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HEMISPHERIC INSTITUTE E-MISFERICA
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E-MISFÉRICA 11.1 GESTO DECOLONIAL TODAS AS EDIÇÕES EXPEDIENTE PARTICIPE
GESTO
DECOLONIAL
— Prólogo Editorial —
ENSAIOS
The Potosí Principle:
Another View of Totality
Silvia Rivera Cusicanqui
A universidade e os undercommons
STEFANO HARNEY E FRED MOTEN The Pose as Interventionist Gesture:
Erica Lord and Decolonizing the
Proper Subject of Memory
Colleen Kim Daniher
Número um, eu sou um homem negro, porque sou contra o que eles Interferencias transfeministas y
fizeram e ainda estão fazendo conosco; e número dois, eu tenho algo a pospornográficas a la colonialidad del
ver
dizer sobre a nova sociedade a ser construída, porque eu sou parte Sayak Valencia
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acampamento cigano, estar dentro, mas não ser dela – este é o Julieta Paredes
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caminho do intelectual subversivo na universidade moderna.
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Desobediencia visual: Entrevista con
Preocupe-se com a universidade. Este é o comando hoje nos Benvenuto Chavajay y Kency Cornejo
Marcial Godoy-Anativia
Estados Unidos, que tem uma longa história. Clame pela sua
restauração, como Harold Bloom, ou Stanley Fish, ou Gerald
Graff. Clame pela sua reforma, como Derek Bok, ou Bill Readings, Hawaiian Sovereignty and Island
Knowledge: Interview with Dr.
ou Cary Nelson. Chame por ela como ela chama por você. Mas, Haunani-kay Trask
Rebekah Garrison
para o intelectual subversivo, tudo isso ocorre no andar de cima,
com companhias educadas, entre os homens racionais. Afinal de
contas, o intelectual subversivo veio sob falsos pretextos, com Arte Nuevo Interactiva and A New
Generation of Decolonial Thinkers,
documentos ruins, por amor. O seu trabalho é tão necessário Makers And Doers
quanto é mal recebido. A universidade precisa do que sustenta, Brittany Chávez
mas não pode sustentar o que ela traz. E, acima de tudo isso, ela
desaparece. Desaparece na clandestinidade, na comunidade O. Feray's Quibble
Gina Athena Ulysse
underground de fugitivos da universidade, até chegar aos
undercommons of enlightenment, onde o trabalho é subvertido,
onde a revolução ainda é negra, ainda é forte. La Chica Boom's Failed, Decolonial
Spictacles
Alpesh Kantilal Patel
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inteligência." Mas o que significaria se lecionar, ou melhor,
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aquilo que poderíamos chamar de “ir além de lecionar” fosse
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Escenas y obscenas del consumo: arte,
precisamente aquilo que se pede que alguém vá além, que deixe mercancía y visibilidad en el Cono Sur
de ser um sustento? E o que seria daquelas minorias que se por Cesar Barros A.
Elizabeth Osborne
recusam, a tribo dos infiltrados que se negam a voltar do além
(aquele que está além do “além de lecionar”), como se eles não
fossem sujeitos, como se eles quisessem pensar como objetos, Postcolonial Witnessing: Trauma Out
Of Bounds por Stef Craps
como minoria? Certamente, os sujeitos perfeitos da Enmanuel Martínez
Talvez o biopoder do esclarecimento saiba disso, ou talvez esteja Los muertos indóciles por Cristina
Rivera Garza
apenas reagindo à condição de objeto desse trabalho, como deve Joanna Jablonska Bayro
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“crítica do tipo esclarecedor e das desmistificações das crenças e
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das ideologias comprometidas, a fim de limpar o terreno para
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um planejamento desobstruído e para o ‘desenvolvimento’."
Essa é a fraqueza da universidade, o lapso na sua segurança
interna. Ela precisa do poder do trabalho para alcançar essa
“crítica do tipo esclarecedor," mas de alguma forma o trabalho
sempre escapa.
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desregramento necessário e as possibilidades de criminalidade e
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de fuga que o trabalho sobre o trabalho requer. Comunidades de
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fugitivos, de professores de composição, estudantes de pós-
graduação sem mentores, historiadores marxistas adjuntos,
professores de administração saídos do armário ou queer,
departamentos de estudos étnicos nas faculdades estaduais,
programas de cinema encerrados, estudantes do Iêmen, com
vistos vencidos, atuando como editores de jornal, sociólogos de
faculdades e engenheiros feministas historicamente negros. E o
que dirá a universidade deles? Dirá que eles não são
profissionais. Isso não é um ataque arbitrário. É um ataque
contra os mais que profissionais. Como é que aqueles que
excedem a profissão, que excedem e que por excederem
escapam, como esses fugitivos se problematizam,
problematizam a universidade, forçam a universidade a
considerá-los um problema, um perigo? Os undercommons não
são, em resumo, o tipo de comunidade extravagante e fantasiosa
invocada por Bill Readings ao final do seu livro. Os
undercommons, seus fugitivos, estão sempre em guerra, sempre
escondidos.
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reconhecidos de política, o além da política já em andamento, a
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para-organização criminal desacreditada, a que Robin Kelley
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poderia referir-se como campo infrapolítico (e sua música). Não
é só o trabalho dos fugitivos, mas a sua organização profética
que é negada pela ideia do espaço intelectualizado em uma
organização chamada universidade. É por isso que a negligência
do acadêmico crítico é sempre, ao mesmo tempo, uma afirmação
do individualismo burguês.
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lei, acolhendo os que estão desacreditados, acolhendo aqueles
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que se recusam a descartar ou a levar em conta os undercommons.
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A Universitas sempre é uma estratégia de estado/Estado. Talvez
seja surpreendente dizer que profissionalização – aquilo que
reproduz as profissões – seja uma estratégia estatal. Certamente,
profissionais acadêmicos críticos tendem a ser considerados hoje
como intelectuais inofensivos, maleáveis, talvez capazes de
alguma intervenção modesta na chamada esfera pública. Mas
para ver como isto subestima a presença do estado, podemos
voltar-nos para uma má leitura da consideração de Derrida sobre
o Relatório de Hegel de 1822 ao ministro da educação prussiano.
Derrida nota o modo como Hegel rivaliza com o estado na sua
ambição pela educação, querendo pôr em prática uma pedagogia
progressiva de filosofia projetada para apoiar a forma de ver o
mundo de Hegel, enciclopédica. Esta ambição tanto reflete a
ambição do estado, porque ele também quer controlar a
educação e impor uma forma de ver o mundo, como o ameaça,
porque o Estado de Hegel excede e assim localiza o estado
prussiano, expondo sua pretensão de ser enciclopédico. Derrida
tira a seguinte lição da sua leitura: a Universitas, como ele
generaliza a universidade (mas também a especifica como
devidamente intelectual e não profissional), sempre tem o
impulso de Estado, ou do esclarecimento, e o impulso de estado,
ou suas condições específicas de produção e reprodução. Ambos
têm a ambição de ser, como diz Derrida, onto e auto-
enciclopédico. Segue daí que ser contra ou a favor da Universitas
apresenta problemas. Ser a favor da Universitas é apoiar esse
projeto onto e auto-enciclopédico do Estado como
esclarecimento, ou o esclarecimento como totalidade, para usar
uma palavra antiquada. Ser demasiadamente contra a Universitas,
porém, cria o perigo de que elementos específicos do estado
tomem medidas para livrar-se da contradição do projeto onto e
auto-enciclopédico da Universitas e substituí-lo por alguma outra
forma de reprodução social, o anti-esclarecimento – a posição,
por exemplo, do New Labour na Inglaterra e dos estados de Nova
Iorque e Califórnia, com as suas “instituições pedagógicas." Mas
uma má leitura de Derrida também vai provocar novamente a
nossa pergunta: o que é que se perde com essa indecisão? Qual é
o preço que se paga por recusar-se a ser tanto pró-Universitas
quanto pela profissionalização, por ser crítico de ambos; e quem
paga esse preço? Quem torna possível alcançar a aporia dessa
leitura? Quem trabalha no excesso prematuro da totalidade, no
não não-pronto da negligência?
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estreitamento e é melhor pensar nisso como um círculo, um
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círculo de vagões de guerra em torno do último acampamento de
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mulheres e crianças indígenas. Pense no modo como o médico ou
o advogado americano consideram-se educados, fechados no
círculo da enciclopédia estatal, apesar de talvez não conhecerem
nada de filosofia ou história. O que estaria fora desse ato do
círculo de conquista, que tipo de mundo fantasmagoricamente
trabalhado escapa desse ato circular, um ato que é como um tipo
de fenomenologia partida, onde os resultados nunca saem e o
que é experimentado como conhecimento é o horizonte absoluto
do conhecimento, cujo nome é banido pelo banimento do
absoluto. Simplesmente é um horizonte que não se esforça em
tornar-se possível. Não surpreende que, independentemente de
suas origens ou possibilidades, são as teorias do pragmatismo
nos Estados Unidos e o realismo crítico na Inglaterra que
comandam a lealdade dos intelectuais críticos. Nunca tendo que
confrontar a fundação, nunca tendo que confrontar a
antifundação, pela fé na fundação inconfrontável, os intelectuais
críticos podem flutuar na gama mediana. Essas lealdades banem
dialéticas, com o seu interesse inconveniente em promover o
material e o abstrato, a mesa e seu cérebro, até onde podem, um
comportamento que não poderia ser mais obviamente não
profissional.
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políticas da nova direita da mesma universidade. Não seria muito
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diferente na Syracuse University ou em uma dúzia de outras
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escolas de administração pública proeminentes. Pode-se dizer
que o ceticismo é uma parte importante do ensino superior, mas
este ceticismo em particular não está baseado em estudos
aprofundados do objeto em questão. Na verdade, não há qualquer
teoria estatal nos programas de administração pública nos
Estados Unidos. Ao invés disso, o estado é considerado como o
proverbial diabo que conhecemos. E se ele é compreendido na
administração pública como um mal necessário, ou como um
bem que tem utilidade e disponibilidade limitadas, é sempre
completamente reconhecível como um objeto. Então não é tanto
que esses programas sejam posicionados contra eles mesmos. Na
realidade, eles se posicionam contra alguns alunos, e
particularmente contra aqueles que vêm para a administração
pública com um sentimento que Derrida chama de dever além do
dever, ou uma paixão.
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antiética, mas constitui uma falha de segurança.
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Por exemplo, se alguém quisesse explorar a possibilidade de que
a administração pública poderia ser mais bem definida como o
trabalho da privatização inexorável da sociedade capitalista, essa
pessoa poderia receber vários pontos de vista não profissionais.
Isso ajudaria a explicar a inadequação das três principais estirpes
nos estudos de administração pública nos Estados Unidos. A
estirpe da ethos pública, representada por projetos como a
reformulação da administração pública e o periódico
Administration and Society; a estirpe da competência pública,
representada no debate entre a administração pública e a nova
administração pública e pelo periódico Public Administration
Review; e a estirpe crítica, representada pela PAT-Net, pela
Public Administration Theory Network e por seu periódico
Administrative Theory & Praxis. Se a administração pública é a
competência para confrontar a socialização continuamente
criada pelo capitalismo e pegar o máximo possível dessa
socialização e reduzí-la a algo chamado de público ou a algo
chamado de privado, então imediatamente todas as três posições
tornam-se inválidas. Não é possível falar-se em um trabalho que
é dedicado à reprodução da desapropriação social como tendo
uma dimensão ética. Não é possível determinar a eficiência ou
extensão de tal trabalho após o seu desgaste nessa operação,
olhando-se para ele depois que ele reproduziu algo chamado de
público ou algo chamado de privado. E não é possível ser crítico e
ao mesmo tempo aceitar sem críticas a fundação do pensamento
da administração pública nessas esferas do público e do privado,
e negar o trabalho que está por trás dessas categorias, nos
undercommons, por exemplo, da república de mulheres que
administra o Brooklyn.
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universidade. É nesse momento de revolta que a
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profissionalização mostra o seu negócio desesperado, nada
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menos do que converter o indivíduo social. Com exceção, talvez,
de uma coisa mais, o objetivo final de uma contra-rebelião em
todas as partes: transformar os insurgentes em agentes estatais.
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profissionais na universidade causa revolta, retração, liberação, o
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trabalho do acadêmico crítico não envolve um escárnio desse
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primeiro trabalho, um desempenho que está finalmente na sua
falta de preocupação pelo que parodia, negligente? O
questionamento do acadêmico crítico não se torna uma
pacificação? Ou, para expor claramente, o acadêmico crítico não
ensina como negar precisamente o que uma pessoa produz com
outros, e esta não é a lição que as profissões retornam para a
universidade para aprender mais e mais uma vez? Então o
acadêmico crítico não se dedica ao que Michael E. Brown
classificou como empobrecimento, miserabilidade dos
prospectos cooperativos da sociedade? Este é o plano de ação
profissional. Esta charada do tipo esclaredor é totalmente
negligente em sua crítica, uma negligência que nega a
possibilidade de um pensamento sobre um exterior, um não-
lugar chamado de undercommons – o não-lugar que deve ser
pensado fora para ser sentido dentro, do qual a charada do tipo
escarecedor roubou tudo para usar em seu jogo.
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destruição descuidada, mas um compromisso contra a ideia da
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sociedade em si, ou seja, contra o que Foucault chamou de
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conquista; a guerra não falada que fundou e que, com força de
lei, refunda a sociedade. Não antissocial, mas contra o social,
este é o compromisso para com a guerra e é isso que perturba e,
ao mesmo tempo, forma os undercommons contra a universidade.
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outros espaços situados entre a Universitas e os undercommons,
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espaços que são caracterizados precisamente por não ter espaço.
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Assim, o foco recaiu sobre estudos sobre o negro por todos,
desde William Bennett até Henry Louis Gates Jr., e a proliferação
de centros sem afiliação com a memória da conquista, com seus
guardiões vivos, com a proteção da sua honra, com as noites de
trabalho, nos undercommons.
Fred Moten é Professor na University of California, Riverside. É o autor de In the Break: The Aesthe cs of the Black
Radical Tradi on (2003) e de B Jenkins (2010).
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Jesus, Carolina Maria de. 1960. Quarto de Despejo: Diário de uma favelada. São
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Paulo. Livraria F. Alves.
Wilderson, III, Frank B. 2011. The Vengeance of Vertigo: Aphasia and Abjection in the
Political Trials of Black Insurgents. InTensions Journal. Toronto. New York University.
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