Vous êtes sur la page 1sur 9
O nascimento da evolucdo biologica Conseqiiéncia do desenvolvimento cientifico, cultural e industrial que se dava em diversas dreas, a elaboragio da teoria da evolugao e da sele¢éo natural abriu novo caminho para a compreensao da vida na Terra Por Shozo Motoyama O ser vivo representa a execugao de um plano, mas um plano que nenhuma inteligéncia concebeu, Ele tende para um fim, mas um fim que nenhuma vontade escolheu, Francois Jacob, Prémio Nobel de Medicina e Fisiologia (1965) = , é ‘ uando Charles Darwin ¢ Alfred Russell Walla- ce entraram no campo da pesquisa biolégica, no século XIX, em plena Gra-Bretanha vito- riana, a ciéncia experimentava novos tempos. Durante boa parte da Idade Moderna, as ciéncias na~ turais viveram imersas em uma tremenda confusio. Desde as grandes navegagées, levadas a efeito pelos lusitanos, as fronteiras do conhecimento sobre a fau- na, a flora e a geologia nio deixaram de se ampliar continuamente. Os naturalistas corriam atras das no- vvas espécies tentando descrevé-las, mas se perdiam no emaranhado do exético e do inusitado, Entretanto, a0 final do século XVII, finalmente a casa parecia oe estar em ordem. A grande paixo dos naturalistas por thas Gadpags em io alguma forma de classificagao acabara por ordenat 0 ees Brehm sabe mundo da fauna e da flora, embora com freqiiéncia stint (3867) os sistemas diferissem. AAs diferengas advinham, so- ‘wora.sciam.com.br SCIENTIFICAMERICAN BASIL 45 bretudo, de como as classificagdes eram feitas: pelo método artificial ou pelo natural. primeiro utilizava o critério de diferencas e de descontinuidade para classificar, enquanto 0 segun- do ressaltava as afinidades e a continuidade dos seres para formar as familias naturais. A despeito de nao haver, durante todo o século XVIII, o predominio de qualquer dos dois métodos, alguns sistemas de clas- sificagao, como o artificial de Carl Linnaeus (Linew — 1707-1778), comegaram a ganhar destaque, tor- nando mais facil a compreensao da Natureza. Isso nao significava em absoluto que 0 nexo que interligava 0 universo biolégico tivesse sido desvelado, O saber sobre a diversidade das espé- cies aumentava a cada dia, movido pelo interesse ¢ pela curiosidade dos homens. No caso da flora, © crescimento do conhecimento acelerava-se de modo exponencial. Se na época de Teofrasto, na Antigiiidade, conheciam-se cerca de 500 espécies de plantas, j4 em 1623 suigo Casper Bauhin (1560- 46 SCIENTIFICAMERICAN BRASIL 4 -Apreocupagio pela organzorda tera endo a estruturavisvel dos eres ‘vos comeganapassagem para a século NX, como mastram a5 graves fetes por Jacques Gamaln (1778), 8 esquerda George Henry Ford 1634) — introdutor da’nomenclatura binominal das plantas ~ listava 12 vezes mais, aproximadamente 6 mil. Pouco mais de uma centiiria depois, 0 sue- co Lineu classificava 18 mil espécies, enquanto 0 francés Georges Cuvier (1769-1832), no inicio do século XIX, afirmava ter conhecimento de 50 mil espécies diferentes de plantas. O mesmo aconte- cia com a fauna. Em meados de 1800, préximo de Leicester, na Inglaterra ~ regio onde trabalhara jovem Alfred Wallace como agrimensor -, conhe- ciam-se milhares de espécies de besouros. Encontrar uma explicacao tedrica para tanta diversidade e ri- queza nao constituia tarefa facil. Porém, tratava- se de um desafio fascinante, a que uma inteligéncia privilegiada nao podia se furtar. As cigncias em geral, incluindo as biologicas, avancaram vertiginosamente naqueles anos alvo- rogados do século XVIII e da primeira metade do seguinte, Nao s6 a chamada Revolugao Pneumatica, comandada por Antoine Laurent Lavoisier (1743- ESPECIALNISTORIA DAEVOLUGKO ‘urante cinco anos, de 1631 21836, Darwin ajo no Beagle, em expedicio explratria da riquera da fauna eda flora de continents poucoconhecidos, incpslmente dashes Galspagos Fie patrdos estado que fez nessa gem que formu a teria de evolucdo 1794), plantava os alicerces da quimica moderna, mas também, na area da fisica, as pesquisas no campo da eletricidade e do magnetisino alteravam as perspectivas tradicionais, lancando as bases do eletromagnetismo que imortalizaria James Clark Maxwell (1831-1879). Toda essa progressio do do- minio cientifico estava estreitamente conectada com a expansio do capitalismo europeu, baseada, prin- cipalmente, nos acontecimentos relacionados com a Revolucao Industrial, fonte da riqueza e do poderio da Gra-Bretanha. De fato, 0 conhecimento de subs- tncias necessarias para as lides industriais foi, em lltima instincia, o substrato no qual se edificaram as duas novas ciéncias referidas acima. E claro que, no caso do eletromagnetismo, o tal substrato adqui- re uma caracteristica mais difusa, porquanto até 0 século XIX 0 seu estudo se fez mais por curiosidade despertada pela excentricidade e estranheza dos seus fendmenos. Porém, nao se deve esquecer que foi jus- tamente a eletroquimica, com a decomposi¢ao das wn sciam com.br substincias necessarias 45 indliistrias, um dos domi nios mais investigados na época. A‘teoria da evo- lugdo nao poderia ter surgido fora do contexto da expansio das outras ciéncias. No campo biolégico, igualmente os avangos foram marcantes, ainda que em diregio diferente daquela apontada até entdo pelos naturalistas. Na passagem do século XVIII para o XIX, a cigncia da biologia deixa, grosso modo, de ser a da classifica- do para se tornar aquela do conhecimento da vida, cujo objeto de anslise € a organizagio interna e nao a estrutura visivel dos seres vivos. Por certo, trata~ se de um dominio controverso, no qual a polémica se faz presente. Pois, uma coisa é descrever 0 ma- croscépico, outra, a de querer esmiucar 0 interior € a natureza de um objeto ~ 0 corpo vivo ~ sem- pre envolto em mistério e no sagcado. De qualquer forma, a atitude do anatomista, do fisiologista, do naturalista e dos outros biologistas altera-se em re- lacdo as suas investigagdes. Se antes cada érgio ou SCIENTIFICAMERICAN BRASIL @ ‘Dcanheciment sobre ara aelrous de modo exponecil Na Atgudae, ram conheidas cerca de 50) sane re cals dept neu} ava clsteda 18 i Nini el, Cav aaa conocer SO mi ype feeries ? « cada espécie constituia-se em objeto independente de estudo, agora deveria ser entendido dentro de um sistema de referéncia, por intermédio de compara- ges. E cam isso molda-se 0 conceito de organiza- ao, peculiar aos seres vivos. Nesse diapaso, a fi- halidade da biologia ~ a nova ciéncia ~ transmuta-se para descobrir as caracteristicas comuns a0s vivos, para caracterizar 0 que é a vida. Pesquisa-se, destarte, a quimica da vida, com as suas peculiaridades nao encontradas nos laborat6- tos — as vezes com sucesso, mas também com fra- cassos, Nao é este 0 caso da forca vital, defendida por tantos bilogos? Recorrer a essa forga miste- Hosa, externa as leis da fisica e da quimica, para explicar o fendmeno da vida, nao significa reconhe- cer a impoténcia da razio cientifica? O sucesso fica por conta da teoria celular, proposta, em 1838, por Matthias Schleiden (1804-1881) para as plantas e, 48 SCIENTIFICAMERICANBRASIL cede plantas, Em 1623, Bauhintstavaperto em 1839, por Theodor Schwann (1810-1882) para 6 reino animal. Essa teoria, com boa base experi- ‘mental — porém sem estar provada inteiramente na época -, advogava o surgimento de uma eélula, uni- dade do organismo vivo, de outra célula por meio das leis fisico-quimicas. ‘Com a aceitagao da teoria celular, a idéia vita lista perde forga, pois a vida nao precisa mais de tum sistema vital para existir, porém s6 de um objeto evidenciado pela observagao ~ a célula. O importan- te nos estudos do século XIX sobre a organizaciio, identificada com a vida, esta no fato de mostrarem que a mesma constitui-se em um centro de articula- gio harménica entre a estrutura, a fungio ¢ 0 meio Circundante. Nenhuma dessas vatidveis pode mudar sem influenciar as outras dentro do organismo. Ou seja, se houver mudangas no ambiente, as caracte- risticas dos seres vivos também devem se alterar. SPECIAL MISTORIADAEVOLUGAO Para Lamarck, as craturs transmit caractaristcasadquridas ‘seu descendentes, como o pescoro longo d gia Evidentemente, na Natureza, o proceso adquire uma tonalidade muito mais complexa, ainda que nao mude na esséncia. Em todo caso, est aberto © caminho para que a teoria da evolugdo se torne possivel do ponto de vista bioldgico. Todavia, antes mesmo de surgirem as condi- ‘ges necessirias no Ambito do conhecimento bio- l6gico para o desenvolvimento da teoria da evolu- io, ela jé havia sido proposta por pesquisadores e intelectuais da segunda metade do século XVII. Podem ser citados, entre outros, Georges de Buffon (1707-1788), Erasmus Darwin (1731-1803), avo de Charles Darwin, Jean-Baptiste Lamarck (1744- 1829), Geoffroy Saint-Hilaire (1772-1844), Pierre Maupertuis (1698-1759), Denis Diderot (1713- 1784) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Curio- samente, a maioria deles era francesa e metade nem sequer praticava a investigacao biol6gica. Isso se deu porque a inspiragao para a teoria da evolugao bio- légica do periodo vinha do Iuminismo, em grande voga na Franca pré-revolucionaria do século XVII. Naquele periodo, o pais de Voltaire (1694-1778) tentava colocar em xeque a hegemonia capitalista da Gri-Bretanha, sem muito sucesso. Um dos moti- vos da dificuldade da Franga em deslanchar na cor- rida econémica estava na sua estrutura social, domi- nada pela nobreza ¢ pela Igreja, diferentemente da Inglaterra, onde a burguesia alcancara a hegemonia politica. O Huminismo surge entéo como uma criti- viv sciamcom br £Emmeados de 1800, em Leicester na Inglaterra, os estusisosjétinham conhecimento de mihares de espécies de besouros ca 4 situagio reinante na sociedade francesa e tem como fundamento a mecanica newtoniana. Trata-se de uma ideologia que prioriza a racionalidade, cri- tica de sociedades com caracteristicas feudais, como aquela existente na Franca. Conferindo & idéia de progresso um lugar privi- legiado em seu sistema, o Iuminismo afirmava que os organismos simples tornavam-se complexos gra- dualmente, em direcao a perfeicao. Tal visio levava 3 idéia da cadeia de evolucag dos seres vivos. Nao € outra a inspiracaio de Lamarck. Depois de estudar as plantas, ele inicia pesquisas em animais inverte- brados, apesar de j4 idoso para a época, na altura dos 50 anos de idade. Criticando a classificagéo de Lineu, que une todos os invertebrados a insetos ¢ vermes, ele propée, em 1800, separd-los em dez di- ferentes classes, ¢ no em duas, como anteriormen- te. Pois, pergunta ele, ndo é absurdo considerar a lagosta como pertencente a classe dos insetos? Ao perceber que as suas dez classes de invertebrados exibem gradagio na estrutura e na organizacao, 0 sabio francés arranja-as em ordem linear de comple- xidade, seguida de quatro classes de vertebrados, a saber: peixes, répteis, aves e mamiferos (1802). Na sua Filosofia zooldgica, publicada em 1809, ele procura explicar como a escala dos seres arran- jada em classes representa a evolugio de um orga- nismo unicelular até ao homem. De acordo com Lamarck, dentro de cada criatura existe uma forca SCIENTIFICAMERICANRASIL a | | interna operando continuamente para o aperfeigoa- mento das éspécies. Se nao houver impedimento para a atuagio dessa forga, ela leva a uma série linear perfeita de criaturas, uma cadeia continua ascenden- te de seres, em cujo topo estd a espécie humana. Se a cadeia encontrada efetivamente na Natureza nao segue o modelo linear perfeito, segundo 0 bidlogo francés, é porque ambiente agiu sobre a espécie, modificando-a, ou melhor, deformando-a. A causa de tal fenémeno deve ser remetida a propriedade da criatura para transmitir aos descendentes 0s carac- teres adquiridos, Uma ilustragdo desse fato esté no pescoco longo da girafa, que se alimenta de folhas de arvores altas. Contudo, a teoria de Lamarck nao teve aceitacio na sua época. Afinal, 0 conhecimento biol6gico do periodo nao Ihe assegurava a retaguar- da cientifica e o tempo dos filésofos iluministas j& havia se esvanecido nos primérdios do século XIX. Da industria a biologia ENTRETANTO A TEORIA DA EVOLUGAo nao desapareceu junto com a de Lamarck. A sociedade transforma- ra-se, sem diivida. Mas estava em expansao, junta- mente com o crescimento do capitalismo. A idéia do Na biologia molecular, nem perfei¢ao nem inteligéncia superior Compreender par que na Natureza sce encontao tipo adapatvo da batéia £-callevauainvestigaces sobreo operon da lactose No tempo de Charles Darwin (1809-1882) e Alfred Rus- ‘sell Wallace (1823-1913) pouco se sabia como funcionava ‘© mecanismo de seleggo natural. Este era ponto de inter rogagao que poderia colocar em xeque a teoris de evolugao proposta pelos ois. 0 avango espetacular da genética e da bioigia molecular nos decénias que se seguiram éesvendou uma boa parte de tal funcionamento. 0 caso da Escherichio cali, bacteria encontrada na intestine humane, quando mesa nalactose, Nesse meie, 56 se nota a existencadotipo conhe- cido como adaptative. Porém, no laboratdro conhece-se um auto tipo, constitutive Por que na Natureza s6 se encontrao 50 SCIENTIFICAMERICAN BRASIL primeira tipo? Para responder a essa pergunta e a ou tras relacionadas com a hereditariedade das bactérias virus, Frangois Jacob e Jacques Monod desenvolveram Jnvestigagies sobre o operon de lactose. Gracas aesse trabalho, somado a outros, os dois receberam, com ‘André Lwoff, 0 Prémio Nobel de Fisiologia e Medicina dde 1965, 0 operon & o conjunto de genes = operador, promotor, regulador —responsavel, em parte, pela a¢a0 ‘genica e pela organizagao do material hereditaro. Isso ‘se tornou claro por estudos sobre a maneira como esses ‘genes esti relacionados do ponto de vista fsiolégico. Na €scherichia col, o aproveitamento da lactose ocorre pela presenca detrés enzimas:beta-galactosidase, per- mease e transacetilase. Aprimeira desdobra a lactose, 2 segunda absorve-a e a funcao da terceira ainda nao ‘bem conhecida. Aytrés enzimas séo fabricadas pelos Aoistipos de linhagéns citados acima. O constitutive pro- independentemente da existéncia undo da lactose, ena auséncia desta acaba gastando desnecessariamente nucleotideos e dcidos aminados importantes para a sua sobrevivencia. O adoptativo, 20 contro, 6 as sintetiza na presenga desta sub coma se reconhecesse o meio no qual se encontra, Como 0 operon da lactose esclarece tal fenémeno? Dentro da molécula do ONA, os genes estruturais res- ponsdveis pela regulacao da sintese das trés enzimas citadas ligam-se um autro gene denominade operador, com capacidade de determinar se elas — as tr8s enzimas ~ serdo transcritas em RNA mensageito para serem fabricadas, Para que isso aconteca, preciso que a polimerase ~ uma enzima ~ com a propriedade de formar o RNA mensageiro, fixe-se no gene promotor para ir se deslocando sobre a molécula do DNA. A regulagao do processorea- liza-se pelo gene regulador. Ele forma a proteina repressora que se liga 20 gene operador na auséncia da lactose. Aligacdo dessa pproteina ao gene operador inibe a formagao de RNAs mensageiros Ccapazes de sintetizar as enzimas beta-galactosidase, permease ESPECIAL HISTORIA OAEVOLUGAO progresso fazia-se ainda mais presente quanto mais, avangava o século. Ao mesmo tempo, a procura do lucro estimulava a exploragio de novas regides e no- vos materiais propicios para investimentos. Nao é por acaso que expedigdes exploratérias, sobretudo as britanicas, percorriam os quatro cantos do mun- do efetuando pesquisas sobre as riquezas naturais locais, mesmo em regides totalmente indspitas. A industrializagao que avancava nas terras européias exigia novas matérias-primas. Simultaneamente, ‘© aumento exponencial da populacao estimulava a agricultura, que precisava de novas espécies de aquelas responséveis pela utiizagio da lactose pela Escherichia cal Colocando a lactose no m ‘moléulada proteins repressorano consegue mais se fixarno gene operador, desgarrando-se para se tornaruma substancia incapaz de impedir a fabricagao das trés enzimas. Assim, acapacidade de adaptagaoorgina-se da maneira como 0s genes assaciam-se em um sistema — o operon ~ na bacteria, para esta saber ou nao o que deve fazer. Existe, au, tummecanisme dtipocibemético,umsstemade controle com 0 qual as células eos organisms adaptam-se ao ambiente, levando ao maximo probabilidade de sua sobrevivencia, Ess fato € muito bem conhecido na sintese de mutas substancia, ‘mormente de bactérias ede fungos.€ como essa orgenizaci0 ‘esse funclanamentoaparecerame se desenvolveram? Jacob, Monod outros idles moleculares mastraram queisso acon- tece por meio da selegio de mutagSes,Eles so construldos pela selegao adequadae opertunista das varantes gen js exstentes disponiveis. 550 significa que @ mecanisme do funcionamento nada tem de teleoigic, nfo caminta para a perfeigaoemuitomenos segue os designios deuma nteignc superior coma quriam Lamarck e outros, nas teoris eval: cionéras anteriores a Darwin e Wallace. Esses pesquisas, a lado daquelas da ecologia eda paleon- tologa, sugerem que a ogica do servivente 6a do acoso e da necessidode, come defende Jacques Monod: necessizade da reprodugao ¢oacosa no ambiente no qual se encontra, Seria a Prova defntiva da tora da evalu darwiniana? Nao, Nada 6 defintva na ciéncia € lero que maioria das crtcas que pula contra‘ teoria em questo nos dias de hoje peca por sectar'sma ep falta de seriedade, stvando-se fra da esfara das discussdes cientieas, Ma bidlogos da estrutura de Emst Mayr e Stephen Jay Gould colocam noves perspectvas para 0 tema Prinipalmentea postuedest ikimo de crc explicta contra a interpretagdes correntes entre os biogas, Todavia, ele aceita, em esséncia, a ideias de Darwin Wallace. O seu desdobramento€ que seradiferente. ~Shozo Motoyama swnw.sciam.com br Capa daedicao 3 gna da obra i Sistemaratura.de E Carl Linew te SYSTEMA NATVRAE plantas comestiveis € novas terras para arar, Isto, aliado REGNA TRIX NaTVRAE, is necessidades da crnetae Sree. engenharia civil, cursus atin snow ace promovia a pes- quisa geol6gica, ao lado da_ biologia, da _quimica e da fisica. Nesse con- texto, surgem_na- turalistas diferentes do tradicional. Este coletava as diver- sas espécies com 0 objetivo de descrevé-las e catalogé-las. Jé 0s novos naturalistas no se satisfaziam com tal atitude. Eles iam além, realizando estudos comparativos entre as diversas criaturas espalhadas geograficamente, so- bretudo em regides proximas. Foi o caso de Alfred Russell Wallace e de Charles Darwin, Tratava-se, entretanto, de dois homens de temperamentos completamente diferentes. Darwin era aristocrata, timido, retraido € pouco sociavel, Ao contririo, Wallace, pobretao, mas cheio de vida, pensava € agia com vistas ao progresso da humani- dade, O tinico trago de dnigo estava na curiosidade de ambos pela Natureza e Belo conhecimento cien- tifico, Assim, os dois viajaram ao redor do mundo em expedigdes exploratérias da riqueza da fauna e da flora de continentes ainda pouco conhecidos do ponto de vista cientifico, mormente das Américas. E famosa a viagem de Darwin a bordo do Beagle, durante cinco anos (1831-1836), quando conheceu animais e plantas, sobretudo das has Galépagos. Wallace aventurou-se na Amaz6nia, em companhia de outro naturalista, Henry Bates — famoso depois por seus trabalhos sobre 0 mimetismo dos insetos. Na sua passagem pelos trépicos, de 1848 a 1852, Wallace convenceu-se da existéncia de um ancestral comum para as diversas espécies que vira na viagem, sentimento igual ao que experimentara Darwin ao encerrar a sua estadia no Beagle. © que os dois nao sabiam dizia respeito ao meca- nismo pelo qual se dava a evolugao. A resposta veio para ambos por meio do mesmo livro - Essay on SCIENTIFICAMERICAN BRASIL st ‘AReclugGolndus retratada em 1803 por Philipp Joka, foeceuariqueza necesslae ari camino paranavasinvesigages para 2 rocura por mater ¢ tecnologia, implsionando afscaeaquiica modern, Aletroqinica a um dos dominions paquisdos napa population — do reverendo Thomas Robert Malthus (1766-1834), embora em ocasides diferentes: em 1838 para Darwin e em 1858 para Wallace. Para © reverendo, o crescimento das populagdes huma- nas dava-se em fungao de dois fatores opostos: 0 da multiplicagio dos descendentes em progressao geo- métrica e 0 de obstaculos externos, como a escassez de alimentos, cuja produgao s6 podia aumentar em progressao aritmética. Darwin e Wallace introduzi ram essa idéia de “luta pela existéncia” como mec: nismo de selecdo da evolugao biolégica. A evolugao ocorre porque acontecem variacées na espécie, pela hereditariedade, que se mantém quando esta encon- tra um ambiente favordvel, e desaparecem no caso contririo. A esse fendmeno, Darwin chamou de “selecdo natural” ou a sobrevivéncia do mais apto. £ importante ressaltar que a selegao natural é um fendmeno estatistico, e nao se aplica a individuos 52 _SCIENTIFICAMERICANBRASIL - ‘ especificos. Ela vale para uma populagao, para certo conjunto de seres, Darwin antecipou em alguns de- cénios 0 raciocinio da mecdnica estatistica desenvol- vido por Ludwig Boltzmann (1844-1906) e Josiah Willard Gibbs (1839-1903). Coma selecao natural, tornou-se possivel entender a diversidade, a divergéncia e a dispersio de espécies encontradas por Darwin nas Galépagos e por Wallace na Amaz6nia. Mais. Ela se casava perfeitamente com a teoria defendida por Charles Lyell (1797-1875) na 4rea de geologia, que tanta influéncia exerceu sobre 0 naturalista do Beagle. Isso porque as causas da evo- Iugo no passado sio as mesmas de hoje, como acon- tece nas transformagées geol6gicas. Nao é necessério invocar acontecimentos excepcionais para explicar 0 surgimento das diversas formas de vida. Nao existe ruptura no processo evolutivo, no sentido de que te- ria havido uma substituigdo simulténea de todos os \AL HISTORIADAEVOLUGAO (autointuiado Buldogue e Darwin, o professor de histria naturel Thomas Henry Huey, eroz defensor da ters da evolgo ‘tora celular proposta por Schliden (1838 e Schwann (1639) ainda que ‘io provada por completo na épeca, pe fm iia vialsta wu selamcom br seres biolégicos. As variedades descendem de outras semelhantes, que se diferenciam por divergéncia he- reditéria ¢ isolamento. A evolugio nao é linear, mas segue o molde da arvore genealégica. Ela nao se faz pela necessidade de alcancar uma harmonia prede terminada. Acontece, simplesmente, de modo opor- tunista, para se adaptar A variagéo do meio. Obispo e o buldogue ARECEPOAO A E5845 1DérAs, publicadas pela primeira vez por Darwin em 1859, na obra intitulada Origem das espécies, foi contraditoria. Elas receberam ade- s6es entusidsticas por parte da burguesia britanica no auge do capitalismo industrial, sequiosa para le- gitimar seu comportamento imperial na economia. Com o surgimento do livro, a burguesia vislumbrou a possibilidade de justificar “cientificamente” o libe- ralismo econdmico que impunha aos paises mais fra- cos. Porém, a obra desagradou de maneira profunda aos setores tradicionais, principalmente aqueles liga- dos a religido. Nessa conjuntura, tornou-se célebre © debate piblico sobre o livro de Darwin envolven- do o bispo de Oxford, Samuel Wilberforce (180: 1873), e 0 professor de geologia Thomas Henry Huxley (1825-1895). No evento, ocorrido em 1860, © bispo atacou de forma virulenta, em boa oratéria, a nova teoria da evolugdo. Encontrou, contudo, um opositor 4 altura no professor que se auto-intitulou “Buldogue de Darwin”. Dizem os historiadores que Huxley venceu 0 debate, abrindo caminho para a aceitacao das idéias evofucidnistas. Mas os ataques ndo cessaram até hoje. De t6da forma, ninguém po- der negar, em sa consciéncia, que a teoria da evo- lucao bioldgica estimulou e pavimentou a pesquisa sobre os setes vivos. Af esto a genética e a biologia molecular para comprovar. a Shozo Motoyama é professor titular da Faculdade de Filosofia, Letras ¢ Ciencias Humanas e diretor do Centro Interunidade de Histéria da Cigncia, ambos da USP Tem mais de 30 livros e cerca de 200 artigos publicaos Broly, Companhia das Letras, 1999, ‘Oquintomitagre Pau Davis. Cornpanhi das Lets, 2000, Grandes debates da ciéncia, Hal Hellman tora Unesp, 1998, Alglc da vida Fangois Jacob Gra, 1963, Odesenvolvinento do pensamentoboligiea. Est Mou: £4 Unf, 1998 SCIENTIFICAMERICAN BRASIL 53

Vous aimerez peut-être aussi