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Todo ser vivo manifesta uma unidade intrínseca, assim como toda obra
musical manifesta unidade, não somente formal e exterior, mas,
principalmente, unidade de vida interior, de espírito que anima qualquer
produção humana. Tal unidade evidencia a presença de dois polos
opostos e complementares: a matéria sonora e o espírito artístico
(WILLEMS, 1970 [1951], 1985 [1940] apud PAREJO, 2012, p. 93-94).
Apesar da existência dos dois polos citados, Cinthya (2015) comenta que essa
fragmentação é utilizada apenas de maneira “explicativa, visto que em suas obras Willems
sempre reforça a homogeneidade entre a música e a vida” (ALVES, 2015, p. 32).
Para a construção do elemento material, Willems apoiou-se em uma forte busca
por conhecimento e experimentações acerca das principais leis do som, especialmente os
harmônicos, favorecendo assim a criação de seu material auditivo, incorporado de
elementos rítmicos e melódicos4, propondo através do seu método uma educação auditiva
que dilata o triplo aspecto já citado. Nesse sentido, Parejo (2012) comenta que “o primeiro
domínio, fisiológico, une-se à sensorialidade auditiva. [...] O segundo domínio, afetivo,
corresponde a afetividade auditiva ou sensibilidade afetiva. [...] A inteligência auditiva,
aspecto mental, representa o terceiro domínio do desenvolvimento auditivo” (PAREJO,
2012, p. 96-97). A mesma autora ainda comenta que:
1
Desenvolvido a partir de uma correlação entre ritmo, filosofia e corpo.
2
Desenvolvido a partir de uma correlação entre melodia, afetividade e emoção.
3
Desenvolvido a partir de uma correlação entre harmonia, cognição e racionalidade.
4
“O ritmo é o elemento mais material, portanto prioritário na música, sendo a melodia sua “tributária”;
no entanto, segundo Willems (1970 [1956], p. 71, tradução nossa), “ela sempre foi e sempre será o
elemento mais característico da música”, tornando-se, assim, o elemento primaz” (PAREJO, 2012, p. 103).
exterior e entender (entendre) se refere à tomada de consciência dos
sons que tocaram o ouvido, de forma ativa e reflexiva (compreensão)
(PAREJO, 2012, p. 97).
5
Para Willems, o processo de iniciação na educação musical deve ser começado pela musicalidade,
somente depois é inserido o estudo técnico de um instrumento.
“a educação musical não necessita utilizar meios extramusicais. [...] As práticas didáticas
propostas por Willems mantiveram-se essencialistas e no domínio estrito de uma arte dos
sons” (PAREJO, 2012, p. 104-105). Nessa linha de pensamento seu método pode ser
iniciado a partir dos 3 anos de idade e encontra-se dividido em 4 níveis ou graus, onde: o
primeiro grau é caracterizado pela iniciação musical, sendo indicado para crianças de 3 a
4 anos. Nesse grau vai ser trabalhado o desenvolvimento auditivo sensorial e afetivo, o
desenvolvimento de sentido rítmico através de batimentos, o uso de cantos e canções e
movimentos corporais naturais. O segundo grau é uma continuação do processo de
iniciação musical, este, por sua vez, é indicado para crianças de 4 a 5 anos e é
caracterizado por ser uma fase de mais consciência por parte da criança. Nessa fase é
trabalhada a escrita de elementos musicais já vistos no primeiro grau, há também maior
exigência quanto à afinação, beleza da voz, memória e reforço do sentido tonal. O terceiro
grau é chamado de pré-solfégico e pré-instrumental (crianças de 5 a 6 anos de idade),
nesse grau há uma passagem do concreto ao abstrato, automatismo de notas e o
desenvolvimento da criatividade através de improvisações rítmicas e melódicas. Por fim,
o quarto grau, chamado de solfejo vivo (crianças de 6 a 7 anos), desenvolve um projeto
global de educação musical, compreendendo a leitura e a escrita musicais.
Mesmo com a classificação etária proposta pelo método, existe uma grande
flexibilidade e adaptação na sua aplicação, desse modo, o professor pode ajustar cada
aluno à sua realidade. Na situação brasileira, por exemplo, acredita-se que, para nossas
crianças, atraídas pela riqueza do folclore brasileiro e pelas características lúdicas que o
ensino musical tantas vezes assume, essa idade chega um pouco mais tarde.
Essa distribuição de cada grau da educação musical focada em um
desenvolvimento auditivo das crianças, proporcionou a utilização do material sonoro
envolvendo uma série de instrumentos e fontes sonoras. Alguns instrumentos são usados
para desenvolver a sensorialidade e aspectos afetivos da escuta, são eles: flauta de êmbolo
e sirene, que trabalhavam o pancromatismo; famílias de sininhos diferentes, para
treinamento de timbre; família de sininhos iguais (3 a 6) com tamanhos e alturas
diferentes e família de sininhos idênticos e do mesmo tamanho, usados para classificação.
Por último, ele desenvolveu o carrilhão intratonal, instrumento usado para a percepção de
microtons, ele é formado por um conjunto de 24 teclas, onde se pode treinar a percepção
de tons, semitons, quartos de tom e da divisão do tom em 9 e 18 partes. Outros
instrumentos foram projetados por Willems para desenvolver aspectos mentais,
trabalhando a ideia de intervalo harmônico e acorde, são eles: tubo harmônico
(instrumento que, ao ser girado produz sons iniciais da série harmônica, proporcional a
força aplicada) e sirene com três sons.
As formas de pensar e inquietações tornou “a produção de Edgar Willems
essencialmente pedagógica. Além de livros, textos e artigos tratando sobre seu método,
as obras musicais que compôs possuem um teor didático bem específico e/ou são voltadas
para a iniciação ao piano (PAREJO, 2012, p. 101), como:
O ouvido musical: Tomo I. Pro Musica em 1940;
O ouvido musical: Tomo II. Pro Musica em 1946;
Ambos detalham o pensamento didático de Willems, a pesquisa e
elaboração de materiais didáticos para a educação auditiva.
O jazz e o ouvido musical. Pro Musica em 1945;
- A preparação musical de crianças pequenas. Maurice et Pierre Foetsch
em 1950;
Esse livro contém informações preciosas sobre a concepção e o método de
trabalho propostos por Willems. Tais orientações são úteis tanto para o trabalho didático
em sala de aula, como também para pais carinhosos que desejam interagir com seus filhos
de forma mais qualitativa.
O ritmo musical, ritmo, rítmica, métrica. Pro Musica em 1954;
As bases psicológicas da educação musical. Pro Musica em 1956;
Esse livro explica de forma muito clara as bases psicológicas em que
Willems se apoiou, dos elementos essenciais da música a suas aplicações terapêuticas.
Introdução à musicoterapia. Pro Musica em 1970;
Solfejo, Curso Elementar. Pro Musica, 1970;
Esse livro apresenta a proposta solfégica de Willems, abordando
de forma mais completa a percepção melódica. O livro não deveria
ser utilizado sem uma compreensão adequada do encaminhamento
pré-solfégico sugerido por seu autor, como vem ocorrendo, no
Brasil. - O valor humano da educação musical. Pro Musica em
1975. Essa obra é essencial para o aprofundamento dos princípios
pedagógicos de Willems, nela o autor apresenta doze esquemas
(schème) de natureza analítica que constituem uma síntese de seu
pensamento. A obra é pouco conhecida no Brasil.
Novas ideias filosóficas sobre a música e suas aplicações práticas. Pro
Musica em 1980;
Um dos escritos mais importantes para a compreensão do pensamento de
Willems. Ele foi escrito em 1934, porem publicado somente em 1980;
A educação musical nova. Pro Musica, 1980;
Escrito em 1944, também publicado em 1980.
Descreveu detalhadamente seus procedimentos didáticos numa
série de CADERNOS PEDAGÓGICOS publicados pela Pro
Musica, a partir de 1956:
N° 0: Initiation musicale des enfants.
N° 1: Chansons de deux à cinq notes.
N° 2a: Chansons d’intervalles.
N° 2b: Chansons d’intervalles avec accompagnement au
piano.
N° 3: Les exercices d’audition.
N° 4a: Les exercices de rythme et de métrique.
N° 4b: Les frappés et l’instinct rythmique.
N° 4c: Le rythme musical et le mouvement naturel dans les
cours d’éducation musicale.
N° 5a: Introduction à l’écriture et à la lecture.
N° 5b: Les débuts du solfège. Cadernos pedagógicos e
partituras: para iniciar ao piano;
N° 6: Les débuts au piano.
N° 7a: Morceaux très faciles pour piano.
N° 7b: Petits morceaux à quatre mains pour piano.
N° 7c: Amusements au clavier.
N° 8: Douze morceaux faciles pour piano. Cadernos
pedagógicos e partituras: para os movimentos corporais
naturais;
N° 9: Petites marches faciles pour piano.
N° 10: Petites danses, sauts et marches.
Além destes livros, a obra de Willems (ideias e procedimentos didáticos),
continuam por meio de seu discípulo Jacques Chapuis. A qual gerou uma importante obra
intitulada: Panorama pedagógico da educação musical Willems, entre outras obras que
estão descritas no livro: Pedagogia em Educação Musical.
Atividade prática
Referências: