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Giovanni Alves
Gráfico 1
Taxa de lucratividade nos países capitalistas centrais
(1855-2009)
Gráfico 2
Trajetória da Taxa de Lucro no Países Capitalistas Centrais
(1870-2008)
movimentos contratendenciais
aumento da taxa de exploração
(mais-valia relativa + mais-valia absoluta)
novos mercados
desvalorização do capital constante
(novo imperialismo)
(complexo industrial-militar)
Estado neoliberal
Fundo Público
deslocamentos de contradições
financeirização do capital
acumulação por espoliação
barbarie social
capital variável
A desmedida do valor
1
Desenvolvemos o conceito de maquinofatura em Alves (2013). Entendemos por maquinofatura, a
terceira forma de produção do capital, depois da manufatura e grande indústria.
2
Nesta passagem do “Prefácio” ao seu primeiro livro de crítica da economia política - “Contribuição à
Crítica da Economia Política”, de 1858, Karl Marx nos deixa preciosos elementos metodológicos que iriam
fundamentar o materialismo histórico. Prossegue ele: “A transformação que se produziu na base económica
transtorna mais ou menos, lenta ou rapidamente, toda a colossal superestrutura. Quando se consideram tais
transformações, convém distinguir, sempre, a transformação material das condições económicas de
produção — que podem ser verificadas, fielmente, com a ajuda das ciências físicas e naturais — e as formas
jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas, sob as quais os
homens adquirem consciência desse conflito e o levam até ao fim. Do mesmo modo que não se julga o
indivíduo pela ideia que de si mesmo faz, tampouco se pode julgar uma tal época de abalos pela consciência
que ela tem de si mesma. Ê preciso, ao contrário, explicar esta consciência pelas contradições da vida
material, pelo conflito que existe entre as forças produtivas sociais e as relações de produção. Uma
sociedade jamais desaparece antes que estejam desenvolvidas todas as forças produtivas que possa conter,
e as relações de produção novas e superiores não tomam jamais seu lugar antes que as condições materiais
de existência dessas relações tenham sido incubadas no próprio seio da velha sociedade. É preciso, ao
contrário, explicar esta consciência pelas contradições da vida material, pelo conflito que existe entre as
forças produtivas sociais e as relações de produção. Uma sociedade jamais desaparece antes que estejam
desenvolvidas todas as forças produtivas que possa conter, e as relações de produção novas e superiores
não tomam jamais seu lugar antes que as condições materiais de existência dessas relações tenham sido
incubadas no próprio seio da velha sociedade. Eis por que a humanidade não se propõe nunca senão os
problemas que ela pode resolver, pois, aprofundando a análise, ver-se-á, sempre, que o próprio problema
só se apresenta quando as condições materiais para resolvê-lo existem ou estão em vias de existir.” (Marx,
1983).
modernização histórica. A explicação marxiana da desmedida do capital parte do
princípio de que, “quanto maior é a força produtiva do trabalho, menor é o tempo de
trabalho requerido para a produção de um artigo, menor a massa de trabalho nele
cristalizada e menor seu valor” (Marx, 1996).
Portanto, de acordo com a teoria do valor-trabalho de Marx, a grandeza de valor
de uma mercadoria varia na razão direta da quantidade de trabalho que nela é realizada e
na razão inversa da força produtiva desse trabalho. Assim, a desmedida do valor possui
como base material a redução progressiva da grandeza de valor cristalizada numa
mercadoria por conta do aumento da força produtiva do trabalho. O "salto mortal" da
força produtiva do trabalho no capitalismo tardio alavancou o fenômeno da desmedida
do valor, produzindo o que denominamos de expansão/negação do valor (Alves, 2018).
O capitalismo tardio se caracterizou, de modo inédito na história humana, pela
ocorrência de duas revoluções industriais em pouco mais de cinquenta anos de
desenvolvimento capitalista: a Terceira Revolução Industrial e a Quarta Revolução
Industrial. Elas promoveram significativas mudanças tecnológicas que impulsionaram o
aumento da força produtiva do trabalho e a redução do tempo de trabalho necessário para
a produção das mercadorias com impactos decisivos na formação do valor. Essa mutação
orgânica da base técnica do sistema produtor de mercadorias, o aumento do capital fixo
na produção de valor e, por conseguinte, a redução do capital variável, ou ainda a maior
presença do trabalho morto em detrimento da redução – em termos relativos, mas não
absolutos – do trabalho vivo na esfera de produção do valor, teve impactos históricos na
composição orgânica do capital, levando à operação de movimentos contratendenciais à
queda da taxa média de lucros (o que verificamos com a crise do capitalismo tardio).
Deste modo, o primeiro elemento do fenomeno da “desmedida do valor” é a
redução do quantum de trabalho utilizado como fator decisivo da produção de riqueza.
Até a grande indústria, a massa de tempo de trabalho, o quantum de trabalho vivo, é o
elemento decisivo na produção da riqueza – o valor econômico. Com o fenomeno da
desmedida do valor, tempo de trabalho deixará de ser a "medida do movimento". Diz
Marx nos Grundrisse:
"[...] Mas à medida em que a grande indústria se desenvolve, a criação da riqueza
efetiva se torna menos dependente do tempo de trabalho e do quantum de trabalho
utilizado, do que da força dos agentes (Agentien, agentes materiais - GA) que são postos
em movimento durante o tempo de trabalho (...)" (Marx, 2013)
Extraindo as consequencias lógico-dialéticas dos extratos escritos por Marx nos
“Grundrisse”, Ruy Fausto observa que, nesse caso, a “valorização” não é mais a
cristalização de um tempo posto. Ela se dá no tempo, mas o tempo volta à sua
imediatidade. Enfim, a "valorização" se liberta do tempo de trabalho, mas com isto ela
não será mais valorização. E volta a citar Marx, prosseguindo a passagem acima:
O “poder” que escapa do tempo como medida, altera a relação entre tempo de
trabalho-tempo de vida como tempo disponivel (valor humano). Na maquinofatura, as
novas máquinas capitalstas, expressões da força produtiva da sociedade, contém a
possibilidade concreta do homem se relacionar como guardião e regulador do próprio
processo de produção. Entretanto, a relação-capital cristalizada nas relações de produção
capitalistas, como observou o velho Marx, entravam a manifestação da riqueza efetiva.
Desmedida do valor
(“negação” do capital no interior do capitalismo)
Entretanto, “Os ‘Grundrisse’ nos põem diante do mesmo movimento, só que eles
consideram não os efeitos formais imediatos de uma mecanização crescente, mas os
efeitos materiais anunciando revoluções formais, de uma mecanização que deu origem a
uma transfiguração da relação da ciência para com a produção. Estamos, assim, diante de
uma verdadeira transformação - como vimos, o termo se encontra no texto - do processo
produtivo, de uma mutação tecnológica, e os efeitos formais considerados não atingem
apenas o nível, que é afinal, fenomênico, da taxa de lucro, mas os ‘fundamentos’ do
sistema. A mutação tecnológica não produz contradições internas no sistema, ela provoca
a explosão de suas bases. O resultado é a relação do que é a ‘verdadeira riqueza’.” (Fausto,
1989).
[Autocentramento Exótico]
Financeirização da riqueza capitalista
O fardo do capital
Referências bibliográficas