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Setembro/2007
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
Escola de Direito FGV DIREITO RIO
Programa de Capacitação em Poder Judiciário
Aprovado e aceito como requisito parcial para a obtenção do certificado de Pós Graduação
Lato Sensu, nível de especialização, em Poder Judiciário.
Data:
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................ 1
CONCLUSÃO ................................................................................................................................................ 84
RESUMO
ABSTRACT
The purpose of this work is the Brazilian Small Claims Court system, called
Juizados Especiais Cíveis, its principles and procedure. The central concern is to
verify the compatibility of such informative principles of this Special Court‟s
procedure with the principles of the ordinary Procedure Law and those embodied in
the Federal Constitution. It is debated whether the simplification of the procedure is
unconstitutional or not, where it curtails the basic guarantees of the process,
embodied in the due process of law clause. It seeks to make a critical analysis of
the informative principles and institutions concerning the Civil Special Court. It
offers suggestions of perfectioning the process and improvement of the
infrastructure of the Brazilian Civil Special Courts. It emphasizes the Brazilian
Civil Special Courts as the natural court system for the claims of lesser complexity.
It also emphasizes the necessity of the ordinary Judge to really supervise the work
of the “mediator” (a person who seeks to promotes the conciliation among parties
in a lawsuit) and of the “Lay judge” (appointed lawyer who presides the trial and
hearings, and suggests a solution). It is also pointed out the crucial importance of
the implementation of the so called electronic or virtual process. Finally, as a
matter of legal security, it is analyzed the institution of “recurso de uniformização
de jurisprudência federal” (appeal for standardization of the interpretation of
federal law).
INTRODUÇÃO
1
Conforme bem pontua NERY JÚNIOR: “Era muito comum, pelo menos até há bem pouco tempo, interpre-
tar-se e aplicar-se determinado ramo do direito tendo-se em conta apenas a lei ordinária principal que o regu-
lamentava. Assim, o civilista via no Código civil a única norma que deveria ser consultada na solução de
3
problemas naquela área, o mesmo ocorrendo com o processualista (civil, penal, e trabalhista), com o penalis-
ta, com o comercialista.
Isso se deve a um fenômeno cultural e político por que passou e tem passado o Brasil ao longo de sua exis-
tência. Referimo-nos ao fato de o País ter tido poucos hiatos de tempo em Estado de Direito, em regime de-
mocrático, em estabilidade política, enfim.
Daí por que não se vinha dando grande importância ao Direito Constitucional, já que nossas Constituições
não eram respeitadas, tampouco aplicadas efetivamente”
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. 6ª ed., São Paulo: RT,
2000, p. 19.
2
TOCQUEVILLE, Alexis de. A Democracia na América – Livro 1 Leis e Costumes. São Paulo: Martins
Fontes, 2005, p. 111.
4
particular e - dever sempre esperar que o tenham solicitado para agir. O juiz norte-
americano, apesar de parecer perfeitamente com os magistrados de outras nações, é dotado
de um imenso poder político.
E, refletindo sobre isso, questiona TOCQUEVILLE:
“De onde vem isso? Ele se move no mesmo círculo e serve-se dos mesmos meios
que os outros juízes, por que possui um poder que estes últimos não têm?
A causa está neste simples fato: os americanos reconheceram aos juízes o direito de
fundar suas decisões na constituição, em vez de nas leis. Em outras palavras,
permitiram-lhes não aplicar as leis que lhes parecerem inconstitucionais.
Sei que semelhante direito foi reclamado algumas vezes pelos tribunais de outros
países, mas nunca lhes foi concedido. Na América, é reconhecido por todos os
poderes; não encontramos um partido nem mesmo um homem que o conteste.”
(grifo do autor).3
A partir daí, se vê que a interpretação dos preceitos próprios dos Juizados Especiais
Cíveis e, notadamente de seus princípios, há de ser feita em conformidade com a
Constituição Federal.
Para tanto, a reflexão que se impõe, e que será feita no terceiro capítulo, é a de uma
crítica sobre a constitucionalidade dos principais institutos dos Juizados Especiais Cíveis,
ou seja: o julgamento por ou com eqüidade; a simplificação da comunicação dos atos
processuais, mediante a entrega ao encarregado da recepção da carta de citação tratando-se
de pessoa jurídica ou firma individual e a presunção de intimação no endereço original
quando a parte muda de endereço sem comunicar; a facultatividade do advogado nas
causas em que o valor não exceder vinte salários mínimos; a irrecorribilidade das decisões
interlocutórias; a possibilidade de dispensar o arquivamento de documentos em autos
físicos, possibilitando a instituição do processo eletrônico; a limitação de recursos; a
possibilidade de confirmação da sentença por seus próprios fundamentos, dentre outros.
3
Idem. p. 113.
5
4
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
5
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 2ª ed. Coimbra – Portugal:
Almeidina, 1998, p. 1.047.
6
da ação não seja obstaculizado, até porque ter direitos e não poder tutelá-los
certamente é o mesmo do que não os ter” (grifo do autor)6.
6
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil, volume 1: teoria geral do processo. São Paulo:
RT, 2006, p. 185.
7
Segundo o mencionado filósofo francês: “Pode-se ultrapassar o estado de mal-estar que consiste em pensar,
dizer e reproduzir que o progresso das ciências é a fonte de nossos males, e mais particularmente, da crise
que vivem nossas sociedades. Convém para tanto não ceder aos jogos do poder e guardar uma posição crítica:
lição específica de todas as ciências que chamamos, erradamente, „auxiliares do direito‟. Elas nos ensinam a
renúncia à busca de dominação, nos ensinam a criticar, a inventar. É últil relacionar o estudo jurídico a estes
temas importantes. Isso equivale a repensar o direito sempre e em todo o lugar, que dizer, repensar sempre e
em toda parte a racionalidade do sistema jurídico imposto, de abandonar aqui a racionalidade do Iluminismo
que predomina ainda e que serve de referência a um humanismo manco, sem por isso retornar às filosofias
que já estão ultrapassadas, nem fazer o jogo estéril dos positivismos. Exaltar o valor da crítica e reconhecer o
lugar da filosofia”. ARNAUD, André-Jean. O Direito traído pela Filosofia. Traduzido por Wanda de Lemos
Capeller e Luciano Oliveira. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1991, p. 183.
8
8
Direito e Justiça: a função social do Judiciário. São Paulo: Ática, 1989, p. 49.
9
“Como exemplo, GILBERTO DIMENSTEIN menciona uma pesquisa realiza em 1998: „Uma empresa de
publicidade (Grottera) perguntou aos entrevistados „quem ajuda a fazer mais Justiça no Brasil?. Só míseros
10% apontaram o Poder Judiciário. A imensa maioria (84%) apontou a mídia, sintoma de uma deturpação
porque seu papel é, a rigor, informar e forma, não processar ou indiciar. Indagados sobre „para que serve a
Justiça?, 26% disseram „nada‟; 28% não souberam responder. Para, enfim 86% da população, somos marca-
dos pela impunidade. A desonestidade e ilegalidade compensam‟ („Burrice Mata, Folha de S. Paulo de
27/12/98, p. 3.8). A pesquisa foi analisada pelo próprio responsável, o publicitário paulista LUÍS GROTTE-
RA, que preside a GROTTERA Comunicação, sob artigo denominado „O Judiciário ausente na mídia é um
risco para a democracia‟, in Cidadania e Justiça, publicação da Diretoria de Comunicação social da AMB,
ano 2., n. 5, 2º semestre de 1998, p. 114 e ss.” Apud: NALINI, Renato. A rebelião da toga. São Paulo: Mil-
lennium Editora, 2006, p. 75.
9
não se restringe a investigar, se não que a emitir verdadeiros “julgamentos”, além dos
meios extrajudiciais, como por exemplo o Arbitramento e a Mediação.
Surge assim um questionamento: como se enfrentam essas dificuldades de
efetividade do acesso à justiça? Buscando estudar tais dificuldades Mauro Cappelleti e
Bryant Garth desenvolveram o Projeto de Florença, que consiste num estudo comparativo
denominado Projeto Florença (de onde provém Cappelletti), recolhendo as experiências de
países do mundo inteiro, nos sistemas de tradição romano-germânica e anglo-saxão,
estabelecendo um quadro completo da situação do acesso à justiça no mundo. A versão
resumida do texto final do relatório foi traduzida em português dez anos após a sua
publicação na Europa10.
Para enfrentar as dificuldades de acesso à justiça, propugna o referido estudo três
ordens de solução do problema, representado pelas chamadas “três ondas”:
• Primeira onda: acesso aos hipossuficientes, pois dependem
fundamentalmente do conhecimento de seus direitos, ou seja, de
assistência judiciária.
• Segunda onda: representação dos novos interesses difusos e
coletivos.
• Terceira onda: simplificação de procedimentos e criação de vias
alternativas de acesso à justiça - a)Reforma dos procedimentos
judiciais em geral (reformas do CPC, criação p. ex. da
antecipação de tutela, ação monitória etc); b)Especialização de
instituições, como ocorre com a criação dos Juizados Especiais
Cíveis; c)Mecanismos consensuais e resolução dos litígios
(arbitramento e mediação). Enfim, efetividade da tutela
jurisdicional, para garantir verdadeira proteção às posições
jurídicas de vantagem lesadas ou ameaçadas.
Do ponto de vista sociológico, é inegável que, pela baixa renda da maioria absoluta
da população (segundo dados do IBGE, a renda média do brasileiro, em 2001, era de
apenas R$ 595, o que torna difícil que grande parcela da população tenha condições de
recorrer ao Judiciário); pela falta de conhecimento de seus direitos, já que parcela ainda
10
CAPPELLETTI, Mauro e GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Trad. Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre,
Sergio Fabris, 1988.
10
inferior da população tem acesso à orientação jurídica que pudesse ser promovida pela
Defensoria Pública; e ainda, por questões culturais relativas ao receio de recorrer à via
Judiciária para a resolução de seus conflitos, a maior parte da população, aproximadamente
dois terços, dela não tenha efetivo acesso à Justiça. É um importante aspecto a ser
considerado no âmbito da discussão do princípio de acesso à justiça.
E, com vistas a ampliar a garantia constitucional de acesso à justiça é que se há de
qualificar e intensificar a atuação dos Juizados Especiais Cíveis, pois é inegável que
desempenham papel relevante nessa área, resultando disso a pacificação das relações
sociais que, inclusive, desempenha papel relevante na prevenção à violência.
Nesse sentido, salienta Moema Dutra Freire:
“Apenas uma parte dos conflitos é absorvida e administrada pelo sistema oficial,
podendo ou não se converter em processo judicial. Esta corresponde ao topo da
pirâmide, que é geralmente estreita, sobretudo em países como o Brasil, em que
não são poucos os problemas de acesso da população à justiça formal. Assim, as
situações sociais não canalizadas para as vias formais de resolução tendem, em
parte, a ser absorvidas por mecanismos alternativos de administração de conflitos;
e, em parte, a serem administradas de forma privada, onde o recurso à violência
pode ter lugar. Justifica-se assim a necessidade de buscar-se tanto incrementar as
vias de acesso à justiça formal como fortalecer os mecanismos alternativos de
resolução de conflitos como estratégia para reduzir o uso da violência na resolução
de disputas”11.
Daí por que o Princípio do Acesso à Justiça está vinculado aos valores da
efetividade da prestação jurisdicional, ou seja, da real capacidade de solucionar os
conflitos sociais, de maneira eficiente, eficaz e justa, assegurando-se ainda “a razoável
duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”,
consoante também prevê o art. 5º, LXXVIII, da Constituição Federal.
11
FREIRE, Moema Dutra. Acesso à justiça e prevenção à violência - reflexões a partir do projeto justiça
comunitária. Dissertação de Mestrado em Ciência Política na Universidade de Brasília. 2006. . Disponível
em: http://www.unb.br/pol/defesasde2006/032006moemadutrafreire/dissertacaofull.pdf. Acesso em 10 ago.
2007.
11
Por outro lado, vinculado aos valores da segurança jurídica está o Princípio Geral
do Devido Processo Legal, que também se constitui em princípio concretizador do Estado
Democrático de Direito, porque serve de base para garantir aos litigantes o direito a um
processo e à participação efetiva nele. Nessa ampla concepção, do Devido Processo Legal,
que garante às partes o processo e o direito de nele ser ouvido e interferir efetivamente
decorrem praticamente todos os demais princípios informativos do processo civil.
A Constituição Federal consagrou o Princípio do Devido Processo Legal no art. 5º,
inciso LIV, estabelecendo que: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal”. Entretanto, o densificam ou o concretizam, por exemplo,
diversos princípios especiais contemplados no art. 5º da Constituição Federal, como, por
exemplo, o de acesso aos órgãos públicos para entregar petição ou obtenção de certidão
para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal, previsto no
inciso XXXIV, o próprio princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional,
contemplado no inciso XXXV, o princípio da coisa julgada, contemplado no inciso
XXXVI, o princípio do juiz natural, estampado no inciso XXXVII e, assim, diversos
outros.
O devido processo legal comporta ainda outros sentidos, a saber: a) genérico, b)
material ou c) processual. Como bem observa NERY JÚNIOR:
“Genericamente, o princípio do due process of law caracteriza-se pelo trinômio
vida-liberdade-propriedade, vale dizer, tem-se o direito de tutela àqueles bens da
vida em seu sentido mais amplo e genérico. Tudo o que disser respeito à tutela da
vida, liberdade ou propriedade está sob a proteção da due process clause”12.
12
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. 6ª ed. São Paulo: RT,
2000, p. 34.
12
O princípio do devido processo legal, como não poderia deixar de ser, também
evoluiu historicamente de garantia meramente formal para uma garantia material, como
ocorre com o princípio do acesso à justiça, com o qual guarda íntima relação. “Jurisdição e
processo são dois institutos indissociáveis. O direito à jurisdição é, também, o direito ao
processo, como meio indispensável à realização da Justiça”, como bem acentua
THEODORO JÚNIOR13.
Especificamente, no que concerne ao processo civil, e para o que interessa na
apreciação dos princípios informativos do processo do Juizado Especial Cível, NERY
JÚNIOR assevera que vem sendo entendidos como decorrentes do devido processo legal
os seguintes princípios: a) a igualdade das partes; b) garantia do jus actionis; c) respeito ao
direito de defesa; d) contraditório14.
A consideração das partes, de acordo com as suas condições efetivas, é hoje um dos
princípios informadores do Processo Civil que vem ensejando mais preocupação,
notadamente em estatutos legais protetivos como o Código de Defesa do Consumidor, que
partindo da idéia de hipossuficiência do consumidor preconiza a facilitação da defesa de
seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova (art. 6º, inciso VIII, da Lei
8.078/1990).
A igualdade exigida, portanto, não pode ser meramente formal, mas efetiva,
estabelecendo a Lei inclusive técnicas processuais para que tal equalização se produza.
Conforme esclarece MARINONI:
13
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de Conhecimento, volume 1. Rio de Janeiro: Forense, 1981,
p. 39.
14
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios ...., p. 40-41.
13
apenas uma delas possui efetivas condições de influir sobre o convencimento do juiz. Um
processo desse tipo certamente não é um „processo justo‟ ou um processo democrático. Daí
por que se diz que as parte não só têm o direito de participar do processo, com também o
direito de participar em paridade de armas” (grifo do autor).15
“O exercício da ação configura, em si mesmo, a participação, enquanto o fim que com ela se busca,
isto é, a tutela jurisdicional, é a prestação constitutiva do direito social. Note-se que a participação
15
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil, volume 1: teoria geral do processo. São Paulo:
RT, 2006, p. 410.
14
depende apenas do exercício da ação, enquanto a prestação social exige a concessão da tutela
16
jurisdicional ao autor.”
Na forma como estabelece o art. 5º, LV, da Constituição Federal, aos litigantes, em
processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. De tal preceito
extrai-se o princípio da ampla defesa. “A defesa não é uma generosidade, mas um
interesse público”, como ressalta PORTANOVA17.
A articulação da ampla defesa com o contraditório, todavia, impõe considerar que o
direito à prática de atos processuais idôneos não se atribui apenas ao réu e a sua defesa,
mas também ao autor e ao seu direito de ação.
Daí por que, justificáveis se apresentam a sumarização de determinados
procedimentos, como o relativo ao processo dos Juizados Especiais Cíveis e a restrição de
recursos. Nesse sentido, pertinentes também se mostram as observações feitas por
MARINONI18.
16
Idem, p. 195.
17
PORTANOVA, Rui. Princípios do Processo Civil. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997, p. 125.
18
“Não há dúvida de que a participação encontra o seu pleno desenvolvimento no contraditório, mas esse,
como diz Chiavario, deve ser entendido como o cruzamento das atividades através das quais cada uma da
partes oferece à outra e ao juiz os dados, das idéias e das razões provenientes da autora. Aliás, entre „ação e
„defesa‟ tem por fim assegurar a ambos os sujeitos do contraditório instituído perante o juiz a possibilidade
da prática de qualquer ato processual idôneo para fazer valer em juízo os seus próprios direitos [...] A respei-
to ao uso do recurso tem justificativa na desnecessidade de se dar oportunidade de dupla revisão a determina-
15
da situação de direito substancial. Se a eliminação do recurso é justificada pela situação de direito substanci-
al, não há que se pensar em violação ao direito de defesa, uma vez que a norma constitucional diz claramente
que são assegurados os meios e recursos „inerentes‟ ao contraditório – isto é, à ação e à defesa”. MARINO-
NI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil, volume 1: teoria geral do processo. São Paulo: RT, 2006, p.
314.
19
DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 3ª ed. São Paulo: Malheiros, 1993,
pp. 130-131.
16
tempo há fundamento político que visa à legitimação da atuação do Estado, para resolver
tal conflito de interesses.
Aliás, como bem salienta PORTANOVA:
“O contraditório assenta-se em fundamentos lógico e político. A bilateralidade da
ação (e da pretensão) que gera a bilateralidade do processo (e a contradição
recíproca) é o fundamento lógico. O sentido de que ninguém pode ser julgado sem
ser ouvido é o fundamento político. Sustentado sobre esses dois pilares, o princípio
dinamiza a dialética processual e vai tocar, como momento argumentativo, todos os
atos que preparam o espírito do juiz”20.
20
PORTANOVA, Rui. Princípios do Processo Civil. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997, p. 161.
17
21
GRINOVER, Ada Pellegrini. Novas Tendências do Direito Processual. Rio de Janeiro: Forense Universi-
tária: 1990, pp. 2-3.
22
“Dentro da mesma orientação, a liberdade concedida ao julgador na eleição da norma a aplicar, indepen-
dentemente de sua invocação pela parte interessada, consubstanciada no brocardo iura novit curia, não dis-
pensa a prévia ouvida das partes sobre os novos rumos a serem imprimidos ao litígio, em homenagem ao
princípio do contraditório”. OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro. Garantia do Contraditório. In: TUCCI, José
Rogério Cruz e (coord.). Garantias Constitucionais do Processo Civil. São Paulo: RT, 1999, p. 143.
23
Idem, p. 145.
24
Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: Art. 184. Sempre que, antes, no curso ou
depois do relatório, algum dos integrantes do órgão julgador suscitar preliminar, será esta, antes de julgada,
18
discutida pelas partes, e, sendo o caso, ser-lhe-á concedida a palavra pelo prazo de lei. Se não for acolhida, o
julgamento prosseguirá nos termos regimentais. Disponível em: http://www.tj.rs.gov.br. Acesso em 17 ago.
2007.
25
Regimento Interno das Turmas Recursais do Rio Grande do Sul. Art. 21. Aplicam-se supletivamente ao
funcionamento das turmas recursais as normas do regimento interno do tribunal de justiça, sendo os casos
omissos solucionados, respectivamente, pelo juiz presidente da turma, as questões relativas à sessão de jul-
gamento, e pelo juiz coordenador, as demais. Disponível em: http://www.tj.rs.gov.br. Acesso em 17 ago.
2007.
26
Neste sentido, com a devida vênia, não procede a crítica apresentada por VIEIRA, José Marcos Rodrigues;
SOARES, Carlos Henrique et al. Juizado Especial Cível e o estado democrático de direito. Jus Navigandi,
Teresina, ano 9, n. 807, 18 set. 2005. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7287. A-
cesso em: 16 jul. 2007.
19
27
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil V. 2 – Processo de
conhecimento. 6ªed. rev., atual. e ampl.. São Paulo: RT, 2006, p. 55.
2 – PRINCÍPIOS INFORMATIVOS DO PROCESSO DO JUIZADO
ESPECIAL CÍVEL
28
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor.
21
29
Nesse sentido, observa FRIGINI: “É fato que possuem competência objetiva, devidamente delimitada e
sem possibilidade de maior abrangência, tanto em razão da matéria (natureza do litígio), como pelo valor da
causa e condição das pessoas. Contudo, ainda que a Lei especial regulamente até o modo de julgamento dos
recursos, através de seus Colégios ou Turmas Recursais, não há como admitir duas Justiças estaduais, por
afronta ao preceito constitucional regulador do Poder Judiciário. É, assim, um braço da Justiça ordinária, com
competência de jurisdição”. FRIGINI, Ronaldo. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis. São
Paulo: LED Editora de Direito. 2000. p. 62
30
“O problema do acesso apresenta-se, pois, sob dois aspectos principais: por um lado, como efetividade dos
direitos sociais que não têm de ficar no plano das declarações meramente teóricas, se não, devem, efetiva-
mente, influir na situação econômico-social dos membros da sociedade, que exige um vasto aparato gover-
namental de realização; mas, por outra parte, inclusive como busca de forma e métodos, a miúde, novos e
alternativos, perante os tradicionais, pela racionalização e controle de tal aparato e, por conseguinte, para a
proteção contra os abusos aos quais o mesmo aparato pode ocasionar, direta ou indiretamente”.
“CAPPELLETTI, Mauro. Processo, ideologias e sociedade. Vol. 1., trad. por Dr. Elício de Cresci Sobrinho.
Porto Alegre: 2008, p. 385.
22
Embora se afirme com freqüência que se criou um novo microssistema, não se tem
refletido muito no porquê considera-se os Juizados Especiais Cíveis, como um
microssistema autônomo, embora de Justiça Especializada não se trate.
Não só houve uma sumarização do rito, mas também passou o Juizado Especial
Cível a contar com a participação de “auxiliares leigos”, colaboradores de fora do Poder
Judiciário, o que inegavelmente ocorre sob os influxos do espírito democrático desse meio
de prestação jurisdicional.
Segundo Cappelletti, não só se busca meios novos de justiça, procedimentos mais
simples, racionais e acessíveis, uma justiça “coexistencial”, como também , e neste ponto o
traço mais inovador, submeter a atividade pública a formas “descentralizadas” e
“participatória”, com o comprometimento dos grupos sociais e comunidades diretamente
interessadas. “É justamente em razão do surgimento desta última finalidade que a
participação dos leigos na administração da justiça tenha voltado a ser, recentemente, um
dos temas de maior interesse teórico e prático”.32
A enaltecer o mesmo sentido democrático do novo microssistema, pontifica ADA
PELLEGRINI GRINOVER:
“Não se trata, aqui, da mera formulação de um novo tipo de procedimento, mas sim
de um conjunto de inovações que vão desde uma nova estratégia no tratamento de
certos conflitos de interesses até técnicas de abreviação e simplificação
processuais. E não se trata propriamente de diversos princípios processuais, mas
sim de critérios que, informando o novo processo, assegurem sua fidelidade aos
princípios clássicos, revolucionando-os em suas formas e em sua dinâmica. Isso
porque a simplicidade é expressão dos princípios da liberdade de formas
processuais e da sua instrumentalidade; a oralidade é diretriz tradicional do
processo brasileiro, agora levada aos extremos do diálogo entre o juiz e as partes; a
economia processual e a gratuidade em primeiro grau de jurisdição respondem à
31
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil V. 2 – Processo de
conhecimento. 6ªed. rev., atual. e ampl.. São Paulo: RT, 2006, p. 690.
32
Idem, p. 390.
23
33
GRINOVER, Ada Pellegrini. Novas tendências do direito processual. Rio de Janeiro: Forense Universi-
tária, 1990, p. 182-183.
34
BOTELHO DE MESQUITA, José Ignácio. O Juizado Especial em face das garantias constitucionais.
ABDPC. Disponível na Internet em: http://www.abdpc.org.br. Acesso em 17 de ago. de 2007.
35
“São inelimináveis, para que se tenha como atendida a garantia do devido processo legal, certas exigências
básicas, como sejam a do juiz natural, do contraditório com ampla defesa, da publicidade, da fundamentação
das decisões e de seu controle. Todos esses aspectos foram negligenciados na Lei 9.099” CALMON DE
PASSOS, José Joaquim. A crise do Poder Judiciário e as reformas instrumentais: avanços e retrocessos.
Jus Navigandi, Teresina, a. 6, n. 57, jul. 2002. Disponível em:
http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=2987 . Acesso em: 01 ago. 2007.
24
36
“Cândido Rangel Dinamarco, um dos principais membros da comissão elaboradora do Anteprojeto da Lei
dos Juizados Especiais de Pequenas Causas, tece as seguintes observações, que continuam inteiramente váli-
das em relação ao juizados especiais: „Essas idéias fundamentais, que estão na Lei das Pequenas Causas, são
conquistas do processo civil e da própria teoria geral do processo, que não precisam ficar confinadas ao pro-
cesso agora criado, só porque enunciadas no seu estatuto específico. Sabe-se que a lei nova, que estabeleça
condições gerais ou especiais, a par das já existentes, não revoga nem modifica a anterior (Lei de introdução
ao Código Civil, art. 2º, § 2º). O fato de a lei de 1984 ter sido editada para o funcionamento do Juizado Espe-
cial das Pequenas Causas não implica, porém, o necessário confinamento de todas a suas normas entre as
leges speciales. Esses dispositivos examinados são portadores da proposta de uma mudança de atitude peran-
te o processo e o modo de realizá-lo e não há qualquer razão lógica ou ética a aconselhar que isso só prevale-
ça no âmbito restrito do juizado. Tem-se por certo, pois, que a todos os juízes essa mensagem da Lei das
Pequenas Causas se dirige. Chegando ela aos seus destinatários e caindo qual semente em solo fértil, mais
esse serviço terá prestado a Lei de Pequenas Causa ao Direito e á Justiça do País. Um processo menos forma-
lista e juízes muito preocupados com a justiça de seus julgamentos, são benefícios que, em todo campo onde
haja processo, é preciso extrair, desde logo, da mensagem trazida na nova lei.‟ („A lei das Pequenas Causa e
a renovação do processo civil‟, in Juizado Especial de Pequenas Causas, coord. Por Kazuo Watanabe, RT,
1985)”. Apud WATANABE, Kazuo. Finalidade maior dos juizados especiais cíveis. Cidadania e Justiça,
Rio de Janeiro, ano 3/nº 7, p. 32-37, set. 1999.
25
fato, basta verificar que a reforma no Código de Processo Civil, relativa à execução de
sentença, com base na Lei 11.232/2005, restou inspirada na forma de execução de sentença
do procedimento da Lei 9.099/1995.
Evidente que a adoção de técnicas processuais mais efetivas repercute em alteração
do status quo ante, o que enseja resistência daqueles que se beneficiavam da situação
anterior.
De qualquer modo, os escopos de ampliar o acesso à justiça e de alcançar
tempestividade e efetividade da tutela jurisdicional de demandas que, pelas suas
características, são, em regra, de pessoas hipossuficientes, incapazes de enfrentar os custos
e a demora de uma demanda judicial nos juízos ordinários, vêm sendo atingidos, mesmo
que para isso algumas garantias do processo civil ordinário sejam atenuadas37. Essas
técnicas, depois de consagradas no processo do Juizado Especial Cível, vem influenciando
também o processo civil ordinário, o que enseja natural resistência.
37
Cândido Rangel Dinamarco indica quatro aspectos ou escopos fundamentais de interesse para a problemá-
tica essencial de efetividade da jurisdição: a) a admissão em juízo; b) o modo-de-ser do processo; c) a justiça
das decisões; e d) a sua utilidade. O mesmo autor afirma que: “As reflexões que se façam sobre esses aspec-
tos (ou sobre quaisquer outros, em possíveis outras classificações dos pontos vitais) hão de apoiar-se na
consciência de que algumas vezes a técnica processual se defronta com exigências antagônicas que precisa
conciliar, o que se dá de modo especial no que toca ao modo de ser do processo no desenrolar dos atos que o
compõem e na disciplina de sua admissibilidade: a busca da efetividade de algum dos escopos importa às
vezes em transigências no tocante à de outro, sem que com isso se renuncie por inteiro à efetividade do pro-
cesso nesse campo”. Grifo do autor. DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 3ª
ed. São Paulo: Malheiros, 1993, p. 273.
26
No âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, portanto, o que se faz, com maior
freqüência é invocar a hipótese da letra d) que autoriza a aplicar a lei com eqüidade, o que
não equivale a substituí-la, ou seja a julgar por mera eqüidade. Excepcionalmente, contudo,
há também a possibilidade de a solução mais justa do conflito depender de solução
38
OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro. Do Formalismo no Processo Civil. 2ª ed.. São Paulo: Saraiva, 2003,
p. 208.
39
Art. 25 - O árbitro conduzirá o processo com os mesmos critérios do Juiz, na forma dos arts. 5º e 6º desta
Lei, podendo decidir por eqüidade. Ressalte-se que, diferentemente do que ocorre, no art. 6º em decisão
equânime, aqui o legislador expressamente autoriza o julgamento por eqüidade. Ressaltando tal
interpretação, afirma ALEXANDR CÂMARA: “é sabido que não se pode presumir a existência, na lei, de
palavras supérfluas. Sendo assim, ao afirmar a lei que o árbitro tem os mesmos poderes do juiz – inclusive os
do art. 6º e, além disso, pode decidir por eqüidade, está a lei certamente a atribuir ao árbitro um poder que o
juiz não tem. Tivesse o juiz, por força do disposto no art. 6º da Lei nº 9.099/95, o poder de decidir por
eqüidade e seria supérflua a cláusula final do art. 25 da mesma lei. Deste modo, a outra conclusão não se
pode chegar: o juiz não tem, no regime dos Juizados Especiais Cíveis, o poder de decidir por eqüidade. A
jurisdição que se exerce nos Juizados Especiais Cíveis é de direito, e não de eqüidade. Cabe, pois, ao juiz, dar
ao caso que lhe tenha submetido uma solução baseada no ordenamento jurídico vigente, sendo certo que à lei
aplicável ao caso dever-se-á dar uma interpretação justa e imparcial, pois só assim se conseguirá atender ao
comando contido no art. 6º da Lei nº 9.099/95”. CÂMARA, Alexandre Freitas. Juizados Especiais Cíveis
Estaduais e Federais – uma abordagem crítica. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2004, p. 55.
28
contrário a texto legal expresso, mas não em contrariedade ao Direito, como propugnado
na letra e).
40
FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias e TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Juizados Especiais Estaduais
Cíveis e Criminais, 5ª ed., revista, atual. e ampliada. São Paulo: RT, 2007, pp. 158-159.
41
“Por último, ressalta-se que apesar de ser fato pacífico que houve inspiração para criação dos juizados
especiais na Common Law, esta inspiração, por si só, não é suficiente para a autorizar a conclusão de que
29
fora criado no sistema brasileiro uma jurisdição pura de Eqüidade, considerando que na Common Law a lei
cresce em importância como fonte do Direito. Logo, a tendência contemporânea é de maior equilíbrio entre o
papel das fontes em ambos os sistemas jurídicos analisados”. CARLIN, Marcelo. O julgamento por eqüi-
dade nos juizados especiais cíveis: Uma abordagem à luz da convergência entre os Sistemas Jurídicos
da Civil Law e da Common Law e do movimento contemporâneo de acesso à Justiça. Dissertação (Mes-
trado). Universidade do Vale do Itajaí UNIVALI. Itajaí, 2004, p. 160. Disponível em:
http://www.tj.sc.gov.br/institucional/especial/coordjuzesp/doutrina_relacionada/equidadecarlin.pdf . Acesso
em 14 ago. 2007.
42
É verdade que entrais numa profissão em que vos exige sempre que tenhais caráter, mas entendem por isto
apenas que sejais inclementes com os miseráveis. Covardes diante dos superiores, intransigentes com os
subalternos este é, em geral, o comportamento dos homens. Tratai de evitar isso. A justiça é aplicada impu-
nemente. Não abuseis da impunidade. Em vossas funções, não deveis dar exagerada importância à Lei, e de
um modo geral desprezai os costumes, as circulares, os decretos e a jurisprudência. Deveis ser mais do que o
Tribunal de Justiça, sempre que se apresentar uma ocasião. A Justiça não é uma verdade estagnada em 1810.
É uma criação perpétua. Ela deve ser feita por vós. Não espereis o sinal verde de um ministro, ou do legisla-
dor, ou das reformas sempre em expectativa. Fazei vós mesmos a reforma. Consultai o bom senso, a equida-
de, o amor do próximo, antes da autoridade e da tradição. A lei se interpreta. Ela dirá o que quiserdes que ela
diga. Sem mudar um til, pode-se com os mais sólidos considerandos do mundo, dar razão a uma parte ou a
outra, absolver ou condenar à pena máxima. Desse modo que a lei não vos sirva de álibi. (grifo do autor).
BAUDOT, Owald. Arenga aos Magistrados que Estréiam. Inserto em artigo publicado pelo jornalista
Mello Mourão no jornal "Folha de São Paulo" de 7/3/1979. Disponível em
http://www.soleis.com.br/discurso.html. Acesso em 15 ago. 2007.
30
43
BRASIL. Exposição de Motivos do Código de Processo Civil (Lei 5.869, de 11.1.1973). Ministro da Justi-
ça Alfredo Buzaid. Código de processo civil/organização dos textos, notas remissivas e índices por Juarez de
Oliveira. 25ªed.. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 60.
44
“É por essa razão que, a meu sentir – e assumo aqui o risco de sustentar uma posição doutrinariamente
isolada – não se pode, em sede de recursos nos Juizados Especiais Cíveis, reexaminar provas. O recurso
contra sentença nos Juizados Especiais Cíveis – e ao ponto voltaria mais adiante, quando do trato do sistema
recursal – só pode ser voltado às questões de direito (cf. infra, nº 19.1.1). Permitir que a turma recursal, que
não trava contato imediato com as fontes da prova ora, recebendo o termo escrito a que se reduziram os depo-
imentos, atribua valor a essa prova implica, a meu ver, violação à oralidade processual, sendo certo que nada
há no microssistema dos Juizados Especiais Cíveis que permita afirmar existir essa exceção à aplicação do
princípio”. CÂMARA, Alexandre Freitas. Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais – uma aborga-
gem crítica. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2004, p. 15-16.
No mesmo sentido: “Como é sabido, a oralidade enseja contato direto do juiz comas partes e com as provas,
e por essa razão propicia maior qualidade ao serviço jurisdicional. De modo que, por razão lógica, falar em
oralidade é supor apenas a sentença do juiz que teve este contato direito, e não o julgado proferido por
aqueles que não conheceram as partes e não tiveram qualquer contato direto com as provas. Em outras
31
palavras, a oralidade somente pode ser benéfica ao julgado do juiz singular, mas jamais para o julgado do
colegiado, que analisa a causa por meio dos termos escritos das provas produzidas. Além do mais, como
também é de lógica evidente, dois juízos sobre o mérito consome mais tempo da jurisdição que um só. Nesse
sentido, o duplo juízo sobre o mérito, previsto no juizado, atenta contra os princípios da oralidade e da cele-
ridade, os quais são instituídos expressamente como princípios informadores no art. 2º da Lei 9.099/95.”
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil V. 2 – Processo de
conhecimento. 6ªed. rev., atual. e ampl.. São Paulo: RT, 2006, p. 708.
45
Art. 27 - Não instituído o juízo arbitral, proceder-se-á imediatamente à audiência de instrução e julgamen-
to, desde que não resulte prejuízo para a defesa.
Parágrafo único - Não sendo possível a sua realização imediata, será a audiência designada para um dos
quinze dias subseqüentes, cientes, desde logo, as partes e testemunhas eventualmente presentes.
32
46
Nesse sentido, os seguintes precedentes das Turmas Recursais do RS: AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO
E INSTRUÇÃO REALIZADA EM UM ÚNICO ATO. PRÉVIA CIÊNCIA DOS REQUERIDOS A RES-
PEITO DA CONCENTRAÇÃO DOS ATOS. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. PRELIMINAR AFASTADA.
INDENIZAÇÃO DEFERIDA, A TÍTULO DE DANOS MORAIS, EM FAVOR DE CICLISTA QUE SO-
FREU LESÕES CORPORAIS EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. VALOR MÓDICO. RECURSO IMPRO-
VIDO. 1. Realizada a conciliação e a instrução em um único ato, para o que cientificados os demandados,
tendo em vista que o autor residia em Santa Fé, AR, não há lugar para se acolher alegação de cerceamento de
defesa, posto que a citação se realizou com prévia advertência, sem prejuízo aos suplicados, com mais de dez
dias de antecedência à audiência. 2. Responde civilmente por acidente de trânsito o proprietário de veículo
que tem sua porta aberta em local de largo fluxo de automóveis, atingindo ciclista que por ali transita regu-
larmente. 3. Indenização fixada em patamar razoável - R$1.200,00 - por conta de lesões corporais sofridas
pelo ciclista, não merecendo qualquer modificação. Sentença confirmada por seus próprios fundamentos.
(Recurso Cível Nº 71001197813, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Clovis Moacyr
Mattana Ramos, Julgado em 24/01/2007);
AÇÃO DE COBRANÇA. REALIZAÇÃO DE UMA ÚNICA AUDIÊNCIA, EM QUE OFERTADA CON-
TESTAÇÃO ORAL, COM PROTESTO POR PRODUÇÃO DE PROVAS. INDEFERIMENTO DO PEDI-
DO. CITAÇÃO QUE INFORMA CABALMENTE A PARTE RÉ DE QUE HAVERIA UMA ÚNICA AU-
DIÊNCIA, DE CONCILIAÇÃO, INSTRUÇÃO E JULGAMENTO. NULIDADE NÃO CONFIGURADA.
SENTENÇA CONFIRMADA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO DESPROVIDO.
Tendo a parte requerida sido expressamente advertida, com a citação, de que a audiência seria única, envol-
vendo tentativa de conciliação, instrução e julgamento, devendo a parte comparecer, trazendo documentos e
testemunhas, não se vislumbra nulidade processual em razão do juiz, após receber a contestação oral, ter
encerrado a instrução e julgado o feito, por não terem as partes produzido outras provas naquele momento
processual. Tanto era protelatório o pedido de juntada de documentos que a parte sucumbente, ao recorrer,
não providenciou na sua juntada. Em se tratando de ação de cobrança de cheque prescrito, mas antes de de-
corridos dois anos da prescrição, é parte legítima passiva o emitente do cheque, ainda que não tenha havido
relação negocial direta entre as partes. (Recurso Cível Nº 71000850024, Terceira Turma Recursal Cível,
Turmas Recursais, Relator: Eugênio Facchini Neto, Julgado em 06/06/2006). Disponível em:
http://www.tj.rs.gov.br/site_php/jprud2/index.php. Acesso em 15 ago. 2007.
33
47
CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e Prática dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. 7ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 217-218.
48
Art. 4o O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir medidas cautelares no curso do pro-
cesso, para evitar dano de difícil reparação.
Art. 5o Exceto nos casos do art. 4º, somente será admitido recurso de sentença definitiva.
49
Há, todavia, um registro que me parece necessário (embora este também seja um ponto que vá merecer
tratamento mais acurado posteriormente): como venho sustentando, as Leis nºs 9.099/95 e 10.259/01 formam
um só estatuto, o Estatuto dos Juizados Especiais Cíveis. E na lei que rege os Juizados Especiais Cíveis fede-
rais existe a previsão de uma hipótese de cabimento de recurso contra decisão interlocutória: é recorrível a
decisão que defere ( ou indefere) medida liminar. A disposição, contida nos arts. 4º e 5º da Lei nº 10.259/01,
é extremamente salutar, principalmente por impedir a utilização, in casu, do mandado de segurança como
sucedâneo de recurso. A meu juízo, por ser um só o estatuto dos Juizados Especiais cíveis, essa disposição da
34
lei dos juizados federais deve ser tida como aplicável também nos juizados estaduais, admitindo-se agravo de
instrumento contra decisão que defere ou indefere medida de urgência” CÂMARA, Alexandre Freitas. Jui-
zados Especiais Cíveis Estaduais e Federais – uma abordagem crítica. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Juris, 2004, p. 19.
50
FUX, Luiz. Manual dos Juizados Especiais. Rio de Janeiro: Destaque, 1998, p. 28.
35
51
GRINOVER, Ada Pellegrini. Novas tendências do direito processual. Rio de Janeiro: Forense Universi-
tária, 1990, p. 179.
36
Afora isso, a própria Lei determina que o pedido seja deduzido de forma simples e
em linguagem acessível (art. 14, § 1º). Ainda em prestígio à liberdade de formas: - os atos
processuais são considerados válidos sempre que alcançarem seus objetivos, só se
pronunciando alguma nulidade em face de efetivo prejuízo (art. 13, § 1º); - a citação da
pessoa jurídica de direito privado pode ser feita por intermédio da entrega da carta de
citação ao encarregado da recepção (art. 18, inciso II); - havendo pedido contraposto, pode-
se dispensar a contestação, utilizando-se os próprios argumentos da inicial como resposta
(art. 17, § único); - a prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada
por qualquer meio idôneo de comunicação, independentemente de carta precatória (art. 13,
§ 2º); - as intimações podem ser feitas por qualquer meio idôneo, inclusive por telefone
(art. 19); - as testemunhas devem comparecer independentemente de intimação (art. 34); -
a sentença há de ser redigida de forma simples e concisa (art. 38); - o julgamento em
segunda instância constará apenas da ata, com a indicação suficiente do processo,
fundamentação sucinta e parte dispositiva e se a sentença for confirmada pelos próprios
fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão (art. 46); - o início da fase de
cumprimento da sentença dá-se mediante simples solicitação do interessado, que poderá
ser verbal (art. 52, inciso IV); - a alienação de bens penhorados pode ser confiada a pessoa
idônea (art. 52, inciso VII); - e é dispensada a publicação de editais na alienação de bens de
pequeno valor, hoje assim considerados os que não excedam o valor de (60) sessenta
salários mínimos, tendo em vista o disposto no art. 686, § 3º, do CPC (com a redação da
Lei 11.382/2006) combinado com o art. 52, VIII, da Lei 9.099/1995.
37
Como incide o pagamento das custas de preparo em fase recursal e, tendo em conta
que o valor de tais despesas é significativo, pois o preparo compreende, na forma do
disposto no art. 54, § único, da Lei 9.099/1995, todas as despesas processuais, inclusive
aquelas dispensadas em primeiro grau de jurisdição, ressalvada a hipótese de assistência
judiciária, pode constituir-se em obstáculo ilegítimo à interposição do recurso, dependendo
do valor da condenação, o montante das custas de preparo, pode inclusive suplantar a
sucumbência na sentença.
52
No Rio de Janeiro, prevalece o entendimento consolidado no seguinte Enunciado: 12.4 – PROVIMENTO
DO RECURSO – Provido o recurso da parte vencida, o recorrido não responde pelos ônus sucumbenciais.
Publicado no DORJ 01.08.2001. Consolidação dos Enunciados Jurídicos Cíveis e Administrativos. Rio de
Janeiro, Tribunal de Justiça. Em Minas Gerais, embora não haja entendimento pacificado, encontram-se
decisões no seguinte sentido: “Não se condena o recorrido vencido nos ônus da sucumbência, visto que a Lei
n. 9.099/95 prevê tal condenação apenas em relação a recorrente vencido”. Recurso 587, Turma Recursal de
Belo Horizonte – Comissão Supervisor dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, rel. Vanessa Verdoin, j.
em 17.10.1997, Boletim Informativo n. 13, Belo Horizonte, 1998, apud (CHIMENTI, 2004, p. 306). No Rio
Grande do Sul, consoante se vê pelas seguintes decisões, o entendimento é o mesmo do Rio de Janeiro: EM-
BARGOS DE DECLARAÇÃO. NA EXEGESE DO ART. 55 DA LEI Nº 9.099/95, CONFERIDA PELAS
38
53
Nesse sentido, afirma Joel Figueira Júnior (2006, p. 359): “Em outras palavras, o „recorrido vencido‟, por
óbvio deve também ser condenado ao pagamento de despesas processuais e honorários advocatícios”. No
mesmo sentido, Luiz Fux (1998, p. 16) assevera: “Portanto, recorrente vencido é a parte que, no recurso,
restou vencida, e que tanto pode ser o recorrente mesmo – e aí nenhuma dificuldade se apresenta – ou o re-
corrido vencido, uma vez que nada pagou para atuar no primeiro grau onde obteve uma vitória em primeiro
estágio de aferição do direito em litígio”. E, de forma mais detida, acrescenta Heleno Nunes: “As normas
previstas na Lei nº 9.099/95, que visam desestimular a utilização dos recursos sob pena de violarem os prin-
cípios constitucionais da ampla defesa, de forma genérica, e do duplo grau de jurisdição, de maneira específi-
ca, somente podem ter em mira aqueles inconformismos infundados e protelatórios. Todo processo interpre-
tativo visa a um resultado razoável, conducente à melhor conseqüência para a coletividade, e a falta de impo-
sição ao recorrido vencido dos ônus da sucumbência acarreta, em algumas hipóteses, o seu enriquecimento
sem causa, em detrimento do recorrente vencedor, o que é rejeitado pelo direito pátrio. A lei especial que
regulamenta os juizados especiais cíveis e criminais é omissa no tocante à hipótese em que o recorrente ob-
tém êxito total ou parcial do seu recurso, pelo que, utilizando-se as regras de integração da norma jurídica,
aplicam-se, subsidiária e analogicamente, as disposições e princípios do Código de Processo Civil acerca da
matéria, que é a lei geral do processo” NUNES, Heleno Ribeiro Pereira et al. Dos ônus da sucumbência nos
39
juizados especiais cíveis. Revista Cidadania e Justiça, Associação dos Magistrados Brasileiros, Ano 03, n. 7-
2º semestre, 1999, p. 158-163.
54
“Um exame dessas barreiras ao acesso, como se vê, revelou um padrão: os obstáculos criados por nossos
sistemas jurídicos são mais pronunciados para as pequenas causas e para os autores individuais, especialmen-
te os pobres; aos mesmo tempo, as vantagens pertencem de modo especial aos litigantes organizacionais,
adeptos do uso do sistema judicial para obterem seus próprios interesses. Refletindo sobre essa situação, é de
40
procedimento célere, efetivo que dê atendimento ao disposto no art. 5º, inciso LXXVIII, o
qual assegura que: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.
Não resta a menor dúvida, entretanto, que há de se respeitar o chamado “tempo do
processo”, em razão do que será preciso tempo para que o demandado seja citado e, uma
vez citado, elabore sua defesa. O fato de ter de manifestar-se sobre documentos na própria
audiência, em conformidade com o disposto no art. 33, da Lei nº 9.099/199555, não importa
em qualquer cerceamento de defesa, na medida em que se trata – não há como olvidar – de
questões de menor complexidade. Havendo complexidade probatória, haverá o feito de ser
extinto, com fulcro no art. 51, inciso II, combinado com o art. 3º, “caput”, ambos da Lei
dos Juizados Especiais Cíveis. Não é incomum que isto ocorra, de modo a possibilitar que
a celeridade imprimida ao feito não venha a comprometer a justiça da solução da causa56.
se esperar que os indivíduos tenham maiores problemas para afirmar seus direitos quando a reivindicação
deles envolva ações judiciais por danos relativamente pequenos, contra grandes organizações. Os novos di-
reitos substantivos, que são característicos do moderno Estado de bem estar-social, no entanto, têm precisa-
mente esses contornos: por um lado, envolvem esforços para apoiar os cidadãos contra os governos, os con-
sumidores contra os comerciantes, o povo contra os poluidores, os locatários contra os locadores, os operá-
rios contra os patrões (e os sindicatos); por outro lado, o interesse econômico de qualquer indivíduo – como
autor ou réu – será provavelmente pequeno” CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça.
Trad. Ellen Gracie Northfleet, Porto Alegre: Fabris, 1988, p. 28-29.
55
Art. 33 - Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, ainda que não requeri-
das previamente, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelató-
rias.
56
AÇÃO REIVINDICATÓRIA CUMULADA COM PEDIDO COMINATÓRIO. EXTINÇÃO PELA
COMPLEXIDADE PROBATÓRIA. Cuidando-se de ação onde a parte autora reivindica a restituição de
construção ¿ embora de pequeno valor ¿ que importaria, se procedente, em desalojar a parte demandada do
imóvel onde reside, bem como estando cumulado o pedido com cominação de pena em face de violação de
direito de vizinhança, com necessidade de prova pericial para medição de perturbação sonora dita produzida
pela ré, correta a decisão que entendeu pela extinção do feito em face da complexidade da prova. Sentença
de primeiro grau mantida por seus próprios fundamentos. Recurso improvido. (Recurso Cível Nº
71000511329, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Clovis Moacyr Mattana Ramos,
Julgado em 13/05/2004)
41
CONTRATO DE SEGURO. RISCO COBERTO COMO SENDO MORTE ACIDENTAL. APÓLICE ES-
TABELECENDO VALOR DE ATÉ R$ 100.000,00 PARA INDENIZAÇÃO AÇÃO JULGADA IMPRO-
CEDENTE EM FACE DE NÃO DEMONSTRADO PELA PARTE AUTORA O NEXO ENTRE A MORTE
E O INVOCADO ACIDENTE, DECORRENTE DE ROUBO DO QUAL FOI VÍTIMA O ESPOSO DA
DEMANDANTE. EXTINÇÃO DO FEITO DETERMINADA EM FACE DA COMPLEXIDADE PROBA-
TÓRIA. (Recurso Cível Nº 71000556928, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Clovis
Moacyr Mattana Ramos, Julgado em 29/09/2004)
SEGURO DE VEÍCULOS. INDÍCIOS DE FRAUDE E MONTAGEM DE SINISTRO. COMPLEXIDADE
PROBATÓRIA. EXTINÇÃO QUE SE DECRETA DE OFÍCIO. (Recurso Cível Nº 71000515130, Segunda
Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Mylene Maria Michel, Julgado em 09/06/2004) Disponí-
vel em: http://www.tj.rs.gov.br . Acesso em 20 de ago. 2007.
57
Art. 34 - As testemunhas, até o máximo de três para cada parte, comparecerão à audiência de instrução e
julgamento levadas pela parte que as tenha arrolado, independentemente de intimação, ou mediante esta, se
assim for requerido.
42
embargos de declaração, apenas os cinco dias faltantes do decêndio legal para interpor o
recurso inominado.
A partir da análise dos princípios informadores do processo do Juizado Especial
Cível, até agora já procedida, é possível verificar que a idéia de criação de uma via
judicial, que possibilite maior efetividade de acesso à justiça apresentou fundadas razões,
havendo sem qualquer margem de dúvida o “fator discriminante”, que justificava a criação
de meio de prestação jurisdicional mais rápida, simples, informal, gratuito, público e
democrático e que concretizasse o direito a uma “ordem jurídica justa”58.
A questão relativa à observância do devido processo legal no processo do Juizado
Especial Cível, ou seja, a ocorrência de eventual contradição entre o princípio da segurança
jurídica e os princípios informativos do processo dos Juizados Especiais será apreciada
com maiores detalhes no capítulo seguinte.
58
Como bem pondera Luiz Guilherme Marinoni: “As leis que tratam dos Juizados Especiais (Lei 9.099/95 –
Juizados Especiais Estaduais e Lei 10.259/2001 – Juizados Especiais Federais) devem ser vistas como repos-
tas do legislador ao seu dever de instituir órgãos judiciários e procedimentos capazes de permitir o efetivo
acesso ao Poder Judiciário.
O procedimento dos Juizados Estaduais, segundo o próprio art. 2º da Lei 9.099/1995, é caracterizado pela
„oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade‟. O objetivo é garantir o acesso
com o mínimo de custo econômico possível, assim como propiciar, na medida do possível, celeridade, uma
vez que o pobre tem menor resistência do que o rico para esperar pela justiça. Além disso, busca-se simplifi-
car e tornar menos formal o procedimento, obviamente que sem prejuízo das garantias processuais, preten-
dendo-se, com isso, facilitar a participação no processo. Curso de processo civil, volume 1: teoria geral do
processo. São Paulo: RT, 2006, p. 463.
3 – ANÁLISE CRÍTICA DOS QUESTIONAMENTOS DIRIGIDOS
AOS DISPOSITIVOS DA LEI Nº 9.099/95, SOB O PONTO DE
VISTA DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
Para a análise das regras procedimentais da Lei 9.099/1995, sob o ponto de vista
dos princípios constitucionais, cumpre previamente estabelecer posição filosófica,
vinculada, ou a teoria procedimentalista ou a substancialista. É bem verdade que tais
concepções não esgotam as correntes filosóficas de pensamento, aludindo Marinoni59
também à teoria textualista, mas fundamentalmente, na Doutrina Brasileira, os
processualistas se dividem entre as duas primeiras correntes filosóficas.
E, a partir daí, é importante destacar que, para a concepção procedimentalista, o
julgador, ao desempenhar a atividade jurisdicional, indaga precipuamente se houve
respeito aos princípios procedimentais e de competência estabelecidos na Constituição. Por
outro lado, para a concepção substancialista, as normas substantivas, direitos e garantias
fundamentais, orientam a decisão jurisdicional, ainda que contra a vontade da maioria
representada no Poder Legislativo, ou seja, ainda que reconhecendo inconstitucionalidade
de normas sustentadas pela maioria.
Realçando a distinção, afirma (MARINONI):
59
Idem, p. 400.
44
amplas da Constituição de acordo com uma concepção atraente dos valores morais
que lhes servem de base.”60
60
Ibidem, p. 439.
61
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil, volume 1: teoria geral do processo. São Paulo:
RT, 2006, p. 401.
45
62
Art. 3º - O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas
cíveis de menor complexidade, assim consideradas:
63
CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e Prática dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. 7ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 30.
64
O projeto de lei do senado nº 275, de 2003, de autoria do Senador Mozarildo Cavalcanti propõe a eleva-
ção do valor da alçada de competência para (60) sessenta salários mínimos, em equivalência inclusive com o
limite de alçada de competência do Juizado Especial Cível Federal (art. 3º, “caput”), encontrando o referido
projeto de lei a tramitar na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado.
46
65
“Verifica-se, assim, que se busca firmar um conceito unitário de pequenas causas: estas seriam as cujo
valor não ultrapassasse sessenta salários-mínimos. Dissonante desse conceito, por ora, apenas a Lei nº
9.099/95, que mantém em quarenta salários-mínimos o limite de sua competência nos casos em que ela é
fixada ratione valoris. Parece-me, pois, que é – de lege ferenda – recomendável que se modifique o art. 3º, I,
da lei, para que os Juizados Especiais Cíveis possam conhecer de causas cujo valor chegue até sessenta salá-
rios-mínimos”. CÂMARA, Alexandre Freitas. Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais – uma a-
bordagem crítica. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2004, passim.
66
Art. 275. Observar-se-á o procedimento sumário:
I - nas causas cujo valor não exceda a 60 (sessenta) vezes o valor do salário mínimo;
II - nas causas, qualquer que seja o valor
a) de arrendamento rural e de parceria agrícola;
47
A Súmula 11 das Turmas Recursais do Rio Grande do Sul preleciona que: mesmo
as causas cíveis enumeradas no Art. 275, II, do CPC, quando de valor superior a
quarenta salários mínimos, não podem, ser propostas perante o Juizado Especial.
Tal se justifica, em razão da interpretação sistemática dos arts. 3º, §3º, 15 e 3967, da
Lei 9.099/1995 que, respectivamente, impõem limitação ao autor, atribuindo-lhe o ônus de
renunciar ao valor excedente ao limite de alçada, estipulando a limitação do valor inclusive
aos pedidos cumulados e tornando a sentença condenatória, na parte que extrapolar aos
quarenta salários mínimos, ineficaz.
Entretanto, em sentido contrário o Enunciado nº 58 do Forum Nacional de Juizados
Especiais (FONAJE) assim estabelece: as causas cíveis enumeradas no art. 275 II, do
CPC admitem condenação superior a 40 salários mínimos e sua respectiva execução,
no próprio Juizado. É contrário, também, o Enunciado 2 do I Encontro de Juízes
Especiais Cíveis da Capital e da Grande São Paulo, quando teoriza: as causas que têm por
fundamento as hipóteses do art. 275, II, do CPC não estão sujeitas ao limite de 40
salários mínimos.
67
Art. 3º - O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas
cíveis de menor complexidade, assim consideradas:
[...]
§ 3º - A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito excedente ao limite
estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação.
[...]
Art. 15 - Os pedidos mencionados no art. 3º desta Lei poderão ser alternativos ou cumulados; nesta última
hipótese, desde que conexos e a soma não ultrapasse o limite fixado naquele dispositivo.
[...]
Art. 39 - É ineficaz a sentença condenatória na parte que exceder a alçada estabelecida nesta Lei.
48
O surgimento dos Juizados Especiais Cíveis foi marcado por experiência feita no
Estado do Rio Grande do Sul, por iniciativa da AJURIS, nas Comarcas de Rio Grande e de
Porto Alegre, ainda no ano de 1982, com a criação dos primeiros CONSELHOS DE
CONCILIAÇÃO E ARBITRAMENTO68.
Na falta de previsão legal própria, buscava-se a obtenção de uma transação, ou seja,
de um acordo que pudesse ser homologado pelo Juiz, a fim de servir como título executivo
judicial ou então um arbitramento que também dependia de homologação judicial.
José Geraldo Piquet Carneiro, Consultor Jurídico do Ministro da
Desburocratização, Hélio Beltrão, apoiou o projeto de lei encaminhado pela AJURIS. A
experiência tinha como inspiração a “Small Claims Courts” de Nova Iorque. E dessa
iniciativa resultou a criação dos Juizados de Pequenas Causas pela Lei nº 7.244, de 07 de
novembro de 1984. Facultou-se aos Estados a criação de Juizados com a atribuição de
processar e julgar as causas cujo valor não ultrapassasse vinte (20) salários mínimos e que
objetivassem, principalmente, a condenação ao pagamento em dinheiro.
As características desses Juizados eram:
a) a facultatividade da sua criação;
b) a opcionalidade para as partes interessadas no ajuizamento da
demanda;
c) a definição de sua competência pelo valor da causa.
68
Revista da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul – AJURIS, nº 26, nov. de 1982, p. 07.
49
Depois disso, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 98, I, impôs a obrigação
de instituírem-se os Juizados Especiais de causas cíveis e criminais:
“Art. 98 – A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados
criarão:
Assim foi que, em 06/12/1991, foi promulgada a Lei Estadual 9.446 que dispôs
sobre os Juizados Especiais e de Pequenas Causas Cíveis do Rio Grande do Sul.
Com o advento da Lei Federal nº 9.099, de 26/09/1995, os Juizados Especiais de
Pequenas Causas existentes passaram a observar a legislação federal que, praticamente,
reproduziu a Lei Estadual nº 9.446/1991.
As características dos Juizados Especiais são, diferentemente do que ocorria com os
Juizados de Pequenas Causas da Lei nº 7.224/84:
a) a obrigatoriedade da sua criação;
b) a exclusividade de sua competência, por tratar-se de
competência em razão da matéria;
c) a definição da competência pelo valor da causa e da natureza da
ação;
d) a possibilidade de atuação de juízes leigos, juntamente com os
togados.
Ocorre que, como os Juizados Especiais Cíveis não se encontravam instalados em
todas as Comarcas do Estado, passou a jurisprudência a atenuar a idéia da exclusividade de
competência do Juizado Especial Cível. O entendimento de que não haveria a
exclusividade de competência dos Juizados Especiais Cíveis nas causas para as quais os
50
Juízes Naturais, de acordo com a Constituição Federal, eram os dos Juizados Especiais,
decorreu de questão pragmática – a falta de estruturação dos mesmos.
O Ministro Ruy Rosado da Aguiar Júnior sustenta que a obrigatoriedade da
competência dos Juizados Especiais Cíveis, para o autor, no Estado do Rio Grande do Sul,
já decorria do disposto na Lei Estadual 9.446/1991 (concebida na época que era o
Corregedor-Geral da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul) e, de forma nacional, na Lei
Federal 9.099/1995.
Porém, a partir dessa flexibilização jurisprudencial a respeito da exclusividade da
competência dos Juizados Especiais Cíveis, para as causas de menor complexidade, foi que
nasceu o enunciado nº 1 do Fórum Nacional dos Juizados Especiais (FONAJE), que
dispõe: “o exercício do direito de ação no Juizado Especial Cível é facultativo para o
autor”. Depois disso, o art. 1º, § 1º, da Lei Estadual nº 10.675/199669 gaúcha, previu
também que o autor poderia optar pelo Juizado Especial ou pela Justiça Comum.
No entanto, O Projeto de Lei nº 315/03, do Rio Grande do Sul, visa,
fundamentalmente, a alteração da Lei nº 9.446, de 06/12/91, para o fim de reafirmar a
obrigatoriedade do Juizado Especial Cível ao autor, nos feitos relativos à competência
própria dos antigos Juizados de Pequenas Causa, ou seja, nas causas cujo valor de alçada
não exceda a quarenta vezes o salário mínimo.
Como bem pondera Luiz Guilherme Marinoni:
“De outra parte, também não seria correto dizer que a obrigatoriedade do
uso do juizado especial violaria a garantia da ação, já que submeteria a
parte a uma justiça de „qualidade inferior‟, onde não se preservam, em
sua máxima potencialidade, o contraditório, a ampla defesa, o devido
processo legal, a cláusula do julgamento com base na legalidade etc. É
preciso compreender que o procedimento dos Juizados Especiais é
pensado sob a ótica das tutelas diferenciadas, buscando-se adaptar o
rito (e a forma de proteção do direito como um todo) às
particularidades do direito material posto em exame. O direito
processual não pode tratar a todos os direitos indiferentemente, porque
69
Lei Estadual nº 5.675, de 02/01/1996: Art. 1º - Fica criado, no Estado do Rio Grande do Sul, o Sistema de
Juizados Especiais Cíveis e Criminais, órgãos da Justiça Estadual Ordinária, para conciliação, processo, jul-
gamento e execução das causas previstas na Lei Federal nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Parágrafo único - A opção pelos Juizados Especiais Cíveis é do autor da ação.
51
70
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil V. 2 – Processo de
conhecimento. 6ªed. rev., atual. e ampl.. São Paulo: RT, 2006, p. 698-699.
71
Apud VALÉRIO, J. N. Vargas. Da (des)necessidade do judicium rescissorium. Disponível na Internet
em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4853. Acesso em 22 de ago. de 2007.
53
esta Lei constitui medida de pacificação social com a definitização do julgamento dos
litígios”72.
Por outro lado, relativamente à uniformização de jurisprudência, no âmbito dos
Juizados Especiais Cíveis Estaduais, impende dela conhecer em item autônomo, abaixo
abordado, pela relevância e atualidade do tema.
Em suma, embora a solução do restabelecimento da obrigatoriedade da
competência dos Juizados Especiais Cíveis, na atual conjuntura, dependa de disposição
legal reafirmando-a, não resta a menor dúvida da conveniência de sua adoção, seja por
conferir jurisdição adequada à natureza dos interesses em litígio, seja pela eficiência e
eficácia dessa espécie de prestação jurisdicional.
Todavia, uma medida dessas só poderá ser tomada, mercê de uma melhor
estruturação dos Juizados Especiais, pois muitos, talvez a maioria, dos Juizados não
apresentam Juízes exclusivos, o que faz com que se dedique a essa jurisdição menor
atenção. Além disso, do ponto de vista material, embora os Juizados Especiais Cíveis
apresentem um décimo do custo dos juízos comuns, hoje já respondem por um terço das
demandas cíveis. Importante apreciação, nesse ponto, é feita pelo Desembargador Araken
de Assis, em que conclui que o custo unitário de cada juízo do Rio Grande do Sul à
sociedade equivaleria a R$ 2.000.000,0073, impondo-se assim um trabalho sensível no
sentido de investir naqueles serviços cuja eficiência e eficácia são maiores.
72
ANDRIGHI, Fátima Nancy e BENETI, Sidnei. Juizados Especiais Cíveis e Criminais. Belo Horizonte:
Del Rey, 1996, p. 71.
73
“Por exemplo, a justiça do Rio Grande não pode ser maior que a economia do Rio Grande. E é possível
precisar seu custo à sociedade. Basta dividir o orçamento anual do Poder Judiciário gaúcho – previsto em R$
1.400.000.000,00 para o ano de 2006 – pelo número de juízos. A menção a „juízo‟ decorre da necessidade de
compreender no cálculo a infra-estrutura humana e material que cerca cada um dos magistrados. Feita a ope-
ração, não sem o risco de alguma simplificação do problema – o litígio, em si, e a demora em resolvê-lo
também provocam custos sociais digno de registro –, constatar-se-á que cada juízo custa à sociedade rio-
grandense a expressiva soma de R$ 2.000.000,00”. Duração razoável do processo e reformas da lei processu-
al civil. In: FUX, e (coord.). Processo e Constituição – estudos em homenagem ao Professor José Carlos
Barbosa Moreira. São Paulo: RT, 2006, p. 201.
54
74
BRASIL. Ministério da Justiça. Reforma do Judiciário Relatório da pesquisa Avaliação dos juizados es-
peciais cíveis, desenvolvida pelo Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Judiciais (CEBEPEJ). Disponível
na Internet em:
http://www.mj.gov.br/reforma/pdf/publicacoes/Diagnóstico%20dos%20Juizados%20Especiais.pdf. Acesso
em 28 de ago. de 2007.
55
Segundo dispõe o art. 9º, da Lei 9.099/1995: “Nas causas de valor até vinte salários
mínimos, as partes comparecerão pessoalmente, podendo ser assistidas por advogado; nas
de valor superior, a assistência é obrigatória”.
Instituiu-se assim a condição de a parte demandar sem a assistência de advogado. A
capacidade postulatória, ou seja, a possibilidade de postular em juízo, é atribuída à própria
parte no Juizado Especial Cível, nas causas cujo valor não exceda vinte salários mínimos.
Tendo em vista o princípio da isonomia, também é dada ao réu a possibilidade de
contestar o pedido independentemente da assistência de um advogado. O tema ensejou
grande discussão, tendo em vista a consagração na Constituição Federal do princípio de
que o advogado é indispensável à Administração da Justiça.
Todavia, esse princípio comporta exceções, tanto assim que o próprio art. 36, do
Código de Processo Civil, contempla hipótese em que a parte pode postular em juízo sem
representação de advogado “no caso de falta de advogado no lugar ou recusa ou
impedimento dos que houver”, como aliás não poderia deixar de ser, tendo em conta que
do contrário resultaria inviabilizado o acesso a justiça, princípio cuja observância há de
prevalecer.
Trata-se de regra, pois, que não viola, nem o Estatuto da Advocacia (Lei
8.906/1994), nem o disposto no art. 133, da Constituição Federal 75, a qual consagra o
advogado como essencial à Administração da Justiça.
O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Ação Direita de
Inconstitucionalidade 1.127-8, entendeu que a parte final do inciso I do art. 1º da Lei
8.906/1994 Estatuto da Advocacia76 não estabelece restrição à capacidade postulatória da
própria parte, julgando prejudicado o pedido de supressão da expressão “juizados
especiais” no julgamento ocorrido em 17/05/200677. Também, segundo noticia o Supremo
Tribunal Federal:
75
Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifes-
tações no exercício da profissão, nos limites da lei.
76
Art. 1º São atividades privativas da advocacia:
I – a postulação a (“qualquer” – declarado inconstitucional) órgão do Poder Judiciário e aos juizados especi-
ais;
77
Publicado no Diário da Justiça n. 100 - 26/05/2006 - ata n. 13 - relação de processos.
56
78
Informativo – Supremo Tribunal Federal. Disponível na Internet em:
http://noticias.stf.gov.br/noticias/informativos/anteriores/info430.asp. Acesso em 23 de ago. de 2007.
79
“Em primeiro lugar, a competência dos juizados cíveis deve ser admitida como sendo exclusiva, como
decorre do projeto de lei enviado pelo Tribunal de Justiça à Assembléia Legislativa. Em segundo, convém
elevar o valor de alçada para 60 salários mínimos. Esses dois enunciados já estão postos em prática na Justiça
Federal, cujos juizados especiais têm competência absoluta para julgamento das causas contra a União e suas
entidades, no valor de até 60 salários mínimos. Em terceiro, impende que as audiências simultâneas, realiza-
das com a presença de conciliadores e juízes leigos, sejam efetivamente presididas pelo juiz togado, que a
tudo deverá supervisionar, resolvendo os incidentes e desde logo proferindo a sentença. Em quarto, sejam os
juizados vistos como importante e decisivo fator para a boa prestação jurisdicional, com capacidade para
absorver grande número de causas massivas e lhes dar pronta resposta. Os juizados funcionam muito bem
57
com 10% do custo da justiça ordinária; por isso, a sua estruturação será sempre uma providência mais reali-
zável do que qualquer outra. Para isso, seria feliz a iniciativa de restabelecer seu antigo Conselho de Supervi-
são. Em quinto, é preciso admitir que os juizados constituem eficaz instrumento para a solução dos interesses
das partes, auxiliam o Judiciário e em nada prejudicam os advogados, antes os beneficiam com a presteza da
resposta nas causas de sua competência, desafogo da Justiça comum e ampliação do mercado de trabalho”
(grifo do autor). AGUIAR JÚNIOR, Ruy Rosado de. Os juizados especiais cíveis. Síntese jornal, v. 8, n. 89,
p. 1-2, jul. 2004. Disponível na Internet em:
http://bdjur.stj.gov.br/dspace/bitstream/2011/589/1/Os_Juizados_Especiais_C%C3%ADveis.pdf. Acesso em
28 de ago. de 2007.
58
litígio”, tal não induz a conclusão de que deverá o conciliador formação jurídico completa.
Tratando-se de demandas de menor complexidade, natural e até recomendável possa ser tal
atividade desempenhada por estudantes de Direito, não havendo qualquer impedimento
legal, já que a Lei dos Juizados estabelece apenas preferência aos bacharéis para o
exercício do cargo de conciliador.
Os conciliadores, apesar de não terem sido considerados, no art. 7º, § único, da Lei
nº 9.099/95 como impedidos a exercer a advocacia, segundo entendimento doutrinário e
jurisprudencial prevalentes apresentam também tal restrição. Inclusive, gerou grande
irresignação, decisão proferida pelo Conselho Federal da OAB, no Processo OE 031/95,
Ementa 07/99/COP, julgado de 17.5.1999, reputando a função de conciliador como
incompatível ao exercício da advocacia. Tal decisão, contudo, não prevaleceu
judicialmente. Conforme as observações críticas de Joel Dias Figueira Júnior:
80
TOURINHO NETO, Fernando da Costa e FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados Especiais Estaduais
Cíveis e Criminais. 5ª ed., revista, atual. e ampliada. São Paulo: RT, 2007, p. 167.
59
81
BACELLAR, Roberto Portugal. Juizados Especiais – A nova mediação para processual. São Paulo: RT,
2004, p. 175.
82
BRASIL. Turmas Recursais do Juizado Especial Cível do Rio Grande do Sul. Excerto. Recurso Inominado
nº 71000831420. Luiz Reinaldo Franca Pinto, recorrente; Paulo Cesar Alves Marcondes, recorrido. Relator
Dr. Eugênio Facchini Neto. J. 28.06.2006. Capturado em 03 de ago. de 2006. Disponível na Internet em:
http://www.tj.rs.gov.br/site_php/consulta/download/exibe_documento.php?ano=2006&codigo=697092.
Acesso em 20 de ago. de 2007.
60
83
FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias e TOURINHO NETO, Fernando da Costa . Juizados Especiais Estaduais
Cíveis e Criminais, 5ª ed., revista, atual. e ampliada. São Paulo: RT, 2007, p. 164.
84
Como bem observa ALEXANDRE FREITAS CÂMARA: “Além de decidir os casos que lhes sejam sub-
metidos, os juízes leigos ajudariam, certamente (e ajudam onde já atuam), a desafogar os juízes togados,
cercados por todos os lados por processos que, na maioria das vezes, dirigem-se a um desfecho a que se che-
garia independentemente da presença do magistrado profissional”. CÂMARA, Alexandre Freitas. Juizados
Especiais Cíveis Estaduais e Federais – uma abordagem crítica. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris,
2004, p. 57.
61
85
“E isso porque o elemento material, com que trabalha o processo, é o direito litigioso, isto é, o direito ma-
terial afirmado como existente ou inexistente, do qual se pretende um pronunciamento judicial de conformi-
dade com o pedido e a causa de pedir. Encaminha bem o problema, portanto, a consciência de que uma clara
distinção entre processo e direito substancial corresponde a uma tendência formalística, enquanto o estabele-
cimento de uma ligação entre os dois campos aponta a um concepção antiformalística”. OLIVEIRA, Carlos
Alberto Alvaro. Do formalismo no processo civil. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 202-203.
62
Diferentemente do que ocorre no processo dos juízos comuns, prevê o art. 12, da
Lei 9.099/1995 que: “os atos processuais serão públicos e poderão realizar-se em horário
noturno, conforme dispuserem as normas de organização judiciária”. Tal disposição
possibilita que as audiências sejam realizadas no período noturno, depois do horário
estabelecido no Código de Processo Civil86, para a prática dos atos processuais nos
procedimentos naquela Lei regulados.
Tal tipo de disposição permite, inclusive, que se instale postos dos Juizados, com
funcionamento permanente, em aeroportos como se veicula na imprensa87 para aplacar os
transtornos causados pela crise do Setor Aéreo.
Ainda, no que diz respeito ao tempo dos atos processuais praticados, há importante
questão a enfocar e que é alvo de alegação de inconstitucionalidade e diz respeito à
concentração da produção da prova na audiência de instrução e julgamento.
86
Art. 172. Os atos processuais realizar-se-ão em dias úteis, das 6 (seis) às 20 (vinte) horas. (Redação dada
pela Lei nº 8.952, de 1994)
87
“Um modelo para a criação e gestão dos juizados especiais emergenciais nos aeroportos brasileiros deve
estar pronto dentro de uma semana. [...]
Em um primeiro momento, serão criados juizados especiais nos aeroportos mais problemáticos, em Brasília,
São Paulo e Rio de Janeiro. O objetivo é resolver, com base na conciliação, conflitos entre passageiros e
companhias aéreas.
Segundo a ministra, os juizados poderão „amainar a situação de intranqüilidade nos aeroportos‟. Ellen Gracie
adiantou que „a idéia é que sejam resolvidas questões simples, singelas. Questões mais complexas serão tra-
tadas nos fóruns competentes‟.
Os juizados funcionarão em caráter provisório até que a crise aeroportuária se resolva, atuando em situações
já previstas em lei, como indenizações em caso de cancelamento ou atrasos nos vôos, overbooking e outros.
O ministro Gilson Dipp disse que „o Judiciário se soma ao Executivo e ao Legislativo para dispor de uma
prestação jurisdicional no sentido da conciliação, do desarmamento de espíritos, para que a paz volte a reinar
nos aeroportos mesmo que a crise não seja solucionada. As reclamações vão continuar, mas o tumulto e o
desassossego poderão ser mitigados‟. [...]”. Disponível na Internet em:
http://www.cnj.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=3201&Itemid=167. Acesso em 08 de
ago. 2007.
63
Com efeito, segundo o disposto no art. 33, da Lei 9.099/1995: “todas as provas
serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, ainda que não requeridas
previamente, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes
ou protelatórias”.
Tal significa que, tanto o requerimento por parte do autor para realização da prova
(postulação), como o deferimento da realização da prova (decisão), e, assim, também a
produção efetiva (produção) da prova deferida, serão realizados na mesma audiência.
Controverte-se a respeito de eventual cerceamento de defesa, pelo fato de o réu ser
surpreendido pelos documentos apresentados pelo autor e também por tomar conhecimento
da identidade das testemunhas por aquele apresentadas apenas na audiência, na medida em
que, segundo o disposto no art. 34, da Lei dos Juizados Especiais Cíveis88, a apresentação
de rol de testemunhas só será necessária se houver de ser a testemunha intimada por
Oficial de Justiça, hipótese em que se deverá respeitar a antecedência de cinco dias. Como
bem pondera Theotonio Negrão:
88
Art. 34 - As testemunhas, até o máximo de três para cada parte, comparecerão à audiência de instrução e
julgamento levadas pela parte que as tenha arrolado, independentemente de intimação, ou mediante esta, se
assim for requerido.
§ 1º - O requerimento para intimação das testemunhas será apresentado à Secretaria no mínimo cinco dias
antes da audiência de instrução e julgamento.
§ 2º - Não comparecendo a testemunha intimada, o Juiz poderá determinar sua imediata condução, valendo-
se, se necessário, do concurso da força pública.
89
NEGRÃO, Theotonio e GOUVÊA, José Roberto Ferreira. Código de processo civil e legislação proces-
sual em vigor. 37. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 1.635.
64
Ocorre, além disso, que, tanto os documentos das questões de menor complexidade
oportunizam a imediata impugnação da parte adversa, como também as testemunhas
arroladas, em situações singelas, também facilmente podem ser identificadas, ao efeito de
se sujeitarem a alguma alegação de impedimento ou suspeição. Aliás, mesmo quando
suspeitas ou impedidas, nada impede que o Juiz as inquira, atribuindo a seus depoimentos
o valor que possam merecer, como também autoriza o disposto no art. 405, § 4º, do Código
de Processo Civil.
90
Art. 18 - A citação far-se-á:
I - por correspondência, com aviso de recebimento em mão própria;
II - tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que será
obrigatoriamente identificado;
III - sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória.
91
Art. 13 – [...]
§ 2º - A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada por qualquer meio idôneo de
comunicação.[...]
65
Quanto a essa questão, embora a jurisprudência entenda não ser o Juiz obrigado à
inquirição de testemunha em outra comarca, existindo inclusive enunciado do FONAJE
(Forum Nacional dos Juizados Especiais) nesse sentido92, não havendo condições conduzi-
la à sede do Juizado em que tramita o processo e sendo a testemunha essencial à apuração
dos fatos, deverá se garantir a sua inquirição, sob pena de vulneração das garantias do
contraditório e da ampla defesa. Nesse sentido:
“JUIZADOS ESPECIAIS. EXPEDIÇÃO DE PRECATÓRIA.
EXCEPCIONAL POSSIBILIDADE, QUANDO IMPRESCINDÍVEL
PARA GARANTIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. Conquanto ser
indevida, como regra, a expedição de carta precatória em sede de juizados
especiais, face à grade principiológica que preside tal sistema, em casos
excepcionais é admissível a ouvida de testemunhas por precatória. Caso
presente em que tal excepcionalidade está presente, tendo em vista que o
julgador que preside a instrução determinou a inversão do ônus da prova,
sendo que a testemunha essencial que poderá auxiliar a parte ré a se
desincumbir do ônus probatório que o juiz colocou sobre seus ombros
reside em outra cidade. Não sendo ela obrigada a se deslocar, é direito da
parte requerer sua inquirição na cidade onde ela reside, ainda mais que
residente em Porto Alegre, com endereço preciso e de fácil localização.
MANDADO DE SEGURANÇA CONCEDIDO. (Mandado de Segurança
Nº 71000800714, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais,
Relator: Eugênio Facchini Neto, Julgado em 27/09/2005)”
92
Enunciado 33 - É dispensável a expedição de carta precatória nos Juizados Especiais Cíveis, cumprindo-se
os atos nas demais comarcas, mediante via postal, por ofício do Juiz, fax, telefone ou qualquer outro meio
idôneo de comunicação.
66
93
BRASIL. Turmas Recursais do Juizado Especial Cível do Rio Grande do Sul. Disponível na Internet em:
http://www.tj.rs.gov.br/site_php/jprud2/index.php?PHPSESSID=75726217acfa591a8d578b07ed3a3ec2.
Acesso em 24 de ago. de 2007.
67
94
“Dentro de cinco anos, toda a Justiça brasileira deve usar o processo virtual. Este é o objetivo do Conselho
Nacional de Justiça, segundo o corregedor nacional de Justiça, ministro Cesar Asfor Rocha, que preside a
Comissão de Informatização do CNJ. O ministro participa, em Belo Horizonte (MG), nesta terça-feira
(07/08), do lançamento do sistema de processo virtual (Projudi) no Tribunal de Justiça do Estado. „Hoje o
TJMG, na linha das suas tradições, dá um passo de inovação muito grande, permitindo ainda mais rapidez e
segurança aos processos‟, disse o ministro”.
“O Tribunal de Justiça de Minas Gerais inaugurou nesta terça-feira a instalação do Projudi no Juizado Espe-
cial Cível que funciona na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. O sistema permite
a tramitação online, via internet, de processos judiciais, dispensando o papel. Ao longo de 2007, o CNJ deve
repassar ao TJMG 400 computadores e a mesma quantidade de digitalizadores. Já foram repassados até agora
ao Tribunal 32 computadores e 12 digitalizadores”.
“De acordo com o ministro, a disseminação do sistema de processo virtual se impõe em função do grande
número de processos que chegam à Justiça. „Isto decorre do fato de que a consciência de cidadania está cada
vez mais desenvolvida em cada brasileiro‟, avalia Asfor Rocha. O corregedor também disse que o processo
virtual é mais seguro que o processo em papel. „É mais fácil perder uma folha de papel que um documento
eletrônico‟, disse”. ROCHA, Cesar Asfor. Processo em papel tem data para acabar. Notícia do Sítio do
Conselho Nacional de Justiça. Online. Disponível na Internet:
http://www.cnj.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=3197&Itemid=167. Acesso em: 07
ago. 2007.
95
“O e-proc foi instituído pela Resolução nº 13, de 11 de março de 2004 da presidência do Egrégio Tribunal
Regional Federal da 4a Região, para permitir a tramitação de processos no Juizado Especial Federal Cível
68
O Processo da Lei 9.099/1995, ao dispor, no art. 13, “caput” que: “os atos
processuais serão válidos sempre que preencherem as finalidades para as quais forem
realizados, atendidos os critérios indicados no art. 2º desta Lei”, consagra
fundamentalmente o princípio da instrumentalidade do processo, pois privilegia o objetivo
final que é a resolução do conflito de interesses, ou seja, o conhecimento do mérito do
direito substancial buscado.
A simplificação de algumas formas orienta-se pelo princípio da “adaptabilidade”,
como propugna Dinamarco96 ou da “adaptação do procedimento”, que, como sustenta
Oliveira97 apresenta-se “sob o aspecto subjetivo, objetivo e teleológico”, os quais atuam
para conferir o “máximo de eficiência”.
Tal tipo de desiderato só será alcançado se de fato houver uma mudança de
mentalidade na forma de encarar o processo98.
por meio totalmente eletrônico, visando a economia e celeridade na tramitação destas ações”. Online. Dispo-
nível na Internet: http://www.jfpr.gov.br/ninf/eproc.pdf. Acesso em: 10 set. 2007.
96
DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 3ª ed. São Paulo: Malheiros, 1993, p.
290.
97
OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro. Do Formalismo no Processo Civil. 2ª ed.. São Paulo: Saraiva, 200, p.
116.
98
Segundo Carlos Alberto Alvaro de Oliveira: “A esse ângulo visual, não se trata, a nosso ver, tão-somente
de informalizar, deformalizar ou simplificar, mas de uma nova maneira de fazer justiça e distribuí-la, sem
estimular o conflito ou o seu prosseguimento (o que amiúde ocorre na justiça „normal‟). O desiderato funda-
mental consistiria na minimização e principalmente na humanização do litígio, de modo a restabelecer ou
estimular a pacífica coexistência entre os indivíduos do grupo social. [...].
Não se trata, bem entendido, da criação de uma justiça de primeira ou segunda classe, em relação à tradicio-
nal. O que se preconiza aqui é a instituição de uma justiça diferente. Ela só será de segunda classe se nela
prevalecer o espírito „profissional‟ dos juízes, decorrente das deformações da magistratura de carreira e da
formação de cunho positivista, marca indelével de uma preparação acadêmica cunhada com tal orientação e
69
que parece ainda preponderar em nosso meio. A justiça „especial‟, compreenda-se, só preencherá sua finali-
dade se nela sobrepujar o espírito laico, internalizado na nova função e no novo papel esperado do juiz e de
conformidade com os princípios especiais que lhe traçam a conformação.
E à medida que a humanidade evoluir as duas justiças poderão aproximar seus métodos, embora integral
equalização não seja previsível ainda no horizonte. Utopia? Quem sabe!? Mas ao homem, apesar da verda-
deira crise moral e social que constitui marca indelével deste final de século, não deve ser retirado o direito
de sonhar”. OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro. Garantia do Contraditório. In: TUCCI, José Rogério Cruz e
(coord.). Garantias Constitucionais do Processo Civil. São Paulo: RT, 1999, p. 131-132.
70
99
NULIDADE DA CITAÇÃO. A CITAÇÃO DE PESSOA FÍSICA DEVE SER FEITA PESSOALMENTE, JÁ
QUE O ART. 18, I, DA LEI Nº 9.099/95, EXIGE AVISO DE RECEBIMENTO EM MÃO PRÓPRIA PARA A
CORRESPONDÊNCIA ENVIADA. Recurso a que se dá provimento, para anular o feito desde a citação. (Re-
curso Cível Nº 71000502559, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Ricardo Torres
Hermann, Julgado em 08/04/2004);
EMBARGOS À EXECUÇÃO DE SENTENÇA. NULIDADE DA CITAÇÃO. MATÉRIA PASSÍVEL DE DEDU-
ÇÃO, FORTE NO ART. 741, I, DO CPC. No âmbito dos juizados especiais, a citação da pessoa física por
carta AR, desde que entregue no endereço do citando, presume-se tenha chegado às suas mãos, nos termos
da Súmula 07 das Turmas Recursais Cíveis. Embargante que logrou elidir, mediante prova contundente em
sentido contrário, tal presunção, demonstrando que, à época do recebimento da carta citatória pelo porteiro
do prédio, não mais residia naquele endereço. RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO, PARA ANULAR O
PROCESSO DE CONHECIMENTO DESDE A CITAÇÃO. (Recurso Cível Nº 71000987008, Terceira Turma
Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Ricardo Torres Hermann, Julgado em 14/11/2006)
BRASIL. Turmas Recursais do Juizado Especial Cível do Rio Grande do Sul. Disponível na Internet em:
http://www.tj.rs.gov.br/site_php/jprud2/index.php?PHPSESSID=75726217acfa591a8d578b07ed3a3ec2.
Acesso em 24 de ago. de 2007.
71
O problema é que, na situação sob análise, sequer presunção legal há, de vez que a
interpretação é feita jurisprudencialmente, a partir da permissão legal de considerar citada
a pessoa jurídica, por intermédio da comunicação entregue ao encarregado da recepção.
Ora, no caso da citação da pessoa física, a ponderação dos próprios princípios informativos
do processo do Juizado Especial Cível comprometem a conclusão consubstanciada no teor
da Súmula 7 das Turmas Recursais Gaúchas101, pois a economia processual resta vulnerada
quando há a necessidade de repetir atos processuais inválidos pela nulidade da citação,
colidindo assim com os princípios da celeridade e informalidade que poderiam inspirar o
entendimento sumulado. Nesse sentido, não há como reconhecer a validade da citação pela
simples entrega da carta no endereço de seu destinatário102.
100
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil V. 2 – Processo de
conhecimento. 6ªed. rev., atual. e ampl.. São Paulo: RT, 2006, p. 412.
101
CITAÇÃO: ENTREGA DO "AR". – É válida a citação de pessoa física com a entrega do "AR" no ende-
reço do citando, ainda que não assinado por ele próprio, cabendo-lhe demonstrar que a carta não lhe chegou
às mãos.
102
Nesse sentido, as conclusões apresentadas por Marco Aurélio Martins Rocha: “a) A lei determina que o
ato seja realizado através de uma forma (aviso de recebimento em mão própria). b) Os princípios da celerida-
de e da informalidade dependem de possibilidade fática e possibilidade jurídica para sua satisfação. c) Os
72
princípios são suscetíveis de ponderação e existem princípio, na situação em apreço, opostos e de maior „for-
ça‟ jurídica já que representam direitos e garantias fundamentais. d) Não pode o réu ser submetido a produzir
prova negativa. e) A não observância dos princípios da ampla defesa e do contraditório só depõe contra todos
os demais princípios informadores do procedimento no Juizado Especial, principalmente a economia proces-
sual. f) A citação, portanto, somente dirigida para o endereço do réu, sem que o próprio destinatário a tenha
recebido, não se presta ao fim almejado”. Considerações acerca da citação por carta da pessoa natural no
juizado especial cível. Revista dos Juizados Especiais: doutrina – jurisprudência TJRS. V. 3, nº 15, p.
32-37, dez. 1995.
103
Canotilho ressalta que: “Por duplo grau de jurisdição (cfr. Supra) entende-se, no seu sentido mais restrito,
a possibilidade de obter o reexame de uma decisão jurisdicional, em sede de mérito, por um outro juiz per-
tencente a um grau de jurisdição superior („instância de segundo grau‟). Direito Constitucional e Teoria da
Constituição. 2ª ed. Coimbra – Portugal: Almeidina, 1998, p. 583.
73
Em que pese o recurso não tenha a designação de apelação (conquanto a ele dêem
esse nome FIGUEIRA JÚNIOR, 2006, p. 289 e ALEXANDRE CÂMARA, 2004, p. 141)
ou mesmo que não se dirija a um segundo grau de jurisdição, a verdade é que de fato
assegura-se o princípio do duplo juízo sobre o mérito, o que se entende suficiente para
assegurar o princípio do duplo grau de jurisdição. Com efeito, afastando-se a ultrapassada
ideologia da necessidade de revisão das decisões judiciais por instância de julgamento
hierarquicamente superiora, é evidente que o sistema instituído pela Lei dos Juizados
Especiais Cíveis cumpre o seu papel de permitir a revisão da decisão judicial por um
segundo juízo, a fim de aperfeiçoar a prestação jurisdicional e garantir ao jurisdicionado o
direito de recorrer106.
104
“Compete ao legislador infraconstitucional tornar efetiva aquela regra maior da Constituição Federal, de
sorte a imprimir operatividade ao princípio do duplo grau. Aí a razão pela qual existem algumas leis que
restringem o cabimento de recursos, não devendo, contudo, ser consideradas inconstitucionais. É o caso, por
exemplo, da Lei de Execução Fiscal, que não admite apelação quando o valor da causa for inferior a 50
OTNs (LEF 34 caput), e também da Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais (Lei 9.099/95 – LJE), que
estipula o cabimento de „recurso‟ contra a sentença do juiz singular para o próprio Juizado, agora com com-
posição diversa (três juízes de primeiro grau), sem, todavia, falar em apelação para o segundo grau de jurisdi-
ção (LJE 41)”. NERY JÚNIOR, Nelson. Teoria Geral dos Recursos. 6ª ed. São Paulo: 2004, p. 42-43.
105
“Acreditamos, na esteira de BARBOSA MOREIRA, MOACYR AMARAL DOS SANTOS e ROGÉRIO
LAURIA TUCCI, que o simples reexame da causa não permite concluir pela existência do duplo grau de
jurisdição, sendo imprescindível que a segunda análise seja feita por um órgão de hierarquia superior”. To-
davia, ressalva: “A previsão da existência de recursos que permitam o reexame da matéria pelo mesmo órgão
prolator da decisão recorrida já satisfaz integralmente a compreensão exata da „ampla defesa‟”.
CHEIM JORGE, Flávio. Teoria Geral dos Recursos Cíveis. 3ª ed. São Paulo: 2007, p. 171 e 30.
106
“Todavia, inserido no contexto da necessidade de se buscar a efetividade do processo através da celerida-
de do procedimento, a legislação pátria desconstruiu a idéia da revisão tão-somente por um órgão de grau
superior, nesse sentido Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart (2006, p. 505, grifo dos autores)
chegando a propor uma nova definição:
Na perspectiva do princípio do duplo grau, toda sentença, em princípio, deveria ser revista por um
órgão de grau superior. Entretanto, desejando-se minimizar a demora inerente a esse procedimento, entendeu-
se que a sentença impugnada poderia ser revista pelo mesmo juiz que proferiu a decisão impugnada (embar-
gos infringentes previstos no art.34 da Lei 6.830/80-Lei da Execução Fiscal) ou por juizes do mesmo grau de
jurisdição daquele que proferiu a sentença (recurso para a Turma Recursal composta por juizes em exercício
no primeiro grau de jurisdição; art.41, § 1°, da Lei 9.099/95 - Lei dos Juizados Especiais). Portanto, nessa
74
linha, o denominado duplo grau de jurisdição poderia ser melhor redefinido como um duplo juízo sobre o
mérito.
Nesta esteira, similarmente, Antônio Carlos de Araújo Cintra, Cândido Rangel Dinamarco e Ada
Pelegrini Grinover ao comentarem sobre o princípio do duplo grau de jurisdição (2005, p. 78, grifo nosso):
A sistemática adotada na Lei dos Juizados Especiais foi muito bem sucedida, a ponto de vir a ser
consagrada no texto constitucional de 1988(art.98, inc. I). Com isso fica resguardado o duplo grau, que não
deve necessariamente ser desempenhado por órgãos da denominada „jurisdição superior‟”. In SILVA NE-
TO, Djalma Andrade da. A aplicabilidade do duplo grau de jurisdição em face à necessária efetividade do
processo . Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1447, 18 jun. 2007. Disponível em:
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10032. Acesso em: 29 ago. 2007.
107
CAMBI, Eduardo. Uniformização das questões de direito nos juizados especiais cíveis estaduais e fede-
rais: a criação do recurso de divergência. In: NERY JUNIOR, Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim
(coord.). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis. São Paulo: RT, 2002, p. 170.
75
108
CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e Prática dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. 7ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 212.
109
AGRAVO REGIMENTAL. INADMISSIBILIDADE DE RECURSO ESPECIAL INTERPOSTO DE
DECISÃO PROLATADA POR ÓRGÃO DE SEGUNDO GRAU DOS JUIZADOS ESPECIAIS. Não cabe
recurso extraordinário para rever os requisitos de admissibilidade de recurso especial cujo seguimento foi
109
negado pelo Superior Tribunal de Justiça. Agravo regimental a que se nega provimento. BRASIL. Su-
premo Tribunal Federal. AI-AgR 520351/ SP. Jb Import Importação e Exportação Ltda ., agravante; Milton
Domingues de Oliveira , agravado. Relator: Min. JOAQUIM BARBOSA. J.: 08/08/2006. Órgão Julgador:
Segunda Turma. Disponível na Internet em: http://www.stf.gov.br/jurisprudencia/nova/pesquisa.asp. Acesso
em 20 de ago. de 2007.
76
“Contra decisões das Turmas Recursais são cabíveis somente os embargos declaratórios e
o Recurso Extraordinário".
Esclareceu-se, ainda, no último FONAJE, por intermédio do Enunciado 124 que:
“Das decisões proferidas pelas Turmas Recursais em mandado de segurança não cabe
recurso ordinário”.
Como visto, pois, além de assegurar-se a garantia do duplo grau de jurisdição, em
observância aos princípios da celeridade, informalidade e economia processual, o
cabimento de recursos no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis é, felizmente, restrito, o
que não representa qualquer restrição ao princípio da ampla defesa.
110
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ementa. Recurso Extraordinário n. 140.370/MG. Guido Laine e
Cônjuge, Recorrentes; Fernando Gonçalves de Souza e outros, Recorridos. Relator Min. Sepúlveda Pertence.
J. 20.04.1993. DJU 21.05.1993, p. 09768.
111
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Excerto do Acórdão. Agravo Regimental em Agravo de Instrumento
n. 601595 / RJ. Viação Cidade do Aço Ltda., Agravante; Fernando José Barbosa de Oliveira e outros, Agra-
vados. Relator Min. Carmen Lúcia. J. 31.05.2007. DJU 29.06.2007, p. 00042.
78
112
Art. 103. A parte ou o interessado que se considerar prejudicado por decisão do Presidente, do Ministro-
Corregedor ou do Relator poderá, no prazo de dez dias, contados da sua intimação, interpor recurso adminis-
trativo, a fim de que o Plenário conheça da decisão, confirmando-a ou reformando-a.
(...)
§ 3º Relatará o recurso administrativo o prolator da decisão recorrida, com voto, ficando dispensada a lavra-
tura de acórdão quando o Plenário mantiver o pronunciamento.
79
113
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão. Agravo Regimental em Mandado de Segurança n.
25.879/DF. Alcinete Nascimento de Souza., Agravante; Conselho Nacional de Justiça, Agravado. Relator
Min. Sepúlveda Pertence. J. 23.08.2006. DJU 08.09.2006, p. 00034.
80
Tendo sido felizmente vetado o referido artigo 47 da Lei 9.099/1995, pois não só
instituía a uniformização de interpretação, como também criava novo recurso
relativamente às condenações em valores superiores a vinte (20) salários mínimos, restou
uma lacuna no que tange à uniformização da jurisprudência.
114
CAMBI, Eduardo. Uniformização das questões de direito nos juizados especiais cíveis estaduais e fede-
rais: a criação do recurso de divergência. In: NERY JUNIOR, Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim
(coord.). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis. São Paulo: RT, 2002, p. 169 e ss..
115
Art. 19 Ocorrendo relevante questão de direito que, pela sua recorrência, indique a conveniência de se
prevenir ou compor divergência entre as turmas recursais cíveis, poderá o relator propor seja o recurso ou a
ação julgada por colegiado composto pelos integrantes de todas as turmas recursais cíveis; reconhecendo o
interesse público na assunção de competência, esse colegiado julgará o recurso.
Parágrafo único - quando a decisão for tomada pela maioria qualificada de dois terços (2/3), o órgão julga-
dor poderá editar enunciado sobre a matéria, que será publicado no órgão oficial e passará a integrar a súmula
da jurisprudência predominante das turmas recursais. O mesmo quorum será exigido para a hipótese de can-
81
116
Jornal da Câmara. Brasília, segunda-feira, 27 de novembro de 2006 - Ano 8 Nº 1742. Disponível em:
http://www2.camara.gov.br/jornal. Acesso em 22 de ago. de 2007.
82
117
ANDRIGHI, Fátima Nancy. Primeiras reflexões sobre o pedido de uniformização de interpretação no
âmbito dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. In: FUX, e (coord.). Processo e Constituição – estudos
em homenagem ao Professor José Carlos Barbosa Moreira. São Paulo: RT, 2006, p. 461 ss.
118
Art. 14. Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei federal quando houver divergência entre
decisões sobre questões de direito material proferidas por Turmas Recursais na interpretação da lei.
§ 1o O pedido fundado em divergência entre Turmas da mesma Região será julgado em reunião conjunta das
Turmas em conflito, sob a presidência do Juiz Coordenador.
§ 2o O pedido fundado em divergência entre decisões de turmas de diferentes regiões ou da proferida em
contrariedade a súmula ou jurisprudência dominante do STJ será julgado por Turma de Uniformização, inte-
grada por juízes de Turmas Recursais, sob a presidência do Coordenador da Justiça Federal. [...]
119
“Com efeito, como se sabe, sendo de exclusiva previsão constitucional a competência dos tribunais supe-
riores, ela não pode ser aplicada por simples lei ordinária, o que força a conclusão de que o Projeto de Lei
4.723/2004, neste particular, encontra-se marcado pela pecha da potencial inconstitucionalidade.
83
Além desse potencial óbice constitucional, haveria, ainda, um outro fator, de ordem prática, a obstar a
atribuição de competência ao STJ para julgar pedidos de uniformização de interpretação oriundos dos Juiza-
dos Especiais Cíveis e Criminais. Isso porque a maior agilidade no trâmite dos processos nos Juizados ficaria
comprometida com o julgamento dos pedidos de uniformização de interpretação pelo STJ, que já recebe
milhares de processos anualmente oriundos da justiça comum, ou seja, os processos da justiça especial seri-
am jogados na vala comum da justiça tradicional.
Por conseqüência, maxima venia concessa, o mais adequado – do ponto de vista constitucional e prático –
seria a criação de órgão análogo à Turma Nacional de Uniformização da Jurisprudência dos Juizados Especi-
ais Federais, com competência para o julgamento de divergência entre Turmas Recursais do mesmo Estado,
ou de diferentes Estados, ou quando houver contrariedade à sumula ou jurisprudência dominante do STJ”.
ANDRIGHI, Fátima Nancy. Primeiras reflexões sobre o pedido de uniformização de interpretação no âmbito
dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. In: FUX, e (coord.). Processo e Constituição – estudos em ho-
menagem ao Professor José Carlos Barbosa Moreira. São Paulo: RT, 2006, p. 465-466.
CONCLUSÃO
120
ANDRIGHI, Fátima Nancy. Primeiras reflexões sobre o pedido de uniformização de
interpretação no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. In: FUX, e (coord.).
Processo e Constituição – estudos em homenagem ao Professor José Carlos Bar-
bosa Moreira. São Paulo: RT, 2006, p. 461.
85
121
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