Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
HISTÓRIA1
Abordagem dea cvultura indígena pelo ensino de história sob os viés da lei 10.645´
1
Trabalho referente ao primeiro semestre de atividades no PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
à Docência).
2
Licenciandos em História pelo UNASP-EC (2016-2018) e bolsistas do PIBID.
Introdução
Para o estabelecimento e afirmação de uma nação são necessários diversos fatores,
que, ao longo do tempo, em conjunto a forma. Um desses fatores, provavelmente o
primordial, é a capacidade que o grupo de indivíduos desenvolve de coexistência e isso em
um território próprio. O qual também é outro fator basilar para a formação de uma nação: o
domínio sobre um território. E esta coexistência necessita ir muito além da pacificidade e
aceitação, mas também de funcionalidade. Desta forma em qualquer uma das nações
estabelecidas hoje, em qualquer parte do globo, tem por dinâmica e características básicas
um território de domínio habitado por um grupo, ou grupos, de indivíduos que se aceitam e
atuam pacifica e harmonicamente entre si de maneira a produzirem o mínimo para sua
subsistência.
Tendo isto em vista, na medida em que os povos vão desenvolvendo relações mais
complexas e intensas, vão surgindo noções do que pode ou não ser feito a outro membro do
grupo. A princípio de maneira mais rudimentar, sendo acordadas entre os indivíduos de forma
verbal, até os nossos dias onde a leis englobam, ou ao menos tentam, todas as esferas da vida
humana pública e até mesmo privada.
Após milênios de evolução constante, a partir dos primeiros agrupamentos humanos,
as leis representam, de certa forma, o suprassumo da capacidade humana. Do distanciamento
básico que existe entre homens e animais, a razão, ou seja, a capacidade que o homem possui
de pensar, analisar, criticar e elaborar sistemas em prol da humanidade, fica evidente nas leis
que estes criaram. As formas e fórmulas humanas que estabelecem os direitos e deveres de
cada cidadão, em primeira análise, apresentam o que a humanidade possui de melhor, que é
o viver harmonicamente em grupos. Como já observou Aristóteles (1960), ao dizer que o
homem é um animal político por natureza, por conta de sua necessidade de se relacionar. E
também, para além de disso, como tais fórmulas podem proporcionar justiça e equidade, na
medida em que todos os homens são iguais.
Desta maneira as leis são significativamente importantes para qualquer Estado, na
medida em que seu povo a conhece, atua e convive harmonicamente ciente de seus direitos
e deveres para com o outro e com o Estado. Por conta disso o Estado, num cenário ideal,
convoca seu povo e constrói a sua Carta Magna, ou Constituição, onde este povo, vai elencar
tais direitos e deveres. E ali, estará a “espinha dorsal” daquela nação e cada um de seus
partícipes pode recorrer a ela a fim de saber os seus deveres e evocar seus direitos.
Diante disto, cremos que o ponta pé inicial de nosso trabalho somente poderia, para
ser de fato completo ou apresentar o mínimo de coerência, se dá a partir da nossa Carta
Magna, a Constituição da República Federativa do Brasil, em sua versão vigente, que é a de
1988. Onde, a partir de sua perspectiva vamos discorrer sobre como ela direciona o ensino da
cultura indígena na escola básica brasileira.
Metodologia
Vale lembrar que no capítulo III da Constituição os artigos 205 ao 214 tratam de
demandas sobre a Educação. Sendo que aqueles que não foram mencionados acima versam
basicamente sobre os princípios pelos quais o ensino deve ser aprovisionado (artigo 206),
autonomia das universidade (artigo 207), deveres e participação do Estado(artigo 208), a
liberdade de atuação da iniciativa privada nas áreas educacionais(artigo 209), a colaboração
e responsabilidades das esferas federal, estadual, do distrito federal e municipal(artigo 211 e
212), tipos de instituições educacionais e requisitos para receberem os recursos
públicos(artigo 213) e o estabelecimento do plano nacional de educação e os objetivos de sua
implementação(artigo 214).
Logo em suas primeiras linhas já observamos no artigo 205 a educação como sendo
um “direito de todos e dever do Estado” (Brasil, artigo 205), onde o Estado e a família atuam
em conjunto a fim de garanti-la. Nota-se também qual o objetivo que a Constituição estipula
para a Educação, que deve visar o “pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (Brasil, 1998, art. 205).
É possível inferir ao texto “visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
para o exercício da cidadania” (Brasil, 1988, art. 205) a necessidade de transmitir o conteúdo
da história e cultura indígena em sala de aula. Pois o conhecimento de uma das matrizes mais
fortes de nossa identidade como brasileiros é fundamental para a formação e exercício de
nossa cidadania.
Seguindo o dito por Guimarães (2013), tendo em vista que o Brasil é uma sociedade
que, se ainda não construiu uma estrutura social plenamente democrática, têm buscado isto
insistentemente nas últimas décadas, e que é notadamente multicultural. Formado por três
grandes matrizes básicas, a indígena, a africana e a europeia, este país apresenta uma
diversidade cultural cujo tamanho dificilmente pode ser observado em outra nação, se é que
existente alguma que pode ser equiparada.
Por conta disso há uma demanda básica e urgente de que o cidadão brasileiro saiba
lidar com as suas diferenças culturais para se estabelecer como uma nação forte, pacifica,
harmônica e funcional. Com isso em mente a história e cultura indígena necessita ser
abordada e muito bem em sala de aula. Pelo visto o artigo 205 no conduz para tal constatação,
contudo, se mostra insuficiente diante de tal demanda.
Outro ponto da Constituição brasileira, ainda dentro da área educacional, no artigo
210 que em seu segundo parágrafo também aborda sobre os povos indígenas, que
evidenciamos acima, não conglomera exatamente a questão desta cultura em sala de aula.
Ela trata sobre a especificidades existentes na educação em comunidades indígenas e não
sobre o ensino de tal história e cultura nas escolas brasileiras. Assim temos, em nossa
constituição vigente, o assunto sendo tratado de forma superficial e incapaz de atender as
necessidades específicas desta questão.
E é por conta de situações como esta, onde a Constituição não conseguisse prever e
abarcar todas as demandas sociais de uma questão, que a própria contêm uma lei que
permite, e até incentiva a elaboração de regulamentos e orientações complementares para
atender as demandas especificas das diversas áreas. E isto se dá por meio das chamadas Leis
complementares ou ordinárias. Vemos isso no artigo 61:
A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro
ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso
Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos
Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na
forma e nos casos previstos nesta Constituição (BRASIL, 1988, Art. 61).
[...] 'história' exprime dois, senão três, conceitos diferentes. Significa: 1) esta
"procura das ações realizadas pelos homens" (Heródoto) que se esforça por
se constituir em ciência, a ciência histórica; 2) o objeto de procura é o que os
homens realizaram. [...], mas a história pode ter ainda um terceiro sentido, o
de narração.
É através da história que conhecemos tudo o que já existiu, e como uma teia de aranha
ela consegue costurar outras ciências (geografia, filosofia, ciências, entre outras), buscando
nelas o que é interessante para que o conhecimento do todo seja mais completo. Esta
interdisciplinaridade é vista tanto na construção da própria história quanto na forma de
ensiná-la, dentro de uma sala de aula.
Todavia, a história que aqui fora rapidamente mencionada situa-se disciplina
obrigatória na educação básica, amparada e imposta por lei no Brasil. O ensino de história em
sala busca na transmissão do conhecimento histórico formar e desenvolver o senso crítico de
cada indivíduo. Deve esta cadeira ser a responsável por fazer com que o aluno consiga pensar
por ele mesmo, crie em seu próprio entendimento parâmetros para avaliar tudo que está
sendo apresentado a ponto de julgar o que de fato seria o ideal, ou mesmo o correto.
Para que o discente consiga desenvolver esse senso crítico e aumentar a sua carga de
conhecimento é necessário evidentemente conhecer os meios pelos quais essas fontes
históricas vão sendo preenchidas. São elas os registros das ações humanas e tudo que estas
acabam produzindo, de documentos, monumentos, depoimentos orais, objetos e tudo que
seja concreto e carregue consigo traços de alguma história e que nos aponte a realidade vivida
pelo homem nos diversos tempos e espaços
Cidadania tem que ver com amor à própria pátria, estar conectado com a nação a qual
faz parte, vai desde respeitar as pessoas com quem se divide o mesmo ambiente até entender
por que o Brasil é Brasil, qual foi o processo que o fez ser do jeito que é hoje. Compreender
isto é entender que os indígenas tiveram uma fatia considerável no bolo da história do país,
pois não há a menor possibilidade de retirar da história quem estava aqui primordialmente.
O texto da lei é bem claro, a disciplina história tem em sua função social o braço da
luta pela valorização destes povos, bem como de sua cultura e a confirmação de sua parcela
contributiva no processo de formação do país.
Contudo, engana-se quem acha que esta história sempre foi contada dessa maneira.
O que vemos na verdade é uma história que, por muitos séculos esteve sendo manipulada e
contada à luz dos que dominavam o poder, e para isso um exemplo bem claro é o fato dos
povos indígenas terem sofrido tamanho etnocídio em menos de cinco séculos de história do
Brasil e pouco se sabe ao certo como isso aconteceu. Vemos os índios no Brasil colonial e eles
curiosamente “somem” por séculos, até reaparecerem no século XIX, sendo melhor
representado a partir do século XX.
A partir deste texto de lei fica claro então que é uma essencialidade do ensino a
transmissão da cultura e história indígena para toda a educação básica. A representatividade
deste povo nos dá, sem dúvidas, uma dimensão do que era o Brasil antes mesmo de o ser.
Possuidores de uma cultura alimentar, habitacional, social, religiosa e cultural que influenciou
os primeiros colonizadores e foi-se postergando – sim, porque eles sempre estiveram aqui –
bem como a luta pela sobrevivência em sua própria terra constituem a camada inicial
substancial e insubstituível.
Conclusão
Através da análise dos textos de lei mencionados ao longo deste trabalho pudemos
compreender que a lei é clara em relação aos deveres da educação em manter ativo o
conteúdo da história e cultura indígena na educação básica. Nota-se a sensibilidade da lei em
tentar garantir que todos tenham acesso a uma educação de qualidade e, sobretudo, que cada
cidadão brasileiro possa conhecer sobre os três pilares da formação do povo brasileiro, dando
especial atenção à população que já estava aqui antes mesmo da colonização europeia, os
povos indígenas.
É bem verdade que estes povos passaram por um processo de desvalorização e
sofreram tentativas de extinção em muitas partes do país por séculos de existência do Brasil,
tornando ainda mais necessário que atualmente estes sejam respaldados por lei, guardados
pela nossa Carta Magna, a Constituição Federal. Para que esta valorização seja real nada mais
justo do que todos conhecerem as lutas, a cultura, a história deste povo, compreendendo o
seu papel na construção da nação.
Para isso, nada melhor que se utilizar do recurso educacional, que além de ser básico,
é obrigatório. Dentro do ensino de história, disciplina formadora, responsável pelo despertar
do senso crítico e – indiretamente – incentivadora da cidadania, a história dos índios no Brasil
está respaldada e “amparada”. Deve esta cadeira leva-la de forma imparcial e verdadeira a
todos os que passam pelas salas escolares, desmistificando assim a ideia de que o índio é só
mais uma população no país fora de contexto.
Referências Bibliográficas
ARISTÓTELES. A Política. 6. ed. São Paulo, SP: Atenna, 1960. 382 p., 19cm. (Clássicos Atena).
BORGES, V. P. O que é história. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. (Coleção Primeiros Passos)
FREYRE, G. Casa grande e senzala. 48ª ed. Fundação Gilberto Freyre. Recife: Global Editora,
2003.
KARNAL, L. (Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 5ª ed. São Paulo:
Contexto, 2007.
LE GOFF, J. História e memória. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1990. (Coleção
Repertórios)