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Maria e a nossa luta - Trajetórias antimanicomiais e as heranças de Maria de Fátima

Fischer

Por Matheus Henrique

O DAPsi - Maria de Fátima Fischer, em conjunto com trabalhadores(as) e usuários(as)


de saúde mental, abre nessa semana (13 de maio - 18 de maio) a IV Semana Louca
Vida. Esse evento faz parte dos movimentos de luta antimanicomial em todo o país que
se articulam em alusão ao dia 18 de maio, dia da luta antimanicomial.

Tendo isso em vista, afirmamos aqui a importância de uma prática que estabalece
responsabilidade e compromisso ético-político dos(as) estudantes de Psicologia com o
movimento antimanicomial. É necessário operarmos ferramentas a partir do movimento
estudantil para problematizarmos os manicômios, não só enquanto concretizado em um
"lugar de confinamento da loucura", mas também nos discursos que operam nas práticas
técnico-científicas capilarizadas em nossa sociedade. Importa nesse fazer pensarmos
sobre um saber-poder que deixa de lado as formas complexas pelas quais os fenômenos
humanos se dão e pautam-se em uma ideia disciplinar que agencia verdades universais
ditas à luz do racionalismo científico, que por sua vez relegam a loucura a condição de
"anormalidade" ou "irracionalidade". Ao questionar esse lugar de exclusão dado à
loucura, nos confrontamos com uma dimensão sócio-histórica e política da sociedade
brasileira que está alinhada com a afirmação do sujeito homem-hétero-branco-europeu-
burguês-racional perante outras formas singulares de ser-estar que acabam sufocadas e
oprimidas na teia das estruturas opressoras, estas que articulam as instituições aos
projetos hegemônicos de governo dos corpos.

Marcar esse lugar da militância antimanicomial é um caminho que nos coloca frente a
frente com os desafios de se fazer política em um tempo de tantos retrocessos como este
que estamos vivenciando a partir do golpe parlamentar. Não ignoramos, que além dessa
situação em particular, devido a constituição histórica das estruturas opressoras - e
principalmente em como o sistema capitalista de alguma forma agencia essas estruturas
e captura os movimentos de resistência em pautas válidas só a partir do capital - já fosse
difícil militar e transformar nossa sociedade. São desafios de um mundo onde a
democracia direta é sempre frágil por ser mais fácil (e ser projeto de grupos específicos)
pensarmos dentro dessa democracia representativa de estado, que a grosso modo, é uma
democracia ditada pela burguesia. Pensar a loucura nessas condições, é também pensar
sobre investimentos em saúde pública e em práticas de cuidado implicadas política e
eticamente com a realidade sócio-histórica de nossa sociedade, é pensar como lutar
contra um sistema que fragiliza o Sistema Único de Saúde para em ressonância
fortalecer os impérios da saúde privada e todos os outros impérios que de alguma forma
estão também nessa teia articulados.

Apesar dos desafios, vemos como afirmação de luta os diálogos que nos ensinam a
resgatar esse devir transformador compartilhado e herdado do movimento de luta
antimanicomial. É então, a partir desse olhar, que invocamos a figura de Maria de
Fátima Fischer. Aquela Maria que se faz presente nessas andanças de Unisinos, uma
mulher-professora-psicóloga-militante-intelectual-amiga - dentre outras muitas
singularidades - que trás até nós essa sabedoria imantada com suas experiências de vida
e de luta. Falo aqui sobre a oportunidade que tivemos de nos deixarmos imantar por
esse encontro e documentar isso numa entrevista na qual ela nos traz essa trajetória e
nos permite refletir novamente sobre que tipo de papel a Psicologia pode ter na
sociedade e quais as formas de nos fortalecemos diante de um mundo que nos quer
"normais" dentro de suas várias "verdades" hegemônicas, e que além disso nos quer
produtivos, operantes.

Em resumo, temos no relato uma Maria que se faz presença ativa em sua própria
trajetória, que afirma liberdades, que nos ensina a lutar e nos ensina a transformar o
mundo, nem que seja nos pequenos detalhes, nem que seja através de um pequeno
sorriso de alegria.

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