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Nota sobre o Festival de Jazz e a promoção da cultura/turismo no Tabuleiro

Entre os dias 27 e 30 de abril, aconteceu no campo do Tabuleiro Festival Internacional de Jazz.


Não foi o primeiro evento cultural realizado no distrito. Por aqui já tivemos: dois Festivais de Música
(2014/2015) com ampla participação de turistas, comunidade e premiação de artistas; um Encontro de
Povos do Espinhaço (2016) com a presença de Guardas/ Reinos do Rosário e comunidades tradicionais
de toda cordilheira, incluindo quilombolas e indígenas. Estes eventos estão relacionados com o
desenvolvimento do capital social da comunidade, sobretudo na última década, em que verificamos o
surgimento de ações e grupos como a Feirinha, Grupo de Mulheres Raizeiras, rádio comunitária,
renovação da associação, empreendimentos econômicos familiares de moradores nativos, etc. O
Tabuleiro ainda recebeu shows de eventos oficiais promovidos pelo poder público, como o Projeto
Matrix.

Dois pontos destacam o Festival de Jazz em relação aos anteriores. Primeiro a dimensão do
evento, resultado do grande aparato institucional e ampla estratégia de marketing e mobilização
política da cadeia produtiva do turismo, começando por Conceição do Mato Dentro (receptivos,
pousadas, restaurantes, etc). Em seguida, a valorização do capital social em desenvolvimento na
comunidade, resultando em distribuição da margem de lucro do evento, ainda que nas condições
desiguais do capitalismo e da relação centro (sede)/periferia(distrito). Os moradores do distrito
auferiram rendimentos com a venda de produtos na Feirinha, aluguel de imóveis e incremento do
comércio local. Tivemos, pois, um saldo positivo. Mas, passado o evento, algumas reflexões sobre a
promoção de atividades culturais na localidade se apresentam.

Eventos deste nível são bem vindos, mas a política cultural não pode ser reduzida aos mesmos.
Um ponto fundamental é a distinção entre desconcentração x descentralização cultural. A primeira
refere-se exclusivamente á alocação de recursos em eventos planejados de forma centralizada pelo
poder público. A última implica em participação dos moradores na definição do que entende como
política cultural para o Tabuleiro, além da desejável captação de turistas. Nesta perspectiva, é preciso
que o poder público invista em atividades de desenvolvimento cultural que valorizem o cotidiano da
comunidade. Até o momento, não existe nenhuma oficina continuada para a formação artística e
cultural de crianças, adolescentes e jovens, embora o caráter bucólico do vilarejo tenha atraído ótimos
artistas e profissionais que elegeram o Tabuleiro como lugar para viver. Também é preciso mais atenção
para as manifestações tradicionais e patrimônio imaterial, que abrange a faixa etária dos adultos e da
melhor idade. Aqui, um ponto negativo foi a ausência da Marujada de Conceição que estava
programada para o encerramento do Festival de Jazz, lembrando que esta manifestação já foi ativa em
grande número de distritos. Mas, a julgar pela procrastinação do poder público que vem protelando por
mais de uma década o registro imaterial da tradicional Festa de Nossa Senhora do Rosário que ocorre
anualmente na sede, os festejos e saídas da guarda na zona rural correm sério risco de se transformar
em ruínas.

Além da Marujada e da Festa do Rosário, o Tabuleiro nos brinda com um Roteiro dos Festejos
de Santo Cruzeiro, com uma riqueza de histórias orais e casuísticas associadas e que mobilizam
anualmente centenas de moradores e visitantes. A primeira delas – a “Cruz do Cabeludo” (Mata da
Paraúna) aconteceu em meio ao próprio Festival de Jazz e contou com caravanas de ônibus. E, tão
rápido quanto o desmonte da estrutura do festival, os tabuleirenses já festejavam no Cruzeiro da
Vargem. Na sequência, recortando em rizoma o calendário do Jubileu, estão previstas os festejos nos
cruzeiros do Charco, Quinzim, Crispin Rosa, Bia e da Cava.

A conclusão é de que vale o esforço para elevar a Cachoeira do Tabuleiro, bem como as belezas
naturais da região, em atrativos turísticos potencializados por eventos. Mas, não pode ser ocultado o
fato de que o Tabuleiro é uma comunidade onde vivem pessoas, com suas expressões e memórias, que
também precisam ser valorizadas e fomentadas.
Cruz do Cabeludo (Paraúna). Decorada para a Festa

Assinam:

Júlio Jader Costa - Morador do Tabuleiro. Antropólogo-Arqueólogo

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