplante de células-tronco


de salvamento hematopoéticas

Transplante de células-tronco
hematopoéticas
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tornou-se popular nos Estados Uni- dias (CHOP-14) melhora a respos- sentar massa “bulky” (> 10 cm em
dos e foi consagrado como regime ta em pacientes idosos. seu maior diâmetro), a RT adjuvante
de tratamento padrão para pacientes Porém, o estudo que trouxe maior pode ser considerada, se for possí-
com linfoma agressivo. Entretanto, impacto e mudou a prática clínica vel irradiar a região comprometida
na década subseqüente, o desenvol- de abordagem do paciente com com segurança. Pacientes que apre-
vimento de novos regimes de trata- LDGCB em todo o mundo foi sentam envolvimento de testículo,
mento como M-BACOD, MACOP- aquele realizado pelo GELA, que seios paranasais ou região epidural
B e ProMACE/CytaBOM demons- comparou o regime CHOP ao ao diagnóstico devem receber
traram resultados aparentemente mesmo regime com adição do ritu- concomitantemente profilaxia com
muito melhores do que o CHOP. ximabe em pacientes idosos (menci- metotrexate intratecal.
Estes regimes, então chamados de onado anteriormente), com melhora O transplante de células-tronco
terceira-geração, pareceram repre- importante na taxa de resposta, hematopoiéticas (TCTH) autólogas
sentar um avanço importante na te- sobrevida livre de progressão e têm se mostrado uma terapia eficaz
rapia até que um grande estudo sobrevida global com a adição do para pacientes com LDGCB. Ape-
multicêntrico intergrupos realizado anticorpo monoclonal. sar de haver controvérsias na inter-
nos Estados Unidos (1993) demons- A abordagem terapêutica atual pretação dos resultados, o transplan-
trou que esses regimes de tratamen- para pacientes com LDGCB disse- te parece beneficiar apenas pacien-
to não apresentavam nenhuma minado fora do contexto de estudos tes de alto risco que atingiram remis-
superioridade sobre o CHOP. clínicos é o uso de R-CHOP, após são completa após término da tera-
Entretanto, a busca pela otimi- iniciar alopurinol (para prevenção de pia padrão de indução.
zação da terapia para o LDGCB síndrome de lise tumoral, especial- 3. Linfomas Indolentes
prosseguiu e, na Alemanha, estu- mente em pacientes com grandes Pacientes com doença localizada
dos multicêntricos nacionais de- massas tumorais). Após quatro ci- devem ser tratados com RT local,
monstraram que a adição de eto- clos, o paciente pode ser submetido pois nesse caso a abordagem pode
poside ao CHOP (CHOEP) me- a novo estadiamento e, se estiver em ter potencial curativo. O papel do
lhora a resposta ao tratamento em remissão completa, deve receber tratamento adicional com quimio-
pacientes jovens, e o CHOP admi- dois ciclos adicionais, e então suspen- terapia e/ou rituximabe em doença
nistrado com intervalo de cada 14 der o tratamento. Se o paciente apre- localizada deverá ser melhor defi-

Quadro 7
Tratamento LNH

Quimioterapia Fases e checkpoints do ciclo celular ativo


Checkpoint
Síntese
Fase G2/M
protéica
Checkpoint
Fase M
1a. linha

Checkpoint
Radioterapia Fase S
Duplicação
DNA

Checkpoint
G1/S
Terapia alvo-específica
histológico e fatores
dependendo do tipo
Consolidação

prognósticos

Altas doses de quimioterapia


Transplante de medula óssea
➞ ● Granulocitopenia febril
● Autólogo ● Infecções oportunistas
● Alogênico
Ano III – nº 10 – Abr/Mai/Jun 2009 InfectologiaHoje 7

nido pelos estudos clínicos que es- priada para pacientes que optam dose de quimioterápicos (ICE,
tão em andamento. Atualmente, o por não receber quimioterapia. A DHAP) e TCTH autólogo nos paci-
início do tratamento em pacientes terapia de manutenção com rituxi- entes mais jovens.
com LF é indicado se houver mabe deve ser oferecida por pelo Os pacientes com LNH indolen-
sintomas B, grandes massas tumo- menos dois anos (375mg/m2 a cada tes podem apresentar padrão de re-
rais e/ou esplenomegalia com risco 3 meses por 8 doses) baseado em cidiva constante e progressiva refra-
de compressão de estruturas adja- resultados de estudos clínicos recen- tariedade ao tratamento, até evoluí-
centes, citopenias por comprome- tes que apóiam este procedimento. rem para transformação histológica
timento da medula óssea ou por Os TCTH autólogo ou alogê- e LNH refratário de alto grau de
fenômenos auto-imunes secun- nico representam uma abordagem malignidade.
dários (púrpura trombocitopênica terapêutica alternativa em LF. Al-
imunológica, anemia hemolítica gumas das limitações do TCTH Perspectivas
auto-imune) e em casos de rápida autólogo são: alta incidência de re- Avanços em exames de imagem,
progressão da doença. cidiva da doença e risco de mielo- como o PETFDG, poderão modi-
Uma vez indicado o tratamento, displasia secundária. Avanços fu- ficar a abordagem no estadiamento
pode-se optar entre as várias abor- turos nesta área devem envolver e re-estadiamento dos pacientes
dagens terapêuticas disponíveis. incorporação de anticorpos mono- com LNH, a exemplo do que já
Nos LFs, a terapia de primeira li- clonais nos regimes de condiciona- vem ocorrendo em LDGCB. A
nha recomendada é o R-CHOP, mento e no período pós-transplan- melhor compreensão das altera-
baseado em dados recentes de- te, novas estratégias para purifica- ções genéticas e perfis de expres-
monstrando maior taxa de respos- ção das células-tronco e adminis- são gênica associadas à fisiopato-
ta global, maior duração das res- tração de terapia adicional no pe- genia do LNH podem favorecer o
postas,e provável melhora na ríodo pós-transplante. desenvolvimento de terapias-alvo
sobrevida dos pacientes com esta individualizadas. A quimioimuno-
abordagem. Seguimento e terapia aumentou a possibilidade
A opção de esquema baseado em monitoração das recidivas de cura em um número significante
agente alquilante àqueles baseados O seguimento após o término do de pacientes com LDGCB e este
em fludarabina para LF é a mais tratamento dos LNH é feito por meio número deve continuar a crescer
aceita atualmente devido à maior de exame físico, avaliação labo- nos próximos anos.
dificuldade de obtenção de células- ratorial e tomografias periódicas (ou Apesar dos avanços no trata-
tronco hematopoiéticas para uso PETFDG, se disponível) para diag- mento, até recentemente existiam
posterior em pacientes tratados nóstico precoce de eventuais recidi- poucas evidências de aumento na
com fludarabina. vas. Nos LNH agressivos, as recidi- sobrevida dos pacientes com LF.
Pacientes idosos e/ou com pior vas costumam ocorrer nos primei- Com a associação do anticorpo
“performance status” continuam ros dois anos após o término do tra- monoclonal anti-CD20 à quimio-
sendo candidatos à monoterapia tamento e a detecção precoce é fun- terapia, aparentemente houve uma
com clorambucil. A monoterapia damental para a indicação de terapia mudança na história natural dessa
com rituximabe pode ser apro- potencialmente curativa com alta doença, traduzido no tão esperado
impacto na sobrevida global. Assim,
alguns pontos necessitam de melhor
Quadro 8 definição nos próximos anos, em re-
Linfomas: do diagnóstico ao tratamento lação ao LF particularmente em re-
lação aos seguintes questionamen-
LNH agressivos e LH tos: 1) pacientes assintomáticos
devem continuar em conduta expec-
tante ou devem ser tratados ao diag-
Diagnóstico Tratamento Prognóstico nóstico; 2) qual é a melhor escolha
Cura
precoce imediato favorável para tratamento de primeira linha;
3) qual o papel da terapia de manu-
tenção e; 4) em que situações indicar
o TCTH nessa doença.

LNH indolentes Resumindo


Os Quadros 6 e 7 resumem as op-
Sobrevida
ções terapêuticas dos LH e LNH.
Tratamento
Diagnóstico quando com Já o Quadro 8 oferece uma síntese
correto necessário qualidade quanto à abordagem dos linfomas ,
desde o diagnóstico às condutas
para o tratamento.
8 InfectologiaHoje Ano III – nº 10 – Abr/Mai/Jun 2009

Bibliografia recomendada

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SBI e Roche lançam parceria para detecção precoce de linfomas


O linfoma é a neoplasia com a quar- cíficos – como aumento de gânglios, A SBI é umas das sociedades
ta incidência no mundo. Segundo febre, sudorese noturna, perda de médicas que aderiram à campanha
dados do Inca, em 2009 serão 9.100 peso e fadiga – o diagnóstico do “Juntos contra o Linfoma”. A par-
novos casos de linfoma no país. Mas linfoma pode ser impreciso e con- ceria teve o lançamento em Bonito/
este número, se comparado aos paí- fundido com o de outras doenças, MS, durante a I Conferência Brasi-
ses mais desenvolvidos, é muito pe- em especial as doenças infecciosas. leira de Infectologia Hospitalar,
queno. Acredita-se que a incidên- Para aumentar o diagnóstico pre- com uma apresentação da médica
cia no país ainda seja subnotificada coce, não só a população precisa es- hematologista da Unifesp, Gisele
porque muitos pacientes acabam tar informada a respeito da doença, Colleoni, sobre o tema “Linfoma: do
morrendo sem saber que tinham a mas principalmente os médicos cujos diagnóstico precoce ao tratamen-
doença. pacientes podem apresentar a sinto- to”. A parceria inclui ainda anúnci-
Pesquisa realizada em 2008 pela matologia característica da doença. A os e artigos científicos nas publica-
Associação Brasileira de Linfoma e Associação Brasileira de Hematologia ções da SBI, como esta edição es-
Leucemia (Abrale) identificou que e Hemoterapia idealizou uma cam- pecial do Infectologia Hoje, e apre-
a média de tempo que um paciente panha conjuntamente com a Roche sentações em eventos regionais e no
leva para ser diagnosticado com para trabalhar a importância da XVI Congresso Brasileiro de Infec-
linfoma é de cinco meses. Por apre- detecção precoce do linfoma entre as tologia que ocorrerá em outubro,
sentarem sintomas muito inespe- demais especialidades. em Maceió/AL.

INFECTOLOGIA HOJE Boletim trimestral de atualização técnico-científica da SBI.


Consultora técnica: Dra. Thaís Guimarães Editor: Fernando Fulanetti (MTb 21.186/SP) Esta edição contou com
Coordenação: Givalda Guanás Arte e diagramação: José Humberto de S. Santos. É um suporte irrestrito da
permitida a reprodução do conteúdo desta publicação desde que citada a fonte.
Roche Brasil
DIRETORIA DA SBI (2008/10) Presidente: Juvencio José Duailibe Furtado Vice-
Presidente: Marcelo Simão Ferreira 1º Secretário: Mauro José Costa Salles 2ª Secretária:
Beatriz Grinsztejn 1º Tesoureiro: Francisco Bonasser Filho 2º Tesoureiro: Carlos Roberto
Brites Alves. Coordenadores: João Silva de Mendonça (Científico),Thaís Guimarães
(Divulgação) e Hamilton Antonio Bonilha de Moraes (Informática). Sede da SBI: Rua
Domingos de Moraes, nº 1061 - cj. 114 - CEP 04009-002 - Vila Mariana - São Paulo/SP.
Tel/fax: (11) 5572-8958 / 5575-5647. Website na internet: www.infectologia.org.br (este
boletim está disponível no menu publicações). E-mail institucional: sbi@infectologia.org.br

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