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A TEMÁTICA INDÍGENA: ENTRE AS LEIS E O ENSINO DE

HISTÓRIA1

Lorrayni dos Santos Sousa2


Marcelo Broseguini2

Abordagem dea cvultura indígena pelo ensino de história sob os viés da lei 10.645´

Anota aí. História do índio do brasil


Analise sobre a cultura indígenas e a sua visão na sociedade brasileira
Importância(contribuições) do ensino de história para a propagação da cultura indígena e
educação cidadã.

Resumo: O 19 de abril é marcado em escolas públicas e privadas como um dia de muitas


comemorações em homenagem ao índio. Algumas músicas são tocadas, cocares são feitos e
sob os rostos infantis a representação da pintura indígena semeia uma tentativa de retomada
dessa cultura que a muito tem sofrido tentativas de extinção. Iniciativas como estas fazem
parte de um conjunto de ações provenientes de uma série de leis que ao longo do tempo
foram se complementando, determinando o direito de cada cidadão tanto a educação de
qualidade (art. 205 da CF/88) quanto ao acesso a história de seu país, a sua própria história.
Para organizar esta educação básica fora criada em 1961 a Lei de diretrizes e bases da
educação nacional (LBD), sendo por muitas vezes alterada no que os representantes da
população julgaram necessário. No que tange este artigo a alteração significativa foi realizada
pela lei n. 11.645/08, onde a história, cultura e luta do povo indígena do Brasil passa a se
tornar um conteúdo programático obrigatório no currículo da educação básica. Todo este
processo para garantir que todos terão acesso a parte da cultura componente à do país, e
também para que a história dos índios no Brasil não se perca e seja extinta, como quase foi ao
longo desses quinhentos anos de história do Brasil. Para que isso aconteça na pratica, o ensino
de história torna-se então o responsável tanto por transmitir quanto por conscientizar cada
aluno da importância deste povo na formação do nosso país.

Palavras-chave: Leis; História Indígena; Cultura Indígena; Ensino de História.

1
Trabalho referente ao primeiro semestre de atividades no PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
à Docência).
2
Licenciandos em História pelo UNASP-EC (2016-2018) e bolsistas do PIBID.
Introdução
Para o estabelecimento e afirmação de uma nação são necessários diversos fatores,
que, ao longo do tempo, em conjunto a forma. Um desses fatores, provavelmente o
primordial, é a capacidade que o grupo de indivíduos desenvolve de coexistência e isso em
um território próprio. O qual também é outro fator basilar para a formação de uma nação: o
domínio sobre um território. E esta coexistência necessita ir muito além da pacificidade e
aceitação, mas também de funcionalidade. Desta forma em qualquer uma das nações
estabelecidas hoje, em qualquer parte do globo, tem por dinâmica e características básicas
um território de domínio habitado por um grupo, ou grupos, de indivíduos que se aceitam e
atuam pacifica e harmonicamente entre si de maneira a produzirem o mínimo para sua
subsistência.
Tendo isto em vista, na medida em que os povos vão desenvolvendo relações mais
complexas e intensas, vão surgindo noções do que pode ou não ser feito a outro membro do
grupo. A princípio de maneira mais rudimentar, sendo acordadas entre os indivíduos de forma
verbal, até os nossos dias onde a leis englobam, ou ao menos tentam, todas as esferas da vida
humana pública e até mesmo privada.
Após milênios de evolução constante, a partir dos primeiros agrupamentos humanos,
as leis representam, de certa forma, o suprassumo da capacidade humana. Do distanciamento
básico que existe entre homens e animais, a razão, ou seja, a capacidade que o homem possui
de pensar, analisar, criticar e elaborar sistemas em prol da humanidade, fica evidente nas leis
que estes criaram. As formas e fórmulas humanas que estabelecem os direitos e deveres de
cada cidadão, em primeira análise, apresentam o que a humanidade possui de melhor, que é
o viver harmonicamente em grupos. Como já observou Aristóteles (1960), ao dizer que o
homem é um animal político por natureza, por conta de sua necessidade de se relacionar. E
também, para além de disso, como tais fórmulas podem proporcionar justiça e equidade, na
medida em que todos os homens são iguais.
Desta maneira as leis são significativamente importantes para qualquer Estado, na
medida em que seu povo a conhece, atua e convive harmonicamente ciente de seus direitos
e deveres para com o outro e com o Estado. Por conta disso o Estado, num cenário ideal,
convoca seu povo e constrói a sua Carta Magna, ou Constituição, onde este povo, vai elencar
tais direitos e deveres. E ali, estará a “espinha dorsal” daquela nação e cada um de seus
partícipes pode recorrer a ela a fim de saber os seus deveres e evocar seus direitos.
Diante disto, cremos que o ponta pé inicial de nosso trabalho somente poderia, para
ser de fato completo ou apresentar o mínimo de coerência, se dá a partir da nossa Carta
Magna, a Constituição da República Federativa do Brasil, em sua versão vigente, que é a de
1988. Onde, a partir de sua perspectiva vamos discorrer sobre como ela direciona o ensino da
cultura indígena na escola básica brasileira.

Metodologia

Este trabalho é fruto de um levantamento bibliográfico sobre a temática “A questão


indígena prevista em lei e o ensino de História”. A partir do tema proposto iniciamos a
organização do que seria de pesquisado e esquematizado na ordem exposta no trabalho. A
partir disso começamos nossa pesquisa de fontes no campo do direito constitucional por meio
da página virtual do Palácio do Planalto, onde se encontram todos os textos de lei que regem
o país, inclusive a Constituição Federal/88, e também em livros e artigos que versaram sobre
o ensino de História e seu envolvimento com a história e cultura indígena. Os procedimentos
metodológicos de pesquisa se deram no busca em acervos online como, por exemplo, no
banco on-line de Teses da USP e na plataforma Scielo, na Biblioteca Universitária Dr. Enoch de
Oliveira (UNASP-EC), e por meio de materiais disponibilizados por professores do curso.
Encontradas as bibliografias necessárias de conteúdo relevante para a escrita do presente
texto seguimos então com a construção do mesmo.

História e Cultura indígena na Constituição Federal

Primeiramente é necessário compreender que a Constituição tal como se apresenta


hoje é fruto de diversos debates e alterações, desde sua primeira versão, de 1824, até a atual,
a de 1988. E esta última ainda tendo recebido alterações e leis complementares objetivando
atender as demandas sociais que, as vezes não foram previstas a época de sua confecção, as
vezes por conta do surgimento de novas demandas.
Indo, portanto, a Constituição, observamos no Capítulo III – Da Educação, da cultura e
do desporto, em sua seção I – Da Educação, o seguinte:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de
maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais
e artísticos, nacionais e regionais.
§ 1.º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos
horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.
§ 2.º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa,
assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas
maternas e processos próprios de aprendizagem (Brasil, 1988, art.61).

Vale lembrar que no capítulo III da Constituição os artigos 205 ao 214 tratam de
demandas sobre a Educação. Sendo que aqueles que não foram mencionados acima versam
basicamente sobre os princípios pelos quais o ensino deve ser aprovisionado (artigo 206),
autonomia das universidade (artigo 207), deveres e participação do Estado(artigo 208), a
liberdade de atuação da iniciativa privada nas áreas educacionais(artigo 209), a colaboração
e responsabilidades das esferas federal, estadual, do distrito federal e municipal(artigo 211 e
212), tipos de instituições educacionais e requisitos para receberem os recursos
públicos(artigo 213) e o estabelecimento do plano nacional de educação e os objetivos de sua
implementação(artigo 214).
Logo em suas primeiras linhas já observamos no artigo 205 a educação como sendo
um “direito de todos e dever do Estado” (Brasil, artigo 205), onde o Estado e a família atuam
em conjunto a fim de garanti-la. Nota-se também qual o objetivo que a Constituição estipula
para a Educação, que deve visar o “pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (Brasil, 1998, art. 205).
É possível inferir ao texto “visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
para o exercício da cidadania” (Brasil, 1988, art. 205) a necessidade de transmitir o conteúdo
da história e cultura indígena em sala de aula. Pois o conhecimento de uma das matrizes mais
fortes de nossa identidade como brasileiros é fundamental para a formação e exercício de
nossa cidadania.

Respeitar, valorizar e incorporar a história e a cultura [...] indígena na


educação escolar são atitudes que não podem, a meu ver, ser tratadas como
meros preceitos legais, mas um posicionamento crítico perante o papel da
·História como componente formativo da consciência histórica e cidadã dos
jovens. A História constitui um campo de saber fundamental na luta pela
construção de uma sociedade democrática e multicultural (Guimarães, 2013,
pag. 80).

Seguindo o dito por Guimarães (2013), tendo em vista que o Brasil é uma sociedade
que, se ainda não construiu uma estrutura social plenamente democrática, têm buscado isto
insistentemente nas últimas décadas, e que é notadamente multicultural. Formado por três
grandes matrizes básicas, a indígena, a africana e a europeia, este país apresenta uma
diversidade cultural cujo tamanho dificilmente pode ser observado em outra nação, se é que
existente alguma que pode ser equiparada.
Por conta disso há uma demanda básica e urgente de que o cidadão brasileiro saiba
lidar com as suas diferenças culturais para se estabelecer como uma nação forte, pacifica,
harmônica e funcional. Com isso em mente a história e cultura indígena necessita ser
abordada e muito bem em sala de aula. Pelo visto o artigo 205 no conduz para tal constatação,
contudo, se mostra insuficiente diante de tal demanda.
Outro ponto da Constituição brasileira, ainda dentro da área educacional, no artigo
210 que em seu segundo parágrafo também aborda sobre os povos indígenas, que
evidenciamos acima, não conglomera exatamente a questão desta cultura em sala de aula.
Ela trata sobre a especificidades existentes na educação em comunidades indígenas e não
sobre o ensino de tal história e cultura nas escolas brasileiras. Assim temos, em nossa
constituição vigente, o assunto sendo tratado de forma superficial e incapaz de atender as
necessidades específicas desta questão.
E é por conta de situações como esta, onde a Constituição não conseguisse prever e
abarcar todas as demandas sociais de uma questão, que a própria contêm uma lei que
permite, e até incentiva a elaboração de regulamentos e orientações complementares para
atender as demandas especificas das diversas áreas. E isto se dá por meio das chamadas Leis
complementares ou ordinárias. Vemos isso no artigo 61:
A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro
ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso
Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos
Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na
forma e nos casos previstos nesta Constituição (BRASIL, 1988, Art. 61).

Desta forma, percebendo as demandas especificas de qualquer área a sociedade ou o


Estado se movimenta a fim de garantir o suprimento de tais necessidades. Tendo isso como
objetivo vimos o surgimento da Lei das diretrizes e bases da educação nacional (LDBEN) de 20
de dezembro de 1996 com o número 9.394/96. Nela foram abordados o que se julgava
necessário para estruturar uma educação de qualidade no Brasil.
A LDBEN é composta por 92 artigos que tem por finalidade básica garantir o que a
Constituição já previa como objetivo da Educação que é capacitar o cidadão a prática da
cidadania plena e preparo para o mundo do trabalho.
Já no artigo 3º no inciso XVII, onde a Lei clarifica sob quais princípios o ensino deve ser
ministrado, observamos “consideração com a diversidade étnico-racial” (LDB, Art. 3, 1996) e
podemos notar o início de uma abordagem mais especifica sobre as questões indígenas em
sala de aula. Que neste caso versa sobre a necessidade de estar atento as diferenças étnico-
raciais que podem existir e considera-las devidamente.
No artigo 22 (Lei 9.394, 1996) vemos reafirmando a finalidade de assegurar “formação
comum indispensável para o exercício da cidadania”, que, como já apontando neste trabalho,
só pode ser plena com a transmissão da história e cultura dos povos indígenas. E no artigo 26
podemos compreender o texto da Lei como concedendo plasticidade ou complementação aos
currículos por conta das “características regionais ou locais, da cultura, da economia e dos
educandos” (Lei 9.394, 1996, art.26). Ou seja, se a constituição prevê a formação cidadã e
concluímos que o conhecimento da história e cultura indígenas são fundamentais para a
cidadania plena do brasileiro, podemos entender que regiões com maior presença indígena
pode e deve apresentar mais tempo e recursos afim de garantir o ensino desta cultura em sala
de aula.
Ainda no artigo 26 vemos o seguinte em seu parágrafo quarto: “O ensino da História
do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do
povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia” (Lei 9.394, 1996,
art.26). No texto percebemos que a matriz indígena deve ser abordada com o intuito de expor
as contribuições desta para a formação do povo brasileiro.
E a partir de 2008 o Caput 26-A trás em seus parágrafos, de maneira específica e direta
os conteúdos e obrigatoriedades quanto ao ensino da história e cultura indígenas nas salas de
aula da educação básica brasileira. Com isso em mente vamos abordar o papel da disciplina
de História para o ensino desta cultura.

História e Cultura indígena na sala de Aula

Saber quais leis respaldam e tornam obrigatória a transmissão da cultura indígena na


educação básica, bem como evidencia a sua importância para a formação da identidade
nacional é tão importante quanto conhecer a disciplina a qual este conteúdo está atrelado, a
história. De forma alguma poderia este assunto se encontrar em outra disciplina, pois é o
ensino de história o responsável por transmitir, além do conhecimento histórico, o senso de
amor à pátria, estimula a sensibilidade e o altruísmo pelas lutas por igualdade e além disso é
quem responsável por estimular o senso crítico, tornando assim óbvia a necessidade de
compreender com certa profundidade o que, de fato, é o ensino de história. Sobre isso
discorreremos a seguir.
Antes de tudo, é preciso conhecer o que de fato é a história. Segundo Borges (1993), a
história é o estudo do que aconteceu e acontece com os homens, o que com eles se passa
concretamente. A história tem por objetivo central as transformações ao longo tempo (que é
a sua dimensão de análise), tendo o homem como objeto vitalício. Para Le Goff (1924, p.18):

[...] 'história' exprime dois, senão três, conceitos diferentes. Significa: 1) esta
"procura das ações realizadas pelos homens" (Heródoto) que se esforça por
se constituir em ciência, a ciência histórica; 2) o objeto de procura é o que os
homens realizaram. [...], mas a história pode ter ainda um terceiro sentido, o
de narração.

É através da história que conhecemos tudo o que já existiu, e como uma teia de aranha
ela consegue costurar outras ciências (geografia, filosofia, ciências, entre outras), buscando
nelas o que é interessante para que o conhecimento do todo seja mais completo. Esta
interdisciplinaridade é vista tanto na construção da própria história quanto na forma de
ensiná-la, dentro de uma sala de aula.
Todavia, a história que aqui fora rapidamente mencionada situa-se disciplina
obrigatória na educação básica, amparada e imposta por lei no Brasil. O ensino de história em
sala busca na transmissão do conhecimento histórico formar e desenvolver o senso crítico de
cada indivíduo. Deve esta cadeira ser a responsável por fazer com que o aluno consiga pensar
por ele mesmo, crie em seu próprio entendimento parâmetros para avaliar tudo que está
sendo apresentado a ponto de julgar o que de fato seria o ideal, ou mesmo o correto.

É importante ainda considerar que, por se tratar de um objetivo referente à


educação, nossa intenção é a de que os alunos sejam capazes de formular
não só juízos de realidade, mas também juízos de valor. Não basta exercitar
o aluno a fim de que ele possa formular julgamentos concernentes a
conteúdos de disciplinas ou a aspectos palpáveis do real, é preciso ainda leva-
lo a considerar as questões éticas concernentes à vida humana, e isso exige
sensibilidade ao contexto, redução de preconceitos, bem como ceticismo no
tocante às ideias que nos são impostas. Os julgamentos são orientados por
critérios e por valores, sendo que muitas vezes um valor torna-se um critério,
e vice-versa. Por isso, é necessário também levar os alunos à reflexão dos
valores que lhes servem de parâmetros em seus juízos (SILVA, 2003, p. 59 e
60).

Para que o discente consiga desenvolver esse senso crítico e aumentar a sua carga de
conhecimento é necessário evidentemente conhecer os meios pelos quais essas fontes
históricas vão sendo preenchidas. São elas os registros das ações humanas e tudo que estas
acabam produzindo, de documentos, monumentos, depoimentos orais, objetos e tudo que
seja concreto e carregue consigo traços de alguma história e que nos aponte a realidade vivida
pelo homem nos diversos tempos e espaços

Portanto, todos os registros e as evidências das ações humanas são fontes


de estudo da História. A história como experiência humana toma-se objeto
de investigação do historiador, que realiza o levantamento das fontes
históricas, analisa-as, dialoga com as teorias e com outros achados
produzidos na esfera social e os transforma em conhecimento (GUIMARÃES,
2012, p. 42).

Porém, além de transmitir todo o conhecimento histórico e despertar o senso crítico


no aluno, a disciplina de história existe no currículo da educação básica também por conta de
suas características complementares. No Brasil esta cadeira passou por muitas mudanças até
chegar ao que atualmente é apresentado aos alunos nas escolas, sendo esta em muitos
aspectos protegida por lei, como é o caso da cultura indígena, objeto de estudo deste artigo.
Pautada neste aspecto compreende-se que a história como ensino possui a sua
responsabilidade social de se utilizar de todo o conhecimento próprio para contribuir
ativamente na formação dos cidadãos que a ela tem acesso, boa parte do tempo obrigatório.

A História tornou-se imprescindível na formação da cidadania, integrando o


currículo escolar com a preparação de um cidadão atuante e consciente de
sua função social, no mundo contemporâneo, percebendo-se como agente
transformador e protagonista da sua história (KANTOVITZ, 2012, p.105 e
106).

O ensino de história possui inúmeras e diversas contribuições também para a formação


da cidadania, na qual a própria história do Brasil é um apoio, sendo necessário um tratamento
minucioso para este conteúdo. Pagês (apud GUIMARÃES, 2012, p.153) destaca, entre os
principais, que os jovens devem ser capacitados construírem um olhar lucido e um senso
crítico, para que desenvolvam o pensamento e uma consciência histórica, maturidade política
ativa e participativa, o senso de identidade, respeito e empatia às demais culturas.

A questão da História do Brasil na escola requer, portanto, um compromisso


político e cultural, para que a História Nacional seja cuidadosamente
estudada, que a seleção de conteúdos da História do Brasil seja central e
prioritária e que se obedeça a critérios metodológicos e com fundamentação
teórica rigorosa tanto no que se refere à historiografia quanto à pedagogia,
para evitar-se um ensino dogmático e ideológico (KARNAL, 2007, p.203).

Cidadania tem que ver com amor à própria pátria, estar conectado com a nação a qual
faz parte, vai desde respeitar as pessoas com quem se divide o mesmo ambiente até entender
por que o Brasil é Brasil, qual foi o processo que o fez ser do jeito que é hoje. Compreender
isto é entender que os indígenas tiveram uma fatia considerável no bolo da história do país,
pois não há a menor possibilidade de retirar da história quem estava aqui primordialmente.

O ensino de História, os conteúdos a serem ministrados, os objetivos de


ensino, o papel da disciplina, as intencionalidades educativas são objeto de
discussão, debates e disputas teóricas e políticas em diversos espaços
formativos, de produção e transmissão de saberes. Respeitar, valorizar e
incorporar a história e a cultura afro-brasileira e indígena na educação
escolar são atitudes que não podem, a meu ver, ser tratadas como meros
preceitos legais, mas um posicionamento crítico perante o papel da História
como componente formativo da consciência histórica e cidadã dos jovens. A
História constitui um campo de saber fundamental na luta pela construção
de uma sociedade democrática e multicultural (GUIMARÃES, 2012, p.80).
Envolta à educação cidadã e a questão do nacionalismo estão as lutas – em prol da
igualdade - que as classes desvalorizadas ao longo da história encabeçam. Na verdade, essas
lutas, na grande parte das vezes política, são pela retificação da verdade. Aqui estamos
falando dos indígenas que contribuíram quase que integralmente para a formação do país
Brasil, compondo a tríade tanto abordada nos escritos de Freyre (2003) – índio, negro e
português - e que por muito tempo passou-se despercebido, ou mesmo esquecido.

§ 4º O ensino da história do Brasil levará em conta as contribuições das


diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro,
especialmente das matrizes indígena, africana e europeia (Lei n. 9.394, 2015,
art.26).

O texto da lei é bem claro, a disciplina história tem em sua função social o braço da
luta pela valorização destes povos, bem como de sua cultura e a confirmação de sua parcela
contributiva no processo de formação do país.

A História como disciplina formativa tem um papel central na luta pela


superação da formação racista e no desafio de construção de um projeto de
educação inclusiva, republicana, libertadora e plural. Como afirma Ki-Zerbo
(apud, 2010, p.33), a História como ciência humana, mais que qualquer outra
disciplina, "é igualmente feita para o homem, para o povo, para aclarar e
motivar sua consciência" (GUIMARÃES, 2012, p.87).

Contudo, engana-se quem acha que esta história sempre foi contada dessa maneira.
O que vemos na verdade é uma história que, por muitos séculos esteve sendo manipulada e
contada à luz dos que dominavam o poder, e para isso um exemplo bem claro é o fato dos
povos indígenas terem sofrido tamanho etnocídio em menos de cinco séculos de história do
Brasil e pouco se sabe ao certo como isso aconteceu. Vemos os índios no Brasil colonial e eles
curiosamente “somem” por séculos, até reaparecerem no século XIX, sendo melhor
representado a partir do século XX.

Os índios começaram a povoar os livros escolares desde o século XIX,


simbolizando, inicialmente, o selvagem antropófago que dificultava a
civilização apesar dos esforços dos missionários. Foi apenas a partir do
século XX que, pelo ideário do Romantismo, o índio se tornou um dos
símbolos da nacionalidade (KARNAL, 2007, p.200).
Conforme Guimarães (2012), foi na década de 70, com o surgimento de movimentos
sociais contra o racismo, os preconceitos, a marginalização e as desigualdades que os
indígenas ressuscitam a sua luta. Estes movimentos trazem então a necessidade de
reorganização da história nacional. Porque um povo tão importante, aqueles que estavam
aqui antes de tudo, os verdadeiros anfitriões, não fazem parte da identidade nacional? Algo
estava sendo obscurecido. A história não estava completa. Lamentavelmente, esta realidade
ainda demorou um pouco para mudar.
Embora tenha a LDB entrado em vigor em 1961 já tendo a disciplina de história como
obrigatória para o ensino básico, esta passou por inúmeras alterações, chegando somente em
2008, pela lei 11.645, a mudança que traz a cultura indígena para a realidade da educação.

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio,


públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-
brasileira e indígena: § 1º O conteúdo programático a que se refere este
artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a
formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais
como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos
povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o
índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições
nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2º
Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos
indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo
escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história
brasileiras (Lei 9.394, 2015, art.26-A).

A partir deste texto de lei fica claro então que é uma essencialidade do ensino a
transmissão da cultura e história indígena para toda a educação básica. A representatividade
deste povo nos dá, sem dúvidas, uma dimensão do que era o Brasil antes mesmo de o ser.
Possuidores de uma cultura alimentar, habitacional, social, religiosa e cultural que influenciou
os primeiros colonizadores e foi-se postergando – sim, porque eles sempre estiveram aqui –
bem como a luta pela sobrevivência em sua própria terra constituem a camada inicial
substancial e insubstituível.

Uma abordagem genérica sobre o índio brasileiro impede o entendimento


da participação de cada grupo nativo na história local e em escala mais
ampla, assim como impossibilita o conhecimento da história das relações e
formas de contato com o mundo branco, diferente para cada população
indígena e com consequências igualmente diversas para a História Nacional
(KARNAL, 2007, p.202).
Diante disso, entende-se que a responsabilidade de transmitir esse conhecimento
sobre a cultura indígena – e porque não chamar também de cultura brasileira? – é totalmente
pertencente à disciplina que é responsável pela formação crítica do indivíduo. O ensino de
história possui muitos desafios, não somente deve ele transmitir a parte histórica dos fatos,
mas também contribuir para que cada aluno compreenda o seu papel na sociedade, e o
cumpra da melhor forma possível, bem como ajudá-lo a reconhecer as lutas validas, e a elas
estar sensibilizado. Estes objetivos devem ser cumpridos com eficiência, sob a proposta pela
qual a matéria fora criada.
As escolas, bem como os professores, e em especial o material didático, devem estar
preparados pedagogicamente para promover a valorização da diversidade cultural – a
respeito do qual a cultura do pais está embasada – lembrando sempre que, além de transmitir
o conhecimento destes povos, existe também a possibilidade de alunos indígenas em escolas
não indígenas que precisam receber o conhecimento de seu povo de alguma forma (DCNEB,
2013, p.381).

Conclusão

Através da análise dos textos de lei mencionados ao longo deste trabalho pudemos
compreender que a lei é clara em relação aos deveres da educação em manter ativo o
conteúdo da história e cultura indígena na educação básica. Nota-se a sensibilidade da lei em
tentar garantir que todos tenham acesso a uma educação de qualidade e, sobretudo, que cada
cidadão brasileiro possa conhecer sobre os três pilares da formação do povo brasileiro, dando
especial atenção à população que já estava aqui antes mesmo da colonização europeia, os
povos indígenas.
É bem verdade que estes povos passaram por um processo de desvalorização e
sofreram tentativas de extinção em muitas partes do país por séculos de existência do Brasil,
tornando ainda mais necessário que atualmente estes sejam respaldados por lei, guardados
pela nossa Carta Magna, a Constituição Federal. Para que esta valorização seja real nada mais
justo do que todos conhecerem as lutas, a cultura, a história deste povo, compreendendo o
seu papel na construção da nação.
Para isso, nada melhor que se utilizar do recurso educacional, que além de ser básico,
é obrigatório. Dentro do ensino de história, disciplina formadora, responsável pelo despertar
do senso crítico e – indiretamente – incentivadora da cidadania, a história dos índios no Brasil
está respaldada e “amparada”. Deve esta cadeira leva-la de forma imparcial e verdadeira a
todos os que passam pelas salas escolares, desmistificando assim a ideia de que o índio é só
mais uma população no país fora de contexto.

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