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Metodologia do Ensino
de Matemática
Florianópolis, 2008
Universidade Federal de Santa Catarina
Consórcio ReDiSul
Comissão Editorial
Antônio Carlos Gardel Leitão
Albertina Zatelli
Elisa Zunko Toma
Igor Mozolevski
Luiz Augusto Saeger
Roberto Corrêa da Silva
Ruy Coimbra Charão
Coordenação Pedagógica das Licenciaturas à Distância UFSC/CED/CFM
Coordenação: Roseli Zen Cerny
Núcleo de Formação
Responsável: Nilza Godoy Gomes
Ficha Catalográfica
F634m
Flores, Cláudia Regina
Metodologia do ensino de matemática / Cláudia Regina Flores, Méricles
Thadeu Moretti. - Florianópolis : UFSC/EAD/CED/CFM, 2008.
109p.
ISBN 978-85-99379-53-0
CDU 51:37
1 O conhecimento matemático:
produção e prática pedagógica���������������������������������������� 9
Introdução��������������������������������������������������������������������������������������11
1.1 Racionalismo e Empirismo: a origem do conhecimento����12
1.2 Modos de conceber e praticar o ensino de matemática�����16
1.3 O Fazer matemático numa perspectiva
histórica segundo Ubiratan D’Ambrósio���������������������������� 23
1.4 A guisa de conclusões: enfim as finalidades
para o ensino da matemática������������������������������������������������24
Os autores
7
1 O conhecimento
matemático: produção e
prática pedagógica
1 O conhecimento matemático:
produção e prática pedagógica
Introdução
Leia o texto abaixo. Discuta no fórum com seus colegas, levan-
do em consideração o que cada texto oferece como panorama de
crenças acerca da matemática e de seu ensino.
11
1.1 Racionalismo e Empirismo:
a origem do conhecimento
Se para iniciarmos o debate, a questão fosse aquela sugerida na
epígrafe deste capítulo “o que é realmente a matemática?”, talvez
nos deparássemos com respostas como: “a matemática justifica-se
pelas aplicações práticas”; “a matemática é exata”; “a matemática
é abstrata”; “a matemática é inata ao sujeito”; “a matemática é ins-
trumento para compreender e ler a realidade”. Respostas destes
tipos implicam em concepções que poderiam ser, então, associa-
das às diferentes visões de matemática fornecidas anteriormente
para discussão com seus colegas.
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da consciência – os objetos são criados pelo pensamento. O pen-
samento, portanto, é a única realidade e a razão se firma em opo-
sição ao objeto e ao mundo exterior.
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Enfim, disso decorrem algumas das concepções em torno da ori-
gem do conhecimento matemático como sendo primordialmente
um campo de conhecimento exato, objetivo, formal, racional, uni-
versal. Isso se dá basicamente por meio da concepção platônica de
matemática, onde as idéias passam a ter existência absoluta, inde-
pendentemente do pensamento, caracterizando-se por uma visão
estática, a-histórica e dogmática das idéias matemáticas. Isso sig-
nifica que o conhecimento matemático não é inventado ou cons-
truído pelo homem, mas ele apenas pode, por meio da intuição e
da reminiscência, descobrir as idéias matemáticas que preexistem
em um mundo ideal e que estão adormecidas em sua mente.
S egundo Platão, lembran-
ça do que a alma contem-
plou em uma vida anterior,
quando, ao lado dos deu-
ses, tinha a visão direta das
A concepção aristotélica, por sua vez, reabilita o trabalho do ho-
idéias; anamnese.
mem, dando mais atenção à estrutura lógica dos sistemas de pro-
posições matemáticas, bem como das demonstrações. Isso semeia
as primeiras idéias da Lógica Formal.
Platão Aristóteles
↓ ↓
Racionalismo: Empirismo:
o conhecimento vem o conhecimento vem
de idéias inatas as do mundo exterior
quais portamos. pela experiência.
↓ ↓
Pedagogia do Pedagogia do
sujeito objeto
↓ ↓
Professor parteiro Professor organizador
14
Construtivismo: O
conhecimento vem do
mundo exterior pela ex-
periência que modifica
os esquemas inatos.
↓
Pedagogia da dialética
sujeito/objeto
↓
Professor mediador
15
O s conhecimentos considerados na escola
como universais, como verdades absolu-
tas, implicam na inserção da objetividade, da
abstração, da racionalidade da aprendizagem,
bem como da forma de ensinar.
16
modelo euclidiano e da concepção platônica. Isso significa que
se entende a matemática e seu processo de ensino e de aprendi-
zagem, como um campo de conhecimento que se estrutura pela
sistematização lógica do conhecimento matemático a partir de
elementos primitivos (definições, axiomas, postulados), sem atri-
butos contextualizados, ou seja, estática, a-histórica e dogmática.
A prática pedagógica é caracterizada, portanto, por um ensino
acentuadamente livresco e centrado no professor.
17
Esta tendência ganhou espaço, a partir da década de 1920, por
negar ou pelo menos se opor à escola clássica tradicional que,
entre outras, não considerava a natureza da criança. O currículo
era, então, organizado a partir dos interesses do aluno e deve-
ria atender ao seu desenvolvimento psicobiológico. Os métodos
de ensino consistem nas ‘atividades’ desenvolvidas em pequenos
grupos, com rico material didático e em ambiente estimulante
que permita a realização de jogos e experimentos ou o contato
– visual e táctil – com materiais manipulativos. A finalidade da
educação era, portanto, de desenvolver a criatividade e as poten-
cialidades e interesses individuais.
18
matemáticos era o que predominava enquanto modo de se rela-
cionar com o conhecimento. Em ambas, a significação histórico-
cultural ficou em segundo plano.
19
justificar/provar. Há, portanto, uma dupla concepção: por um lado
o modo de se conceber a Matemática, que é uma concepção forma-
lista-estrutural e, por outro, o modo de se conceber o processo ensi-
no-aprendizagem, que é voltado para uma concepção tecnicista.
A tendência construtivista é caracterizada, portanto, por priori- O erro, por exemplo, passa
a ser visto não como algo
zar no ensino mais o processo de aprendizagem que o produto negativo, mas como uma
do conhecimento. Há, então, uma preocupação com o modo que a manifestação positiva de
criança aprende ou constrói determinados conceitos matemáticos, grande valor pedagógico.
e em como desenvolver atividades ou materiais potencialmente
ricos que possibilitem a construção de conceitos ou o desenvolvi-
mento de estruturas cognitivas.
A Matemática, por sua vez, é vista como um construto que re- Teoria empirista
que sustenta que o
sulta da interação dinâmica do homem com o meio. Isso quer conhecimento só é possível
dizer que, concebe-se que o conhecimento matemático não se mediante os recursos da
origina nem diretamente do mundo físico, nem de mentes hu- experiência e dos sentidos.
manas isoladas, mas sim da ação interativa/reflexiva do homem
com o ambiente e/ou com as atividades. Teoria racionalista
20
• O conhecimento é ativamente construído pelo sujeito que
conhece e não passivamente recebido pelo ambiente;
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Neste caso, a finalidade do ensino da matemática é a desmistifi-
cação e a compreensão da realidade, ou seja, entendendo a pro-
dução do conhecimento oriunda de contextos culturais diversos,
de problemáticas colocadas por sociedades, saber a matemática
escolar passa a ter o objetivo maior de proporcionar ao aluno uma
postura crítica frente à realidade, capaz de formular problemas
utilizando o pensamento lógico, a criatividade, as diversas for-
mas de representações e linguagens matemáticas.
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e, portanto, a forma especial de leitura de mundo. A metodologia
de ensino dá-se a partir de uma construção criativa e idiossincráti-
ca que o professor produz ao articular suas visões de mundo, suas
opções diante da vida, da história e do cotidiano.
23
1.4 A guisa de conclusões: enfim as finalidades
para o ensino da matemática
Saber o porquê e para que ensinar matemática, assim como quais
conteúdos da matemática devem ser valorizados no ensino têm
sido uma constante indagação entre nós educadores matemáti-
cos. No entanto, pensar sobre tal indagação significa adentrar em
questões políticas, sociais e culturais da Educação.
24
D esde a Antiguidade grega, a matemática é
considerada, além de uma simples técni-
ca, ou uma ferramenta para solucionar proble-
mas, como um sistema teórico, uma filosofia,
uma ciência rainha, uma força mental divina
e universal para a humanidade (GIMÉNEZ;
SANTOS; PONTE, 2004).
25
entendimento da linguagem percentual e dos índices, a noção de
volume, de áreas e de outras medidas, a percepção de número em
contextos diversos, ou seja, toda a forma da matemática que a faz
instrumento de comunicação e expressão complementar à língua,
possibilitando o desenvolvimento crítico, reflexivo e indagativo.
Ademais, a matemática deve ser vista como saber ligado às de-
mais áreas de conhecimento, por exemplo, a história, a geografia,
a ciência, as artes, a economia, entre outras, o que faz com que se
estabeleçam laços interdisciplinares.
Procure compreender o que
é a interdisciplinaridade no
Esta finalidade está associada, portanto, à exploração dos domí- contexto escolar. Para tanto
nios utilitários e científicos da matemática. Para além desta, há você pode ler, por exemplo,
que se considerar, no ensino, o desenvolvimento de conhecimen- PIRES, C. M. C. Currículos
de Matemática: da
tos e habilidades matemáticas de modo que favoreça o progresso organização linear à idéia
intelectual do educando, o que se constitui como uma outra fina- de rede. São Paulo:FTD,
2000, pp. 74-80.
lidade para o ensino da matemática.
26
A educação, entendida como um processo de desenvolvimento
global e de integração em uma visão de totalidade, permite fazer
da matemática um componente importante na construção da ci-
dadania, uma vez que a sociedade em constante modificação, in-
sere novas formas de ver, de pensar, de ler e de se relacionar com
o mundo e com os seres. Nessa perspectiva há que se considerar
a matemática como uma atividade que envolva a construção e
apropriação de conhecimentos, excluindo preconceitos reforçados
na escola de que a matemática é um conteúdo pronto e acabado,
bastando em si e que se relaciona muito pouco com a vida dos
alunos, ou com outras áreas do conhecimento.
Resumo
Para sintetizarmos o que foi discutido até então, destacamos a fra-
se a seguir.
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Concepção de matemática Concepção de ensino-aprendizagem
- Imposição autoritária de um professor que
é detentor do saber.
- O aluno aprende através da memorização de
Ciência exata, logicamen-
fatos, regras ou princípios transmitidos pelo
te organizada e a-históri-
professor ou pela repetição exaustiva de
ca ou pronta e acabada.
exercícios.
- O sucesso representa um critério de avaliação.
- Os conteúdos são abstratos.
- O aluno aprende construindo os conceitos a
Ciência viva, dinâmica partir de ações reflexivas sobre materiais e
e historcamente sendo atividades, ou a partir de situações-problema
construída pelos homens, e problematizações do saber matemático.
atendendo interesses e - O ambiente de aprendizagem é de interação
necessidades sociais. entre aluno, saber e professor.
- Os conteúdos são significados e construídos.
Leitura Complementar
D’AMBROSIO, Ubiratan. Educação Matemática: da teoria à prática.
Campinas, SP: Papirus, 1996.
Referências
CHACÓN, I. M. G. Matemática Emocional: Os afetos na aprendizagem
matemática. Porto Alegre: Artmed, 2003.
28
GIMÉNEZ, J.; SANTOS, L; PONTE, J. P. da (Coords.). La actividad
matemática en el aula: Homenaje a Paulo Abrantes. Barcelona: Editorial
GRAÓ, 2004.
29
2 O conhecimento
matemático na escola
2 O conhecimento matemático
na escola
Tem sido uma crítica muito freqüente feita aos conteúdos escolares
o fato de se tratar de conceitos muito distanciados dos problemas da
realidade de cada educando. Tal crítica se torna ainda mais gritan-
te diante da constatação de que, para muitos problemas do cotidia-
no, o educando apresenta um conhecimento específico que viabiliza
a superação do problema colocado e, quando o conhecimento aí
utilizado é transposto para a esfera escolar, o aluno passa a ter difi-
culdade na sua apropriação. (GIARDINETTO, 1999, p.51)
Introdução
A matemática, seja concebida como aparato técnico para resolver
as problemáticas cotidianas de uma sociedade, seja como área de
estudo que permite o desenvolvimento das estruturas mentais,
do raciocínio lógico, ou ainda, como linguagem de comunicação e
acesso aos diversos conhecimentos que se criam na atualidade, é
considerada disciplina escolar. Há aqui uma dupla mão de racio-
cínio: de um lado a matemática enquanto conhecimento científico
e, de outro, enquanto conhecimento escolar. Como foi possível a
matemática tornar-se objeto de ensino na escola? E qual matemá-
tica é, de fato, ensinada na escola? Como ter acesso e apreender o
conhecimento matemático necessário na atualidade? É sobre es-
tas questões que este capítulo irá decorrer.
33
2.1 Matemática: um breve histórico
do ensino no Brasil
Estudar como e porque a matemática tornou-se disciplina escolar
é uma tarefa bastante árdua e complexa. Bem por isso diversos
estudos, e por caminhos variados, se debruçaram nesta temática
na tentativa de explicar tal inserção. Iremos nos deter aqui, tão
somente, num breve histórico do ensino da matemática no Brasil,
destacando os diversos períodos históricos para ver como a ma-
temática foi aos poucos sendo incorporada nos meios escolares,
constituindo-se enfim, como disciplina escolar.
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No início da década de 1930, sob o governo de Vargas, foi promo-
vida uma reforma educacional. Observa-se, dentre os objetivos
dessa reforma, a intenção de dirigir uma educação escolar para a
classe média, agora não mais exclusivamente elitista. A reforma
organizou o currículo seriado para o ensino secundário, reunin-
do as disciplinas matemáticas, antes isoladas, em uma só, deno-
minada de Matemática. Desta forma, desapareceram os velhos
textos de aritmética, álgebra, geometria e surgiram os programas
escolares e os livros didáticos. As publicações de livros didáticos
passaram a ser nacionais, porém inspirados em trabalhos de au-
Faça uma pesquisa na tores europeus, principalmente nos clássicos franceses.
internet para saber a
biografia de Euclides
Roxo e seu papel na
Vale aqui ressaltar que esta reforma ocorreu no contexto do Mo-
Educação Matemática. vimento da Escola Nova e foi idealizada pelo professor Euclides
Você pode procurar em Roxo que, impondo nacionalmente por decreto, sem possibilida-
Wagner Rodrigues Valente
que é um pesquisador des de discussão e participação dos professores, não encontrou
que publicou sobre esta respaldo na elite, sofrendo muitas críticas e reações. Por conse-
questão. qüência, a disciplina matemática caracterizou-se pela justaposição
dos conteúdos, que continuaram a ser ensinados separadamente,
seguindo o mesmo modelo pedagógico tradicional.
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baseado em novas propostas, deixando-se de lado as seqüências
de regras, a ênfase na memorização, o adestramento intensivo dos
algoritmos. Também, as preocupações com a teoria dos conjun-
tos e com as estruturas algébricas da matemática moderna foram
abandonadas.
36
didatizada, nem numa construção autônoma da escola (MOREI-
RA e DAVID, 2005). Por isso, diversos estudos contemporâneos
têm destacado a importância de se analisar a distinção entre co-
nhecimento e conhecimento escolar, principalmente na formação
de professores. É sobre esta análise que discutiremos a seguir,
procurando tecer as peculiaridades da matemática escolar.
37
nam essa construção a partir do exterior do espaço escolar. Enfim,
a matemática escolar, segundo este autor, se dá estritamente pelas
práticas efetivas que se desenvolvem no interior da escola.
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de ensino e aprendizagem, como para o professor em sua prática
profissional, “...só tem sentido na medida em que são números e
não “qualquer coisa” que possua a estrutura de corpo ordenado
completo.” (MOREIRA e DAVID, 2003, p.67).
Logo,
“A percepção escolar do conhecimento matemático é produzida a par-
tir do processo efetivo de escolarização e um dos condicionantes desse
processo são as prescrições curriculares as quais resultam, como se
sabe, de disputas que se desenvolvem no plano social, envolvendo
interesses políticos, econômicos e socioculturais e, entre os atores,
grupos acadêmicos e profissionais que detêm e produzem saberes as-
sociados ao processo de escolarização básica.” (Idem)
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tífica, mas que ele tenha a oportunidade de perceber as diferenças
entre o tratamento e os objetivos do estudo da matemática acadêmi-
ca, e aquela ensinada e gerada nos espaços de sala de aula da escola.
Isso se faz importante para que o professor não tenha para si mes-
mo uma percepção confusa entre, por exemplo, a noção abstrata de
número real e uma de suas formas concretas de representação.
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Enfim, o texto encaminha para a reflexão das representações se-
mióticas enquanto forma de representação dos conhecimentos.
Isto, pensamento no contexto da matemática, nos remete parti-
cularmente para um estudo das formas de representação e suas
funções cognitivas no processo de ensino e aprendizagem. Por
isso, a seguir, nos deteremos na perspectiva do autor R. Duval
para compreendermos as especificidades do conhecimento mate-
mático enquanto registros de representação no contexto escolar.
Raymond Duval é filósofo
e psicólogo de formação.
Desenvolveu estudos em
Psicologia Cognitiva no
2.3.2 A atividade matemática do ponto de vista dos
Instituto de Pesquisa em registros de representação semiótica
Educação Matemática
(IREM) de Estrasburgo, na Para Duval (2003), a atividade cognitiva requerida pela matemá-
França, no período de 1970 tica envolve, essencialmente, duas características. A primeira é a
a 1999.
questão das representações semióticas enquanto sistema de re-
presentação utilizado para expressar os objetos de conhecimento.
Este fato deve ser levado em consideração já que as possibilida-
des de tratamento matemático, como as operações de cálculo, as
transformações figurais, dependem do sistema de representação
utilizado. Por exemplo, lidar com o sistema de numeração deci-
mal não é a mesma coisa que lidar com o sistema de numeração
romano. Isso significa que, realizar tratamentos em diferentes re-
gistros de representação depende da forma da representação e não
do conteúdo envolvido.
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Então, para que ocorra aprendizagem em matemática, do ponto
de vista dos registros de representação semiótica, é preciso que,
de um lado, se considere a existência das representações enquanto
suporte de representação dos objetos matemáticos. Estas represen-
tações são passíveis de tratamentos e não devem ser confundidas
com o seu objeto. O tratamento é, portanto, uma atividade impor-
tante dentro do contexto de ensino e aprendizagem matemática.
Vejamos, por exemplo, 0,25 + 0,25 = 0,5 que é uma representação
decimal envolvendo um tratamento decimal. Agora, vejamos a
representação fracionária ¼ + ¼ = ½ , envolvendo tratamento fra-
cionário. Logo, formas distintas de representação de um mesmo
objeto matemático implicando em tratamentos diferentes.
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A atividade pedagógica do professor deve pautar-se tanto nas espe-
cificidades do conhecimento matemático escolar quanto nas diver-
sas formas de registros de representação para o objeto matemático.
Resumo
Este capítulo procurou responder as seguintes questões: como
foi possível a matemática tornar-se objeto de ensino na escola? E
qual matemática é, de fato, ensinada na escola? Como ter acesso e
apreender o conhecimento matemático necessário na atualidade?
Assim, em se tratando da primeira questão, procurou-se discu-
tir, minimamente, acerca da história do ensino da matemática.
Em uma segunda parte, refletiu-se sobre a noção de Transposição
Didática, de Yves Chevallard, para compreender como os sabe-
res matemáticos constituem-se em saberes escolares. E, por fim,
tratou-se da especificidade da matemática ligada à questão da re-
presentação semiótica, ou seja, os objetos matemáticos são repre-
sentados por meio de símbolos, códigos, signos, que possibilitam
o acesso à aprendizagem matemática.
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Leitura Complementar
VALENTE, Wagner Rodrigues. Uma História da Matemática Escolar
no Brasil (1730-1930). São Paulo: Annablume, 1999.
Referências
CHEVALLARD, Y. La Trasnposition Didactique. Paris: La Pensée
Sauvage, 1991.
44
3 Caminhos ou formas para
ensinar
3 Caminhos ou formas para
ensinar
Introdução
Quando tentamos identificar diferentes tendências para o ensino
da matemática, o questionamento sobre que aspectos são caracte-
rísticos ou diferenciadores de cada é uma das primeiras questões
que nos ocorre. Poderíamos imaginar então, que seria suficiente
descrever cada um desses modos e o problema estaria resolvido,
mas a questão não é tão simples, porque por trás de cada modo
esconde-se uma concepção particular de ensino, de aprendiza-
gem, de educação e da própria matemática (FIORENTINI, 1995).
A escola cumpre funções que lhe são dadas pela sociedade que, por
sua vez, apresenta-se constituída por classes sociais com interesses
antagônicos (...). Fica claro, portanto, que o modo como os professores
realizam seu trabalho, selecionam e organizam os conteúdos escola-
res, ou escolhem as técnicas de ensino e a avaliação, tem a ver com
pressupostos teórico-metodológicos, explícita ou implicitamente.
47
Logo, o professor que concebe a matemática como ciência exata,
como pronta e acabada e a-histórica, terá no seu dia-a-dia uma
prática pedagógica diferente daquele que a entende como uma
ciência viva, dinâmica e historicamente em processo de constru-
ção pelos homens. Do mesmo modo, o professor que acredita que
o aluno aprende através da memorização ou por regras transmiti-
das, ou ainda, pela exaustiva repetição de exercícios, também terá
uma prática diferente daquele que concebe que o aluno aprende
através de ações reflexivas envolvendo materiais e atividades, si-
tuações-problema e problematizações, na busca da construção de
um conceito (FIORENTINI, 1995).
3.1 Etnomatemática
Para abrir a discussão...
Quando um índio diz que um peixe não está onde o vemos porque
nossos olhos estão errados é tão verdadeiro quanto a Lei da refração
de Snell. Dizer que a unidade é dois é também verdadeiro matema-
ticamente, como é nossa concepção de unidade ser um, vinda dos
gregos. As concepções das fases da lua ou do eclipse na mitologia dos
índios também são verdades científicas tanto quanto nossas explica-
ções astronômicas. (FERREIRA, 2005, 92)
48
e das práticas que se associam a ele. Talvez uma das coisas mais
importantes a destacar seja a percepção de uma dicotomia existente
entre saber e fazer, que prevalece no mundo “civilizado” e que é pró-
pria dos paradigmas da ciência moderna; ciência esta, que se impôs
como forma de conhecimento racional (D’Ambrósio, 2000).
49
assim, se possibilite o fato de optar por um caminho a seguir,
conforme as exigências do contexto.
50
3.1.3 A Etnomatemática no Brasil
Segundo D’Ambrosio (2005), desde a década de 1970, o Brasil vem
se destacando junto com os Estados Unidos pelo seu potencial re-
ferente à etnomatemática na educação. Sintonizada com o pensa-
mento de Paulo Freire, ela vem mostrando que, além da impor-
tância da pesquisa sobre o fazer matemático das diversas culturas,
nas dimensões etnográfica, histórica e epistemológica, a dimensão
pedagógica também é muito importante porque é através dela que
são propostas alternativas em relação à educação tradicional.
51
Na linha de investigação da etnomatemática como ação pedagó-
gica, Knijnik (2001) propõe uma abordagem voltada para a inves-
tigação das concepções, tradições e práticas matemáticas de um
determinado grupo social para incorporá-las ao currículo ma-
temático como conhecimento acadêmico. Nesse sentido, a etno-
matemática pode ser considerada um programa que investiga os
modos pelos quais os grupos culturais compreendem, articulam
e utilizam conceitos e práticas que podem ser identificados como
práticas matemáticas (BARTON, 1994).
3.1.5 Bibliografia
BAGERT-DOWNS, R. L.; KULIK, J. A.; KULIK, C. C. Effectiveness of
computer-based education in secondary schools. Journal of Computer-
Based Instruction, 12(3), p. 59-68, 1985
52
FERREIRA, E. S. Racionalidade dos índios brasileiros. Revista Scientific
American, edição especial. n. 11, 2005.
ROSA, M.; SILVA, C. M.; BERALDO, R.M. N.; VIALTA, R.; & DEL CONTI,
M. I. A. Café: modelagem matemática e etnomatemática. Monografia de
especialização não publicada. PUC, Campinas, 1999.
53
WITHERSPOON G., PETERSON, G. Dynamic symmetry and holistic
asymmetry in Navajo and western art and cosmology. Bern and New
York: Peter Lang Publishing, 1995.
54
Segundo o autor, esse processo de passagem do global-local-
global, a partir das representações, é normalmente chamado de
modelagem. Visando aplicações, a modelagem faz sempre apelo à
realidade na qual está inserido o sistema que deu origem ao mo-
delo trabalhado, procurando, deste modo, verificar a adequação
dos parâmetros selecionados e suas implicações com a realidade
como um todo. Esse método de trabalho é eficiente se nos cons-
cientizamos de que estamos trabalhando com aproximações da
realidade.
55
cas e conteúdos da própria matemática. As discussões sobre o tema
escolhido favorecem a preparação do estudante como elemento parti-
cipativo na sociedade em que vive (p. 38).
56
3.2.4 Bibliografia
ALMEIDA, L. M. W; DIAS, M. R. Um estudo sobre a modelagem
matemática como estratégia de ensino e aprendizagem. Bolema, Rio
Claro, ano 12, nº22, p. 19-36, 2004.
57
Os problemas matemáticos ocupam um lugar de destaque no cur-
rículo escolar desde a antigüidade, pois registros de problemas
matemáticos podem ser encontrados na história antiga egípcia,
grega e chinesa, bem como nos livros didáticos e paradidáticos
de matemática atuais. A questão principal a ser considerada,
segundo Stanic e Kilpatric (1990), é que é assumida uma visão
muito limitada na aprendizagem da resolução de problemas, pois
até muito recentemente, ensinar a resolver problemas significava
apresentar situações-problema, resolver um como modelo e apre-
sentar uma lista que seguia quase o mesmo raciocínio.
58
Em 1948, o trabalho desenvolvido por Herbert F. Spitzer, nos Es-
tados Unidos, apoiava-se numa aprendizagem com compreensão,
sempre a partir de situações-problema, e em 1964 no Brasil, o pro-
fessor Luis Alberto S. Brasil defendia o ensino de matemática a
partir de um problema gerador para novos conceitos e conteúdos
(ONUCHIC, 1999).
No final dos anos 1970, esse tópico ganhou espaço no mundo in-
teiro. No final da década de 1980, a Resolução de Problemas foi
questionada, como arte e como objetivo, por pesquisadores do
mundo todo. Durante esta década, ainda, muitos recursos foram
59
desenvolvidos visando o trabalho de sala de aula, em forma de
coleções de problemas, listas, sugestões de atividades e orienta-
ções para avaliação.
60
acontecer, a aula deve ser baseada em três pontos: antes, durante
e depois. Na primeira fase, o professor é responsável por garantir
que os alunos estejam mentalmente prontos para receber a tarefa,
assegurando-se de que todas as expectativas estejam claras. Na
segunda fase, os alunos devem trabalhar, e ao professor cabe a
tarefa de observar e avaliar o trabalho. Na terceira fase, cabe ao
professor aceitar a solução dos alunos sem avaliá-las, conduzindo
as discussões enquanto os alunos justificam e avaliam seus resul-
tados e métodos. Somente, então, o professor deve formalizar os
novos conceitos e conteúdos construídos (VAN DE WALLE, 2001).
O que acontece a maioria das vezes é que o professor que ensina ma-
temática por meio da Resolução de Problemas segue um modelo pro-
posto, que se baseia num conjunto de quatro fases independentes:
3.3.3 Bibliografia
ONUCHIC, L. R. Ensino-aprendizagem de Matemática através da
resolução de problemas. In: BICUDO, M. A. V.(Org.). Pesquisa em Educação
Matemática. São Paulo: Editora UNESP, 1999. Cap.12, p.199-220.
61
ONUCHIC, L.; ALLEVATO, N. S. G. Novas reflexões sobre o ensino-
aprendizagem de Matemática através da Resolução de Problemas. In:
BICUDO, M. A. V.; BORBA, M. C. Educação Matemática: pesquisa em
movimento. São Paulo: Cortez, 2005.
62
3.4.1 A matemática e o seu ensino
Motivar com fatos e situações atuais uma ciência que foi criada e
desenvolvida em outros tempos, visando problemas, percepções
e realidades distintas das nossas, parece uma tarefa difícil. Con-
tinuar ensinando tais teorias nos dias de hoje nos leva a ques-
tionamentos. Nesse sentido, D´Ambrosio (2000, p. 30) retoma um
poema de Dschuang Dsi, complementado e divulgado por René
Thom, que pode ser comparado ao que muitas vezes é feito em
sala de aula:
Havia um homem
que aprendeu a matar dragões e deu tudo que possuía
para aperfeiçoar sua arte.
(Dschuang Dsi)
(René Thom)
63
História da Matemática, assim como a Álgebra, a Análise, a Topo-
logia, entre outras, é uma área do conhecimento matemático, logo,
um campo de investigação científica. Por isso é ingênuo da nossa
parte tratá-la como um simples instrumento metodológico. Desse
modo, tanto quanto o conteúdo matemático, é necessário que o
professor conheça a sua história (BARONI e NOBRE, 1999).
64
1) A história da educação matemática.
65
3.4.4 Bibliografia
BARONI, R, L, S.; NOBRE, S. A pesquisa em história da matemática e
suas relações com a história da matemática. In: BICUDO, M. A. V. In:
BICUDO, M. A. V. Pesquisa em Educação Matemática: concepções e
perspectivas. São Paulo: Unesp, 1999.
66
deriam ser obtidos somente na escola. Essas transformações têm
afetado o setor educacional, pelas mudanças de comportamento
que têm causado (BABIN e KOULOUMDJIAN, 1989).
67
Assim sendo, faz sentido argumentar que, ao invés de haver uma
substituição ou uma suplementação, o computador provoca uma
reorganização da atividade humana (BORBA, 1999, p. 288).
3.5.3 Bibliografia
BABIN, P.; KOULOUMDJIAN, M. F. Os novos modos de compreender –
a geração do audiovisual e do computador. São Paulo: Edições Paulinas,
1989.
68
3.6 Engenharia Didática
Para abrir a discussão...
69
3.6.2 Características da Engenharia Didática
A engenharia didática pode ser caracterizada em dois níveis, o da
microengenharia e o da macroengenharia. A microengenharia
tem por objeto o estudo de um determinado assunto. Nesse es-
tudo são levados em consideração, principalmente, os fenômenos
de sala de aula e a sua complexidade. Já na macroengenharia,
as pesquisas permitem compor a parte complexa de pesquisas
da microengenharia que são ligadas com fenômenos referentes
à duração nas relações de ensino-aprendizagem. Esses dois tipos
de pesquisas são complementares, embora as pesquisas relativas
à macroengenharia sejam mais difíceis de ser realizadas.
70
• variáveis macro-didáticas ou globais – referentes à organização
global da engenharia;
3.6.4 Bibliografia
ARTIGUE, M. Ingeniérie didactique. Recherches em Didactique dês
Mathématiques. Vol. 9, n. 3. p. 281-308. Grenoble, 1988.
71
3.7 Projetos de Trabalho
Para abrir a discussão...
Para isso existem as escolas: não para ensinar as respostas, mas para
ensinar as perguntas. As respostas nos permitem andar sobre terra
firme. Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar des-
conhecido.(ALVES, 2002, p.78)
72
avaliação. Ainda devem ser coerentes com os diagnósticos e ob-
jetivos, prever ações que assegurem mudanças e apresentar um
cronograma com detalhes das atividades a serem desenvolvidas.
Eles devem propiciar:
1) Ciclo do projeto
73
Nessa etapa será necessário definir:
• Para quem?
• Por quê?
• Recursos?
• Onde?
• Duração e
• Critérios e Alternativas
• Diagnóstico
• observação/reflexão
• pesquisa/coleta de dados
• construção/hipóteses
• ação transformadora
• avaliação
• conclusão
3) Estratégias
4) Avaliação
74
Nessa metodologia, a informação, a pesquisa, o conhecimento,
a resolução de problemas, o levantamento de hipóteses, a inter-
disciplinaridade, a transdiciplinaridade e a transversalidade
são palavras que permitem a chegada do novo. Nela, a avalia-
ção é uma constante, pois permeia todo o processo. Ela deve ser
realizada com o estabelecimento de critérios claros e precisos;
através de observações que acompanham todo o processo dos
educandos; levando em consideração as análises e produções
individuais e em grupo, bem como os registros feitos e, por
fim, a auto-avaliação deve fazer parte desse processo.
3.7.3 Bibliografia
ALVES, R. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. São
Paulo: Loyola, 2002.
Resumo
Para além de listas de exercícios, problemas-tipo, modelos de
como ensinar, cada vez mais se volta para caminhos ou alterna-
tivas metodológicas que possibilitem a aprendizagem da mate-
mática enquanto linguagem ligada às situações do cotidiano, à
resolução de problemas, à cultura e à história. E nesse sentido,
algumas perguntas como – que conteúdos ensinar? – e – de que
maneira ensinar? – estão presentes diariamente na vida escolar e,
principalmente, na formação do professor.
75
de que elas se complementam. Por isso, precisamos conhecer um
pouco de cada uma delas para entendermos que desenvolver a
matemática no âmbito escolar, enfatizando apenas uma linha me-
todológica não permite ao professor tratar da matemática tanto
como ferramenta quanto como objeto. Este capítulo apresentou,
portanto, meios atuais para ensinar matemática. Estes, por sua
vez, constituem-se, também, em linhas de pesquisa na educação
matemática.
76
4 Projeto de ensino:
elaboração, articulação,
desenvolvimento
4 Projeto de ensino: elaboração,
articulação, desenvolvimento
Introdução
Um projeto de ensino é toda ação metodologicamente desenvolvi-
da e que tem como objetivo aprimorar as atividades do processo
de ensino-aprendizagem. Segundo Marconi e Lakatos (2001), o
projeto é uma das etapas que compõe o processo de elaboração,
execução e apresentação de uma pesquisa. Esta precisa ser plane-
jada de tal modo que o pesquisador não se perca ao coletar os da-
dos, desconhecendo o seu significado e importância. Obviamen-
te, para o caso de se ter a condição de um professor-pesquisador,
aquele que se interessa pela investigação de sua própria prática
docente, da aprendizagem dos alunos, dos meios de se praticar o
ensino, a pesquisa é associada diretamente à sala de aula.
79
4.1 Estrutura do projeto
Para a elaboração do projeto de ensino, devemos levar em consi-
deração os seguintes elementos:
3) Apresentação escrita.
A introdução
Ela deve ser uma espécie de roteiro para guiar o leitor ao longo
do trabalho. Deve ainda explicitar o ponto de vista (teórico e até
político), as motivações e os objetivos do/a autor/a, bem como o
uso das fontes e as dificuldades encontradas.
80
escolher o tema e a importância de seu estudo, para quem é im-
portante etc; os caminhos teóricos seguidos; a metodologia utili-
zada dizendo a série em que será aplicado, o período necessário
de aplicação e, ainda, deve-se falar brevemente de como será a
ação do projeto.
A justificativa/caracterização do problema
A justificativa é o item do projeto que apresenta respostas à ques-
tão por quê? Ela é muito importante porque é o elemento que
contribui para a aceitação da pesquisa. Através dela faz-se uma
exposição sucinta, porém completa, das razões de ordem teórica
e dos motivos de ordem prática pelas quais a pesquisa deve ser
realizada (MARCONI e LAKATOS, 2001).
Os objetivos
Os objetivos, juntamente com o problema central, respondem à
pergunta: o que se pretende fazer. De maneira geral, os objetivos
são escritos através de verbos no infinitivo e estão divididos entre
objetivo geral e objetivos específicos.
81
O objetivo geral deve propiciar uma visão global e abrangente
do tema proposto, enquanto os objetivos específicos têm um ca-
ráter mais concreto. Eles apresentam uma função intermediária
e instrumental, permitindo que, por um lado, o objetivo geral
seja atingido e, por outro, que este seja aplicado a situações par-
ticulares (MARCONI e LAKATOS, 2001). Não se recomenda um
número excessivo de objetivos específicos, pois cada um deles
pode dar origem a um novo projeto. Assim, cada objetivo espe-
cífico deve estar de acordo com aquilo que se pretende fazer no
projeto em questão.
As estratégias de ação
Nesta parte do trabalho, explicita-se, detalhadamente, como os
objetivos serão alcançados, prevendo-se o número de aulas pre-
tendidas; e o que será feito em cada aula. Trata-se, portanto, da
elaboração de uma seqüência de ensino, descrevendo-a passo a
passo, considerando a metodologia escolhida, bem como o objeto
conceitual a ser ensinado.
Para este item, devem ser usadas tantas páginas quanto forem
necessárias.
A fundamentação teórico-metodológica
Aqui deve ser descrita a metodologia que será empregada para
a execução do projeto de ensino, tomando como fundamento a
bibliografia pesquisada. Esta é uma das partes consideradas mais
importantes do projeto, pois é através da sua elaboração que são
definidas as necessidades de material e tempo para a realização.
82
realização. O conjunto das etapas pode ser organizado em função
do tempo necessário, dando origem a um resumo do cronograma
de execução do trabalho.
O Cronograma
O cronograma deve responder à pergunta quando? Para isso, a
pesquisa deve ser dividida em partes, onde serão feitas as previ-
sões de tempo necessárias para passar de uma fase a outra. Al-
gumas etapas poderão ser executadas simultaneamente enquanto
outras dependem das anteriores para serem realizadas.
83
As formas de avaliação
Nesta parte do trabalho, deve-se definir o método de avaliação a
ser aplicado e como será aplicado. Seja qual for o método avalia-
tivo (quantitativo ou qualitativo), ele deve buscar respostas para
as questões levantadas no decorrer do projeto tais como: A meto-
dologia utilizada é confiável? O problema descrito foi resolvido?
Os objetivos descritos foram cumpridos? A análise dos dados é
rigorosa? O cronograma foi executado? Um novo conhecimento
foi produzido? Esses são alguns dos parâmetros que devem guiar
a avaliação de um projeto. (VILLANI e PACCA, 2001).
As considerações finais
Nesta parte do trabalho devem constar alguns comentários finais
que sejam, ao menos em parte, conclusivos. Também podem ser
sugeridos tópicos referentes ao presente trabalho que possam ser
explorados em futuras pesquisas.
A bibliografia
As referências bibliográficas devem constar no final do projeto, den-
tro dos padrões definidos pelas normas. Como o número de biblio-
grafias referenciadas sobre o tema não é completo na fase de propo-
sição do projeto, deve ser prevista uma fase de revisão bibliográfica,
no início da metodologia, com o objetivo de ampliar o conhecimen-
to sobre o assunto. A bibliografia deve abranger livros, artigos, pu-
blicações e documentos utilizados nas fases de metodologia da pes-
quisa, no instrumental teórico e na revisão bibliográfica.
84
4.2 Algumas considerações
É importante esclarecer que um projeto não é apenas um pla-
no de atividades ou um conjunto de atividades bem organizadas
dentro de um contexto. Mas um trabalho que envolve um empre-
endimento de pesquisa. Trata-se, então, de uma pesquisa em si,
ou seja, de uma investigação sobre algo que se quer saber, sempre
relativa ao sujeito da pesquisa ou ao seu ambiente e, até mesmo, à
metodologia aplicada.
85
Resumo
Não só com o propósito de ensinar conteúdos, a escola deve ser
um espaço privilegiado de análise, discussão e reflexão da reali-
dade, com o objetivo de buscar soluções para os problemas que
nos cercam. Isso exige comprometimento, envolvimento e parti-
cipação de todos. A necessidade de levantar possibilidades e al-
ternativas viáveis, articulando conhecimento e ação, habilidades
e valores, e democratizando o saber, é uma possibilidade de redi-
recionar a prática pedagógica do educador para a reconstrução do
dia-a-dia escolar. Por isso, esse capítulo deu condições estruturais
para a montagem e a criação de Projeto de Ensino, a fim de se ar-
ticular o ensino de um conteúdo com a pesquisa do processo de
ensinar e aprender.
Leitura Complementar
BROLEZZI, A. C. “Atividades na sala de aula de matemática”. In:
Linguagem, Conhecimento, Ação: ensaios de epistemologia e didática.
Org. de Machado e Cunha,2003.
http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000308485
Referências
HERNÃNDEZ, F. e VENTURA, M. A organização do currículo por
projetos de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. Tradução de
Jussara H. Rodrigues. 5ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
86
Anexo Educação matemática na
educação básica: uma análise das
experiências brasileiras
Anexo Educação matemática na educação
básica: uma análise das experiências
brasileiras
Célia Maria Carolino Pires
PUC S. Paulo, Brasil
ccarolino@sti.com.br
89
contos das Mil e Uma Noites. Com sua identidade real, foi um
professor criativo e ousado, que buscou ir muito além do ensino
exclusivamente teórico e expositivo da sua época, do qual era um
feroz crítico. “O professor de Matemática em geral é um sádico”,
acusava. “Ele sente prazer em complicar tudo”.
90
pedagogos e trabalhava de forma cooperativa com a Secretaria de
Estado da Educação, no treinamento de professores, procurando
Termo utilizado na época conceituar os novos métodos de abordagem da Matemática. Esse
e que revelava a concepção
dominante de formação
grupo foi também responsável por inúmeras publicações e pela
continuada nesse período. criação das Olimpíadas de Matemática de São Paulo. O GEEM-
PA foi fundado por um grupo de 50 professores com o objetivo
de desenvolver pesquisas sobre a relação ensino-aprendizagem,
visando melhorar o ensino da matemática na perspectiva da for-
mação e do desenvolvimento da inteligência, segundo o constru-
tivismo de Piaget. Os estudos do GEEMPA foram desenvolvidos
e validados no âmbito de classes experimentais de escolas da pe-
riferia urbana. Em 1973, o GEEMPA participou de uma investiga-
ção reunindo pesquisadores do Brasil e de países como Canadá,
Hungria, Estados Unidos, o que lhe permitiu avançar em suas
pesquisas a respeito do ensino da Matemática Moderna. Com re-
lação ao GEPEM encabeçavam sua fundação, Maria Laura Mou-
zinho Leite Lopes, José Carlos de Mello e Souza, Franca Gottlieb
e mais 29 professores e pesquisadores. A primeira atividade do
GEPEM foi organizar o Seminário sobre o Ensino da Matemática
que se realizou no Rio de Janeiro em abril de 1976.
91
Ensinar Matemática como uma disciplina à parte é uma perversão,
uma corrupção e uma distorção do verdadeiro conhecimento. Cada
matéria representa uma aproximação do conhecimento e qualquer
mescla ou superposição que seja conveniente e pedagogicamente útil
é desejável e deve ser bem-vinda. A educação para todos deveria ser
mais ampla que profunda; deveria ser uma verdadeira educação em
humanidades, em que os estudantes não somente aprendem o conteú-
do de cada matéria, mas também o papel que jogam em nossa cultura
e em nossa sociedade.
92
Postulava ainda que, o papel do educador não é o de encher o
educando de conhecimento, mas sim o de proporcionar, através
da relação dialógica educador-educando, a organização de um
pensamento concreto em ambos. E declarava: aquele que é en-
chido pelo professor tanto menos pode pensar, mas repete. Para
ele, estudar é um trabalho difícil, que exige uma postura crítica
e sistemática, exige disciplina intelectual que não se ganha a não
ser praticando-a. A educação, identificada por ele como bancária
não estimulava isso, pois sua tônica residia fundamentalmente
em matar a curiosidade, o espírito investigador, a criatividade.
Freire defendia que o estudante deveria assumir o papel de su-
jeito desse ato.
93
Com esse grande impulso na década de 1980, nos anos subse-
qüentes a educação matemática, e, mais particularmente a pes-
quisa dentro dessa área de conhecimento, vem buscando estabe-
lecer sua identidade e definir os limites de seu campo, visando
transformar-se num corpo organizado de conhecimentos.
94
num processo de elaboração de Parâmetros Curriculares Nacio-
nais, para diferentes níveis e modalidades de ensino.
95
legal conduziu à elaboração de Parâmetros e Diretrizes Curricu-
lares. A tarefa de pensar numa formação básica comum tem como
seu primeiro desafio o complexo contexto da educação brasileira,
expresso por seus grandes números e pela diversidade de situa-
ções que o constituem.
96
gualdades da realidade brasileira? Como equacionar problemas
referentes à possibilidade de acesso aos centros de produção de
conhecimento tanto das áreas curriculares quanto da área peda-
gógica, e que se refletem na formação dos professores que coloca-
ram as orientações curriculares em prática?
97
não somente instruir, destacando o interesse que apresenta o de-
senvolvimento de capacidades de caráter geral, tem que admitir
que a educação matemática não é o único meio para conseguir es-
tes comportamentos, inclusive que há uma possibilidade de que
não seja ela o melhor caminho possível; e isto coloca uma respos-
ta negativa à questão inicial: não é necessário ensinar matemática,
pelo menos na forma em que se ensina atualmente. Quando fa-
lamos da educação matemática e sobre as funções sociais que ela
deve atender temos que considerar prioritariamente, a que classe
da sociedade do futuro, com toda a carga utópica que incluem os
ideais de justiça, liberdade, dignidade e vida, igualdade de opor-
tunidades, etc, então é possível discutir sobre como orientar a
educação para alcançar esse futuro. Sobre esta base, D’Ambrosio
passa a apresentar os pontos de vista mais destacáveis:
98
de técnicas e habilidades, pensada e projetada para satisfazer ne-
cessidades sociais, e o segundo que considera a matemática como
componente de um grande corpo de modelos, do pensamento e
da linguagem para simular os fenômenos anteriores.
99
Com relação à relevância social, é importante resgatar Bishop
(1991), para quem um currículo deve enfatizar a matemática como
explicação. A matemática como fenômeno cultural pode ser uma
rica fonte de explicações, e esta característica deve ser incorpora-
da nos currículos. Assim, por exemplo, os PCNs incorporam, já
no ensino fundamental, o estudo da probabilidade e da estatística
e evidenciam a importância da geometria e das medidas para de-
senvolver as capacidades cognitivas fundamentais.
100
com capacidade de integração de conteúdos diversos, que estru-
ture períodos longos de atividade pedagógica.
101
que possam favorecer sua superação. Nos PCNs, a avaliação em
suas dimensões processual e diagnóstica é tratada como parte
fundamental do processo ensino-aprendizagem por permitir de-
tectar problemas, corrigir rumos, apreciar e estimular projetos
bem sucedidos.
102
si mesma, capacitadora, geradora de sonho e compromisso, estimula-
dora de novas aprendizagens e, em suma, formativa para os agentes
que têm de desenvolver na prática as reformas. Simultaneamente, a
formação, se bem entendida, deve estar preferencialmente orienta-
da para a mudança, ativando reaprendizagens nos sujeitos e na sua
prática docente que deve ser, por sua vez, facilitadora de processos
de ensino e de aprendizagens dos alunos (ESCUDERO, 1992, p. 57,
apud GARCIA 1998, p. 28).
103
panhado seu desenvolvimento. Em particular, um ataque contra a
Geometria e contra os recursos da intuição: foi dito aos professores
que seria lastimável que eles estudassem os triângulos e que a Álge-
bra Linear substituiria toda a velha geometria… o resultado é tal que,
sem uma forte reação de base, eu penso que a geração atual de nossa
escola receberá uma formação matemática que não a prepara nem
para a pesquisa, nem para a utilização da Matemática em técnicas ou
ciências experimentais. (Apud CHARLOT, 1986, pp. 18/19).
104
anos como alunos e desenvolveram crenças em relação à mate-
mática e seu ensino.
105
social mais amplo. Surgem também propostas de trabalho de in-
vestigação em sala de aula, com o objetivo de imitar algumas ativida-
des inerentes ao processo de construção histórica do conhecimen-
to, como a experimentação, a validação, a comunicação por escrito
da experiência, entre outros.
106
que a matemática não é passível de ser produzida, mas sim des-
coberta. Os seres matemáticos existem em alguma parte, no céu
das idéias. Assim sendo, o papel do matemático não é o de criar,
inventar, mas o de descobrir, desvelar as verdades matemáticas
que já existem, mas não são ainda conhecidas. As verdades mate-
máticas são enunciadas por meio do trabalho do matemático, mas
elas são o que são, eternas, independentemente de seu trabalho.
107
Referências
108
______________ Formação inicial e continuada de professores de
Matemática: possibilidades de mudança. In Anais do XV Encontro
Regional de Educação Matemática. Unisinos. Porto Alegre, 2003.
109