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DA REVALIDAÇÃO DE DIPLOMAS EM PORTUGAL: BREVES REFLEXÕES À

LUZ DA TEORIA DOS ATOS ADMINISTRATIVOS TRANSNACIONAIS

Antônio Colaço Martins Filho1

A exemplo do que ocorre no Brasil, o direito ao ensino em Portugal também tem


status de direito fundamental social (artigo 70º, 1, a e artigo 74º, 1), sendo que o Estado
recebeu a incumbência de universalizar o acesso ao nível superior, segundo as capacidades
de cada um, bem como garantir, progressivamente, a gratuidade de todos os níveis de
educação (artigo 74º, 2, d, e; artigo 75º, 1).
A Constituição da República Portuguesa consagra, ademais, a liberdade fundamental
de aprender e ensinar e, como consequência, a liberdade para criar Instituições de Ensino
particulares (artigo 44º, 3 e 4), reconhecidas e fiscalizadas pelo Estado, nos termos da lei 2
(artigo 75º, 2).
É também do Estado (artigo 74º, 2), em conjunto com as associações de professores,
alunos e pais, das comunidades, e das instituições de caráter científico, na forma da lei, a
incumbência de realizar da política de ensino (artigo 77º, 2). A gestão do ensino, sob a tutela
do Estado ou de particulares, deve ser democrática, garantida a participação de alunos e
professores (artigo 77º, 1), nos termos, ademais, dos artigos 43º, 45º, 2, 6 da Lei de Bases do
Sistema de Ensino e de diversos dispositivos que grassam pelas normas legais e infralegais.
A competência legislativa para dispor sobre Bases do Sistema de Ensino é da
Assembleia da República (artigo 164º, i), que decretou, aos 14 de outubro de 1986, a Lei de
Bases do Sistema de Ensino: Lei nº 46/86. Tal lei dispõe que os estabelecimentos de Ensino
Superior – ensino universitário e politécnico (11º, 1) – são universidades ou escolas
universitárias não integradas (artigo 14º, 1), sendo a todos reconhecida as autonomias
científica, pedagógica e administrativa, e, apenas às universidades em especial, a autonomia
financeira (artigo 45º, 7, 8). Os diplomas que tratam do reconhecimento de graus e títulos
estrangeiros reconhecem essa autonomia e atribuem às universidades papel predominante
nesses processos3.

1
Bacharel em direito pela Universidade Federal do Ceará – UFC; pós-graduado (lato sensu) em Direito Público pela Universidade
Gama Filho – UGF. Mestrando em Ciências Jurídico-Filosóficas pela Faculdade de Direito da Universidade do Porto. Diretor
Geral da Faculdade de Tecnologia Darcy Ribeiro-FTDR. Advogado.
2
A Lei de Bases do Sistema de Ensino trata do ensino particular e cooperativo no capítulo VIII.
3
Vide preâmbulo do Decreto-Lei n 283 de 1983.
No plano específico do presente estudo, a lei consagra o princípio do reconhecimento
mútuo do valor da formação e das competências adquiridas (artigo 13º, 4) e atribui ao
Governo a tarefa de “definir por decreto-lei o sistema de equivalência entre os estudos, graus
e diplomas do sistema educativo português e os de outros países, bem como as condições em
que os alunos do ensino superior podem frequentar em instituições congéneres estrangeiras
parte dos seus cursos, assim como os critérios de determinação das unidades de crédito
transferíveis” (artigo 66º, 3).
Editou-se, assim, o Decreto-Lei nº 341 de 2007, que trata do reconhecimento de graus
acadêmicos superiores estrangeiros, tendo como fundamento o princípio da confiança
recíproca.
O artigo 4º do diploma estabelece regras para o reconhecimento automático de “graus
académicos conferidos por instituição de ensino superior estrangeira cujo nível, objectivos e
natureza sejam idênticos aos dos graus de licenciado, mestre ou doutor conferidos por
instituições de ensino superior portuguesas”.
“2 — Para os efeitos do disposto no número anterior, são considerados de nível, objectivos e
natureza idênticos aos dos graus de licenciado, mestre ou doutor:
a) Os graus académicos conferidos por instituições de ensino superior estrangeiras que, por
deliberação fundamentada da comissão de reconhecimento de graus estrangeiros a que se refere o
capítulo III, sejam como tal qualificados;
b) Os graus académicos conferidos por instituições de ensino superior estrangeiras de um Estado
aderente ao Processo de Bolonha, na sequência de um 1.o, 2.o ou 3.o ciclo de estudos organizado de
acordo com os princípios daquele Processo e acreditado por entidade acreditadora reconhecida no
âmbito do mesmo Processo.”
Uma vez apuradas, em decisão fundamentada, as condições especiais do artigo 4º, 2, a
e b do Decreto-Lei nº 341 de 2007 pela Comissão de reconhecimento de graus estrangeiros
(artigo 8º) e registado o ato na autoridade competente, o diploma passa a surtir efeitos
também em Portugal. Em termos de classificação, trata-se de ato administrativo de
administração verificadora, declaratório, simples, coletivo e vinculado.
Observa-se, portanto, que em casos especiais, onde se verifica a identidade entre nível,
objetivos e natureza das formações estrangeira e portuguesa e nos casos de adesão ao
Processo de Bolonha, há reconhecimento automático e, por conseguinte, ato administrativo
transnacional sem restrições ou derrogações.
Os casos que não se enquadram na moldura acima se submetem ao regime do Decreto-
Lei nº 283 de 1983. Este diploma assume, portanto, feição geral em face do anterior. Tanto
portugueses quanto estrangeiros podem se valer das suas disposições. No que diz respeito
aos efeitos, o artigo 2º não prevê reservas (espaciais, temporais ou subjetivas), uma vez que
se reconheça a equivalência. O âmbito de escolha do júri que exara a decisão administrativa
é flagrantemente mais largo do que o da comissão do Decreto nº 341 de 2007, trata-se de ato
vinculado, porém, com um espaço de decisão mais amplo do que o da referida comissão.
Pode-se classificar o ato de concessão de equivalência como ato administrativo de
administração verificadora, declaratório, simples, coletivo e vinculado.
Os atos administrativos consubstanciados nas habilitações não são automaticamente
reconhecidos, mas passam por processo administrativo para reconhecimento da equivalência,
que lhes permite operar efeitos transnacionais.
Vale mencionar, por fim, que, nas relações entre Brasil e Portugal, há de se levar em
consideração o Princípio da Reciprocidade, previsto no §1º do artigo 12 da Constituição,
segundo o qual:
“Artigo 12 [omissis]
§1º - Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em
favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos
previstos nesta Constituição.”
Por força desse dispositivo, bem como do artigo 5º do Decreto-Lei nº 341 de 2007, os
tratados firmados entre Portugal e outros Estados seguem o regime de reconhecimento que
dispuserem. Nesse particular, os artigos 38 a 45 do Tratado de Amizade, Cooperação e
Consulta, entre a República Federativa do Brasil e a República Portuguesa, celebrado em
Porto Seguro em 22 de abril de 2000 e promulgado pelo Decreto nº 3.927 de 2001, estatuem
como regra o reconhecimento de graus e títulos acadêmicos mediante certificação por
“documentos devidamente legalizados” (artigo 39) e, excepcionalmente, confere às
universidades e demais instituições de ensino superior a faculdade de celebrar convênios
para o “reconhecimento automático dos graus e títulos acadêmicos” (artigo 42, 1). Nestes
casos, haverá reconhecimento mútuo e automático de ato administrativo transnacional. Trata-
se de norma especial em relação às normas gerais de equivalência do ordenamento jurídico
português. Aplica-se, portanto, às relações jurídicas que envolvam nacionais e instituições de
ambos os Estados. A decisão que reconhece os graus e títulos acadêmicos acima mencionada
é ato administrativo de administração verificadora, declaratório, simples, coletivo e
vinculado.
CONCLUSÃO
Em conclusão, tem-se que os regimes jurídicos dos processos administrativos de
revalidação, admissão, reconhecimento e concessão de equivalência de graus e títulos
acadêmicos em Portugal contemplam vários modelos de transnacionalidade, classificáveis
segundo a automaticidade ou não na execução dos atos administrativos emanados de outro
Estado. A globalização e sua tendência continental de regionalização, como que arvorando o
fim do “feudalismo estatal”, impele os ordenamentos jurídicos na direção do modelo que
automatiza a transnacionalidade, em detrimento da soberania nacional.

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