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AMBIENTE CIS-HETERONORMATIVO
RESUMO
Rio de Janeiro – RJ
2017
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0. INTRODUÇÃO
O gênero performático Drag Queen não é algo novo na sociedade. Desde a Grécia
antiga, homens se travestem de mulheres a fim de representar personagens
femininas. No entanto, com a inclusão das mulheres aos palcos e com o crescente
ódio ao diferente, tal arte foi repudiada e jogada à invisibilidade. Foram precisos
séculos para que as drags saíssem dos guetos e retomassem seus lugares na
sociedade, uma batalha árdua que ainda hoje não foi concluída.
Atualmente, pode-se verificar uma crescente inclusão de técnicas de maquiagem
comumente utilizadas por tais artistas por pessoas cis-heteronormativas, assim, é do
intuito deste artigo observar se esta prática está ligada à aceitação das drags neste
ambiente inóspito. A fim de observar este aspecto, foi realizada uma pesquisa com 57
pessoas que responderam perguntas sobre os temas: maquiagem e drag queen; o
objetivo era analisar se as pessoas se utilizam de tais técnicas e, em caso afirmativo,
se conheciam suas origens. Foi perguntado, também, se essas mesmas pessoas
assistiam/conheciam RuPaul’s Drag Race – um programa de TV norte-americano
apontado como um dos grandes responsáveis pela diminuição da invisibilidade drag
queen – bem como se acham que o reality show estava contribuindo para uma maior
aceitação destes artistas e para a difusão das técnicas de maquiagem drag. Além do
questionário, foi utilizada uma bibliografia que trata de temas como gênero, arte
performática transformista e identidade social, com o objetivo de explicitar o que são
gênero e identidade pessoal, diferenciando com o fazer drag queen. Dessa forma,
será possível para o leitor entender melhor os termos que serão utilizados ao longo
do artigo, assim como otimizar o entendimento do que é drag queen, quais são suas
características e seu lugar, hoje, na sociedade.
Para falar sobre gênero, é preciso, também, falar sobre identidade, pois ambos
são inerentes. Sabe-se que o indivíduo é formado a partir do meio em que se encontra,
são as suas relações com o exterior que o definem. Segundo Berger e Luckmann, em
seu livro A Construção Social da Realidade, “a identidade é um fenômeno que deriva
da dialética entre um indivíduo e a sociedade” (p.230, 1976), portanto religião, cultura,
status e origem sociais, relacionamentos familiares, profissionais e cívicos são alguns
dos inúmeros fatores que formam a identidade de um indivíduo. São eles também que
ajudam no constructo do gênero.
Segundo Butler, em seu livro Problemas de Gênero, “o gênero é culturalmente
construído: consequentemente, não é nem o resultado causal do sexo nem tampouco
tão aparentemente fixo como o sexo” (p.26, 2016), ou seja, o gênero é construído
socialmente e independe do sexo biológico e, ao contrário do último, que teoricamente
é imutável, possui fluidez, assim como a identidade, a partir das experiências vividas.
O sexo, segundo Jaqueline Gomes de Jesus em seu artigo Orientações Sobre
a População Transgênero: Conceitos e Termos, é a “classificação biológica das
pessoas como machos ou fêmeas, baseada em características orgânicas como
cromossomos, níveis hormonais, órgãos reprodutivos e genitais.” (p.13, 2012) e
gênero é a “classificação pessoal e social das pessoas como homens ou mulheres”
(p.13, 2012) ou, ainda, segundo outros autores que fogem do binarismo macho/fêmea,
como queer - conforme Sara Salih, em Judith Butler e a Teoria Queer, “o queer não
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Ou seja, naquele momento o indivíduo é a sua personagem e esta vivência não pode
ser anulada ou menosprezada como não sendo parte da identidade social do
indivíduo.
Por fim, para o melhor entendimento deste artigo, é importante ressaltar as
diferenças entre gênero, sexo e orientação sexual. Os três elementos não estão
interligados, porém são facilmente confundidos. Enquanto o primeiro é a identificação
social do indivíduo e o segundo a genitália biológica, o último é a atração-afetivo
sexual, ou seja, a sexualidade da pessoa. É importante entender tais diferenciações,
pois uma pessoa trans não é necessariamente gay/lésbica, assim como uma pessoa
cisgênero - aquela que se identifica com a genitália biológica, bem como o gênero
atribuído ao nascimento - não é necessariamente heterossexual. Uma mulher trans,
por exemplo, pode ser heterossexual, basta apenas se sentir atraída por homens. É
importante respeitarmos a identificação pessoal, não importando qual o gênero
atribuído ao nascer, para que se torne mais fácil o entendimento do que é orientação
sexual, e, por conseguinte, o respeito a identidade alheia.
2. DRAG QUEEN
Drag Queen é uma arte performática, realizada, comumente, por homens que
se travestem de mulheres – ainda que seja possível verificar que, recentemente, há
uma inclusão das mulheres nesta categoria artística, leia-se mulheres que fazem drag
queens e não drag kings. Essa arte levanta inúmeros debates sobre gênero e
identidade pessoal, pois conflita com os conceitos binários de gênero do mundo
contemporâneo. São consideradas quase “como um palhaço, um bufão do século 21,
ou seja, ela aparenta alegria e festa, mas no fundo é reflexo da sociedade“ (VIEIRA,
Siliane; Maquiagem, Salto e Mensagem; 2017) e, hoje, levantam a bandeira LGBTTQ
(Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais/Transgêneros, Travestis e Queers), sendo
consideradas como um dos símbolos da luta homossexual, além de trazerem para a
sociedade a imagem da mulher empoderada. “A drag é arte, a arte é uma expressão,
uma representação do real, uma nova composição” (VIEIRA, Siliane; Maquiagem,
Salto e Mensagem; 2017).
universo feminino. É a partir daí que a drag, tal como conhecemos hoje, é inserida na
sociedade. Roger Baker, em seu livro Drag: a History of Female Impersonation in the
Performing Arts, cita que:
o processo de montagem da drag, como também suas vidas fora dali, pois o programa
faz questão de mostrar o quão difícil é ser drag queen em um mundo heteronormativo.
Tudo isso contribuiu não só para uma maior aceitação das drags, mas também para
a sua glamourização. As participantes do programa saem de lá com milhares de fãs e
com inúmeras portas abertas para trabalhos. A drag Bianca Del Rio, por exemplo,
ganhadora da 6ª temporada, após a participação, levou seus shows para o mundo
todo, além de estrelar em filmes e programas de TV. Outro exemplo é a Sharon
Needles, ganhadora da 4ª temporada e uma das participantes mais icônicas do
programa, que possui mais de 600 mil seguidores no Instagram e já lançou músicas
que foram um sucesso, além de continuar com seus shows ao redor do globo.
O programa RuPaul’s Drag Race é um dos grandes responsáveis para a
diminuição da invisibilidade drag queen e é considerado um dos melhores programas
televisivos do mundo, já ganhou cerca de 8 prêmios, incluindo um Emmy, e foi
indicado para mais de 10 premiações. Além disso, sua audiência não se reduz
somente à comunidade LGBTTQ. Grande parte dela é composta por pessoas
cisgêneras e de orientação heterossexual que veem ali uma forma prazerosa de
entretenimento. Isso só mostra que, atualmente, as drags estão cada vez mais
integradas no mundo e não só escondidas em guetos gays ou na comunidade
LGBTTQ.
Exemplos de maquiagem:
Para a produção deste artigo, foi realizada uma pesquisa com 57 pessoas -
anexada integralmente no apêndice -, 56 dessas pessoas usam maquiagem e
somente 12 não se utilizam das técnicas originadas por drag queens. 35 sabiam da
origem dessas técnicas, 13 começaram a utilizá-las depois de assistir ao programa
RuPaul’s Drag Race e outras assistindo a tutoriais no Youtube ou em cursos de
automaquiagem e até em cursos de maquiagem drag queen. 39 acham que o
programa e a integração de tais técnicas no mundo cis-heteronormativo estão levando
a uma maior aceitação da classe, uma das pessoas disse que “com certeza [está
levando a uma maior aceitação], acho que a partir do momento que você usa coisas
de um grupo ao qual você não está inserido isso desmistifica uma série [de] seus
conceitos sobre ele porque você quer aprender práticas dele”.
É evidente que as drags, hoje, tem muito mais espaço no meio artístico do que
anteriormente. São inúmeras as drags que tem seu próprio canal no YouTube (a drag
Lorelay Fox tem um canal com 170 mil inscritos; o DRAGeek é um canal da drag
Amanda Sparks que fala sobre games e também acerca de temas LGBTTQ; Brolaska
é um canal de dois irmãos, um gay e um heterossexual, que debatem sobre suas
diferenças e é comandado pela drag Alaska Thunderfuck; Miss Fame é o vlog da drag
de mesmo nome que já foi participante do reality show RuPaul’s Drag Race e foi uma
das plataformas que fizeram o sucesso dela; dentre outros) e fazem dali um meio de
promoção pessoal, bem como de propagação de patrimônios culturais dessa arte –
maquiagem, montaria, linguajar, técnicas, etc –, além de debaterem sobre o que é ser
drag atualmente, suas dificuldades sociais, dentre outros assuntos abordados. A
Internet é um dos principais fatores para esse ganho de espaço, pois nela o conteúdo
é democratizado e mais amplo do que a mídia comum (TV, cinema, etc), portanto é
mais fácil abordar temas que seriam rejeitados pela sociedade. A Internet, atualmente,
também é um dos espaços mais utilizados para a veiculação de anúncios, logo, o
programa RuPaul’s Drag Race não teria a visibilidade atual se não fosse pelo espaço
virtual. O show era, inicialmente, veiculado somente nos Estados Unidos, sendo
transmitido no Brasil somente no VH1 – canal fechado –, até a 4ª temporada. A
Internet permitiu que vários usuários visualizassem o conteúdo, proporcionando,
assim, a fama que o reality tem hoje. Além disso, foi por meio da Internet que as
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3. CONLCUSÃO
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• SALIH, Sara. Judith Butler e a Teoria Queer. 1ª ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2015.
• AMANAJÁS, Igor. Drag Queen: Um Percurso Histórico Pela Arte dos Atores
Transformistas. Revista Belas Artes, São Paulo, vol. 7, n. 19. 2015.
• BAKER, Roger. Drag: The History of Female Impersonation in the Performing Arts. 1ª
edição. Nova Iorque: New York University Press, 1994.
5. GLOSSÁRIO
6. APÊNDICE
Pergunta 1
Pergunta 2
Pergunta 3
Pergunta 4
Pergunta 5
13
Pergunta 6
14
15
Pergunta 7
Disponível em
<https://docs.google.com/forms/d/1uHlzWRYlyFfX_245GsJuYjkTi5ANhX6bjxTy3AfhZ
LE/edit>