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Metodologia
A presente pesquisa tem o objetivo de analisar a linguagem sobre diversidade sexual dos
livros didáticos recomendados pelo Ministério da Educação e distribuídos pelo Programa Nacional
do Livro Didático (PNLD) e Programa Nacional do Livro Didático para Ensino Médio (PNLEM) e
dos livros didáticos em circulação sobre ensino religioso e orientação sexual. A pesquisa foi
orientada pela análise de conteúdo, baseada em pesquisa documental qualitativa, sobre a linguagem
e as modalidades discursivas sobre diversidade sexual em ambiente escolar.
Em relação aos livros do PNLD e PNLEM, a amostra foi composta das 100 obras mais
distribuídas em todo o país nas disciplinas de Alfabetização; Ensino Fundamental (Língua
Portuguesa, Ciência e História); e Ensino Médio (Língua Portuguesa, Ciências e Biologia) de
diversas editoras, sendo analisados 67 livros. A coleta de dados dos livros didáticos aconteceu no
Memorial do Livro do FNDE, em três bibliotecas de escolas públicas de Brasília-DF e por meio de
doação de exemplares dos livros pelas editoras. Ainda das principais editoras que possuem livros no
PNLD e PNLEM, foi analisada uma amostra de 16 livros de Ensino Religioso e de 9 livros de
Orientação Sexual.
Enquanto os livros do PNLD e PNLEM são avaliados pelo MEC em relação ao seu
conteúdo, os livros de orientação sexual e ensino religioso não passam por nenhum tipo de seleção
ou avaliação. A orientação sexual é um tema transversal da educação de acordo com os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN), ou seja, perpassa diferentes áreas do conhecimento e deve ser
trabalhada de forma sistemática, contínua, abrangente e integrada (Brasil, 1998). A educação
religiosa é matéria de matrícula facultativa e com regulamentação bastante variada pelas Secretarias
de Educação Estaduais e Municipais no país. Não há regulamentação federal sobre conteúdo (se
confessional, pluriconfessional ou laico) ou condição de qualificação profissional (religiosos ou
laicos), havendo um parecer do MEC que entende essa diversidade de posições como um respeito à
autonomia de cada escola. As iniciativas de orientação sexual e ensino religioso são, portanto,
diversificadas e fragmentadas no país, o que exigirá estratégias diversas para a fase de levantamento
de dados, descritas no item.
Cada livro foi analisado por dois pesquisadores, sendo essa análise orientada por uma
leitura atenta sobre assuntos relacionados à diversidade sexual: família, casamento, reprodução
humana, homem, mulher, gênero, homossexualidade, dentre outros. A leitura e a transcrição dos
dados foram registradas em um instrumento denominado memorando (Strauss e Corbin, 2007).
Após a fase primária de registro e a discussão pela equipe de pesquisadores, as evidências que
foram consideradas significativas foram fotocopiadas dos originais, respeitando os limites da Lei de
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Direitos Autorais. As evidências foram submetidas à técnica de análise de conteúdo, com especial
atenção para o contexto de enunciação do discurso e composições de linguagem que acompanham a
informação (em especial advérbios e adjetivos) (Bardin, 2004).
O levantamento das obras didáticas e a análise de conteúdo das evidências permitirão testar
as duas hipóteses-chave do projeto – a hipótese central e a de nulidade. A hipótese central da
pesquisa que guiou a coleta e análise de dados afirma que como os livros didáticos em circulação
sobre orientação sexual e ensino religioso não são submetidos à avaliação do Ministério da
Educação, há uma diversidade de modalidades discursivas que oscila entre a promoção da
consciência da diversidade sexual e a propagação de valores homofóbicos. A hipótese de nulidade,
por sua vez, diz que os livros didáticos avaliados e recomendados pelo Ministério da Educação para
o ensino público médio e fundamental não apresentam evidências de preconceito contra a
diversidade sexual ou, se apresentam, são evidências esparsas e pouco significativas para avaliar o
papel dos livros didáticos na propagação de valores homofóbicos.
problematizar a questão em uma atividade referente ao texto proposta aos alunos. A família queria
que o personagem central do filme praticasse boxe, porém, ele escolhe o balé. Em outro momento
nos livros, um exercício proposto no livro explora as questões sobre se existem profissões que são
mesmo só para homens e outras só para mulheres e também a possível relação homossexual no
filme entre o protagonista e seu amigo. O tema da diferença sexual também é mencionado a partir
de um artigo de jornal reproduzido no livro que discute a idéia da separação das escolas por sexo. O
texto, com exemplos de opiniões contrárias e favoráveis a separação, incentiva os alunos a pensar e
discutir se concordam com a proposta. Os exercícios que seguem procuram desenvolver o
pensamento crítico das crianças.
O tema da sexualidade também entra na pauta em outros momentos, mas em meio a
discussões sobre adolescência. Conquista, paquera e o início das relações sexuais são tratados
quando o assunto central é o comportamento de adolescentes. No entanto, o debate da diversidade
sexual não entra em pauta, ficando restrita somente mesmo a sexualidade heterossexual. Ambos os
exemplos direciona a professora ou ao professor a responsabilidade para um preparo para lidar com
tais temas. Sem direcionamento dos professores, o debate não poderá alcançar objetivos adequados.
Embora a avaliação dos livros didáticos realizada sistematicamente pelo MEC seja eficaz na
exclusão de linguagem homofóbica, o silenciamento e a naturalização dos papéis de gênero
vinculados tanto nos livros de Língua Português quanto de Biologia e de História de diversas séries
podem contribuir para a manutenção dos valores homofóbicos na sociedade a partir do reforço dos
padrões heteronormativos nos livros didáticos, salas de aula e escola. Por sua vez, a ausência da
afirmação da diversidade sexual no material didático-pedagógico atribui ao professor e à direção
das escolas a total responsabilidade de trazer o tema à sala de aula.
Referências
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- PNUD; Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO;
Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação – FNDE. S/d. Disponível em:
www.mec.gov.br/sef/estrut2/pcn/pdf/livro102.pdf. Acesso em: 02 de maio 2007.
ALTMANN, H. Orientação sexual em uma escola. Cadernos Pagu. Campinas, n 21. 2003: 281-
315,
ALTMANN, H. Orientação sexual nos parâmetros curriculares nacionais. Estudos Feministas.
Santa Catarina, 2001: 575-585.
BARDIN, LAURENCE. (Tradução Luis Antero Reto e Augusto Pinheiro). Análise de Conteúdo. 3.
ed. Lisboa. Edições 70. 2004: 223p.
BORRILLO, D. L´Homophobie. Paris: Presses Universitaires de France, 2000.
BRASIL. Gênero e Diversidade Sexual na Escola: reconhecer e superar preconceitos. Cadernos
CECAD 4. Ministério da Educação, 2007.
BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Orientação Sexual.
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