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Ian Castro de Souza é planner / redator de mídias digitais da agência Idéia 3 e graduando em Comunicação na
Universidade Federal da Bahia. O blog Intermídias (http://www.intermidias.com.br) é o reflexo da sua prática
profissional com comunicação digital e mídias sociais, além dos estudos que desenvolve sobre as possibilidades que o
ambiente digital traz a prática publicitária.
Os outros, para um homem, não são atores coadjuvantes de sua vida,
como muitos pensam, e sim os principais. O homem vive em função do outro.
E, na medida em que ele andava cada vez mais ereto, surgiram diversos meios
e sistemas de comunicação cujo único objetivo era aproximar este “eu” dos
“outros”. Hoje, a multiplicidade dos veículos de comunicação e seus respectivos
formatos continuam a moldar permanentemente a sensibilidade humana.
Processos ritualizados são transpostos para os meios digitais e, ao mesmo
passo que ganham novas características – como o flerte, no qual novas
construções e dinâmicas discursivas surgem a fim de suprir as deficiências
básicas desse meio, como a falta do contato físico – perdem também um pouco
de sua humanidade.
A idéia de distância é uma das principais “vítimas” – sendo bem trágico –
das novas tecnologias e da redefinição dos lugares (inclusive os sociais)
causada por elas. Espaços antes distantes agora são próximos. Mas é preciso
atentar para a recíproca, que também é verdadeira: enquanto um intercambista
se comunica com sua família de forma mais rápida e barata, via Windows Live
Messenger, dois vizinhos de porta também o fazem. Ditos amigos “abraçam-se”
através do BuddyPoke, um aplicativo para o Orkut, mas nunca o fazem de fato.
Há uma verdadeira inversão do próprio conceito de distância, tanto a espacial
quanto a social. O mundo se apresenta muito próximo de nós, exatamente na
ponta de nossos dedos, mas só é possível tê-lo quando nos encontramos
isolados, na frente de um computador. Isso sim é um paradigma.
Outro aspecto bastante controverso é a interatividade, a nova paranóia
mundial. Quando é apresentada a possibilidade da fala, o consumo de
informação por si só já não é o bastante – apesar de antes o ser. Talvez a
supracitada multiplicidade dos meios e o fluxo multidirecional destes tornem
possível estender o horizonte de repercussão das informações, mas,
comumente, o que acontece é exatamente o oposto: a velocidade com as quais
as informações circulam, e, principalmente, o excesso destas, propiciam a
superficialidade em seu consumo. Ironicamente, a possibilidade de produzir
conteúdo e compartilhá-lo de modo rápido fez com que esse consumo ficasse
ainda mais raso. A interatividade virou então um sinônimo de egocentrismo. E o
dizer predomina – o que é muito perigoso, pois, se o internauta simplesmente
não se cala tudo o que ele pode fazer é construir e externar posicionamentos e
conceitos embasados em idéias de terceiros, sem nem mesmo fruir ou
constatar a validez do que consome. Obviamente que há pessoas que não o
fazem, mas meu generalismo cabe aqui, pois estas são poucas. É esquecido
que a contemplação é parte essencial do processo de construção do próprio ser
humano.
Hoje, mesmo sozinhos não queremos ficar sozinhos. Não tem nada para
fazer? Go social, como dizem os norte-americanos; entre no Orkut ou MySpace,
compartilhe um bookmark no Delicious, poste uma coisa no seu blog – ta com
preguiça? Poste no Twitter que são menos palavras. Compartilhe – pouco
importa se você acessa o que os outros compartilham. Podemos ter 500 amigos
no Orkut, mas não conversamos efetivamente nem com 50 deles; podemos ter
250 contatos no Windows Live Messenger, mas a maioria das conversas são
com os mesmos 10 amigos de sempre, com os quais convivemos – isso quando
não são conversas que não passam de extensões do velho “bom dia”, dito
puramente por educação; diálogos infrutíferos que geralmente param no “E aí
tudo bem? / Tudo e vc? / Bem tbm. / Pô legal. / É...”
Esse é um rumo muito perigoso e uma utilização muito fútil para a gama
de possibilidades que as novas tecnologias nos trazem. Eu gostaria de ser um
pouco apocalíptico neste último parágrafo e dizer que as formas de
relacionamento e comunicação interpessoal estão sendo alteradas a tal ponto
por estas tecnologias que está ocorrendo uma banalização do ato comunicativo.
A conversa hoje não é um momento de intercâmbio de opiniões e informações,
até um momento de ligação afetiva, ou um momento no qual é estabelecida
uma conexão entre os interlocutores; a conversa hoje é apenas mais uma
tarefa que você pode executar simultaneamente a outras tantas.