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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA

DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA

Artigo Monográfico

Introdução
O interesse para pesquisa este tema surgiu a partir da preocupação
com a violência de gênero, em específico à violência contra as mulheres em
sua constituição e continuidade. Onde e como começa a violência contra as
mulheres? Não se tratando este de um trabalho de cunho jurídico, sua
preocupação se deteve sobre os processos educacionais e sua relação com a
corroboração ou com o combate a comportamentos e condutas sociais
tradicionais e violentas.

A Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, conhecida como Lei Maria


da Penha, entrou em vigor no Brasil em 22 de setembro do mesmo ano. A
partir da referida Lei, que foi fruto de lutas no seio da sociedade civil e
também no setor jurídico, a violência contra as mulheres, sobretudo no seio
familiar, ganhou maior visibilidade e meios institucionais para combater
esta que permanece presente desde o fundamento da sociedade ocidental
patriarcal.

O fato é que a violência começa no mesmo lugar onde deve ser


interrompida: nos processos educacionais tecidos pela família, escola e
demais instituições. A jurisdição serve para proteger a mulher já em
situação de risco. Mas a conscientização e a educação não sexista para
criação de relações não-violentas entre os gêneros é o instrumento que
pode, não sem trabalho árduo, contínuo e multidisciplinar, germinar para
correlações de paz entre os gêneros.

Justificativa Teórica
Esta pesquisa se insere em um fluxo que precisa ser multidisciplinar
para combater uma violência tão antiga e tão arraigada. É importante
ressaltar a retroatividade entre sociedade civil, aparelho jurídico e legal, e
práticas educacionais quando tratamos de um assunto tão complexo e de
persistência tão notável.

Por base epistemológica e pragmática responsabilizei-me por


investigar o mapa da violência contra a mulher a partir do Dossiê Mulher
2013 e do Dossiê Mulher 2014, realizados pelo Instituto de segurança
Pública do Rio de Janeiro (ISP - RJ) e, a Lei 11.340/06 em relação à
questão da violência contra as mulheres e ao discurso epistemológico
referente ao gênero e referente à sexualidade, presente nos livros didáticos
de sociologia.

Selecionei dois livros aprovados no PNLD de 2015 que foram:


“Sociologia em Movimento” e “Sociologia para Jovens do século XXI”, a
fim de verificar a relação de produção textual com prática discursiva nos
processos educativos.

Os livros foram avaliados de acordo com o “Guia de Livros


Didáticos: PNLD 2015: sociologia: ensino médio”, com relação aos
critérios específicos para a área de sociologia e, tendo em vista a
preocupação aqui explicitada a cerca do tratamento conferido às questões
de gênero e violência contra as mulheres, os dois livros citados foram
considerados mais que satisfatórios ou aprovados com louvor por mim e
pela professora Rachel Romano Zeitoune, com a qual trabalhei e
acompanhei durante o ano de 2014 e 2015. O livro “Sociologia em
Movimento” foi o escolhido para ser usado durante o ano letivo de 2015
pela professora Rachel em nosso trabalho com três turmas de Ensino Médio
no Colégio Estadual Conselheiro Josino, localizado na periferia do bairro
Fonseca, Niterói/RJ.
Baseei meu trabalho numa perspectiva da descolonização do saber e,
ainda no trabalho desenvolvido por grupos reflexivos para homens. Sendo
no Brasil e no Rio de Janeiro pioneiro o Instituto Noos no desenvolvimento
de grupos reflexivos de gênero, com palestras e cursos destinados à agentes
sociais e a famílias, adotei e mantenho meu norte na perspectiva de
reflexividade de gênero com o objetivo a promover relações de paz entre os
gêneros e reflexividade acerca da manutenção da virilidade patriarcal, num
terreno complexo, diverso, ora desprezado ora supervalorizado: A escola
pública.

Vivências Preliminares

Dentro da metodologia inicialmente proposta, relato aqui vivências


que tive enquanto bolsista e graduanda encontrei dificuldades no sentido de
conseguir estar e ter autonomia mínima para desenvolver meus objetivos
em outras escolas senão aquelas que me inseri através do programa de
iniciação à docência (PIBID). Ressalto ainda que mesmo dentro destas, nas
quais estava vinculada legitimamente não gozei de uma situação
confortável em relação à pessoas em cargos administrativos, ou mesmo
outros professores. Há um desconforto em relação à desconfiança que gera
um alguém inseridx no espaço escolar com fins de pesquisa.

Sendo assim o meu relato aqui dá conta do meu amadurecimento


teórico e da percepção da dificuldade que é sobretudo, - mas não só - para
alguém numa posição por um lado legítima, por outro não
profissionalizada.
A partir da hipótese de que os processos educacionais colaboram
para uma conformação de discriminações de gênero. Escolhi a escola para
investigar esta hipótese. Amadureci no sentido de que conheci outras
formas de trabalho que passaram a nortear meu caminho de pesquisa, no
caso os grupos de trabalho como os realizados pelo Instituto Noos.

Ao investigar os processos que mantêm as estruturas de


discriminação de gênero, passei a olhar não sobretudo para a mulher. Mas
para a formação de comportamentos de qualidade de gênero em homens e
em mulheres, ou seja, verifico a conformação dos comportamentos que são
naturalizados como “comportamentos de homens” ou “coisas de homens” e
“coisas de mulher”, esses comportamentos estão ligados ao conceito de
masculinidade que é apresentado nos processos de conformação social
enquanto virilidade. Para entender a violência contra a mulher é preciso
entender a educação que “fala sem falar” de “coisas de homens” e “coisas
de mulher”.

Alguns relatos de experiências ou conformações da masculinidade:


“exemplo ruim também é exemplo”.

Abordo aqui algumas experiências que pude ter ao implementar esta


prática de ação reflexiva junto a jovens e adultos matriculados em uma
determinada classe de EJA na escola Raul Vidal no município de Niterói,
na região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro.

Dois dos componentes descritos no eixo temático previstos para o 1º


bimestre da 2ª série do Ensino Médio são: “Estabelecer a relação entre a
construção da identidade individual e o pertencimento aos diferentes
grupos e instituições sociais; Identificar os marcadores sociais da diferença
(gênero, sexualidade/orientação sexual, raça/etnia, geração) na
contemporaneidade e perceber sua inter-relação na produção e reprodução
de desigualdades.” Sendo assim, as exposições ao longo no 1º bimestre não
deixaram de contar com exemplos sobre a construção social de papéis de
gênero e sua relação com a produção e reprodução da violência
intrafamiliar e afetiva. E duas aulas específicas contaram com a abordagem
do tema. Em uma delas exibimos um documentário chamado
“Heterofobia”, que faz alusão fictícia à uma sociedade que seria do mesmo
modelo da nossa, só que ao contrário do ponto de vista da normativização
da orientação sexual, ou seja, aqueles que são héteros sofrem retaliações,
exclusões e correções através de violência física e isolamento compulsório.

Já em outra aula para essa mesma turma noturna de EJA, em acordo


com já explicitado eixo temático, fiz a exposição de uma aula com o tema:
“Sociabilização para gênero: estereótipos e comportamentos”, onde defini o
conceito de sociabilização de gênero relacionado ao conceito de
experiências de infância compartilhadas, que dizem respeito ao fato de que
quando os bebês nascem são, de acordo com seu genital, educados a partir
do modelo instituído do que é ser homem e de que maneira desenvolver sua
masculinidade, ou a respeito do que é ser mulher e como desenvolver sua
feminilidade. Falamos de menstruação, virgindade/iniciação da vida sexual,
gravidez/aborto, contraceptivos – alguns desses tópicos constituem-se
como ritos de passagem.

Foi abordada a diferença desses ritos de passagem que tem por


parâmetros mudanças biológicas, em contraposição ao conceito sexo social
– que diz respeito à construção social do masculino ou masculinização e da
construção social do feminino ou feminilização. Observou-se que as
mulheres – na faixa entre 20 e 40 anos – falaram e expuseram suas
experiências a partir de suas trajetórias subjetivas e em relação à educação
e às escolhas de suas filhas.

Enquanto os homens – entre 20 e 40 anos – tinham sua atenção


concentrada no assunto que estava sendo exposto permaneciam sobretudo
em silêncio mas, olhando atentos. Em momentos de maior intimidade –
como foi o de falar a diferença da experiência da primeira relação sexual
dos meninos e das meninas (filhos e filhas) em relação ao desejo de seus
pais – muitos deles abaixaram a cabeça, desviando seu olhar do foco de
onde se concentrava o debate.

Assim, notei as diferenças de disposição epistemológica/emocional


entre pessoas educadas para serem homens em nossa sociedade – cidade de
Niterói – e entre pessoas educadas para ser mulher a partir da observação
participante e da escuta sensível de suas experiências no que diz respeito à
sociabilização de gênero, não só em relação ao recebimento do conteúdo,
mas também em relação à sua própria disposição em expor experiências
vividas em primeira pessoa.

C. E. Conseilheiro Josino e masculinidades negras: “eu uso roupa


normal”

Acompanhei esta escola na qual me inseri em fevereiro de 2015,


ficando cerca de seis meses. Observando atentamente suas especificidades.
Distinta do Colégio Raul Vidal, o Conselheiro Josino está localizado em
um bairro periférico e não central. De relativo difícil acesso e cercado por
morros onde há periodicamente conflito envolvendo polícia e poder
econômico paralelo. Esses alunos em sua maioria moram ao redor da
escola, vivendo no cerne desse terreno politicamente tão instável.
Acompanhei três turmas de ensino médio. Sendo a turma 2001 - 2º ano
manhã aquela que escolhi para me dedicar. Embora altamente dispersos em
relação à matéria e com sérias dificuldades de apreensão do conteúdo
relativo à matéria de sociologia, esta turma é de forma geral bem
expressiva, o que facilitou mutuamente nosso contato.

Ao lidar com a turma percebi que possuem bastante curiosidade mas


não possuem facilidade em se expressar com relação ao conteúdo pedido.
Para fim de conhecer melhor o que pensam sobre o tema abordado nas
Ciências Sociais relativo à gênero e sexualidade achei mais eficaz elaborar
um questionário socio-econômico e mais discursivo sobre
subjetividade/comportamento de gênero. Como o interesse e a seriedade
em relação às aulas e dedicação aos estudo que os alunos em grande
maioria demonstram é muito baixo. Optei por aplicar o questionário em
sala de aula como atividade valendo “ponto de participação”, uma vez que
durante o bimestre trabalhos que deveriam ser feitos em uma semana foram
entregues, quando entregues em um mês numa forma bem rude de “copia e
cola”. Não punindo os estudantes e percebendo que ensino e pesquisa tem
métodos e observações distintas, adaptei o método ao objeto de pesquisa.

Conclusões Parciais

Toda sociedade forja uma divisão sexual de trabalho entre outras


distinções baseadas em comportamentos sociais estipulados a partir de
concepções acerca de papéis de gênero instituídos. A nossa sociedade não
apenas forjou diferenças entre papéis atribuídos ao gênero, mas categorizou
os valores que estabeleceu enquanto masculinos, como verdadeiros e
valores considerados femininos como falsos.

O que importa a essa discussão é a ideia de papéis sociais


estabelecidos a partir da formulação de características atribuídas ao gênero.
Entende-se aqui a ideia de gênero como um papel social definido através de
adjetivos fixados em correspondência a um suposto sexo genital,
comportamento social e desejo ou orientação sexual, ou seja, a fixação de
uma identidade de gênero numa sociedade heterossexista, androcêntrica,
eurocêntrica, binária, positivista e capitalista que produz estereótipos
inseridos nessa lógica.

Dessa forma as interações sociais com bases em diferenciações a


partir de papéis de gênero se constituem numa dinâmica hierárquica e por
isso, negam a alteridade. Assim, temos nas relações sociais entre gêneros
distintos uma recorrente e estrutural desigualdade de prestígio, de salário,
de visibilidade e de construção da afetividade. Existe uma série de
identidades de gênero invisibilizadas por esse discurso – transgênerxs;
assexuados e pessoas que não se sentem de gênero algum, ou seja, não
binárias.

A partir de uma noção instituída socialmente a respeito do que é o


gênero e quais corpos devem ser qualificados como corpos masculinos e
quais corpos devem ser qualificados como corpos femininos e, ao
estabelecer-se uma série de expectativas sociais a respeito de uma
subjetividade e um determinado comportamento social questionamo-nos:
como os corpos devem ser educados: azul para menino e rosa para menina?

Enfretamento à violência de gênero: Dados e Prespectivas de


Continuidade em Monografia
De acordo com o Dossiê Mulher 2014 feito pelo ISP-RJ, o total de
boletins de ocorrência registrados por mulheres vítimas de ameaça no ano
de 2013 no Rio de Janeiro foi de 55.218. Segundo a Lei 11.340/06 “a
ameaça é entendida como uma das formas de violência psicológica. É uma
conduta que tenta causar dano emocional e diminuição da autoestima, com
prejuízo e perturbação do pleno desenvolvimento, ou que visa degradar ou
controlar ações, comportamentos, crenças e decisões de um indivíduo.” As
mulheres são vítimas de 66,7% dos casos totais de ameaça e destes, 50%
foram praticados por companheiro ou ex-companheiro e 10,4 % por
pessoas próximas (pais/padrastos/parentes).

Estes dados apontam para a constância do fenômeno da violência


contra as mulheres e de seu caráter não espontâneo, e não psicológico ou
individual, ou seja, a violência contra as mulheres tem caráter complexo e
estrutural e por isso deve contar com medidas sociais multidisciplinares
para chegar ao fim. Sendo assim a instituição escola possui caráter
fundamental de combate e conscientização a respeito de masculinidades
não violentas e feminilidades não subordináveis afetivamente, a fim de
coibir o fenômeno da violência doméstica, afetiva, psicológica e
intrafamiliar antes que este ocorra. Educação para prevenção de relações
violentas.

Ao longo de no mínimo dois anos de observações participantes e


leituras reflexivas e críticas a respeito da violência de gênero. Termino esta
etapa optando por levar por continuar esta pesquisAção no Instituto Noos,
com sede em Botafogo. Buscarei observar trajetórias individuais inseridas
em seus nexos familiares, em uma busca por terapias familiares. Sendo
assim obervarei homens que são atendidos por estes cursos oferecidos por
este Instituto a fim de promover a reflexão de práticas e discursos violentos
em um contexto familiar.
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