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A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO A PARTIR DA HISTÓRIA ORAL: UMA

ALTERNATIVA DE ENSINO

Vera Lúcia Abrão Borges/UFU

No ensino e na pesquisa no âmbito da História da Educação diferentes motivos,


institucionais, materiais e até sociais, desanimam o docente a enveredar por caminhos
novos. Mesmo contando com inúmeras dificuldades, uma alternativa de ensino pareceu-me
viável de ser efetivada. Esta apresentação tem, pois, por finalidade expor o projeto que
estou desenvolvendo junto aos alunos do 2o ano do Curso de Pedagogia da Universidade
Federal de Uberlândia/MG, onde ministro a disciplina História da Educação 2, cujo
conteúdo abarca a historiografia sobre a educação no Brasil.. Esse Projeto intitula-se
MEMÓRIA E HISTÓRIA.Reconstrução da História da Educação a Partir da Memória
Oral: uma alternativa de ensino. Em vista da experiência que venho acumulando há anos,
enquanto professora e pesquisadora nesta área do conhecimento, senti-me impulsionada a
repensar o ensino em História da Educação 2, utilizando-me dos dados coletados pelos
alunos como ponto de partida para o ensino dessa disciplina.

Buscando Novas Formas De Ensino, Mesmo Podendo Errar

Lendo um texto de Eliane Marta Teixeira Lopes (2002), percebi que ela soube
traduzir minhas angústias na seguinte passagem:
Ensinar nunca foi ato isento de muita contradição e de muita perversão (...).
Contradição porque se se ensina, é que alguém está aprendendo. Mas...sempre está?
Sempre que se ensina a alguém – pois que ensinar pressupõe um outro – esse alguém
aprende? Será possível pensar um castigo tão atroz quanto ensinar para ninguém, tanto
quanto dizer missa em igreja vazia?
Perversão, porque não há nenhuma garantia de que exista uma correspondência entre os
dois termos e, sendo assim, não há garantia para o ato.
O que é que o outro aprende depois que foi ensinado? Pode-se talvez, talvez, ter certeza
daquilo que se ensinou, o que o outro aprende ou aprendeu é uma aposta. (...) se o outro
não aprendeu o que se ensinou, nem por isso ele aprendeu errado. Pode ter aprendido o
certo, só que a prova não alcançará o que ele aprendeu, mas tão somente o que se
pretendeu ensinar.
(Lopes, 2002, p. 59, grifos nossos).
É de fato muito complexo falar de ensino e aprendizagem, pois estes envolvem
agentes diferentes, cujas leituras do mundo são múltiplas. Leitura, aqui, remete ao conceito
dado por Carlo Ginsburg (2001, p. 30), cuja questão central foi: ‘como os textos eruditos
foram “lidos” pelo público de então?’ “Em que medida a cultura predominantemente oral
daqueles leitores interferia na fruição do texto, modificando-o, remodelando-o, chegando
mesmo a alterar a sua natureza?” Remetendo aos alunos e familiares, que também possuem
uma cultura própria de sua classe e/ou grupo social, pressupõe-se diferentes leituras dos
textos apresentados em sala de aula, indicando uma defasagem entre esses textos e o modo
como serão lidos por aqueles. Há uma circularidade entre as múltiplas leituras, em que o
leitor interpõe um filtro consciente entre ele e os textos que lê. Tal crivo pressupõe a
cultura do grupo social em que se insere.
Portanto, nunca se sabe que leitura cada aluno faz da bibliografia trabalhada em
sala de aula. Por outro lado, o objetivo do professor é que a aprendizagem ocorra da
melhor forma possível e, além disso que algumas habilidades e atitudes sejam formadas,
principalmente atitudes de dúvida, de questionamento e de busca, as quais exigem
determinadas habilidades, tais como: levantamento de dados empíricos, inclusive de seu
cotidiano; trato e cruzamento desses dados; capacidade de analisar o meio mediato e
imediato, estabelecendo relações, comparações, etc. Enfim, a aprendizagem passa por
esses comportamentos que poderão instrumentar melhor o aluno em seu trabalho e
questões de seu dia-a-dia e, além do mais, ter condições de acompanhar a evolução do
conhecimento e se atualizar constantemente, mesmo quando sair da escola Torna-se, assim,
um problema buscar formas de ensino mais eficazes e que contemplem estas diferentes
leituras do mundo e do homem, em especial da educação. Como ensinar com melhor
garantia de que os alunos estejam realmente aprendendo, tanto o conhecimento quanto as
atitudes e capacidades investigativas?
Nesse sentido, a forma nova de ensinar aqui proposta, que ainda não está concluída,
constitui uma tentativa de solucionar a questão acima. Constitui um esforço da professora
em despertar mais o interesse no aluno, fazê-lo comparar a vivência de seus antepassados
com a história da educação narrada nos livros didáticos; não cobrar devolução das leituras,
pois se pressupõe que há uma circularidade entre as diversas culturas e leituras dos alunos
e do professor. Enfim, fazê-lo compreender que há uma estreita relação do passado
pedagógico e educativo com o seu cotidiano, sendo que muitas continuidades ainda
vigoram, por milênios em meio às rupturas que vão ocorrendo no tempo e lugar. Essa nova
proposta de ensino, pois, pretende aproveitar a história de vida dos antepassados dos
alunos e, ao mesmo tempo, mergulhá-los em uma atividade de pesquisa (mesmo que
rudimentar), por se entender que ensino e pesquisa se inserem em um projeto de
comunicação formadora.
A pesquisa aqui referida não significa, ainda, a construção de um objeto em bases
científicas, respaldada em um método criterioso, mesmo porque seria quase inviável
trabalhar dessa forma com uma sala de aproximadamente 30 alunos, que nunca tiveram
experiência com pesquisa, além de não apresentarem uma formação acadêmica
suficientemente adequada a um trabalho de fôlego maior. Apenas se está referindo a uma
atitude de investigação, de dúvida e de criação por parte do aluno, no sentido de levantar e
construir a memória sobre a educação escolar de seus antepassados, por meio de
entrevistas mais informais, bem como de comparar os dados coletados, quer pela história
oral, quer pela iconografia e outros documentos, com a história contida nos textos
referendados pela professora sobre História da Educação, além de realizar sínteses sobre a
história da educação, com possíveis acréscimos de novos elementos.
Dessa forma, atentou-se para discussões em torno das vivências dos alunos e de
seus familiares no âmbito da educação escolar, tendo em vista não apenas trazer elementos
da vivência desses atores, mas principalmente recuperar a memória de vozes até então
silenciadas que, de outra forma, não teriam tido espaço no registro histórico. Dessa forma,
o conhecimento trabalhado em sala de aula e a bibliografia selecionada estão sendo
condicionados pelos temas mais relevantes retirados das fontes orais, iconográficas e
impressas. Convém ainda esclarecer que nem todos os alunos se aprofundaram nos
mesmos temas e, portanto, não estão fazendo as mesmas leituras.
Com base no exposto, os objetivos perseguidos foram:
x Propiciar uma maior envolvimento dos alunos na dinâmica de sala de aula e até na
seleção do conteúdo e da bibliografia a serem priorizados;
x Interpretar a educação escolar a partir dos dados empíricos extraídos das
entrevistas com ascendentes dos alunos, da iconografia, cadernos e outros
documentos que compõem o arquivo particular de seus antepassados e das leituras
de textos complementares indicados pela professora;
x Tornar o ensino de História da Educação mais concreto e criativo;
x Trazer ao conhecimento falas e crenças de atores até então não contemplados na
historiografia da educação brasileira e também levantar fotos e documentos que
fazem parte do arquivo privado, enriquecendo a memória e a história.
Como se tem um número expressivo de alunos na sala destacada e com idades
variadas, considerou-se que os dados a serem levantados pela turma abarcariam todo o
conteúdo previamente planejado, apenas sendo alterada a abordagem do mesmo e até a
bibliografia.
Os passos perseguidos estão sendo:
x Abrir um debate com os alunos sobre a educação, em especial a escolar. Pediu-se
que os mesmos fizessem um relato de sua experiência escolar. Inúmeros temas
foram levantados, destacando-se que havia certas divergências entre as escolas, não
apenas no tocante ao conteúdo, mas principalmente quanto à relação
professor/aluno, à hierarquia em sala de aula e aos métodos. Também se discutiu o
conceito de História da Educação. Após essa avalanche temática, os alunos
registraram suas impressões para que as mesmas pudessem ser confrontadas com os
indícios que foram levantados na etapa seguinte. Ao mesmo tempo, foram
trabalhados alguns textos teóricos que puderam clarear certas categorias e conceitos
básicos da disciplina trabalhada;
x Na segunda aula, foi feita uma orientação aos discentes sobre a técnica da
entrevista, levantando-se, outrossim, algumas perguntas que os mesmos fariam a
seus ascendentes (os avós ou bisavós, de preferência e, na ausência destes, os pais),
mas de uma forma bem informal e aberta, em vista da inexperiência daqueles.
Outra orientação foi de recolher fontes iconográficas e impressas que porventura
constassem no arquivo particular de seus parentes;
x Enquanto os alunos foram realizando as atividades propostas, foi sendo
disseminado um conteúdo que se julgou necessário trazer ao conhecimento do
aluno, de forma a propiciar-lhe alguns dos instrumentos imprescindíveis para a
compreensão dos indícios que estavam levantando;
x Transcrição das entrevistas pelos alunos;
x Entrega das entrevistas e demais fontes à professora, para que ela pudesse fazer o
consolidado dos dados, agrupando-os por década;
x Levantamento dos temas mais recorrentes;
x Caracterização dos diferentes períodos históricos, através de aulas e pesquisas
orientadas, com a utilização da bibliografia complementar específica sugerida pela
professora, possibilitando o entendimento de cada situação particular no contexto
nacional e, ao mesmo tempo, viabilizando ao aluno a elaboração de uma síntese
sobre a educação no período destacado;
x Elaboração de sínteses, por cada aluno, acerca da experiência escolar relatada por
intermédio da história oral e demais fontes;
x Elaboração de um arquivo das fontes impressas e iconográficas colhidas;
x Realização de seminários, a fim de socializar os trabalhos finais dos alunos.
Até o momento, conta-se com as entrevistas transcritas, embora algumas delas
tenham de ser complementadas, pelos alunos, com certos dados relevantes que foram
negligenciados. Também foram coletados algumas fotos e documentos, mas não de todos.
Pelo mapeamento desses dados, levantaram-se alguns temas, os quais serviram de ponto de
partida para a orientação que se fará aos alunos concernente à bibliografia1 complementar e
ao cronograma de apresentação das sínteses dos alunos em sala de aula. Todas as etapas
executadas contaram com o acompanhamento e a orientação da professora.
A próxima fase será a formação dos grupos conforme a década e os temas, de forma
que as leituras e indicações bibliográficas poderão ser semelhantes para o mesmo grupo.
Por meio de tais procedimentos, os alunos terão oportunidade de checar as situações
concretas extraídas dos relatos que registraram sobre seu antepassado com o conhecimento
sistematizado nas obras sobre História da Educação, podendo inclusive romper com
determinadas afirmações correntes na historiografia da educação brasileira e até levantar
questões novas que impulsionarão novas investigações.
Os dados levantados através das entrevistas serão, a seguir, relacionados com as
influências históricas e educacionais em que ocorreram, tendo-se o cuidado de entendê-los
como construções carregadas de significados, os quais denotam apropriações múltiplas da
realidade em que emergiram.
O período abrangido pelas entrevistas, tendo em vista o ano de ingresso na escola,
inicia-se em 1919 e vai até os anos de 1985. As 23 entrevistas foram agrupadas em quatro
fases (tabela 1), tendo por critério os recortes conjunturais na História da Educação:
1. 1919-1929: fase conhecida como “anos vinte”, encontrando-se inúmeros estudos
sobre o movimento de modernização que a marcou, em visa da progressiva decadência do
setor do café pari passu aos surtos industriais voltados para o consumo externo. Inúmeros
acontecimentos dinamizaram essa sociedade em estavam emergindo inúmeras mudanças:

1
Os alunos são também incentivados a fazer pesquisa em bibliotecas (da UFU e da Biblioteca Municipal),
sendo que os que contam com tempo disponível estão se prontificando a pesquisar no Arquivo Público da
cidade.
teve-se a Semana da Arte Moderna; as reformas estaduais inspiradas em novos modelos (a
Escola Nova norte-americana e européia), cujos reformadores foram denominados
renovadores da educação; verde-amarelismo; ideologia do nacionalismo, com suas duas
facetas de caráter nacional e patriotismo, tendo na educação a via privilegiada de
divulgação do mesmo; crença de que a educação escolar seria a via privilegiada para a
solução dos males que afligiam o país; práticas que visavam higienizar o espaço urbano;
xenofobia e outros.
2. 1930-1945: período em que GetúlioVargas esteve no poder, por meio da ditadura
e, a partir de 1937, implantando o Estado Novo. O nacional-desenvolvimentismo que
grassou a sociedade de então, respaldou-se, dentre outros, no populismo; nacionalismo;
política do bem-estar social; debates entre representantes da Igreja Católica com os
Renovadores da Educação, intentando os primeiros implantar o ensino religioso nas
escolas e defendendo esses últimos o liberalismo na educação (laicidade, ensino público,
democracia, freqüência obrigatória etc) e colocando-os no Manifesto dos Pioneiros de
1932; a Reforma Francis Campos de 1931 sobre o ensino secundário; a Reforma
Capanema ou Leis orgânicas do Ensino, de 1942 a 1946, etc.
3º) 1946-1964: quando se dá a chamada “abertura democrática”, em que se restaura
o regime democrático, embora ainda se perceba tentativas nacionalistas, ao mesmo tempo
em que o estado vai abrindo as portas ao capitalismo monopolista, chegando ao ponto em
que o nacionalismo não mais encontrará espaço na política brasileira, com a implantação
definitiva do capital estrangeiro no país, em 1964, com o golpe militar. Na educação,
verificam-se os debates em torno da elaboração da 1ª lei de diretrizes e bases para toda a
nação – a LDB nº 4.024/61, a fim de garantir a unidade nacional. O Estado interventor
passou a pleitear uma educação capaz de formar o trabalhador para a indústria.
4º) 1965 a 1985: Fase da ditadura militar, repleta de arbitrariedades do poder
político, com repressões, cassações, prisões, perseguições e iniciativas que vão
privilegiando a iniciativa privada na educação em detrimento do ensino público, que vai
sendo sucateado e, ao mesmo tempo, o Estado passa a se colocar como supletivo, fazendo
um chamamento da sociedade civil para assuntos que eram direitos do povo e que vão
assumindo caráter assistencialista. Os setores marginalizados serão atendidos dentro desta
visão, como um último esforço do exército, em sua fase crítica, de trazer a classe média e
baixa para o seu lado, já que havia perdido o dos empresários.
Portanto, a história da educação será abordada dentro dessa delimitação, sendo que
os temas abordados serão retirados das entrevistas. Para o momento, não se teve tempo
para levantá-los, embora se possa adiantar alguns deles: a escola e o ensino rural;
comparação do ensino primário em São Paulo com o de Minas Gerais e o do espírito santo;
a leitura de mundo de uma analfabeta, que muito surpreendeu a aluna que a entrevistou,
devido à sua criticidade frente ao mundo; os castigos severos que marcaram a educação
desde seus primórdios e que até hoje ainda são praticados e aceitos; a precariedade da
educação elementar, ainda nos anos 60 e 70 do século passado; a insegurança e o medo que
permearam o espaço escolar no período da ditadura; o mobral; educação de adultos, em
uma Associação de Bairro de Uberlândia, dentre vários outros.
TABELA 1 - CARACTERIZAÇÃO DOS ENTREVISTADOS
No. Identificação do PERÍODO SEXO Escolaridade
Entrevistado
10 1919-1929 H Primário Completo – E.Particular
1,5,7,8,9,15,16,19 1930-1945 3H e 5M 1. analfabeta – Porto de MinasMG
5. secundário - PiracicabaSP
7. 5ª série – Uberlândia (Rural)
8. Colegial -Mimoso do Sul/ ES
9. ± 3º ano primário – MG - Rural
15. até 3º ano prim.-escola rural/Udi
16. ± 3º ano prim.-escola rural/SP
19. Ginasial- Ginásio D. Vital/MGri
4,6,12 13 14 17 18 20 1946-1964 1H e 8M 4. Curso Normal – Col. N. Senhora/Udi
24 6. Ginasial – E.Rural e E.Est. -MG
12. 3º ano prim.- ?
13. 1º colegial inc.- Itumbiara/GO
14. Primário – Grupo Escolar/SP
17. Primário – Gp Escolar-Canápolis
18. Primário- E. Espírita/Mte. Alegre
20. Técnico Contabilidade-Anápolis/GO
24. 3º ano primário-E.Rural/MG
2,3,11,21,22,23 1965-1985 1H e 5M 2. Ginasial- E.Rural/SP; EEUdi/MG
3. Ginasial - ?
11. 1º ano Magistério - Udi
21. Colegial – E.Pública/GO
22. Colegial – Mte. Carmelo/MG
23. 1º grau: Mobral e Exame de Suplência
de Ed. Geral – Udi/MG
Fonte: Dados extraídos das entrevistas realizadas pelos alunos do 2º ano de Pedagogia da
UFU - 2004.
Os números em negrito correspondem ao sexo feminino e os demais, ao sexo masculino.
M = Mulher H = homem ? = não consta o dado

Esta tabela foi montada com base no mapeamento feito a partir das evidências
levantadas nas entrevistas, sendo destacados os seguintes aspectos: nome do entrevistado;
Naturalidade e data de nascimento; ano de ingresso na escola, tipo de escola (rural, urbana,
suburbana; pública - federal, estadual, municipal; particular)- e tempo de permanência na
mesma, escolaridade do entrevistado, formação do professor e forma de contratação do
mesmo, disciplina escolar, conteúdo, mobiliário da escola, condições sanitárias, valores e
normas na escola. No entanto, nem todas as entrevistas trataram de todos esses temas,
sendo que algumas terão de ser complementadas pelos alunos. Mesmo assim, fica evidente
a nova forma de encarar o ensino, de forma a envolver os alunos o máximo possível e
possibilitando atitudes criativas e contestadoras
Pelo quadro já podem ser levantadas algumas considerações: das 23 entrevistas,
grande parte foi constituída de mulheres; causou uma surpresa encontrar, já no período
varguista um número representativo de mulheres com um grau de esolaridade mais
avançado que os homens – apenas uma analfabeta, tendo duas que cursaram o ginasial e
uma, o colegial e outra que estudara em Escola Rural, até o 3º ano primário. Alguns
depoimentos denunciam o pouco valor que a educação tinha para muitos fazendeiros e
pais, enquanto outros demonstram a felicidade que sentem por dominarem a leitura e a
escrita, pois disseram haver um preconceito para com o analfabeto, inclusive por parte dos
filhos, que sentem vergonha deles.
Outro aspecto digno de ser levantado é que, quanto mais se avança no tempo mais
alta é a escolaridade dos entrevistados. Uma delas chegou a dizer que a escola de hoje é
bem melhor que a de antes: enquanto a antiga comportava uma média de trinta alunos, as
de hoje colocam de quarenta a cinqüenta, o que demonstra um atendimento maior; fala das
mudanças de tratamento que o professor despendia antes e como é mais amigo e aberto ao
diálogo nos dias de hoje. Verifica-se, em quase todos, respeito e valor à escola; os que não
concluíram os seus cursos sentem-se frustrados, alegando que abandonaram a escola por
necessidade de trabalhar ou porque a escola urbana, onde teria de completar os estudos
ficava muito distante da fazenda, além dos parcos meios de transporte que se tinha
naqueles tempos. Só poderia ter um cavalo aquele que tivesse mais posses.
Com relação aos resultados, a experiência tem-se revelado realmente surpreendente
e promissora. Os alunos estão profundamente motivados, mobilizando-se de forma a
complementar o quadro interpretativo. Sentiram-se valorizados pela família, além de terem
conseguido desta um melhor entendimento do Curso. Muitos velhinhos sentiram-se
importantes por terem sido entrevistados por seus netos. O mais importante, no entanto, foi
a profusão de indícios obtidos, dando para se cobrir um longo período da história da
educação, de 1919 a 1985. Interessante a relatar é que grande maioria estudou em escolas
rurais, onde se percebe, inclusive até meados da década de sessenta, a prática do ensino
multisseriado, contando com uma só professora, a qual solicitava muitas vezes a ajuda dos
mais adiantados. Disciplina extremamente rígida, mas que é lembrada com saudosismo por
eles, dizendo alguns que “graças ao professor conseguiu aprender tudo que sabe hoje”. A
educação feminina era secundarizada, havendo depoimento de uma avó analfabeta de
letras, mas profundamente consciente da realidade e da importância da escolarização para
o indivíduo.
A ida dos alunos aos arquivos da cidade, embora feita muito ligeiramente, serviu
para que os mesmos tivessem contato com um espaço imprescindível ao historiador de
ofício.
O trabalho ainda não terminou, mas se pode adiantar que as aulas ganharam mais
dinamicidade e interesse por parte dos alunos, que passaram a buscar bibliografias
complementares, a questionar mais em sala de aula, a interessar-se melhor pelas aulas
ministradas. Aumentou a cobrança, a participação e o interesse. Está-se pensando em fazer
um manual com todos os trabalhos já corrigidos pela professora e refeitos pelos alunos.

BIBLIOGRÁFIA BÁSICA QUE SERVIRÁ DE REFERÊNCIA PARA A PESQUISA


DOS ALUNOS
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