Vous êtes sur la page 1sur 2

ca, a arquitetura, a literatura e a ciência.

É preciso cultivar a
ambivalência digital. Não se pode aceitar a eficiência como
principal objetivo das relações. A tecnologia não é parte da
Disciplina: Redação [Curso Extensivo Pré-vestibular] ordem natural das coisas. Essa postura crítica tende a devol-
Responsável: Prof. Adriano Tarra Betassa Tovani Cardeal ver a tecnologia ao seu devido lugar e, nesse processo, tor-
ná-la melhor.
PROPOSTA TEMÁTICA REDACIONAL 18: O uso das
tecnologias de informação nos albores do século XXI bra- (Folha de S. Paulo, “Tec”, 16.06.2014)
sileiro: contribuições positivas ou (e) negativas para a excel-
situde educacional de nosso país? Os viciados em internet e tecnologia e as
relações humanas: a “morte da conversa”
Tecnofilia
Elane Souza
Luli Radfahrer
Acaso perguntem em quem estava a pensar quando
A tecnologia liberta ao mesmo tempo em que escra- escrevi este artigo, responderei: “em mim mesma”. Não é a
viza. A mudança que ela provoca altera profundamente o e- minha biografia, não se preocupem; é apenas um relato do
quilíbrio do ambiente. Até há pouco tempo, as ferramentas que se passa aqui e em muitos lares pelo mundo moderno.
utilizadas (uma chave de fenda, por exemplo) tinham pouca Muitas pessoas hoje se parecem desconhecidas vivendo sob
ou nenhuma interferência na sociedade. Hoje, elas desem- o mesmo teto. Quando estão distantes umas das outras, elas
penham papel central, atacando os pilares tradicionais à me- se comunicam pelos mais variados meios tecnológicos; mas
dida que propõem nova cultura cuja única meta parece ser a quando estão próximas, é o silêncio que reina. As redes so-
eficiência dos processos. Família, trabalho, governo, escola, ciais viraram moda e juntaram muitos casais; porém, com o
todos os antigos pilares sociais vêm sendo questionados. passar do tempo, o que parecia amor verdadeiro é trocado
Em seu lugar, se propõe uma espécie de imperativo estatísti- pelo meio de comunicação que os uniu. As relações huma-
co, que subordina as reivindicações da natureza, da biologia nas não são as mesmas há muito. Famílias inteiras vivem
e das emoções, sem se responsabilizar pelo impacto huma- juntas e “distantes”; só se aproximam por meio da tecnolo-
no. O “como” de cada nova invenção ofusca seu “porquê”. gia ao falarem ao telefone, quando dizem “eu te amo” num
Objetividade, especialização, mensuração, padronização e post de Facebook no modelo pronto (do tipo “copie e cole”).
eficiência tornaram-se os únicos objetivos – naturais, espe- É fácil sair manifestando amor aos quatro cantos por inter-
rados e inquestionáveis. A ênfase na eficiência disfarça a médio da internet; quereria ver isso ocorrer na “realidade”,
questão óbvia: que processo a tecnologia torna mais eficien- “cara a cara”. Pessoas que nunca se viram são “amigas” em
te? Os antigos objetivos parecem ter ficado em segundo pla- redes sociais. No dia do aniversário, cumprimentam-se, por
no. O importante é se acomodar a novas exigências. A pes- meio delas, como se “velhos amigos” fossem. Porém não se
quisa de mercado se torna mais importante do que a de pro- dão o trabalho de dar “bom dia” ao se cruzarem nas ruas. E,
duto. Não há mais pessoas, só consumidores. Quando a tec- com esse repertório, estão imaginando que isso também se
nologia se transforma na maior conquista da humanidade, o passa comigo. Não. Comigo, a história é outra, que também
resultado é uma espécie de idolatria, em que cada elemento envolve tecnologia, mas é de uma forma diferente que ela a
social busca validação e encontra satisfação na técnica que mim afeta. Quando resolvemos passar a vida ao lado de al-
deveria servi-lo. Tecnófilos contemplam a tecnologia como guém, é porque esse alguém é, de alguma forma, importante
uma musa, perfeita. Não há dúvida de que a tecnologia traz em nossas vidas. Nós o queremos próximo de nós para ter-
progresso, mas é uma aliada que demanda fidelidade e obe- mos com quem falar, viajar, assistir a um filme, enfim, pas-
diência. Quem a segue sem questionar cria uma cultura sem sar bons momentos ao lado dela. Então, chega a “concorren-
fundamento moral, que se sobrepõe a processos mentais e a te” desleal, ou seja, a tecnologia que ofusca, que diminui o
relações sociais. À medida que nos acomodamos ao mundo nosso brilho aos olhos de quem amamos. Nesses momentos,
em que o progresso tecnológico se torna objetivo central, o que fazer se, muitas vezes, também agimos da mesma for-
esquecemos que ele diminui a convivência, aumenta o indi- ma? Estar diante de um “poderoso” computador, um belo
vidualismo e submete dados pessoais ao escrutínio de insti- tablet ou um celular de última geração é, não poucas vezes,
tuições. Cada pessoa é mais facilmente monitorada, classifi- mais “atraente” do que estar diante de nossos maridos, nos-
cada, reduzida a número, perplexa com decisões aparente- sos pais, nossos amigos. Acredito que hoje, os únicos que a-
mente irracionais feitas em seu nome. O computador é uma inda “ganham” nossa atenção pessoal e não virtual são nos-
tecnologia de comando e controle. Seu domínio mostra a sos filhos, mas a recíproca não é verdadeira. Já existem, na
perda de confiança no julgamento humano e na subjetivida- China – por exemplo –, centros de internamento para “vicia-
de das dimensões morais. Só fatos importam; não há incen- dos” em internet. O centro que cuida desses viciados em Pe-
tivo ao pensamento crítico. Palavras relevantes, como “li- quim tem tratamento militar, ou como se fossem militares;
berdade”, “verdade”, “inteligência” e “memória”, são rede- usam trajes e são “cuidados” e “orientados” por ex-milita-
finidas discretamente. Algo “perfeito”, em tempos descartá- res. Esses jovens chineses são internados pelos pais porque
veis, já não é tão importante quanto a performance. É mais aqueles foram diagnosticados “dependentes” dessa tecnolo-
importante fazer rapidamente do que bem. A regra da indús- gia. São pessoas que se esquecem do mundo real, das rela-
tria se tornou “lance antes, conquiste mercado, corrija de- ções sociais, familiares, afetivas e laborais. Não pensam em
pois”. A quantidade de “versões beta” e recalls não deixa mais nada que não seja estar diante de uma tecnologia e co-
dúvidas. Toda cultura precisa negociar com a tecnologia. A nectados ao “mundo virtual”. Aqui, no Brasil, uma pesquisa
oposição não deve ser à técnica, mas à sua idolatria, que des- realizada pelo Hospital das Clinicas, em São Paulo, consta-
carta críticas. A engenhosidade tecnológica é digna de ad- tou que está cerca de 8 milhões o número de viciados em in-
miração. Mas não é mais importante do que as artes, a músi- ternet (o que equivale a 4% da população nacional). Gente

162
que, como eu, sente na pele a “solidão acompanhada”. So- que esse exagero quanto à exposição dos indivíduos às no-
mos uma presença quase invisível frente a uma tecnologia vas tecnologias resultam no déficit de atenção dos usuários.
avançada; tecnologia que dá conhecimento, diversão e pos- Atualmente, estudos estimam que a concentração de um jo-
síveis e diferentes formas de prazer. Estaria eu aqui falando vem se limita a 3 minutos”, sublinha. O que quis aqui não
de sexo? Muitos aqui podem estar com um sorriso nos lábi- foi colocar a internet e a tecnologia como vilãs responsáveis
os ou dando boas gargalhadas a pensar que tenho um “com- por todo “mal” que acontece com as relações humanas; afi-
panheiro depravado”, que adora a internet pelas possibilida- nal, aquelas não têm vida própria; somos nós quem damos
des que ela dá em “mudar o cardápio”. Eu digo que nem tan- “vida” a elas, e, por sermos os responsáveis por elas existi-
to. O que incomoda mesmo é o fato de eu estar me transfor- rem, é que devemos saber nos controlar diante do que elas
mando em sua “alma gêmea”, ou seja, numa pessoa como oferecem. É muito triste estarmos “presentes” e só sermos
ele – também “viciada” em internet. O meu sonho sempre vistos quando “ausentes”, por meio de uma Webcam em um
foi ter alguém com quem pudesse contar para um jantar ro- Skype, Facebook, Twitter, WhatsApp ou Viber da vida, en-
mântico, que soubesse me ouvir, mas também falar, que não quanto, no agora, nos tratam como “invisíveis presenciais”.
se preocupasse em comer rápido para retornar a casa e ligar É por não querer ser tratada assim que me “policiarei”. Re-
o computador; alguém que esperasse o jantar com calma, cuso-me a deixar de ver e sentir o ser humano na sua melhor
sem contar os minutos ao meu lado e que aproveitasse esse essência, ou seja, a real. Apesar da importância que a tecno-
tempo para me dizer coisas bonitas, e também ouvir, e que, logia e a internet têm, elas jamais serão mais importantes do
acima de tudo, não se preocupasse se o lugar tem Wi-fi. Mui- que as relações humanas – abandonar estúltimas equivale a
tos dirão que eu tenho culpa – talvez tenham razão, pois me viver num mundo de “faz-de-contas” rodeado por máquinas
deixei ser, literalmente, “trocada” pela tecnologia e pela in- sem sentimentos, sem compaixão.
ternet. Mas o que fazer se ela é nova e atraente, talvez tenha
mais a oferecer do que eu? Mais cultura, mais assunto, mais (JusBrasil, fevereiro do ano 2015)
brilho! Isso me parece um desabafo! Mas o que relato, aqui,
é que a pesquisa feita pelo Hospital das Clínicas constatou
acontecer isso com outros casais. O editor do Portal Rmax,
Richard Max, na entrevista feita pela citada pesquisa, disse
ser 100% viciado em internet. Usa quase todo tipo de rede
social e passa o dia inteiro atrás do celular. Almoça com ele
e olhando para ele; ao assistir televisão, ainda manuseia o a-
parelho, leva-o para cama e somente o solta ao dormir; e, ao
acordar, a primeira coisa que faz é ligá-lo para ver mensa-
gens ou notícias novas; fato que, às vezes, o leva à discussão
com a esposa. Disse que chega a abrir mão de uma vida soci-
al para estar on-line (com o celular). Ele sabe que são pontos
negativos na sua vida, mas ainda não está conseguindo con-
trolar. Realmente, são comportamentos preocupantes, diz o
psicólogo coordenador do grupo “Dependência de Internet”
do Hospital das Clínicas de São Paulo, Cristiano Nabuco de
Abreu, que acredita que a utilização responsável da internet,
baseada no bom senso, é a chave para se autoeducar quanto
a um acesso correto à rede. Ele alerta que até hoje ainda não
há estudos que mostrem, de maneira exata, todos os tipos de
consequência que o uso desenfreado da internet pode cau-
sar. “Há um número grande de pesquisas, hoje, que mostram

163

Vous aimerez peut-être aussi