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Apostila de Direito das Sucessões

DIREITO DAS SUCESSÕES

I - DA SUCESSÃO EM GERAL

1.1 – CONCEITO DO DIREITO DAS SUCESSÕES


- O Direito das sucessões vem a ser o conjunto de normas que
disciplinam a transferência do patrimônio de alguém, depois de
sua morte, ao herdeiro, em virtude de lei ou de testamento.
- Com a morte do autor da herança, o sucessor passa a ter a
posição jurídica do finado, sem qualquer alteração na relação
de direito, que permanece a mesma apesar da mudança de
sujeito.

1.2 - SENTIDO DA PALAVRA "SUCESSÃO"


1 - Em sentido amplo - a palavra sucessão se aplica a todos os
modos derivados de aquisição do domínio, ou seja, é o ato pelo qual
alguém sucede a outrem, investindo-se, no todo ou em parte, nos
direitos que lhe pertenciam.

2 - Em sentido estrito - a palavra sucessão significa a


transferência, total ou parcial, de herança, por morte de alguém, a
um ou mais herdeiros.
No presente momento, trataremos apenas da sucessão em sentido
estrito, ou seja, da sucessão causa mortis.

1.3 – FUNDAMENTO DO DIREITO DAS SUCESSÕES


- O fundamento do direito sucessório é a propriedade, conjugada
ou não com o direito de família.
- A possibilidade de transferir bens mortis causa é corolário do
direito de propriedade, uma vez que, em caso contrário, a
propriedade ficaria despida de um de seus caracteres, ou seja,
a perpetuidade.

1.4 – CONTEÚDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES


- Em nosso Código Civil, o direito das sucessões divide-se em
quatro partes:
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1ª - Sucessão em geral – onde traça normas sobre a sucessão


legítima e testamentária, relativas à transmissão, aceitação, à
renúncia e à indignidade;
2ª - Sucessão legítima – onde abrange a transmissão da herança,
que se opera em virtude de lei às pessoas constantes da ordem de
vocação hereditária;
3ª - Sucessão testamentária – onde contém disposições relativas
à transferência de bens causa mortis por ato de última vontade;

4ª - Inventário e partilha – onde estabelece as normas sobre o


processo judicial por meio do qual se descreve os bens da herança,
se lavra o título de herdeiro, se liquida o passivo do monte, se paga o
imposto de transmissão mortis causa e se efetua a partilha dos bens
entre os herdeiros.

1.5 – CLASSIFICAÇÃO
- Quanto à fonte de que deriva:
a) testamentária: oriunda de testamento válido ou de codicilo.
Vigora em nosso ordenamento jurídico o sistema da liberdade de
testar limitada, por meio do qual se o testador tiver herdeiros
necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge sucessíveis - art.
1845, CC), só poderá dispor de metade da herança. Assim, o
patrimônio do de cujus é dividido em duas partes: legítima (ou
reserva dos herdeiros necessários) e porção disponível;

b) legítima ou ab intestato: resulta da lei nos casos de ausência,


nulidade, anulabilidade ou caducidade do testamento.

- Admite-se a existência simultânea dessas duas espécies de


sucessão, eis que se o testamento não abranger a totalidade
dos bens do falecido, a parte de seu patrimônio não
mencionada no ato de última vontade transmite-se aos
herdeiros legítimos na ordem da vocação hereditária.

- O ordenamento jurídico pátrio não admite a denominada


sucessão contratual, pois veda contratos que tenham por objeto
herança de pessoa viva (art. 426 CC).

- Alguns autores, nos termos do art. 2.018 do CC/2002, apontam


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uma exceção a essa regra: possibilidade de partilha feita por


ascendente, por ato entre vivos ou de última vontade,
conquanto que não prejudique a legítima dos herdeiros
necessários.
- O Código Civil/2002 não mais admite as chamadas doações
antenupciais causa mortis, que, na vigência do Código Civil de
1916 (art. 314), eram consideradas como mais uma espécie de
sucessão contratual.
- Quanto aos efeitos:
a) a título universal - quando houver transferência da totalidade ou
de uma parte indeterminada (porção abstrata) da herança, tanto no
seu ativo como no passivo, para o herdeiro do de cujus. Se a
sucessão a título universal decorrer de testamento, diz-se que houve
a instituição de herdeiro (herdeiro instituído, nomeado ou
testamentário). A sucessão legítima é sempre a título universal e o
sucessor se denomina herdeiro legítimo. Se houver um único herdeiro
que recebe a totalidade da herança, dá-se a ele o nome de herdeiro
universal;
b) a título singular - quando o testador transfere ao beneficiário
apenas bens certos e determinados. Decorre apenas de testamento e
diz-se que houve a nomeação de legatário.
O legatário não responde pelas dívidas e encargos da herança, salvo
em se tratando de débitos tributários, caso em que sua
responsabilidade fica limitada ao montante do legado (art. 131, II do
CTN).
1.6 - ABERTURA _DA SUCESSÃO, DELAÇÃO OU DEVOLUÇÃO
SUCESSÓRIA

- Dá-se a abertura da sucessão no momento do falecimento do


de cujus, transmitindo-se a herança, sem solução de
continuidade, aos herdeiros legítimos e testamentários
(princípio da saisine), ainda que eles ignorem o fato.
- Desde a abertura da sucessão, pertence ao legatário a coisa
certa, existente no acervo, salvo se o legado estiver sob
condição suspensiva. Entretanto, não se defere de imediato a
posse da coisa, nem nela pode o legatário entrar por autoridade
própria.
- Sobre o assunto, Carlos Roberto Gonçalves leciona: "Quanto
aos legatários, a situação é diferente: adquirem a propriedade
dos bens infungíveis desde a abertura da sucessão; dos
fungíveis, porém, só pela partilha. A posse, em ambos os
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casos, deve ser requerida aos herdeiros, que só estão


obrigados a entregá-la por ocasião da partilha depois de
comprovada a solvência do espólio".
1.7 - HERANÇA
- É o objeto da sucessão, confundindo-se com o patrimônio do de
cujus, ou seja, é o conjunto de direitos e obrigações que se
transmitem aos seus sucessores;
- Excluem-se da herança os direitos personalíssimos que se
extinguem com a morte (pátrio poder, tutela, :curatela, direitos
políticos etc.) e os direitos e deveres patrimoniais que não
passam aos herdeiros, por serem inerentes à pessoa do de
cujus (uso, usufruto etc.).
- A herança difere da meação. Esta constitui a parte que cada
cônjuge ou companheiro possui sobre os bens comunicáveis e
independe da abertura da sucessão.
- Aquela é o patrimônio do de cujus, abrangendo seus bens
particulares e sua meação sobre os bens comuns. Assim,
quando se fala em herança, deve-se ter em mente que dela não
faz parte da meação do cônjuge ou do companheiro
sobrevivente, já que pertenciam a estes antes mesmo do óbito
do de cujus.
- O herdeiro não representa o de cujus, pois o sucede apenas nos
bens e não na sua pessoa. Somente assume a titularidade das
relações jurídicas patrimoniais do falecido.
- O direito à sucessão aberta é considerado bem imóvel, exigindo
escritura pública para a sua cessão e autorização do cônjuge
para que o respectivo titular possa estar em juízo.
- O direito à herança, quanto à posse e à propriedade, é
indivisível até a partilha, regulando-se pelas normas relativas
ao condomínio.
- Ela é inicialmente deferida como um todo unitário
(universalidade de direito), ainda que vários sejam os
herdeiros. Assim, o co-herdeiro não pode vender ou hipotecar
parte determinada de coisa comum do espólio, mas apenas
ceder direitos hereditários concernentes a sua parte ideal.
- O Código Civil /2002 estabelece que "é ineficaz a cessão, pelo
co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem da
herança considerado singularmente" (art. 1.793, §2°), bem
como que "ineficaz é a disposição, sem prévia autorização do
juiz da sucessão, por qualquer herdeiro, de bem componente
do acervo hereditário, pendente a indivisibilidade" (art. 1.793,
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§3°).
- Os demais co-herdeiros têm direito de preferência, tendo em
vista que, até a partilha, existe um condomínio indivisível (Arts.
1.794 e 1.795, CC/2002).
- Segundo noticia MHD, inexiste consenso na doutrina e na
jurisprudência a respeito da necessidade da anuência dos
demais herdeiros para que haja a cessão do quinhão hereditário
de um deles a terceiros.
- Qualquer dos co-herdeiros pode reclamar a universalidade da
herança ao terceiro, que indevidamente a possua, não podendo
este opor-lhe, em exceção, o caráter parcial do seu direito nos
bens da sucessão. Este direito não é personalíssimo, razão pela
qual pode o cessionário se valer do mesmo.

1.8 - LOCAL DA ABERTURA DA SUCESSÃO E DO JUÍZO DO


INVENTÁRIO
O local da abertura da sucessão é o do último domicílio do falecido, o
qual passa a ser competente para o inventário, a partilha, a
arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade e
praticamente todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o
óbito tenha ocorrido no estrangeiro. Se o autor da herança não
possuía domicílio certo, o juízo competente é o da situação dos bens
e, se, além disso, possuía bens em lugares diversos, o do lugar do
óbito.
Ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha ele residido
fora do território nacional, compete à autoridade judiciária brasileira,
com exclusão de qualquer outra, proceder ao inventário e partilha de
bens situados no Brasil.
Em princípio, cessa a universalidade do juízo do inventário com o
término do estado de indivisão da herança, o que se dá com a
partilha.

1.9- CESSÃO DA HERANCA


Consiste na transferência que o herdeiro, legítimo ou testamentário,
faz a outrem de todo quinhão hereditário que lhe compete após a
abertura da sucessão, ou de parte dele. Pode ser gratuita ou onerosa.
 Princípios:
- O cedente deve ter capacidade genérica e dispositiva;
- A cessão só valerá após a abertura da sucessão e deverá ser

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feita por escritura pública, qualquer que seja o valor;


- Somente pode ser efetivada antes da partilha;
- O cedente transfere sua quota ideal na massa hereditária, sem
discriminar bens, sob pena de ineficácia da cessão (art. 1.793,
§§2° e 3Q, CC/2002);
- O cessionário sucede inter vivos, sendo sucessor a título
singular;
- O cessionário assume, em relação aos direitos hereditários, a
mesma condição jurídica do cedente. Todavia, o Código
Civil/2002 ressalva que "os direitos, conferidos ao herdeiro em
conseqüência de substituição ou de direito de acrescer,
presumem-se não abrangidos pela cessão feita
anteriormente" (art. 1.793, §1°);
- O cessionário corre o risco' de ver a herança ser absorvida
pelos débitos;
- É negócio jurídico aleatório;
- O cedente, em regra, não responde pelos riscos da evicção;
- A cessão da herança feita sem a anuência dos credores do
espólio autoriza que o cedente seja acionado por eles;
- Os co-herdeiros têm direito de preferência na aquisição dos
direitos hereditários de qualquer um deles (art. 1.794, CC).
Caso esse direito de preferência não seja observado, o co-
herdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá,
depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se
o requerer até 180 dias após a transmissão. Sendo vários co-
herdeiros a exercer a preferência, entre eles se distribuirá o
quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas
hereditárias (art. 1.795, CC);
- O cessionário intervém no processo de inventário, sendo
contemplado na partilha, tirando-se em seu nome o pagamento
que caberia ao cedente, desde que nenhum dos coherdeiros use
do direito de preferência antes da partilha;
- A cessão pode ser anulada por qualquer vício do negócio
jurídico.
1.10 - LEGITIMACÃO E CAPACIDADE PARA SUCEDER

- Capacidade civil e capacidade-sucessória - Não se confunde a


capacidade sucessória com a capacidade civil. Esta é a aptidão que a
pessoa tem para exercer, por si, os atos da vida civil. Aquela, por sua

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vez, é a aptidão para receber os bens deixados pelo de cujus.


- Momento em que se verifica - A capacidade e a legitimação para
suceder é a do tempo da abertura da sucessão, que se regulará
conforme alei então em vigor. Assim, a capacidade e legitimação do
herdeiro instituído e do legatário deve se aferir ao tempo da abertura
da sucessão, e não da confecção do testamento. Entretanto, se a
instituição de herdeiro ou de legatário se subordinar a condição
suspensiva, só por ocasião de seu implemento se apreciará dita
capacidade e legitimação.
- Pressupostos para a verificação da capacidade sucessória:
a) morte do de cujus;
b) sobrevivência do sucessor;
c) pertencer o sucessor à espécie humana ou se tratar"de pessoa
jurídica;
d) título ou fundamento jurídico do direito de herdeiro ou
legatário.
OBS:
1 – A pessoa jurídica, exceto os Municípios, o Distrito Federal e a
União, não pode suceder ab intestato. Pode, entretanto, suceder por
testamento, desde que exista legalmente, admitindo-se, ainda,
transmissão hereditária condicional, no caso de se contemplar pessoa
jurídica ainda não constituída.
Sobre o assunto, Maria Helena Diniz esclarece: "Entretanto, tolera-se
que o testador transmita bens a um ente moral, sob a condição de
constituir-se regularmente, ou a uma sociedade de fato, aguardando-
se sua constituição legal, quando, então, opera-se a transmissão
hereditária". O Código Civil/2002 é expresso quanto à possibilidade
de se contemplar através de testamento "as pessoas jurídicas, cuja
organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação".
A pessoa jurídica em liquidação não pode suceder, porque já deixou
de existir, "uma vez que se prolonga sua personalidade apenas em
atenção aos atos necessários à liquidação patrimonial" (MHD). .
2 – A concessão de herança ou legado a uma pessoa com o encargo
de cuidar de determinada coisa inanimada ou de animal não fere o
terceiro pressuposto acima mencionado, eis que o sucessor será a
pessoa contemplada.

1.10.1 - SITUACÃO DO EMBRIÃO CRIOPRESERVADO, DO


NASCITURO E DA PESSOA AINDA NÃO CONCEBIDA AO TEMPO
DA ABERTURA DA SUCESSÃO.
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- Segundo o Código Civil/2002, legitima-se a suceder, as pessoas


nascidas ou já concebidas no momento da abertura da
sucessão (art. 1.798). E o mesmo estatuto preceitua que "a
personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida;
mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do
nascituro" (art. 2°).
- O primeiro problema que se impõe diante dessas disposições é
o de definir a partir de que momento considera-se concebida
uma pessoa: se é, a partir da nidação do ovo ou zigoto no útero
materno (momento em que há, em tese, uma viabilidade da
gestação ser exitosa), ou se a partir da fecundação do óvulo
pelo espermatozóide (quando já se tem definida a carga
genética do potencial ser futuro).
- O problema não se propunha quando da edição do Código Civil
de 1916, uma vez que, naquela época, a ciência não estava
avançada a ponto de, como hoje, existirem inúmeros métodos
de reprodução assistida, inclusive com a fecundação extra-
uterina do óvulo e subseqüente congelamento
(criopreservação) de embriões excedentários (não implantados
imediatamente).
- A questão é por demais complexa e ensejaria, a toda evidência,
um trabalho exclusivo para ela. Assim, serão abordadas apenas
algumas breves considerações acerca do assunto.
- Maria Helena Diniz considera como ser humano concebido o
óvulo fecundado “in vitro", caracterizando-se como titular de
direitos da personalidade, como à vida, à integridade física e à
saúde, tanto que há vedações quanto à manipulação genética
dos mesmos.
- No mesmo sentido, Ana Cristina Rafful considera a fecundação
como ato de conceber, antes mesmo da implantação do
embrião no útero materno. Tal autora cita julgado proferido por
um Tribunal dos Estados Unidos, em que, em outubro de 1989,
decidiu-se que os embriões são pessoas e devem acompanhar a
mãe porque a vida humana se inicia na concepção.
- De fato, o embrião congelado - ou, mais tecnicamente,
criopreservado - já se caracteriza como um ser humano
concebido, pois, segundo Maria Helena Diniz, "com a fusão dos
gametas (masculino e feminino), determinam-se os caracteres
do novo ser humano, surgindo, então, a pessoa, enquanto
sujeito de direito".
- O Código Civil/2002 dá respaldo a esse entendimento, pois, no
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art. 1.597, IV, refere-se a embriões excedentários decorrentes


de concepção artificial homóloga, dando a entender que
aqueles, antes mesmo de implantados, já são seres humanos
concebidos.
- Aí surge a pergunta: esses embriões congelados já se
legitimam a suceder, porque consideram-se pessoas concebidas
no momento da abertura da sucessão?
- Embora o embrião criopreservado possa ser considerado como
ser concebido, não ostenta a natureza de nascituro, pois, como
tal, somente há que se considerar aquele já implantado no
útero materno. Isso porque apenas a partir desse momento é
que se pode falar em vida viável.
- Neste sentido, J. M. Carvalho Santos entende que o embrião
não implantado não possui direito à tutela jurídica, por não
possuir condições de desenvolvimento fora do útero materno.
- Corroborando esse entendimento, tramita no Congresso
Nacional projeto de lei de autoria do deputado Ricardo Fiúza, o
qual, entre outras coisas, visa à alteração do art. 2° do Código
Civil/2002, a fim de que o mesmo passe a dispor que "a lei põe
a salvo os direitos do embrião e os do nascituro". Consta de tal
projeto, como justificativa, a afirmação de que o embrião, antes
de implantado e viabilizado no ventre da mãe, não pode ser
considerado nascituro.
- Na mesma linha, o Código de Processo Civil somente admite a
medida denominada posse em nome do nascituro quando há
prova da gravidez, não bastando a mera demonstração da
existência de embriões.
- Por motivos de razoabilidade, esse é o melhor entendimento,
pois, do contrário, teríamos que admitir, por exemplo, a
reserva de bens da herança a fim de atender ao eventual
direito sucessório do embrião criopreservado ou a posse em
nome do nascituro.
- Se essas medidas fossem adotadas, até, quando elas
prevaleceriam? Enquanto a mãe vivesse, uma vez que até a
sua morte haveria possibilidade de gestação? Enquanto não
fosse reconhecida a inviabilidade de desenvolvimento do
embrião, o que dependeria de comprovação e, talvez,
demandaria muito tempo? E, enquanto isso, os bens ficariam
com quem? Com a mãe ou com o inventariante? Além disso, se
a reserva de bens determinada no curso do inventário tem
natureza cautelar, como seria possível propor a ação principal
provavelmente petição de herança - no prazo de 30 dias, se,
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nesse prazo, não ocorresse sequer a implantação do óvulo?


- As incertezas que decorrem dessa situação, evidentemente,
não recomendam que o embrião criopreservado tenha seus
eventuais direitos patrimoniais protegidos, senão depois de
implantado no útero materno e demonstrado o estado de
gravidez. Isso porque a ausência de viabilidade imediata
desautoriza qualquer medida de proteção a um possível direito
patrimonial, em detrimento de herdeiros já existentes e
dotados de personalidade.
- Com isso não se está sustentando que o embrião
criopreservado não teria direitos sucessórios sobre a herança
deixada por seu genitor, caso este falecesse antes da
implantação daquele no útero materno. Mas, simplesmente,
que, apenas após assumir a condição de nascituro (implantação
no útero), se admitiria a posse em seu nome (providência
cautelar), assegurando-se seus direitos sucessórios a partir do
nascimento, com efeitos ex tunc, ou seja, desde a concepção in
vitro.
- De outra parte, o nascituro - ser humano concebido e com vida
intra-uterina - tem capacidade sucessória excepcional, eis que,
apesar de não possuir personalidade civil, seu representante
legal recebe a herança sob condição resolutiva. Se não nascer
com vida, é como se nunca houvesse existido.
- Pessoa ainda não concebida ao tempo da abertura da sucessão
não pode herdar. Entretanto, admite-se a confecção de
testamento contemplando "os filhos, ainda não concebidos, de
pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao
abrir-se a sucessão", caso em que haverá transmissão
hereditária condicional.
- Em relação a essa prole eventual, o Código Civil dispõe, em seu
art. 1.800, § 4°, que se, decorridos dois anos após a abertura
da sucessão (prazo de espera), não for concebido o herdeiro
esperado, os bens reservados, salvo disposição em
contrário do testador1, caberão aos herdeiros legítimos. No
caso dessas pessoas ainda não concebidas serem contempladas
em testamento, "os bens da herança serão confiados, após a
liquidação ou partilha, a curador nomeado pelo juízo (art.
1.800, caput)”, de modo que, “nascendo com vida o herdeiro
esperado, ser-lhe-á deferida a sucessão, com os frutos e

1
Essa expressão "salvo disposição em contrário" se refere ao destino dos bens, e
não ao prazo de espera de 4 (quatro) anos, contado da abertura da sucessão. Esta
ação não pode ser proposta. pelo ofendido, ao qual é assegurado o direito de
deserdar o ofensor.
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rendimentos relativos à deixa, a partir da morte do testador"


(art. 1.800, §3°).

2 - INDIGNIDADE
2.1 - Conceito - "Pena civil que priva do direito à herança não só o
herdeiro, bem como o legatário que cometeu atos criminosos ou
reprováveis, taxativamente enumerados em lei, contra a vida, a
honra e a liberdade do de cujus" (MHD), ou de certas pessoas de sua
família (Código Civil/2002).

2.2 - Causas:

a) os que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de


homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja
sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou
descendente. Não se aplica a exclusão, se tratar-se de
homicídio culposo, de aberratio ictus, de erro quanto à pessoa,
de legítima defesa, de estado de necessidade. Há autores que
entendem que a instigação ao suicídio se equipara ao
homicídio, para efeito de exclusão por indignidade;
b) os que houverem acusado, caluniosamente em juízo o autor da
herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu
cônjuge ou companheiro;
c) os que, por violência ou meios fraudulentos, a inibirem ou
obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus
be,ns por ato de última vontade.

- Os casos de exclusão do herdeiro ou legatário por indignidade


são somente estes, inadmitindo-se interpretação extensiva ou
aplicação analógica.

8.2 - Declaração jurídica da indignidade - A exclusão do herdeiro


ou legatário, em qualquer dos casos de indignidade, será declarada
por sentença, em ação ordinária, movida por quem tenha interesse
na sucessão. Tal ação encontra-se sujeita ao prazo decadencial

8.3 – Efeitos da Indignidade:


1- São pessoais os efeitos da exclusão, razão pela qual os
descendentes do herdeiro legítimo excluído sucedem, como se
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ele fosse morto antes da abertura da sucessão (sucedem por


representação);
2- O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto e à
administração dos bens, que a seus sucessores couberem na
herança, nem à sucessão eventual desses bens;
3- O excluído da sucessão é obrigado a restituir os frutos e
rendimentos que dos bens da herança houver auferido, mas
tem direito a ser indenizado das despesas com a conservação
deles;
4- São válidas as alienações onerosas de bens hereditários a
terceiros de boa-fé, e os atos de administração legalmente
praticados pelo herdeiro excluído, antes da sentença de
exclusão; mas aos co-herdeiros subsiste, quando
prejudicados, o direito de demandar-lhe perdas e danos;
5- O excluído deverá responder por perdas e danos, no caso de
restar apurada a obstação, ocultação ou destruição do
testamento por culpa ou dolo;
6- Para alguns autores, segundo noticia MHD, o indigno não está
proibido de representar seu pai na sucessão de outro parente,
já que a pena deve ser considerada restritivamente.
Entretanto, MHD e Sílvio Rodrigues têm entendimento em
sentido contrário.

8.4 – Herdeiro aparente


- É aquele que se conduz como herdeiro, mas que não possui
qualquer direito sobre os bens da sucessão. O Código de 1916
previa a figurado herdeiro aparente apenas no caso de exclusão
por indignidade (art. 1.600 do CC).
- Diante disso perguntava-se se eram válidos os atos de
alienação e de oneração de bens da herança feitos pelo
herdeiro aparente, fora do caso do art. 1.600 do CC.
Entretanto, o Código Civil/2002 resolveu o impasse, ao dispor
que "são eficazes as alienações feitas, a título oneroso, pelo
herdeiro aparente a terceiro de boa-fé" (art. 1.827, parágrafo
único).

8.5 - Reabilitação do indigno


- Afigura-se possível, mediante ato autêntico, ou testamento da
pessoa ofendida, resolvendo admiti-lo na sucessão.
- O perdão dado pelo ofendido é irretratável. No entanto, "não
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havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em


testamento do ofendido, quando o testador, ao testar, já
conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite da
disposição testamentária" (art. 1.818, parágrafo único,
CC/2002).

8.6 - Distinção entre incapacidade sucessória e indignidade


(segundo MHD):
- a incapacidade sucessória impede que nasça o direito à
sucessão; a indignidade obsta a conservação da herança;
- o incapaz não adquire a herança em momento algum; o indigno
a adquire quando da abertura da sucessão, vindo a perdê-la
com o trânsito em julgado de sentença declaratória de sua
indignidade.
9 - ACEITACÃO OU ADIÇÃO DA HERANCA
9.1 - Conceito – É o ato pelo qual o herdeiro ou legatário manifesta
a vontade de receber a herança ou o legado que lhe é transmitido.
- Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao
herdeiro, desde a abertura da sucessão. A transmissão tem-se
por não verificada quando o herdeiro renuncia à herança.

Classificação:
- Quanto à forma:
a) tácita - quando resulta tão-somente de atos próprios da qualidade
de herdeiro. Não exprimem aceitação da herança os atos oficiosos,
como o funeral do finado, os meramente conservatórios ou os de
administração e guarda provisória. Não importa igualmente aceitação
a cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos demais co-
herdeiros;

b) expressa - quando se faz por declaração escrita;

c) presumida - o interessado em que o herdeiro declare se aceita,


ou não, a herança, poderá, vinte dias depois de aberta a sucessão,
requerer ao juiz que fixe prazo razoável, não maior de trinta dias,
para, dentro nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a
herança por aceita.

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-Quanto à pessoa que a manifesta:


a) direta - se manifestada pelo próprio herdeiro;

b) indireta - se alguém a faz pelo herdeiro, podendo ser feita:


- pelos herdeiros do herdeiro: se este falecer antes de declarar se
aceita ou não a herança. Não se afigura admissível se se tratar de
vocação adstrita a uma condição suspensiva, ainda não verificada.
"Os chamados à sucessão do herdeiro antes da aceitação, desde que
concordem em receber a segunda herança, poderão aceitar ou
renunciar a primeira" (art. 1.809, parágrafo único, CC/2002);

- pelo tutor ou curador: de heranças e legados, com ou sem


encargos, mediante autorização do juiz;
- por mandatário ou gestor de negócios: há controvérsias quanto
à admissibilidade de aceitação da herança pelo gestor de negócios;

- pelos credores do herdeiro: se a renúncia prejudicar os credores,


poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do
renunciante. Entretanto, depois de pagas as dívidas do renunciante,
prevalece a renúncia quanto ao remanescente, que será devolvido
aos demais herdeiros. A habilitação dos credores se fará no prazo de
30(trinta) dias seguintes ao conhecimento do fato (art. 1.813, §1°,
CC/2002).

Conteúdo: Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte,


sob condição, ou a termo o herdeiro, a quem se testarem legados,
pode aceitá-los, renunciando a herança, ou aceitando-a, repudiá-los.
- "O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um
quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode
livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que
renuncia" (art. 1808, § 2°, CC/2002)

Retratação: são irrevogáveis os atos de aceitação e de renúncia da


herança (art. 1.812, CC/2002).

Anulação: É cabível, por exemplo, se o aceitante não é o herdeiro ou


se existirem vícios de consentimento.

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10 - RENÚNCIA OU REPÚDIO DA HERANÇA


10.1 – Conceito: É o ato solene pelo qual o herdeiro ou o legatário
manifesta a vontade de não aceitar a herança ou o legado que lhe é
transmitido.
- A renúncia pura e simples, ou abdicativa, é a renúncia
propriamente dita, vez que é manifestada de forma
incondicional em favor do monte.
- Contrapõe-se a ela a denominada renúncia translativa ou em
favor de alguém, a qual caracteriza uma aceitação tácita
seguida de uma cessão dos direitos hereditários em favor de
pessoa certa e determinada.

Requisitos:
- capacidade jurídica do renunciante: exige-se, inclusive, a
capacidade para alienar;
OBS: Segundo MHD, a pessoa casada pode renunciar à herança ou
legado independentemente de prévio consentimento do cônjuge.
Entretanto, Amoldo Wald e Sílvio Rodrigues têm entendimento em
sentido contrário.
- O mandatário, para renunciar à herança pelo mandante,
necessita de poderes especiais e expressos. O representante
legal do menor, por sua vez, necessita de autorização judicial.

- forma prescrita em Lei: deve constar expressamente de


instrumento público, ou de termo judicial, sob pena de nulidade
absoluta;

- inadmissibilidade de condição ou termo: a renúncia é ato puro


e simples;

- impossibilidade de repúdio parcial da herança: admite-se,


entretanto, que o herdeiro que suceder, concomitantemente, a título
universal, como herdeiro, e a título singular, como legatário, possa
renunciar integralmente à herança, conservando o legado, ou vice-
versa;
- Ademais, "o herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de
um quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode
livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que
renuncia" (art. 1.808, § 2°, CC/2002);
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- Abertura da sucessão: somente a partir dela é que o herdeiro ou


o legatário adquire direito à herança ou ao legado.

Efeitos:
- o renunciante é tratado como se nunca houvesse sido chamado à
sucessão;

- na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros


herdeiros da mesma classe, e, sendo ele o único desta, devolve-se
aos da subseqüente (direito de acrescer);

- os descendentes do renunciante não herdam por representação na


sucessão legítima; porém, se ele for o único legítimo de sua classe,
ou se todos os outros da mesma classe renunciarem à herança,
poderão os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça;
- na sucessão testamentária, a renúncia do herdeiro torna caduca a
disposição de última vontade que o beneficie, a não ser que o
testador tenha indicado substituto ou haja direito de acrescer
entre Os herdeiros;

- o que renuncia a herança não se encontra impedido de aceitar


legado, e vice-versa; o renunciante pode administrar e ter usufruto
dos bens que, em razão de sua renúncia, forem transmitidos a seus
filhos menores sob pátrio poder.

Retratação: A renúncia é irrevogável. Pode, entretanto, ser anulada


por vício de consentimento, por exemplo.

11 - RESPONSABILIDADE DOS HERDEIROS PELAS DÍVIDAS


- O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da
herança; incumbe-lhe, porém, provar o excesso, salvo se
houver inventário que a escuse, demonstrando o valor dos bens
herdados (arts. 1.792 e 1.821, CC/2002).
- No mesmo sentido, dispõe o art. 597 do CPC: "O espólio
responde pelas dívidas do falecido; mas, feita a partilha, cada
herdeiro responde por elas na proporção da parte que na
herança lhe coube".

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OBS: Seguindo a mesma orientação, vide os arts. 836 e 1.997 do


CC/2002.
- Os quinhões hereditários dos que herdam por direito de
representação não respondem pelas dívidas do representado,
mas apenas pelas do falecido.
- Os bens doados, embora a título de adiantamento de legítima,
não respondem pelos encargos da sucessão (WBM).

12 - HERANCA JACENTE
Conceito: É aquela relativamente à qual não há herdeiro legítimo ou
testamentário notoriamente conhecido.

Casos:
Não havendo testamento: se o falecido não deixar herdeiros
legítimos notoriamente conhecidos;

Havendo testamento: se o herdeiro nomeado não existir ou


renunciar à herança, e se o falecido não deixar herdeiros legítimos
notoriamente conhecidos.
Arrecadação: Nos casos em que a herança se considera jacente, o
juiz da comarca onde o falecido tiver domicílio procederá, sem perda
de tempo (deve-se aguardar o prazo legal de 30 dias a contar da
abertura da sucessão); à arrecadação de todos os seus bens, na
forma prevista nos arts. 1.144 a 1.151 do CPC.

- Não se procederá à arrecadação; ou suspender-se-á esta quando


iniciada, se se apresentar para reclamar os bens o cônjuge, herdeiro
ou testamenteiro notoriamente conhecido e não houver oposição
motivada do curador, de qualquer interessado, do órgão do Ministério
Público ou do representante da Fazenda Pública.

- Ultimada a arrecadação, mandará o juiz expedir edital, que será


estampado 03 (três) vezes, com intervalo de 30 dias para cada um,
no órgão oficial e na imprensa da comarca, para que a habilitar-se os
sucessores do finado no prazo de 6 meses contados da primeira
publicação.

- Julgada a habilitação do herdeiro, reconhecida a qualidade de


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testamenteiro ou provada a identidade do cônjuge, a arrecadação


converter-se-á em inventário.

- A herança jacente ficará sob a guarda e administração de um


curador até a efetiva entrega ao sucessor legalmente habilitado, ou
até a declaração de vacância.

- Enquanto não for nomeado curador, o juiz designará um depositário


e lhe entregará os bens arrecadados, mediante simples termo nos
autos depois de compromissado.

- Habilitação de herdeiro e de credor para receber herança


arrecadada:
1) Até o trânsito em julgado da declaração da vacância:
a) Herdeiro: No prazo de 6 (seis) meses, a contar da primeira
publicação do edital, ou até o trânsito em julgado da declaração
de vacância. Far-se-á nos próprios autos, observando-se o
procedimento dos arts. 1.055 a 1.062 do CPC.
b) Credor: mediante habilitação na forma prevista para o
inventário ou ação direta;

2) Após o trânsito em julgado da declaração da vacância: o


cônjuge, os herdeiros e os credores somente poderão reclamar o seu
direito através de ação direta.

13 - HERANÇA VACANTE
Conceito: "É a que não foi disputada, com êxito, por qualquer
herdeiro e que, judicialmente, foi proclamada de ninguém" (SR).

Declaração da vacância: Após um ano da publicação do primeiro


edital, não havendo herdeiro habilitado nem habilitação pendente.
Pendendo habilitação, a vacância será declarada pela mesma
sentença que a. julgar improcedente. Sendo diversas as habilitações,
deve-se aguardar o julgamento da última. "Quando todos os
chamados a suceder renunciarem à herança, será esta desde logo
declarada vacante" (art. 1.823, CC/2002).

OBS:
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- Para Sílvio Rodrigues a declaração da vacância não confere o


domínio dos bens vagos ao Poder Público; apenas aqueles são
entregues a este, que os conserva em condição semelhante à do
depositário. Para Maria Helena Diniz e Washington de Barros Monteiro
com a declaração da vacância, a propriedade dos bens arrecadados é
transferida sob condição resolutiva, ao Município ou ao Distrito
Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, ou à União,
quando situados em território federal.

- Julgados recentes da 3ª e da 4ª Turmas do STJ parecem considerar


que a propriedade dos bens da herança jacente passa ao Poder
Público com a sentença declaratória da vacância, razão pela qual, até
esse momento, podem os mesmos ser adquiridos por usucapião (DJU
de11/06/2001, p. 196; DJU de 27/11/2000, p. 169).

- Todavia, há julgado proferido em 1994 pela 4ª Turma daquele


Tribunal, no qual decidiu-se que "antes do decurso do prazo do artigo
1594 do CC/16 (correspondente ao art. 1.822 do CC/02), os bens de
herança jacente podem ser adquiridos por usucapião" (STJ, 4ª
Turma, AGA 35437/SP. Rel: Min. RUY ROSADO DE AGUIAR, decisão
de 16/12/1994, DJ de 20/02/1995, p. 3.188).

- Decorridos cinco anos da aberturada sucessão, os bens arrecadados


passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se
localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao do
domínio da União, quando situados em território federal.

Efeitos:
1 - cessação dos deveres do curador;
2 - afastamento da sucessão legítima dos colaterais que não tenham
se habilitado até a declaração de vacância;
3 - entrega dos bens vagos ao Município, Distrito Federal ou União,
conforme o caso;
4 - com a transferência definitiva do domínio dos bens vagos ao
Poder Público, deve este aplicá-los em fundações destinadas a
desenvolver o ensino universitário.

14 - PETICÃO DE HERANCA
Conceito: É a ação que cabe ao herdeiro para demandar o
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reconhecimento de seu direito sucessório, para obter a restituição da


herança, ou de parte dela, contra quem, na qualidade de herdeiro, ou
mesmo sem título, a possua.

Regras:
- Ainda que exercida por um só herdeiro, essa ação pode
compreender a totalidade dos bens hereditários.
- O possuidor da herança está obrigado à restituição dos bens do
acervo, fixando-lhe a responsabilidade segundo a sua posse (de
boa ou de má-fé).
- A partir da citação, a responsabilidade do possuidor se há de
aferir pelas regras concernentes à posse de má-fé e à mora. A
esse respeito, vide o estudo da posse na parte relativa ao
Direito das Coisas.
- O herdeiro pode demandar os bens da herança, mesmo em
poder de terceiros, sem prejuízo da responsabilidade do
possuidor originário pelo valor dos bens alienados. Entretanto,
são eficazes as alienações feitas a título oneroso, pelo herdeiro
aparente a terceiro de boa-fé.
- O prazo para ajuizamento da ação de petição de herança é de
10 (dez) anos, a contar da abertura da sucessão.

II -DA SUCESSÃO LEGÍTIMA


1 - ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA
Conceito: "É a relação preferencial, estabelecida pela lei, das
pessoas que são chamadas a suceder o finado" (SR). Muitos
doutrinadores dizem que se trata do testamento presumido do de
cujus.

Ordem (quadro comparativo):

LEGISLAÇÃO ANTERIOR AO CÓDIGO CIVIL/2002


CÓDIGO CIVIL/2002

1º - Descendentes 1º - Descendentes e cônjuge ou


companheiro.

2º - Ascendentes 2º - Ascendentes e cônjuge ou


companheiro.

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3º - Cônjuge ou companheiro que 3º - Cônjuge sobrevivente.


satisfaça os requisitos do art. 1º,
§ 1º da Lei 8.971/94.

4º - Colaterais até o 4º grau. 4º - Colaterais até o 4º grau.

5º - Municípios, Distrito federal e


União.
OBS: Tinha-se o entendimento
que esses entes, em caso de
vacância da herança, não eram
propriamente herdeiros, não se
aplicando a eles o princípio da
saisine, razão pela qual o Novo
CC não os incluiu na ordem de
vocação hereditária, mantendo-
os, porém, na condição de
beneficiários da herança vacante.

Regra da convocação para suceder: Geralmente, uma classe


somente é chamada quando faltarem herdeiros da classe precedente,
observando-se os seguintes critérios:

LEGISLAÇÃO ANTERIOR AO CÓDIGO CIVIL/2002


CC/02

1º - Se houver descendentes, eles Se houver descendentes e não


herdam a totalidade da herança. houver cônjuge nem companheiro
sucessível, aqueles herdam a
totalidade da herança.
Se houver descendentes e
cônjuge casado com o falecido por
regime diverso da comunhão
universal e da separação
obrigatória, desde que não seja
comunhão parcial em que o autor
da herança não totalidade da
herança haja deixado bens
particulares, tais herdeiros
dividem entre si, segundo
critérios a serem estudados
adiante, a totalidade da herança.
Se houver descendentes e
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companheiro do falecido, tais


herdeiros dividem entre si,
segundo critérios a serem
estudados adiante, a totalidade da
herança.

2º - Não havendo herdeiros da 2° - Não havendo descendentes,


classe dos descendentes, são cônjuge nem companheiro
chamados à sucessão os sucessível, os ascendentes
ascendentes. herdam a totalidade da herança.
Se houver ascendentes e cônjuge
(qualquer que seja o regime de
bens), tais herdeiros dividem
entre si, segundo critérios a
serem estudados adiante, a
totalidade da herança. Se houver
descendentes e companheiro do
falecido, tais herdeiros dividem
entre si, segundo critérios a
serem estudados adiante, a
totalidade da herança.

3º - À falta de descendentes e 3º - À falta de descendentes e


ascendentes será deferida a ascendentes será deferida a
sucessão ao cônjuge sucessão por inteiro ao cônjuge
sobrevivente, se, ao tempo da sobrevivente, se, ao tempo da
morte do outro, não estava morte'do outro, não estavam
dissolvida a sociedade conjugal, separados judicialmente, nem
ou ao companheiro que observe separados de fato há mais de 2
os requisitos da Lei n° 8.971/94. (dois) anos, salvo prova, neste
caso, de que essa convivência se
tornara impossível sem culpa do
sobrevivente.

4° - Se não houver cônjuge 4° - Se não houver cônjuge


sobrevivente nem companheiro sobrevivente nem companheiro
sucessível, serão chamados a sucessível, serão chamados a
suceder os colaterais até o quarto suceder por inteiro os colaterais
grau. até o quarto grau. Se não houver
cônjuge sobrevivente e houver
colaterais e companheiro do
falecido, eles dividirão entre si a
totalidade da herança, segundo
critérios a serem estudados
adiante.

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- vide a 3° regra deste quadro 5° - Não havendo parentes nem


cônjuge sucessível, o
companheiro sobrevivente terá
direito à totalidade da herança.

6º - Não sobrevivendo cônjuge, 6° - Não Sobrevivendo cônjuge,


companheiro ou qualquer parente companheiro ou qualquer parente
sucessível, ou tendo eles sucessível, ou tendo eles
renunciado à herança, esta se renunciado à herança, esta se
devolve ao Município ou ao devolve ao Município ou ao
Distrito Federal, se localizada nas Distrito Federal, se localizada nas
respectivas circunscrições, ou à respectivas circunscrições, ou à
União, quando situada em União, quando situada em
território federal. território federal.

Exceções (sucessão anômala ou irregular):


- A sucessão de bens de estrangeiros situados no Brasil será regulada
pela lei brasileira, em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros,
sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus
(art.5°, XXXI, da CF/88, e art. 10, §1°, da LINJB – antiga LICC).

- À brasileira, casada com estrangeiro sob regime que exclua a


comunhão universal, caberá, por morte do marido, o usufruto vitalício
de quarta parte dos bens deste, se houver filhos brasileiros do casal
ou do marido, e de metade, se não os houver (art. 17 do Decreto Lei
n° 3.200/41).

- Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será


assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o
direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à
residência da família, desde que seja o único bem daquela natureza a
inventariar (art. 1.831, CC/2002).

- O Código Civil, entretanto, não trouxe expresso esse direito real de


habitação ao companheiro sobrevivente ou ao filho portador de
deficiência.

OBS: Enunciado 117 da I Jornada de Direito Civil: “117: O direito real

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de habitação deve ser estendido ao companheiro, seja por não ter


sido revogada a previsão da Lei 9.278, seja em razão da
interpretação analógica do artigo 1.831, informado pelo artigo 6º,
caput, da Constituição Federal”.
- Ainda, impende consignar que a Quarta Turma do Colendo Superior
Tribunal de Justiça, por meio de julgamento do Recurso Especial nº
1.203.144-RS (2010/0127865-4), ocorrido em 27/05/2014, de
relatoria do Ministro Luís Felipe Salomão, em ação de manutenção
de posse ajuizada antes mesmo de eventual pedido expresso de
reconhecimento de união estável, manteve decisão que reconheceu o
direito real de habitação a companheira supérstite.

- A Lei n° 6.858/80, regulamentada pelo Decreto n° 85.845/81


manda pagar, em quotas iguais, aos dependentes habilitados perante
a Previdência Social e, na sua falta, aos sucessores previstos na lei
civil, indicados em alvará judicial, independentemente de inventário e
arrolamento, os seguintes valores não recebidos em vida pelo titular:
a) Quantias devidas pelos empregadores aos empregados, em
decorrência da relação de emprego;
b) Importâncias devidas pelas pessoas jurídicas de direito público
aos respectivos servidores;
c) Saldos das contas individuais de FGTS e PIS/PASEP;
d) Restituições relativas a impostos recolhidos por pessoa física;
e) Saldos de contas bancárias, cadernetas de poupança e contas
de fundos de investimento, desde que inexistam outros bens
sujeitos a inventário e desde que de valor até 500 ORTNs.

2- DESCENDENTES
- São os que primeiro são chamados a suceder o de cujus.
Entretanto; os descendentes podem concorrer à herança com o
cônjuge ou companheiro sobrevivente, conforme regras adiante
consignadas.
- Os filhos sucedem por cabeça (recebem quinhões iguais), e os
outros descendentes, por cabeça ou por estirpe (o quinhão do pré-
morto é dividido entre seus herdeiros), conforme se achem, ou não,
no mesmo grau.

- Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção,


têm os mesmos direitos sucessórios.

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- Os descendentes mais próximos excluem os mais remotos,


ressalvado o direito de representação.

- Os descendentes da mesma classe têm os mesmos direitos à


sucessão de seus ascendentes (art. 1.834).

3 - ASCENDENTES
- Os de grau mais próximo excluem os de grau mais remoto, sem
distinção de linhas (linha paterna e linha materna).

- Havendo igualdade em grau e diversidade de linha, os ascendentes


da linha paterna herdam a metade, cabendo a outra aos da linha
materna.

- No caso da adoção, é recíproco o direito sucessório entre o adotado,


seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e
colaterais até o 4° grau, observada a ordem de vocação hereditária.

- Os ascendentes podem concorrer à herança com o cônjuge ou


companheiro sobrevivente, conforme regras adiante consignadas.

4 - CÔNJUGE
- Conforme já antecipado, o cônjuge herda ab intestato,
independentemente da sua meação - que não é objeto da herança
deixada pelo falecido, em concurso com descendentes e ascendentes
e, não havendo nenhum deles, sozinho.

- Todavia, para que possa participar da sucessão, o cônjuge


sobrevivente não pode estar separado judicialmente, nem de fato por
mais de dois anos do falecido, salvo, neste último caso, se provar que
a convivência se tornara impossível sem culpa sua (do sobrevivente).

- Aqui já se apresenta uma inovação, pois no sistema anterior o


cônjuge só era afastado da sucessão se, ao tempo da morte do de
cujus, não estivesse dissolvida a sociedade conjugal, ainda que
houvesse prolongada separação de fato;

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- A inovação, nesse aspecto, é merecedora de elogios, uma vez que a


prolongada separação de fato, embora continue a não ser causa de
dissolução da sociedade conjugal, indica ruptura dos vínculos afetivos
existentes entre os cônjuges, afastando a presunção de que o
falecido presumivelmente desejaria contemplar o sobrevivente com
parte de seu patrimônio.

- A crítica, entretanto, fica por conta da exceção: salvo se a


convivência se tornou impossível sem culpa do sobrevivente. Se por
um lado, o legislador pretendeu impedir uma eventual punição ao
cônjuge inocente, por outro lado possibilitou o surgimento de
situações de difícil solução, como, por exemplo, a possibilidade de
concorrerem à mesma herança, em conjunto, cônjuge e companheiro
do falecido, além de outros parentes, conforme será abordado mais
adiante. Não bastasse isso, a existência de separação de fato por
mais de dois anos é suficiente para, independentemente de culpa de
quem quer que seja, ensejara decretação do divórcio direto, o que
evidencia efetivo rompimento dos laços afetivos existentes entre os
cônjuges separados de fato.

- Como se vê, a situação é complicada, razão pela qual deveria o


legislador ter afastado a sucessão pelo cônjuge em duas hipóteses:
a) quando, após separação de fato por qualquer prazo e
independentemente do culpado, o falecido houvesse
estabelecido união estável com outra pessoa;
b) quando houvesse separação de fato por mais de dois anos,
ainda que o falecido não tivesse estabelecido união estável
com outra pessoa e ainda que fosse ele o responsável pelo
impossibilidade da convivência.

Ainda sobre a sucessão pelo cônjuge, outras considerações


devem ser feitas:
1°) - Só concorre com descendentes se o regime de bens não for a
comunhão universal (o legislador entendeu que nesse caso não
haveria necessidade), a comunhão parcial sem bens particulares do
falecido (porque, de fato, equivaleria à comunhão universal) e a
separação obrigatória (para não constituir burla indireta à
obrigatoriedade do regime).
- Entretanto, parece haver um contra-senso, pois não incidem
essas restrições quando o cônjuge concorre com ascendentes
do de cujus.
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2°) Concorrendo com descendentes, ao cônjuge sobrevivente caberá


quinhão igual ao dos que sucedem por cabeça, não podendo a sua
quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos
herdeiros com que concorrer.
- Note-se que, ainda que haja descendentes não comuns, se ao
menos um deles também o for do cônjuge sobrevivente, terá
ele direito a, no mínimo, um quarto.
- Ora, apesar de o texto legal não ser claro neste aspecto (art.
1.832, CC), deve prevalecer a interpretação mais benéfica ao
cônjuge, pois não houve restrição expressa ao mínimo de um
quarto na hipótese de existirem descendentes comuns e não
comuns. A lei poderia ter sido mais clara.

3°) Concorrendo com ascendentes em primeiro grau (pais ), ao


cônjuge tocará 1/3 da herança; caber-lhe-á a metade desta se
houver um só ascendente, ou se maior for aquele grau (art. 1.837,
CC).

4°) Cabe ao cônjuge a totalidade da herança, se não houver


descendentes nem ascendentes, ainda que haja colaterais.

5°) Se concorrer com descendentes ou com ascendentes, o cônjuge


ainda terá direito real de habitação sobre o imóvel que sirva como
residência para a família, desde que seja o único dessa natureza a
inventariar, independentemente de sua meação e da parte que lhe
couber na herança, qualquer que seja o regime de bens (art. 1.831,
CC).
- Esse direito, ao contrário do que ocorria na vigência do
CC/1916 não se extingue por novo casamento.

4.1 - QUADRO COMPARATIVO DA SITUACÃO SUCESSÓRIA DO


CÔNJUGE ANTES E APÓS O CÓDIGO CIVIL DE 2002.

LEGISLAÇÃO ANTERIOR AO
CC/02

- se houver descendentes, o - O cônjuge sobrevivente concorre


cônjuge sobrevivente não herda, com os descendentes, salvo se
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ressalvadas algumas hipóteses de casado com o falecido no regime


sucessão anômala. da comunhão universal, da
separação obrigatória de bens,
ou se, no regime da comunhão
parcial, o autor da herança não
houver deixado bens
particulares.
- Em concorrência com os
descendentes, caberá ao
cônjuge quinhão igual ao dos
que sucederem por cabeça, não
podendo a sua quota ser inferior
à quarta parte da herança, se
for ascendente dos herdeiros
com que concorrer.

- Se houver ascendentes, o - O cônjuge sobrevivente concorre


cônjuge sobrevivente não herda, com os ascendentes, qualquer
ressalvadas algumas hipóteses de que seja o regime de bens.
sucessão anômala. Concorrendo com ascendentes em
primeiro grau, ao cônjuge tocará
1/3 (um terço) da herança;
caber-lhe-á a metade desta se
houver um só ascendente, ou se
maior for aquele grau.

- A falta de descendentes e - À falta de descendentes e


ascendentes será deferida a ascendentes será deferida a
sucessão por inteiro ao cônjuge sucessão por inteiro ao cônjuge
sobrevivente. sobrevivente.

- Não se reconhece direitos - Não se reconhece direitos


sucessórios ao cônjuge sucessórios ao cônjuge
sobrevivente apenas se, ao tempo sobrevivente se, ao tempo da
da abertura da sucessão, já abertura da sucessão, eles
estava dissolvida a sociedade estavam separados judicialmente
conjugal. ou separados de fato há mais de
2 (dois) anos, salvo prova, neste
caso, de que essa convivência se
tornara impossível sem culpa do
sobrevivente.

- Ao cônjuge sobrevivente, casado - Ao cônjuge sobrevivente,


sob regime da comunhão qualquer que seja o regime de
universal, enquanto viver e bens, será assegurado, sem

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permanecer viúvo, será prejuízo da participação que lhe


assegurado, sem prejuízo da caiba na herança, o direito real de
participação que lhe caiba na habitação relativamente ao imóvel
herança, o direito real de destinado à residência da família,
habitação relativamente ao imóvel desde que seja o único bem
destinado à residência da família, daquela natureza a inventariar.
desde que seja o único bem
daquela natureza a inventariar.

- O cônjuge viúvo, se o regime de - O novo Código Civil não mais


bens do casamento não era o da estabelece o usufruto vidual em
comunhão universal, terá direito, favor do cônjuge sobrevivente.
enquanto durar a viuvez, ao
usufruto da quarta parte dos bens
do cônjuge falecido, se houver
filhos deste ou do casal, e à
metade, se não houver filhos
embora sobrevivam ascendentes
do de cujus.

5 - COMPANHEIRO
- Primeiramente, a sucessão do companheiro foi disciplinada pelo
Código Civil (art. 1.790) em local bastante distante dos
dispositivos que tratam da ordem da vocação hereditária.
- Essa impropriedade técnica só se justifica pelo fato de que o
projeto original não se referia ao companheiro, tendo sido o
assunto disciplinado, em local impróprio, pelo Congresso
Nacional.
- Melhor seria que tivesse sido disciplinado em conjunto com a
ordem da vocação hereditária e os herdeiros nela incluídos
expressamente pelo Código Civil/2002.
- O companheiro, para herdar, deverá estar convivendo com o
falecido ao tempo da abertura da sucessão (requisito implícito),
sendo que essa herança não prejudicará seu eventual direito à
meação dos bens que se comuniquem (a comunhão parcial é a
regra).
- O companheiro concorre com os descendentes, os ascendentes
e os colaterais do de cujus, ao contrário do que ocorria
anteriormente.
- Com efeito, antes do Código de 2002, o companheiro só
sucedia em não havendo descendentes nem ascendentes

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sucessíveis, recebendo a totalidade da herança ainda que


houvesse colaterais.
- O companheiro, ao concorrer com descendentes, não se
submete às mesmas restrições impostas ao cônjuge em
situação similar (regime de bens).
- Esse o único aspecto em que a sucessão do companheiro se
apresenta em situação mais favorável que a do cônjuge.
- A princípio, o companheiro só participará da sucessão do outro
no que tange aos bens adquiridos a título oneroso na
constância da união estável. É o que estabelece o caput do art.
1.790 do CC/2002.
- Todavia, essa restrição somente se aplica às hipóteses em que
o companheiro sobrevivente concorre com parentes do falecido
(descendentes ascendentes e colaterais).
- A redação do artigo 1.790 do CC/02 estabelece que se o
companheiro(a) concorrer com filhos comuns, terá direito a
uma cota equivalente à que por lei for atribuída ao filho (sem
garantia de no mínimo um quarto) e, se concorrer com
descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do
que couber a cada um daqueles, exclusivamente no que pertine
aos aludidos bens.
- Mais adiante prevê que se concorrer com filhos comuns e
descendentes não comuns do autor da herança, deve-se aplicar
em seu favor a regra mais benéfica, que, aliás, parece decorrer
da literalidade da lei, conforme preconizam Sílvio de Salvo
Venosa e Inácio de Carvalho Neto.
- Todavia, se concorrer com outros parentes do de cujus,
receberá 1/3 da herança (apenas no que tange aos bens
adquiridos a título oneroso na constância da união estável). Por
fim, assiste razão a Nelson Nery, quando leciona que, se não
houver parentes sucessíveis, o companheiro receberá a
totalidade da herança, e não apenas os bens adquiridos
onerosamente na constância da união estável.
- Essa interpretação está de acordo com o art. 1.844 do
CC/2002, segundo o qual a herança só se devolverá ao Poder
Público se não, sobreviver cônjuge, companheiro ou parente
sucessível.
- Diferente é a posição de Inácio de Carvalho Neto e de Sílvio
Rodrigues (atualizado por Zeno Veloso), para quem a sucessão
do companheiro sempre incidirá exclusivamente sobre os bens
adquiridos a título oneroso na constância da união estável.

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- Como se vê, melhorou a situação sucessória do companheiro no


que tange à possibilidade de concorrer com descendentes e
ascendentes, mas piorou no que tange à impossibilidade de
afastar completamente os colaterais.

OBS IMPORTANTE: O STF iniciou dia 31 de agosto de


2016 o julgamento de RE que discute a legitimidade do
tratamento diferenciado dado a cônjuge e a
companheiro, pelo artigo 1790 do Código Civil, para fins
de sucessão. A análise foi suspensa, contudo, por
pedido de vista do ministro Dias Toffoli. Até a data da
suspensão, sete ministros já haviam votado pela
inconstitucionalidade da norma, por entenderem que a
CF garante a equiparação entre os regimes da união
estável e do casamento no tocante ao regime
sucessório.
* Posteriormente, em maio de 2017 o STF concluiu e
DECIDIU POR UNANIMIDADE o julgamento do RE,
DETERMINANDO A INCONSTITUCIONALIDADE DO
TRATAMENTO DIFERENCIADO ENTRE CÔNJUGES E
COMPANHEIROS, igualando as regras de divisão da
herança nas duas situações.
- O recurso teve repercussão geral reconhecida pela
Corte em abril de 2015. .

11.5.1 - QUADRO COMPARATIVO DA SITUACÃO SUCESSÓRIA


DO COMPANHEIRO ANTES E APÓS O CÓDIGO CIVIL DE 2002

- CÓDIGO CIVIL/1916 E LEGISLAÇÃO ANTERIOR AO NOVO


CODIGO CIVIL

1º) Se houver descendentes, o companheiro sobrevivente não herda,


ressalvadas algumas hipóteses de sucessão anômala.

2º) Se houver ascendentes, o companheiro sobrevivente não herda,


ressalvadas algumas hipóteses de sucessão anômala.

3º) À falta de descendentes e ascendentes será deferida a sucessão


por inteiro ao companheiro sobrevivente que preencha os requisitos

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da Lei n° 8.971/94. Havendo companheiro sobrevivente que se


enquadre nessa situação, 'os colaterais do de cujus nada herdam.

4º) Não se reconhece direitos sucessórios ao companheiro


sobrevivente se, ao tempo da abertura da sucessão, já estava
dissolvida a união estável.

5°) Ao companheiro sobrevivente que preencha os requisitos da Lei


n° 8.971/94 é assegurado, enquanto não constituir nova união, o
usufruto da quarta parte dos bens do "de cujus", se houver filhos
dest_ ou comuns, e da metade, se não houver filhos, embora
sobrevivam ascendentes.

6°) Ao companheiro sobrevivente que preencha os requisitos da Lei


n° 9.278/96 é assegurado direito real de habitação.

CÓDIGO CIVIL/2002 - Interpretação do artigo 1.790 após


decisão do STF

O STF concluiu e DECIDIU POR UNANIMIDADE pela


INCONSTITUCIONALIDADE DO TRATAMENTO
DIFERENCIADO ENTRE CÔNJUGES E COMPANHEIROS,
igualando as regras de divisão da herança nas duas
situações.

11.6 - POSSIBILIDADE DO CÔNJUGE CONCORRER À MESMA


SUCESSÃO COM DESCENDENTES

Antes do Código de 2002, por força da Lei n°


8.971/94, impossível se afigurava concorrerem à mesma herança
companheiro e cônjuge sobrevivente. Todavia, agora, existe essa
possibilidade.
Ora, para a caracterização da união estável, o
Código/2002 exige convivência pública, duradoura e contínua entre
homem e mulher com o objetivo de constituir família (praticamente
os mesmos requisitos da Lei n° 9.278/96), desde que entre eles. não
haja impedimento para se casar. Todavia, ressalva que se o
impedimento matrimonial consistir em casamento anterior de um dos
companheiros, ainda assim admitir-se-á a configuração da união
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estável, desde que o casado esteja separado judicialmente ou de


fato, independentemente do prazo.

Por outro lado, o CC/2002 estabelece que um


cônjuge só é afastado da sucessão do outro se estiver separado
judicialmente, ou de fato por mais de dois anos, salvo, neste último
caso, se provar que a convivência se tornou impossível sem culpa sua
(do sobrevivente ).
Pois bem. E se o falecido deixou esposa e
companheira em condições de suceder? A primeira por não estar
separada judicialmente nem de fato por mais de dois anos e a
segunda por estar caracterizada a união estável, embora a separação
de fato do falecido fosse recente.

O CC/2002 não contém solução expressa,


provavelmente porque o legislador não se deu conta de que, pelo seu
texto, poderia haver essa possibilidade de um cônjuge e um
companheiro concorrerem à mesma herança. Diante da omissão da
lei, resta ao intérprete dar a solução para o problema.

Extrai-se do sistema inserido no Código


Civil/2002 as seguintes conclusões:
1 - o cônjuge, quando participa da sucessão com outros herdeiros
legítimos, recebe parte sobre a totalidade da herança;
2 - o companheiro, quando participa da sucessão com outros
herdeiros legítimos, recebe parte sobre os bens da herança
adquiridos a título oneroso na constância da união estável.
Nessas circunstâncias, resta, de início, a
intérprete adotar uma das seguintes linhas de raciocínio:
1ª) ou se garante ao cônjuge parte sobre a totalidade da herança,
inclusive sobre os bens adquiridos onerosamente pelo falecido
durante a união estável, mesmo após, a separação de fato do Casal;
2ª) ou se afasta a possibilidade de o cônjuge participar da sucessão
no que tange a tais bens, relativamente aos quais sucederiam apenas
os demais herdeiros legítimos, inclusive o companheiro sobrevivente.

Das duas opções, a segunda parece ser a


mais justa, pois não seria razoável o cônjuge participar da sucessão
no que tange aos bens adquiridos pelo falecido após a separação de

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fato e durante a união estável estabelecida com outra pessoa.

Logo, se cônjuge e companheiro concorrerem


à mesma herança, será preciso separar-se, dentro do patrimônio do
de cujus, os bens por ele adquiridos a título oneroso na constância da
união estável dos demais.

Aqueles (bens adquiridos onerosamente na


constância da união, estável) submeter-se-ão às regras referentes à
sucessão do companheiro, ainda que em concurso com parentes do
falecido. Os outros bens, submeter-se-ão às regras referentes à
sucessão do cônjuge, ainda que em concurso com parentes do
falecido.

A solução gerará a possibilidade de


concorrerem à sucessão, concomitantemente, cônjuge, companheiro
e colaterais do falecido, embora pela ordem da vocação hereditária o
cônjuge afaste estes últimos.

A situação, como se vê, é complexa, podendo


dar ensejo a inúmeras interpretações. Por isso, seria melhor alterar-
se o novo Código Civil, afastando qualquer possibilidade de cônjuge e
companheiro concorrerem à mesma herança. No mínimo, dever-se-ia
afastar expressamente a possibilidade de o cônjuge separado de fato,
nos casos em que pode suceder, participar da partilha quanto aos
bens adquiridos a título oneroso na constância da união estável
posterior a tal separação.

11.7 - COLATERAIS

- Beneficia apenas até o quarto grau.


- Os mais próximos excluem os mais remotos, ressalvado o direito de
representação concedido aos filhos dos irmãos.
- Concorrendo irmãos bilaterais ou germanos com irmãos unilaterais,
cada um destes receberá a metade do que cada um daqueles herdar.
- Não concorrendo à herança irmão bilateral, herdarão, em partes
iguais, os bilaterais.
- Se com irmão ou irmãos do de cujus concorrerem filhos de irmão
unilateral ou bilateral, terão estes, por direito de representação, a
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parte que caberia ao pai ou à mãe, se vivessem.


- Em falta de irmãos, herdarão os filhos destes e, não os havendo, os
tios. Os sobrinhos, apesar de estarem no mesmo, grau de parentesco
que os tios, herdam com preferência sobre estes.
- Se só concorrerem à herança filhos de irmãos falecidos, herdarão
por cabeça. Se concorrerem filhos de irmãos bilaterais, com filhos de
irmãos unilaterais, cada um destes herdará a metade do que herdar
cada um daqueles. Se todos forem filhos de irmãos 1terais, ou todos
de irmãos unilaterais, herdarão todos por igual.
- Os colaterais podem concorrer à herança com o companheiro
sobrevivente, conforme regras anteriormente consignadas.

11.8 - PODER PÚBLICO

A sucessão pelo Poder Público já foi tratada


anteriormente, quando se discorreu sobre a herança jacente e
herança vacante. O Poder Público não é herdeiro, não lhe sendo
conhecido o direito de saisine.
11.9 - DIREITO DE REPRESENTAÇÃO

Conceito - "Consiste na convocação legal para suceder em lugar de


outro herdeiro, parente mais próximo do finado, mas anteriormente
pré-morto, ausente ou incapaz de suceder, no instante em que se
abre a sucessão" (MHD).

Herdeiros passíveis de representação:


I -na linha reta descendente, ad infinitum;
II- na linha colateral, unicamente em favor dos filhos de irmãos do
falecido, quando com irmão ou irmãos deste concorrerem.

* O direito de representação nunca se dá na linha reta ascendente.

Requisitos:
I - haver o representado falecido antes do de cujus, sido declarado
ausente (nos casos em que se admite a abertura da sucessão
definitiva) ou declarado indigno;
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II - descender o representante do representado;


III - não ocorrer solução de continuidade no encadeamento dos graus
entre representante e sucedido;
IV - ter o representante legitimação para herdar do representado no
instante da abertura da sucessão.
Efeitos:
I - os representantes herdam o que herdaria o representado, se
vivesse;
II - o quinhão do representado partir-se-á por igual entre os
representantes;
III - a quota hereditária do representante não responde pelas dívidas
do representado, mas pelas do autor da herança;
IV - os representantes estão obrigados a trazer à colação o que o
representado deveria conferir, ainda que aqueles não o hajam
herdado;
V - o renunciante à herança de uma pessoa pode representá-la na
sucessão de outra;
VI - o direito de representação só opera em relação à sucessão
legítima;
VII - o representante, parente do de cujus em grau mais remoto,
herdará como se fosse do mesmo grau do representado, afastando
outros parentes, mesmo que sejam de grau mais próximo que o seu.

- DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
1 - TESTAMENTO
Conceito - É o ato revogável pelo qual alguém, de conformidade com
a lei, dispõe, no todo ou em parte, do seu patrimônio, para depois de
sua morte. Pode, entretanto, conter disposições de caráter
extrapatrimonial ou mesmo limitar-se a elas.

Caracteres:
I - revogável;
II - unilateral e personalíssimo;
III - gratuito, admitindo a instituição de encargo;
IV - solene;

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V - produz efeitos após o falecimento do testador.

2 - CAPACIDADE TESTAMENTÁRIA ATIVA


Em regra, todas as pessoas físicas possuem
capacidade para testar, exceto os incapazes e os que, no ato de
testar, não tiverem pleno discernimento. Os maiores de 16
(dezesseis) anos, entretanto, podem testar, independentemente de
assistência.
A capacidade para testar deve ser aferida por
ocasião da confecção do testamento. Assim, a incapacidade
superveniente do testador não invalida o testamento eficaz, nem o
testamento do incapaz se valida com a superveniência da capacidade.

3 - CAPACIDADE TESTAMENTÁRIA PASSIVA

Em regra, todas as pessoas físicas e jurídicas,


existentes ao tempo da morte do testador, que não forem excluídas
por lei, possuem capacidade e legitimação para adquirir por
testamento.

Caso de incapacidade testamentária passiva:


indivíduos não concebidos até a morte do testador. Entretanto,
admite-se que a disposição do testador se refira a: filhos ainda não
concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas
estas ao abrir-se a sucessã06; nascituros; sociedades e associações
com contratos ainda não registrados, que se equiparam ao nascituro
(WBM entende neste sentido. SR tem entendimento em sentido
contrário); e fundações a serem criadas com bens livres dotados pelo
testador.

Casos de falta de legitimação:


a) a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, seu cônjuge,
companheiro, ascendentes, descendentes e irmãos;
b) as testemunhas do testamento;
c) o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua,
estiver separado de fato do cônjuge há mais de 05 (cinco) anos;
d) O tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante
quem se fizer, assim como o que fizer, ou aprovar o testamento.

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São nulas as disposições testamentárias em


favor de pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas
sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta
pessoa. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os
descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheira do não
legitimado a suceder. Entretanto, nada obsta a que se comprove a
interposição feita através de outras pessoas (p. ex.: noivo, amigo ou
primo do não legitimado).
É lícita a deixa testamentária em favor do filho
do concubino, quando também o for do testador casado (Súmula 447
do STF e art. 1.803, CC/2002).

A lei do domicílio do herdeiro ou do legatário


regula a capacidade para suceder (art. 10, §2°, da LlCC).

A capacidade testamentária passiva deve ser


aferida no momento da abertura da sucessão, salvo se tratar de
deixa testamentária condicional, caso em que tal capacidade deverá
ser aferida por ocasião do implemento da condição.

4 - HERDEIROS LEGITIMÁRIOS, NECESSÁRIOS OU


RESERVATÁRIOS

Atualmente, são o cônjuge, os descendentes e os ascendentes'


sucessíveis do de cujus.

Metade disponível e legítima: O testador que


tiver herdeiros necessários, pão pode dispor de mais da metade de
seus bens (metade disponível), eis que a outra metade (legítima ou
reserva) pertence de pleno direito àqueles. Como consequência, os
herdeiros necessários não podem ser excluídos arbitrariamente da
sucessão, salvo nos casos excepcionalíssimos de indignidade e
deserdação. Para excluir os demais herdeiros legítimos (colaterais e
companheiro), basta que o testador disponha de seu patrimônio sem
os contemplar.

Cálculo da legítima: Calcula-se a legítima


sobre o total dos bens existentes na abertura da sucessão, abatidas
as dívidas e. as despesas do funeral, adicionando-se, em seguida, o
valor dos bens sujeitos à colação.
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Acerca da colação, uma observação deve ser


feita: embora o CC/2002 estabeleça que as doações feitas a
descendentes e cônjuge consideram-se adiantamento da legítima
(art. 544) o que implicaria em necessidade de serem conferidas
(colação – art. 2002) - e de o art. 2003 estabelecer que a colação
tem por fim igualar, na proporção legal, as legítimas dos
descendentes e do cônjuge sobrevivente, no art. 2.002 estabelece
que "os descendentes que concorrerem à sucessão do ascendente
comum são obrigados, para igualar as legítimas, a conferir o valor
das doações que dele em vida receberão sob pena de sonegação.”
Apesar de o último dispositivo indicar que
somente os descendentes estariam obrigados à colação, o certo é que
os demais dispositivos mencionados impõem essa obrigação também
ao cônjuge quando concorrer com descendentes, tendo havido mero
lapso do legislador a ser corrigido pelo intérprete (tb. MHD, Sílvio
Rodrigues, atualizado por Zeno Veloso).

Clausulação da legítima: O Código Civil/2002


estabelece que, "salvo se houver justa causa, declarada no
testamento, não pode o testador estabelecer cláusula de
inalienabilidade, impenhorabilidade, e de incomunicabilidade, sobre
os bens da legítima”, não sendo permitido ao testador estabelecer a
conversão os bens da legítima em outros de espécie diversa (art.
1.848, caput e § 1°). O mesmo diploma ainda ressalva que,
"mediante autorização judicial e havendo justa causa, podem ser
alienados os bens gravados, convertendo-se o produto em outros
bens, que ficarão sub-rogados nos ônus dos primeiros" (§2°).

Pode-se indagar se a declaração de causa


exigida pelo art. 1.848 comporta apreciação judicial. Com certeza, a
resposta é afirmativa. Não haveria razão para o legislador exigir
expressa declaração de justa causa, se a mesma não pudesse ser
objeto de declaração judicial. Mesmo porque nossa Carta Magna
assegura o princípio da acessibilidade ao Poder Judiciário, segundo o
qual sequer a lei pode excluir da apreciação desse Poder são ou
ameaça a direito. A ação cabível é de conhecimento e tem natureza
declaratória, posto que o objeto é basicamente a declaração de
nulidade da cláusula testamentária que estabelece indevidamente a
deserdação bona mente. Com efeito, segundo o CC/2002, é nulo o
negócio jurídico quando tiver por objetivo fraudar lei imperativa - a
proteção à legítima tem caráter de norma de ordem pública - e
quando a lei proibira prática do ato, em cominar sanção - a lei proíbe
a deserdação bona mente que não se baseie em justa causa. Apesar
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de se tratar de nulidade absoluta, está a aludida pretensão submetida


ao prazo decadencial de cinco anos, a contar da data do registro do
testamento, já que a aludida ação visa impugnar a validade, ainda
que parcial, do testamento (art. 1.859, CC/2002).

Quanto à porção disponível, não há restrições


para a sua clausulação, visto que essa parte do patrimônio do de
cujus pode, inclusive, ser objeto de disposição em favor de outras
pessoas. Assim, se o testador pode o mais - dispor de sua porção
disponível em favor de outras pessoas, pode também o menos –
simplesmente clausular sua porção disponível ser entregue aos
herdeiros legítimos, ainda que necessários.
Herdeiro necessário a quem o testador deixa
sua metade disponível, ou algum gado - Não perde o direito à
legítima.

5 - DESERDACÃO

Conceito - "É o ato unilateral pelo qual o de cujus exclui da sucessão,


mediante testamento com expressa declaração de causa, herdeiro
necessário, privando o de sua legítima, por ter praticado qualquer ato
taxativamente enumerado no CC".

Requisitos:
1 - existência de testamento válido;
2 - declaração expressa de causa;
3 - comprovação da veracidade da causa alegada pelo testador, por
parte do herdeiro excluído ou daquele a quem aproveite a
deserdação. Sujeita-se ao prazo decadencial de 04 anos, contados da
data da abertura do testamento (art. 1.965, parágrafo único,
CC/2002). Não se provando a causa invocada para a deserdação, é
nula a instituição, e nulas as disposições, que prejudiquem a legítima
do deserdado;
4 - existência de herdeiro necessário. É que, para excluir da sucessão
o companheiro ou parentes colaterais, basta que o testador disponha
do seu patrimônio, sem os contemplar.

Casos:
1 - casos de indignidade, qualquer que seja o herdeiro necessário;
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2 - ofensas físicas, se o herdeiro necessário a ser deserdado for


ascendente ou descendente;
3 - injúria grave, se o herdeiro necessário a ser deserdado for
ascendente ou descendente;
4 - relações ilícitas com a madrasta ou o padrasto, no caso da
deserdação de descendentes pelos ascendentes;
5 - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou neto, ou
com o marido ou o companheiro da filha ou neta, no caso de
deserdação dos ascendentes pelos descendentes;
6 - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave
enfermidade, no caso de deserdação dos descendentes;
7 - desamparado filho ou neto com deficiência mental ou grave
enfermidade, no caso de deserdação dos ascendentes.

* A desonestidade da filha que vive em casa paterna não mais é


elencada entre as causas de deserdação.

* Embora o CC/2002 considere o cônjuge como herdeiro necessário,


deixa de estabelecer casos específicos em que ele poderia ser
deserdado, razão pela qual isso somente será possível nas hipóteses
em que for cabível a exclusão por indignidade. Entretanto, há quem,
como Inácio de Carvalho Neto e Sílvio Rodrigues (atualizado por Zeno
Veloso), sustente, impropriamente, que a deserdação do cônjuge não
seria cabível em nenhuma hipótese.

* Embora muitos doutrinadores critiquem a ausência de dispositivo


que relacione especificamente outros casos de deserdação do
cônjuge, semelhantemente ao que ocorre com os descendentes e
ascendentes, tal omissão legislativa não se mostra tão problemática.
Com efeito, as outras hipóteses (exceto as de indignidade) que dão
ensejo à deserdação dos descendentes e dos ascendentes, se
aplicadas, no que couber, ao cônjuge, podem ensejar a separação
litigiosa, afastando qualquer possibilidade de sucessão. Sendo assim,
se um cônjuge quiser afastar o outro de sua sucessão legítima em
hipóteses como as de adultério, injúria grave, sevícias ou abandono,
poderá fazê-lo, não através da deserdação, mas, sim, através da
separação judicial. De qualquer modo, haveria, no mínimo, uma
utilidade em se admitir a deserdação nesses casos. É que, sendo
personalíssima a ação de separação, em falecendo um dos cônjuges
durante a sua tramitação, o processo se extinguiria sem julgamento
do mérito, possibilitando ao outro participar da sucessão do de cujus.
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Neste caso, a deserdação seria útil.

Efeitos:
1 - o deserdado, com a abertura da sucessão, adquire o domínio e a
posse da herança; com a publicação do testamento, passa a ter
propriedade resolúvel;
2 - não provado o motivo determinante da deserdação, o testamento
produzirá efeitos em tudo o que não prejudique a legítima do
herdeiro necessário;
3 - necessidade de preservar a herança durante a ação movida pelo
beneficiário da deserdação para provar a sua causa geradora,
nomeando-se depositário judicial;
4 - os descendentes do deserdado o representam, como se ele fosse
morto. Esse é o entendimento majoritário.

Revogação: Somente por meio de revogação testamentária. A mera


reconciliação entre o autor da herança e o deserdado não se afigura
suficiente a acarretar a revogação da deserdação.

Distinção entre indignidade e deserdação:


- a indignidade funda-se, exclusivamente, nos casos do art. 1.814 do
CC/2002, enquanto a deserdação repousa na vontade exclusiva do
autor da herança, que a impõe ao ofensor no ato de última vontade,
desde que fundada em motivo legal;
- a indignidade é própria da sucessão legítima, embora alcance o
legatário e o herdeiro testamentário, ao passo que a deserdação só
opera na seara da sucessão testamentária;
- a indignidade priva da herança sucessores legítimos e
testamentários; a deserdação é o meio empregado pelo testador para
excluir da sucessão os seus herdeiros necessários.

6 – REDUCÃO DAS DISPOSICÕES TESTAMENTÁRIAS

Disposição apenas em parte da metade disponível - Entende-se


que o testador instituiu os herdeiros legítimos na parte
remanescente.
Solução a ser adotada quando as disposições excederem a
metade disponível:
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* Deve-se promover a redução das disposições à metade disponível,


observando-se as seguintes regras:
- não havendo previsão do testador - serão proporcionalmente
reduzidas as quotas do herdeiro ou herdeiros instituídos, até onde
baste, e, não bastando, também os legados na proporção do seu
valor;
- havendo previsão do testador - conforme dispuser ele no
testamento, podendo determinar que se inteirem, de preferência,
certos herdeiros ou legatários, caso em que a redução far-se-á nos
outros quinhões ou legados, observando-se, a seu respeito, a ordem
estabelecida acima;
- quando consistirem prédio divisível o legado sujeito a
redução - far-se-á a redução, dividindo-o proporcionalmente;
- quando não for possível tal divisão - se não for possível a
divisão, e o excesso do legado montar a mais de um quarto do valor
do prédio, o legatário deixará inteiro na herança o imóvel legado,
ficando com o direito de pedir aos herdeiros o valor que couber na
parte disponível. Se o excesso não for de mais de um quarto, aos
herdeiros fará tornar em dinheiro o legatário, que ficar com o prédio.
Se o legatário for ao mesmo tempo herdeiro necessário, poderá
inteirar sua legítima no mesmo imóvel, de preferência aos outros,
sempre que ela e a parte subsistente do legado lhe absorverem o
valor.

7 - SUBSTIUIÇÕES

Conceito - "Disposição testamentária em que o testador indica uma


terceira pessoa para receber uma gratificação testamentária, na falta
de um herdeiro, ou legatário, indicado em primeiro lugar, ou após
este".

Regras:
I - o substituto fica sujeito ao encargo ou condição impostos ao
substituído, quando não for diversa a intenção manifestada pelo
testador, ou não resultar outra coisa da natureza da condição, ou do
encargo;
II - é lícito substituir muitas pessoas a uma só, ou vice-versa;
III - o substituto deve ter capacidade para ser instituído em primeiro
grau;

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IV - é uma substituição condicional, podendo ser subordinada a outra


condição, a um termo ou a um encargo;
V - o substituto pode ser nomeado no mesmo testamento em que for
feita a instituição ou em cédula testamentária posterior, desde que
observados os requisitos legais;
VI - é lícito estabelecer substituição com ou sem reciprocidade;
VII - presume-se que a substituição foi determinada para ocaso de o
herdeiro ou legatário não querer ou não poder aceitar a herança ou o
legado, ainda que o testador se refira a apenas uma dessas
alternativas;
VIII - se, entre muitos coerdeiros ou legatários de partes desiguais,
for estabelecida substituição recíproca, a proporção dos quinhões,
fixada na primeira disposição, entender-se-á mantida na segunda.
Se, porém, com as outras anteriormente nomeadas for incluída mais
alguma pessoa na substituição, o quinhão vago pertencerá em partes
iguais aos substitutos.

Espécies:

I - Substituição vulgar ou ordinária - Ocorre quando o testador


designa expressamente uma pessoa que deverá suceder no lugar do
herdeiro ou do legatário que não quis ou não pôde aceitar a
liberalidade. Pode ser singular ou simples (se houver um só substituto
ao herdeiro ou legatário instituído) e plural ou coletiva (se são vários
os substitutos convocados simultaneamente);

II - Substituição recíproca - Ocorre quando o testador institui vários


herdeiros e/ou legatários, declarando-os substitutos uns dos outros;

III – Substituição compendiosa - Constitui um misto de substituição


vulgar e de substituição fideicomissária, eis que se verifica quando o
testador dá substituto ao fiduciário ou ao fideicomissário;

IV - Substituição fideicomissária - Ocorre quando o testador


(fideicomitente) instituí herdeiros ou legatários, impondo a um deles,
o gravado ou fiduciário, a obrigação de, por sua morte, a certo
tempo, ou sob certa condição, transmitir ao outro, que se qualifica de
fideicomissário, a herança, ou legado. O fideicomisso não se confunde
com o usufruto testamentário. A substituição fideicomissária somente

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se permite em favor dos não concebidos ao tempo da morte do


testador, sendo que, se, ao tempo da morte do testador, já houver
nascido o fideicomissário, adquirira este a propriedade dos bens
fideicometidos, convertendo-se em usufruto o direito do fiduciário
(art. 1.952, CC/2002).

Requisitos para sua verificação:


a) dupla vocação;
b) eventualidade da vocação do fideicomissário;
c) sucessividade subjetiva nos bens herdados ou legados;
d) capacidade testamentária passiva do fiduciário e do
fideicomissário;
e) obrigação do fiduciário de conservar a coisa fideicometida para
depois restituí-la ao fideicomissário.

Regras específicas:
a) o fiduciário tem a propriedade da herança ou legado, mas restrita
e resolúvel;
b) o fiduciário é obrigado a proceder ao inventário dos bens
gravados, e, se lhe exigir o fideicomissário, a prestar caução de
restituí-los;
c) se o fideicomissário aceitar a herança ou o legado, terá direito à
parte que, ao fiduciário, em qualquer tempo acrescer;
d) o fideicomissário responde pelos encargos da herança que ainda
restarem quando vier à sucessão;
e) são nulos os fideicomissos além do segundo grau;
f) a nulidade da substituição ilegal não prejudica à instituição, que
valerá sem o encargo resolutório.

Casos de caducidade do fideicomisso:


a) incapacidade testamentária passiva ou exclusão do
fideicomissário; falecimento do fideicomissário antes do testador;
b) falecimento do fideicomissário depois do testador, mas antes do
fiduciário ou, antes da realização do termo ou condição resolutiva do
direito deste último;
c) renúncia da herança ou do legado pelo fideicomissário;

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d) perecimento total do bem sujeito ao fideicomisso, sem culpa ou


dolo do fiduciário.
* Nos três primeiros casos de caducidade do fideicomisso, a
propriedade dos bens gravados consolida-se no fiduciário, salvo se o
testador houver disposto em sentido contrário;
* Salvo disposição em contrário do testador, se o fiduciário renunciar
a herança ou o legado, defere-se ao fideicomissário o poder de
aceitar (art. 1.954, GC/2002).

8- DIREITO DE ACRESCER ENTRE HERDEIROS E LEGATÁRIOS


Conceito- "Consiste no direito do coerdeiro ou co-legatário de receber
o quinhão originário de outro coerdeiro ou co-legatário, que não quis
ou não pôde recebê-lo, desde. que sejam, pela mesma disposição
testamentária, conjuntamente chamados a receber a herança ou o
legado em cotas não determinadas".

Direito de acrescer entre herdeiros


- Requisitos:
1 - nomeação conjunta dos herdeiros na mesma disposição
testamentária;
2 - incidência na mesma herança e ausência de determinação do
quinhão de cada um;
3 – impossibilidade de um dos coerdeiros receberem a herança, nos
casos de premoriência, renúncia, exclusão da sucessão, não
verificação da condição sob a qual foi instituído, desde que o testador
não tenha nomeado substituto.

Direito de acrescer entre legatários


-Requisitos:
1 - nomeação conjunta dos co-legatários;
2 - incidência sobre a mesma coisa, determinada e certa, ou
insuscetível de divisão sem risco de desvalorização;
3 - ausência de determinação da cota de cada legatário;
4 - impossibilidade de um dos co-legatários receber o legado, nos
casos de premoriência, renúncia, exclusão da sucessão, não
verificação da condição sob a qual foi instituído, desde que o testador
não tenha nomeado substituto.

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Consequências do acréscimo:
I - transmissão aos coerdeiros ou co-legatários beneficiados das
vantagens que deveriam caber ao que deixou de herdar;
II - transmissão aos beneficiados das obrigações e encargos que
oneravam o quinhão do que deixou de herdar;
III - impossibilidade de o beneficiário do acréscimo repudiá-lo
separadamente da herança ou legado que lhe caiba, salvo se o
acréscimo comportar encargos especiais impostos pelo testador;
nesse caso, uma vez repudiado, reverte o acréscimo para a pessoa
a favor de quem os encargos foram instituídos.

Destino da cota vaga do nomeado, quando não houver direito de


acrescer:
I - se se tratar de quota de herdeiro instituído, haverá transmissão da
mesma aos herdeiros legítimos;
II - se se tratar de legado, a quota do co-legatário que faltar
acrescerá ao herdeiro ou ao legatário, incumbido de satisfazer esse
legado, ou a todos os herdeiros, na proporção dos seus quinhões, se
o legado se deduziu da herança.

Acréscimo no legado de usufruto:


Legado um só usufruto conjuntamente a duas ou mais pessoas, a
parte do que faltar acresce aos co-legatários. Se, porém, não houver
conjunção entre eles, ou se, apesar de conjuntos, só foi legada certa
parte do usufruto, as cotas dos que faltarem consolidar-se-ão na
propriedade, à medida que eles forem faltando.

9 - DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS

- Regras interpretativas:
a) Quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações
diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da
vontade do testador. Sílvio Rodrigues e Carlos Roberto Gonçalves
entendem que o juiz não pode recorrer a outras fontes, que não o
próprio testamento. Já Maria Helena Diniz tem entendimento diverso,
admitindo a pesquisa a elementos extrínsecos ao instrumento formal
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do testamento.
b) A disposição geral em favor dos pobres, dos estabelecimentos
particulares de caridade, ou dos de assistência pública, entender-se-á
relativa aos pobres do lugar do domicílio do testador ao tempo de sua
morte, ou dos estabelecimentos aí sitos, salvo se manifestamente
constar que tinha em mente beneficiar os de outra localidade. Nestes
casos, as instituições particulares preferirão sempre às públicas.
c) Se o testamento designar dois ou mais herdeiros, sem discriminar
a parte de cada um, partilhar-se-á por igual, entre todos, a porção
disponível do testador.
d) Se o testador nomear certos herdeiros individualmente e outros
coletivamente, a herança será dividida em tantas cotas quantos
forem os indivíduos e os grupos designados.
e) Se forem determinadas as cotas de cada herdeiro, e não
absorverem toda a herança, o remanescente pertencerá aos
herdeiros legítimos, segundo a ordem da vocação hereditária.
f) Se forem determinados os quinhões de uns e não os dos outros
herdeiros, distribuir-se-á por igual a estes últimos o que restar,
depois de completas as porções hereditárias dos primeiros.
g) Dispondo o testador que não caiba ao herdeiro instituído certo e
determinado objeto, dentre os da herança, tocará ele aos herdeiros
legítimos.

- Regras proibitivas:
a) Tem-se por não escrita a designação do tempo em que deva
começar ou cessar o direito do herdeiro, salvo nas disposições
fideicomissárias (proibição de instituição de herdeiro a termo). Aplica-
se somente ao herdeiro, não se estendendo ao legatário. Não invalida
o testamento; nem anula a disposição; acarreta apenas a ineficácia
do termo.
b) É nula a disposição que:
- institua herdeiro, ou legatário, sob condição captatória de que este
disponha, também por testamento, em benefício do testador, ou de
terceiro;
- se refira a pessoa incerta, cuja identidade se não possa averiguar;
- favoreça pessoa incerta, cometendo a determinação de sua
identidade a terceiro, salvo no caso do art. 1.901, I, CC/2002;
- deixe a arbítrio do herdeiro, ou de outrem, fixar o valor do legado,
salvo no caso do art. 1.901, II, CC/2002;

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- favoreça pessoas não legitimadas a suceder, ainda que por


interpostas pessoas.
- Regras permissivas:
a) A nomeação de herdeiro, ou legatário, pode fazer-se pura e
simplesmente, sob condição, para certo fim ou modo, ou por certo
motivo.
b) Admite-se a disposição em favor de pessoa incerta que deva ser
determinada por terceiro, dentre duas ou mais pessoas mencionadas
pelo testador, ou pertencentes a uma família, ou a um corpo coletivo,
ou a um estabelecimento por ele designado.
c) Admite-se a disposição em remuneração de serviços prestados ao
testador, por ocasião da moléstia de que faleceu, ainda que fique a
arbítrio do herdeiro, ou de outrem, determinar o valor do legado.
- Outras regras:
a) O erro na designação da pessoa do herdeiro, do legatário, ou da
coisa legada anula a disposição, salvo se, pelo contexto do
testamento, por outros documentos, ou por fatos inequívocos, se
puder identificar a pessoa ou coisa, a que o testador queria referir-se.
b)A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de
liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade. No caso
de desapropriação de bens clausulados, ou de sua alienação, por
conveniência econômica do donatário ou do herdeiro, mediante
autorização judicial. Além dessas duas exceções à cláusula de
inalienabilidade, a doutrina ainda cita as seguintes:
I - venda do bem clausulado, no caso de extinção do respectivo
condomínio;
II - sub-rogação das cláusulas restritivas para outros bens livres, em
conformidade com o disposto nos arts. 1.103 e ss. do CPC,
combinado com o Decreto-Lei n° 6.777/44. Em qualquer desses
casos, o produto da alienação se converterá em outros bens, sobre os
quais incidirão as restrições apostas aos primeiros. Existe
controvérsia a respeito de eventual impenhorabilidade dos frutos e
rendimentos do bem gravado: I - alguns entendem serem
penhoráveis os frutos e rendimentos, pois a cláusula deve ser
interpretada restritivamente; II - outros entendem que a cláusula
alcança os rendimentos dos bens inalienáveis, tendo em vista sua
finalidade protetiva (Theotônio Negrão, em nota ao art. 650
menciona que: "São impenhoráveis os frutos e rendimentos dos bens
gravados com a cláusula de impenhorabilidade por disposição
testamentária (JTA 104/106), visto serem indisponíveis); III - há os
que entendem serem impenhoráveis os frutos dos bens inalienáveis

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quando o testador assim estipular expressamente (Washington de


Barros Monteiro e Maria Helena Diniz); IV - há, ainda, os que
consideram possível a penhora dos frutos e rendimentos dos bens
inalienáveis, à falta de outros bens, ainda que o testador haja vista o
disposto em sentido contrário, salvo quando tiverem caráter de
alimentos (Sílvio Rodrigues e Philadelpho Azevedo).
- O art. 650, I do CPC, estabelece serem penhoráveis, à falta de
outros bens, os frutos e os rendimentos dos bens inalienáveis, salvo
se destinados a alimentos de incapazes, bem como de mulher viúva,
solteira, desquitada, ou de pessoas idosas.

10 - FORMAS DE TESTAMENTO
10.1 - DISPOSIÇÕES GERAIS
Como já foi dito, o testamento é ato solene,
devendo ser confeccionado com observância das formalidades legais,
vigentes ao tempo de sua elaboração (ato jurídico perfeito), sob pena
de nulidade.
Nosso ordenamento jurídico admite apenas
seis formas de testamento, sendo três delas ordinárias (testamento
público, testamento cerrado e testamento particular), e outras três
especiais (testamento marítimo, aeronáutico e militar).
É proibido o testamento conjuntivo (ou de
mão comum aquele que contém disposições de última vontade feitas
por mais de uma pessoa, no mesmo instrumento), seja ele
simultâneo (aquele em que dois testadores beneficiam, através do
mesmo instrumento uma terceira pessoa), recíproco (aquele em que
dois testadores, num mesmo instrumento beneficiam-se
mutuamente, instituindo herdeiro o que sobreviver) ou correspectivo
(aquele em que dois testadores, num mesmo instrumento, efetuam
disposições testamentárias em retribuição de outras
correspondentes).

10.2 -TESTAMENTO PÚBLICO


Requisitos:
I - ser escrito por tabelião ou por seu substituto legal em seu livro de
notas, de acordo com o ditado ou as declarações do testador,
podendo este servir-se de minuta, notas ou apontamentos;
II - lavrado o instrumento, ser lido em voz alta pelo tabelião ao
testador e a duas testemunhas, a um só tempo; ou pelo testador, se
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o quiser, na presença destas e do oficial.


III – ser o instrumento, em seguida, à leitura, assinado pelo testador,
pela testemunhas e pelo tabelião;
IV - se o testador não souber, ou não puder assinar, o tabelião ou
seu substituto, assim o declarará, assinando, neste caso, pelo
testador, e, a seu rogo, uma das testemunhas instrumentárias;
V - pode ser escrito manualmente ou mecanicamente, bem como ser
feito pela inserção da declaração de vontade em partes impressas de
livros de notas, desde que rubricadas todas as páginas pelo testador,
se mais de uma;
V - o indivíduo inteiramente surdo, sabendo ler, lerá o seu
testamento, e, se não o souber, designará quem o leia em seu lugar,
presentes as testemunhas;
VI - se o testador for cego, seu testamento deve lhe ser lido, em voz
alta, duas vezes; uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e a
outra por uma das testemunhas, designada pelo testador, fazendo-se
de tudo circunstanciada menção no testamento.

Capacidade para testar publicamente:


I - aquele que puder fazer de viva voz as suas declarações, e
verificar, pela sua leitura, haverem sido fielmente exaradas;
II - o inteiramente surdo, sabendo ler, lerá o seu testamento, e se
não o souber, designará quem O leia em seu lugar, presentes as
testemunhas;
III - o cego, a quem só é permitida esta forma de testamento.

10.3 - TESTAMENTO CERRADO, SECRETO OU MÍSTICO


Requisitos:
I - ser escrito pelo testador, ou por outra pessoa, a seu rogo, e por
aquele assinado; pode ser escrito mecanicamente, desde que seu
subscritor numere e autentique, com a sua assinatura, todas as
páginas; pode ser escrito em língua nacional ou estrangeira, pelo
próprio testador, ou por outrem, a seu rogo;
II - ser entregue pelo testador ao tabelião em presença de duas
testemunhas;
III - haver declaração do testador de que aquele é o seu testamento
e quer que seja aprovado;
IV - ser lavrado pelo tabelião, desde logo, o auto de aprovação, na
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presença de duas testemunhas, e lido, em seguida, ao testador e


testemunhas;
V - ser o auto de aprovação assinado pelo tabelião, pelas
testemunhas e pelo testador;
VI - ser o auto de aprovação iniciado imediatamente depois da última
palavra do testador, declarando o tabelião, sob sua fé, que o
testador lhe entregou para ser aprovado, na presença das
testemunhas; passando a cerrar e coser o instrumento aprovado; se
não houver espaço na última folha dó testamento, para início da
aprovação, o tabelião aporá nele o seu sinal público, mencionando a
circunstância no auto;
VII - se for feito por surdo-mudo, deve ser todo escrito por ele e
assinado a sua mão, bem como, ao ser entregue ao oficial, público,
ser escrito por aquele, ante as duas testemunhas, na parte externa
do papel ou do envoltório, que aquele é o seu testamento, cuja
aprovação lhe pede;
VIII - depois de aprovado e cerrado, deve ser o testamento entregue
ao testador, e deve o tabelião lançar, no seu livro, nota do lugar, dia,
mês e ano em que o testamento foi aprovado e entregue;
IX - ser apresentado ao juiz após a morte do testador, que o abrirá e
o fará registrar, ordenando seja cumprido, se lhe não achar vício
externo que o torne eivado de nulidade ou suspeito de falsidade, com
observância do disposto nos arts. 1.125 e seguintes do CPC.

# Se o tabelião tiver escrito o testamento a rogo do testador,


poderá, não obstante, aprová-lo.

Capacidade para testar, através de testamento cerrado:


I - quem souber e puder ler;
II - O surdo-mudo, contanto que escreva todo o testamento, o assine
de sua mão, e ao entregá-lo ao oficial público, escreva, na parte
externa do papel, ou do envoltório, que aquele é o seu testamento,
cuja aprovação lhe pede.

10.4 - TESTAMENTO PARTICULAR, ABERTO OU HOLÓGRAFO


Requisitos:
I - ser escrito de próprio punho ou mediante processo mecânico;
II - se escrito de próprio punho, deve ser lido e assinado por quem o
escreveu, na presença de pelo menos três testemunhas, que o devem
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subscrever; se elaborado por processo mecânico, não pode conter


rasuras ou espaços em branco, devendo ser assinado pelo testador,
depois de o ter lido na presença de pelo menos três testemunhas,
que o devem subscrever;
III – ser escrito em língua nacional ou em língua estrangeira, caso
em que as testemunhas devem compreendê-la;
IV - publicação do testamento em juízo, após a morte do testador,
com citação dos herdeiros legítimos e intimação do MP;
V - ser confirmado, desde que as testemunhas sejam contestes sobre
o fato da disposição, ou, ao menos, sobre a sua leitura perante elas,
e reconheçam as próprias assinaturas, assim como a do testador; se
faltarem testemunhas, por morte ou ausência, e se pelo menos uma
delas reconhecer, o testamento poderá ser confirmado, se, a critério
do juiz houver prova suficiente de sua veracidade; em circunstâncias
excepcionais declaradas na cédula, o testamento particular de próprio
punho e assinado pelo testador, sem testemunhas, poderá ser
confirmado, a critério do juiz;
VI - homologação do testamento pelo juiz, que determinará seu
registro, inscrição e cumprimento.

10.5 - TESTAMENTO MARÍTIMO E AERONÁUTICO


Casos:
- Testamento marítimo: quem estiver em viagem, a bordo de navio
nacional, de guerra ou mercante;
- Testamento aeronáutico: quem estiver em viagem, a bordo de
aeronave militar ou comercial.

* Não valerá o testamento marítimo, ainda que feito no curso de uma


viagem, se, ao tempo em que se fez, o navio estava em porto onde o
testador pudesse desembarcar e testar pela forma ordinária.

Forma: deve ser feito perante o comandante (no marítimo) ou pessoa


por ele designada (no aeronáutico), em presença de duas
testemunhas, por forma que corresponda ao testamento público ou
cerrado. O registro do testamento deve ser feito no diário de bordo
que ficará sob a guarda do comandante, que o entregará às
autoridades administrativas do primeiro porto ou aeroporto nacional,
contra recibo averbado no diário de bordo.
Caducidade: O testamento marítimo ou aeronáutico caducará, se o

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testador não falecer na viagem, nem nos 90 dias subsequentes ao


seu desembarque em terra, onde possa fazer na forma ordinária,
outro testamento.

10.6 - TESTAMENTO MILITAR


Caso: Militares e mais pessoas a serviço das Forças Armadas em
campanha, dentro ou fora do país, assim como em praça sitiada, ou
que esteja de comunicações interrompidas, não havendo tabelião
ou seu substituto legal.

Formas:
I - Na presença de duas, ou três testemunhas, se o testador não
puder, ou não souber assinar, caso em que assinará por ele uma
delas. Se o testador pertencer a corpo ou seção de corpo destacado,
o testamento será escrito pelo respectivo comandante, ainda que de
graduação ou posto inferior. Se o testador estiver em tratamento no
hospital, o testamento será escrito pelo respectivo oficial de saúde,
ou pelo diretor do estabelecimento. Se o testador for o oficial mais
graduado, o testamento será escrito por aquele que o substituir.
Corresponde ao testamento público.
II – Se o testador souber escrever, poderá fazer o testamento de seu
punho, contanto que o date e assine por extenso, e o apresente
aberto ou cerrado, na presença de duas testemunhas ao auditor, ou
ao oficial de patente, que lhe faça as vezes neste mister. O auditor,
ou oficial, a quem o testamento se apresente, notará, em qualquer
parte dele, o lugar, dia, mês e ano, em que lhe for apresentado. Esta
nota será assinada por ele e pelas ditas testemunhas. Corresponde
ao testamento cerrado.
III - Nuncupativo - As mesmas pessoas, estando empenhadas em
combate, ou feridas, podem testar oralmente, confiando a sua última
vontade a duas testemunhas.

Caducidade:
I - quando o testador, após o testamento, estiver 90 dias seguidos,
em lugar onde possa testar na forma ordinária, salvo se esse
testamento for elaborado sob a forma que se assemelha ao
testamento cerrado;
II - no caso do testamento nuncupativo, se o testador não morrer na
guerra, ou convalescer do ferimento.

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11 - CODICILO
Conceito - É o ato de última vontade, pelo qual o disponente faz
disposições especiais sobre o seu enterro, sobre esmolas de pouca
monta a certas e determinadas pessoas, ou, indeterminadamente,
aos pobres de certo lugar, assim como lega móveis, roupas ou jóias,
de pouco valor, de seu uso pessoal. Pelo codicilo ainda se afigura
possível nomear e substituir testamenteiros.

Capacidade ativa - Quem tiver capacidade para testar.

Forma - Escrito particular, datado e assinado pelo disponente.


Revogação - Por atos da mesma espécie; pela superveniência de
testamento, de qualquer natureza, que não o confirme, ou que o
modifique.
Coexistência com testamento - Admissível, desde que posterior a
este, ou confirmado pelo mesmo.

Abertura - Se estiver fechado, deverá ser aberto pelo mesmo modo


que o testamento cerrado.

12 - LEGADO

Conceito - "Disposição testamentária a título singular, pela qual o


testador deixa a pessoa estranha ou não à sucessão legítima um ou
mais objetos individualizados ou uma certa quantia em dinheiro".

Classificação quanto à modalidade:


a) puro e simples - produz efeitos independentemente de qualquer
fato;
b) condicional - se seu efeito estiver subordinado a evento futuro e
incerto, desde que não seja captatório, caso em que será nulo;
c) a termo - se sua eficácia estiver sujeita a evento futuro e certo;
d) modal - se o testador gravar o legado com encargo ou obrigação
do legatário; e) sub-causa ou por certa causa - quando o testador
declara por que fez a liberalidade.

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Caducidade:
I - modificação substancial do bem legado;
II - alienação voluntária da coisa legada, por qualquer título;
III - perecimento ou evicção da coisa legada;
IV - indignidade do legatário;
V - premoriência do legatário;
VI - renúncia do legado pelo legatário;
VII - falecimento do legatário antes do implemento da condição
suspensiva;
VIII - incapacidade ou falta de legitimação do legatário para receber
o legado.

13 - REVOGACÃO DOS TESTAMENTOS


Conceito - É o ato consciente do testador, por meio do qual ele torna
ineficaz o testamento anterior. Não se admite a revogação do
testamento no que tange ao reconhecimento de filho (Lei n°
8.560/92).

Forma - O testamento pode ser revogado pelo mesmo modo e forma


como pode ser feito. No caso específico do testamento cerrado,
considera-se revogado o mesmo quando o testador o abrir ou
dilacerar, ou for aberto ou dilacerado com seu consentimento.

Repristinação do testamento revogado: Somente se for expressa e


manifestada através de novo testamento, com observância das
formalidades legais.

Espécies:
I - expressa - quando o testamento revogatório se referir
expressamente ao revogado, retirando-lhe a eficácia, total ou
parcialmente;
II - tácita - quando o testamento posterior não contém cláusula
revogatória expressa e é, total ou parcialmente, incompatível com o
anterior; quando o testamento cerrado aparecer aberto ou dilacerado
pelo próprio testador, ou por terceiro com o seu consentimento;
III - presumida, legal ou rompimento - superveniência de
descendente sucessível ao testador, que o não tinha, ou não o
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conhecia, quando testou, se esse descendente sobreviver ao


testador; testamento feito na ignorância de existirem outros
herdeiros necessários. Não se rompe, porém, o testamento, em que o
testador dispuser da sua metade, não contemplando os herdeiros
necessários, de cuja existência saiba, ou quando os exclua dessa
parte. Logo, se o testador já tinha um descendente conhecido, a
superveniência de outro não rompe o testamento;
IV - total - quando o testamento anterior é totalmente revogado;
V - parcial - quando a revogação dispor apenas sobre parte do
testamento. Se a revogação for parcial, ou se o testamento posterior
não contiver cláusula revogatória expressa, o anterior subsiste em
tudo que não for incompatível com o posterior.
Caducidade e anulação do testamento revogatório - A revogação
produzirá seus efeitos, ainda quando o testamento, que o encerra,
caduque por exclusão, incapacidade, ou renúncia do herdeiro nele
nomeado; mas não valerá, se o testamento revogatório for anulado
por omissão ou infração de solenidades essenciais, ou por vícios
intrínsecos.

14 - NULIDADE, ANULAÇÃO E INEFICÁCIA DAS DISPOSICÕES


TESTAMENTÁRIAS

“Extingue-se em cinco anos o direito de impugnar a va1idade do


testamento, contado o prazo da data do seu registro” (art. 1.858,
CC). Isso para hipóteses que não sejam de erro, dolo ou coação, por
força do princípio da especialidade.

"São anuláveis as disposições testamentárias inquinadas de erro, dolo


ou coação", sendo que "extingue-se em 04 (quatro) anos o direito de
anular a disposição, contados de quando o interessado tiver
conhecimento do vício" (art. 1.909, CC).

"A ineficácia de uma disposição testamentária importa a das outras


que, sem aquela, não teriam sido determinadas pelo testador" (art.
1.910, CC).

BIBLIOGRAFIA

- DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro; Direito das


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Sucessões. São Paulo: Saraiva;


- idem, Código Civil Anotado. São Paulo: Saraiva;
- CARVALHO, Dimas Messias de e, CARVALHO, Dimas Daniel de.
Direito das Sucessões. Belo Horizonte: Del Rey Editora;
- FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Resumo de Direito Civil.
São Paulo: Malheiros;
- GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: Curso de Direito das
Sucessões. São Paulo: Saraiva;
- GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: Direito das Sucessões.
Sinopses Jurídicas. São Paulo: Saraiva;
- MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil; Direito
das Sucessões. São Paulo: Saraiva;
- NEGRÃO, Theotônio. Código Civil e legislação civil em vigor. São
Paulo: Saraiva;
- NEGRÃO, Theotônio. Código de Processo Civil e legislação
processual em vigor. São Paulo: Saraiva;
- NERY Júnior, Nelson e Rosa Maria de Andrade Nery. Novo Código
Civil e Legislação Extravagante Anotados; São Paulo: Revista dos
Tribunais;
- PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, vol. VI.
Rio de Janeiro: Forense;
- RAFFUL, Ana Cristina. A Reprodução Artificial e os direitos da
Personalidade; São Paulo: Themis Livraria e Editora;
- RODRIGUES, Sílvio. Direito civil; Direito das Sucessões. São Paulo:
Saraiva;
- VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil; Direito das Sucessões. São
Paulo: Atlas;
- WALD, Amoldo. Curso de Direito Civil Brasileiro; Direito das
Sucessões. São Paulo: Revista dos Tribunais.

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