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Orientação, Mobilidade e Atividades da Vida Diária

(Semana 1)

Motivação

Em 1993, quando havia sido recém-criado o programa Edivox, o editor


do sistema Dosvox, o primeiro usado amplamente pelos cegos no
Brasil, havia uma moça cega, Elizabeth Canejo, que estava cursando o
mestrado em Educação. Ela havia assistido ao primeiro curso sobre as
novíssimas facilidades para cegos que havíamos criado no NCE/UFRJ e
nós a convidamos para ser “testadora” do programa, digitando sua tese
na nossa sala. Ela não tinha computador, e aceitou.

Beth vinha sempre com seu pai ao NCE durante esta atividade, e este
senhor, muito simpático e que trazia balinhas de café para as pessoas
da sala, ficava sempre sentado do lado do computador dela, falando o
tempo todo, dizendo o que a filha tinha que fazer. Todos os passos da
Beth, desde a chegada até as idas ao banheiro, eram acompanhados
pelo Sr. Canejo, um senhor aposentado, que não arredava pé um
minuto sequer de perto dela.

Na datilografia da tese no computador, concomitante com aprendizado


do Edivox, o Sr. Canejo, em sua boa vontade de pai, não deixava a
Beth titubear, e a cada pequena dificuldade da filha, intervinha
colocando os dedos no teclado e acertando ele mesmo o erro que ela
tivesse cometido. Às vezes a Beth reclamava pedindo para deixar que
ela descobrisse e aprendesse sozinha a consertar. O pai se
desculpava, mas um minuto depois ele se desesperava ao ver mais um
erro da filha, e continuava fazendo o mesmo...

Eu ficava observando essa atitude, que mais prejudicava do que


ajudava, e então decidi sair em defesa do que eu julgava que seria
melhor para a moça. Pedi gentilmente ao Sr. Canejo que apenas a
trouxesse ao NCE, e a deixasse sozinha, indo embora para casa e vindo
apenas buscá-la ao término da atividade, cerca de três horas
depois. Ele morava muito perto, e o tempo gasto nisso seria muito
pouco.

Ele não gostou nada disso, pois afinal ele só queria ajudar a filha, e
não era justo que fosse dispensado desta tarefa. Após alguma
argumentação, entretanto, ele finalmente concordou, e passou a trazer
e deixar a Beth sozinha na minha sala, usando o computador, com a
minha supervisão.
Mas a coisa não era tão simples. Beth também estava viciada na
ajuda, especialmente quando se tratava de mover-se fisicamente. Em
particular, ela ficava se segurando para não ter que me pedir para levá-
la ao banheiro. Mas com 3 horas de trabalho, a probabilidade de que
algum dia ela realmente não aguentasse, era grande.

Assim, um dia, ela teve que me pedir para levá-la ao banheiro. Não
havia nenhuma mulher na minha sala, então tinha que ser eu
mesmo. O banheiro era muito próximo, ao fim de um pequeno
corredor. Eu a conduzi pelo braço, mas não entrei com ela no
banheiro, apenas descrevi onde ficava o cubículo conveniente, que ela
conseguiu localizar. Fiquei esperando, e quando saiu, mostrei onde
ficava a pia e a toalha para fazer sua higiene. Até aí, nada de mais.

Porém, o dia estava frio, e uma hora depois ela me pediu para ir de
novo. Eu a levei, mas no trajeto fui mostrando alguns pontos de
referência no corredor: as características da minha porta, um extintor
de incêndio, um sofá, uma planta, as características da porta do
banheiro. Deixei-a no banheiro, sem mais informações, e disse que
ficaria esperando por ela na sala. Ela, porém, disse que não saberia
voltar.

Eu disse apenas

"Consegue sim, eu te espero, não tenha receio."

Mas fiquei de olho, escutei o barulho da pia, a vi saindo com sua


bengala branca, que ela claramente não dominava, mas que era usada
para bater nos objetos. Fui andando em silêncio, para que ela não
percebesse que eu estava ali e após algumas titubeadas, ela chegou
até minha sala, chamando pelo meu nome.

A partir daí, ela apenas avisava que iria ao banheiro – e ia sozinha.

O projeto foi crescendo, a tese dela caminhava bem, apesar das muitas
travadas que o Edivox dava, e que realmente a prejudicava. Mas ela
foi ficando segura no uso do computador, e em pouco tempo já sabia
digitar bem, evitando os erros do programa, e nos avisando do que
precisava ser ajustado. Sua velocidade de digitação aumentava a
olhos vistos, e o programa, monitorado por mim com ajuda da Beth,
em pouco tempo, atingia sua perfeição.

Um dia porém...

Me mudei de sala, afinal tinha agora alguns estagiários, e o espaço


inicial não era mais suficiente. A sala era agora bem longe do
banheiro. Quando ela manifestou que iria ao banheiro, eu disse que
agora teria que ensiná-la novamente. Levei-a até a porta do banheiro,
mostrando cuidadosamente uns 10 pontos de referência, e repassando
com ela, verbalmente, quando chegara ao banheiro, como seria o
trajeto de volta.

Fiquei observando para ver se ela conseguia voltar, mas... Um colega


me chamou, e eu fui à sua sala por uns breves momentos, e me distraí
conversando. Três minutos depois, me lembrei da Beth! Será que ela
teria conseguido voltar para minha sala? Saí voando para minha sala,
e ela não estava lá! Corri para o banheiro, chamei em voz alta, e
ninguém respondeu.

Eu me desesperei. Sem saber o que fazer, comecei a entrar nas portas


vizinhas e a perguntar se alguém tinha visto uma moça cega. Ninguém
tinha visto. Já imaginava vê-la chorando, perdida em algum lugar sem
ninguém para dar ajuda...

.....

De repente, de um outro corredor, surge a Beth, de braço dado com


um colega, conversando animadamente. Que alívio!

- Beth, o que aconteceu?

- Eu me perdi. Bateu um certo desespero, mas decidi manter a calma.


Fiquei escutando, esperando os passos de alguém. Uma pessoa
passou finalmente, e eu pedi ajuda para que me levasse até sua
sala. Esse cara aqui, o "fulano", é uma pessoa muito legal, estamos
agora nos tornando amigos. Estava indo para sua sala agora, com a
ajuda dele.

.....

Bem, fiquei mais prudente e nunca mais aconteceu dela ficar perdida
no NCE. Ela aprendeu outros caminhos e fez algumas amizades, que
visitava de vez em quando. Mas uma coisa não mudou, na segunda
vez de qualquer trajeto ela sempre tinha que ir sozinha, essa era a
regra.

Não sei se isso moldou a Beth e sua atitude na vida diária. Mas sei que
ela fez um curso extenso deOrientação e Mobilidade e isso melhorou
muito a relação dela com o mundo, ampliou bastante a sua
independência.

Algum tempo depois ela conseguiu um emprego numa escola longe de


casa. No início, o Sr. Canejo a levava de carro, mas ela decidiu que
teria que aprender a ir sozinha. Não sei como ela desenvolveu esta
habilidade, mas hoje ela vai sozinha de ônibus, que pega sozinha
também, pois os motoristas da linha que ela toma a conhecem, e já
param para ela, sem que tenha que fazer sinal.

Ela se tornou independente, uma das cegas mais independentes que


já conheci. Vai a qualquer lugar sem receio e usa o seu charme natural
para arregimentar cada vez mais amigos. Claro que às vezes se perde,
como todo mundo, mas sempre dá um jeito, O SEU JEITO.

O que veremos neste módulo, esta semana?

Nesta semana nós começamos falando sobre a necessidade que todos


temos de nos movimentar para lugares que conseguimos
localizar. Mostramos que para uma pessoa que não enxergue ou que
tenha baixa visão, este processo não é nada simples, pois o sentido da
visão é aquele que normalmente traz mais facilidade para a orientação,
e na sua ausência, outros sentidos têm que ser mobilizados.

Com estas ideias em mente, apresentamos então os conceitos básicos


da Orientação e Mobilidade, os pré-requisitos para que possa ser
aplicada e as conveniências e precauções envolvidas.

O estudo detalhado de O&M foi dividido em duas semanas. Nesta


primeira semana falaremos com detalhe sobre Orientação, e na
próxima, sobre Mobilidade, com algumas informações sobre as
Atividades da Vida Diária.

Iniciamos o estudo de Orientação focando os indivíduos com baixa


visão e o que pode ser usado para aproveitar seu resíduo
visual. Depois falamos em geral na exploração do sentido de audição,
do sentido tátil e cinestésico, e sentido do olfato que podem ser
aproveitados para o desenvolvimento das habilidades de Orientação.

Concluímos esta semana com um texto opcional, mas que julgamos de


interesse para muitas pessoas: uma breve história da O&M: dos EUA
ao Brasil.

Bom estudo!

Mover-se e localizar-se: atividades fundamentais para o ser


humano

O Homem nasceu para ser livre, tanto em corpo quanto espírito. Uns
mais, outros menos, todos nós precisamos e ansiamos por nos mover,
para ir a outros lugares, perto ou longe, conhecidos ou desconhecidos.
Em geral, nós também ansiamos por voltar em segurança ao lugar de
partida.

Como consequência desta característica humana, a maior parte das


pessoas não gosta de passar sua vida sentada num sofá ou deitada
numa cama, nem mesmo restrita a um ambiente (seja um
apartamento fechado ou uma prisão). Quando isso ocorre, seja devido
a uma enfermidade ou a uma penalidade com origem social, o
resultado é que quase sempre se instala a frustração e a tristeza.

É claro que existem exceções, em que ocorre a sublimação deste


instinto natural de mover-se, como ocorre com certos religiosos que
passam sua vida no claustro em oração ou meditação
permanente. Mas isso não é nada comum, e também não nos
interessa agora.

Muitas vezes o que importa é que, dependendo do lugar de destino,


pode ser difícil ou perigoso mover-se, e é preciso cuidado, paciência e
experiência para minimizar as consequências! Você nunca deu uma
topada ou cabeçada, ou caiu de quatro, ou quase foi atropelado por
um automóvel que saiu não se sabe de onde? Será que você alguma
vez já se perdeu, naquelas vielas ou naquelas trilhas em labirinto, sem
saber como voltar a um ponto conhecido?

Claro que sim. Mas isso é pouca coisa... Estas dificuldades ficam
MUITO mais complicadas e MAIS FREQUENTES se você tiver uma
deficiência visual.

É fundamental frisar que a falta ou precariedade de visão, não implicam


na desistência do desejo de se mover – não importa se numa distância
curta ou longa – de forma simples e confortável caminhar ou viajar
com segurança e independentemente. Algumas técnicas relativamente
simples de Orientação e Mobilidade podem (devem) ser aprendidas por
todas as pessoas com deficiência visual, e não terão dificuldade de
obter instruções e ferramentas que irão ajudar na independência para
ir-e-vir.

Mas afinal em que consiste a tal Orientação e Mobilidade para


deficientes visuais?
Conceituação de Orientação e Mobilidade para pessoas com
deficiência visual

A Orientação e Mobilidade é um conjunto de ações que são


direcionadas para que pessoas cegas ou com baixa visão possam
dominar as habilidades de se locomover de forma segura, eficiente e
eficaz. Com frequência estas ações são ensinadas por um profissional
especializado, capacitado para desenvolver na pessoa com deficiência
visual essas habilidades através de técnicas que maximizam os
resultados com mínimo risco.

"Orientação" refere-se à capacidade de se saber onde está e para onde


deseja ir. Esta expressão pode indicar uma ação simples, por exemplo,
saber como ir de um cômodo ao outro, ou conhecer o caminho para
caminhar de sua casa até o ponto de ônibus mais próximo.

"Mobilidade" refere-se à capacidade de se mover com segurança,


eficiência e elegância de um lugar para outro. Por exemplo, andar sem
tropeçar ou cair, atravessar ruas e usar o transporte público.

Quando Orientação e Mobilidade são bem ensinadas, a pessoa com


deficiência visual adquire várias habilidades, em particular:

 Desenvolvimento sensorial, com a maximização dos outros


sentidos (que não a visão) que vão ajudá-la a localizar-se e
estabelecer algum caminho a seguir.
 Usar estes sentidos em combinação com técnicas de
autoproteção e habilidade de ser conduzido por “guias
humanos” para se mover com segurança através de
ambientes internos e externos.
 Usar com destreza uma bengala e outros dispositivos para
caminhar com segurança e eficiência.
 Localizar pontos de referência e seguir as direções de uma
bússola.
 Assimilar as técnicas para atravessar ruas, analisar e
identificar esquinas, indicações táteis no piso e padrões de
tráfego.
 Habilidade de lidar com a desorientação, sabendo como agir
quando está perdido ou precisa alterar sua rota.
 Habilidade para lidar com dispositivos eletrônicos de
localização, como GPS, e-beacon (clique aqui para
conhecer) e outros.
 Usar os sistemas de transporte público.
 Fazer compras de forma independente.
Colocado desta forma, torna-se claro que ensinar uma pessoa para que
desenvolva tantas habilidades exige um conhecimento de muitas
técnicas e envolve uma preocupação extrema com segurança, pois
estamos lidando com riscos reais: uma falha pode causar sérios danos
físicos ou emocionais na pessoa com deficiência visual. Apesar destas
grandes dificuldades, é muito importante que o professor comum, não
especializado no ensino de O&M, também seja capaz de orientar os
seus alunos minimamente para que desenvolva parte destas
habilidades, pelo menos no que se refere à movimentações dentro
da escola.
Existe uma causa importante para que o professor domine este tema,
mesmo não sendo um profissional com formação nesta área, sendo
capaz de ensinar algumas técnicas fundamentais. A razão é que
quando estamos fora dos grandes centros urbanos (onde há
profissionais gabaritados), não há a menor chance de que um
estudante cego tenha acesso a uma orientação especializada: portanto
quem vai ter que orientar são mesmo seus professores.

Pré-requisitos para o desenvolvimento de O&M

Infelizmente, não são todas as pessoas que estão prontas para serem
treinadas nas técnicas de Orientação e Mobilidade. Os pré-requisitos
para o processo de Orientação e Mobilidade se referem ao
desenvolvimento prévio das áreas cognitiva, psicomotora e afetiva. É
importante também fazer uma avaliação que indique que a pessoa irá
conseguir atingir certas condições após seu treinamento em O&M.

Aplicar o treinamento em O&M em uma pessoa que não esteja pronta


implicará, quase com toda certeza, que o esforço despendido terá sido
em vão.

Os principais pontos que precisam estar presentes na pessoa antes


de ser iniciado o treinamento, são os seguinte:

a) Área Cognitiva

 Saber situar-se no tempo, dominando os conceitos tais como


antes, depois, ontem, agora, amanhã;
 Saber situar-se no espaço, entendendo o que é lento, rápido,
dentro, fora, esquerdo, direito, frente, trás, antes, depois,
ontem, agora, amanhã, em pé, sentado, deitado, etc;
 Estar apto a prestar atenção em si e nos outros;
 Conseguir se concentrar;
 Saber pedir ajuda quando precisar.

b) Área Psicomotora

 Ter um razoável equilíbrio, que é essencial para a realização


de quaisquer exercícios.

c) Área Afetiva

 Sentir-se motivado para o treinamento


 Estar bem psicologicamente

Se alguns destes pré-requisitos não estiverem presente, é preciso fazer


um trabalho específico para fazê-los despontar na pessoa, antes do
treinamento de O&M.

Ganhos esperados após o treinamento de O&M

O treinamento em O&M, ao gerar na pessoa a habilidade de ir-e-vir


com segurança, elegância e eficiência, provoca muitos efeitos positivos
nas pessoas.

Nas mesmas áreas em que falamos sobre requisitos, eis o que se


espera obter após o treinamento de O&M:

a) Área Cognitiva

 Resolver as dificuldades sem atropelos, mantendo a calma e


controlando a ansiedade nos momentos difíceis.
 Tomar decisões a respeito de si mesmo (área em que a maior
parte dos cegos fracassa, por causa da superproteção).
 Ter uma consciência corporal muito mais intensa.
 Aumentar seu poder de decisão.
 Aumentar sua capacidade de reter informações na memória.
 Aprender a usar os sentidos remanescentes.
b) Área Psicomotora

 Conseguir manter minimamente o equilíbrio com o corpo reto


 Livrar-se de alguns movimentos estranhos, típicos de muitos
cegos
 Conseguir exibir uma postura muito melhor
 Caminhar em linha reta ou em círculos com menor desvio.
 Exibir maior elegância no portar-se e no caminhar.

c) Área Afetiva

 Aumento da autoestima e da autoconfiança.


 Maior respeito da família e dos amigos.

O&M na escola: conveniências e precauções

Numa situação de deficiência visual, quanto mais cedo uma pessoa


aprende as técnicas de O&M, melhor será sua relação com o mundo,
trazendo como consequência, uma vida muito melhor. Uma pessoa
que chegue a uma situação de cegueira por uma doença ou acidente
precisa ter como uma das prioridades poder andar de forma
independente no maior número possível de lugares, caso contrário
suas oportunidades de trabalho e até de convivência serão
drasticamente reduzidas.

Tem que ser prioridade da escola que os aluno cegos, através do


domínio das técnicas de O&M, se tornem capazes de caminhar na
escola com confiança, conhecendo a localização do maior número
possível de ambientes e dos objetos que ali estão, e em particular,
desenvolvendo habilidades que permitam que se mova de forma muito
e segura.

No desenvolvimento de O&M para os alunos cegos da escola, eles serão


apresentados com detalhes aos lugares mais importantes da escola e
o caminho que conduz a cada um deles. Os alunos devem explorar
demoradamente alguns lugares mais importantes, como a sala de aula
que frequentam, a copa onde lancham, os corredores, o pátio onde se
encontrarão com os colegas, etc. Em cada um destes lugares serão
estabelecidos elementos que permitirão uma navegação fácil. Em
particular, são alguns objetos fixos desses lugares (plantas, quadros,
mesas, etc.) que permitirão que este aluno ande por ali com tanta
rapidez e segurança como se enxergasse.

Um aluno cego que domine bem o uso da bengala e seja capaz de


mover-se com eficiência na escola, terá muito mais oportunidades de
convivência com outras pessoas do que um aluno que não tem tais
habilidades.

Importante: a movimentação eficiente de uma pessoa depende muito


de sua habilidade, com certeza, mas é importante também que o
“mundo” seja bem configurado para que isso seja o mais fácil
possível. Por exemplo:

 Não se deve mudar a disposição dos objetos num ambiente


frequentado por uma pessoa cega, pois é exatamente a
posição fixa destes objetos que torna simples a localização e
a movimentação dentro deste ambiente.
 Um piso tátil pode ajudar na localização da pessoa em um
ambiente amplo.
 Um ambiente que é frequentado por uma pessoa cega deve
ser cuidado para que não existam “armadilhas” perigosas,
como:
o Um extintor de incêndio colocado no meio do
caminho, onde a pessoa possa dar uma cabeçada;
o Mini-postes de cimento com cerca de 1 m de altura,
que existem em toda parte, para evitar que os
automóveis estacionem ou para indicar porta de
garagem;
o Telefones tipo orelhão ou similares.

E assim por diante...

Concluindo, podemos afirmar que a liberdade dada pelo domínio das


técnicas de O&M não tem preço. Com isso em mente, nós professores,
devemos estimular nossos alunos a se tornarem independentes, a
dominar as habilidades e superar as dificuldades, que não são
poucas. E ainda mais. Quando não houver profissionais gabaritados
disponíveis, nós mesmos teremos que assumir o ensino das técnicas
básicas de O&M.

Desenvolvimento da Orientação

Resumindo o que vimos até agora:

 Orientação para o deficiente visual é o aprendizado no uso


dos sentidos para obter informações do ambiente. Saber
onde está, para onde quer ir e como fazer para chegar ao
lugar desejado.
 Mobilidade é o aprendizado para o controle dos movimentos
de forma organizada e eficaz.

A orientação é a habilidade mais difícil de ser desenvolvida, por uma


razão óbvia: o mundo tem uma diversidade infinita, e igualmente
infinitas são as possibilidades de organização dos
ambientes. Podemos, entretanto, desenvolver a observação de alguns
elementos que são muito comuns, e que podem dar preciosos
estímulos sobre a localização, a organização e o tamanho do ambiente.

 Para os indivíduos com baixa visão é importante


aproveitar o resíduo visual, pois através dele se pode obter
informações muito mais relevantes do que aquelas obtidas
com os outros sentidos. Mesmo através da visão na forma
de vultos, ou apenas com a sensação de claro-escuro, se
pode ter uma noção razoavelmente precisa sobre o local onde
se está ou para onde se está dirigindo.
 Para as pessoas cegas é importante desenvolver a
audição, o tato, a cinetesia (percepção dos seus movimentos)
e o olfato.

Há relatos de pessoas que desenvolvem um “sonar” que consiste em


produzir um estalido com a língua, e escutar o eco
tridimensional. Estas pessoas conseguem ter uma boa noção, com
este eco, de qual é a composição física do ambiente.

Sabe-se também que existe uma percepção não muito bem entendida
que poderíamos chamar de “sexto sentido”, onde muitas pessoas, sem
utilizar os sentidos tradicionais, “tem uma nítida sensação” de que está
próxima a uma parede ou que alguém se aproxima. Não é nada
esotérico... é algo que se sabe que existe e que não tem uma
explicação clara, mas que tem enorme valor na orientação.

O desenvolvimento da orientação é um processo de apresentação


gradual e repetitiva da pessoa a diversos estímulos que são repetidos
até a pessoa ganhar confiança. Os estímulos tem que ser escolhidos
para que façam sentido para a pessoa com deficiência visual que
está sendo treinada, ou seja, a pessoa tem que perceber a utilidade
daquilo no caminho de adquirir independência. Desta forma, é comum
que estes estímulos sejam aqueles provenientes do universo em que a
pessoa está imersa, por exemplo, objetos, ambientes, cheiros,
barulhos, etc que são percebidos na sua casa, na sua escola, na sua
rua etc.

O desenvolvimento da orientação passa por experimentar


sistematicamente cada estímulo, e descobrir o que aquele estímulo nos
traz de informação, como a direção, as características do objeto que
produz o estímulo, as manifestações intuitivas, e assim por diante.

É especialmente importante assegurar-se de que o reconhecimento


daquele estímulo não represente um risco para a pessoa. Por
exemplo, um ruído de panela de pressão é altamente perceptível, mas
se a pessoa for tentar chegar ao lugar em que tal barulho é percebido,
ela pode se queimar seriamente. É igualmente válido criar
modificações no ambiente ou nos objetos que estão contidos nele, para
atender às necessidades particulares da pessoa em questão.

Orientação: Estímulos para os Indivíduos com baixa visão

a) Nos ambientes externos:

Os ambientes externos são riquíssimos em estímulos naturais para o


treino do uso da visão residual. Em resumo, estamos usando o
mecanismo da visão, apenas levando em conta que só algumas coisas
é que podem ser percebidas por conta da deficiência.

Devemos trabalhar para que a pessoa, a olho nu ou usando recursos


ópticos especializados (como telelupas, por exemplo), aprenda de
forma prática:

 A identificar ruas, quadras, quarteirões, mapas, traçados,


rotas específicas;
 A identificar postes, árvores, chafarizes, caixas de correio,
telefones públicos, sombras e diferenças no calçamento;
 A acompanhar a linha de edificação, a identificar as aberturas
nessa linha, as esquinas, o meio-fio, a sarjeta, os bueiros e
bocas-de-lobo, os diferentes tipos de casas e edifícios;
 A identificar os tipos diferentes de veículos (estacionados do
mesmo lado da rua e também do outro lado; em
movimento);
 A identificar estabelecimentos comerciais diversos, em
particular os postos de gasolina;
 A fazer travessia de ruas (utilização de esquinas, meio-de-
quadra, veículos estacionados, semáforos, passadeiras,
passagens subterrâneas);
 A ler, quando possível:
o Números de casas (sistema de numeração externo
da cidade);
o Placas de lojas, placas de ruas e de propaganda;
o Números e letreiros dos ônibus;
 A identificar e usar sinais de trânsito;
 A usar transporte coletivo e individual;
 A caminhar em calçadas com intenso tráfego de pedestres;
 A usar escadas rolantes, elevadores, portas giratórias e
portas automáticas;
 A usar os mais diversos estabelecimentos (comerciais,
financeiros, públicos, shopping-centers, etc.);
 A localizar, identificar e fazer uso de pistas e pontos de
referência de dentro de um veículo em movimento.

b) Nos ambientes internos

O ponto de partida é a observação do seu próprio corpo e dos seus


movimentos (observação directa e através de espelhos). Depois,
observar as outras pessoas e seus movimentos. A seguir, a pessoa com
baixa visão deve ser orientada para aprender a:

 Discriminar entre o escuro e claro em ambientes diversos;


 Localizar aberturas (portas, janelas, etc) através de fontes
de luz (lâmpadas, luz do sol, etc) e sombra;
 Seguir em direção a uma fonte de luz ou acompanhá-la;
 Identificar e utilizar as pistas e pontos de referência visuais
nos ambientes.
 Entrar e sair de diversos tipos de ambientes, com variação
de iluminação e de pisos;
 Localizar trincos de portas, puxadores de janelas, etc.;
 Identificar portas abertas e fechadas;
 Localizar móveis e pesquisá-los visualmente;
 Localizar objetos sobre os móveis;
 Localizar objetos no chão.

A audição é um sentido que tem grande importância na hierarquia das


sensações. Se fecharmos os olhos, por exemplo, imediatamente nossa
atenção passa a ser o que escutamos (por isso, as pessoas que
enxergam, quando querem escutar uma música especial, fecham os
olhos).

O ouvido também tem percepção espacial (mais do que a percepção


estereofônica) e somos capazes de saber, quando uma pessoa se
aproxima, pelo som de seus passos não apenas detectar se está vindo
da direita ou da esquerda, mas também se está vindo da frente ou de
trás!
Então, não produz nenhum espanto dizermos que é possível que uma
pessoa se oriente muito através do som, localizando sem dificuldade,
sua direção e também se o que o produz está longe ou perto.

Com isso em mente, podemos ter em mente que é útil desenvolver


habilidades que são derivadas do som, como:

 Identificar o timbre (som característico) das fontes sonoras.


Isso permite, por exemplo:
o Identificar pessoas por suas vozes;
o Identificar alguns objetos que existem nos diversos
ambientes.
 Posicionar-se com grande precisão angular em relação a uma
fonte sonora específica. Isso permite, por exemplo:
o Orientar-se muito eficazmente em casa, pois se
conhece muito bem a posição dos objetos da casa
que geram os sons.
o Caminhar (de diversas formas) de encontro ou em
paralelo a uma fonte sonora.
 Escutar o eco e as alterações sonoras produzidas pelas
paredes, aberturas, portas, janelas, esquinas,
estabelecimentos comerciais. Isso permite, por exemplo
o Delimitar não só sua posição como suas dimensões.
o Caminhar com segurança por corredores que
apresentam ocasionalmente aberturas.
 Etc...

Fica mais ou menos óbvio que só o uso do som não é completamente


eficaz na orientação espacial, mas se pensarmos que agregamos o tato
no nosso trajeto, o resultado pode ser muito eficaz em termos de
orientação!

O olfato é um sentido poderoso. Pode fazer com que se fique mais


alerta, reduzir a ansiedade e influenciar sobre a confiança da
pessoa. Existem evidências de que nossa memória é capaz de lembrar
de cheiros que sentimos há muitos anos e associar esse cheiro a
pessoas, lugares ou ocasiões. Por exemplo, entramos num corredor,
e é fácil identificar que alguém está fazendo um churrasco ou
queimando o arroz.

Poucas pessoas, entretanto, são treinadas para usar o olfato, a não ser
para induzir alguma precaução, alertando de situações de risco (por
exemplo, o cheiro de gás, gasolina, fumaça, queimado).

Os lugares por onde passamos têm cheiros específicos, que são


gerados pelas coisas que ali estão presentes. Algumas pessoas
também têm um cheiro natural muito evidente, outras usam perfumes
que as identifica.

Em resumo, o uso do olfato é limitado quando se trata de orientação,


mas pode ser muito fácil utilizar quando o cheiro que sentimos é
especialmente característico e diferente de outros, e em particular para
nos indicar de algumas situações de perigo.

Orientação: Explorando o sentido tátil-cinestésico

Quando pensamos numa pessoa cega caminhando sem bengala, logo


nos vem à mente uma pessoa com as mãos para a frente tentando
com elas chegar até um lugar identificável. Ao chegar em algum lugar,
as mãos se movem sobre ele, com o intuito de obter maiores detalhes,
ou alcançar alguma parte específica dele (por exemplo, uma maçaneta
de uma porta).

A bengala nada mais é do que uma extensão da mão. Ela é manipulada


de forma tal que quando sua ponta tocar em algo, esta sensação será
transmitida para a mão da pessoa que a empunha. É importante notar
que a bengala é movida, com o intuito de fazer com que a maior
quantidade possível de informação seja percebida num curto espaço
de tempo.

É possível também que as mãos sejam usadas para proteger o rosto


ou partes do corpo durante este movimento. Isso tem que ser feito de
forma tal que se o eventual impacto da mão com algum objeto, por
exemplo, uma porta que se fecha, não quebre nenhum osso.

Há técnicas muito elaboradas para aproveitar este sentido de tato, mas


isso só será visto na próxima semana.

O desenvolvimento do tato e da cinestesia são obrigatórios para que a


pessoa possa se movimentar com segurança e eficiência, e portanto
estes sentidos têm que ser muito trabalhados na pessoa com
deficiência visual. Neste processo, a pessoa passa por vivenciar
algumas experiências:

 Ter acesso a uma grande quantidade de materiais


 Ter contato físico com a textura que o envolve e a forma
característica.
o Caminhar sobre diversos tipos de chão e piso.
o Tocar e pisar em diversos tipos de objetos.
o Identificar objetos frios, quentes, úmidos, secos
etc.
 Participar de brincadeiras que envolvam movimento.
o
 Caminhar acompanhando linhas-guias tátil-
cinestésicas no piso;
 Caminhar em pisos inclinados;
 Caminhar descrevendo figuras geométricas.
 Voltar ao ponto de partida etc.

Resumo do que foi apresentado nesta semana

Nesta semana os seguintes temas principais foram apresentados:

 Mover-se e localizar-se: atividades fundamentais para o ser


humano.
 Orientação e Mobilidade para pessoas com deficiência visual:
o Conceituação;
o Pré-requisitos;
o Conveniências e precauções.
 Desenvolvimento da Orientação:
o Estímulos para os Indivíduos com baixa visão;
o Explorando a audição;
o Explorando o sentido tátil-cinestésico;
o Explorando o olfato.

Apresentamos também um pequeno texto, de leitura opcional,


destinado aos estudantes que se interessam pelos aspectos históricos
relacionados aos temas que tratam sobre deficiência, contando uma
breve história da O&M como objeto de estudo desde seu surgimento
nos EUA até sua implantação no Brasil.

Posicione-se em algum lugar central no lugar em que você habita e


feche os olhos. Apure seu sentido de audição.

O que você ouviu dentro da casa? Consegue perceber a direção em


que as coisas que produzem barulho estão?

Agora, ainda de olhos fechados, dê algumas voltas, devagar para não


ficar tonto, o suficiente para você não saber mais em que direção está
virado.
Com base no que você está escutando agora, tente calcular qual o
ângulo que você tem agora em relação à sua posição original. Abra os
olhos e confira se este ângulo confere com sua estimativa baseada na
audição.

Com base unicamente nesta experiência, você confiaria


no que seus ouvidos captaram, para que os resultados
obtidos demonstrem ser virtualmente úteis para alguma
Orientação?

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